Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Resumo
Introdução
Os direitos humanos não são um dado, mas um construído, uma invenção humana,
em constante processo de construção e reconstrução. Compõem um construído
axiológico, fruto da nossa história, de nosso passado, de nosso presente, a partir de
um espaço simbólico de luta e ação social. [...], a ascensão dos direitos é fruto de
lutas, que os direitos são conquistados, às vezes, com barricadas, em um processo
cheio de vicissitudes, por meio do qual as necessidades e as aspirações se articulam
em reivindicações e em estandartes de lutas antes de serem reconhecidos como
direitos.
Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a
liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.
2
http://portal.mj.gov.br/sedh/ct/legis_intern/ddh_bib_inter_universal.htm
laboral, acadêmico e político, nas mais diversas esferas se utilizam da mediação das novas
tecnologias para ser reconhecido, sejam os exames médicos, mediados por tecnologias da
imagem, as comunicações que assistem a substituição e convergência de mídias e a
interatividade crescente como uma demanda da sociedade, seja na virtualização do Poder
Judiciário, digitalização das bibliotecas e o sem número processos de e-commerce que se
expandem na economia globalizada, ou ainda os sites de relacionamentos, nada parece estar
fora da rede.
Desse modo, a adequação do ordenamento jurídico, em escala global, a necessidade de
garantias a essa nova forma de se expressar e estar no mundo é apenas um desenrolar do já
assegurado direito à liberdade de expressão e acesso à informação. Nesse sentido a exclusão
do mundo digital mostra-se uma exclusão perversa no momento em que a cultura e a
informação se disseminam de forma massiva, interativa e globalizada, com velocidade e
volume nunca antes alcançados.
Levy descreve em sua obra O que é virtual os processos de virtualização do corpo, do
texto e da economia, e afirma que o virtual é real. Neste sentido, a economia virtualizada
suporta a necessidade de inclusão e universalização do acesso à internet.
A Sociedade da Informação caracteriza-se pela centralidade que a comunicação e a
informação, baseadas no desenvolvimento tecnológico, assumem na vida cotidiana tornando-
se responsável por conectar e desconectar indivíduos, grupos, regiões e países em fluxo
contínuo de decisões estratégicas (OLIVEIRA, 2002, p. 122). Esta centralidade transforma as
relações sócias e, sobretudo, transforma Direito.
Os diversos direitos fundamentais elencados na Constituição Federal de 1988 segundo
o constitucionalista Paulo Bonavides (2000) divide-os em quatro gerações, sendo a primeira
geração os direitos de liberdade; a segunda geração são os direitos sociais, culturais,
econômicos e coletivos; a terceira engloba direitos ao desenvolvimento, paz, ao meio
ambiente, propriedade sobre o patrimônio comum e de comunicação, e a quarta geração
abrange os direitos à democracia, informação e pluralismo.
Apesar de não positivados pela legislação pátria os direitos à identidade digital e ao
acesso à internet são essenciais à democracia e ao desenvolvimento sustentável. É importante
registrar o nascimento dos direitos no ritmo dos reclames históricos, das necessidades da
evolução e sofisticação da sociedade; é o que se analisará neste trabalho, as pegadas e marcas
do surgimento de um novo direito.
Wachowicz (2008) inova ao propor uma quinta dimensão dos direitos, os direitos da
realidade virtual, da internet e da informática. Os direitos fundamentais são indispensáveis
para que se possa garantir a participação política do cidadão e a sua inserção em um mundo
social.
A esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para a comunicação de
conteúdos, tomadas de posição e opiniões, nela os fluxos comunicacionais são
filtrados e sintetizados, a ponto de se condensarem em opiniões públicas enfeixadas
em temas específicos” (HABERMAS, 1997, p.92).
O temor despertado pelos possíveis mau usos do ciberespaço, tais como a perpetuação
de crimes, violação de direitos autorais, falsas identidades, ofensas a veracidade das
informações perfazem uma constante pressão para o controle da internet. Apesar disso, a
população tem se manifestado no sentido de garantir o acesso como um direito que está
sobreposto ao controle, conforme dado da pesquisa da BBC, citada anteriormente, em que
53% dos entrevistados são contrários ao controle da internet.
A França inaugurou uma legislação que visava o registro e controle dos acessos à
internet, e previa punições para os internautas que baixassem conteúdo sem autorização, como
músicas, arquivos etc. A lei regulamentava ainda a identificação de cada usuário por seu
endereço IP, criando uma série de procedimentos, na maioria das vezes inúteis, para verificar
a identidade dos usuários. A Lei designada HADOPI (Haute Autorité) sofreu críticas e
rejeição por parte dos cidadãos franceses, que a denunciaram como fruto do lobby dos
produtores culturais. Estudos desenvolvidos na Universidade francesa de Rennes
demonstraram que os usuários do compartilhamento de arquivos (Peer to peer ou P2P) são
também os maiores compradores de DVD, sendo a internet uma difusora e não um problema
na economia cultural3. A discussão levou o partido Socialista Francês a questionar a
constitucionalidade da Lei.
