Você está na página 1de 48

ISSN: 1646-3994

REVISTA PORTUGUESA
ORGÃO OFICIAL DA:

DE DIABETES Volume 8 · Número 3 - Setembro 2013


PARQUE GUELL - BARCELONA (ESPANHA)

/ Renal Dysfunction as Assessed by MDRD and Cystatin C in a Belgian


Cohort of Type 2 Diabetic Patients Followed in an Outpatient Clinic

/ Hemoglobina Glicada e Factores de Risco Associados nos Idosos

/ Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso da Associação


Americana de Diabetes e da Sociedade Americana de Geriatria

/ Revista Internacional: Ecos do “49th EASD Annual Meeting”

ACESSO ONLINE:
http://www.spd.pt

Capa, Indice e Editorial_101-103.indd 1 10/23/13 7:52 PM


ISSN: 1646-3994

REVISTA PORTUGUESA
ORGÃO OFICIAL DA:
email: revista@spd.pt

DE DIABETES
DIRECTOR / EDITOR-IN-CHIEF
Dr. Rui Duarte

ÍNDICE / SUMMARY
DIRECTOR ADJUNTO / SENIOR EDITOR
Dr. Celestino Neves

EDITORES / ASSISTANT EDITORS


Dra. Margarida Bastos Dra. Mariana Monteiro

CORPO EDITORIAL / EDITORIAL BOARD P. 102 EDITORIAL / EDITORIAL


Dr. J. Sequeira Duarte Dr. Nuno Vieira
Dr. Jorge Dores Dra. Marta Alves
Dra. Cristina Esteves Dra. Maria Lopes Pereira ARTIGOS ORIGINAIS / ORIGINAL ARTICLES
Dra. Isabel Palma Dra. Maria João Oliveira
Dra. Ana Lucia Covinhas P. 104 > Renal Dysfunction as Assessed by MDRD and Cystatin C in
CONSELHO CIENTÍFICO NACIONAL / a Belgian Cohort of Type 2 Diabetic Patients Followed in an
/ NATIONAL SCIENTIFIC COUNCIL Outpatient Clinic
Dr. Alexandre Dinis Prof. J. Pereira Miguel
Dr. Álvaro Coelho Dr. Jorge Caldeira Disfunção Renal Avaliada pela MDRD e a Cistatina-C numa Coorte
Dra. Ana Fagulha Dr. Jorge Portugal Belga e Pacientes com Diabetes Tipo 2 Seguidos em Ambulatório
Prof. António Vaz Carneiro Dr. José Manuel Boavida
Dra. Beatriz Serra Prof. José Manuel Silva M. Buysschaert, B. Buysschaert, V. Preumont
Prof. C. Penha Gonçalves Dr. L. Gardete Correia
Dr. C. Simões Pereira Prof. Lelita Santos
Dr. Carlos Gois Dra. Liliana Guerreiro P. 108 > Hemoglobina Glicada e Factores
Prof. Cunha Vaz Dr. M. M. Almeida Ruas
Prof. Davide Carvalho Prof. Manuela Carvalheiro
de Risco Associados nos Idosos
Dr. Faustino Ferreira Prof. Manuel Carrageta Glycated Hemoglobin and Associated Risk Factors in Older Adults
Dr. F. Silvestre Abreu Prof. M. Helena Cardoso
Prof. Fernando de Pádua Prof. Paula Macedo R. A. Martins, J. G. Jones, S. P. Cumming, M. J. Coelho e Silva, A. M. Teixeira, M. T. Veríssimo
Prof. J. Filipe Raposo Prof. Pedro Eurico Lisboa
Prof. H. Luz Rodrigues Dr. Pedro Marques da Silva
Dr. J. Nunes Correia Dr. Pedro Matos RECOMENDAÇÕES / GUIDELINES
Dr. J. Lima Reis Dr. Rui César
Prof. J. Luis Medina Dr. Rui Duarte
Prof. John Jones Prof. S. Massano Cardoso P. 116 > Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso da Associação
Americana de Diabetes e da Sociedade Americana de Geriatria
CONSELHO CIENTÍFICO INTERNACIONAL /
/ INTERNATIONAL SCIENTIFIC COUNCIL Diabetes in Older Adults: A Consensus Report from the American Diabetes
Dr. Alberto de Leiva Prof. Martin Buysschaert Association and the American Geriatrics Society
Prof. António Chacra Dr. Michael Bergman
Dr. Daniel Figueirola Dr. Ramon Gomis
Prof. G. Bolli Dr. Ricardo Garcia-Mayor
Prof. J. P. Assal Dr. Ricardo Meirelles
REVISTA INTERNACIONAL / INTERNATIONAL REVIEW
Dr. J. Rosenstock Dr. Serge Halimi
Prof. Lefèbvre Dr. Thomaz Cruz P. 141 > Ecos do “49th EASD Annual Meeting”
PRESIDENTES ANTERIORES DA SPD /
/ PREVIOUS SPD PRESIDENTS P. 149 PÁGINA DA SPD / SPD PAGE
Dr. M. Hargreaves Dr. J. Nunes Correia
Dr. Pedro E. Lisboa Prof. Manuela Carvalheiro
Dr. M. Almeida Ruas Dr. Luís Gardete Correia
Dr. Jorge Caldeira Dr. José Manuel Boavida

SOCIEDADE PORTUGUESA DE DIABETOLOGIA

–– DIRECÇÃO / DIRECTION ––

PRESIDENTE / PRESIDENT
Prof. José Luís Medina

VICE-PRESIDENTES / VICE-PRESIDENTS
Dr. Rui Duarte
Dr. Carlos Simões Pereira

SECRETÁRIO-GERAL / GENERAL-SECRETARY
Dr. José Silva Nunes

TESOUREIRO / TREASURER
Dr. Jorge Dores

SECRETÁRIOS ADJUNTOS / ASSISTANT SECRETARIES


Dr. Carlos Godinho FICHA TÉCNICA / TECHNICAL FILE
Dr. Carlos Ripado Revista Médica Trimestral, excluída de registo no ICS de acordo com a alínea a) do art. 12º do D.R. nº 8/99 de Junho de 1999 • Propriedade:
Sociedade Portuguesa de Diabetologia - Rua do Salitre 149, 3º Esq - 1250-198 Lisboa - Tel. 21 352 41 47 - Tm. 96 825 22 97 - sítio: www.spd.pt
- email: diabetes@spd.pt • Produção e Edição: Heartbrain, Lda - Consultores em Comunicação, Lda. - Rua Diogo de Silves, 4-B - 1400-107 Lis-
VOGAIS / OTHER MEMBERS boa - Tel. 21 302 07 06 - Tm. 91 338 12 00 - email: heartbrain.lda@net.novis.pt • Impressão: Taligraf Artes Gráficas Lda. - Est. de Paço d’Arcos -
Dra. Carla Baptista Cen­tro Emp. Cacém - Armazém L - 2735 Cacém - Tel. 21 426 98 70 - Fax 21 426 98 79 - email: taligraf@mail.telepac.pt • ISSN 1646-3994
Dra. Isabel Correia Nºs avulsos: €15,00. Assinatura anual: €65,00.
101

Capa, Indice e Editorial_101-103.indd 101 10/23/13 7:53 PM


EDITORIAL
E D I TO R I A L Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 102

E sta edição da Revista tem como tema principal e quase em exclusivo,


uma população cada vez mais prevalente na nossa sociedade e cuja
abordagem clínica merece ser feita de modo diferenciado. Trata-se da po­
pulação de idade mais avançada com diabetes ou hiperglicemia intermédia.
A necessidade de uma abordagem específica para este crescente número
de pessoas deriva de todo um conjunto de situações fisiológicas e bio-
médicas associadas ao envelhecimento do corpo mas também aos aspec-
tos humanos e psico-sociais particulares dos idosos.
Em particular no idoso diabético, a abordagem clínica e terapêutica apre-
senta riscos acrescidos de iatrogenia que devem ser cuidadosamente equi­
librados com os benefícios de uma prevenção das complicações, por vezes
catastróficas, de uma hiperglicemia não controlada. Entre os extremos de
uma abordagem demasiado intensiva e uma atitude de desvalorização da
hiperglicemia é necessário encontrar o tal equilíbrio que corresponderá à
boa prática médica.
Por isso, a SPD nas suas Recomendações terapêuticas para o trata-
mento da hiperglicemia na diabetes tipo 2, nomeadamente na sua
versão resumida, incluiu um quadro de recomendações especifica-
mente destinadas aos idosos.
Neste número divulgamos um extenso relatório de Consenso da “Ameri-
can Diabetes Association” (ADA) conjuntamente com a “American Geria­
tric Society” que merece leitura atenta por parte de todos aqueles que se
preocupam com esta temática.
Saudamos, ainda a publicação de um artigo original português publicado
online “Hemoglobina Glicada e Factores de Risco Associados nos Idosos”
numa colaboração entre a Faculdade de Ciências do Desporto e Educa-
ção Física da Universidade de Coimbra, o Departamento de Bioquímica
da Universidade de Coimbra, a Faculdade de Medicina de Coimbra/Hos-
pitais da Universidade de Coimbra e a Escola de Saúde da Universidade de
Bath, Bath, Reino Unido.
Finalmente, assinalamos a estreia na RPD de um artigo original de um
dos distintos membros do nosso Conselho Científico internacional, o Prof.
M. Buysschaert e colaboradores, abordando a Disfunção Renal Avaliada
pela MDRD e a Cistatina-C numa Coorte Belga em Pacientes com Diabe-
tes Tipo 2 Seguidos em Ambulatório - M. Buysschaert, B. Buysschaert, V.
Preumont - Service d’Endocrinologie et Nutrition, Cliniques Universitaires
Saint-Luc, Brussels, Belgium.

Rui Duarte

102

Capa, Indice e Editorial_101-103.indd 102 10/23/13 7:58 PM


ACESSO ONLINE
http://www.spd.pt

Aceda a todos os números publicados da Revista Portuguesa de Diabetes


(disponíveis em pdf para “download”)

Capa, Indice e Editorial_101-103.indd 103 10/23/13 12:16 AM


ARTIGO ORIGINAL
ORIGINAL ARTICLE Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 104-107

Renal Dysfunction as Assessed by


MDRD and Cystatin-C in a Belgian
Cohort of Type 2 Diabetic Patients
Followed in an Outpatient Clinic
Disfunção Renal Avaliada pela MDRD e a Cistatina-C numa Coorte
Belga e Pacientes com Diabetes Tipo 2 Seguidos em Ambulatório

M. Buysschaert, B. Buysschaert, V. Preumont


Service d’Endocrinologie et Nutrition, Cliniques Universitaires Saint-Luc, Brussels, Belgium

Abstract

Chronic kidney disease is a frequent complication in type 2 diabetes. We evaluated prospectively the prevalence of stages 3-5 disease on the basis
of GFR as well as abnormal cystatin-C levels in a cohort of 200 patients followed in an outpatient clinic. 22% of our subjects had low GFR levels and
31% abnormal cystatin-C values. These figures confirm that a screening of renal (dys)function in a diabetic population is mandatory.

Resumo

A doença renal crónica é uma complicação frequente da diabetes tipo 2. Avaliámos prospectivamente a prevalência de doença renal crónica nos
estádios 3-5 com base na taxa de filtração glomerular, bem como nos níveis anormais de cistatina-C, numa coorte de 200 pacientes seguidos no
ambulatório. Desses pacientes, 22% tinham níveis de taxa de filtração glomerular baixos e 31% valores anormais de cistatina-C. Estas percentagens
confirmam que na população diabética o rastreio da (dis)função renal é obrigatório.

> INTRODUCTION due to the relatively limited therapeutic options.


For those reasons, clinicians are particularly sensitized to
Chronic kidney disease (CKD) is a common complication the development or progression of CKD in their diabetic
in patients with type 2 diabetes [1]. It is usually defined as subjects.
microalbuminuria (stages 1-2) or as a creatinine-based The purpose of this study is to evaluate the prevalence
estimated glomerular filtration rate (GFR) of less than 60 of stages 3-5 CKD on the basis of GFR, as well as renal
ml/min/1,73m2 (stages 3-5) [2]. Another currently avai­la­ impairment assessed by abnormal cystatin-C levels in a
ble and validated tool to detect CKD is an increased se- cohort of type 2 diabetic individuals regularly followed
rum cystatin-C [3-6]. in the outpatient clinic of a university center in Belgium.
CKD is associated with an increased risk of adverse out-
comes including death, cardiovascular events and/or > PATIENTS AND METHODS
the development of end-stage renal disease [1,7]. More-
over, hyperglycemia is usually difficult to manage and to 200 consecutive caucasian patients (116 males; 84 fe-
normalize in renal impairment, at least in stages 3-5, males) with type 2 diabetes were included in this pros­
pective survey. The study visit was performed between
January 2012 and July 2012 at the outpatient clinic of the
CORRESPONDÊNCIA
University Hospital St-Luc (Brussels). Patients hospitali­
Prof. Martin Buysschaert
Service d’Endocrinologie et Nutrition
zed for treatment of diabetes and/or evaluation of
Cliniques Universitaires St Luc chronic complications were excluded from the study as
Avenue Hippocrate 5474 were subjects with type 1 diabetes or secondary diabe-
1200 Brussels - Belgium
Tel: 32 2 7645475 tes, or subjects with a non-diabetic renal disease.
E-mail: martin.buysschaert@uclouvain.be As indicated in Table 1, age and duration of diabetes for

104

AO_Renal Dysfunction_104-107.indd 104 10/23/13 12:17 AM


Renal Dysfunction as Assessed by MDRD and Cystatin-C in a Belgian Cohort of Type 2 Diabetic Patients Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 104-107

Table I - Clinical characteristics. nal Disease (MDRD) equation [9]. Cystatin-C determina-
tion was obtained (in 83 patients) by a particle-enhan­
Total cohort Males Females
(n=200) (n=116) (n=84) ced nephelometric method on BNII (Siemens, Germany).
Reference values in patients less than 60 years old are
Age (years) 63 ± 12 61 ± 12 65 ± 13
0,54 – 0,94 mg/l in males and 0,48 – 0,82 mg/l in fe-
Duration of diabetes (years) 12 ± 9 10 ± 8 14 ± 10
males. Normal values were 0,63 – 1,03 mg/l in subjects
BMI (kg/m ) 2
30,9 ± 5,5 30,6 ± 5,2 31,4 ± 5,9 aged ≥ 60 years [3]. Microalbuminuria was determined
Blood pressure (mmHg) by a nephelometric method (Siemens, Germany).
Data are presented as means ± 1 SD. The significance of
Systolic 133 ± 17 133 ± 15 133 ± 19
differences between means was assessed by Student’s t-
Diastolic 78 ± 10 78 ± 10 78 ± 10 test. Correlation between variables used the Pearson
HbA1c (%) 7,9 ± 1,4 7,8 ± 1,3 8,1 ± 1,5 correlation test. Results were considered significant at p
< 0,05.

Table II - Biological results. > RESULTS


Total cohort Males Females
(n=200) (n=116) (n=84) For the total group, mean HbA1c was 7,9 ± 1,4% (63 ± 11
Creatinine (mg/dl) 0,9 ± 0,3 1,0 ± 0,3 0,8 ± 0,2 mmol/mol) (Table 2).
64 patients (41 M; 23 F) had an HbA1c level ≤ 7% (53
GFR (MDRD)
79 ± 24 82 ± 22 76 ± 28 NS mmol/mol) and 94 a value ≤ 7,5% (58 mmol/mol). Mean
(ml/min/1,73m2)
plasma creatinine was 0,9 mg/dl (Table 2). Estimated
Cystatin-C (mg/l) 0,89 ± 0,28 0,90 ± 0,31 0,90 ± 0,25 NS GFR for the total cohort was 79 ± 24 ml/min/1,73m2 (M
Microalbuminuria
vs F: NS). We observed that GFR was lower than 60 ml/
73 42 31 NS min/1,73m2 in 44 patients (17 M; 27 F) (22%). Only one
(nbr of patients)
subject had a GFR value lower than 30 ml/min/1,73m2.
Macroproteinuria Mean serum cystatin-C level was 0,89 ± 0,28 mg/l (M vs
13 6 7 NS
(nbr of patients) F: NS). Elevated cystatin-C levels were observed in 26
pa­tients (15 M; 11 F) (31%).
A significant correlation was observed between GFR (as
the total cohort were 63 ± 12 and 12 ± 9 years, respec- expressed by MDRD) and cystatin-C (r=0,629; p < 0,001)
tively (mean +/- 1 SD). Female patients were older than (Figure 1). Microalbuminuria was found in 73 subjects
males (p = 0,002) and tended to have longer duration of (42 M; 31 F) (NS) and macroproteinuria in 13 individuals
diabetes. Body mass index (BMI) was 30,9 ± 5,5 kg/m2. (6 M; 7 F) (NS).
Systolic and diastolic blood pressure levels, as indicated
in Table 1, were comparable in males and females. Reti- > DISCUSSION
nopathy, as assessed by fluoangiography, was present in
45 individuals. 54% of patients were treated with insulin To our knowledge, the present study is the first to report
injections administrated alone or in combination with the prevalence of renal impairment in a belgian outpa-
oral antihyperglycemic agents. Overall, metformin was tient type 2 diabetic population. We observed a global
administrated to 73% of patients, sulfonylureas to 31% prevalence of 22% of CKD 3-5, with all but one subject
and DPP4-inhibitors to 6%. GLP-1 analogues were ad- characterized by a GFR between 30 and 60 ml/min/
ministrated in 17 % of individuals. Antihypertensive the­ 1,73m2 (stage 3). The prevalence of CKD 4-5 could how-
rapy, mainly ACE-inhibitors or sartans, was administra­ ever be underestimated since we selected only non-
ted to 79% of the patients at the time of the study visit. hospitalized diabetic subjects at the time of their visit at
Measurement of glycated haemoglobin (HbA1c) using the outpatient clinic. This prevalence in Belgium is close
high-pressure liquid chromatography (HPLC) was stan- to previous reports in Europe and USA. A substantial
dardized according of the national glycohemoglobin number of data indicate indeed CKD 3-5 prevalence be-
standardization program [8]. Plasma creatinine levels we­ tween 20 and 23% [10-13].
re measured conventionally on Olympus AU 2700 ana­ We observed a correlation between GFR and serum cys-
lyser from Beckman Coulter (USA). tatin-C. Cystatin-C is a protein with constant production
GFR was measured using the Modification of Diet in Re- rate that undergoes glomerular filtration [3-6]. Using cys-

105

AO_Renal Dysfunction_104-107.indd 105 10/23/13 12:17 AM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 104-107 Renal Dysfunction as Assessed by MDRD and Cystatin-C in a Belgian Cohort of Type 2 Diabetic Patients

define the final place of serum cystatin-C


180 as a routine biomarker of renal impair-
160 ment.
140
This work was presented in part in the
SFD (Société Francophone du Diabète)
MDRD (ml/min/1.73m2)

120
meeting in Montpellier (Diabetes and
100 Metab. 2013;39:A2075). <
80

60

40 BIBLIOGRAFIA

20
1. Buysschaert M. Diabétologie Clinique. De
0 Boeck, Paris, Louvain La Neuve, 4e éddition,
0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00 2,25
2011.
Cytastin-C (mg/L)
2. National Kidney Foundation. Definition and
Figura 1 - Correlation between MDRD and cystatin-C levels. classification of stages of chronic kidney di­
sease. Am J Kidney Dis. 2002; 39/2 Suppl 1:
46-75.
tatin-C dosage, the prevalence of renal impairment in
our patients increased up to 31%. This could be due to 3. Preumont V et Buysschaert M. Intérêt du dosage de la cysta-
the fact that cystatin-C is a serum biomarker, which pro- tine C dans l’évaluation de la fonction glomérulaire et du pro-
vides GFR estimates less affected by age, race of muscle nostic cardiovasculaire. Médecine des maladies Métaboliques.
than creatinine [3,5]. Other authors confirm that cystatin-C 2008; 2: 612-614.
discriminates better among populations of type 1 and 2 4. Buysschaert M, Joudi I, Wallemacq P, Hermans MP Compara-
diabetic subjects with regards to their estimated GFR tive performance of serum cystatin C versus serum creatinine
when compared with conventional creatinine measure- in diabetic subjects. Diabetes & Metabolism. 2003; 29: 377-83.
ment [4]. In this line, Inber et al reported however that a 5. Stevens LA, Coresh J, Schmid CH et al. Estimating GFR using
combined creatinine – cystatin-C equation performed serum cystatin C alone and in combination with serum creati-
even better than equation based on either of those
nine: a pooled analysis of 3,418 individuals with CKD. Am J Kid-
markers alone [6]. Cystatin-C is also a stronger predictor
ney Dis. 2008; 51: 395-406.
of the risk of cardiovascular morbidity and mortality, in
6. Inker LA, Schmid CH, Tighiouart H, Eckfeldt JH et al. Estimating
particular in elderly persons than creatinine [1,4]. There-
glomerular filtration rate from serum creatinine and cystatin C.
fore, the use of serum cystatin-C as a diagnostic test for
CKD in general is of interest [15]. Bias in our study how- N Engl J Med. 2012; 367: 20-29.
ever could be that cystatin-C was measured only in 40% 7. Afkarian M, Sachs M, Kestenbaum B, Hirsch I, Tuttle K, Him-
of the total patient’s cohort. melfarb J et al. Kidney disease and increased mortality risk in
In parallel, the prevalence of microalbuminuria, another type 2 diabetes. J Am Soc Nephrol. 2013; 24: 302-308.
predictor of progression to end-stage renal disease or 8. Little RR. Glycated hemoglobin standardization--National Gly-
death [16] in our patients was close to that reported by cohemoglobin Standardization Program (NGSP) perspetive.
Parving et al [11]. Macroproteinuria was lower, probably Clin Chem Lab Med. 2003; 41(9): 1191-8.
due to the clinical profile of the study population. 9. Rigalleau V, Lasseur C, Perlemoine C et al. Estimation of glo-
Finally, our data also show that glycemic control in our merular filtration rate in diabetic subjects: Cockcroft formula or
pa­tients remains globally unsatisfactory, since more
modification of Diet in Renal Disease study equation? Diabetes
than 50% of our subjects had an HbA1c higher than
Care. 2005; 28(4): 838-43.
7,5% (58 mmol/mol). A more individualised glycemic
10. Whaley-Connell A, Sowers JR, McCullough PA et al. for the
op­timization approach, as indicated in the recent ADA
KEEP investigators, Diabetes mellitus and CKD awareness: the
– EASD recommendations should improve overall con-
trol [17]. Kidney Early Evaluation Program (KEEP) and National Health
In conclusion, we observed in this belgian population a and Nutrition Examination Survey (NHANES). Am J Kidney Dis.
CKD prevalence between 22% and 31% according to the 2009; 53(Suppl 4): S11-21.
used biomarker. Future studies are needed in order to 11. Parving HH, Lewis JB, Ravid M, Remuzzi G, Hunsicker LG; DE-

106

AO_Renal Dysfunction_104-107.indd 106 10/23/13 12:17 AM


Renal Dysfunction as Assessed by MDRD and Cystatin-C in a Belgian Cohort of Type 2 Diabetic Patients Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 104-107

MAND investigators. Prevalence and risk factors for microal- 15. Zhang M, Cao X, Cai G et al. Clinical evaluation of serum cys-
buminuria in a referred cohort of type II diabetic patients: a tatin C and creatinine in patients with chronic kidney disease:
global perspective. Kidney Int. 2006; 69: 2057-2063. A meta-analysis. J Int Med Res. 2013: Epub ahead of print.
12. Thomas MC, Weekes AJ, Broadley OJ, Cooper ME, Mathew TH. The 16. Amin AP, Whaley-Connel AT, Li S et al. The synergistic relation-
burden of chronic kidney disease in Australian patien­ts with type 2 ship between estimated GFR and microalbuminuria in predict-
diabetes (the NEFRON study). Med J Aust. 2006; 185: 140-144. ing long-term progression to ESRD or death in patients with
13. Koro CE, Lee BH, Bowlin SJ. Antidiabetic medication use and diabetes: results from the Kidney Early Evaluation Program
prevalence of chronic kidney disease among patients with (KEEP). Am J Kidney Dis. 2013; 61(4 suppl 2): S12-33
type 2 diabetes mellitus in the United States. Clinical Thera- 17. Inzucchi SE, Bergenstal RM, Buse JB et al. Management of hy-
peutics. 2009; 31: 2608-17. perglycemia in type 2 diabetes: a patient-centred approach:
14. Shlipak MG, Sarnak MJ, Katz R et al. Cystatin C and the risk of position of the American Diabetes Association (ADA) and the
death and cardiovascular events among elderly persons. N European Association for the Study of Diabetes (EASD). Dia-
Engl Med. 2005; 352: 2049-2060. betes Care. 2013; 36(2): 490.

107

AO_Renal Dysfunction_104-107.indd 107 10/23/13 12:17 AM


ARTIGO ORIGINAL
ORIGINAL ARTICLE Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 108-115

Hemoglobina Glicada e Factores


de Risco Associados nos Idosos*
Glycated Hemoglobin and Associated Risk Factors in Older Adults

R. A. Martins1, J. G. Jones2, S. P. Cumming3, M. J. Coelho e Silva1, A. M. Teixeira1, M. T. Veríssimo4


1- Faculdade de Ciências do Desporto e Educação Física, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
2- Departamento de Bioquímica, Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal
3- Escola de Saúde, Universidade de Bath, Bath, Reino Unido
4- Faculdade de Medicina, Hospitais da Universidade de Coimbra, Coimbra, Portugal

Resumo

Contexto: O objectivo deste estudo é investigar as relações entre a HbA1c e outros factores de risco, tais como obesidade, aptidão física, perfil
lipídico e estado inflamatório, nos idosos. A evidência epidemiológica sugere que a HbA1c está associada a risco cardiovascular e de doença
cardíaca isquémica. Considera-se que o excesso de peso e a obesidade desempenham um papel central no desenvolvimento dessas patologias.
A idade está associada a vários factores de risco, tais como aumento da gordura corporal e da gordura abdominal, deterioração do perfil lipídico,
diabetes, aumento da actividade inflamatória e diminuição da aptidão física.
Métodos: Estavam disponíveis dados de 118 participantes, com idades compreendidas entre 65 e 95 anos, incluindo 72 mulheres e 46 homens. Foram
avaliadas variáveis antropométricas, a aptidão física, a pressão arterial e a frequência cardíaca. Após 12 horas de jejum foram colhidas amostras de
sangue, para determinação de: HbA1c, PCR-as, TG, CT, HDL-C, LDL-C e glicemia. Foram realizadas correlações parciais e bivariadas para explorar as
associações entre variáveis de interesse. As diferenças entre os grupos foram exploradas realizando uma análise factorial de variabilidade.
Resultados: Os níveis de HbA1c variaram entre 4.6% e 9.4% com 93% dos casos abaixo dos 6.5%. As mulheres tinham valores mais elevados de
HbA1c, glicemia, CT, IMC e flexibilidade corporal inferior e superior do que os homens. Os homens tinham peso corporal, perímetro abdominal,
distância andada em 6 minutos e picoVO2 superiores ao das mulheres. A idade, a PAS, a PAD, a FC em repouso, a FCmáx, o C-HDL, o C-LDL, os TG,
o rácio TG/C-HDL, PCR-as Log10, a força corporal inferior e superior, a agilidade e o equilíbrio dinâmico eram semelhantes nos homens e nas mu­
lheres. A HbA1c tinha associações positivas com a glicemia, o C-HDL, o rácio TG/C-HDL, o peso corporal, o PAbd e o IMC, mas não com a aptidão
funcional, o CT, o C-LDL, o PCR-as Log10, a PAD e a PAS. Os participante obesos evidenciaram uma HbA1c mais elevada do que os não obesos
apenas quando foram aplicados os critérios de obesidade da IDF (e não os do USDHHS).
Conclusões: As mulheres idosas tinham uma HbA1c mais elevado do que os homens, mesmo após controlo relativo ao IMC. A HbA1c associa-se da
mesma forma ao peso corporal, IMC ou PAbd. Nos idosos obesos, são recomendados critérios de base populacional para classificar a obesidade
e identificar níveis mais elevados de HbA1c. A HbA1c está associada à dislipidemia aterogénica, em particular com os TG e o rácio TG/C-HDL, mas
não com o CT, o C-HDL ou o C-LDL. A HbA1c não está associada à PCR-as, à aptidão funcional e à resistência aeróbica.

Abstract

Background: The aim of this study is to investigate the relationships between HbA1c and other risk factors like obesity, functional fitness, lipid
profile, and inflammatory status in older adults. Epidemiological evidence suggests that HbA1c is associated with cardiovascular and ischemic
heart disease risk. Excess of body weight and obesity are considered to play a central role in the development of these conditions. Age is associa­
ted with several risk factors as increased body fat and abdominal fat, deterioration of the lipid profile, diabetes, raising in inflammatory activity, or
decreased functional fitness.
Methods: Data were available from 118 participants aged 65-95 years, including 72 women and 46 men. Anthropometric variables were taken, as
was functional fitness, blood pressure and heart rate. Blood samples were collected after 12 h fasting, and HbA1c, hs-CRP, TG, TC, HDL-C, LDL-C, and
glycaemia were calculated. Bivariate and partial correlations were performed to explore associations amongst the variables of interest. Differences
between groups were explored by performing factorial analysis of variance.
Results: HbA1c levels ranged from 4.6%-9.4% with 93% of the cases below 6.5%. Women had higher HbA1c, glycaemia, TC, BMI, and lower and
upper flexibility than men. Men had higher BW, WC, 6-min walking distance, and VO2peak than women. Age, SBP, DBP, HRrest, HRpeak, HDL-C,

CORRESPONDÊNCIA
Dr. Raul A. Martins
E-mail: raulmartins@fcdef.uc.pt

*Artigo originalmente publicado em língua inglesa (tradução portuguesa de Carlos Pina e Brito – médico) em regime aberto (“Open Acess”), permitin-
do utilização irrestrita, distribuição e reprodução em qualquer meio, com referência da publicação original. Referência da publicação original: Martins
RA, Jones JG, Cumming SP, Coelho e Silva MJ, Teixeira AM, Veríssimo MT. Glycated hemoglobin and associated risk factors in older adults. Cardiovascu-
lar Diabetology 2012, 11:13 http://www.cardiab.com/content/11/1/13.

