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Identificações na Química Forense

Brasília-DF.
Elaboração

Iolana Campestrini

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS........................................................................................... 11

CAPÍTULO 1
PERÍCIA DE COMBUSTÍVEIS...................................................................................................... 11

CAPÍTULO 2
PERÍCIA DE INCÊNDIO............................................................................................................. 27

CAPÍTULO 3
PERÍCIA DE MEDICAMENTOS, COSMÉTICOS E SANEANTES....................................................... 35

CAPÍTULO 4
PERÍCIAS EM MATERIAL GENÉTICO........................................................................................... 51

CAPÍTULO 5
QUÍMICA DE EXPLOSIVOS........................................................................................................ 63

UNIDADE II
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO............................................... 69

CAPÍTULO 1
ANÁLISE DE MATERIAIS SUSPEITOS DE CONTER SUBSTÂNCIAS ENTORPECENTES E PSICOTRÓPICAS.... 69

CAPÍTULO 2
DROGAS DE ABUSO EM MATRIZES BIOLÓGICAS....................................................................... 83

CAPÍTULO 3
DOPING ESPORTIVO: EXAMES ANTIDOPING............................................................................. 99

CAPÍTULO 4
PLANTAS ALUCINÓGENAS...................................................................................................... 107

UNIDADE III
EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES........................................... 115

CAPITULO 1
CONCEITOS GERAIS.............................................................................................................. 115
CAPÍTULO 2
APLICAÇÕES DA MICROSCOPIA EM CIÊNCIAS FORENSES..................................................... 121

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 129
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Neste material serão descritos procedimentos empregados em perícias para elucidar os
fatos envolvidos em crimes.

A primeira unidade aborda diferentes procedimentos empregados em casos de incêndios


suspeitos, adulteração de combustíveis e de produtos como medicamentos, suplementos
nutricionais, cosméticos e saneantes, em investigações envolvendo explosivos, além de
introduzir a importância da perícia em materiais genéticos na elucidação de crimes.
Em cada tópico vocês poderão conhecer os princípios fundamentais relacionados à
perícia, incluindo análises químicas, e à identificação criminal, desde a lei envolvida
em cada caso, a coleta de material para análise, as possíveis análises e a identificação
do fato criminal.

Na unidade II, o foco é a violação à lei envolvendo substâncias entorpecentes, incluindo as


drogas de abuso. Vocês conhecerão dados sobre as principais substâncias entorpecentes
lícitas e ilícitas no Brasil e no mundo, os principais métodos de identificação química de
um material suspeito de ser entorpecente, incluindo casos específicos. Nesta unidade,
falaremos de análises específicas voltadas à toxicologia forense, ao doping esportivo e
ao uso de plantas alucinógenas.

Por fim, será apresentada a Microscopia como uma importante técnica na solução de
casos criminais, com foco especial em balística – ciência que estuda os projéteis e seus
efeitos ao serem utilizados em um crime e que tem como objetivo a identificação da
arma de fogo utilizada na cena do crime.

A química é a base, é a essência de praticamente tudo o que nos cerca. É a identidade


dos materiais, os quais são formados por inúmeros átomos que dão origem a inúmeras
moléculas, que, por sua vez, formam a matéria. Na ciência criminal, não é diferente.
Seja um produto adulterado, seja uma mancha de sangue, uma digital encontrada numa
arma branca ou mesmo na maçaneta da porta de um local de crime, seja vestígios de
arma de fogo encontrados numa roupa, lá estarão as moléculas, os átomos, a química.
Ao ser identificada, caracterizada poderá compor um conjunto de informações essenciais
para a identificação de um fato criminal, do entendimento do fato, da identificação da
arma utilizada ou da vítima ou do criminoso.

Contudo, a identificação de um material não é trivial. Não há uma fórmula mágica.


A realidade da rotina dos peritos químicos criminais nos laboratórios está bem longe
daquela apresentada nos programas de SCI. Muitas vezes, os materiais aparecem

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deteriorados, contaminados, ou são completamente desconhecidos, exigindo um
conhecimento abrangente do perito. Além disso, nem sempre as técnicas, reagentes
estão disponíveis para aquela análise mais simples e rápida, exigindo do perito
criatividade, dinamismo, além de conhecimento.

Nesse material vocês serão apresentados às leis, às normas, à engenharia, à química, à


química analítica, à toxicologia, à farmacologia, à balística, enfim, às várias ciências que
compõem uma pequena parte das ciências forenses, foco desse curso.

Objetivos
»» Apresentar os conceitos e fundamentos básicos de perícias criminais de
diferentes áreas, bem como os procedimentos empregados.

»» Abordar o tema das drogas ilícitas e plantas alucinógenas tanto na questão


da análise de materiais suspeitos, como na investigação toxicológica por
meio da análise de amostras biológicas, indicando as principais técnicas
e métodos analíticos empregados.

»» Abordar a questão do dopping do esporte como uma questão forense,


indicando as principais substâncias e meios de dopping, bem como os
procedimentos de constatação de dopping no esporte.

»» Fundamentar as principais técnicas de microscopia, bem como


contextualizá-las no cenário da criminalística.

