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e-Book MÓDULO 04

SUMÁRIO

1 Federalismo: 05

quem cuida do seu


dinheiro?

2 Como funciona 06

a repartição do
dinheiro público?

3 O que são os 07

programas de ajuste
fiscal?

4 Como 09

compatibilizar
receitas e despesas?

5 O que é a rigidez 10

orçamentária?
Para onde
vão os
impostos
que
pagamos?

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MÓDULO

04
1 Federalismo: econômico-financeira nacional é
caracterizada pela manutenção da inflação
quem cuida do seu em níveis adequados, geração de emprego
em nível nacional, sustentabilidade da dívida
dinheiro? pública e crescimento econômico.

O federalismo fiscal é o conjunto de Como em geral ocorre a descentralização da


providências constitucionais, legais e prestação de serviços, os estados e municípios
administrativas orientadas ao financiamento usualmente têm como dever a realização
dos diversos entes federados, seus órgãos, de políticas locais, como o provimento de
serviços e políticas públicas com objetivo de saúde, educação e segurança. Apenas como
atender às necessidades da população. De escopo do nosso curso, a seguir vemos as
forma simplificada, o conceito de federalismo competências de cada ente definidas na
fiscal pode ser entendido como a divisão de Constituição Federal:
tarefas entre as diferentes esferas do governo.
Em outras palavras, ele define quem (Estados,
Municípios, Distrito Federal ou União) Compete apenas à União (governo
arrecada qual tributo e quem oferta qual federal), oferecer ou regular,
serviço público (saúde, educação, segurança principalmente:
pública, etc.). Essa estrutura tem o objetivo de ■ relações internacionais
compor um sistema que maximize a eficiência ■ segurança nacional (exército, polícia
do setor público, permitindo a oferta de federal)
serviços públicos de maior qualidade. ■ política macroeconômica (emissão de
moeda, câmbio)
O federalismo fiscal tem por principais ■ sistema financeiro
desafios, ampliar a inserção comercial e ■ ordenação do território e de
política dos entes federados nos cenários desenvolvimento econômico e social
nacional e global, assim como garantir o ■ serviços nacionais como: correios,
máximo de igualdade na disponibilidade de telecomunicações, energia, aviação,
recursos entre os indivíduos dentro de uma portos
mesma unidade federativa ou entre unidades ■ relações trabalhistas
federativas, e favorecer a estabilidade ■ seguridade social: previdência social –
econômica nacional. RGPS (INSS), bolsa-família, etc.

De forma mais específica, a estabilidade

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EQUILÍBRIO FISCAL

■direito civil, comercial, penal, processual,


eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico,
2 Como funciona
espacial e do trabalho a repartição do
Compete à União em conjunto com os dinheiro público?
Estados e Municípios:
■ saúde No federalismo fiscal, existem mecanismos
■ educação, cultura, ciência e tecnologia de descentralização que promovem uma
■ meio ambiente participação mais independente dos níveis
■ habitação e saneamento básico subnacionais de governo (estados, municípios
■ polícia civil e DF) em relação à cobrança de tributos.
Isso possibilita uma certa autonomia dos
Compete aos Estados: governos regionais e locais nas decisões de
■ tudo o que não é exclusivo da União gasto e arrecadação, mas também lhes confere
■ polícia militar responsabilidades perante os cidadãos
daquelas regiões.
Compete aos Municípios:
■ assuntos de interesse local Desse modo, o federalismo fiscal está
■ educação infantil e ensino relacionado à distribuição do poder de
fundamental (com a cooperação técnica e tributar, sempre considerando a otimização
financeira da União e do Estado) da distribuição de recursos, para que a
■ atendimento de saúde à população arrecadação de cada ente seja compatível com
(com a cooperação técnica e financeira da as suas responsabilidades.
União e do Estado)
■ planejamento urbano local Resumindo de forma simples, o federalismo
fiscal é a divisão de competências sobre
a cobrança de tributos (quem cobra qual
O Distrito Federal é uma unidade da imposto, por exemplo) e a repartição das
federação sui generis. Não é estado nem responsabilidades entre os entes federados
município, mas acumula as competências (quem executa o quê, ou qual política pública).
desses dois tipos ao mesmo tempo, tanto Assim, o sistema busca ordenar as finanças
para arrecadação de impostos como públicas para concretizar o federalismo
em relação à obrigações e prestação de político, conferindo autonomia financeira
serviços. aos entes federados. Ela é a capacidade
dos estados, municípios e DF atuarem da