108

AO_Hemoglobina Glicada e FR nos Idosos_108-115.indd 108 10/23/13 12:17 AM


Hemoglobina Glicada e Factores de Risco Associados nos Idosos Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 108-115

LDL-C, TG, TG/HDL-C ratio, Log10 hs-CRP, upper and lower strength, and agility and dynamic balance were similar in men and women. HbA1c had
positive associations with glycaemia, HDL-C, TG/HDL-C, BW, WC, BMI, but not with functional fitness, TC, LDL-C, Log10 hs-CRP, PAD, or PAS. Obese
participants had higher HbA1c than non-obese only when IDF and not USDHHS criteria were applied.
Conclusions: Older women had higher HbA1c than men, even after controlling for BMI. HbA1c associates equally with BW, BMI or WC. Population-
based criteria are recommended to classify obesity and to identify higher levels of HbA1c in obese older adults. HbA1c associates with atherogenic
dyslipidemia particularly with TG and TG/HDL-C ratio, but not with TC, HDL-C, or LDL-C. HbA1c is not associated with hs-CRP, and with functional
fitness and aerobic endurance.

> CONTEXTO mo modificam os níveis de HbA1c para além do efeito do


envelhecimento per se. Esse conhecimento é essencial
A glicemia em jejum (GJ) e a prova de tolerância à glu- para determinar se; 1) reduzir a HbA1c, através da dieta e
cose oral (PTGO) são considerados testes apropriados do exercício físico, constitui um objectivo realista nos ido-
para diagnosticar a pré-diabetes e/ou diabetes; a PTGO sos obesos e inactivos e se 2) se isso for, de facto, possível
é considerada também um teste adequado para avaliar quais deverão ser os níveis-alvo de HbA1c a atin­gir.
o risco de diabetes em doentes com glicemia em jejum Para definir obesidade, o “United States Department of
alterada (GJA) [1]. Em alternativa a esses testes, um Co- Health and Human Services” (USDHHS) estabeleceu co­
mité Internacional de Especialistas, incluindo represen­ mo pontos de corte para o perímetro abdominal > 88 cm
tantes da “American Diabetes Association” (ADA), da na mulher e > 102 cm no homem, em combinação com
“International Diabetes Federation” (IDF) e da “Europe- um índice de massa corporal (IMC) ≥ 30 kg/m2 [16]. De
an Association for the Study of Diabetes” (EASD), reco- forma semelhante, a “International Diabetes Federa-
mendou recentemente a avaliação da hemoglobina gli- tion” (IDF) [17] recomendou pontos de corte específicos,
cosilada (HbA1c), com um ponto de corte ≥ 6.5%, para de base populacional, para o perímetro abdominal, su-
diagnosticar diabetes [2] (a HbA1c de jovens magros e gerindo ≥ 80 cm nas mulheres europeias e ≥ 94 cm nos
saudáveis é, aproximadamente, de 5.0%) [3]. Esta estraté- homens europeus. Reconhecendo esses critérios de
gia foi apro­vada e adoptada pela ADA em 2010 [4]. definição de obesidade, o objectivo deste estudo é in-
A evidência epidemiológica sugere que a HbA1c elevada vestigar, em idosos dos dois sexos, as relações entre
se associa a risco cardiovascular e de doença cardíaca HbA1c e outros factores de risco, tais como obesidade,
isquémica [5]. Considera-se que, quer a obesidade, quer aptidão funcional, perfil lipídico e estado inflamatório.
o sedentarismo, desempenham importantes papéis na Um segundo objectivo desta investigação é comparar os
prevenção e tratamento da diabetes; a ADA [6] recomen- níveis de HbA1c em idosos obesos e não obesos, utilizan-
da que as pessoas com HbA1c = 5.7-6.4% deverão per­ do diferentes pontos de corte para definir obesidade.
der peso de forma moderada (7% da massa corporal ini­
cial), bem como aumentar a sua actividade física para > MÉTODOS
pelo menos 150 min/semana de actividade moderada.
O envelhecimento é outro factor que contribui para a Participantes
variabilidade da HbA1c e do risco de diabetes. Mesmo
nos adultos não diabéticos com glicemia em jejum nor- Estavam disponíveis dados de 118 participantes, com
mal, a HbA1c aumenta constantemente com a idade, de idades entre os 65 e os 95 anos, incluindo 72 mulheres
forma que, a partir dos 70 anos, atinge os 5.5% [4], quase (média de idades = 77.5 ± 8.4 anos) e 46 homens (média
alcançando o critério da ADA para pré-diabetes. Toda- de idades = 75.5 ± 6.8).
via, deve ter-se em conta que o envelhecimento tam- Os participantes tinham de dar o seu consentimento in-
bém se associa a um certo número de factores de risco formado, após ser informados sobre potenciais riscos e/
comuns ao estilo de vida sedentário/obesidade que se ou desconfortos associados à participação no estudo.
pensa estarem associados a níveis elevados de HbA1c, Todos os participantes eram da mesma instituição (San-
incluindo gordura corporal e abdominal aumentadas [7,8], ta Casa da Misericórdia) e tinham uma dieta semelhante,
um perfil lipídico mais aterogénico [9,10], diabetes [11], mar- em termos de ingestão calórica e nutrientes, controlada
cadores inflamatórios elevados [12], aptidão cardiorrespi- por um nutricionista. Os participantes que estavam a to-
ratória diminuída [13] e actividade física reduzida [14,15]. Es­ mar medicamentos, incluindo aspirina e estatinas, man-
pera-se que qualquer um destes, ou todos estes factores tiveram a posologia destes inalterada durante o estudo.
de risco, se associem a níveis elevados de HbA1c. Con- O estudo foi feito em conformidade com as leis portu-
tudo, existe pouca informação sobre em que medida, guesas e foi aprovado por um comité de ética da Uni-
nos idosos, factores como a obesidade ou o sedentaris- versidade de Coimbra. A prevalência de obesidade e os

109

AO_Hemoglobina Glicada e FR nos Idosos_108-115.indd 109 10/23/13 12:17 AM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 108-115 Hemoglobina Glicada e Factores de Risco Associados nos Idosos

níveis de HbA1c foram comparados, relativamente a três em repouso, foi utilizado o método auscultatório, um
categorias de pontos de corte: i) perímetro abdominal esfigmomanómetro (Esfigmomanómetro Aneróide-HI-
> 88 cm nas mulheres e > 102 cm nos homens [16]; ii) IMC CO HM 1001®, Alemanha) e um estetoscópio (Nurse
≥ 30 kg/m2 [16]; iii) perímetro abdominal ≥ 80 cm nas Type Professional Stethoscope-HICO HM-3005®, Ale-
mulheres e ≥ 94 cm nos homens [17]. manha). Os participantes encontravam-se sentados, de
forma consistente com os procedimentos recomenda-
Critérios de Exclusão dos pelo “American College of Sports Medicine” (ACSM)
para a avaliação da PA e da frequência cardíaca em re-
Todas as patologias físicas ou psicológicas que pode­ pouso [20]. O pico da frequência cardíaca (FCmáx) foi
riam alterar a capacidade para desempenhar os testes avaliado por telemetria com monitores Polar® (Polar S-
requeridos, bem como as medicações que se sabe in­ 810i, Finlândia).
fluenciarem o desempenho funcional ou a interpreta-
ção dos resultados, foram consideradas critérios de ex- Colheitas de Sangue
clusão. Os participantes com tolerância diminuída à glu-
cose e/ou diabetes foram também excluídos do estudo. As avaliações foram efectuadas da forma anteriormente
descrita [21].
Antropometria Amostras de sangue venoso foram recolhidas e coloca-
das em tubos de ensaio contendo EDTA, de manhã, en-
As médicos antropométricas foram efectuadas numa di- tre as 8.00 horas e as 9.30 horas, após 12 horas de jejum
visão separada, para assegurar a privacidade dos par- e um mínimo de 48 horas após a última intervenção de
ticipantes. O peso corporal (PC) foi determinado com exercício físico. Os participantes encontravam-se senta-
uma balança portátil (Seca®, model 770, Alemanha) dos e tinham descansado durante 5 minutos. As avalia-
com uma precisão de 0.1 kg. O perímetro abdominal ções do perfil lipídico foram feitas com testes de depu-
(PAbd) foi medido na parte mais estreita do torso, acima ração enzimática directos, conduzidos nos “Randox
do umbigo e abaixo do apêndice xifóide, utilizando La­boratories”. O colesterol total (CT) foi determinado
uma fita métrica retráctil de fibra de vidro (Hoechst- com um “Triderbased (CHOD-PAP) colorimetric end-
mass-Rollfix®, Alemanha) com uma precisão de 0.1 cm. point assay (CH 3810, Randox Laboratories Ltd, UK)”. O
A estatura foi determinada com um estadiómetro por- colesterol das HDL (C-HDL) foi determinado com um
tátil (Seca Bodymeter®, modelo 208, Alemanha) com “direct two-point kinetic assay kit (CH 2652, Randox
uma precisão de 0.1 cm. Laboratories Ltd, UK)”. O colesterol das LDL (C-LDL) foi
determinado com um “direct two-point kinetic assay kit
Aptidão Funcional (CH 9702, Randox Laboratories Ltd,UK). Os triglicéridos
(TG) foram determinados com um “Trinder-based (GPO-
A aptidão funcional foi avaliada com a bateria de testes PAP) colorimetric end point assay (TR 3823, Randox La­
“Senior Fitness”, descrita num artigo anterior [18], e cons­ boratories Ltd, UK)”. A proteína C reactiva de alta sensi-
tituída pelos seguintes testes: i) “chair stand test”, para bilidade (PCR-as) foi avaliada por imunoturbidimetria
avaliar a força da parte inferior do corpo; ii) “arm curl com um kit PCR de alta sensibilidade (Randox Laborato-
test”, para avaliar a força da parte superior do corpo; ries Ltd, UK). A HbA1c foi determinada por imunoensaio
iii) “chair sit-and-reach test”, para avaliar a flexibilidade (HA 3830, Randox Laboratories Ltd, UK). Todos os méto-
da parte inferior do corpo; iv) “back scratch test”, para dos foram controlados e validados, utilizando controlos
avaliar a flexibilidade da parte superior do corpo; v) “8- externos do INSA e do RIQAS.
ft up-and-go test”, para avaliar a agilidade e o equilíbrio
dinâmico; vi) teste de marcha de 6 minutos, para avaliar Análise Estatística
a resistência aeróbica. O “Peak oxygen uptake” (pico de
consumo de oxigénio) (picoVO2) foi estimado com a As variáveis foram testadas, relativamente à normalida­
equação desenvolvida por Cahalin e colegas [19]. de e homogeneidade. As variáveis com distribuição sig-
nificativamente diferente da normal foram transforma-
Pressão Arterial e Frequência Cardíaca das em logaritmos, o que sucedeu no caso da PCR-as
(PCR-as Log10). Os dados são apresentados como va-
Para avaliar a pressão arterial sistólica (PAS), a pressão lores médios e desvio padrão e a significância estatística
arterial diastólica (PAD) e a frequência cardíaca, todas foi definida como p ≤ 0.05. As comparações entre mu­

110

AO_Hemoglobina Glicada e FR nos Idosos_108-115.indd 110 10/23/13 12:17 AM


Hemoglobina Glicada e Factores de Risco Associados nos Idosos Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 108-115

lheres e homens foram efectuadas com uma MANOVA Quadro I - Características dos participantes.
multifactorial, ajustada para a idade e IMC, sobre HbA1c,
Mulheres Homens Valor
glicemia, PCR-as e perfil lipídico. As comparações entre (n = 72) (n = 46) de p
participantes obesos e não obesos, dentro das três ca­ Idade (anos) 77 (8) 75 (7) 0.36
tegorias de pontos de corte para obesidade utilizadas
Peso corporal (kg) 69.6 (11.2) 76.7 (9.0) 0.00**
(critério IDF, relativamente ao PAbd; critério USDHHS,
relativamente ao PAbd; critério USDHHS, relativamente IMC (kg/m2) 30.2 (4.0) 28.5 (3.4) 0.05*

ao IMC) foram conduzidas com uma ANCOVA factorial, Perímetro abdominal (cm) 91.0 (9.2) 97.0 (6.2) 0.00**
controlada para a idade e o sexo. Procedimentos seme­ PAS (mmHg) 149 (17) 149 (23) 0.94
lhantes foram adoptados para comparar os participan­
PAD (mmHg) 78 (11) 77 (10) 0.67
tes relativamente aos diferentes níveis de aptidão física.
As associações entre a HbA1c e outros factores de risco FC em repouso 70 (10) 66 (11) 0.07
de doença cardiovascular foram calculadas com uma FC máxima 115 (21) 119 (22) 0.41
correlação bivariada e com uma correlação parcial, ajus­
HbA1c (%) 5.7 (0.9) 5.3 (0.3) 0.00**
tadas para a idade e sexo. A análise dos dados foi feita
com o SPSS v19.0 (SPSS inc, Chicago, IL, EUA). Glicemia (mg/dL) 101 (25) 91 (12) 0.01**

CT (mg/dL) 216 (37) 209 (45) 0.01**


> RESULTADOS
C-HDL(mg/dL) 53 (9) 49 (10) 0.21

As características dos participantes, na linha de base, C-LDL (mg/dL) 94 (32) 93 (42) 0.06
resumem-se no Quadro I. Os homens tinham valores de TG (mg/dL) 126 (77) 113 (50) 0.21
PC, PAbd, teste de marcha de 6 minutos e picoVO2 mais
TG/C-HDL 2.57 (2.10) 2.50 (1.40) 0.44
elevados do que as mulheres. Em contraste, as mulheres
tinham valores de IMC, flexibilidade corporal inferior e PCR-as Log10 0.17 (0.11) 0.21 (0.19) 0.14

superior, CT, glicemia e HbA1c mais elevados do que os Dist. andada em 6-min (m) 354 (97) 406 (106) 0.01**
homens. A idade, a PAS, a PAD, a FC em repouso, a FC- PicoVO2 (mL/kg/min) 14.6 (2.9) 16.2 (3.3) 0.01**
máx, o C-HDL, o C-LDL, os TG, o rácio TG/C-HDL, a PCR-
Força superior (reps/30s) 15 (4) 15 (4) 0.38
as Log10, a força corporal inferior e superior e os valores
de agilidade e equilíbrio dinâmico eram semelhantes Força inferior (reps/30s) 12 (4) 13 (4) 0.66
em ambos os sexos. Flexibilidade superior (cm) -20.4 (10.8) -29.3 (14.2) 0.00**
Os níveis de HbA1c variaram entre 4.6% e 9.4%, com
Flexibilidade inferior (cm) -5.5 (12.6) -17.9 (13.7) 0.00**
uma distribuição enviesada e uma média de 5.6%, en-
contrando-se 93% dos casos abaixo de 6.5%. Tendo em Agilidade e equilíbrio(s)
8.64 (3.43) 8.49 (4.53) 0.85
dinâmico(s)
conta a ampla faixa etária dos participantes (65-95
anos), foram efectuadas correlações parciais de controlo Dados expressos em médias (desvio-padrão). FC = frequência cardíaca; CT = colesterol total;
TG = triglicéridos. Diferenças entre homens e mulheres: ** p ≤ 0.01; * p ≤ 0.05
do efeito, relativamente ao sexo e idade.
A HbA1c tinha associações positivas com a glicemia (r =
0.80; p = 0.00), os TG (r = 0.26; p = 0.02), o C-HDL (r = -0.31; Utilizando os pontos de corte da IDF [17], baseados no
p = 0.01), o rácio TG/C-HDL (r = 0.29; p = 0.01), o PC (r = PAbd da população europeia, a prevalência de obesi-
0.34; p = 0.00), o PAbd (r = 0.33; p = 0.00) e o IMC (r = 0.31; dade foi de 78% (85% nas mulheres e 65% nos homens).
p = 0.01). A HbA1c não se correlacionou significativamente Utilizando os pontos de corte do USDHHS [16], para o PA
com qualquer componente da aptidão fí­sica: força superi- e o IMC, a prevalência de obesidade diminuiu para 48%
or (r = 0.09; p = 0.45), força inferior (r = 0.08; p = 0.51), (60% nas mulheres e 30% nos homens) e 38% (47% nas
flexibilidade superior (r = -0.13; p = 0.86), flexibilidade infe- mulheres e 24% nos homens), respectivamente (Figura 1).
rior (r = -0.02; p = 0.89), agilidade e equi­líbrio dinâmico (r A HbA1c foi comparada, nos participantes obesos e não
= 0.07; p = 0.54), picoVO2 (r = 0.05; p = 0.68). A HbA1c obesos, utilizando três categorias de pontos de corte
também não se associou significativamente com os TC (r = (Figura 2). Observaram-se diferenças entre os participan­
0.07; p = 0.52), o C-LDL (r = 0.12; p = 0.28), a PCR-as Log10 tes obesos e não obesos, a nível da HbA1c, e após ajuste
(r = 0.10; p = 0.39), a PAS (r = 0.40; p = 0.73) e a PAD (r = para a idade e sexo, com os critérios de PAbd da IDF (5.7
0.04; p = 0.70). Finalmente, a HbA1c não se correlacionou ± 0.8% vs 5.2 ± 0.4%) (F = 3.90, p = 0.05), mas não com os
significativamente com a idade (r = -0.08; p = 0.46). critérios de PAbd do USDHHS (5.7 ± 0.9% vs 5.4 ± 0.5%)

111

AO_Hemoglobina Glicada e FR nos Idosos_108-115.indd 111 10/23/13 12:17 AM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 108-115 Hemoglobina Glicada e Factores de Risco Associados nos Idosos

A aptidão cardiorrespiratória é, com fre­


100 quência, definida em termos de pico-
Mulheres
VO2. A maioria dos participantes (65%)
Homens apresentaram valores de picoVO2 “abai­
80 85
xo da média” (68% das mulheres e 60%
Prevalência de Obesidade (%)

Total
78
dos homens), enquanto que uma peque-
100
60 na proporção (35%) se encontrava “den-
65
60 Mulheres tro da faixa normal” (32% das mu­lheres e
Homens 40% dos homens). Nenhum dos partici-
80 85
Prevalência de Obesidade (%)

48 Total
40
78
47 pantes tinha pontuações “acima da mé-
38 dia”, relativamente ao seu grupo etá­rio [22].
60 65 30 A Figura 3 ilustra os níveis de HbA1c de
20 60 24 acordo com o picoVO2. A HbA1c tinha
valores semelhantes nos ido­sos com pi-
40 48 47
coVO2 “abaixo da média” (5.5% ± 0.7%)
0
38 e “dentro da faixa normal” (5.6% ± 0.8%)
IDF USDHHS USDHHS
(PAbd) 30(PAbd) (IMC) (F = 0.99; p = 0.32). Dada a observada
20 24 pe­quena a moderada relação inversa en­
Pontos de Corte tre picoVO2 e IMC (r = -0.18; p = 0.06),
0 os níveis de pico VO2 foram novamente
Figura 1 - Prevalência de obesidade com os critérios da IDF [17] para obesidade cen-
IDF USDHHS USDHHS comparados, efectuado con­trolo para o
tral (perímetro abdominal ≥ 80 cm, nas mulheres, e ≥ 94 cm nos homens) e com os
7,0 (PAbd)[16] (PAbd) (IMC) IMC. Todavia, uma vez mais a HbA1c foi
critérios do USDHHS (perímetro abdominal > 88 cm, nas mulheres, e > 102 cm nos
homens e IMC ≥ 30 kg/m§2). Obesos
semelhante nos grupos “abai­xo da mé-
Pontos de Corte
Não-obesos dia” e “dentro da faixa nor­­mal” (F = 0.59;
p = 0.45).
6,0
Hemoglobina Glicada (%)

7,0
> DISCUSSÃO
§
Obesos
5,0 Os resultados da presente investigação Não-obesos

6,0 demonstraram que, entre os idosos par-


ticipantes, não se observaram diferenças
Hemoglobina Glicada (%)

5,7 5,7 5,8


5,2 5,4 5,4 por sexo, relativamente à idade, PAS, PAD,
4,0
FC em repouso, FCmáx, C-HDL, C-LDL,
5,0
TG, rácio TG/C-HDL, PCR-as Log10 e for-
ça. Tipicamente, os homens apresentam
3,0 5,7 5,7 5,8 valores mais elevados de distância an-
5,2 5,4 5,4
4,0 IDF USDHHS USDHHS dada em 6 minutos, picoVO2, PC e PAbd
(PAbd) (PAbd) (IMC) do que as mulheres, mas com IMC menor
que o destas. Em contraste, as mu­lheres
apresentam valores mais ele­ vados de
3,0 HbA1c, glicemia, CT e flexibilidade do
IDF USDHHS USDHHS que os homens. Dado que a rela­ção en-
(PAbd) (PAbd) (IMC)
tre HbA1c e idade não foi sig­nificativa, os
7 § resultados do presente estudo também
Figura 2 - Hemoglobina glicada por categorias de obesidade utilizando os critérios
§ sugerem que a HbA1c não é afectada
da IDF [17], relativos ao perímetro abdominal, e os critérios do USDHHS [16], relativos aoMulheres
perímetro abdominal e ao IMC. § p ≤ 0.05. Homens pela idade. São resultados mui­ to sur-
6
Total preendentes, dado que alguns autores
Hemoglobina Glicada (%)

encontraram valores de HbA1c nos ido-


7 §
(F = 1.82, p = 0.18), ou de IMC do USDHHS (5.8 ± 1.0% vs sos do sexo feminino e do sexo masculino [23,24], para
§
5.4 ± 0.5%) (F = 2.21, p = 0.14). Os critérios de obesidade da alémMulheres
de um aumento significativo com a idade [4,23,25],
5
IDF e do USDHHS não interagiram com o sexo e a idade. enquanto
Homens que outros referiram níveis mais baixos de
Total
6
oglobina Glicada (%)

5,7 5,8
112 5,5 5,6
5,2 5,4
4

5
AO_Hemoglobina Glicada e FR nos Idosos_108-115.indd 112 10/23/13 12:17 AM

3 5,7 5,8
3,0
IDF USDHHS USDHHS
(PAbd) (PAbd) (IMC)

Hemoglobina Glicada e Factores de Risco Associados nos Idosos Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 108-115

controlo da HbA1c, independentemente


7 §
do tratamento da dislipidemia, é neces­
§
Mulheres sário para reduzir o risco cardiovascular,
Homens em particular nos pacientes diabéticos
Total com HbA1c elevada [29]. Em conformi-
6
Hemoglobina Glicada (%)

dade, descrevemos associações significa-


tivas da HbA1c com os TG, e o rácio TG/
C-HDL, mas não com o CT, o C-HDL e o
5
C-LDL, o que parece confirmar a impor­
tância de rastrear a dislipi­demia aterogé-
5,7 5,8
5,5 5,4
5,6 nica. A presença da HbA1c num modelo
5,2
4 de ava­liação da diabetes poderá ajudar a
identificar par­ticipantes em risco eleva-
do, sendo a previsibilidade me­lhorada
3
pela in­clusão do perfil lipídico [30].
Abaixo Normal Acima Em consequência, poderá esperar-se
que avaliar a relação entre HbA1c e perfil
Resistência Aeróbica (picoVO2) lipídico ajude a identificar as pessoas em
risco cardiovascular. Dito isto, os nossos
Figura 3 - Hemoglobina glicada em função da resistência aeróbica [22]. § p ≤ 0.05. resultados parecem confirmar a impor­
tância apenas dos TC e do rácio TG/C-
HbA1c associados ao sexo feminino [26]. De forma consis- HDL e não de outros parâmetros lipídicos.
tente com a observação de Kim e colegas [25], as mu­ Os participantes obesos tinham níveis de HbA1c mais
lheres do presente estudo continuaram a apresentar um elevados do que os não obesos, apenas quando se usa-
valor médio de HbA1c superior ao dos homens, mesmo vam os pontos de corte da IDF [17] relatIvos ao PAbd na
quando controlado para o IMC e a idade (F = 4.87, p = população europeia. Todavia, quando se usam os crité-
0.03). No entanto, é importante notar que os estudos rios propostos pelo USDHHS [16] (que se baseiam no PAbd
referidos se centraram em pessoas com diabetes, com ou no IMC), não se verifica diferença significativa a nível
HbA1c ≥ 6.5%, população que é muito diferente dos dos valores de HbA1c entre participantes obesos e não
participantes no nosso estudo. obesos. Esta observação apoia a necessidade de utilizar
Um exame da análise de correlação revelou que a rela- pontos de corte populacionais específicos. Claramente,
ção moderada e positiva entre PAbd e HbA1c era equi­ os participantes compreendidos entre os pontos de
valente, em dimensão e magnitude, à correlação obser- corte do USDHHS [16] e da IDF [17] influenciam as diferen-
vada entre HbA1c e preditores tradicionais de risco ças dos níveis de HbA1c entre pessoas obesas e não obe-
HbA1c (isto é, PAbd e IMC). Esta observação sugere que sas, o que poderia levar a conclusões erradas. No que
a distribuição regional de massa gorda poderá consti- diz respeito aos critérios de IMC, para analisar as dife-
tuir um preditor igualmente válido de risco HbA1c nos renças da HbA1c, talvez o valor de 30 kg/m2 não seja o mais
idosos, nem mais nem, menos relevante do que o PAbd preciso, tendo em conta a elevada variabilidade que, de
ou o IMC. Outros estudos relataram achados semelhan­ um modo geral, é apanágio dos idosos. Pode especular-se
tes em adultos com idade ≥ 60 anos, em que a diabetes que usar um ponto de corte mais baixo de IMC produzi­ria
está comummente associada a valores mais elevados de diferenças da HbA1c entre obesos e não obesos.
INC ou PAbd [15]. A idade tem sido associada a uma deterioração da ap-
A dislipidemia aterogénica, que se caracteriza-se por TG tidão cardiorrespiratória [13]. Tem sido também relatado
elevados e C-HDL baixo e tem sido associada a resistên- que, com a idade, o tempo dispendido em actividades
cia à insulina , mesmo com C-LDL baixo, poderá pro-
[27]
sedentárias aumenta [31,32] e constitui um preditor de
porcionar informação clinicamente relevante relaciona- obe­sidade, aterosclerose e doença cardiovascular [33,34].
da com o risco cardiovascular. Existe literatura que as­socia Alguns estudos descobriram que o enfraquecimento do
valores patológicos de HbA1c à dslipidemia aterogénica, sistema cardiovascular associado ao envelhecimento
especificamente ao rácio TG/C-HDL . Outros estudos
[28]
po­de ser contrariado aumentando os níveis de activi-
encontraram associações com a doença cardiovascular dade física e aptidão funcional [21,35,36]. Cerca de dois ter-
em doentes com hipercolesterolemia, sugerindo que o ços (65%) dos participantes neste estudo tinham uma

113

AO_Hemoglobina Glicada e FR nos Idosos_108-115.indd 113 10/23/13 12:17 AM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 108-115 Hemoglobina Glicada e Factores de Risco Associados nos Idosos

aptidão cardiorrespiratória abaixo da média, enquanto controlo relativo ao IMC. A HbA1c está igualmente as-
que os restantes 35% a tinham dentro da faixa normal, sociada ao PC, IMC e Pabd.
de acordo com os pontos de corte de Rikli e Jones [22]. A HbA1c associa-se também à dislipidemia aterogénica,
A HbA1c não se relacionou com qualquer componente em particular aos TG e ao rácio TG/C-HDL, mas não ao
da aptidão funcional, incluindo flexibilidade, força, agi- CT, C-HDL ou C-LDL A HbA1c não está associada à PCR-
lidade e equilíbrio dinâmico e picoVO2, mesmo após as ou à aptidão funcional. Os participantes obesos ti­
controlo para a idade e sexo. Gao e colegas [5], estudan- nham uma HbA1c mais elevada do que os não obesos
do uma população com uma HbA1c média de 5.8% e apenas quando se utilizavam os critérios da IDF, mas
91% dos valores abaixo de 7%, concordaram parcial- não os do USDHHS, sublinhando a importância de utili-
mente, concluindo que a HbA1c não se encontrava as- zar pontes de corte específicos para a população em
sociada ao risco de prejudicar o desenvolvimento de estudo. <
actividades instrumentais da vida diária (AIVD) e/ou ac-
tividades da vida diária (AVD) na população total do es-
BIBLIOGRAFIA
tudo; no entanto, essa associação existia quando se
analisava só a população do sexo feminino. Foi mostra-
1. American Diabetes Association: Standards of medical care in
do que, nos indivíduos com idade ≥ 60 anos, um con-
diabetes-2009. Diabetes Care. 2009; 32:S13-S61.
trolo pobre da glicemia (HbA1c ≥ 8%) explica aproxima-
2. International Expert Committee: International Expert Commit-
damente 10% da incapacidade (isto é, da dificuldade em
desempenhar uma tarefa física), percentagem que au- tee report on the role of the A1C assay in the diagnosis of dia-
menta para 85% quando se incluem as comorbilidades, betes. Diabetes Care. 2009; 32:1327-1334.
sobretudo doença cardiovascular e obesidade [15]. No en­ 3. Pani LN, Korenda L, Meigs JB, Driver C, Chamany S, Fox CS,
tanto, no presente estudo, a ausência de uma associa- Sullivan S, D’Agostino RB, Nathan DM: Effect of aging on A1C
ção entre HbA1c e aptidão funcional, em particular ap- levels in individuals without diabetes. Diabetes Care. 2008;
tidão cardiorrespiratória, poderia ser explicada, pelo 31:1991-1996.
me­nos em parte, pelos níveis de HbA1c claramente infe- 4. American Diabetes Association: Diagnosis and Classification of
riores aos referidos acima. Diabetes Mellitus. Diabetes Care. 2010; 33:S62-S69.
Adicionalmente, permanece a necessidade de compre­ 5. Gao L, Matthews FE, Sargeant LA, Brayne C, MRC CFAS: An
ender melhor o efeito do sexo na relação entre aptidão
investigation of the population impact of variation in HbA1c
funcional e HbA1c nos idosos.
levels in older people in England and Wales: from a population
Inflamação crónica de baixo grau tem sido associada à
based multi-centre longitudinal study. BMC Publ Health. 2008;
diabetes, desempenhando a PCR-as um papel central,
8:54.
aumentando a resposta da fase aguda [37]. Alguns au-
tores documentaram a relação entre PCR-as e diabetes 6. American Diabetes Association: Standards of medical care in
tipo 2, com ou sem obesidade [38,39]. Mais recentemente, diabetes-2011. Diabetes Care. 2011; 34:S11-S61.
foram também observados níveis aumentados de PCR- 7. Kohrt WM, Obert KA, Holloszy JO: Exercise training improves
as em pessoas com HbA1c aumentada [40]. Contrariamen­ fat distribution patterns in 60- to 70-year old men and women.
te às expectativas, no presente estudo os níveis de J Gerontol. 1992; 47:M99-M105.
HbA1c não se associaram à PCR-as. Contudo, mais uma 8. Ryan AS, Nicklas BJ: Age-related changes in fat deposition in
vez, seria importante notar que os participantes tinham midthigh muscle in women: relationships with metabolic car-
valores basais mais baixos de PCR-as e de HbA1c, o que diovascular disease risk factors. Int J Obes Relat Metab Disord.
poderia explicar essa discrepância. 1999; 23:126-132.
Este estudo tem duas limitações principais. É um estudo
9. Harris MI, Flegal KM, Cowie CC, Eberhardt MS, Goldstein DE,
transversal e, para além disso, tem uma população pe­
Little RR, Wiedmeyer HM, Byrd-Holt DD: Prevalence of diabe-
quena que inclui 60% de mulheres. Apesar dessas limita-
tes, impaired fasting glucose, and impaired glucose tolerance
ções, pensamos que os dados são representativos da pre-
in U.S. adults. The Third National Health and Nutrition Exami-
valência dos dados reportados numa coorte de idosos.
nation Survey, 1988-1994. Diabetes Care. 1998; 21:518-524.
> CONCLUSÕES 10. 
Short KR, Vittone JL, Bigelow ML, Proctor DN, Rizza RA,
Coenen-Schimke JM, Nair KS: Impact of aerobic training on
O presente estudo sugere que as mulheres tinham uma age-related changes in insulin sensitivity and muscle oxidative
HbA1c mais elevada do que os homens, mesmo após capacity. Diabetes. 2003; 52:1888-1896.

