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Grande Sertão: Veredas - Frases Escolhidas

"Hoje eu penso, o senhor sabe: acho que o sentir da gente volteia, mas em certos
modos, rodando em si mas por regras. O prazer muito vira medo, o medo vai vira ódio,
o ódio vira esses desesperos? - desespero é bom que vire a maior tristeza, constante
então para o um amor - quanta saudade... -; aí, outra esperança já vem... Mas, a
brasinha de tudo, é só o mesmo carvão só." pg. 217

"Afirmo ao senhor, do que vivi: o mais difícil não é um ser bom e proceder honesto;
dificultoso, mesmo, é um saber definido o que se quer, e ter o poder de ir até no rabo
da palavra" pgs. 162, 163

"Mire veja: sabe por que é que eu não purgo remorso? Acho que o que não deixa é a
minha boa memória. A luzinha dos santos-arrependidos se acende é no escuro. Mas,
eu, lembro de tudo." pg. 135

" Diz-que-direi ao senhor o que nem tanto é sabido: sempre que se começa a ter amor
a alguém, no ramerrão, o amor pega e cresce é porque, de certo jeito, a gente quer
que isso seja, e vai, na idéia, querendo e ajudando; mas, quando é destino dado,
maior que o miúdo, a gente ama inteiriço fatal, carecendo de querer, e é um só facear
com as surpresas. Amor desse, cresce primeiro; brota é depois." pg. 130

"Ao que, digo ao senhor, pergunto: em sua vida é assim? Na minha, agora é que vejo,
as coisas importantes, todas, em caso curto de acaso foi que se conseguiram - pelo
pulo fino de sem ver se dar - a sorte momenteira, por cabelo por um fio, um clim de
clina de cavalo. Ah, e se não fosse, cada acaso, não tivesse sido, qual é então que
teria sido o meu destino seguinte? Coisa vã, que não conforta respostas."

"E eu não tinha medo mais. Eu? O sério pontual é isto, o senhor escute, me escute
mais do que eu estou dizendo; e escute desarmado. O sério é isto, da estória toda: eu
não sentia nada. Só uma transformação, pesável. Muita coisa importante falta nome."
pg. 102

"A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu
signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido,
alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu
real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se
fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu
conto. O senhor é bondoso de me ouvir. Tem horas antigas que ficaram muito mais
perto da gente do que outras, de recente data. O senhor mesmo sabe." pg. 92

"O senhor vá pondo o seu perceber. A gente vive repetido, o repetido, e, escorregável,
num mim minuto, já está empurrado noutro galho. (...) Um está sempre no escuro, só
no último derradeiro é que clareiam a sala. Digo: o real não está na saída nem na
chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia." pg. 60

"Viver... O senhor já sabe: viver é etcétera." pg. 87


"O senhor deve ficar prevenido: esse povo diverte por demais com a baboseira, dum
traque de jumento formam um tufão de ventania. Por gosto de rebuliço. Querem-
porque-querem inventar maravilhas glorionhas, depois eles mesmos acabam temendo
e crendo. Parece que todo o mundo carece disso. Eu acho, que." pg. 69

" E, o que era que eu queria? Ah, acho que não queria mesmo nada, de tanto que eu
queria só tudo. Uma coisa, a coisa, esta coisa: eu somente queria era - ficar sendo!"
pg.

"Moço: toda saudade é uma espécie de velhice." pg. 37

"Pensar mal é fácil, porque esta vida é embrejada. A gente vive, eu acho, é mesmo
para se desiludir e desmisturar. A senvergonhice reina, tão leve e leve
pertencidamente, que por primeiro não se crê no sincero sem maldade." pg. 137

"Mas o ciúme é mais custoso de se sopitar do que o amor. Coração da gente - o


escuro, escuros." pg. 34

"Eu atravesso as coisas - e no meio da travessia não vejo! - só estava era entretido na
idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar
um rio a nado, e passa; mais vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo,
bem diverso em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?" pg. 33

"O Senhor... Mire veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas
não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre
mudando. Afinam ou desafinam. Verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que
me alegra, montão." pg. 21

"O senhor saiba: eu toda a minha vida pensei por mim, forro, sou nascido diferente. Eu
sou é eu mesmo. Divêrjo de todo o mundo... Eu quase que nada não sei. Mas
desconfio de muita coisa. O senhor concedendo, eu digo: para pensar longe, sou cão
mestre - o senhor solte em minha frente uma idéia ligeira, e eu rastreio essa por fundo
de todos os matos, amém!" pg. 14

"Ações? O que eu vi, sempre, é que toda ação principia mesmo é por uma palavra
pensada. Palavra pegante, dada ou guardada, que vai rompendo rumo." pg. 166

"... amigo, pra mim, é diferente. Não é um ajuste de um dar serviço ao outro, e
receber, e saírem por este mundo, barganhando ajudas(...). Amigo, pra mim, é só isto:
é a pessoa com quem a gente gosta de conversar do igual o igual, desarmado. O de
tirar prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou - amigo - é que
a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é." pg. 168

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