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Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Centro de Tecnologia
Departamento do Engenharia Química (DEQ)
Tratamento de Águas Industriais e de
Abastecimento – DEQ 0352

Abrandamento e
Desmineralização da Água
Eng. Rayanne Macêdo Aranha
Semestre: 2019.1
ÁGUA NA INDÚSTRIA
• Qualidade da água para o setor industrial varia de acordo com sua aplicação:

Fluido de
Consumo Matéria - Fluido Geração de aquecimento
...
humano prima auxiliar energia e/ou
resfriamento

• Principais problemas que as impurezas presentes na água podem causar aos


processos industriais:
Sólidos em suspensão
- Corrosão; Sais dissolvidos
- Incrustação; Materiais orgânicos dissolvidos
- Cor; Microorganismos
- pH; Gases dissolvidos
ÁGUA NA INDÚSTRIA
• Características da água que afetam o produto ou resultado do processos
produtivo:

- Características organolépticas: cor, sabor e odor;


- Dureza;
- Salinidade total;
- pH;
- Alcalinidade;
- Turbidez;
- Teor de sílica.
DUREZA DA ÁGUA
ÁGUA “DURA”

Dureza: Presença de sais alcalinoterrosos dissolvidos nas


águas, sendo os principais elementos o cálcio e o magnésio
dissolvidos, geralmente, na forma de carbonatos e sulfatos.
Contudo, a dureza também pode ser devida a presença de ferro,
manganês, estrôncio.

• Os sais dissolvidos reagem com o sabão, dificultando a formação da espuma;

• Classificação da dureza: Classificação Dureza (mg CaCO3/L)


Branda <75
Dureza moderada 75-150
Dura 150-300
Muito dura >300
DUREZA DA ÁGUA
• Dureza temporária: Devida à presença de carbonatos e bicarbonatos, pode ser
eliminada pelo aquecimento da água até a temperatura de ebulição, formando
carbonatos insolúveis na água , que se precipitam.

• Dureza permanente: Devida à ocorrência de íons cloreto, nitrato, sulfato ou


silicato, que não pode ser removida por processos de precipitação pós aquecimento.

DUREZA TOTAL = DUREZA TEMPORÁRIA + DUREZA PERMANENTE


DUREZA DA ÁGUA
• Incrustação: Depósitos de materiais sólidos nas
paredes dos equipamentos que mantêm contato com as
águas que possuem sólidos em suspensão ou materiais
resultantes da precipitação de sais insolúveis.

- Causa diminuição das taxas de troca térmica,


aumentando a resistência a condução;

- Causa o superaquecimento do material de construção


das caldeiras, provocando redução de resistência
mecânica, podendo causar deformações ou rupturas.
ABRANDAMENTO DA ÁGUA
.
• Processo de remoção da dureza é conhecido como abrandamento;

• O abrandamento pode ser realizado por:

- Precipitação química: Tratamento com cal (Ca(OH)2) e barrilha (Na2CO3),


também chamado “cal sodada”, ou fosfatos.

- Troca iônica: Consiste em fazer a água atravessar uma coluna de trocadores


catiônicos que capturam os íons Ca2+ e Mg2+, substituindo-os por íons que
formarão compostos solúveis e não prejudiciais ao homem, tais como o Na+.
ABRANDAMENTO DA ÁGUA
Abrandamento por precipitação química

1) Ca(HCO3)2 + Ca(OH) 2 → ↓2CaCO3 + 2H 2 O

2) Mg(HCO3)2 + Ca(OH) 2 → ↓Mg(OH)2 + ↓CaCO3 + H 2 CO3

3) MgCO3 + Ca(OH) 2 → ↓Mg(OH)2 + ↓CaCO3

4) MgSO4 + Ca(OH) 2 → ↓Mg(OH)2 + CaSO4

5) CaSO4 + Na2CO3 → ↓CaCO


/ 3 + Na2SO4

6) CO2 + Ca(OH) 2 → ↓2CaCO3 + 2H 2 O

7) MgCl2 + Ca(OH) 2 → ↓Mg(OH)2 + CaCl2

8) CaCl2 + Na2CO3 → ↓ CaCO


/ 3 + 2NaCl
ABRANDAMENTO DA ÁGUA
Abrandamento por precipitação química

✓ Geralmente aplicado ✓ Utilização de produtos


para águas com dureza químicos;
elevada e possibilita
remover da água ✓ Produção de lodo;
contaminantes tais como
metais pesados e outros;
✓ Necessidade de ajustes
finais, pois a água abrandada
✓ Tecnologia bem ainda possui dureza-cálcio em
estabelecida. torno de 30 ppm de CaCO3.
ABRANDAMENTO DA ÁGUA
Abrandamento por troca iônica

O abrandamento da água consiste em passar a água dura através de uma coluna de


trocadores catiônicos a base de sódio. O sódio presente na resina substituí o cálcio e o magnésio
da água num processo contínuo até o seu exaurimento, momento a partir do qual se torna forçoso a
regeneração.