114

AO_Hemoglobina Glicada e FR nos Idosos_108-115.indd 114 10/23/13 12:17 AM


Hemoglobina Glicada e Factores de Risco Associados nos Idosos Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 108-115

11. Wild S, Roglic G, Green A, Sicree R, King H: Global prevalence six minute walk test predicts peak oxygen uptake and survival in
of diabetes: estimates for the year 2000 and projections for patients with advanced heart failure. Chest. 1996; 110:325-332.
2030. Diabetes Care. 2004; 27:1047-1053. 20. ACSM: ACSM’s Guidelines for Exercising Testing and Prescrip-
12. Pedersen M, Bruunsgaard H, Weis N, Hendel HW, Andreassen tio Philadelphia: Lippincott Wiliams & Wilkins; 2010.
BU, Eldrup E, Dela F, Pedersen BK: Circulating levels of TNFal- 21. Martins RA, Veríssimo MT, Coelho e Silva MJ, Cumming SP,
pha and IL-6-relation to truncal fat mass and muscle mass in Teixeira AM: Effects of aerobic and strength-based training on
healthy elderly individuals and in patients with type-2 diabe- metabolic health indicators in older adults. Lipids Health Dis.
tes. Mech Ageing Dev. 2003; 124:495-502. 2010; 9:76.
13. Fleg JL, Morrell CH, Bos AG, Brant LJ, Talbot LA, Wright JG, 22. R
 ikli RE, Jones CJ: Functional fitness normative scores for com-
Lakatta EG: Accelerated longitudinal decline of aerobic capa­ munityresiding adults, ages 60-94. J Aging Phys Activ. 1999;
city in healthy older adults. Circulation. 2005; 112:674-682. 7:160-179.
14. Gregg EW, Beckles GL, Williamson DF, Leveille SG, Langlois JA, 23. Cowie CC, Rust KF, Byrd-Holt DD, Gregg EW, Ford ES, Geiss LS,
Engelgau MM, Narayan KM: Diabetes and physical disability Bainbridge KE, Fradkin JE: Prevalence of diabetes and high risk
among older U.S. adults. Diabetes Care. 2000; 23:1272-1277. for diabetes using A1C criteria in the U.S. population in 1988-
15. Kalyani RR, Saudek CD, Brancati FL, Selvin E: Association of 2006. Diabetes Care. 2010; 33:562-568.
diabetes, comorbidities, and A1C with functional disability in 24. Göbl CS, Brannath W, Bozkurt L, Handisurya A, Anderwald C,
older adults: results from the National Health and Nutrition Luger A, Krebs M, Kautzky-Willer A, Bischof MG: Sex-specific
Examination Survey (NHANES), 1999-2006. Diabetes Care. differences in glycemic control and cardiovascular risk factors
2010; 33:1055-1060. in older patients with insulintreated type 2 diabetes mellitus.
16. US Department of Health and Human Services: The Practical Gend Med. 2010; 7:593-599.
Guide to the Identification, Evaluation, and Treatment of Over- 25. Kim CH, Kim HK, Bae SJ, Park JY, Lee KU: Discordance between
weight and Obesity in Adult Bethesda: NIH–National Heart, fasting glucose-based and hemoglobin A1c-based diagnosis
Lung, and Blood Institute; 2000. of diabetes mellitus in Koreans. Diabetes Res Clin Pract. 2011;
17. IDF: International Diabetes Federation 2005 [http://www.idf. 91:e8-e10.
org/home/index.cfm?unode=32EF2063-B966-468F-928C- 26. Weinstock RS, Teresi JA, Goland R, Izquierdo R, Palmas W, Ei-
A5682A4E3910]. micke JP, Ebner S, Shea S, IDEATel Consortium: Glycemic con-
18. Rikli RE, Jones CJ: Development and validation of a functional trol and health disparities in older ethnically diverse under-
fitness test for community-residing older adults. J Aging Phys served adults with diabetes: five-year results from the
Activ. 1999; 7:127-159. Infor­matics for Diabetes Education and Telemedicine (IDEATel)
19. Cahalin LP, Mathier MA, Semigran MJ, Dec Gw, DiSalvo TG: The study. Diabetes Care. 2011; 34:274-279.

115

AO_Hemoglobina Glicada e FR nos Idosos_108-115.indd 115 10/23/13 12:17 AM


RECOMENDAÇÕES
G U I D E L I N E S Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139

Diabetes nos Idosos: Um Relatório de


Consenso da Associação Americana
de Diabetes e da Sociedade Americana
de Geriatria*
Diabetes in Older Adults: A Consensus Report from the American
Diabetes Association and the American Geriatrics Society

> DIABETES NOS IDOSOS: UM RELATÓRIO DE convocou, em Fevereiro de 2012, uma Conferência de
CONSENSO DA ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE Consenso (“Consensus Development Conference on Dia­
DIABETES E DA SOCIEDADE AMERICANA DE betes and Older Adults”). Foram definidos como idosos,
GERIATRIA os adultos com idade ≥ 65 anos. Após uma série de
apresentações científicas, efectuadas por especialistas
Kirkman S, Briscoe VJ, Clark N, Florez H, Haas LB, Halter na área, o grupo de redacção, desenvolveu, de forma
JB, et al. Diabetes in Older Adults: A Consensus Report. independente, este Relatório de Consenso para dar res-
(JAGS. 2012. DOI: 10.1111/jgs.12035) posta às seguintes questões:
(Artigo disponível na internet em regime aberto) 1–Q ual é a epidemiologia e a patogénese da diabetes
no idoso?
Mais de 25% da população norte-americana com 2 – Qual é a evidência relativa à prevenção e tratamento
idade ≥ 65 anos tem diabetes mellitus (daqui em dian­ da diabetes, e das comorbilidades associadas, no ido­
te refe­rida como diabetes) [1] e o envelhecimento da ­so?
população é um motor significativo da epidemia de 3 – Que recomendações relativas ao tratamento da dia-
diabetes. Embora a carga de diabetes seja, com fre­ betes no idoso existem actualmente?
quência, descrita em termos do seu impacto nos adul- 4 – Que questões devem ser tidas em consideração na
tos em idade activa, nos idosos associa-se a uma mor- individualização das recomendações de tratamento
talidade maior, a um estado funcional reduzido e a um no idoso?
risco de instituciona­lização aumentado [2]. Os idosos 5– Quais são as recomendações consensuais para o
com diabetes encontram-se em risco substancial de tratamento dos idosos com diabetes ou em risco de
com­plicações micro e macrovasculares, quer agudas ter diabetes?
quer crónicas. 6 – Como é que as lacunas a nível de evidência podem
Apesar de serem o grupo etário com a mais elevada pre- ser preenchidas?
valência de diabetes, os idosos e/ou as pessoas com
múltiplas comorbilidades têm, com frequência, sido ex- > QUAL É A EPIDEMIOLOGIA E A PATOGÉNESE DA
cluídas dos estudos clínicos aleatorizados e controlados DIABETES NO IDOSO?
de tratamentos – e dos valores-alvo de tratamento –
relativos à diabetes e às patologias a ela associadas. A De acordo com os dados mais recentes, a prevalência de
heterogeneidade do estado de saúde dos idosos (mes- diabetes nos norte-americanos com idade ≥ 65 anos
mo dentro de uma faixa etária) e a escassez de evidên- varia entre 22 e 33%, consoante os critérios de diag-
cias obtidas em estudos clínicos, coloca desafios à ela­ nóstico utilizados. A hiperglicemia pós-prandial consti-
boração de estratégias padronizadas de intervenção tui uma característica proeminente da diabetes tipo 2
que se adaptem a todos os idosos. Para dar resposta a nos idosos [3,4[, contribuindo para as diferenças obser-
estas questões, a “American Diabetes Association” (ADA) vadas a nível da prevalência (dependentes do teste de

* Revisão científica da tradução: Rui Duarte (Médico Internista/Diabetologista da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal – APDP).
Tradução: Carlos Pina e Brito (médico).

116

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 116 10/23/13 7:52 PM


Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139

diag­nóstico utilizado) [5]. Utilizar a hemoglobina A1C (A1C) Embora exista um número crescente de pessoas com dia­
ou a glicemia de jejum como testes diagnósticos, como é betes tipo 1 que atingem o escalão etário de idosos [11], esta
actualmente o caso nos rastreios nacionais norte-ameri- discussão da fisiopatologia diz respeito à diabetes tipo 2
canos, deixa por diagnosticar um terço dos idosos [1]. – esmagadoramente, o tipo de diabetes com maior in-
Na população norte-americana, a epidemia de diabetes cidência e prevalência no idoso. Os idosos estão em ris-
tipo 2 está claramente ligada às taxas crescentes de ex- co elevado de desenvolver diabetes tipo 2, devido aos
cesso de peso e obesidade mas, as projecções do “Cen- efeitos combinados do aumento da resistência à insuli-
ter for Disease Control and Prevention” (CDC) sugerem na e do enfraquecimento da função dos ilhéus pan-
que, mesmo que a taxa de incidência de diabetes esta- creáticos associados ao envelhecimento. A resistência à
bilize, a prevalência de diabetes duplicará nos próximos insulina, relacionada com o envelhecimento, parece es-
20 anos em parte devido ao envelhecimento da popula- tar primariamente associada à adiposidade, sarcopenia
ção [6]. Outras projecções sugerem que o número de ca- e inactividade física [12], o que poderá explicar parcial-
sos de diabetes diagnosticados nos indivíduos com ida­ mente o sucesso desproporcionado da intervenção in-
de ≥ 65 anos aumentará 4,5 vezes (3 vezes na população tensiva a nível do estilo de vida nos idosos incluídos no
total) entre 2005 e 2050 [7]. “Diabetes Prevention Program” (DPP) [13]. Todavia, fo­ram
Até cerca dos 65 anos, a incidência de diabetes aumenta anteriormente descritos declínios, associados ao enve­
com a idade; após essa idade a incidência e a prevalên- lhecimento, da função dos ilhéus pancreáticos [4,14] e da
cia parecem ambas estabilizar (www.cdc.gov/diabetes/ capacidade proliferativa desses mesmos ilhéus [15,16].
statistics). Em resultado, os idosos com diabetes poderão
ter doença incidente (diagnosticada aos 65 anos ou > QUAL É EVIDÊNCIA RELATIVA À PREVENÇÃO E
após essa idade) ou diabetes de longa data (iniciada na TRATAMENTO DA DIABETES, E DAS COMORBILI-
meia idade ou mais cedo). As características demográfi- DADES ASSOCIADAS, NO IDOSO?
cas e clínicas desses dois grupos diferem de várias ma-
neiras, aumentando a complexidade de elaborar reco- Rastreio da Diabetes e da “Pré-Diabetes”
mendações generalizadas de tratamento para os idosos
com diabetes. O início da diabetes numa idade mais Os idosos encontram-se em risco elevado de diabetes e
avançada é mais comum nos caucasianos não hispâni­ de “pré-diabetes”; os dados dos rastreios nacionais
cos e, comparativamente à diabetes com início na meia norte-americanos sugerem que metade dos idosos têm
idade, caracteriza-se por uma A1C média mais baixa e “pré-diabetes” [1]. A ADA recomenda que os adultos com
uma probabilidade menor de utilização de insulina. Em- excesso de peso e factores de risco (e todos os adultos
bora uma história de retinopatia seja significativamente com idade ≥ 45 anos) sejam rastreados, num contexto
mais frequente nos idosos com diabetes iniciada na clínico, cada um a 3 anos; nesse rastreio deverá usar-se a
meia idade (comparativamente aos idosos com diabe- glicemia de jejum, a A1C ou um teste de tolerância à
tes iniciada numa idade mais avançada), nos idosos não glucose oral. Essa recomendação é baseada na evidên-
existe uma diferença associada à idade de início da dia- cia indirecta substancial dos benefícios da terapêutica
betes a nível da prevalência de doença cardiovascular precoce da diabetes tipo 2, no facto de que a diabetes
(DCV) ou de neuropatia periférica [8]. tipo 2, de forma típica, já se encontra presente muitos
Os idosos com diabetes têm as taxas mais elevadas de anos antes do diagnóstico clínico e na evidência de que
amputações major das extremidades inferiores [9], en- no grupo das pessoas com “novos diagnósticos” de dia-
farte do miocárdio (EM), diminuição da visão e doença betes os sinais de complicações da doença são já preva-
renal terminal, comparativamente a todos os outros lentes [17].
grupos etários. Relativamente à maioria das complica- Os benefícios da identificação da “pré-diabetes” e da
ções da diabetes, os idosos com idade ≥ 75 anos têm diabetes tipo 2 assintomática nos idosos dependem de
taxas superiores às dos com idade entre 65 e 74 anos. As as intervenções de prevenção primária ou secundária
mortes devidas a crises de hipoglicemia são também serem presumivelmente eficazes e do período de tempo
significativamente mais frequentes nos idosos (embora de antecipação do benefício das mesmas versus espe­
a sua taxa tenha diminuído de forma marcada nas duas rança de vida do paciente. A maioria concordaria que a
últimas décadas). Os idosos com idade ≥ 75 anos têm um indivíduo de 66 anos funcional e, de uma forma
também uma taxa de recorrência ao Serviço de Urgên- geral, saudável, deveria ser oferecido um rastreio da dia-
cia, devido a hipoglicemia, que é dupla da taxa da po­ betes porque as intervenções para prevenir a diabetes
pulação geral de pessoas com diabetes [10]. tipo 2 ou as suas complicações seriam presumivelmente

117

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 117 10/23/13 7:52 PM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139 Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso

benéficas, dada a presunção de décadas de vida rema- idade ≥ 75 anos ou em idosos com mau estado de saúde.
nescentes. A maioria concordaria, também, que detec- Não existem, essencialmente, dados de estudos clínicos
tar “pré-diabetes” ou diabetes “ de novo” num indivíduo sobre controlo da glicemia aplicáveis, de forma directa, a
de 95 anos com demência avançada não se traduziria, amplos segmentos da população diabética idosa.
presumivelmente, em benefício. O “UK Prospective Diabetes Study” (UKPDS), que provi-
denciou evidência de grande valor sobre os benefícios
Prevenção ou Retardamento da Diabetes Tipo 2 do controlo da glicemia a nível das complicações micro-
vasculares, incluiu pacientes de meia-idade com diabe-
Numerosos estudos clínicos mostraram que, nos indi- tes tipo 2 diagnosticada “de novo”, excluindo os pacien-
víduos em risco elevado (e em particular naqueles com tes com idade ≥ 65 anos na altura da inclusão [24,25]. Os
tolerância diminuída à glucose), a eclosão da diabetes be­nefícios, a nível microvascular, persistiram no período
tipo 2 pode ser prevenida ou retardada por interven- de seguimento pós-estudo e registaram-se reduções
ções sobre o estilo de vida e por várias classes de medi- estatisticamente significativas da mortalidade e da in-
camentos. Esses estudos incluíram, principalmente, in- cidência de EM, referidas como “efeito legado” do con-
divíduos de meia-idade. No DPP, o maior estudo desse trolo precoce da glicemia [26].
tipo efectuado até à data, aproximadamente 20% dos Após a publicação dos resultados principais do UKPDS,
participantes tinham uma idade ≥ 60 anos quando da foram desenhados três grandes estudos clínicos alea-
inclusão; esses indivíduos pareceram beneficiar mais torizados - o estudo ACCORD (“Action to Control Car-
com a intervenção sobre o estilo de vida do que os indi- diovascular Risk in Diabetes”), o estudo ADVANCE (“Ac-
víduos mais novos, mas não pareceram beneficiar com a tion in Diabetes and Vascular Disease: Preterax and
metformina [13,18]. O seguimento da coorte do DPP, du­ Dia­micron MR Controlled Evaluation”) e o estudo VADT
rante um período de 10 anos após a aleatorização, (“Veterans Affairs Diabetes Trial”) – para examinar, espe-
mostrou maior impacto em curso da intervenção sobre cificamente, o papel do controlo da glicemia na preven-
o estilo de vida nos participantes mais velhos (49% de ção de eventos de DCV em indivíduos de meia-idade,
redução do risco de diabetes nos indivíduos com idade ou mais velhos, com diabetes tipo 2. Esses estudos in-
≥ 60 anos, na aleatorização, vs. 34% para a coorte total) cluíram pacientes com um risco CV significativamente
[19]
e benefícios adicionais da intervenção sobre o estilo superior aos do UKPDS; ambos incluíram uma propor-
de vida, que poderão ter impacto nos idosos, tais como ção substancial de participantes que já tinham tido, an-
redução da incontinência urinária [20], melhoria de vários teriormente, um evento CV prévio, com uma média de
domínios da qualidade de vida e melhoria dos factores idades (quando da inclusão) na sexta década de vida e
de risco cardiovascular [22]. Embora esses re­sultados su- com diabetes estabelecida (8 a 11 anos de duração).
giram que, nos adultos mais velhos relativamente sau­ Cada um desses estudos tinha como objectivo, para o
dáveis, a prevenção da diabetes através da intervenção braço de controlo intensivo da glicemia, reduzir a glice-
sobre o estilo de vida deve ser prosseguida, o DPP não mia para valores quase normais (A1C < 6.0% ou < 6.5%).
incluiu números significativos de indivíduos com idade A secção de controlo da glicemia do estudo ACCORD foi
> 70 anos ou com défices funcionais ou cognitivos. Têm terminada, aproximadamente, ao fim de 3 anos de­vido
sido desenvolvidas e avaliadas estratégias preventivas a um excesso de mortalidade no braço de controlo in-
que podem ser implementadas de forma eficaz no con- tensivo da glicemia [27]. O “endpoint” primário combi-
texto clínico e da comunidade [23] mas, até agora, nesses nado (EM + AVC + mortalidade CV) não foi significativa-
estudos translacionais, não tem havido grande enfoque mente reduzido. Análises pré-especificadas de sub­grupos
nos idosos. sugeriram que o risco de mortalidade CV desproporcio-
nado, no braço de controlo intensivo da glicemia, dizia
Intervenções para Tratar a Diabetes respeito aos participantes com < 65 anos e não aos com
≥ 65 anos. Todavia, a hipoglicemia e outros efeitos ad-
A nossa actual compreensão dos efeitos da redução da versos do tratamento foram mais comuns nos partici-
glicemia, a nível das complicações micro e macrovascula- pantes mais idosos [28].
res e da mortalidade, baseia-se num número limitado de O estudo ADVANCE não mostrou um excesso de mortes
estudos clínicos aleatorizados. Embora esses estudos nos atribuíveis ao controlo intensivo da glicemia, durante
tenham providenciado dados e discernimentos de grande um período de seguimento médio de 5 anos. Embora
valor, não foram desenhados para avaliar os efeitos sobre não se registassem benefícios CV significativos, regis-
a saúde do controlo da glicemia em pacientes com tou-se uma redução significativa da incidência de ne-

118

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 118 10/23/13 7:52 PM


Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139

fropatia. Nas análises de subgrupos pré-especificadas, a tipo curva em U entre A1C e mortalidade, correspon-
relativa à idade (< 65 anos ou ≥ 65 anos) não mostrou dendo o menor rácio de risco de morte a uma A1C de
diferença relativamente ao “endpoint” primário [29]. cerca de 7,5%. Valores médios de A1C baixos e altos as-
Durante os 5 anos de seguimento, o estudo VADT não sociavam-se a um aumento da mortalidade total e dos
detectou um efeito estatisticamente significativo do eventos CV [34]. Um estudo retrospectivo de coorte, que
con­trolo intensivo da glicemia sobre os eventos CV ma- incluiu 71.092 indivíduos com diabetes tipo 2 e idade
jor ou a mortalidade CV; mostrou, sim, uma redução sig- ≥ 60 anos, avaliou a relação entre a A1C na linha de base
nificativa do início e progressão da albuminúria [30]. O e os resultados subsequentes (eventos agudos não fa-
estudo não incluía uma análise de subgrupos específica tais, metabólicos, microvasculares e cardiovascu­la­res, e
para a idade; análises “post hoc” sugerem que a mor- mortalidade). Tal como no estudo anterior, a mor­ta­li­
talidade no braço do controlo intensivo da glicemia, vs. dade tinha uma relação tipo curva em U com a A1C.
braço de controlo padrão da glicemia, se relacionou Com­parativamente ao risco associado a uma A1C < 6,0%,
com a duração da diabetes à data da inclusão. No braço o risco de morte era mais baixo para uma A1C entre
do controlo intensivo da glicemia, os indivíduos com 6,0% e 9,0% e mais alto para uma A1C ≥ 11,0%. O risco
diabetes há menos de 15 anos tiveram um benefício a de ocorrência de qualquer “endpoint” (complicação ou
nível de mortalidade, enquanto os com diabetes há 20 morte) tornava-se significativamente elevado a partir
ou mais anos tiveram uma mortalidade mais elevada de uma A1C ≥ 8,0%. Este padrão era, de um modo geral,
(vs. braço de controlo padrão da glicemia) [31]. consistente, nos vários grupos etários (60-69, 70-79 e
Esses três estudos clínicos vieram acrescentar incerteza ≥ 80 anos) [35].
quanto aos benefícios e riscos de um tratamento mais A diabetes associa-se a um aumento do risco de múlti­
intensivo da hiperglicemia nos idosos. Uma declaração plas patologias médicas co-existentes nos idosos, da
de posição da ADA supõe que a combinação dos resul- DCV ao cancro, com impacto potencial nas decisões te­
tados do estudo de seguimento do UKPDS e das análi­ rapêuticas, nomeadamente na ponderação de um con-
ses de subgrupos dos 3 estudos clínicos posteriores “… trolo rigoroso da glicemia ter ou não algum benefício
sugere a hipótese de que os pacientes com diabetes clínico líquido [36,37]. Um estudo observacional longitudi-
tipo 2 há menos tempo e sem aterosclerose estabeleci- nal, com 5 anos de duração, de pacientes italianos com
da poderão colher benefícios cardiovasculares do con- diabetes tipo 2 categorizou-os em subgrupos de co-
trole intensivo da glicemia, (enquanto) … riscos poten­ morbilidade alta (idade média 64,3 anos; desvio padrão
ciais do controle intensivo da glicemia poderão su­plantar - DP 9.5) ou comorbilidade baixa a moderada (idade
os seus benefícios noutros pacientes, como aqueles com média 61.7 anos; DP 10.5), utilizando uma quantificação
diabetes de muito longa duração, história conhecida de validada da comorbilidade relatada pelo paciente. Ter
hipoglicemia grave, aterosclerose avançada e idade uma A1C ≤ 6,5 ou < 7%, na linha de base, associou-se a
avan­çada/fragilidade” [32]. uma incidência, a 5 anos, mais baixa de eventos CV no
Recentemente, um estudo clínico japonês reportou re- subgrupo da comorbilidade baixa a moderada, mas não
sultados de uma intervenção multifactorial, vs. trata- no da comorbilidade alta, sugerindo que os pacientes
mento padrão, em cerca de 1.000 pacientes com idade com níveis elevados de comorbilidade não colherão
≥ 65 anos (idade média de 72 anos). Após 6 anos de benefícios do controlo intensivo da glicemia.
tratamento, não se registaram diferenças a nível da
mortalidade ou dos eventos CV, mas o efeito da inter- Terapêutica Hipolipemiante
venção sobre a glicemia foi mínimo e o número de
eventos foi muito baixo [33]. Não existem grandes estudos clínicos de intervenções
Dado que os estudos clínicos aleatorizados não incluí­ hipolipemiantes especificamente dirigidas aos idosos
ram muitos pacientes mais velhos, típicos no contexto com diabetes. Foram extrapolados benefícios a partir de
da Medicina Geral e Familiar, é instrutivo observar a re­ estudos clínicos de idosos que incluíram, não exclusiva-
lação entre controlo da glicemia e complicações em mente, idosos com diabetes, e a partir de estudos de
populações gerais de pacientes diabéticos mais velhos. pessoas com diabetes, não incluindo exclusivamente
Um estudo da “UK General Practice Database” mostrou idosos. Um estudo efectuado em idosos (com 70 a 82
que, relativamente aos diabéticos tipo 2 com idade ≥ 50 anos de idade) mostrou uma redução de 15% dos even-
anos (idade média de 64 anos) cujo tratamento foi in- tos coronários com a pravastatina [39,40]. Uma meta-
tensificado após monoterapia oral, com a adição de análise de 18.686 pessoas com diabetes, incluídas em 14
outros agentes orais ou insulina, existe uma associação estudos de prevenção primária com estatinas, mostrou

119

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 119 10/23/13 7:52 PM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139 Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso

uma redução semelhante de 20% dos eventos vascula- benefício a nível do AVC poderá ter sido limitado à co-
res adversos major nos indivíduos com idade < 65 anos orte mais idosa (M. Miller, comunicação pessoal).
(comparativamente aos indivíduos com idade ≥ 65 anos [43]. Análises observacionais de outras coortes de estudos
Os estudos de prevenção secundária da DCV com as es- clínicos sugerem que não há benefício quando se reduz
tatinas demonstraram também reduções relativas com- a PAS para valores-alvo < 140 mm Hg e que uma PAD
paráveis dos eventos CV recorrentes e da mortalidade, baixa poderá ser um factor de risco de mortalidade nos
por grupo etário [42]. idosos. Uma análise “post hoc” do estudo INVEST (“In-
Dado que os pacientes idosos têm um risco CV mais ele­ ternational Verapamil SR-Trandolapril Study”), em que a
vado, a redução absoluta de risco com as estatinas de- média de idades era de aproximadamente 65 anos,
veria ser maior nestes. Na prevenção CV com as estati- mostrou que atingir uma PAS < 130 mm Hg não se as-
nas, os benefícios, em especial os da prevenção se­cun­dária, sociou a uma melhoria dos resultados CV (comparativa-
emergem rapidamente (em 1 a 2 anos), sugerindo que mente a atingir uma PAS < 140 mm Hg) [47]. Esse resul-
estas poderão estar indicadas em quase todos os idosos tado validou o controlo da PAS para < 140 mm Hg, dado
com diabetes (com excepção daqueles com uma espe­ que havia maior probabilidade de morte e eventos CV
rança de vida muito limitada). nos pacientes com uma PAS > 140 mm Hg. Uma análise
Em qualquer grupo etário, a evidência de redução dos “post hoc” do estudo VADT (no qual o valor-alvo da PA
“endpoints” CV major com outros fármacos, que não as era < 130/80 mm Hg, mostrou, de forma semelhante,
estatinas, é limitada. A secção do estudo ACCORD refe­ que os pacientes cuja PAS era ≥ 140 mm Hg tinham uma
rente aos lípidos não mostrou benefício, quando se adi- mortalidade aumentada, enquanto que os com uma
cionou fenofibrato à terapêutica com estatinas [43], e PAS < 105 mm Hg, entre 105 e 129 mm Hg ou entre 130
análises “post hoc” sugeriram que estes resultados ne­ e 139 mm Hg, tinham taxas de mortalidade mais baixas
gativos se aplicavam quer aos pacientes com idade < 65 e semelhantes. Relativamente à PAD, valores atingidos
anos, quer aos com idade ≥ 65 anos (M. Miller, comuni- de < 70 mm Hg associaram-se a uma mortalidade mais
cação pessoal). Análises de subgrupos do estudo FIELD elevada, enquanto que valores atingidos ente 70 e 79
(“Fenofibrate Intervention and Event Lowering in Dia- mm Hg ou > 80 mm Hg se associaram a taxas de mor-
betes”), que sugeriram algum benefício do fenofibrato talidade igualmente mais baixas e semelhantes [48].
em pessoas com diabetes tipo 2, sugeriram ausência de
benefício naquelas com idade ≥ 65 anos [44]. Aspirina

Controlo da Pressão Arterial Em populações sem diabetes, o maior benefício abso-


luto da terapêutica com aspirina (75 a 162 mg/dia) é nos
Múltiplos estudos investigaram o papel do tratamento indivíduos com um risco a 10 anos de doença coronária
da hipertensão arterial (HTA) na redução do risco de (DC) de 10% ou superior [49]. O risco CV aumentado colo-
eventos CV [17]. Foi inferido benefício para os idosos com cado pela diabetes e pelo envelhecimento e os conhecidos
diabetes a partir dos estudos clínicos de hipertensos benefícios da aspirina na prevenção secundária su­gerem
idosos, não diabéticos e diabéticos, e dos estudos clíni- que, na ausência de contra-indicações, essa te­rapêutica
cos com indivíduos de meia-idade e idosos com diabe- deverá ser virtualmente oferecida a todos os idosos com
tes [42]. Existe evidência consistente de que, nos idosos diabetes e DCV clinicamente manifesta. Todavia, os bene-
com diabetes, reduzir a pressão arterial sistólica (PAS) de fícios da aspirina na prevenção primária dos eventos de
valores muito elevados (p. ex. PAS 170 mm Hg) para va- DCV não foram rigorosamente elucidados nos idosos com
lores-alvo moderados (p. ex. PAS 150 mm Hg) reduz o diabetes e devem ser sopesados contra o risco de eventos
risco CV. Estudos selecionados mostraram benefício adversos, tais como a hemorragia. Um estudo clínico alea-
com valores-alvo progressivamente mais baixos, PAS torizado de indivíduos ja­poneses com diabetes, mas sem
< 140 mm Hg e PA diastólica (PAD) <80 mm Hg [45]. A história de DCV, de­monstrou um benefício não significati-
secção do estudo ACCORD referente à PA não mostrou vo da aspirina a nível do “endpoint” primário composto,
benefício a nível do “endpoint” primário (eventos CV mas uma análise de subgrupos dos indivíduos com idade
adversos major) de valores-alvo de PAS < 120 mm Hg, ≥ 65 anos de­monstrou um risco significativamente mais
comparativamente a < 140 mm Hg, mas mostrou uma baixo de ocor­rência do “endpoint” primário nos pacientes
redução significativa do “endpoint” secundário - aciden­ tratados com aspirina [50].
te vascular cerebral (AVC) [46]. Análises de subgrupos dos Nos idosos e nos indivíduos de meia-idade, a incidência
pacientes < 65 anos, vs. ≥ 65 anos, sugeriram que o de hemorragia gastrintestinal associada ao uso de aspi-