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forma que considerarem mais efetivas e
convenientes para a sua população, o que d) Competência tributária cumulativa: é
leva em conta as especificidades de cada a competência da União para instituir, em
localidade. território federal, impostos estaduais e/ou
municipais.
A competência tributária é a atribuição dada
pela Constituição Federal aos entes políticos Mesmo com o estabelecimento dessas regras e
para instituir normas acerca da cobrança de competências, pode ocorrer um desequilíbrio
tributos de sua alçada. Essa competência está entre as despesas e os recursos de cada ente.
vinculada à função legislativa e se subdivide No caso de um estado ou município ter mais
em 4 categorias: obrigações a pagar do que recursos para
receber, ele pode ainda recorrer às transações
a) Competência Tributária Comum: é a intergovernamentais. Essas transações nada
competência de todos os entes políticos mais são que transferências de recursos entre
para instituição de taxas, contribuições os entes governamentais que, no contexto de
de melhoria e contribuição previdenciária federalismo fiscal, são utilizadas para corrigir
dos seus servidores, dentro da esfera de ou minimizar os desequilíbrios verticais¹ e
competência político-administrativa de cada horizontais².
um.

b) Competência Tributária Residual: é a


competência da União para instituir impostos 3 O que são os
novos não previstos na Constituição Federal. programas de
c) Competência Tributária Extraordinária: ajuste fiscal?
é a competência da União para instituir
impostos extraordinários na iminência ou no No período compreendido entre 1989 e início
caso de guerra externa. dos anos 2000, com o objetivo de equilibrar
as contas federais, o país assistiu a uma série

¹ Referem-se às desigualdades comparativas na capacidade de gastos entre níveis de governo:


federal, estadual, distrital e municipal.
² Referem-se às desigualdades comparativas na capacidade de gastos entre entes do mesmo nível.

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EQUILÍBRIO FISCAL

de socorros financeiros prestados pela União ou R$ 48 bilhões de 2017, excluído o PROES)


a estados e municípios, que consistiram e outras vantagens, como alongamento de
em medidas como assunção de dívidas, prazo e redução de encargos financeiros.
refinanciamentos, alongamentos de prazos de Como contrapartida, foi vedada a emissão
pagamento, saneamento de bancos públicos, de dívida mobiliária (que é aquela referente
descontos, e redução de encargos financeiros. aos títulos públicos emitidos), restrita à
contratação de novas operações de crédito,
Entretanto, os refinanciamentos e fixadas metas de melhoria de desempenho
supramencionados não foram suficientes fiscal, cujo cumprimento seria supervisionado
para recuperar o equilíbrio fiscal e, pelo Tesouro Nacional.
consequentemente, conter o crescimento das
dívidas estaduais e municipais, problema que A partir daquela época as dívidas estaduais
se aprofundou após a estabilização da inflação e municipais passaram a ser cada vez mais
em níveis baixos, a partir de 1994. de natureza contratual (endividamento
público a partir da assinatura de contratos)
A manutenção desse tipo de situação e, por isso, estavam sujeitas às regras
causou descontrole fiscal e obrigou o país específicas estabelecidas pela União em tais
a conviver com elevadas taxas de juros. documentos. Nesse sentido, pôde-se notar
Além disso, aquela situação induzia a um gradual melhoria na relação dívida líquida/
comportamento irresponsável por parte PIB, especialmente devido à participação do
dos governos estaduais: como o impacto do endividamento dos Estados com a União, a
déficit estadual podia ser diluído por toda partir do início de 2003.
a sociedade brasileira, via refinanciamento
da dívida, os estados maiores tendiam a Apenas para contextualizar a magnitude
gerar déficits monumentais, em especial em dos refinanciamentos realizados nessa
períodos eleitorais, que eram amenizados época, considerando estados e municípios,
durante os anos subsequentes às eleições, mas aproximadamente 15% do PIB foi
que causavam imenso descontrole às finanças refinanciado.
públicas federais.
Uma vez encerrada a contratação das
Em um dos principais refinanciamentos, da operações de refinanciamento, conforme
Lei nº 9.496/97 e do PROES, a União assumiu mencionado anteriormente, foi editada a Lei
dívidas dos estados, concedeu-lhes descontos de Responsabilidade Fiscal – LRF, que vedou
(correspondentes a 11% do total refinanciado a realização de novas operações de crédito