A finalidade é a substituição de íons “duros”, principalmente


Ca++e Mg++, por íons “brandos” como Na+.

Na regeneração, uma solução de cloreto de


sódio concentrada percola através do leito
com a resina exaurida, a qual recompõe o
cátion consumido e remove o cálcio e o
magnésio do aparelho diretamente para o
esgoto.
ABRANDAMENTO DA ÁGUA

Regeneração
DESMINERALIZAÇÃO DA ÁGUA
• A desmineralização de água envolve a retirada completa de todos os íons (cátions e ânions)
da água. O resultado desta operação é controlado por um condutivímetro colocado na saída
do leito.

• Neste tipo de tratamento , ocorre a substituição dos íons catiônicos (Ca, Mg, Na) por íons
hidrogênio e dos íons aniônicos (Cloretos, Sulfatos, Carbonatos, Sílica, Bicarbonatos, Gás
Carbônico e Nitratos) por íons hidroxila.

Resina catiônica 𝑴+ 𝑨− + 𝑯+ 𝑹 → 𝑯+ 𝑨− + 𝑴+ 𝑹

Resina aniônica 𝑯+ 𝑨− + 𝑹𝑶𝑯− → 𝑹𝑨− + 𝑯𝟐 𝑶


TRATAMENTO TERCIÁRIO
• O tratamento de água varia seu nível de eficiência de acordo com o grau de
purificação desejado.

• Principais processos de tratamento para remoção de sólidos dissolvidos a


nível terciário:
Osmose reversa

Troca iônica

Eletrodiálise reversa

Evaporação

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TROCA IÔNICA
• Operação que envolve a transferência de massa pelo contato entre
uma solução líquida e uma fase sólida, com o objetivo de realizar a troca
de íons entre a solução e o sólido.

Solução aquosa
eletrolítica

Trocadores
de íons

Resinas
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TROCADORES DE ÍONS
• Material que contém um
“esqueleto” ou “matriz”, na
qual são fortemente fixados
íons de cargas positiva ou
negativa;

• São sólidos porosos


insolúveis;

• Apresentam rede de íons


fixos e íons móveis;

• Reação de dupla troca entre


o eletrólito em solução e o
R : Íons da rede fixa do trocador
trocador iônico. C : Cátions da solução ou do trocador
A : Ânions da solução ou do trocador
TROCADORES DE ÍONS
• Material que contém um
“esqueleto” ou “matriz”, na
qual são fortemente fixados
íons de cargas positiva ou
negativa;

• São sólidos porosos


insolúveis;

• Apresentam rede de íons


fixos e íons móveis;

• Reação de dupla troca entre


o eletrólito em solução e o
trocador iônico. 𝑪 𝟏 𝑹 + 𝑪𝟐 𝑨 → 𝑪𝟐 𝑹 + 𝑪𝟏 𝑨

𝑹𝑨𝟏 + 𝑪𝑨𝟐 → 𝑹𝑨𝟐 + 𝑪𝑨𝟏


RESINAS DE TROCA IÔNICA
Resinas de troca iônica são produtos sintéticos, na presença d’água,
poderão liberar íons sódio ou hidrogênio (resinas catiônicas) ou hidroxilas (resinas
aniônicas) e captar cátions e ânions, respectivamente, responsáveis por seu teor
de sólidos dissolvidos, indesejáveis a muitos processos industriais.