120

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 120 10/23/13 7:52 PM


Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139

rina não foi directamente comparada mas, em estudos considerações, a incluir no processo de decisão clínica,
separados as taxas foram mais elevadas nos idosos (1 a deverão também incluir os resultados de testes anterio­
10/1000/ano) [51] do que nos indivíduos de meia-idade res. Por exemplo, existe evidência, incluindo na popula-
(3/10.000/ano) [49]. Mais recentemente, foi sugerido, por ção idosa, de que se o exame inicial do fundo do olho
uma análise observacional, um maior risco de hemor- for normal poderá ser repetido com segurança de 2 em
ragia gastrintestinal ou intracerebral nos idosos a tomar 2 ou 3 em 3 anos em vez de anualmente [55].
aspirina mas, a diabetes “per se” não se associou a um
aumento da taxa de hemorragia com a aspirina [52]. À luz > QUE RECOMENDAÇÕES EXISTEM
do provável maior risco de hemorragia associado à ida­ ACTUALMENTE PARA O TRATAMENTO
de, o benefício da terapêutica com aspirina nos idosos DA DIABETES NOS IDOSOS?
com diabetes será provavelmente mais forte naqueles
com maior risco CV e menor risco de hemorragia. Infor- Várias organizações desenvolveram recomendações es-
tunadamente, os factores de risco CV e de risco de he­ pecíficas para os idosos ou que incluem estes. A ADA
morragia tendem a ser sobreponíveis. Quando se inicia inclui uma secção específica relativa aos idosos nos seus
terapêutica com aspirina, pode ser justificado utilizar “Standards of Medical Care in Diabetes”, que são publi-
inibidores da bomba de protões para protecção contra a cados anualmente [17]. Essa secção discute a heteroge-
hemorragia gastrintestinal [53]. É necessária mais evidência neidade das pessoas com idade ≥ 65 anos e a falta de
para confirmar um papel claro da aspirina na prevenção evidência de alto nível nesse escalão etário. As reco-
primária dos eventos CV nos idosos com diabetes. mendações globais da ADA, todas baseadas na opinião
de peritos, incluem o seguinte:
Rastreio das Complicações da Diabetes Crónica • Os idosos funcionais, sem défice cognitivo, e com espe-
rança de vida significativa, deverão ser tratados de acor-
O rastreio das complicações da diabetes crónica e as in- do com os objectivos definidos para os adultos jovens;
tervenções recomendadas pela ADA, têm uma forte • Nos idosos que não preencham os critérios acima, os
base de evidência e são válidas em termos de custo- objectivos glicémicos poderão ser menos rigorosos e
eficácia [54]. Porém, como sucede relativamente a muitas individualizados mas, em todos estes pacientes, deve­
intervenções na área da diabetes, a evidência subjacen- rão ser evitadas hiperglicemias sintomáticas ou levan-
te foi obtida, de um modo geral, em estudos efectuados do a risco de complicações agudas;
em adultos jovens. Quando se consideram as complica- • Nos idosos, o rastreio de complicações da diabetes de-
ções crónicas é necessário colocar novamente as ques­ verá ser individualizado mas deverá também ter-se
tões da diabetes incidente, versus diabetes prevalente, e particular atenção às complicações que possam levar a
da heterogeneidade da doença. Alguns adultos mais um prejuízo funcional.
idosos têm diabetes de longa data com complicações Os objectivos de controlo glicémico da ADA não men­
micro e macrovasculares associadas. Ou­tros têm, na cionam especificamente a idade. Para muitos adultos a
apresentação inicial, diabetes recentemente diagnosti- recomendação é de A1C < 7%, mas são recomendados
cada com evidência de complicações (em testes de ras- critérios menos rigorosos para os pacientes com espe­
treio), enquanto que outros ainda têm diabetes recente- rança de vida limitada, complicações avançadas da dia-
mente diagnosticada, sem evidência de com­plicações. betes ou comorbilidades extensas [17].
No caso dos adultos idosos, relativamente saudáveis e Em colaboração com a ADA e outras organizações mé­
com esperança de vida longa, é razoável seguir as reco- dicas, o painel da “California HealthCare Foundation/
mendações relativas ao rastreio. Nos pacientes muito Ame­rican Geriatrics Society” publicou, em 2003, reco-
idosos e/ou com comorbilidades múltiplas e esperança mendações para melhorar os cuidados dos idosos com
de vida curta, é prudente ponderar a extensão temporal diabetes. Uma proporção significativa dessas recomen­
do benefício esperado, com a identificação de sinais dações diz respeito às síndromes geriátricas. As reco-
precoces de complicações, e a intervenção para preve- mendações específicas para a diabetes incluem um ní­
nir o agravamento para doença terminal. Relativamente vel-alvo de A1C ≤ 7.0% nos “adultos relativamente
a este último grupo, deverá ser dada particular atenção sau­­dáveis”, enquanto que nos pacientes frágeis ou com
ao rastreio de factores de risco de complicações que uma esperança de vida inferior a 5 anos, consideram
possam prejudicar ainda mais o estado funcional ou a apro­priado um nível-alvo de A1C menos rigoroso, p. ex.
qualidade de vida a relativamente curto prazo, tais 8%. Essas recomendações sugerem também que a jane-
como úlceras do pé/amputações e défices visuais. As la temporal de benefício foi estimada em pelo menos 8

121

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 121 10/23/13 7:52 PM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139 Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso

anos, no caso do controlo glicémico, e em 2 a 3 anos, no Uma extensa revisão das recomendações da EASD en-
caso do controlo da pressão arterial e dos lípidos [2]. contra-se fora do alcance deste relatório, mas estas
As recomendações para a diabetes do “US Department of abran­gem temas semelhantes, que sugerem que se uti-
Veterans Affairs” e do “US Department of Defense” (VA/ lize uma abordagem individualizada, com enfoque na
DOD) foram actualizadas em 2010. Tal como no caso das heterogeneidade clínica e funcional e nas comorbili-
outras recomendações, as do VA/DOD não distinguem dades, e se pondere a janela temporal de benefício da
grupos etários. Sublinham a frequência de comorbili- intervenção esperada versus esperança de vida.
dades nas pessoas com diabetes e estratificam os objecti-
vos glicémicos com base nas comorbilidades e na espe­ > QUE QUESTÕES DEVEM SER CONSIDERADAS NAS
rança de vida. Por exemplo, relativamente aos objectivos RECOMENDAÇÕES DE TRATAMENTO INDIVIDUA­
glicémicos, essa recomendações incluem três categorias: LIZADO DOS IDOSOS COM DIABETES?
• Nos pacientes sem complicações microvasculares ou
com complicações microvasculares ligeiras, livres de co­ Comorbilidades e Síndromes Geriátricos
morbilidades major e com uma esperança de vida de
pelo menos 10 a 15 anos, o nível-alvo de A1C deverá ser Nos idosos, a diabetes está associada a um risco aumen-
< 7% (se puder ser atingido sem risco); tado de múltiplas patologias médicas coexistentes. Para
• Nos pacientes com diabetes de longa duração (> 10 além das doenças macro e micro vascular clássicas, um
anos) ou com comorbilidades, que requeiram um re- grupo de patologias, denominadas de “síndromes geriá­
gime terapêutico de associação, incluindo insulina, o tricos” e descritas abaixo, ocorre também com elevada
nível-alvo de A1C deverá ser < 8%; frequência nos adultos idosos com diabetes e poderá
• É improvável que os pacientes com complicações mi- afectar a sua capacidade de autocuidados e os seus re-
crovasculares avançadas e/ou comorbilidades major sultados de saúde, incluindo a qualidade de vida [58].
e/ou esperança de vida inferior a 5 anos beneficiem
com um controlo agressivo da glicemia, pelo que, nes­ Disfunção Cognitiva
tes pacientes, o nível-alvo de A1C deverá ser de 8 a 9%.
Poderão ser estabelecidos níveis-alvo mais baixos (< 8%), A demência de Alzheimer e a demência multienfartes
numa base individual [56]. têm uma probabilidade duas vezes superior de ocorre­
Recentemente, o “European Diabetes Association Work- rem nas pessoas com diabetes, comparativamente aos
ing Party for Older People” publicou recomendações indivíduos não diabéticos do mesmo grupo etário (con-
para o tratamento das pessoas com diabetes com idade trolos) [59]. A apresentação da disfunção cognitiva pode
≥ 70 anos. Essas recomendações são extensas e preconi­ variar desde subtis alterações de disfunção executiva
zam que “a decisão de oferecer tratamento deverá ba­ até demência patente e perda de memória. No estudo
sear-se no provável rácio de benefício-risco individual ACCORD, em que os pacientes incluídos tinham de ser
da intervenção, mas terão também de ser considerados considerados capazes de aderir a um protocolo com-
factores como a vulnerabilidade à hipoglicemia, a capa- plexo, 20% dos pacientes do sub-estudo da cognição
cidade de autocontrolo da glicemia, a presença ou au­ ti­nham disfunção cognitiva não diagnosticada na linha
sência de outras patologias, o estado cognitivo e a espe- de base (J. Williamson, comunicação pessoal) [60]. Nesse
rança de vida” [57]. Preconizam também que se efectuem estudo, nem o controlo intensivo da glicemia, nem o
avaliações anuais do estado funcional (global/físico, controlo da PAS para < 120 mm Hg mostrou impedir o
cog­nitivo, afectivo) utilizando instrumentos validados, declínio da função cerebral [61]. Estudos transversais
que se evite o uso de glibenclamida devido ao elevado mostraram uma associação entre hiperglicemia e dis-
risco de provocar hiperglicemia no idoso e que se cal- função cognitiva [62]. A hipoglicemia está ligada à disfun-
cule o risco CV em todos os pacientes com idade < 85 ção cognitiva de forma bidirecional: a disfunção cogni-
anos. Os objectivos glicémicos (A1C) baseiam-se na ida­ tiva aumenta o risco subsequente de hipoglicemia [60] e
de e nas comorbilidades. Sugere-se uma A1C de 7 a uma história de hipoglicemia grave está ligada à in-
7.5% nos pacientes idosos com diabetes tipo 2 e sem cidência de demência [63].
comorbilidades major e de 7.6 a 8.5% nos pacientes Nos idosos, as elevadas taxas de défices cognitivos não
frágeis (pacientes dependentes, doença multisistémica, identificados sugerem que é importante rastrear perio­
pacientes residentes em lares, incluindo os com demên- dicamente a disfunção cognitiva. Ferramentas simples
cia) nos quais o risco de hipoglicemia poderá ser alto e a de avaliação podem ser acedidas em www.hospitalme­
probabilidade de benefício relativamente baixa. dicine.org/geriresource/toolbox/howto.htm. A disfun-

122

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 122 10/23/13 7:52 PM


Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139

ção cognitiva torna difícil aos pacientes desempenha- tosas. Um desafio no tratamento da diabetes tipo 2 é o
rem tarefas complexas de autocuidados, tais como facto de a polifarmácia poder ser intencional e necessária
mo­nito­rizar as glicemias, alterar as doses de insulina ou para controlar as comorbilidades relacionadas e reduzir o
manter de forma apropriada o horário e conteúdo da risco de complicações da diabetes [73,74]. Num estudo, a po-
dieta. Nos idosos com disfunção cognitiva, os regimes lifarmácia (definida como a utilização de 6 ou mais medi-
devem ser simplificados, os prestadores de cuidados de- camentos de prescrição médica obri­ga­tória) associou-se a
vem ser envolvidos no tratamento e a ocorrência de hi- um risco aumentado de quedas nos idosos [75]. Os custos de
poglicemias deve ser cuidadosamente avaliada. múltiplas medicações podem ser substanciais. Em cada
consulta deve ser feita a reconci­liação de medicação, a
Défice Funcional avaliação contínua das indicações de cada medicação e a
avaliação da aderência e das barreiras à medicação.
O envelhecimento e a diabetes são ambos factores de
risco de défice funcional. Após controlo relativo à idade, Depressão
as pessoas com diabetes são fisicamente menos activas
e têm maior défice funcional do que as pessoas sem dia- A diabetes está associada a uma elevada prevalência de
betes [64,65]. Na diabetes, a etiologia do défice funcional depressão [76]. Se não for tratada, a depressão pode cau-
poderá incluir a interacção entre patologias médicas co- sar dificuldades a nível dos autocuidados e da imple-
existentes, a neuropatia periférica, as dificuldades de mentação de estilos de vida saudáveis [77] e, em pessoas
audição e visão e problemas da marcha e do equilíbrio. com diabetes, associa-se a um risco mais elevado de
A neuropatia periférica, que está presente em 50 a 70% mortalidade e demência [78,79]. Nos idosos, caso não seja
dos idosos com diabetes, aumenta o risco de instabili- rastreada, a depressão poderá permanecer não diag-
dade postural, problemas de equilíbrio e atrofia muscu- nosticada. Para rastrear periodicamente a depressão,
lar [66-68] limitando a actividade física e aumentando o nos idosos com diabetes, podem ser usadas ferramentas
risco de quedas. Outras patologias médicas que acom- clínicas, como a “Geriatric Depression Scale”.
panham com frequência a diabetes, tais como doença
cardíaca isquémica, obesidade, doença articular dege­ Défices da Visão e da Audição
nerativa, acidente vascular cerebral, depressão e défice
visual têm também um impacto negativo sobre a activi- Na educação do idoso, e no apoio aos seus autocuida-
dade física e a funcionalidade [69]. dos, devem ser tidos em conta os défices sensoriais.
Cerca de um em cada cinco idosos norte-americanos
Quedas e Fracturas com diabetes relatam défices da visão [81]. Nas pessoas
com diabetes, os défices da audição (envolvendo quer
O envelhecimento normal, a diabetes e as patologias altas, quer médias a baixas frequências sonoras) têm
acima descritas que causam défice funcional, associam- uma prevalência quase dupla, comparativamente às pes­
se a um risco mais elevado de quedas e fracturas [70,71]. soas sem diabetes, mesmo quando se faz o ajustamento
Após ajustamento relativo à idade, índice de massa cor- relativo à idade [82], e poderão estar ligados a doen­ça vas-
poral (IMC) e densidade mineral óssea, as mulheres com cular e neuropatia [83].
diabetes têm um risco mais elevado de fracturas da anca
e do úmero proximal, do que as mulheres não diabéticas [71]. Outras Patologias Médicas
Nos idosos, é importante avaliar periodicamente o risco de Ocorrência Frequente
de quedas e fazer uma avaliação da funcionalidade [72].
Evitar as hiperglicemias graves e as hipoglicemias pode Nos idosos, a dor persistente devida a neuropatia ou
diminuir o risco de quedas. Nos pacientes em risco ele­ outras causas, ou o seu tratamento inadequado, estão
vado de quedas ou que sofreram recentemente uma associadas a resultados adversos, incluindo défice
queda deverá ser encorajada fisioterapia. fun­cional, quedas, reabilitação lenta, depressão e an­
sieda­de, socialização diminuída, perturbações do so­
Polifarmácia no e do apetite e maior utilização dos cuidados de
saúde e dos custos destes [2]. Em cada consulta do pa-
As pessoas idosas com diabetes encontram-se em risco ciente idoso a dor deve ser avaliada e devem ser im-
ele­vado de polifarmácia o que, por sua vez, aumenta o plementadas estratégias para a minorar. Nos idosos
risco de efeitos secundários e de interacções medicamen- com diabetes, em especial no sexo feminino, a incon-

123

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 123 10/23/13 7:52 PM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139 Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso

tinência urinária é comum. Adicionalmente às avalia- tricional conhecida, nos idosos com excesso de peso ou
ções e tratamentos padrão pa­ra incontinência, os clí­ obe­sidade a perda de peso intencional pode potencial-
nicos deverão recordar que a hi­ perglicemia não mente agravar a sarcopenia, a densidade mineral óssea e
con­trolada pode aumentar a quantidade da urina e a os défices nutricionais [87,88]. As estratégias para promover
frequência da micção. a perda de peso que combinam actividade física e TMN
poderão proporcionar, nos idosos, um desempenho físi-
Questões Nutricionais Únicas co e função física melhorados e uma redução do risco
cardio-metabólico [86,87].
A nutrição é uma parte integral dos cuidados da diabetes
em todas as idades mas, nos idosos com diabetes, exis­ Necessidades Específicas de Educação
tem considerações adicionais. Embora as necessidades para o Auto-controlo da Diabetes
energéticas diminuam com a idade, as necessidades de
ma­cronutrientes são semelhantes durante toda a vida Como relativamente a todas as pessoas com diabetes,
adulta. Assegurar as necessidades de micronutrientes nos idosos com diabetes a educação para o auto-con-
com um aporte calórico baixo constitui um desafio. Em trolo da diabetes (EACD) deverá ser individualizada de
consequência, os idosos com diabetes estão em risco acordo com a situação médica, cultural e social única do
e­le­vado de deficiências. Os idosos poderão estar em paciente. Para além disso, nos idosos a EACD poderá ter
risco de subnutrição devido a anorexia, altera­ções do de levar em consideração possíveis alterações sensoriais
gosto e do cheiro, dificuldade em engolir, problemas (visão, audição), cognitivas e funcionais (estado físico).
orais/dentários e alterações funcionais con­di­cionadoras Os parceiros a nível dos cuidados – família, amigos ou
de dificuldades na preparação e consumo dos alimen- outros prestadores de cuidados – deverão ser envolvi-
tos. Nos idosos com diabetes, padrões de alimentação dos na EACD para aumentar a probabilidade de com-
excessivamente restritivos, quer auto-impostos quer portamentos de auto-controlo bem sucedidos [89]. Na
impostos pelo seu cuidador, poderão contribuir para comunicação com pacientes com défices cognitivos, os
um risco adicional. O “Mini-Nutritional Assessment” foi educadores deverão dirigir-se ao paciente pelo nome
especificamente concebido para os idosos, é simples de deste (mesmo quando a maioria dos cuidados sejam
utilizar e poderá ajudar a determinar se é necessário en- efectuados por um prestador de cuidados), falar utili-
caminhamento para um die­tista para terapêutica médi- zando termos simples, usar sinais (sugestões) que aju-
ca nutricional (TMN) (http://www.mna-elderly.com/). dem a memória (analogias verbais, demonstrações e
A TMN provou ser benéfica nos idosos com diabetes [84]. modelos) e utilizar estratégias, tais como as visitas se-
As recomendações deverão ter em conta a cultura, as quenciais, para construir a informação. Outras tácticas in-
preferências, os objectivos pessoais e as capacidades do cluem resumir com frequência os pontos importantes,
paciente. Quando as necessidades nutricionais não es- focalizar uma perícia de cada vez, ensinar as tarefas a par-
tão a ser atendidas com a dieta habitual, as intervenções tir do simples para o complexo e providenciar folhetos
adicionais poderão incluir refeições mais fre­quen­tes e fáceis de ler. Mesmo na ausência de défices cognitivos, os
mais pequenas, fortificar os alimentos habi­tuais, mudar educadores deverão considerar que muitos pa­cientes po­
a textura dos alimentos ou adicionar suplementos ali- derão ter um baixo grau de literacia ao nível da saúde e
mentares líquidos (quer normais quer específicos para as das capacidades aritméticas ou poderão estar sobrecar-
pessoas com diabetes) entre as refeições. No caso dos regados pela presença de múltiplas morbilidades.
idosos nutricionalmente vulne­ráveis, identificar recur-
sos comunitários, como os centros para idosos, poderá Actividade e Aptidão Físicas
ajudar a manter um estado de vida independente.
O excesso de peso e a obesidade são predominantes nos A massa muscular e a força muscular declinam com a
idosos. Em alguns idosos, o IMC poderá não ser um predi- idade e, nos idosos, esses declínios podem ser exacerba-
tor fiável do grau de adiposidade devido às alte­rações da dos pelas complicações e comorbilidades da diabetes e
composição corporal decorrentes do enve­lhecimento [85]. pelos períodos de hospitalização. As pessoas com dia-
Poderá ocorrer sarcopenia, quer nos idosos com excesso betes de longa duração e aquelas com A1C mais elevada
de peso, quer nos idosos com peso a menos. A obesidade têm menor força muscular por unidade de massa mus-
exacerba o declínio da funcionalidade física devido à ida­ cular do que as pessoas da mesma idade sem diabetes e
de e aumenta o risco de fragilidade [86]. Embora a perda com o mesmo IMC e do que as pessoas com diabetes de
de peso não intencional constitua uma preocupação nu- menor duração o com melhor controlo glicémico [90].

126

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 126 10/23/13 7:52 PM


Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139

Embora a idade e a diabetes se conjuguem para reduzir com início mais tardio caracteriza-se por defeitos pro-
a aptidão física e a força, nos idosos, com e sem diabe- eminentes da função das células beta pancreáticas, su­
tes, as intervenções a nível da actividade física melho­ gerindo dar atenção terapêutica a estas células e su-
ram o estado funcional [91]. No estudo Look AHED (“Ac- ficiência da li­bertação de insulina, bem como o foco
tion For Health in Diabetes”), os participantes com tra­dicional na sobreprodução hepática de glucose e na
idades compreendidas entre os 65 e os 76 anos tiveram resistência à insulina. Compreender as vantagens e des-
ganhos mais baixos a nível da aptidão física do que os vantagens de cada classe de fármacos hipoglicemiantes
adultos não idosos mas, mesmo assim, melhoraram os ajuda os clínicos a individualizar a terapêutica nas pes-
seus parâmetros de aptidão física em 15% (em média) [92]. soas com diabetes tipo 2 [96]. Relativamente a cada uma
Nos idosos, mesmo a actividade física de baixa intensi- dessas classes são descritas questões particularmente
dade está associada a uma saúde física auto-estimada relevantes para os idosos.
mais elevada e um bem estar psicossocial [93]. A metformina é, com frequência, considerada a tera­
Os idosos com diabetes que em tudo o resto sejam pêutica de primeira linha da diabetes tipo 2. O seu baixo
saudáveis e funcionais deverão ser encorajados a fazer risco de hipoglicemia poderá ser benéfico nos idosos,
exercício tendo como objectivo os alvos recomendados mas a intolerância gastro-intestinal e a perda de peso a
para todos os adultos com diabetes [17]. Mesmo os paci- ela associados poderão ser prejudiciais nos pacientes
entes com pior estado de saúde beneficiam com mo­ frá­geis. Apesar das preocupações iniciais, a evidência
desto aumento da actividade física. As tácticas para fa- relativa a um aumento do risco de acidose láctica com a
cilitar a actividade física nos idosos incluem o en­ca­mi­ met­formina é mínima. Se a taxa de filtração glomerular
nhamento para grupos de exercício supervisionados e estimada (TFGe) for de 30-60 ml/min a dose da met-
recursos comunitários tais como os centros para seniores. formina deverá ser reduzida; se for <30 mL/min a met-
formina não deverá ser prescrita [94,97]. O baixo custo da
Aspectos da Farmacoterapia metformina poderá constituir um benefício nos pacien-
Específicos para a Idade tes polimedicados ou que estejam sob a alçada do “bu-
raco de dónute” da “Medicare Part D”.
Os pacientes idosos encontram-se em risco aumentado As sulfonilureias são também uma classe de fármacos de
de efeitos secundários, da maioria dos medicamentos baixo custo mas associam-se a um risco de hipoglicemia
que lhes são prescritos, devido a alterações, relaciona- que pode ser problemático para os idosos. A glibenclami-
das com a idade, da farmacocinética (em particular, da é a sulfonilureia com maio risco de causar hipoglicemia
eliminação renal reduzida) e da farmacodinâmica (sen- e não deverá ser prescrita aos idosos [98]. As gli­nidas são
sibilidade aumentada a certas medicações). Essas alte­ administradas antes das refeições e a sua curta semi-vida
rações podem traduzir-se num risco aumentado de hi- poderá ser útil na hiperglicemia pós-prandial. Conferem
poglicemia e na necessidade potencial de reduzir as um menor risco de hipoglicemia do que as sulfonilureias,
doses de certas medicações e de dar particular atenção especialmente em pacientes que se alimen­tam de forma
à função renal, para minimizar os efeitos secundários [94,95]. irregular, nas a sua frequência de administração e seu ele­
O risco de proble­mas relacionados com a medicação é vado custo poderão constituir barreiras à sua utilização.
agravado pela utilização de regimes complexos, pelo Os inibidores da alfa-glucosidase têm como alvo especí-
ele­vado custo das te­rapêuticas e pela polifarmacia (ou fico a hiperglicemia pós-prandial e associam-se a um
“carga da medicação”). Esses factores deverão ser con- ris­co de hipoglicemia baixo, o que os torna teoricamen­
siderados e sopesados, em conjunto, versus benefícios te atraentes para uso nos idosos. Todavia, a intolerância
esperados de uma terapêutica, antes desta ser incorpo- gastro-intestinal poderá constituir um factor limitante, a
rada no plano terapêutico. Na selecção de medicamen- toma frequente poderá aumentar a complexidade do
tos deve ser dada particular atenção à escolha de medi- regime terapêutico e esta classe de medicamentos pode
camentos com um forte rácio de benefício-risco, porque ser dispendiosa. As tiazolidinedionas têm riscos associa-
esta é essencial para promover a eficácia, a continuação dos de ganho de peso, edema, insuficiência cardíaca,
da terapêutica e a segurança. fracturas ósseas e possivelmente cancro da bexiga, que
poderão argumentar contra a sua utilização nos idosos.
Utilização de Medicação Hipoglicemiante nos Idosos A utilização de rosiglitazona é, na actualidade, altamen­
te res­trita. Esta classe tem sido, tradicionalmente, dis­
Nos idosos, faltam estudos comparativos da eficácia dos pendio­sa, embora a passagem da pioglitazona a genéri-
medicamentos para tratar a diabetes. A diabetes tipo 2 co pos­sa vir a reduzir o seu custo.