A decisão da Corte Francesa foi emblemática e confirma o reconhecimento de um
Direito Fundamental à Internet que se sobrepõe aos sistemas que possam vir a limitar o acesso
e a difusão de informações. A decisão n° 2009-580 DC de 10 de junho de 2009 do Conselho
Constitucional Francês foi comemorada no mundo inteiro pelos que apregoam a liberdade e o
livre acesso na internet:
3
Sylvain Dejean, Thierry Pénard et Raphaël Suire, M@rsouin, CREM et Université de Rennes 1
Mars 2010, Une première évaluation des effets de la loi Hadopi sur les pratiques des Internautes français (disponível em
http://www.marsouin.org/spip.php?article345)
4
Considerando que nos termos do artigo 34 da Constituição: "A lei estabelece as regras... direitos civis e garantias
fundamentais concedidas aos cidadãos o exercício das liberdades públicas "que, nesta base, é lícito ao legislador estabelecer
normas que permita conciliar a prossecução do objectivo de lutar contra a prática de falsificação na Internet com o direito de
livre comunicação e liberdade de falar, escrever e imprimir, que, no entanto, a liberdade de expressão e de comunicação é
mais preciosa do que o seu exercício é um pré-requisito para a democracia e uma garantia de outros direitos e liberdades, e
que invasões decorrentes do exercício dessa liberdade deve ser necessária, adequada e proporcionada ao objectivo
prosseguido;
A polêmica atingiu o Brasil que elaborou projeto de Lei com mesmo intuito, chamada
de Lei Azeredo, por ser de iniciativa do Deputado de Minas Gerais Eduardo Azeredo. O
projeto de Lei 89/2003 (PL Azeredo) provocou a mesma reação na comunidade cibernética,
desencadeando diversos movimentos e listas de repúdio ao controle da internet, uma clara
mensagem da população ao reconhecimento de um novo direito, o direito ao acesso à internet,
como faceta atual do próprio direito à informação e a liberdade de expressão. EM trâmite no
congresso o projeto perdeu a força e está em fase de revisão. Enquanto isso, políticas públicas
afirmativas são desenvolvidas num sentido contrário, e reforçam a necessidade de aprofundar
e garantir o amplo acesso ao ciberespaço.
Nesse sentido foi aprovado em São Paulo o Decreto Estadual nº 54.921, de 15 de
outubro de 2009 pelo governador José Serra, instrumento que visa criar e incentivar a banda
larga popular de inclusão digital, e dará acesso de forma mais barata a cerca de três milhões
de usuários de internet rápida só no estado de São Paulo. O objetivo do programa consiste em:
Os sites pessoais que hoje em dia proliferam na Web são um exemplo claro da nossa
multiplicidade de identidades, ou melhor, da nossa coerência dentro da
multiplicidade de referências que constroem a nossa identidade, são também o
reflexo do indivíduo como um nó numa rede de informação na sociedade em geral,
assim assumimos personalidades cada vez mais flexíveis, estabelecemos links de
identidade (JÚLIO, 2005, p. 13-14)
Raquel Recuero (2009) analisa e descreve a formação de uma identidade digital por
meio de características próprias expressas na internet, como exemplo se identifica: o uso de
palavras próprias, cores nas falas, criação de nicknames, o pertencimento a comunidades,
grupos semânticos, que se identificam por ideologias ou gostos comuns, e a expressão de seu
pensamento em weblogs ou outros sites de redes sociais. Recuero afirma que a identidade é a
manifestação da personalidade.
A interação entre indivíduos de realidades, locais e referências diversificadas
proporciona a construção de uma identidade múltipla dada a ampliação das referências e
capacidade de expressão. A possibilidade de constantemente “atualizar” as páginas, refazer o
texto, modificar as expressões oportuniza a flexibilidade que influencia a construção do “eu”
múltiplo. A exposição exacerbada constitui outra característica atual comentado por SIBILA
(apud Recuero, 2009, p.26):
Conclusão
Referências Bibliográficas
ARENDT, Hannah. Origens do Totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
ANNONI, Daniela. 2008. A Declaração Universal dos Direitos Humanos e os Novos Direitos.
In: FOLMANN, M. e ANNONI, D. (Org.). Direitos Humanos: Os 60 anos da Declaração
Universal da ONU. Curitiba: Jaruá, pp. 120-131.
GROUP, Miniwatts Marketing. 2009. Internet Usage Statistics. Disponível em: <
http://www.internetworldstats.com/stats.htm> . Acesso em: 11 set. 2009.
GUIMARÃES, Ana. 2008. Internet chega a 22 mil escolas este ano. Brasília. Disponível
em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=10264>.
Acesso em: 03 mar. 2010.
SARLET, Ingo Wolfgang. 1998. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Porto Alegre:
Livraria do Advogado.
TELLES Jr., Goffredo. 1977. Direito Subjetivo – I. Enciclopédia Saraiva de Direito. São
Paulo: Saraiva.