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entre os entes federados, inclusive novos do equilíbrio fiscal nas finanças públicas.
refinanciamentos. Com a edição dessa norma, Como já vimos, só há uma maneira de fazer
buscou-se, entre outros objetivos, colocar com que a dívida não aumente, mantendo
um termo final ao ciclo de endividamento e despesas compatíveis com as receitas. Caso as
socorros financeiros iniciado em 1989. Contudo despesas sejam maiores que as receitas, ou as
no final da década de 2000, a situação fiscal receitas tem que subir, ou as despesas tem que
dos estados voltou a piorar. diminuir.

É muito importante, portanto, ter em mente No Brasil, atualmente a carga tributária é


o seguinte: quando um estado apresenta uma considerada alta, comparada a de países nos
situação fiscal insustentável, com despesas mesmos níveis de desenvolvimento social
maiores que receitas e acúmulo de dívidas, o e econômico. Ou seja, não há espaço para
custo do resgate é, em geral, pago por toda a aumentar as receitas através do aumento
sociedade brasileira, não importa que o ente da puro e simples das alíquotas dos tributos,
federação - que onera todos os demais - seja, pois a sociedade já paga um valor considerável
por exemplo, rico. para manter o estado. É bem verdade que
é necessária um reforma tributária que
Isso perverte o pacto federativo, e desloca simplifique o pagamento de impostos e torne o
recursos que seriam gastos para o sistema tributário mais progressivo.
desenvolvimento de estados mais pobres para
aqueles que precisam de socorro financeiro, No entanto, enquanto não há definições nesse
aumentando a distância entre o nível de sentido, para conter a dívida, só restaria
desenvolvimento das unidades da federação. a opção de manter as despesas em níveis
toleráveis. Contudo, como veremos a seguir,
as despesas no Brasil são muito rígidas, e mais
do que isso, há muitos casos em que a despesa
4 Como tem que crescer automaticamente quando a

compatibilizar receita cresce e, em alguns casos, essa mesma


despesa não pode cair quando a receita cai.
receitas e É por isso que algumas reformas no processo
orçamentário e na rigidez das despesas são tão
despesas? importantes.

Depois destes exemplos, você deve estar


completamente convencido da importância

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EQUILÍBRIO FISCAL

5 O que é previdenciários e assistenciais, gastos com


pessoal e encargos, e pagamento de outras
a rigidez despesas como abono e seguro desemprego,
por exemplo.
orçamentária?
Em junho 2018, esse percentual já alcançava
Você pode estar se perguntando sobre o 91,45%. O problema é que, além de
porquê dessa rigidez. A rigidez orçamentária obrigatórias, boa parte dessas despesas deve
é característica estrutural do orçamento crescer nos próximos anos, pelas seguintes
brasileiro, resultante da combinação de: causas:

1. elevado nível de despesas obrigatórias, 1. aumento do salário mínimo, que


devido a imposições legais ou leva ao aumento do valor mínimo das
constitucionais; e aposentadorias pagas pelo governo e do
valor de outros benefícios como pensão
2. alta taxa de vinculação das receitas. por morte, por exemplo; e

Por restringir a flexibilidade do orçamento 2. crescimento do número de


e a implementação de políticas fiscais, esta beneficiários de programas sociais,
característica do orçamento da União torna- como é o caso do aumento da população
se ainda mais grave em períodos de baixo beneficiada pelo Benefício de Prestação
desempenho da economia, como o que o Continuada – BPC.
Brasil está experimentando.
Os gastos com investimentos, por outro
A rigidez orçamentária limita a destinação lado, são em sua maioria classificados como
do dinheiro público e a decisão discricionária discricionários. Diferentemente das despesas
de governos legitimamente eleitos em como obrigatórias, as despesas discricionárias
utilizar esses recursos entre usos alternativos, são aquelas despesas que o governo pode ou
dificultando, de antemão, a possibilidade de não executar, a depender da disponibilidade
discutir-se a uma alocação mais eficiente. orçamentária e financeira. Ou seja, se
as despesas obrigatórias crescem mais
Em 2014, cerca de 86,5% das despesas rápido que a receita, o governo não tem
primárias do governo federal eram alternativa senão realizar cortes nas despesas
classificadas como obrigatórias, ou seja, discricionárias, para que possa cumprir as
estavam comprometidas com benefícios metas fiscais.

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Além disso, o espaço fiscal para executar com mais idosos que jovens, por exemplo, tem
despesas discricionárias tende a diminuir em necessidade diferentes de políticas de saúde,
função do teto dos gastos do governo federal, assim como o desenvolvimento tecnológico
dado pela Emenda Constitucional (EC) nº exige outras formas de educação, que não
95/2016. Essa EC determina que os gastos do necessariamente apenas as disciplinas
governo federal não poderão crescer em ritmo tradicionais. A rigidez orçamentária reduz
superior ao da taxa de inflação. bastante a capacidade de escolha dos
governos, de modo que eles ficam sem poder
Se o volume total de despesas não pode redirecionar os recursos para onde eles sejam
aumentar e as despesas obrigatórias mais importantes ou tenham mais impacto,
aumentam em ritmo acelerado, em níveis de acordo com novas necessidades ou
bem acima das despesas discricionárias, a especificidades de cada região ou população.
conclusão é que a possibilidade de os governos
resolverem como vão gastar os recursos Nesse sentido, é extremamente importante
públicos e aplicar sua política fiscal fica cada que sejam feitas alterações legais ou
vez mais comprometida. É essa oportunidade constitucionais, de forma a tornar o
de escolha, que está cada vez mais reduzida, a orçamento mais flexível, permitindo que o
que se dá o nome de espaço fiscal. gestor possa adotar a melhor alocação dos
recursos disponíveis, melhorando assim
Outro ponto negativo da rigidez orçamentária a eficiência do uso do dinheiro público
que podemos destacar é que, se o governo em benefício da população e oferecendo
passa a ser mais eficiente na prestação de os serviços que ela realmente precise no
um serviço, ou seja, consegue prestar o momento.
mesmo serviço gastando menos recursos,
o administrador público não consegue
aproveitar essa sobra para financiar outras
políticas públicas, pois é obrigado por lei
a gastar uma quota fixa com aplicação de
receita vinculada. Assim, reduz-se o incentivo
para que o administrador público melhore a
eficiência daquele gasto.

É sempre bom lembrar que as prioridades


podem mudar com o tempo. Uma população

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Equipe Técnica
Conteúdo Acauã Brochado

Felipe Guerra de Figueiredo

Mathias Lenz Neto

Sâmia Marques Russo

Revisão
Antônio Barros

Luiz Alberto Marques Vieira


Filho

Lucas Gomides Rocha

Marcos Antônio Pereira Pinto

REALIZAÇÃO APOIO PRODUÇÃO


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