127

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 127 10/23/13 7:52 PM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139 Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso

Os inibidores da dipeptidil peptidase - 4 (iDPP-4) são emergente de fármacos hipoglicemiantes, a dos inibi­
úteis na hiperglicemia pós-prandial, conferem um pe­ dores do contransportador-2 de sódio-glucose, poderá
que­no risco de hipoglicemia e são bem tolerados, su­ requerer estudo adicional nos idosos para avaliar se nes­
gerindo potenciais benefícios nos pacientes idosos. No ta população as infecções genitais e a incontinência uri­
entanto, o seu elevado custo poderá ser limitador. Os nária a ela associadas são problemáticas.
agonistas do péptido – 1 glucagon “like” (agonistas GLP-1)
têm também como alvo a hiperglicemia pós-prandial e Vulnerabilidade à Hipoglicemia
conferem um risco de hipoglicemia baixo, mas o facto
de se associarem a náuseas e perda de peso poderá ser Nos indivíduos não diabéticos, a idade parece afectar as
problemático nos idosos frágeis. O facto de serem injec- respostas contra-reguladoras à hipoglicemia. Durante
táveis pode tornar mais complexo o regime terapêutico estudos de “clamp” hipoglicémico, os sintomas iniciam-
e o seu custo muito elevado pode ser problemático. Al- se com níveis de glicemia mais elevados e têm maior
guns dos fármacos desta classe requerem redução da intensidade nos homens mais jovens (idade = 22-26
dose, na presença de disfunção renal. anos), enquanto que os parâmetros de coordenação
A insulinoterapia pode ser utilizada para atingir os ob- psicomotora se deterioram mais cedo e em maior grau
jectivos glicémicos em pacientes idosos com diabetes nos idosos (idade = 60-70 anos), apagando a habitual
tipo 2 seleccionados, com eficácia e risco hipoglicémico diferença de 10-20 mg/dl a nível da glicemia entre per-
semelhantes aos que se verificam em pacientes mais no- cepção subjectiva da hipoglicemia e início da disfunção
vos. Contudo, dada a heterogeneidade da população cognitiva [101]. Os estudos em idosos com diabetes são
idosa, o risco de hipoglicemia deve ser cuidadosamente limitados. Um estudo pequeno comparou as respostas
considerado antes de se utilizar um regime de insulina ao “clamp” hipoglicémico em diabéticos tipo 2 idosos
para conseguir alcançar um nível-alvo agressivo de con- (média de idades = 70 anos) e diabéticos tipo 2 de meia-
trolo glicémico. Com um regime de bomba infusora de idade (média de idades = 51 anos). As respostas hor-
insulina ou injecções múltiplas diárias de insulina foi ob- monais contra-reguladoras à hipoglicemia não diferi-
tida e mantida durante 12 meses uma A1C média de 7% ram entre os 2 grupos etários estudados mas, no final do
em idosos com diabetes (média de idades = 66 anos), período hipoglicémico, os diabéticos tipo 2 de meia-
mas sem outras patologias e funcionais, com taxas bai­ idade evidenciaram um aumento significativo da sinto-
xas de hipoglicemia [99]. Numa série de estudos clínicos, matologia do sistema nervoso autónomo e neuroglico-
a adição ao regime de insulina de longa duração de pénica, o que não se verificou nos diabéticos idosos.
acção teve eficácia semelhante, no cumprimento dos Metade das pessoas do grupo da meia-idade, mas ape-
objectivos de A1C em idosos com diabetes tipo 2 (média nas 1 dos 13 idosos participantes, relataram correcta-
de idades = 69 anos), com taxas de hipoglicemia não in- mente que a sua glicemia se encontrava baixa durante a
feriores às de diabéticos mais novos (média de idades = hipoglicemia [102].
53 anos) [100]. No entanto, existem poucos dados sobre es- Nas populações idosas, a prevalência de qualquer grau
ses regimes nas pessoas com diabetes tipo 2 > 75 anos, de hipoglicemia (glicemia < 70 mg/dL) ou de hipoglice-
ou nos idosos com múltiplas comorbilidades e/ou estado mia grave (requerendo ajuda de terceiros) não é conhe-
funcional limitado, que foram excluídos desses estudos. cida. No estudo ACCORD, em ambos os braços de inter-
Problemas de visão ou de destreza poderão constituir venção sobre a glicemia, os participantes idosos tiveram
barreiras à insulinoterapia em alguns idosos. As canetas taxas de hipoglicemia grave (hipoglicemia requerendo
injectoras de insulina melhoram a facilidade de utiliza- ajuda de terceiros) aproximadamente 50% mais ele­va­
ção mas são mais dispendiosas do que a utilização de das do que os participantes com idade <65 anos (M.
seringas e agulhas. O risco de hipoglicemia, em especial Mil­ler. Comunicação pessoal). Numa análise da popula-
nocturna, é, de alguma forma, mais baixo com os análo- ção inscrita no Medicaid, tratada com insulina ou sulfo-
gos da insulina, comparativamente à insulina humana, nilureias, a incidência de hipoglicemias graves (defini-
mas os primeiros são mais dispendiosos. Para alguns paci- das como levando a recorrer ao Serviço de Urgência, a
entes o ganho de peso induzido pela insulina constitui hospitalização ou morte) foi aproximadamente de 2 por
uma preocupação e a necessidade de maior monitoriza- 100 pessoas-ano [103] mas, é claro que os estudos basea-
ção da glicemia poderá aumentar a “carga” do tra­tamento. dos em bases de dados administrativas deixam de fora
Outras terapêuticas aprovadas, relativamente às quais as hipoglicemias menos catastróficas.
existem poucas evidências nos idosos, incluem o cole- Os factores de risco de hipoglicemia (uso de insulina ou de
sevelam, a bromocriptina e o pramlintide. Uma classe secretagogos de insulina, duração da diabetes, hipoglice-

128

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 128 10/23/13 7:52 PM


Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139

mia anterior, refeições erráticas, exercício e insuficiência As tabelas de estimativa da esperança média de vida nos
renal) [104] das pessoas com diabetes, em geral, aplicam-se, adultos, por grupos etários, sexo e raça, da “National Vi-
presumivelmente, também aos idosos com diabetes. No tal Statistics” [105], poderão não se aplicar aos idosos com
estudo do Medicaid, já referido acima, os factores de risco diabetes, que têm uma esperança de vida mais curta do
independentes de hipoglicemia incluíram alta hospitalar que o idoso médio não diabético. Modelos de previsão
nos últimos 30 dias, idade avançada, raça negra e uso de 5 da mortalidade que tenham em conta variáveis como as
ou mais medicações concomitantes [103]. A avaliação dos comorbilidades e o estado funcional podem servir de
factores de risco de hipoglicemia constitui uma parte im- base para efectuar estimativas mais refinadas da espe­
portante dos cuidados clínicos dos idosos com diabetes. A rança de vida [106-108]. Existem modelos de previsão da
educação dos pacientes e dos prestadores de cuidados mor­talidade específicos para a diabetes, mas não fo­ram
sobre a prevenção, detecção e tratamento da hipoglice- concebidos para informar as decisões tera­pêu­ticas [109,110].
mia é fundamental. Uma limitação dos modelos de previsão da mortalidade
existentes é a de que podem ajudar a estratificar os pa-
Risco de Subtratamento da Hiperglicemia cientes pela probabilidade de morte, mas essas proba-
bilidades têm ainda de ser transformadas numa espe­
Embora tenha sido dada atenção ao risco de sobretrata- rança de vida individual para cada idoso com diabetes.
mento da hiperglicemia nos idosos (hipoglicemia, “car- Os modelos de simulação podem ajudar a transformar a
ga” do tratamento, possível aumento da mortalidade) o previsão da mortalidade numa esperança de vida uti-
não tratamento ou subtratamento da hiperglicemia lizável. Um desses modelos estimou os benefícios de re-
também tem riscos, mesmos nos pacientes cuja espe­ duzir a A1C de 8.0 para 7.0% em diabéticos idosos hipo-
rança de vida é muto curta para ser impactada pelo de- téticos com diversas idades e vários graus de co­mor­
senvolvimento de complicações crónicas. Níveis de gli- bilidade e estado funcional [111]. Uma combinação de
cemia consistentemente acima do limiar renal de múl­tiplas comorbilidades e défices funcionais mostrou
gli­cosúria (aproximadamente 180-200 mg/dL) aumen- ser um melhor factor de previsão de esperança de vida
tam o risco de desidratação, as anomalias electrolíticas, limitada, e consequentes benefícios diminuídos do con-
a inconti­nência urinária, as tonturas e as quedas. Nos trolo intensivo da glicemia, do que a idade (isolada-
idosos, o síndrome hiperglicémico hiperosmolar é uma mente). Esse modelo sugere que a esperança de vida é
complicação particularmente grave da hiperglicemia < 5 anos nos idosos diabéticos com 60-64 anos e 7 pon-
não tratada ou subtratada. Apesar de ser apropriado af- tos-índice adicionais (pontos devidos às comorbilidades
rouxar os ní­veis-alvo de glicemia nos idosos com história e défices funcionais), nos idosos diabéticos com 65-69
de hipoglicemia, “carga” elevada de comorbilidades e anos de idade e 6 pontos-índice adicionais, nos idosos
esperança de vida limitada, na maioria dos pacientes es- diabéticos com 70-74 anos e 5 pontos-índice adicionais
tão in­dicados objectivos que minimizem a hipoglicemia e nos idosos diabéticos com 75-79 anos e 4 pontos-ín-
gra­ve. dice adicionais. Um exemplo de comorbilidades é o
diag­nóstico de neoplasia, que confere 2 pontos, en-
Esperança de Vida quanto que um exemplo de défice funcional é a incapa-
cidade de tomar banho sozinho, que confere 2 pontos.
Um conceito central das recomendações relativas aos
cuidados geriátricos na diabetes é o de que os prestado- Partilha das Decisões
res destes devem basear as suas decisões relativas aos
objectivos do tratamento e à intervenções na esperança À luz da escassez de dados relativos aos cuidados da
de vida [2,17,57]. Por exemplo, considera-se improvável que diabetes nos idosos, as decisões de tratamento são com
os pacientes cuja esperança de vida é limitada (isto é, frequência tomadas com considerável incerteza. A par-
< 5 anos, < 10 anos) beneficiem com um controlo inten- tilha das decisões tem sido defendida como uma abor-
sivo da glicemia enquanto que os com uma esperança dagem para melhorar a qualidade das assim denomina-
de vida maior poderão ser candidatos apropriados para das “decisões médicas sensíveis às preferências” [112,113].
essa intervenção. Uma observação que apoia este con- As componentes chave de uma abordagem com parti­
ceito é a de que, no UKPDS, as curvas de eventos cumu- lha de decisões são: 1) estabelecer uma parceria entre o
lativos relativas aos braços de controlo intensivo da gli- paciente e o prestador; 2) a troca de informação; 3) a
cemia e de controlo convencional da glicemia se se­pa­ deliberação sobre as escolhas; 4) decidir e actuar de
raram após 9 anos de tratamento. acordo com as decisões [114].

129

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 129 10/23/13 7:52 PM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139 Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso

Quando questionados sobre os seus objectivos em ter- têm diabetes, os primeiros têm pior controlo da glice-
mos dos cuidados de saúde que lhe são prestados, os mia e taxas mais elevadas de complicações e comorbili-
idosos com diabetes centram-se sobretudo no seu es- dades do que os segundos [119]. O “Institut of Medicine”
tado funcional e independência. Uma componente cha­ descobriu que, embora as variáveis relativas ao acesso
ve para melhorar a comunicação no contexto clínico aos cuidados de saúde e à demografia possam explicar
poderá ser averiguar da congruência entre os objectivos algumas disparidades raciais e étnicas, existem lacunas
do paciente e os objectivos biomédicos, em que o clíni- residuais, que são persistentes, atribuíveis a diferenças a
co tende a centrar-se. As discussões para esclarecer e nível da qualidade dos cuidados recebidos [120].
incorporar as preferências do paciente, relativas à te­ Claramente, existe uma necessidade de mais investiga-
rapêutica e aos seus objectivos, podem ser difíceis ção sobre as disparidades na diabetes, em particular pa­
quando o paciente não compreende a importância dos ra compreender o impacto total dos programas de me­-
fatores de risco ou o valor da redução do risco. Deste lho­­ramento da qualidade e das intervenções cul­tural­
modo, os prestadores de cuidados deverão primeiro men­te adaptadas sobre os idosos vulneráveis com dia-
educar o paciente e os seus cuidadores sobre o que é betes.
conhecido acerca dos factores de risco no desenvolvi­
mento de complicações e discutir então os possíveis Contextos Fora do Domicílio
malefícios e benefícios da intervenção para reduzir es­
ses factores de risco. Instituições para Cuidados de Longo Prazo
Igualmente importante é discutir os medicamentos que
serão necessários para atingir os objectivos terapêuti- As instituições de cuidados a longo prazo (ICLP) incluem
cos, porque os pacientes podem ter fortes preferências os lares de idosos, quer de cuidados residenciais quer de
relativamente ao regime terapêutico, Num estudo das cuidados de reabilitação, que providenciam cuidados
preferências dos pacientes, relativamente às complica- de enfermagem durante as 24 horas e as casas de famí-
ções da diabetes e aos tratamentos, as complicações lia de adultos em que o nível de cuidados não é tão
terminais constituem a maior “carga” percebida sobre a agudo. A diabetes é comum nas ICLP, tendo uma pre-
qualidade de vida; todavia, os tratamentos abrangentes valência de 25% (22% nos residentes caucasianos e 36%
da diabetes eram percebidos como tendo efeitos sig- nos não caucasianos) [121]. Comparativamente aos resi-
nificativamente negativos sobre a qualidade de vida, dentes não diabéticos, os residentes diabéticos das ICLP
semelhantes aos das complicações intermédias [116]. Re­ têm mais quedas [122], taxas mais elevadas de DCV e de-
lativamente a cada estado de saúde, as preferências dos pressão, mais défices funcionais e mais declínio cogniti-
pacientes variavam largamente e essa variação não se vo e dependência [123].
relacionava com o estado de saúde [117], implicando que Os residentes nas ICLP poderão ter um consumo de re-
não se pode assumir que se conhecem as preferências do feições irregular e imprevisível, subnutrição, anorexia e
paciente individual com base no seu estado de saúde. comprometimento da deglutição. As dietas terapêuti-
Muitos idosos dependem de membros da família ou de cas poderão, inadvertidamente, resultar numa diminui­
amigos para os ajudarem nas suas decisões relativas ao ção da ingestão alimentar e contribuir para uma perda
tratamento ou para implementação diária do mesmo. não intencional de peso e subnutrição. Servir refeições
No caso do idoso com défices cognitivos, um membro da que tenham em conta a cultura, as preferências, objecti-
família ou amigo poderá de facto estar a servir de decisor vos pessoais e capacidades dos paciente poderá aumen­
substituto. Estudos anteriores de pacientes idosos sem tar a qualidade de vida, satisfação com as refeições e
défices cognitivos mostraram que os decisores substitu- estado nutricional [124]. Os idosos vulneráveis, em parti­
tos relatam, com frequência, preferências de tratamento cular os que têm disfunção cognitiva, poderão ter uma
do paciente que têm pouca correlação com as opiniões alteração da sensação de sede que contribui para o risco
deste [118] o que sublinha a importância de descobrir as de depleção de volume e de crises de hiperglicemia. As
preferências do paciente, sempre que seja possível. situações precipitantes incluem doença, contextos insti-
tucionais (ICLP ou hospitais), aversão a beber água, dis­
Disparidades Étnicas e Raciais fagia requerendo espessamento dos líquidos e algumas
medicações [125]. No contexto institucional, a ingestão de
Os idosos afro-americanos e hispânicos têm uma in- fluidos deverá ser encorajada e monitorizada.
cidência e prevalência mais elevadas de diabetes tipo 2 Uma questão major nas ICLP é a frequente rotação do
do que os idosos caucasianos não-hispânicos, e nos que pessoal que resulta em não familiaridade deste com os

130

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 130 10/23/13 7:52 PM


Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139

residentes vulneráveis [126]. Verifica-se, com frequência, ção frequente do pessoal e levando mesmo a maior sa­
vigilância inadequada do controlo glicémico relaciona- tisfação deste último.
da com revisão pouco frequente das tendências glicémi-
cas, diários dos registos da glicemia complexos e difíceis Hospitais
de ler e falta de algoritmos específicos de tratamento da
diabetes, incluindo parâmetros glicémicos para notifi- Os idosos requerem com mais frequência hospitaliza-
cação do prestador de cuidados [127]. Tem sido documen- ções do que os adultos mais jovens e os idosos com dia-
tada confiança excessiva na “sliding-scale insulin” (SSI) betes encontram-se em risco muito elevado de requerer
(insulina rápida segundo glicemias do momento). Um hospitalizações. Há uma escassez de estudos sobre os
estudo mostrou que 83% dos residentes que iniciaram o idosos com diabetes, em particular sobre os idosos mais
tratamento com SSI se encontravam ainda a ser tratados frágeis e hospitalizados. Muitas recomendações que se
da mesma forma 6 meses mais tarde [128]. As estratégias aplicam aos adultos hospitalizados com hiperglicemia
de controlo glicémico baseadas na evidência, a utiliza- podem, provavelmente, ser extrapoladas para os ido-
ção de insulina e o tratamento da hipoglicemia têm po- sos [129-130]. As recomendações correntes preconizam
tencial para melhorar os cuidados dos residentes com níveis-alvo de glicemia pós-prandial de 180 a 140 mg/dL,
diabetes, aliviando alguma da “carga” cau­sada pela rota- com valores casuais máximos de 180 mg/dL, na maioria

Quadro I - Enquadramento para considerar os objectivos de tratamento relativos à glicemia, pressão arterial e dislipidemia nos idosos com diabetes.

Nível-alvo de A1C
razoável
(pode ser estabe-
lecido um nível-alvo Glicemia
individual mais baixo em Jejum Glicemia ao Pressão
Características dos Pacientes/
Racional se este for atingível ou Pré- Deitar Arterial Lípidos
Estado de Saúde
sem hipoglicemia prandial (mg/dL) (mmHg)
recorrente ou grave (mg/dL)
ou uma “carga”
decorrente do trata-
mento indevida)

Saudável Estatina, a menos


(poucas patologias crónicas Esperança de vida que esteja contra-
<7.5% 90-130 90-150 <140/80
co-existentes, estado cognitivo remanescente maior indicada ou não
e funcional intacto) seja tolerada

Esperança de vida
Complexo/Intermédio remanescente
Estatina, a menos
(múltiplas patologias crónicas intermédia, “carga”
que esteja contra-
co-existentesa ou dois ou mais do tratamento <8.0% 90-150 100-180 <140/80
indicada ou não
défices das AVD ou défice elevada, vulnerabili-
seja tolerada
cognitivo ligeiro a moderado) dade à hipoglicemia,
risco de quedas

Considerar a
Muito complexo/Saúde fraca
probabilidade de
(cuidados a longo prazo ou
Esperança de vida benefício com as
patologia crónica em estádio
remanescente estatinas (mais
terminalb ou défice cognitivo <8.5%c 100-180 110-200 <150/90
limitada que torna o em prevenção
moderado a grave ou duas ou
benefício incerto secundária do que
mais dependências a nível das
em prevenção
AVD)
primária

Este quadro representa um enquadramento consensual para considerar os objectivos de tratamento relativos à glicemia, pressão arterial e dislipidemia nos idosos com diabetes. As categorias de caracte­
rísticas dos pacientes correspondem a conceitos gerais. Nem todos os pacientes se incluírão claramente numa categoria particular. Ter em consideração as preferências do paciente e do cuidador constitui
um aspecto importante da individualização do tratamento. Para além disso, o estado de saúde e as preferências do paciente poderão alterar-se ao longo do tempo.
Legenda: AVD = actividades da vida diária.
a
As patologias crónicas co-existentes são patologias suficientemente graves para requerer medicações e/ou alterações do estilo de vida e poderão incluir artrite, cancro, insuficiência cardíaca conges-
tiva, depressão, enfizema, quedas, hipertensão arterial, incontinência, doença renal crónica estádio III ou mais avançada, enfarte do miocárdio e acidente vascular cerebral. Por múltiplas queremos dizer
pelo menos três, mas muitos pacientes podem ter cinco ou mais [132].
b
A presença de uma única doença crónica em fase terminal, tal como insuficiência cardíaca estádios III-IV, doença pulmonar dependente de oxigénio, doença renal crónica requerendo diálise ou cancro
metastizado incontrolável poderá causar sintomatologia significativa ou défice do estado funcional e reduzir significativamente esperança de vida.
c
Uma A1C de 8.5% equivale a uma glicemia média estimada de aproximadamente 200 mg/dL. Níveis-alvo glicémicos menos restritos do que este poderão expor os pacientes a risco agudo de gli-
cosúria, desidratação, síndrome hiperglicémico hiperosmolar e atraso da cicatrização de feridas.

131

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 131 10/23/13 7:52 PM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139 Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso

Quadro II - Recomendações de consenso adicionais relativas aos cuidados a prestar aos idosos com diabetes.

Rastreio e prevenção da diabetes


Rastrear a diabetes nos idosos de acordo com as recomendações da ADA, se for provável que o paciente venha a beneficiar com o diagnóstico
e tratamento subsequente da doença.
Implementar intervenções a nível do estilo de vida nos idosos com “pré-diabetes” que sejam capazes de participar e que seja provável benefi-
ciarem da prevenção da diabetes tipo 2.

Tratamento da diabetes
Encorajar a actividade física, mesmo que não seja para níveis óptimos, e implementar a TMN utilizando técnicas de ensino simples e recursos
comunitários, tendo em consideração a segurança e preferências do paciente.
Nos idosos com diabetes a EACD deverá ter em consideração os défices sensoriais, os défices cognitivos, os diferentes estilos de aprendizagem e
estratégias de educação e deverá também incluir os prestadores de cuidados.
Com o intuito de desenvolver e actualizar um plano de tratamento individualizado, rastreie periodicamente os idosos relativamente a disfunção
cognitiva, estado funcional e risco de quedas utilizando ferramentas simples, como as que se encontram em http://www.hospitalmedicine.org/
geriresource/toolbox/determine.htm.

Farmacoterapia
Escolher cuidadosamente as terapêuticas hipoglicemiantes, considerando a polifarmácia. Evitar a glibenclamida nos idosos com diabetes. A
metformina pode ser utilizada com segurança e é a terapêutica inicial preferencial em muitos idosos com diabetes tipo 2, mas deve ser usada em
dose reduzida naqueles com doença renal crónica no estádio III e não deve ser utilizada no estádio IV ou pior, A função renal deve ser avaliada
usando a taxa de filtração glomerular estimada (TFGe) e não apenas a creatinina sérica.
Avaliar a hipoglicemia com regularidade, interrogando o paciente e o cuidador sobre sinais desta e revendo os diários dos valores da glicemia.
Nos pacientes com diabetes tipo 2, o risco de hipoglicemia está mais ligado às estratégias terapêuticas do que ao nível baixo de A1C atingido
(isto é, um paciente com uma A1C baixa sob monoterapia com metformina poderá ter um risco de hipoglicemia consideravelmente mais baixo
do que um paciente com uma A1C mais alta sob insulinoterapia.
Se ocorrer hipoglicemia recorrente ou grave, considere fortemente alterar a terapêutica e/ou os níveis-alvo de A1C.
Avalie a “carga” do tratamento para o paciente idoso com diabetes e os seus cuidadores; considere as preferências do paciente e dos cuidadores
e tente reduzir a complexidade do tratamento.

Tratamento dos idosos com diabetes fora do contexto do domicílio


Nos idosos com diabetes hospitalizados, os objectivos do tratamento são, de um modo geral, semelhantes aos dos da população geral com dia-
betes. Quer a nível hospitalar, quer a nível das ICLP ou Cuidados Continuados, a utilização apenas de “sliding-scale insulin” (SSI) (insulina rápida
segundo glicemias do momento) para o controlo da glicemia é desencorajada.
As transições dos idosos diabéticos (p. ex. do domicílio ou da ICLP para o hospital e deste para o domicílio ou a ICLP) são períodos de elevado
risco. A reformulação cautelosa da medicação e a informação escrita relativa às doses e tomas ajudam a minimizar o risco de hiper e hipoglice-
mia. A transição precoce dos cuidados da diabetes para um prestador de cuidados ambulatório é importante para modificar a farmacoterapia
de acordo com as alterações do estado clínico.

dos pacientes hospitalizados em estado não crítico, des- são ocasiões de risco para o paciente diabético e, pro-
de que esses valores possam ser atingidos com segu- vavelmente, mais ainda para os idosos com diabetes. Os
rança isto é, com baixo risco de hipoglicemia. Níveis-al- idosos em tratamento com insulina poderão necessitar
vo de glicemia menos rigorosos podem ser apropriados de um aumento ou redução das doses, à medida que
nos pacientes com múltiplas comorbilidades e esperança recuperam da fase aguda e a sua dieta melhora. O de­
de vida reduzida – critérios que poderão ser aplicáveis a lírio (declínio agudo da função cognitiva) é uma compli-
muitos idosos hospitalizados. Contudo, de uma forma cação comum nos idosos, durante e após a hospita­
geral, os níveis de glicemia devem ser mantidos em va- lização, e poderá requerer maior supervisão para evitar
lores abaixo dos 200 mg/dL para minimizar a hiperglice- erros de dosagem. A reformulação da medicação, a
mia sintomática com anomalias associadas de fluidos e edu­cação do paciente e dos prestadores de cuidados e
electrólitos, complicações renais e risco de infecção [129, 130]. a comunicação estreita entre as equipas de cuidados
Os estudos dos objectivos de controlo glicémico nos pa- hospitalares e ambulatórios são criticamente impor-
cientes em estado crítico incluíram de facto idosos e, em tantes para assegurar a segurança do paciente e reduzir
consequência, é razoável seguir as recomendações da as taxas de readmissão.
ADA relativas ao controlo glicémico e à insulinoterapia [17],
nos idosos internados em unidades de cuidados intensi- > QUAIS SÃO AS RECOMENDAÇÕES DE CONSENSO
vos. Outras recomendações da ADA para to­dos os adul- PARA OS CLÍNICOS QUE TRATAM IDOSOS COM
tos, tais como evitar o uso de regimes apenas de SSI e de DIABETES OU EM RISCO DE DIABETES?
regimes hipoglicemiantes que não incluam insulina, são
também razoáveis nos idosos hospitalizados. Embora várias organizações tenham desenvolvido reco-
As transições do hospital para o domicílio ou para insti- mendações que dizem respeito aos idosos e/ou às pes-
tuições de cuidados continuados a curto ou longo prazo soas com comorbilidades significativas, a falta de evi-

132

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 132 10/23/13 7:52 PM


Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139

Quadro III - Recomendações de consenso adicionais relativas à investigação da diabetes nos idosos.

Que mecanismos celulares e moleculares específicos definem as interacções entre envelhecimento e factores de estilo de vida subjacentes às
elevadas taxas de diabetes na população adulta? Como podem esses mecanismos ser utilizados para desenvolver estratégias de intervenção
eficazes?

Como é que o envelhecimento afecta as trajectórias de desenvolvimento das complicações macro e microvasculares ao longo do tempo?

Quais são as melhores intervenções para prevenir a diabetes tipo 2 nos idosos? Como podem estratégias de intervenção sobre o estilo de vida,
baseadas na evidência, ser largamente implementadas na comunidade de forma a maximizar a participação dos idosos?

Devem ser conduzidos mais estudos sobre os mecanismos da ligação entre diabetes e défice cognitivo. Muitos estudos clínicos da diabetes que
incluam idosos deverão incluir uma avaliação da cognição, como co-variável ou resultado. Será que o tratamento da hiperglicemia, em geral ou
utilizando estratégias particulares, reduz o risco de défice cognitivo associado à diabetes? Será esse défice cognitivo atrasado ou evitado pelas
estratégias de prevenção da diabetes?

Qual é o nível óptimo de controlo da pressão arterial nos idosos com diabetes? Quais são as melhores estratégias de tratamento?

Será que intervenções específicas sobre a diabetes evitam ou atrasam o declínio do estado funcional nos idosos?

Como poderá o risco de quedas ser reduzido, nos idosos com diabetes?

Poderemos tornar mais fácil para os clínicos a antecipação do quadro temporal dos benefícios esperados das intervenções, tais como ferra-
mentas de apoio à decisão relativas à esperança de vida incluídas nos registos electrónicos de saúde? Que impacto terá a utilização formal de
informação prognóstica sobre os cuidados da diabetes e os resultados dos pacientes?

Que aspectos da comunicação paciente-prestador de cuidados são mais eficazes na decisão partilhada entre pacientes idosos e prestadores de
cuidados?

Quais são as preocupações éticas e relativas às preferências do paciente, no contexto da diminuição da intensidade da terapêutica nos idosos
que se considera ser improvável beneficiarem com a terapêutica agressiva da diabetes e das suas comorbilidades?

Deverão ser efectuados estudos comparativos da eficácia das terapêuticas da diabete nos idosos. Será a eficácia comparativa diferente nos
idosos e nos adultos não idosos?

Quais são as questões de literacia/aptidão aritmética nesta população e como podem ser melhor resolvidas?

Qual é a verdadeira incidência de hipoglicemia nos idosos? Como pode ser reconhecida e reduzida? Quais são os mecanismos da associação
bidireccional entre hipoglicemia grave e défice cognitivo? Será a relação entre hipoglicemia e eventos cardiovasculares uma relação directa de
causa-efeito ou uma relação mais complexa?

Qual é o impacto das síndromes geriátricas sobre o tratamento da diabetes e sobre o risco de efeitos adversos da terapêutica e resultados pobres?

Quais são as diferenças raciais e étnicas significativas entre os idosos com diabetes e quais as melhores abordagens para as enfrentar?

Que estratégias são eficazes para aumentar a actividade física nos idosos com diabetes? Quais são os efeitos do exercício físico sobre os resul-
tados clínicos e psicossociais?

Nos idosos com diabetes e excesso de peso, existe evidência de que a perda de peso intencional é benéfica?

Quais são as melhores estratégias para a EACD nos idosos? Quais são os papéis da tecnologia, da educação em grupo vs. educação individual, e
do apoio por parte de recursos comunitários?

Quais são os factores de stress particulares dos prestadores de cuidados aos idosos com diabetes e como podem ser enfrentados?

Quais são os mecanismos do impacto da diabetes e de terapêuticas específicas sobre a saúde do osso?

Qual é o quadro temporal esperado dos benefícios das intervenções sobre a diabetes, incluindo rastreio das complicações e cuidados? Para
esclarecer este ponto, serão necessários estudos longitudinais e registos, de preferência a estudos aleatorizados e controlados.

Qual é a frequência apropriada e a relação de custo-benefício da auto-medição da glicemia nos idosos com diabetes heterogéneos?

São muito necessários estudos das populações idosas dos hospitais e ICLPs (ou Cuidados Continuados). Quais são os objectivos de tratamento
apropriados e as estratégias para essas populações? Como podem as transições de cuidados (isto é, entre o hospital e a ICLP) ser optimizadas
para maximizar a segurança dos pacientes? Será que alterações do sistema, tais como organizações prestadoras de cuidados responsabilizáveis,
melhorarão os resultados nos idosos vulneráveis?

Legenda: EACD = educação para auto-controlo da diabetes; ICLP = instituições de cuidados a longo prazo.

133

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 133 10/23/13 7:52 PM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139 Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso

dência torna, de alguma forma, difícil providenciar uma Diabetes in the United States. Atlanta, Georgia: U.S. Depart-
orientação concreta para os clínicos. Após revisão da ment of Health and Human Services, Centers for Disease Con-
evidência disponível e consideração das questões que trol and Prevention, 2011, p 2011.
poderão influenciar as decisões terapêuticas nos idosos 2. Brown AF, Mangione CM, Saliba D et al. California Healthcare
com diabetes, os autores desenvolveram recomenda- Foundation/American Geriatrics Society Panel on Improving
ções relativas a um certo número de áreas. O Quadro I Care for Elders with Diabetes. Guidelines for improving the
providencia um enquadramento para considerar os ob-
care of the older person with diabetes mellitus. J Am Geriatr
jectivos de tratamento relativos à glicemia, pressão ar-
Soc. 2003;51(Suppl. Guidelines):S265–S280.
terial e dislipidemia. Esse enquadramento baseia-se no
3. Szoke E, Shrayyef MZ, Messing S et al. Effect of aging on glu-
trabalho de Blaum et al. [131], no qual o estado de saúde,
cose homeostasis: Accelerated deterioration of beta-cell fun­
definido pela presença e número de comorbilidades ou
défices do estado funcional, conduz à identificação de ction in individuals with impaired glucose tolerance. Diabetes
três classes principais de idosos com diabetes: 1) aqueles Care. 2008;31:539–543.
que são relativamente saudáveis; 2) aqueles com his­tó­ 4. Chang AM, Halter JB. Aging and insulin secretion. Am J Physi-
rias clínicas complexas, em que os auto-cuidados pode­ ol Endocrinol Metab. 2003;284:E7–E12.
rão ser difíceis; 3) aqueles com uma comorbilidade mui- 6. Boyle JP, Thompson TJ, Gregg EW et al. Projection of the year
to significativa e défice funcional. As três classes cor­res­ 2050 burden of diabetes in the US adult population: Dynamic
pondem a níveis crescentes de risco de morte [131]. A ob- modeling of incidence, mortality, and prediabetes prevalence.
servação de que existem três classes principais de idosos Popul Health Metr. 2010;8:29.
diabéticos é apoiada por outas investigações [132]. 7. Narayan KM, Boyle JP, Geiss LS et al. Impact of recent increase
O enquadramento é uma tentativa para balancear o pe­
in incidence on future diabetes burden: U.S., 2005–2050. Dia-
ríodo de tempo do benefício das intervenções esperado
betes Care. 2006;29:2114–2116.
com a esperança de vida antecipada. O Quadro II providen-
8. Selvin E, Coresh J, Brancati FL. The burden and treatment of
cia recomendações de consenso adicionais, para lá do trata-
diabetes in elderly individuals in the U.S. Diabetes Care. 2006;
mento da glicemia, da pressão arterial e da dislipidemia.
29:2415–2419.
> COMO PODEM AS LACUNAS DE EVIDÊNCIA 9. Li Y, Burrows NR, Gregg EW et al. Declining rates of hospital-
SER MELHOR PREENCHIDAS? ization for nontraumatic lower-extremity amputation in the
diabetic population aged 40 years or older: U.S., 1988–2008.
A exclusão de idosos, em especial de idosos frágeis, da Diabetes Care. 2012;35:273–277.
maioria dos estudos clínicos tradicionais, aleatorizados 10. Centers for Disease Control and Prevention. Diabetes public
e controlados, das intervenções na diabetes deixou-nos health resource, Available at http://www.cdc.gov/diabetes
com grandes lacunas a nível de como abordar a diabe- Accessed September 27, 2012.
tes no grupo etário com taxas de prevalência mais ele­ 11. Schütt M, Fach EM, Seufert J et al. Multiple complications and
vadas. A investigação futura deverá ter em conta e
frequent severe hypoglycaemia in ‘elderly’ and ‘old’ patients
carac­terizar a complexidade e heterogeneidade dos
with type 1 diabetes. Diabet Med. 2012;29:e176–e179.
idosos com diabetes. Para desenvolver os nossos conhe-
12. Amati F, Dubé JJ, Coen PM et al. Physical inactivity and obesity
cimentos sobre essa população, os estudos futuros terão
underlie the insulin resistance of aging. Diabetes Care. 2009;
de incluir pacientes com múltiplas comorbilidades, pa-
cientes dependentes e pacientes com síndromes geriá­ 32:1547–1549.
tricos. Para além do alargamento dos critérios de in- 13. Knowler WC, Barrett-Connor E, Fowler SE, et al. Diabetes Pre-
clusão nos estudos aleatorizados e controlados, iremos vention Program Research Group. Reduction in the incidence
precisar cada vez mais de evidência sofisticada, obser- of type 2 diabetes with lifestyle intervention or metformin. N
vacional ou de eficácia comparativa, obtida no contexto Engl J Med. 2002;346:393–403.
populacional do “mundo real”. No Quadro III listam-se 14. Reers C, Erbel S, Esposito I et al. Impaired islet turnover in hu-
questões e tópicos de investigação sugeridos. < man donor pancreata with aging. Eur J Endocrinol. 2009;160:
185–191.
BIBLIOGRAFIA 15. Maedler K, Schumann DM, Schulthess F et al. Aging correlates
with decreased beta-cell proliferative capacity and enhanced
1. Centers for Disease Control and Prevention. National Diabetes sensitivity to apoptosis: A potential role for Fas and pancre-
Fact Sheet: General Information and National Estimates on atic duodenal homeobox-1. Diabetes. 2006;55:2455–2462.