• As resinas de troca iônica sintéticas são


constituídas, na sua maioria, de
copolímeros do estireno, com divinil
benzeno (D.V.B.), na forma de partículas
esféricas de diâmetro 300 a 1.180 µm.
TROCADORES DE ÍONS
Características

• Alta capacidade de troca iônica dimensões do equipamento;

• Estabilidade química e estrutural determina a vida útil do trocador de íons,


sendo uma propriedade relacionada diretamente com a estrutura molecular e o
processo de preparação;

• Boa resistência mecânica deve ser elevada para permitir o uso de leitos de
grande espessura sem perigo de fragmentação das partículas. Se o leito for móvel, as
partículas devem apresentar resistência à abrasão e fratura;

• Baixa resistência ao escoamento do líquido permite operar com leito mais


espesso, para uma dada velocidade superficial do líquido;

• Baixo custo.
TROCADORES DE ÍONS
• Parâmetros característicos dos trocadores:

Capacidade de troca iônica: Quantidade de íons que uma resina pode trocar em
determinadas condições experimentais. Expresso em equivalente /litro de resina
ou grama de resina.

Capacidade específica teórica: Número máximo de sítios ativos da resina por


grama. Este valor pode ser maior que a capacidade de troca.

Seletividade: Propriedade da resina de mostrar maior afinidade por um íon que


por outro, uma vez que a resina preferirá os íons com os quais forme um enlace
mais forte.
TROCADORES DE ÍONS
Classificação

Por sua Pelo grupo


Por sua natureza
estrutura funcional
 Trocadores orgânicos  Tipo Gel ;  Resinas Catiônicas
(Sintéticos e Naturais) Fortemente Ácidas;
 Resinas Macroporosas ;
 Tocadores Inorgânicos  Resinas Catiônicas
(Sintéticos e Naturais)  Resinas isoporosas; Fracamente Ácidas;
 Resinas Aniônicas
fortemente básicas;
 Resinas Aniônicas
Fracamente básicas;
 Resinas Quelantes.

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TROCADORES DE ÍONS
Trocadores Orgânicos Naturais

• Quitina: É um polímero linear de elevado peso molecular, que existe nas paredes
celulares de alguns fungos e na crosta de crustáceos.

• Quitosana: É um polímero natural derivado da quitina, obtido pela hidrólises desta,


é utilizado como um polímero quelante de metais.

• Ácido algínico: É um componente da estrutura das algas marrons, é um polímero


forte (dá suporte) e ao mesmo tempo flexível.

• Celulose: A celulose natural tem propriedades de troca iônica devido aos grupos
carboxilas que tem na sua estrutura.
TROCADORES DE ÍONS
Trocadores Inorgânicos

Naturais:
• Alumino-silicatos (zeólitas);
• Argilas minerais;
• Feldspatos.
𝑁𝑎2 𝑂. 𝐴𝑙2 𝑂3 . 4𝑆𝑖𝑂2 . 2𝐻2 𝑂
Areia verde

Sintéticos:
• Óxidos metálicos hidratados (óxido de titânio hidratado);
• Sais insolúveis de metais polivalentes (fosfato de titânio);
• Sais insolúveis de heteropoliácidos (molibdofosfato amônico);
• Zeolitas sintéticas.
RESINAS DE TROCA IÔNICA
• Resinas catiônicas fortemente ácidas: Resinas adequadas para o tratamento de
águas de uso industrial, quando necessária a remoção de dureza (cálcio e
magnésio) e desmineralização. Apresentam estrutura química formada pelo
estireno e divinilbenzeno, sendo o principal grupo funcional os radicais sulfônico,
R-SO3-H+ e trabalham em qualquer pH.

• Resinas catiônicas fracamente ácidas: Resinas adequadas para o tratamento de


águas de uso industrial, quando necessária a remoção de elevada dureza, devida
exclusivamente ao bicarbonato e carbonato de cálcio e os valores de pH variando
de neutro a alcalino. Apresentam como principal grupo funcional o carboxilato (R-
COOH) e, por isso, não atuam na remoção de cátions oriundos de sais de ácidos
fortes.
RESINAS DE TROCA IÔNICA

• Resinas aniônicas fortemente básicas: Utilizadas para o tratamento de águas e


efluentes que possuem sílica. Seu grupo funcional é uma amina quaternária [R-
N(CH3)3+]. É capaz de trocar íons numa faixa de pH variando de 1 a 13. Estas
resinas podem ser condicionadas na forma de OH- ou Cl-, os quais são liberados
após o tratamento da água.

• Resinas aniônicas fracamente básicas: Utilizadas para o tratamento de água e


efluentes que precisam remover primariamente os ânions de ácido forte, como o
cloreto, sulfato e nitrato, e não removem sílica e bicarbonatos.