134

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 134 10/23/13 7:52 PM


Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139

16. Rankin MM, Kushner JA. Adaptive b-cell proliferation is se- on the risk of severe hypoglycaemia: Post hoc epidemiologi-
verely restricted with advanced age. Diabetes. 2009;58:1365– cal analysis of the ACCORD study. BMJ. 2010;340: b5444.
1372. 29. Patel A, MacMahon S, Chalmers J et al. ADVANCE Collabora-
17. American Diabetes Association. Standards of medical care in tive Group. Intensive blood glucose control and vascular out-
diabetes – 2012 (Position Statement). Diabetes Care. 2012; comes in patients with type 2 diabetes. N Engl J Med. 2008;
35(Suppl. 1):S11–S63. 358:2560–2572.
18. Crandall J, Schade D, Ma Y et al. Diabetes Prevention Program 30. Duckworth W, Abraira C, Moritz T et al. VADT Investigators.
Research Group. The influence of age on the effects of life- Glucose control and vascular complications in veterans with
style modification and metformin in prevention of diabetes. J type 2 diabetes. N Engl J Med. 2009;360:129–139.
Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2006;61A:1075–1081. 31. Duckworth WC, Abraira C, Moritz TE et al. Investigators of the
19. Knowler WC, Fowler SE, Hamman RF et al. Diabetes Preven- VADT. The duration of diabetes affects the response to inten-
tion Program Research Group. 10-year follow-up of diabetes sive glucose control in type 2 subjects: The VA Diabetes Trial. J
incidence and weight loss in the Diabetes Prevention Pro- Diabetes Complications. 2011;25:355–361.
gram Outcomes Study. Lancet. 2009;374:1677–1686. 32. Skyler JS, Bergenstal R, Bonow RO et al. American Diabetes
20. Brown JS, Wing R, Barrett-Connor E et al. Diabetes Prevention Association; American College of Cardiology Foundation;
Program Research Group. Lifestyle intervention is associated American Heart Association. Intensive glycemic control and
with lower prevalence of urinary incontinence: The Diabetes the prevention of cardiovascular events: Implications of the
Prevention Program. Diabetes Care. 2006;29:385–390. ACCORD, ADVANCE, and VA Diabetes Trials: A position state-
21. Florez H, Pan Q, Ackermann RT et al. for the Diabetes Preven- ment of the American Diabetes Association and a scientific
tion Program Research Group. Impact of lifestyle intervention statement of the American College of Cardiology Foundation
and metformin on health-related quality of life: the Diabetes and the American Heart Association. Diabetes Care. 2009;
Prevention Program Randomized Trial. J Gen Intern Med. 32:187–192.
June 13, 2012 [Epub ahead of print]. 33. Araki A, Iimuro S, Sakurai T et al. Japanese Elderly Diabetes
22. Crandall JP, Knowler WC, Kahn SE et al. Diabetes Prevention Intervention Trial Study Group. Long-term multiple risk factor
Program Research Group. The prevention of type 2 diabetes. interventions in Japanese elderly diabetic patients: The Japa-
Nat Clin Pract Endocrinol Metab. 2008;4:382–393. nese Elderly Diabetes Intervention Trial – study design, base-
23. Ackermann RT, Finch EA, Brizendine E et al. Translating the line characteristics and effects of intervention. Geriatr Geron-
Diabetes Prevention Program into the community: The DE- tol Int. 2012;12(Suppl. 1):7–17.
PLOY Pilot Study. Am J Prev Med. 2008;35:357–363. 34. Currie CJ, Peters JR, Tynan A et al. Survival as a function of
24. UK Prospective Diabetes Study (UKPDS) Group. Intensive HbA(1c) in people with type 2 diabetes: A retrospective co-
blood-glucose control with sulphonylureas or insulin com- hort study. Lancet. 2010;375:481–489.
pared with conventional treatment and risk of complications 35. Huang ES, Liu JY, Moffet HH et al. Glycemic control, complica-
in patients with type 2 diabetes (UKPDS 33). Lancet. 1998;352: tions, and death in older diabetic patients: The Diabetes and
837–853. Aging Study. Diabetes Care. 2011;34:1329–1336.
25. UK Prospective Diabetes Study (UKPDS) Group. Effect of in- 36. Piette JD, Kerr EA. The impact of comorbid chronic conditions
tensive bloodglucose control with metformin on complica- on diabetes care. Diabetes Care. 2006;29:725–731.
tions in overweight patients with type 2 diabetes (UKPDS 34). 37. Laiteerapong N, Huang ES, Chin MH. Prioritization of care in
Lancet. 1998;352:854–865. adults with diabetes and comorbidity. Ann N Y Acad Sci. 2011;
26. Holman RR, Paul SK, Bethel MA et al. 10-year follow-up of 1243:69–87.
intensive glucose control in type 2 diabetes. N Engl J Med. 38. Greenfield S, Billimek J, Pellegrini F et al. Comorbidity affects
2008;359:1577–1589. the relationship between glycemic control and cardiovascu-
27. Gerstein HC, Miller ME, Byington RP et al. Action to Control lar outcomes in diabetes: A cohort study. Ann Intern Med.
Cardiovascular Risk in Diabetes Study Group. Effects of inten- 2009;151:854–860.
sive glucose lowering in type 2 diabetes. N Engl J Med. 2008; 39. Collins R, Armitage J. High-risk elderly patients PROSPER
358:2545–2559. from cholesterol-lowering therapy. Lancet. 2002;360:1618–
28. Miller ME, Bonds DE, Gerstein HC et al. ACCORD Investiga- 1619.
tors. The effects of baseline characteristics, glycaemia treat- 40. Shepherd J, Blauw GJ, Murphy MB et al. PROSPER (PROspec-
ment approach, and glycated haemoglobin concentration tive Study of Pravastatin in the Elderly at Risk) study group.

135

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 135 10/23/13 7:52 PM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139 Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso

Pravastatin in elderly individuals at risk of vascular disease aspirin use with major bleeding in patients with and without
(PROSPER): A randomised controlled trial. Lancet. 2002;360: diabetes. JAMA. 2012;307:2286–2294.
1623–1630. 53. Abraham NS, Hlatky MA, Antman EM et al. ACCF/ACG/AHA.
41. Baigent C, Keech A, Kearney PM et al. Cholesterol Treatment ACCF/ACG/AHA 2010 expert consensus document on the
Trialists’ (CTT) Collaborators. Efficacy and safety of choleste­ concomitant use of proton pump inhibitors and thienopyri-
rol-lowering treatment: Prospective meta-analysis of data dines: A focused update of the ACCF/ACG/AHA 2008 expert
from 90,056 participants in 14 randomised trials of statins. consensus document on reducing the gastrointestinal risks of
Lancet. 2005;366:1267–1278. antiplatelet therapy and NSAID use. Am J Gastroenterol.
42. Cigolle CT, Blaum CS, Halter JB. Diabetes and cardiovascular 2010; 2010(105):2533–2549.
disease prevention in older adults. Clin Geriatr Med. 2009; 54. Li R, Zhang P, Barker LE et al. Cost-effectiveness of interven-
25:607–641, vii–viii. tions to prevent and control diabetes mellitus: A systematic
43. Ginsberg HN, Elam MB, Lovato LC et al. ACCORD Study review. Diabetes Care. 2010;33:1872–1894.
Group. Effects of combination lipid therapy in type 2 diabetes 55. Agardh E, Tababat-Khani P. Adopting 3-year screening inter-
mellitus. N Engl J Med. 2010;362:1563–1574. vals for sightthreatening retinal vascular lesions in type 2 dia-
44. Keech A, Simes RJ, Barter P et al. FIELD study investigators. betic subjects without retinopathy. Diabetes Care. 2011;34:
Effects of long-term fenofibrate therapy on cardiovascular 1318–1319.
events in 9795 people with type 2 diabetes mellitus (the 56. United States Department of Veterans Affairs. VA/DOD clini-
FIELD study): Randomised controlled trial. Lancet. 2005;366: cal practice guidelines: Management of diabetes mellitus in
1849–1861. primary care, 2010. Available at http://www.healthquality.
45. Hansson L, Zanchetti A, Carruthers SG et al. HOT Study va.gov/Diabetes_Mellitus.asp Accessed September 27, 2012.
Group. Effects of intensive blood-pressure lowering and low- 57. Sinclair AJ, Paolisso G, Castro M et al. Rodriguez Man˜ as L;
dose aspirin in patients with hypertension: Principal results of European Diabetes Working Party for Older People. Euro­
the Hypertension Optimal Treatment (HOT) randomised trial. pean Diabetes Working Party for Older People 2011 clinical
Lancet. 1998;351:1755–1762. guidelines for type 2 diabetes mellitus: Executive summary.
46. Cushman WC, Evans GW, Byington RP et al. ACCORD Study Diabetes Metab. 2011;37(Suppl. 3):S27–S38.
Group. Effects of intensive blood-pressure control in type 2 58. Laiteerapong N, Karter AJ, Liu JY et al. Correlates of quality of
diabetes mellitus. N Engl J Med. 2010;362:1575–1585. life in older adults with diabetes: The Diabetes & Aging Study.
47. Cooper-DeHoff RM, Gong Y, Handberg EM et al. Tight blood Diabetes Care. 2011;34:1749–1753.
pressure control and cardiovascular outcomes among hy- 59. Lu FP, Lin KP, Kuo HK. Diabetes and the risk of multi-system
pertensive patients with diabetes and coronary artery di­ aging phenotypes: A systematic review and meta-analysis.
sease. JAMA. 2010;304:61–68. PLoS ONE. 2009;4: e4144.
48. Anderson RJ, Bahn GD, Moritz TE et al. VADT Study Group. 60. Punthakee Z, Miller ME, Launer LJ et al. ACCORD Group of
Blood pressure and cardiovascular disease risk in the Vete­ Investigators; ACCORD-MIND Investigators. Poor cognitive
rans Affairs Diabetes Trial. Diabetes Care. 2011;34:34–38. function and risk of severe hypoglycemia in type 2 diabetes:
49. Baigent C, Blackwell L, Collins R et al. Antithrombotic Trialists’ Post hoc epidemiologic analysis of the ACCORD trial. Diabe-
(ATT) Collaboration. Aspirin in the primary and secondary tes Care. 2012;35:787–793.
prevention of vascular disease: Collaborative meta-analysis 61. Launer LJ, Miller ME, Williamson JD et al. ACCORD MIND in-
of individual participant data from randomised trials. Lancet. vestigators. Effects of intensive glucose lowering on brain
2009;373:1849–1860. structure and function in people with type 2 diabetes (AC-
50. Ogawa H, Nakayama M, Morimoto T et al. Japanese Primary CORD MIND): A randomised openlabel substudy. Lancet
Prevention of Atherosclerosis With Aspirin for Diabetes (JPAD) Neurol. 2011;10:969–977.
Trial Investigators. Low-dose aspirin for primary prevention 62. Cukierman T, Gerstein HC, Williamson JD. Cognitive decline
of atherosclerotic events in patients with type 2 diabetes: A and dementia in diabetes—systematic overview of prospec-
randomized controlled trial. JAMA. 2008;300:2134–2141. tive observational studies. Diabetologia. 2005;48:2460–2469.
51. Hernández-Díaz S. García Rodríguez LA. Cardioprotective as- 63. Whitmer RA, Karter AJ, Yaffe K et al. Hypoglycemic episodes
pirin users and their excess risk of upper gastrointestinal com- and risk of dementia in older patients with type 2 diabetes
plications. BMC Med. 2006;4:22. mellitus. JAMA. 2009;301:1565–1572.
52. De Berardis G, Lucisano G, D’Ettorre A et al. Association of 64. Gregg EW, Mangione CM, Cauley JA et al. Study of Osteopo-

136

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 136 10/23/13 7:52 PM


Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139

rotic Fractures Research Group. Diabetes and incidence of litus as a risk factor for the onset of depression: A systematic
functional disability in older women. Diabetes Care. 2002;25: review and meta-analysis. Diabetologia. 2010;53:2480–2486.
61–67. 77. Lin EH, Katon W, Von Korff M et al. Relationship of depression
65. Gregg EW, Sorlie P, Paulose-Ram R et al. Prevalence of lower- and diabetes self-care, medication adherence, and preven-
extremity disease in the U.S. adult population 40 years of age tive care. Diabetes Care. 2004;27:2154–2160.
with and without diabetes: 1999–2000 National Health and 78. Katon W, Lyles CR, Parker MM et al. Association of depression
Nutrition Examination Survey. Diabetes Care. 2004;27:1591– with increased risk of dementia in patients with type 2 diabe-
1597. tes: The Diabetes and Aging Study. Arch Gen Psychiatry. 2012;
66. Richardson JK, Thies SB, DeMott TK et al. Gait analysis in a 69:410–417.
challenging environment differentiates between fallers and 79. Katon WJ, Rutter C, Simon G et al. The association of comor-
nonfallers among older patients with peripheral neuropathy. bid depression with mortality in patients with type 2 diabetes.
Arch Phys Med Rehabil. 2005;86:1539–1544. Diabetes Care. 2005;28:2668–2672.
67. Richardson JK, Thies S, Ashton-Miller JA. An exploration of 80. Montorio I, Izal M. The Geriatric Depression Scale: A review of
step time variability on smooth and irregular surfaces in older its development and utility. Int Psychogeriatr. 1996;8:103–112.
persons with neuropathy. Clin Biomech (Bristol, Avon). 2008; 81. Centers for Disease Control and Prevention. Vision Health Ini-
23:349–356. tiative. Available at http://www.cdc.gov/visionhealth/data/in-
68. Menz HB, Lord SR. St George R, Fitzpatrick RC. Walking stabi­ dex.htm Accessed September 27, 2012.
lity and sensorimotor function in older people with diabetic 82. Bainbridge KE, Hoffman HJ, Cowie CC. Diabetes and hearing
peripheral neuropathy. Arch Phys Med Rehabil. 2004;85:245– impairment in the United States: Audiometric evidence from
252. the National Health and Nutrition Examination Survey, 1999
69. Volpato S, Blaum C, Resnick H et al. Comorbidities and im- to 2004. Ann Intern Med. 2008;149:1–10.
pairments explaining the association between diabetes and 83. Bainbridge KE, Hoffman HJ, Cowie CC. Risk factors for hearing
lower extremity disability: The Women’s Health and Aging impairment among U.S. adults with diabetes: National Health
Study. Diabetes Care 2002;25:678–683. and Nutrition Examination Survey 1999–2004. Diabetes Care.
70. Volpato S, Leveille SG, Blaum C et al. Risk factors for falls in 2011;34:1540–1545.
older disabled women with diabetes: The Women’s Health 84. Miller CKEL, Edwards L, Kissling G et al. Nutrition education
and Aging Study. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2005;60A:1539– improves metabolic outcomes among older adults with dia-
1545. betes mellitus: Results from a randomized controlled trial.
71. Schwartz AV, Hillier TA, Sellmeyer DE et al. Older women with Prev Med. 2002;34:252–259.
diabetes have a higher risk of falls: A prospective study. Dia- 85. Villareal DT, Banks M, Siener C et al. Physical frailty and body
betes Care. 2002;25:1749–1754. composition in obese elderly men and women. Obes Res.
72. The American Geriatrics Society. AGS/BGS clinical practice 2004;12:913–920.
guideline: Prevention of falls in older persons, 2010. Available 86. Villareal DT, Banks M, Sinacore DR et al. Effect of weight loss
at http://www.americangeriatrics. org/health_care_professio­ and exercise on frailty in obese older adults. Arch Intern Med.
nals/clinical_practice/clinical_guidelines_recommenda- 2006;166:860–866.
tions/2010/ Accessed September 27, 2012. 87. Miller SL, Wolfe RR. The danger of weight loss in the elderly.
73. Dailey G. Early and intensive therapy for management of hy- J Nutr Health Aging. 2008;12:487–491.
perglycemia and cardiovascular risk factors in patients with 88. Shapses SA, Riedt CS. Bone, body weight, and weight reduc-
type 2 diabetes. Clin Ther. 2011;33:665–678. tion: What are the concerns? J Nutr. 2006;136:1453–1456.
74. Fulton MM, Allen ER. Polypharmacy in the elderly: A literature 89. Suhl E, Bonsignore P. Diabetes self-management education
review. J Am Acad Nurse Pract. 2005;17:123–132. for older adults: General principles and practical application.
75. Huang ES, Karter AJ, Danielson KK et al. The association be- Diabetes Spectrum. 2006;19:234–240.
tween the number of prescription medications and incident 90. Park SW, Goodpaster BH, Strotmeyer ES et al. Decreased
falls in a multi-ethnic population of adult type-2 diabetes pa- muscle strength and quality in older adults with type 2 diabe-
tients: The Diabetes and Aging Study. J Gen Intern Med. tes: The Health, Aging, and Body Composition Study. Diabe-
2010;25:141–146. tes. 2006;55:1813–1818.
76. Nouwen A, Winkley K, Twisk J et al. European Depression in 91. Villareal DT, Chode S, Parimi N et al. Weight loss, exercise, or
Diabetes (EDID) Research Consortium. Type 2 diabetes mel- both and physical function in obese older adults. N Engl J

137

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 137 10/23/13 7:52 PM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139 Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso

Med. 2011;364:1218–1229. 105. Arias E. United States life tables, 2007. Natl Vital Stat Rep.
92. Jakicic JM, Jaramillo SA, Balasubramanyam A et al. Look 2011;59:1–60.
AHEAD Study Group. Effect of a lifestyle intervention on 106. Yourman LC, Lee SJ, Schonberg MA et al. Prognostic indices
change in cardiorespiratory fitness in adults with type 2 dia- for older adults: A systematic review. JAMA. 2012;307:182–
betes: Results from the Look AHEAD Study. Int J Obes (Lond). 192.
2009;33:305–316. 107. Lee SJ, Lindquist K, Segal MR et al. Development and valida-
93. Buman MP, Hekler EB, Haskell WL et al. Objective light-inten- tion of a prognostic index for 4-year mortality in older adults.
sity physical activity associations with rated health in older JAMA. 2006;295:801–808.
adults. Am J Epidemiol. 2010;172:1155–1165. 108. Schonberg MA, Davis RB, McCarthy EP et al. Index to predict
94. Lipska KJ, Bailey CJ, Inzucchi SE. Use of metformin in the set- 5-year mortality of community-dwelling adults aged 65 and
ting of mild-to-moderate renal insufficiency. Diabetes Care. older using data from the National Health Interview Survey. J
2011;34:1431–1437. Gen Intern Med. 2009;24:1115–1122.
95. Shorr RI, Ray WA, Daugherty JR et al. Individual sulfonylureas 109. Wells BJ, Jain A, Arrigain S et al. Predicting 6-year mortality
and serious hypoglycemia in older people. J Am Geriatr Soc. risk in patients with type 2 diabetes. Diabetes Care. 2008;
1996;44:751–755. 31:2301–2306.
96. Inzucchi SE, Bergenstal RM, Buse JB et al. Management of 110. McEwen LN, Kim C, Karter AJ et al. Risk factors for mortality
hyperglycemia in type 2 diabetes: A patient-centered ap- among patients with diabetes: The Translating Research Into
proach. Position statement of the American Diabetes Associ- Action for Diabetes (TRIAD) Study. Diabetes Care. 2007;30:
ation (ADA) and the European Association for the Study of 1736–1741.
Diabetes (EASD). Diabetes Care. 2012;35:1364–1379. 111. Huang ES, Zhang Q, Gandra N et al. The effect of comorbid
97. National Institute for Health and Clinical Excellence. The man- illness and functional status on the expected benefits of inten-
agement of type 2 diabetes: 2010 NICE guidelines. Available at sive glucose control in older patients with type 2 diabetes: A
http://www.nice.org. uk/nicemedia/live/12165/44320/44320. decision analysis. Ann Intern Med. 2008;149:11–19.
pdf Accessed September 27, 2012. 112. Kassirer JP. Incorporating patients’ preferences into medical
98. American Geriatrics Society. Beers Criteria Update Expert decisions. N Engl J Med. 1994;330:1895–1896.
Panel. American Geriatrics Society updated Beers Criteria for 113. Barry MJ, Edgman-Levitan S. Shared decision making – pi­
potentially inappropriate medication use in older adults. J Am nnacle of patient-centered care. N Engl J Med. 2012;366:780–
Geriatr Soc. 2012;2012 (60):616–631. 781.
99. Herman WH, Ilag LL, Johnson SL et al. A clinical trial of con- 114. Montori VM, Gafni A, Charles C. A shared treatment decision-
tinuous subcutaneous insulin infusion versus multiple daily making approach between patients with chronic conditions
injections in older adults with type 2 diabetes. Diabetes Care. and their clinicians: The case of diabetes. Health Expect.
2005;28:1568–1573. 2006;9:25–36.
100. Lee P, Chang A, Blaum C et al. Comparison of safety and ef- 115. Huang ES, Gorawara-Bhat R, Chin MH. Self-reported goals of
ficacy of insulin glargine and neutral protamine hagedorn older patients with type 2 diabetes mellitus. J Am Geriatr Soc.
insulin in older adults with type 2 diabetes mellitus: Results 2005;53:306–311.
from a pooled analysis. J Am Geriatr Soc. 2012;60:51–59. 116. Huang ES, Brown SE, Ewigman BG et al. Patient perceptions of
101. Matyka K, Evans M, Lomas J et al. Altered hierarchy of protec- quality of life with diabetes-related complications and treat-
tive responses against severe hypoglycemia in normal aging ments. Diabetes Care. 2007;30:2478–2483.
in healthy men. Diabetes Care. 1997;20:135–141. 117. Brown SE, Meltzer DO, Chin MH et al. Perceptions of quality-
102. Bremer JP, Jauch-Chara K, Hallschmid M et al. Hypoglycemia of-life effects of treatments for diabetes mellitus in vulnerable
unawareness in older compared with middle-aged patients and nonvulnerable older patients. J Am Geriatr Soc. 2008;56:
with type 2 diabetes. Diabetes Care. 2009;32:1513–1517. 1183–1190.
103. Shorr RI, Ray WA, Daugherty JR et al. Incidence and risk fac- 118. Tsevat J, Dawson NV, Wu AW et al. Health values of hospita­
tors for serious hypoglycemia in older persons using insulin lized patients 80 years or older. HELP Investigators. Hospita­
or sulfonylureas. Arch Intern Med. 1997;157:1681–1686. lized Elderly Longitudinal Project. JAMA. 1998;279:371–375.
104. Zammitt NN, Frier BM. Hypoglycemia in type 2 diabetes: 119. Traylor AH, Subramanian U, Uratsu CS et al. Patient race/eth-
Pathophysiology, frequency, and effects of different treat- nicity and patient-physician race/ethnicity concordance in
ment modalities. Diabetes Care. 2005;28:2948–2961. the management of cardiovascular disease risk factors for

138

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 138 10/23/13 7:52 PM


Diabetes nos Idosos: Um Relatório de Consenso Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 116-139

patients with diabetes. Diabetes Care. 2010;33:520–525. 127. Feldman SM, Rosen R, DeStasio J. Status of diabetes man-
120. Committee on Understanding Eliminating Racial Ethnic Dis- agement in the nursing home setting in 2008: A retrospective
parities in Health Care. Unequal Treatment: Confronting Ra- chart review and epidemiology study of diabetic nursing
cial and Ethnic Disparities in Health Care (with CD). In: Smed- home residents and nursing home initiatives in diabetes
ley BD, Stith AY, Nelson AR, eds. Washington, DC: National management. J Am Med Dir Assoc. 2009;10:354–360.
Academies Press, 2003. 128. Pandya N, Thompson S, Sambamoorthi U. The prevalence
121. Resnick HE, Heineman J, Stone R et al. Diabetes in U.S. nur­ and persistence of sliding scale insulin use among newly ad-
sing homes, 2004. Diabetes Care. 2008;31:287–288. mitted elderly nursing home residents with diabetes mellitus.
122. Maurer MSBJ, Burcham J, Cheng H. Diabetes mellitus is as- J Am Med Dir Assoc. 2008;9:663–669.
sociated with an increased risk of falls in elderly residents of a 129. Moghissi ES, Korytkowski MT, DiNardo M et al. American As-
long-term care facility. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2005; sociation of Clinical Endocrinologists; American Diabetes As-
60A:1157–1162. sociation. American Association of Clinical Endocrinologists
123. Travis SS, Buchanan RJ, Wang S et al. Analyses of nursing and American Diabetes Association consensus statement on
home residents with diabetes at admission. J Am Med Dir As- inpatient glycemic control. Diabetes Care. 2009;32:1119–1131.
soc. 2004;5:320–327. 130. Umpierrez GE, Hellman R, Korytkowski MT et al. Endocrine
124. Dorner B, Friedrich EK; American Dietetic Association. Posi- Society. Management of hyperglycemia in hospitalized pa-
tion of the American Dietetic Association: Individualized nu- tients in non-critical care setting: An Endocrine Society clinical
trition approaches for older adults in health care communi- practice guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2012;97:16–38.
ties. J Am Diet Assoc. 2010;110:1549–1553. 131. Blaum C, Cigolle CT, Boyd C et al. Clinical complexity in mid-
125. Thomas DR, Cote TR, Lawhorne L et al. Dehydration Council. dle-aged and older adults with diabetes: The Health and Re-
Understanding clinical dehydration and its treatment. J Am tirement Study. Med Care. 2010;48:327–334.
Med Dir Assoc. 2008;9:292–301. 132. Laiteerapong NIJ, Iveniuk J, John PM et al. Classification of
126. Donoghue C. Nursing home staff turnover and retention: An older adults who have diabetes by comorbid conditions,
analysis of national level data. J Appl Gerontol. 2010;29:89–106. United States, 2005–2006. Prev Chronic Dis. 2012;9:E100.

139

GUI_Diabetes nos Idosos_116-139.indd 139 10/23/13 7:52 PM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 140

NORMAS DE PUBLICAÇÃO / INSTRUCTIONS TO AUTHORS


A “Revista Portuguesa de Diabetes” publica artigos originais, artigos > 4. BIBLIOGRAFIA
de revisão e casos clínicos sobre todos os temas da Diabetologia.
Os artigos originais submetidos para publicação devem ser prepara­ Deve ser referenciada em numeração árabe, por ordem de apareci­
dos de acordo com os “Uniform Requirements for Manuscripts Sub­ mento no texto.
mitted to Biomedical Journals – Updated 2007” elaborados pelo “In­ Nos artigos originais ou de revisão não há limite pré-estabelecido de
ternational Committee of Medical Journal Editors (www.icmje.org)”. referências.
Os artigos aceites para publicação passarão a ser propriedade da So­ Nos casos clínicos não devem ultrapassar as 15. As referências de co­
ciedade Portuguesa de Diabetologia não podendo ser reproduzidos, no municações pessoais e de dados não publicados serão feitas directa­
seu todo ou em parte, sem autorização do Corpo Editorial da Revista. A mente no texto, não sendo numeradas. Deverão ser feitas utilizando
aceitação dos originais enviados para publicação será feita após aprecia­ as abreviaturas do Index Medicus.
ção por membros do Conselho Científico cujos pareceres serão sempre Revistas: relação de todos os autores se não ultrapassar os seis ou dos
comunicados aos autores; estes disporão de um período de seis semanas seis primeiros seguido de et al, título do artigo e identificação da re­
para efectuar as eventuais modificações propostas. Os artigos originais vista (nome, ano, volume e páginas). Exemplo: Fagot-Campagna A,
recebidos que não estejam de acordo com as normas definidas serão Pettitt DJ, Engelgau MM, Burrows NR, Geiss LS,Valdez R, et al. Type 2
devolvidos aos autores sem serem apreciados pelo Conselho Científico. diabetes among North American children and adolescents: an epide­
miologic review and a public health perspective. J Pediatr. 2000; 136:
> NORMAS GERAIS 664-72.
Livros: nome do(s) autor(es) ou editor(es) (seguido de, “editor” no caso
Os artigos originais, em Português ou Inglês, devem ser enviados, dos editores), título, nº da edição, cidade e nome da editora, ano de
acompanhados da declaração de originalidade e da cedência dos di­ publicação. Exemplo: Ganz M, editor. Prevention of Type 2 Diabetes.
reitos de propriedade,em suporte electrónico (disquete ou CD) e acom­ First edition. Chichester: John Wiley & Sons Ltd; 2005.
panhados de 3 cópias impressas para: “Revista Portuguesa de Diabetes” Artigos ou capítulos em livro: Nome(s) e iniciais do(s) autor(es) do ar­
(morada). Devem ser preparados, segundo a seguinte ordem, inician­ tigo (ou capítulo); título ou número do artigo ou capítulo, nomes e
do-se cada item numa página separada: 1. Página do título 2. Resumo iniciais dos editores, título do livro, cidade e nome da casa editora,
3. Introdução 4. Material e Métodos 5. Resultados 6. Discussão 7. Bi­ número de edição, ano de publicação, primeira e última páginas do
bliografia 8. Legendas 9. Figuras 10. Quadros. artigo. Exemplo: Zimmet P, Cameron A, Shaw J. The Diabetics Epide­
Todas as páginas devem ser numeradas no canto superior direito. A mic: Genes and Environment Clashing. In: Ganz M, editor. Prevention
numeração das referências bibliográficas, tabelas e quadros deve ser of Type 2 Diabetes. First edition. Chichester: John Wiley & Sons Ltd;
feita pela ordem de aparecimento no texto. 2005. p. 3-13.

> 1. PÁGINA DO TÍTULO > 5. LEGENDAS

Deve conter: Devem ser dactilografadas a dois espaços em folhas separadas e nu­
1. Título – Deve ser conciso, não conter abreviaturas e não ultrapassar meradas em sequência. As legendas devem ser numeradas em al­
os 120 caracteres. Poderá englobar um subtítulo com um máximo de garismos árabes pela sequência da citação no texto, e fornecerem a
45 caracteres. informação suficiente para permitir a interpretação da figura sem ne­
2. Autores – A identificação dos autores deve ser feita com a(s) ini­ cessidade de consulta do texto.
cial(is) do(s) primeiro(s) nome(s) e com o apelido. Deverá ser feita a
identificação completa do serviço, departamento ou instituição onde > 6. FIGURAS
o trabalho foi realizado.
3. Patrocínios – Deverão ser referidas todas as entidades que patroci­ Todas as figuras e fotografias devem ser enviadas em triplicado. A sua
naram o trabalho. identificação será feita através do número e do título da figura e das
4. Correspondência – Referir o nome, endereço, telefone, fax e e-mail iniciais do primeiro autor escritos num autocolante colocado no verso,
do autor a quem deve ser enviada a correspondência. que deverá ainda conter sinalização clara da sua parte superior. As le­
tras e símbolos que apareçam nas figuras não poderão ser manuscri­
> 2. RESUMO tas (utilizar de preferência símbolos/letras decalcadas), devendo ser
le­gíveis após eventual diminuição das dimensões da figura. O número
Os resumos são redigidos em Português e Inglês, não devendo ultra­ máximo de figuras e quadros será de 8 para os artigos originais e de
passar as 200 palavras no caso dos artigos originais e as 120 se se tratar 5 para os casos clínicos. As fotografias a cores devem ser enviadas im­
de um caso clínico. Devem ser organizados segundo os seguintes itens: pressas em papel; em alternativa, poderão ser enviadas em suporte
Introdução, Objectivos, Material e Métodos, Resultados e Conclusões. electrónico, desde que digitalizadas em alta definição.
Não devem conter abreviações, referências ou notas em rodapé.
> 7. QUADROS
> 3. TEXTO
Devem ser enviados em folhas separadas, dactilografados a 2 espaços,
Não deve ultrapassar as 12 páginas nos artigos originais e as 6 páginas identificados com o número de aparecimento no texto (algarismos ro­
nos casos clínicos. Deve incluir referência a aprovação da Comissão manos) e com um título informativo na parte superior.
de Ética da Instituição e aos métodos estatísticos utilizados. Todos os Na parte inferior serão colocadas todas as notas informativas (abre­
fármacos devem ser referidos pelo seu nome genérico, sendo even­ viaturas, significado estatístico, etc).
tuais referências a nomes comerciais, acompanhadas do nome, cidade
e país do fabricante, feitas em rodapé. > 8. REVISÃO
As abreviaturas, que são desaconselhadas, devem ser especificadas na
sua primeira utilização. Os parâmetros utilizados devem ser expres­ As provas tipográficas serão revistas pelos autores. Será claramente
sos em Unidades Internacionais, com indicação dos valores normais. A especificado o prazo para devolução das provas revistas. O não cum­
identificação das figuras deverá ser feita em numeração árabe, e a dos primento do prazo implica a aceitação pelos autores da revisão das
quadros em numeração romana. provas efectuada pelos serviços da Revista.

140

R.INT_Ecos EASD 49th_140-149.indd 140 10/23/13 12:17 AM


REVISTA INTERNACIONAL
Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 141-148 I N T E R N AT I O N A L R E V I E W

Ecos do “49th EASD Annual Meeting”


Realizou-se, entre 23 e 27 de Setembro de 2013, na Feira Internacional (p<0,001). More often had a history of stroke (p=0,005), angina
de Barcelona, o “49th EASD Annual Meeting”, maior congresso cientí­ (p<0,001), myocardial infarction (p<0,001) and peripheral arterial di­
fico a nível mundial dedicado à diabetes, que reune profissionais de sease (PAD) (p<0,001). During hospitalization, there were no signifi­
saúde e investigadores biomédicos. cant difference between the two groups concerning the complications
Nesta Revista Internacional, dedicada ao “49th EASD Annual Meet­ and the mortality rates. The in-hospital mortality rate of the DM P was
ing”, publicamos os “abstracts” dos trabalhos científicos apresentados 0,6%. There were no independent predictors of mortality. During the
por portugueses, ou em que participaram portugueses, por ordem de FU, DM P presented more RE-MI (20,9% vs 8,7%, p<0,001) and more
numeração no respectivo livro de “abstracts”. RHD (29,8% vs 20,9%, p=0,004). DM P had similar CVM (9,2% vs 7,1%,
p=0,253) but a higher OM (22,9% vs 16,2%, p= 0,011). In the DM P,
the independent predictors of CVM were the female gender (p=0,011),
previous myocardial infarction (p=0,010) and not performing percu­
taneous coronary intervention (PCI) (p=0,027). The independent pre­
dictors of OM were a history of PAD (p=0,042) and the left ventricle
ejection fraction <30% (p<0,001).
Conclusion: 1. DM P had more cardiovascular risk factors for coronary
disease. 2. During hospitalization, despite the higher risk associated
to DM P, there were no differences regarding complications and mor­
tality rates between the two groups. 3. There were no independent
in-hospital mortality predictors, probably due a low mortality rate of
the DM P. 4. After discharge, DM P had a higher risk of RE-MI and RHD,
with a higher OM, at the expense on non-CVM. 5. In the DM P, the in­
dependent CVM predictors were female gender, previous myocardial
infarction and not performing PCI. The independent predictors of OM
were a history of PAD and left ventricle disfunction.

59 85
Diabetes mellitus in patients with non-ST segment elevation Diabetes induces neuronal loss in the rostroventromedial me-
acute coronary syndrome - worse prognosis? dulla of streptozotocin-diabetic rats: the preventive effects of
an­tioxidant treatment
P. Sousa, N. Marques, J. Chin, J. Silva, J. Amado, W. Santos, A. Lopes,
E. Pi­na, J. Mimoso, S. Pereira, V. Brandão, I. Jesus C. Morgado1,2, A. Miranda1,3, D. Raposo1, J. Silva1,3, P. Pereira-Terra1,2,
Hospital of Faro, Portugal I. Tavares1,2
1
Department of Experimental Biology, Faculty of Medicine of Oporto,
Background and Aims: The aim of this study was to determine if Porto, Portugal, 2IBMC, Porto, Portugal, 3ECS, University of Minho,
diabetes mellitus (DM) patients (P) admitted in a Cardiology Depart­ Braga, Portugal
ment (CD) with non-ST segment elevation acute coronary syndrome
(NSTACS) have higher rates of complications and mortality, during Background and Aims: Diabetic neuropathy (DN) is one of the most
hospitalization and after discharge, compared with nondiabetics P. frequent complications of diabetes, presenting repercussions at the
We also sought to determine the predictors of mortality in DM P with somatossensory nervous system. Diabetes is associated with structural
NSTACS. and functional changes at brain areas involved in ascending transmis­
Materials and Methods: We conducted a retrospective, descriptive sion of nociceptive input, as the spinal cord and thalamus. This is likely
and correlational study, based on a prospective registry, involving P to concur to the exacerbated pain in patients with diabetic neuropa­
admitted with NSTACS between January 2006 to October 2010. We thy. The effects of diabetes on brain areas involved in descending pain
evaluated baseline characteristics, admission data, in-hospital events modulation are almost unknown. We previously reported a significant
- ventricular fibrillation, complete atrioventricular block, re-infarction increase in oxidative stress damage in the rostroventromedial me­
(RE-MI), major bleeding, stroke, mortality and follow-up (FU) events dulla (RVM), a key brainstem area involved in serotoninergic descen­
- RE-MI, stroke, readmission for heart disease (RHD) and mortality ding pain modulation, in the streptozotocin (STZ)-diabetic rat. Such
(cardiovascular - CVM and overall - OM)). Midterm monitoring was damage may impair serotonin-mediated pain inhibition and explain
conducted by a cardiologist (41 ± 16 months, FU rate 93%). We also the low analgesic efficacy of serotonin-selective reuptake inhibtitors
performed an univariate and multivariate analysis, in DM P, of in- (SSRIs) in diabetic neuropathic pain. In the present study we evalua­
hospital mortality and mortality (CVM and OM) during FU. Statistical ted the effects of a treatment with epigalocathechin gallate (EGCG),
analysis was performed using SPSS 13.0. Results: Of the 1086 P admit­ a potent antioxidant present in green tea, in oxidative stress damage,
ted with NSTACS, 357 (33%) had DM, of which 50 P (14%) were under neuronal density and number of serotoninergic neurons at the RVM
insulin therapy. The DM P were mostly women (p=0,016), hyperten­ of STZ- diabetic rats.
sive (p<0,001), had dyslipidemia (p<0,001), and were non-smokers Materials and Methods: Diabetes was induced in male Wistar rats by

141

R.INT_Ecos EASD 49th_140-149.indd 141 10/23/13 12:17 AM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 141-148 Ecos do “49th EASD Annual Meeting”

intraperitoneal injection of STZ (60 mg/kg). Control animals (CTR tracers were administered ([6,6-2H2] glucose i.v. and [U-13C]glucose
group) received the vehicle solution. During the 10 weeks post-injec­ per os) to measure ingested glucose appearance (RaO) and endo­
tion, a group of STZ rats received EGCG (2g/l) in drinking water while genous glucose production (RaE). Three major components of ß-cell
the other experimental groups received only water (untreated-STZ function, namely ß-cell glucose sensitivity (ßGS), rate sensitivity (ßRS)
and CTR). Mechanical hyperalgesia and tactile allodynia were evalua­ and potentiation (POT) were evaluated by modeling insulin secretion
ted using the paw pressure test and the plantar aesthesiometer, res­ (estimated from C-peptide deconvolution) and plasma glucose va­lues
pectively, before treatment onset and after its completion. Oxidative according to Mari and Ferrannini. Insulin sensitivity was estimated
stress damage was quantified by densitometry in RVM sections im­ u­sing the OGIS method and AUC of glucose clearance.
munoreacted against 8-OHdG, a marker of acid nucleic oxidative da­ Results: In healthy subjects, the mixed protein/lipid preload de­
mage, and neuronal density was determined by counting the number creased plasma glucose peak levels at 60 min into the OGTT (6.3±0.2
of cells immunoreactive to Neu-N (a marker of neurons). Serotoni­ vs 7.7±0.3 mmol/L, p<0.001). In the IGT group, it decreased 2-h plas­
nergic neurons were identified by immunodetection of tryptophan ma glucose levels from 8.9±0.3 to 7.8±0.4 mmol/L (p<0.01) as well
hydroxylase (TpH-IR; enzyme involved in serotonin synthesis). as the whole glucose profile (AUC, p<0.00001). In both groups, this
Results: All STZ rats developed hyperglycemia, which was not affected improvement in glucose tolerance, which was proportional to the de­
by EGCG treatment. EGCG ameliorated the mechanical hyperalgesia gree of its derangement (AUC vs AUC change, r=0.60, p<0.002), was
and tactile allodynia detected in untreated-STZ rats. The untreated- associated with an enhancement of ßRS (p<0.02), a reduction in oral
STZ rats presented increased oxidative stress damage and decreased glucose appearance (RaO, p<0.01 only in IGT), a leftward shift of ßGS
neuronal density at the RVM which was accompanied by a reduction (p<0.002), a small increment in insulin sensitivity as estimated by both
in the number of serotoninergic neuron. EGCG treatment prevented OGIS (p<0.05) and by tracer-determined glucose clearance (p<0.04).
those changes. Endogenous glucose production similarly declined during the two
Conclusion: Diabetes induces increased oxidative stress and loss of OGTTs in both groups (p<0.006). In neither group were the glucagon,
neurons in the RVM. The decrease neuronal density detected in the NEFA, PP and GLP-1 responses affected by the preload, while GIP se­
RVM of STZ rats may, in part, be due to the reduced numbers of se­ cretion was increased (p<0.001) in both.
rotoninergic neurons. EGCG elicited neuroprotective effects during Conclusion: A small mixed protein/lipid preload significantly im-
diabetes by preventing the oxidative stress and loss of RVM neurons, proves glucose tolerance, especially in subjects with IGT. This effect
namely of serotoninergic neurons involved in descending modula­ results from the combination of a reduction in glucose absorption
tion of nociceptive transmission, which may explain the analgesic ef­ and a minor improvement in both insulin secretion and peripheral in-
fect here reported. EGCG could be a promising agent in preventing sulin sensitivity. Simple dietetic recommendations have the potential
diabetes-induced neurodegeneration and pain. to produce a significant reduction of postprandial hyperglycaemia in
pre-diabetic patients.
229
Effects of a small protein and lipid preload on oral glucose to­ 283
lerance in subjects with normal and impaired glucose tolerance Seasonal variation in haemoglobin A1c in adult Portuguese pa-
tients
D. Trico’1,2, A. Tulipani2, S. Baldi2, S. Trifiro’2, S. Frascerra2, M.P. Macedo3,
A. Mari4, E. Ferrannini2, A. Natali2 M.T.R. Pereira, D. Lira, C. Bacelar, A.C. Carvalho
1
Scuola Superiore Sant’Anna, Pisa, Italy, 2Dipartimento di Medicina Cli­ Division of Endocrinology, Diabetes and Metabolism, Hospital de San­
nica e Sperimentale, Università di Pisa, Pisa, Italy, 3Universidade NOVA to António - Centro Hospitalar do Porto, Porto, Portugal
de Lisboa, Lisboa, Portugal, 4CNR, Padova, Italy
Background and Aims: Glycated Hemoglobin (HbA1c) reflects ave­
Background and Aims: In normal subjects, a protein preload has rage glycemic control of the last 120 days and is used as a predictor of
been shown to reduce the AUC of plasma glucose following glucose complications of diabetes mellitus. It was suggested that HbA1c sea­
ingestion by reducing hepatic insulin extraction. In type 2 diabetic pa­ sonal fluctuations can be directly related to different biological, geo­
tients, a preload of either proteins or lipids has been shown to improve graphical and cultural parameters. The aim of this study was to evalua­
the plasma glucose response to carbohydrate ingestion by slowing te of the HbA1c seasonal variation, starting from assays performed in a
gastric emptying and stimulating GLP-1 release. In those studies, the large cohort of patients over a period of 5 years (2008 to 2012).
preload was either oil or a protein formula, neither glucose fluxes nor Materials and Methods: It was performed a retrospective analysis of
insulin sensitivity or ß-cell function were evaluated and the degree of all HbA1c assays performed to patients evaluated at a tertiary care uni­
glucose intolerance was not taken into account. Our aim was to eva­ versity hospital during the period between 1st January 2008 and 31st
luate the effects on glucose fluxes, insulin secretion and peripheral in­ December 2012. Both patients younger than 18 and HbA1c extreme
sulin sensitivity of a small mixed protein/lipid preload in subjects with values (<3% and/or >18%) were excluded.
normal (NGT) and impaired (IGT) glucose tolerance. Results: We obtained 62,384 HbA1c measurements during the period
Materials and Methods: Twenty-five volunteers (12 NGT and 13 IGT) defined for the study. It was observed a cyclic seasonal fluctuation
were enrolled (13 males, age 38±3 years, BMI 25.7±1.0 kg/m2). On two consistently repeated over the 5 years. Higher mean HbA1c levels were
separate days, after an overnight fast, subjects were randomised to found in winter months (January-February), while lower mean HbA1c
a preload of either 500 ml of water (control) or Parmesan cheese (50 levels were found in the warm summer months (August-September),
g) plus a boiled egg with 300 ml of water; 30 min later, they under­ with an increasing level tendency from October (p <0,0001, Kruskal-
went a standard 75 g OGTT. Timed arterialised blood samples were Wallis test). There was a significant HbA1c maximal amplitude value
collected to measure plasma glucose, insulin, C-peptide, GLP-1, GIP, of 0.33% (p <0,0001) between February-September, with mean HbA1c
glucagon, NEFA and pancreatic polypeptide (PP). Two stable glucose values fluctuations between 6.80% and 7.13%.

142

R.INT_Ecos EASD 49th_140-149.indd 142 10/23/13 12:17 AM


Ecos do “49th EASD Annual Meeting” Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 141-148

Conclusion: Seasonal HbA1c patterns were previously described in sing epidemics. PREVADIAB, the first Portuguese nationwide study
other studies and the explanation seems to be multifactorial (seasonal on the prevalence of diabetes, showed that 11,7% of the population
and festivities-related high calorie food intake, secondary insulin re­ had diabetes; and nearly 25% presented at least one kind of defect
sistance, thermal effect on the metabolic axis, among others). The of glycemic profile encompassed by IFG, IGT, or both (“prediabetes”).
clinical importance of our findings is related to their practical implica­ Five years after the initial study, we aimed to evaluate the evolution
tions, particularly regarding the need to improve the interpretation of of glycemic control and the prevalence and impact of fatty liver on a
HbA1c values. Restriction of HbA1c assay to specific times of the year follow-up study.
may reduce the seasonal variation of physiological responses. Materials and Methods: People evaluated on the first PREVADIAB as
nondiabetics (either designated “normal” or “prediabetes” based on
303 both fasting glycemia and 2h post-load challenge) were called for re­
Associations of genetic variants in thioredoxin (TXN) and mi- assessment. Thus, subjects aged 23-83 years, from 33 Health Centers,
tochondrial thioredoxin reductase (TXNRD2) genes with kidney were recruited 5 years after the original call. An OGTT was performed
disease in type 1 diabetes to evaluate glycemic control, and biochemical parameters were quan­
tified. Fatty liver status, and peripheral and hepatic insulin sensitivity
T.A. Patente1, M.B. Monteiro1, M. Queiroz1, M. Nery1, M.J. Azevedo2, were estimated through surrogate indexes already validated on hu­
L.H. Canani2, E.J. Pavin3, M.C. Parisi3, U.F. Machado4, M. Passarelli5, D. man studies (FLI, ISI, and HIR).
Giannella-Neto6, M.L.C. Côrrea-Giannella1 Results: The present cohort consisted of 519 people, representative of
1
Endocrinology, Medical School of University of São Paulo, São Paulo, the overall distribution observed on the first study. The prevalence of
Brazil, 2Endocrinology, Federal University of Rio Grande do Sul, Porto diabetes, after only 5 years follow-up, was 9,6%. Additionally, IFG was
Alegre, Brazil, 3Endocrinology, Medical School from State University of 4,0%, IGT was 13,1%, and IFG+IGT was 3,3%, to a cumulative indication
Campinas, Campinas, Brazil, 4Physiology and Biophysics, Biomedical of “prediabetes” of 20,4%. In relation to the deterioration of glyce­
Sciences Institute of University of São Paulo, São Paulo, Brazil, 5Medi­ mic control, 60% of individuals initially assessed as IFG+IGT have pro­
cal School of University of São Paulo, São Paulo, Brazil, 6UNINOVE, São gressed to diabetes, while it happened in around 20% of IGT and IFG.
Paulo, Brazil Of normal individuals only 5% progressed to diabetes (T2D). Mean
Fatty Liver Index (FLI) was found to be increasingly higher through­
Background and Aims: Deregulated cellular redox balance is a key out disglycemic worsening, in comparison with normal glycemic con­
factor in the development of diabetic nephropathy and impairment trol (FLI: 44.5±1.3 for normal subjects versus 56.4±3.1 for IGT, p<0.01;
of the thioredoxin (Trx) system has already been demonstrated. This 62.5±4.5 for IFG, p<0.05; 64.3±5.6 for IFG+IGT, p<0.05; 70.2±3.4 for
thiolreducing system comprises Trx (encoded by TXN), thioredoxin T2D, p<0.001). In terms of prevalence, fatty liver condition was identi­
reductases (the mitochondrial isoform is encoded by TXRD2) and a fied on 66.0% of individuals with diabetes, and in almost half of people
natural Trx inhibitor (encoded by TXNIP). In the present study we ana­ with “prediabetes” (47.0% of IFG+IGT, 47.6% of IFG, and 44.1% of IGT).
lyzed associations of single nucleotide polymorphisms (SNPs) in TXN, Surprisingly, fatty liver was nonetheless identified on 28.9% of people
TXNRD2 and TXNIP with kidney disease in type 1 diabetes patients. with normal glycemic control. Hepatic insulin resistance was shown
Materials and Methods: IThree SNPs, rs2301242 (promoter region to correlate directly with FLI progression (r=0.631). Also, it showed a
of TXN), rs3788319 (promoter region of TXNRD2) and rs7211 (3’UTR correlation with fasting hyperglycemia (r=0,330), and, even stronger,
of TXNIP) were genotyped in 448 patients with type 1 diabetes (44.6% with 2h post-OGTT hyperglycemia (r=0.543), p<0.0001 for all. This
with diabetic nephropathy) by real time PCR. seems consistent with the decrease in peripheral insulin sensitivity
Results: The minor allele A of rs2301242 in TXN was associated with observed in all disglycemic groups in relation to normal individuals
established/advanced nephropathy in the overall population (OR (from 271.6±6.1 for normal to 200.4±20.1 for IFG, p<0.05; 143.0±3.0
2.30, CI95% 1.11 - 4.81, p=0.0260). The minor allele A of rs3788319 in for IGT, p<0.001; 121.5±7.2 for IFG+IGT, p<0.001; and 122.5±5.3 for
TXNRD2 gene was associated with a low estimated glomerular filtra­ T2D, p<0.001).
tion rate (eGFR) in men (p=0.0413) and the genotype AA was associa­ Conclusion: The liver has a central role in energy homeostasis, and
ted with established/advanced nephropathy in the overall population should be expected to influence not only hepatic glucose fluxes but
(OR 1.50, CI95% 1.04 - 2.16, p=0.0284). No associations were found for also whole-body glucose homeostasis. Here, we have shown that fatty
rs7211 in TXNIP. liver is a prevalent condition in a previously non-diabetic population,
Conclusion: The SNPs rs2301242 in TXN and rs3788319 in TXNRD2 and that it is strongly related to a worsening in glycemic control, both
modulate the risk for renal disease in the studied population of type 1 fasting and postprandial. This leads us to believe that one third of the
diabetes patients and require validation in independent cohorts. normoglycemic population may be particularly prone to develop dis­
glycemia due to a present condition of fatty liver.
427
Fatty liver disease accompanies loss of glycaemic control on the 603
5 years follow-up of a previously non-diabetic population Can carotid sinus nerve resection be a therapeutic approach for
the treatment of insulin resistance?
R.T. Ribeiro1,2, M.P. Macedo1,3, L. Gardete-Correia1,2, R. Duarte1,2, J.M.
Boa­vida1, I. Correia1,2, Z. Peerally1, F.O. Martins3, J.F. Raposo1,3 M.J. Ribeiro, J.F. Sacramento, M.P. Guarino, S.V. Conde
1
ERC - Education and Research Center, APDP - Diabetes Portugal, Lis­ Farmacologia, CEDOC, Faculdade Ciências Médicas, Universidade No­
boa, Portugal, 2SPD - Portuguese Society of Diabetologia, Lisboa, Por­ va de Lisboa, Lisboa, Portugal
tugal, 3CEDOC - Faculty of Medical Sciences, Lisboa, Portugal
Background and Aims: The carotid bodies (CBs) are peripheral che­
Background and Aims: Diabetes and fatty liver disease are ri­ moreceptors which respond to its classical stimulus, hypoxia, increa­

143

R.INT_Ecos EASD 49th_140-149.indd 143 10/23/13 12:17 AM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 141-148 Ecos do “49th EASD Annual Meeting”

sing the action potential frequency in their sensorial nerve, the carotid active assay and compared to the effects of insulin and bis(maltolato)
sinus nerve (CSN), leading to an increase in minute ventilation and oxovanadium (IV), BMOV. W and GK rats were treated daily, during
sympathetic outflow. Recently, our lab demonstrated that CB is in­ 21 days, with VO(dmpp)2 (44 μg/kg) to show its effects on glycemia,
volved in aetiology of insulin resistance (IR) and that CSN resection OGTT and insulin signalling pathway using SDS-PAGE.
prevents the development of IR in rats fed with hypercaloric diets Results: In adipocytes from both W and GK rats the increase of glucose
through sympathoadrenal overactivation. Herein, we tested if blocka­ uptake, relative to basal value, achieved by 100 μmol/l VO(dmpp)2 (193
de of CB activity through CSN resection reverses IR induce by high ± 20% and 254 ± 21%, respectively) and by 500 μmol/l BMOV (152
sucrose (Hsu) diet. ± 23% and 219 ± 37%, respectively) were similar to an insulin con­
Materials and Methods: Four groups of Wistar rats, age 9-12 weeks centration of 10 ng/ml (176 ± 14% and 201 ± 29%, respectively) con­
were used. The control group was fed a sham diet ((7.4% fat+75% sidered as the normal blood insulin concentration after a meal. Non-
carbohydrate (4% sugar) + 17% protein) and the HSu group was fed toxic concentrations of 100 and 500 μmol/l of VO(dmpp)2 promoted,
35% sucrose in drinking water. CSN bilateral resection in HSu rats was respectively, glucose uptake enhancement of 193 ± 20% and 322 ±
performed after 28 days of hypercaloric diet under ketamine (30mg/ 16% (1.9 and 3.2 times higher, respectively, p<0.01 and p<0.001, rela­
kg)/xylazine (4mg/kg) anaesthesia and brupenorphine (10g/kg) anal­ tive to basal value) in W adipocytes and 254 ± 21% and 424 ± 37%
gesia. These animals were maintained under the hypercaloric diet af­ (2.5 and 4.2 times higher, respectively, p<0.001 and p<0.001, relative
ter CSN denervation. Rats submitted to CSN bilateral resection were to basal value) in GK adipocytes. The same concentrations of BMOV
compared with animals submitted to the same surgical procedure produced a lower glucose uptake effect in both types of adipocytes
but in which CSN was left intact (sham). Fasting glycemia and insulin (100 μmol/l: 111 ± 20%, not significant; 500 μmol/l: 153 ± 23%, p<0.05,
sensitivity were evaluated in conscious rats prior to CSN denervation relative to basal value for W adipocytes, vs 100 μmol/l: 145 ± 26%,
and once a week after CSN resection, through an insulin tolerance test p<0.05 and 500 μmol/l: 219 ± 37%, p<0.01, relative to basal value for
(ITT). After 3 weeks, rats were anaesthetized with pentobarbital and GK adipocytes). Thus, VO(dmpp)2 shows in W and GK rat adipocytes
blood pressure, body weight, visceral and total fat were determined. a better efficiency on glucose uptake compared to BMOV (p<0.01 or
Also, blood was collected by heart puncture to quantify insulinemia, less), which is similar or even higher than that of insulin. In vivo study
free fatty acids and triglycerides. shows that after 8 days of treatment, VO(dmpp)2 improved glycemia
Results: Sham procedure did not modify any of the parameters eva­ in GK rats compared to GK rats treated with placebo (8.4 ± 0.3 vs 10.1
lua­ted. Insulin sensitivity diminished in HSu rats as the constant of ± 0.2 mmol/l, p<0.001). After 21 days of treatment, the body weights
the insulin tolerance test (KITT) decreased significantly to 2.46±0, 30 of W and GK rats were not changed by VO(dmpp)2 but this compound
from a control value of 4, 39± 0,29. Basal glycemia was significantly improved glucose tolerance profile in GK rats compared to GK rats
increased in HSu rats (control = 83.33±1.81 mg/dL; HSu = 114.6±12.6 treated with placebo (13.1 ± 0.5 vs 20.6 ± 0.7 mmol/l/min, p<0.001),
mg/dL). One week after CSN resection, insulin sensitivity increased in despite no increase in plasma insulin levels before and during OGTT.
HSu rats and hyperglycemia was completely reversed to control va­ In W rats, OGTT was not changed by VO (dmpp)2 treatment, however,
lues. Two weeks after CSN resection normoglycemia was maintained plasma insulin levels were significantly lower in animals treated with
and insulin sensitivity was completely restored to control values. From this compound when compared to placebo group (0 min: 7.1 ± 1.8 vs
the 2nd to 3rd week normoglycemia and insulin sensitivity were main­ 20.6 ± 3.1, p<0.01; 30 min: 29.8 ± 3.7 vs 50.9 ± 7.0, p<0.05; and 120 min:
tained, though the animals continued to be submitted to the hyper­ 7.6 ± 1.0 vs 21.2 ± 5.5 μU/ml, p<0.05). In W and GK rats VO (dmpp)2
caloric diet. Weight, total and visceral fat were not modified by CSN significantly promoted IRS2 expression (p<0.05) and phosphorylated
resection. HSu diet significantly increased blood pressure and CSN AKT (p<0.001 and p<0.05, respectively, relative to respective controls)
resection reversed this increase. and in GK rats reduced the increase of PTP1B expression (p<0.001, rela­
Conclusion: Our results demonstrate that CSN resection reverses tive to GK treated with placebo) which indicates that these proteins
diet­induced HT and IR and may represent a potential therapeutic ap­ are targets of VO(dmpp)2 action.
proach for the treatment of the metabolic syndrome. Conclusion: VO(dmpp)2 shows anti-diabetic properties by improve­
ment on glucose uptake, glycemia and OGTT by interaction with the
605 insulin signalling pathway. These therapeutics properties show that
Therapeutic properties of the vanadium compound, VO(dmpp)2, VO(dmpp)2 is a promising molecule for novel therapy of type 2 dia­
by ex vivo and in vivo studies in diabetic GK rats betes.