• Resinas Quelantes: são seletivas, mas são pouco utilizadas por ser custosas e
cineticamente lentas.
OPERAÇÃO
• A percolação através de leitos fixos é o tipo de operação mais comum.
OPERAÇÃO
• A percolação através de leitos fixos é o tipo de operação mais comum.
OPERAÇÃO
• Certas operações empregam resinas de troca iônica de tipos diferentes para atingir mais de um
objetivo (por exemplo, desmineralização da água). Neste caso, utiliza-se primeiro um leito fixo
contendo resina catiônica e em seguida passa-se a água através de um segundo leito, agora de
resina aniônica. Costuma-se também utilizar um único leito misto, obtido da mistura das duas
resinas.
DESMINERALIZAÇÃO
• Reações envolvidas no processo:

a) nR − H + M +n → R n − M + nH+ “Água descationizada”

−2 Águas ricas em 𝐂𝑶𝟑 −𝟐 e 𝐇𝐂𝑶𝟑 −produzem muito CO2


b) C𝑂3 + 2H+ → H2 O + 𝐶𝑂2
após a coluna catiônica e, por isso, em muitas estações
desmineralizadoras é conveniente se instalar um
HC𝑂3 − + H + → H2 O + 𝐶𝑂2
degaseificador para eliminação do CO2!

c) mR − OH + N +m → R m − N + m

d) H+ + OH− → H2 O
RESINAS DE TROCA IÔNICA
RESINAS DE TROCA IÔNICA
Dificuldades de operação
Dificuldades Causas
Fluxo de operação excessivo
Regeneração inadequada
Impurezas presentes no regenerante
TROCA IÔNICA Perda de capacidade por Fluxo de regeneração excessivo
regeneração ou abrandamento Elevada turbidez da água clarificada, elevada concentração de ferro
inadequado e presença de algas e bactérias na água, causando a deterioração
da resina

Distribuição inadequada da água no tanque de resinas ou da


solução regenerante
Fluxo de operação excessivo

Queda de pressão excessiva Elevada turbidez da água clarificada, elevada concentração de ferro
e presença de algas e bactérias na água, causando a deterioração
da resina

Deterioração de resinas quando estocadas por longo período a


altas temperaturas
Mudança de cor na resina
Elevada concentração de ferro e presença de algas e bactérias na
água
Impurezas presentes no regenerante
Aumento do volume do leito de
resinas Elevada concentração de ferro e presença de algas e bactérias na
água
Impurezas presentes no regenerante
Lavagem excessiva das resinas
Formação de canais de fluxo de água através do leito
Perda de resinas das colunas Fluxo excessivo na operação de retrolavagem
Impurezas presentes no regenerante
Deterioração das resinas Elevada turbidez, presença de ferro, algas, bactérias e matéria
orgânica na água clarificada
TROCA IÔNICA

✓ Remove seletivamente as ✓ Os produtos químicos


espécies indesejáveis; envolvidos no processos de
regeneração podem ser perigosos;
✓ Processo e equipamentos
amplamente testados; ✓ Existem limitações com relação
a concentração do efluente a ser
tratado;
✓ Existem no mercado
sistemas automáticos e ✓ Exige paradas para
manuais; regeneração;

✓ Utilizado para tratamento ✓ Geração de efluentes com uma


de pequenos e grandes concentração de contaminantes
volumes de água. elevada.
Vídeo
Desmineralização

https://www.youtube.com/watch?v=W3ByXvWeakM
REFERÊNCIAS
GOMIDE, Reynaldo. Operações Unitárias, Vols. 1 e 3, Editora FCA, 1983.

MANUAL DE CONTROLE DA QUALIDADE DA ÁGUA PARA TÉCNICOS QUE


TRABALHAM EM ETAS . Disponível em: http://www.funasa.gov.br/site/wp-
content/files_mf/manualcont_quali_agua_tecnicos_trab_emetas.pdf. Acesso em:
13/09/2019.

Purolite. Disponível em: https://www.purolite.com/pt/application/softening-


demineralization-industrial#. Acesso em: 07/06/2019.

Stella Resinas & Equipamentos para Tratamento de água LTDA. Disponível em:
http://www.stellaresinas.com.br/produtos-sistema-desmineralizacao.php. Acesso em:
07/06/2019.

TELLES, Dirceu D.; COSTA, R. H. P. G. Reúso da água: conceitos, teorias e práticas. São
Paulo: Editora Blucher, v. 2, 2007.

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