J. Pelletier1, N. Domingues2, C.-G. Ostenson1, M.M.C. Castro2 671


1
Dept of Molecular Medicine and Surgery, Karolinska Institutet, Stock­ Hypothalamic nitric oxide regulates peripheral insulin bioavai­
holm, Sweden, 2Dept of Life Sciences, University of Coimbra, Coimbra, lability
Portugal
F.O. Martins1,2, S. Tovar3, S. Pérez-Sieira3, D. Gonzalez-Touceda3, J.G.
Background and Aims: Intensive research has been carried out Jones1,4, A. Natali5, C. Diéguez3, M. Macedo4,6
to find compounds to substitute insulin in treatment of diabetes. 1
Centre for Neurosciences and Cell Biology, University of Coimbra,
The bis(1,2-dimethyl-3-hydroxy-4-pyridinonato)oxovanadium (IV), Lisbon, Portugal, 2Institute for Interdisciplinary Research, University
VO(dmpp)2, has shown anti-diabetic effects by ex vivo study in Wistar of Coimbra (IIIUC), Coimbra, Portugal, 3Centro de Investigación de
(W) rats and in vivo study in obese Zucker rats. We aimed to confirm Medicina Molecular y Enfermedades Crónicas (CIMUS), Universidad de
the therapeutic properties of VO(dmpp)2 in non-obese diabetic Goto- Santiago de Compostela, Santiago de Compostela, Spain, 4Portuguese
Kakizaki (GK) rats. Diabetes Association (APDP-ERC), Lisbon, Portugal, 5Metabolism Unit,
Material and Methods: The effects of VO(dmpp)2 on glucose uptake Department of Internal Medicine, University of Pisa, Pisa, Italy, 6Centro de
were assessed in W and GK rat adipocytes using [3-3H]-glucose radio­ Estudos de Doenças Crónicas, New University of Lisbon, Lisbon, Portugal

144

R.INT_Ecos EASD 49th_140-149.indd 144 10/23/13 12:17 AM


Ecos do “49th EASD Annual Meeting” Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 141-148

Background and Aims: The bioavailability of insulin for peripheral Background and Aims: Non-alcoholic fatty liver disease (NAFLD) is
tissues is defined by the rates of insulin secretion and hepatic insu­ associated with obesity and insulin resistance and is a risk factor for
lin clearance. Human studies demonstrated that NO is an important hepatocellular carcinoma. The physiological mechanisms underlying
regulator of insulin clearance. Whether the control of insulin clearance NAFLD are unclear, although thought to result from impaired lipid ho­
is solely dependent on hepatic mechanisms or also relies on hypo­ meostasis. Emerging data suggest that Rho-kinase 1 (ROCK1) plays an
thalamic regulation is uncertain. Hypothalamus is a critical regulator important role in regulation of glucose metabolism and insulin sensi­
of energy metabolism and endocrine functions. Therefore, we hypo­ tivity. However, hepatic functions of ROCK1 have not been addressed.
thesized that NO production by central/hypothalamic axis regulates Autophagy is a highly regulated process in eukaryotic cells and is de­
insulin clearance and therefore peripheral insulin bioavailability. terminant for cellular homeostasis. The microtubule-associated pro­
Material and Methods: Male Wistar rats were submitted to brain tein light chain 3 (LC3) is a key molecule of the autophagy signalling
surgery using a stereotaxic apparatus to the implantation of the pathway. Evidence shows that autophagy plays a role in lipid metabo­
simple, for intracerebroventricular (i.c.v.), or the double cannulas, for lism. However, nothing is known about hepatic ROCK1 functions in the
nucleus specific infusion. After the bregma localization the follow­ autophagy signalling pathway. This study determined the physiologi­
ing coordinates were used: Lat: 1.2mm, AP: 1.0mm for lateral ventricle cal role of hepatic ROCK1 in regulating lipid metabolism in conjunc­
(i.c.v.), AP: -1.8mm, Lat: +/- 0.4mm, DV: -8.0mm for paraventricular tion with autophagy signaling.
nucleus (PVN) and AP: -2.52mm, Lat: +/- 0.6mm, DV: -9.2mm for Materials and Methods: Liver-specific ROCK1-deficient mice (LKO)
ventromedial hypothalamus (VMH). Bolus infusions of 250ug/2uL of fed a high-fat diet were studied. Hepatic lipid metabolism was mea­
L-NAME (or 2uL of saline in the control animals) were performed in sured by NMR and immunohistochemistry. De novo lipogenesis was
each side of the brain. An oral glucose tolerance test (OGTT) (2g/kg) determined by using U-14C lactic acid as an indicator of lipogenic rate.
was performed 45min after L-NAME bolus infusion. Glycemia was Autophagy was assessed by immunoblotting of Beclin1, Atg7 and LC3
monitored and blood samples were collected. Insulin and cpeptide I/II in fast versus fed state.
levels in the plasma were quantified. Insulin clearance was evaluated Results: After 6-12 weeks of high-fat diet, hepatic triglyceride was
by the ratio between plasma c-peptide and insulin areas levels across decreased in LKO (54.53±2.58 vs. 40.37±3.49 mg/g, p<0.05), as well
the OGTT. as cholesterol (4.96±0.58 vs. 2.86±0.81 mg/g, p<0.05), compared with
Results: Acute L-Name infusion did not affect glycaemia either basal control mice. Histological analysis also indicated reduced hepatic
or upon the OGTT (AUC Ctrl vs. LN: i.c.v.: 949.8 ± 36.8 vs. 921.0 ± 18.2, steatosis by ROCK1 deletion. The physiological mechanism underly­
n.s.; PVN: 960.5 ± 30.3 vs. 944.4 ± 11.0, n.s.; VMH: 1015.0 ± 68.9 vs. ing this is, in part, due to decreased lipogenesis; loss of ROCK1 caused
994.4 ± 44.2, n.s.). After the glucose bolus, both i.c.v. and PVN L-NAME a decrease in lipogenic rate (10.46±0.48 vs. 6.75±0.53 nmol/mg/hr,
treated animals demonstrated a decrease in plasma insulin levels (AUC p<0.001), LKO mice have decreased hepatic triglycerides fractional
Ctrl vs. LN: i.c.v.: 14.9 ± 0.8 vs. 10.1 ± 1.4, p<0.5; PVN: 14.8 ± 2.3 vs. 10.3 synthetic rate in (100.0±9.91% vs. 66.86±7.61%, p<0.05). To determine
± 0.9, p<0.5; VMH: 9.3 ± 1.4 vs. 9.6 ± 1.6, n.s.) with no alterations in whether decreased lipogenesis in LKO could be due to activation of
c-peptide levels (AUC Ctrl vs. LN: i.c.v.: 13155 ± 984 vs. 13482 ± 1445, autophagy, protein levels of autophagy signaling components were
n.s.; PVN: 10167 ± 756 vs. 10596 ± 922, n.s.; VMH: 9744 ± 1550 vs. 10010 measured. Hepatic Beclin1 and Atg7 were unchanged by ROCK1 dele­
± 1039, n.s.). Insulin clearance was calculated and both i.c.v. and PVN tion. Levels of LC3-I protein in the fast state were decreased by ~40%
but not VMH nitric oxide synthesis suppression resulted in an increase (p<0.05) in LKO mice, compared with control mice. This implies eleva­
in insulin clearance after the glucose bolus (AUC Ctrl vs. LN: i.c.v.: 8574 tion of the autophagic-vesicle associated form LC3-II, suggesting an
± 534 vs. 11510 ± 632, p<0.5; PVN: 6514 ± 338 vs. 8044 ± 498, p<0.5; increase of the hepatic autophagic flux in LKO mice.
VMH: 8118 ± 597 vs. 8518 ± 1234, n.s.). Conclusion: Our data demonstrate that targeted deletion of ROCK1
Conclusion: Together these results reveal that after a glucose bolus, in liver protects against diet-induced hepatosteatosis in mice. These
and not in the fasting state, increased levels of nitric oxide in the hypo­ effects are most likely due to decreased de novo lipogenesis in hepa­
thalamic/PVN region lead to decreased insulin clearance supporting tocytes. Furthermore, increased autophagic flux in the liver could be
the hypothesis that hypothalamic function is a regulator of peripheral involved in this regulation. Together, our data identify hepatic ROCK1
insulin bioavailability. as important regulator of lipid metabolism in the context of the au­
tophagy signalling pathway.
779
Deletion of hepatic ROCK1 prevents steatosis by reducing lipid 816
synthesis and activating autophagic flux in diet-induced obese Dietary lipids do not contribute to fructose induced hepatic tri-
mice glyceride accumulation in mice

I.S. Lima1,2, H. Huang1, S.-H. Lee1,3, I. Jarak4, J.G. Jones4,5, M.P. Macedo2,5, P.M. Nunes1, A.J. Wright1, A. Veltien1, J.J.A. van Asten1, C.J. Tack2, J.G.
Y.-B. Kim1 Jones3, A. Heerschap1
1
Division of Endocrinology, Diabetes and Metabolism, Beth Israel Dea­ 1
Radiology, Radboud University Nijmegen Medical Centre, Nijmegen,
coness Medical Center, Harvard Medical School, Boston, MA, USA, Netherlands, 2General Internal Medicine, Radboud University Nijme­
2
CEDOC, Faculdade de Ciencias Medicas, Universidade Nova de Lis­ gen Medical Centre, Nijmegen, Netherlands, 3Centre for Neuroscien­
boa, Lisboa, Portugal, 3Division of Endocrinology and Metabolism, ces and Cell Biology, University of Coimbra, Coimbra, Portugal
Department of Internal Medicine, The Catholic University of Korea,
Seoul, Korea, Republic of, 4Center for Neuroscience and Cell Biology, Background and Aims: Consumption of western diets rich in fat and
Department of Zoology, University of Coimbra, Coimbra, Portugal, fructose - present in soft-drinks - contribute to excessive energy in­
5
Portuguese Diabetes Association Education and Research Center take and development of non-alcoholic fatty liver disease (NAFLD). In
(APDP-ERC), Lisboa, Portugal these patients, fructose intake is associated with alterations on hepatic

145

R.INT_Ecos EASD 49th_140-149.indd 145 10/23/13 12:17 AM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 141-148 Ecos do “49th EASD Annual Meeting”

high energy phosphate (HEP) content. Hepatic fructose metabolism Background and Aims: The calcineurin inhibitors cyclosporin A (CsA)
bypasses key regulatory steps, and “fructolysis” represents an unres­ and tacrolimus (FK), are immunosuppressive agents (IAs) frequently
trained ATP use and a constant supply of acetyl-CoA carbons for de used after transplantation and they are associated with several side ef­
novo lipogenesis (DNL). Fructose also stimulates the enterocyte se­ fects including hyperglycaemia and new-onset diabetes. However, the
cretion of apoB48 and chylomicron formation, which altogether may mechanism for glucose intolerance is not known and the direct effects
expose the liver to greater dietary lipid levels. The aims of this study of the IAs on insulinresponsive cells including human adipocytes have
were to test in vivo, these hypotheses: 1- lipogenic effects of fructose not been well characterized previously.
are independent of caloric intake; 2- dietary fructose supply disturbs Materials and Methods: Glucose uptake and protein expression of
hepatic HEP content; 3- fructose promotes greater dietary lipid ab­ insulin signalling proteins were measured in human isolated adipo­
sorption to hepatic triglyceride (HTG) pool. cytes, obtained from 42 non-diabetic volunteers, incubated in the
Materials and Methods: C57Bl6J mice (n=29) were fed with 60% absence and presence of either CsA or FK and insulin (1000 μU/mL).
fructose or glucose diets for 8 weeks. Caloric intake was determined Effects of either CsA or FK on cellular distribution of GLUT4 in hu­
for 24h in metabolic cages. Intraperitoneal glucose and insulin tests man preadipocytes differentiated into adipocytes and in 3T3-L1 adi­
were performed (1.5g/Kg and 0.75U/Kg respectively). Abdominal pocytes, was evaluated by immunohistochemistry and fluorescence
adipose tissue (WAT) volume was determined by magnetic resonance microscopy. In addition, effects of CsA or FK on endocytotic and exo­
imaging (MRI) at 0, 4 and 8 weeks of diets. Intracellular lipid pools cytotic rates of the GLUT4 transporter were studied in L6 myoblasts
in muscle and liver were determined at the same dietary time points stably expressing GLUT4 with an exofacially directed Myc-tag, by an
by 1H magnetic resonance spectroscopy (MRS). Intramyocellular lipids enzyme-linked immunosorbent-like assay.
(IMCL) were normalized to total creatine (tCr) and HTG was normali­ Results: CsA and FK had a concentration dependent-inhibitory effect
zed to water (%). Hepatic HEP content was determined by 31P MRSI on basal and insulin-stimulated 14C-glucose uptake in human adipo­
after 6 weeks of diets. Dietary lipid incorporation into HTG was deter­ cytes (up to 40% reduction, p<0.05). Although the phosphorylation
mined 5h after a bolus of [U-13C]algal lipids (5g/Kg) by 1H{13C}MRS. of the insulin receptor at Tyr1146 was inhibited by CsA and FK, phos­
Contribution of DNL to HTG pool was determined by 2H nuclear mag­ phorylation and/or protein levels of insulin signalling proteins (IRS1/2,
netic resonance (NMR) using 2H2O as tracer (21g/Kg). p85-PI3K, PKB, AS160, mTORC1) and GLUT4 and 1 content were not
Results: Caloric intake was similar between the fructose and glu­ changed. Furthermore, CsA or FK reduced the insulin-induced redis­
cose fed mice (0.31±0.08 vs 0.47±0.13Kcal/gbw/24h). After 8 weeks tribution of GLUT4 to the cell surface of differentiated human adipo­
of diet glucose tolerance was decreased in both mice groups (p<0.05 cytes (~60%, p<0.05) and 3T3-L1 adipocytes. In addition, CsA and FK
vs baseline). Glucose clearance was similar between the mice groups. similarly reduced the cell surface levels of GLUT4 in L6 muscle cells and
Throughout the course of the diets, glucose and fructose fed mice increased the GLUT4 endocytosis rate, by up to 30%, with no change
had a constant WAT volume of ~4%. IMCL/tCr ratios were unalte­ in exocytosis rate.
red after 8 weeks of diet, range [1.4-1.9] for fructose and [1.5-2.0] for Conclusion: In conclusion, these results suggest that therapeutic con­
glucose fed mice. HTG levels were more elevated after 8 weeks of centrations of cyclosporin A and tacrolimus, inhibit glucose uptake by
fructose (3.2±2.0% vs 7.8±2.4%) than after glucose diet (2.4±1.2% removing GLUT4 from the cell surface via increased endocytosis and
vs 4.8±2.5%), p<0.05. The contribution of dietary lipids to the HTG this is independent of the insulin signalling cascade. The described ef­
pool was 1.6±0.8% vs 2.2±1.1%, respectively for fructose and glucose fects of immunosuppressive agents in adipocytes and other insulin-
fed mice. Simultaneously, DNL contributed to 2.5±1.5% vs 1.1±0.7% of sensitive cells may contribute to the development of insulin resistance
HTG pool in fructose and glucose fed mice, p=0.01. Hepatic ATP levels and new-onset diabetes associated with immunosuppressive therapy.
were 1.9±1.1mM vs 1.6±1.2mM and inorganic phosphate levels were
2.9±0.7mM vs 3.0±1.4mM for fructose and glucose fed mice respec­ 831
tively. These data show that fructose diet did not alter HEP content Anti-oxidant and anti-inflammatory properties of HDL are in-
differently from glucose diet. hibited by apolipoprotein A-I antibodies isolated from type 2
Conclusion: Independently of the caloric intake, fructose diet spe­ diabetes patients
cifically induced HTG accumulation but abdominal adipose tissue and
IMCL levels remained unaltered. HTG accumulation is better explained J.R. Batuca1, F. Paula1,2, C. Favas2, M.C. Amaral1,2, J. Delgado Alves1,2
by fructose stimulation of DNL rather than by an increase of dietary 1
Farmacologia, CEDOC, Faculdade de Ciências Médicas, Universidade
lipid absorption. Fructose diet did not alter hepatic HEP content. Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal, 2Serviço de Medicina IV, Hospital
Fernando da Fonseca, Amadora, Portugal
827
Cyclosporin A and tacrolimus impair dynamics of GLUT4 traffic Background and Aims: Several evidences points the a role for islet
in insulin-responsive cells inflammation in pathogenesis of type 2 diabetes. HDL suppression
of the lipid induced macrophage inflammation enhances insulin sen­
M.J. Pereira1,2, J. Palming3, M. Rizell4, M. Aureliano5, E. Carvalho2, M.K. sitivity. Moreover infusions of recombinant HDL in patients with type
Svensson3, J.W. Eriksson1,6 2 diabetes increase the anti-inflammatory properties of the resulting
1
Uppsala University, Department of Medical Sciences, Uppsala, Swe­ plasma HDL fraction. Recently, our group identified the presence of an­
den, 2Center of Neuroscience and Cell Biology, University of Coimbra, tibodies towards HDL and its main apolipoprotein (ApoA-I) in patients
Coimbra, Portugal, 3Dept of Molecular and Clinical Medicine, Sahlg­ with type 2 diabetes. Herein we intend to investigate the effect of anti-
renska University Hospital, Gothenburg, Sweden, 4Dept of Surgery, ApoA-I (aApoA-I) antibodies isolated from patients with type 2 diabe­
Sahlgrenska University Hospital, Gothenburg, Sweden, 5Center of Ma­ tes in the antiinflammatory and anti-oxidant activities of HDL in vitro.
rine Sciences, FCT, University of Algarve, Faro, Portugal, 6AstraZeneca Materials and Methods: aApoA-I antibodies were isolated from
R&D, Mölndal, Sweden patients serum by immunoaffinity chromatography using an HiTrap

146

R.INT_Ecos EASD 49th_140-149.indd 146 10/23/13 12:17 AM


Ecos do “49th EASD Annual Meeting” Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 141-148

NHS- activated HP (1 mL) column. A possible inhibitory effect of aApo fell to 8.03 (7.82, 8.23) mmol/L with LM25 and to 8.14 (7.93, 8.35)
A-I antibodies on paraoxonase 1 (PON1) activity was addressed by per­ mmol/L with BP at 24 weeks. Glycaemic variability, measured using
forming dose dependent inhibition assays by incubating HDL (100 μg/ SMBG, did not differ between treatments during the study. Overall,
mL) plus aApo A-I antibody (0.001-10μg/mL) isolated from patients. mean (SD) rates of documented symptomatic (≤3.9 mmol/l) and noc­
PON1 activity was assessed by quantification of nitrophenol formation turnal hypoglycaemia were 7.21 (14.55)/year and 1.54 (4.58)/year with
by spectrophotometry. To investigate the effect aApo A-I antibodies LM25 and 7.72 (15.67)/year and 1.82 (5.25)/year with BP, respectively; 2
on the expression of vascular adhesion molecules (VCAM-1), HUVECs patients experienced severe hypoglycaemia (both with LM25; neither
were incubated with human HDL (1.6 mg/mL) without or with aApoA-I required treatment discontinuation). LS mean (95% CI) bodyweight
antibodies (50 μg/mL) isolated from patients serum and/or TNF-α (10 increase at 24 weeks was 1.13 (0.75, 1.52) kg with LM25 and 0.50 (0.11,
ng/mL). Expression of VCAM-1 was assessed by flow cytometry using a 0.89) kg with BP (p=0.018). Total mean (SD) daily insulin doses were
fluorescein-conjugated mouse monoclonal anti-human VCAM-1. 53.1 (24.6) IU with LM25 and 50.8 (22.0) IU with BP at last visit. Insulin
Results: PON1 activity was inhibited in a dose-dependent fashion Treatment Satisfaction and Perception about Medications-Diabetes 21
from 5% to 37% by the aApoA-I antibodies isolated from patients, questionnaires data at last visit showed no statistically significant dif­
after correction for a non-specific human IgG used as control. Pre- ferences between treatments.
incubation of HDL with aApo A-I antibodies abrogated the inhibitory Conclusion: In patients with T2D inadequately controlled on once-
effect of HDL on VCAM-1 expression, in more than 65%, when com­ daily basal insulin glargine + metformin and/or pioglitazone, intensi­
pared with the non-specif human IgG. fication with either LM25 or BP improved glycaemic control, although
Conclusion: This study shows that aApo A-I antibodies isolated from HbA1c reduction was greater with LM25 than with BP. Both regimens
patients with type 2 diabetes inhibit HDL-associated anti-oxidant were similarly tolerated. LM25 is therefore a valid strategy to intensify
and antiinflammatory properties in vitro, and may contribute to the insulin treatment in patients inadequately controlled with a BO.
pathogenesis of type 2 diabetes.
1253
1025 The impact of impaired renal function on the prediction of dia-
Insulin lispro mix 25/75 twice daily (LM25) vs basal insulin betic foot complications: Should it be included on foot risk clas-
glargine once daily and prandial insulin lispro once daily (BP) in sifications?
type 2 diabetes: insulin intensification
M. Monteiro-Soares1, D. Martins-Mendes2,3, M. Dinis-Ribeiro1, R. Gui­
F.J. Tinahones1, J.L. Gross2, A. Onaca3, Z. Zhou4, S. Cleall5, A. Rodriguez6 marães4, A. Távora4, E. Lemos4, J. Sobral4, I. Duarte4, J. Campos-Lemos4,
1
Hospital Universitario Virgen de la Victoria, Málaga, Spain, 2Hospital D. Brandão4, M. Madureira4, M. Ribeiro4, M. Oliveira4
de Clínicas de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brazil, 3Pelican Hospital 1
CIDES / CINTESIS - Health Information and Decision Sciences Depart­
of Oradea, Oradea, Romania, 4Diabetes Center, Institute of Metabolism ment (U753-FCT), Faculty of Medicine of the University of Porto, Porto,
and Endocrinology, The Second Xiangya Hospital and Key Laboratory Portugal, 2Internal Medicine Department, Centro Hospitalar de Vila
of Diabetes Immunology, Changsha, China, 5Eli Lilly, Windlesham, UK, Nova de Gaia / Espinho EPE, Vila Nova de Gaia, Portugal, 3Dept of Bio­
6
Lilly Spain, Alcobendas, Spain chemistry (U38-FCT), Faculty of Medicine of the University of Porto,
Porto, Portugal, 4Endocrinology, Diabetes and Metabolism - Diabetic
Background and Aims: Recent ADA/EASD consensus statements Foot Clinic, Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia / Espinho EPE, Vila
consider different approaches for intensifying insulin therapy in T2D. Nova de Gaia, Portugal
Head-to-head data comparing premixed insulin analogs vs addition
of prandial insulin in patients inadequately controlled on a basal-only Background and Aims: Impaired renal function is considered a
insulin regimen (BO) are lacking. We compared efficacy and safety of power­ful risk factor for diabetic foot complications; such as peripheral
two insulin intensification strategies (LM25 vs BP) in patients inade­ vascular disease (PVD), diabetic foot ulcer (DFU) and lower extre­mity
quately controlled on once-daily basal insulin glargine + metformin amputation (LEA). Nevertheless, it was seldom assessed and never
and/or pioglitazone. in­cluded in the diverse diabetic foot risk stratification systems (RSS).
Materials and Methods: This multinational, randomised, open-label, Thus, we aim to evaluate the role of impaired renal function in DFU
parallel-arm, phase IV trial compared efficacy and safety of LM25 and development at 3 years.
BP (+ metformin and/or pioglitazone) over 24 weeks in patients with Materials and Methods: A retrospective cohort study was conducted
T2D and HbA1c 7.5-10.5% despite BO and fasting plasma glucose ≤6.7 on consecutive patients with diabetes without active DFU attending
mmol/L (>6.7 mmol/L if basal insulin could not be further titrated). our Diabetic Foot Clinic from 01/2007 to 12/2009 [n=551, 47% male,
Primary objective was to assess non-inferiority (NI) of LM25 vs BP (NI mean age of 65 years (± 11), diabetes duration of 16 years (± 11) and
margin 0.4%, two-sided significance level 0.05, using likelihood-based HbA1c of 8% (± 2%); 98% had type 2 diabetes and 40% used insulin].
mixed model repeated measures analysis). Baseline characteristics and all variables included in RSS were collec­
Results: Patients [mean (SD) age 57.5 (9.52) years] from 11 countries ted from the clinical file by one investigator. Subjects were followed
were randomised to LM25 (n=236) or BP (n=242) [mean (SD) baseline for at least 3 years or until death. Clinical characteristics and outcomes’
HbA1c 8.65 (0.79)% and 8.60 (0.75)%, respectively]. Estimated change comparison was conducted between those with chronic kidney di­
[least squares (LS) mean (95% CI)] in HbA1c at 24 weeks was -1.30 sease (CKD) stage 4 or 5 and the remaining subjects, using the 2013
(-1.44, -1.16)% units with LM25 and -1.08 (-1.22, -0.94)% units with BP. American Diabetes Association (ADA) classification.
NI was shown between the two treatment strategies [LS mean (95% Results: Within a median follow-up of 36 months (range 1-36), 164
CI) treatment difference -0.22 (-0.39, -0.05)]; gated superiority assess­ subjects (30%) developed a DFU, 33 (6%) required LEA and 75 (14%)
ment showed a statistically significant advantage for LM25 (p=0.010). died. Those with CKD stage 4 or 5 (n=26, 5%) were more frequently
LS mean (95% CI) daily self-monitored blood glucose (SMBG) levels insulin treated, presented longer diabetes duration, physical impair­

147

R.INT_Ecos EASD 49th_140-149.indd 147 10/23/13 12:17 AM


Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 141-148 Ecos do “49th EASD Annual Meeting”

ment, foot deformity, diabetic peripheral neuropathy (DPN) using higher in the group with CSII (84.2% versus 51.6%, p=.02). No diffe­
tuning fork and DFU or LEA history. Variables associated with DFU oc­ rences were observed in diabetic chronic complications (nephropa­
currence were older age, longer diabetes duration and higher HbA1c thy and retinopathy). Prepregnancy A1C was similar in both groups
value; male gender; physical and visual impairment; CKD stage 4 or (8%±1.5 in pump group and 7.9%±1.5 in MDI). The metabolic control
5; presence of onychomycosis, foot deformity, DPN diagnosis [using was similar in the 2 groups, except for the 2nd trimester, when a sig­
Semmes-Weinstein monofilament (SWM) and tuning fork] and symp­ nificant improvement in the pump group was observed (7.1%±0.8 ver-
toms, PVD (diagnosed by pulses palpation), intermittent claudication, sus 7.3%±1.2, 6.2%±0.5 versus 6.7%±1, 6.7%±0.7 versus 6.6%±1). The
previous DFU and previous LEA. In multivariate analysis, only HbA1c pregnancy-induced hypertension was higher in pregnant women with
value, physical impairment, foot deformity, SWM altered sensation, pump (27.8% versus 5.3%, p=.007), the occurrence of preeclam­psia
intermittent claudication and previous DFU maintained statistical sig­ was similar. Preterm delivery occurred in 52.6% of pregnant women
nificance. Neither considering estimated glomerular filtration rate as a with CSII versus 27.9% with MDI (p=.045). The percentage of caesa­
continuous variable nor using different cut-offs of CKD stages [namely rean sections was high in both groups and related to the longer dura­
stage 5 (dialysis) vs remaining; stages 4 or 5 vs remaining or stage 0 tion of diabetes (p=.01); CSII 73.7% versus 60.7% (p=ns). Birth weight
or 1 vs stages 2 or 3 vs stages 4 or 5] an independent association with did not differ between groups (3563g±675 versus 3514g±513). Birth
DFU was maintained. weight >4000g occurred in 26.3% in the pump group versus 13.1%
Conclusion: So far, only 4 studies assessed nephropathy’s impact on (p=ns). These differences remained regardless of the duration of dia­
DFU risk without consensual results. This is the first study using the betes. The morbidity and neonatal malformations were similar in both
recently modified CKD’s ADA classification and multivariate analysis groups.
adjusting the results for other relevant variables. We believe that ne­ Conclusion: These data show that the metabolic control and fetal
phropathy should not be included in foot RSS as it can potentially be prognosis did not differ significantly with these two modalities of
a confounding variable. However, prospective studies in inception and intensive insulin therapy. Both were effective in improving maternal
larger cohorts should be conducted. glycemic control. However pregnancy-induced hypertension and
preterm delivery were higher in women with CSII. The use of infusion
1265 pump in pregnancy should be decided on an individual basis taking
Type 1 diabetes and pregnancy: continuous subcutaneous insu- into account not only the glycemic balance as well as other factors
lin infusion systems versus multiple daily injection therapy that may determine the maternal-fetal prognosis.

J. Saraiva1, S. Paiva1, L. Ruas1, L. Barros1, C. Baptista1, M. Melo1, M. Alves1,


S. Gouveia1, C. Moreno1, D. Guelho1, E. Marta2, L. Gomes1, P. Moura2,
F. Carrilho1
1
Serviço de Endocrinologia - Centro Hospitalar e Universitário de
Coim­bra, Coimbra, Portugal, 2Serviço de Ginecologia e Obstetrícia -
Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Coimbra, Portugal

Background and Aims: Intensive insulin therapy through multiple


daily doses of insulin (MDI) or subcutaneous insulin infusion (CSII)
contributes to obtain good metabolic control and thus decrease the
risk of maternal and fetal complications during pregnancy in DM1. This
study aims to evaluate and compare the CSII and MDI therapy during
pregnancy.
Materials and Methods: Retrospective analysis of data of pregnan­
cies in women with type 1 diabetes followed in Endocrinology-Obste­
trics Department since 2005 treated with CSII and MDI. We evaluated
metabolic control (A1C), maternal and fetal outcomes. Statistical ana­
lysis program SPSS 18.0 was used.
Results: We followed 18 pregnant women (19 pregnancies) treated
with CSII and 65 with MDI, mean age 30.4±4.3years and 29.3±4.6years,
respectively. Mean duration of diabetes 17±6.7years, with CSII, and
11.7±6years with MDI (p=.006). The pre-conception counseling was

148

R.INT_Ecos EASD 49th_140-149.indd 148 10/23/13 12:17 AM


PÁGINA DA SPD
Revista Portuguesa de Diabetes. 2013; 8 (3): 149 S P D P A G E

> NOTÍCIAS
Bolsa Dr. M.M. Almeida Ruas SPD/Novonordisk

Por unanimidade, o júri da Bolsa Dr. M.M. Almeida Ruas, constituído por Prof. Doutor José Luís Medina (Presidente
da SPD), Dr. José Silva Nunes, Dr. André Carvalho, Dra. Sandra Paiva e Dr. Marcin Kozarzewski, pelo Departamento
Médico da Novo Nordisk, decidiu atribuir a Bolsa Dr. M.M. Almeida Ruas SPD/Novonordisk ao trabalho intitulado
“The Role of CB1 Cannabinoid Receptors in Neuropathic Pain” da autoria da Dra. Eugénia Carvalho.

Forum Diabetes

O próximo Forum Diabetes será no dia 16 de Novembro e terá como Presidente o Dr. Jorge Dores.

11º Congresso Português da Diabetes

O 11º Congresso Português da Diabetes será realizado em Vilamoura com data provável 6 a 9 de Março de 2014.
Terá como Presidente o Dr. Rui Duarte.

> AGENDA DE CONGRESSOS


2013
5º Simpósio de Diabetes do Algarve
22 e 23 de Novembro
Local: Hotel Tivoli Almansor

World Diabetes Congress


2 a 6 de Dezembro
Local: Melbourne, Austrália
Informações: http://www.idf.org/worlddiabetescongress/

149

R.INT_Ecos EASD 49th_140-149.indd 149 10/23/13 12:17 AM

Você também pode gostar