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PROCEDIMENTOS UNIDADE I
UTILIZADOS EM PERÍCIAS

CAPÍTULO 1
Perícia de Combustíveis

A legislação brasileira declarou o abastecimento nacional de combustíveis como


um serviço de utilidade pública. O órgão responsável por garantir ao consumidor o
fornecimento e a qualidade dos combustíveis em todo o território nacional é a Agência
Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). No exercício dessa
competência, a ANP elabora e publica resoluções técnicas que regulam as atividades
constantes do sistema nacional de abastecimento de combustíveis.

A comercialização ilegal de combustíveis configura crime, e toda orientação e normatização


para essa atividade está regulamentada pelas normas da ANP e devem ser rigorosamente
cumpridas (ANP, 2018a). Da mesma maneira, a qualidade dos combustíveis fornecida
aos consumidores deve atender aos requisitos da ANP, de maneira que a diluição ou a
adição de outros combustíveis/substância de maneira não regulamentada configura
adulteração ou falsificação, assunto de interesse deste capítulo.

Tanto uma simples diluição ou a adulteração e falsificação dos combustíveis resulta numa
formulação de qualidade inferior àquela especificada pela ANP. Como consequência,
essa má qualidade leva a prejuízos diversos aos consumidores: transtornos gerados por
problemas mecânicos nos motores dos veículos, prejuízos em razão da sonegação fiscal
vinculada à adulteração, além de estimular a concorrência desleal que, muitas vezes,
pode estar relacionada com grandes organizações criminosas.

Figura 1. Combustíveis adulterados: Perigo!

Fonte: Pixabay 1.

11
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

A ANP especifica as características físico-químicas que garantem que os combustíveis


tenham a qualidade mínima necessária para o desempenho esperado. Além disso, a
ANP determina que os produtos oferecidos aos consumidores devem, obrigatoriamente,
estar de acordo com as especificações estabelecidas, de maneira que a qualidade dos
combustíveis atenda à Política Energética Nacional. Essa preocupação com a qualidade
dos produtos visa atender a expectativas da sociedade de que os produtos combustíveis
disponíveis ao seu consumo seja eficiente e não cause danos ao meio ambiente

A fiscalização da qualidade dos combustíveis pela ANP é organizada pelos Programas


de Monitoramento de Combustíveis Líquidos Automotivos Brasileiros, os quais são
publicados em Boletins Mensais informativos no site da ANP (ANP, 2018b).

Em 2017, a ANP publicou a resolução ANP nº 680/2017, que:

“dispõe sobre as obrigações quanto ao controle da qualidade dos


produtos importados, a serem atendidas pelo importador e pela firma
inspetora contratada por este, em todo o território nacional”.

De acordo com essa resolução, estão submetidos às regras dessa resolução os seguintes
combustíveis (ANP, 2017a):

»» Gasolina automotiva e de aviação.

»» Etanol combustível.

»» Óleo diesel e biodiesel.

»» Gás liquefeito de petróleo.

»» Óleo combustível.

»» Querosene de aviação e querosene de aviação alternativo.

O Diesel, a gasolina e o etanol são os combustíveis mais frequentemente adulterados


no Brasil, por serem também os combustíveis mais utilizados no meio automotivo.
Esses combustíveis são utilizados em motores que funcionam por combustão interna
com ignição por centelha, ou seja, vela de ignição, conhecido como o “Ciclo Otto”.

Os motores baseados no Ciclo de Otto trabalham com o aproveitamento da energia


gerada a partir da reação de combustão entre o oxigênio do ar e o combustível.
Essa reação acontece dentro do cilindro do motor do veículo, onde ocorre a mistura do
ar com o combustível.

O 1º tempo é denominado de “Admissão. Nesse estágio, o pistão está alocado na parte


superior do cilindro, sendo chamado de “ponto morto superior”. A válvula de admissão

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PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

é aberta e o eixo puxa o pistão para baixo. Com a abertura da válvula, a mistura de ar e
vapor de gasolina é “aspirada” em direção à câmara de combustão. Nesse momento, o
pistão encontra-se no “ponto morto inferior” e faz com que a válvula de admissão seja
fechada, completando o primeiro estágio do motor.

O 2º tempo, estágio de Compressão, o pistão comprime a mistura de ar e vapor de


gasolina ao voltar para a parte superior do cilindro.

No 3º tempo, ocorre a Explosão ou a combustão da mistura combustível. A compressão


no estágio 2, aumenta a pressão da mistura de combustível que, ao entrar em contato
com uma descarga elétrica oriunda da vela de ignição sofre a combustão. Devido à
combustão, a pressão, agora contra o pistão, devido à queima do combustível, faz com
que o pistão retorne à posição de ponto morto inferior.

Por fim, no 4º tempo, chamado de Escape, ocorre a liberação de gases residuais devido
à combustão incompleta da gasolina. Essa liberação ocorre, pois após a queima, a
pressão contra o pistão é aliviada, fazendo com que este suba para a posição superior do
cilindro novamente, carreando com ele os resíduos gerados na combustão da mistura
combustível.

O vídeo, a seguir, ilustra o movimento do pistão em cada estágio do ciclo de Otto.


Assistam para entender melhor o funcionamento desse tipo de motor.

Aumente seus conhecimentos assistindo ao vídeo disponível em: https://www.


youtube.com/watch?v=mMs013fRGjY.

Gasolina

Composição e Especificação da Gasolina

A gasolina é um combustível de origem fóssil, formada por uma porção do processo de


destilação fracionada do petróleo que, em seu estado natural, apresenta característica
pastosa e escura. Inicialmente, trata-se de uma mistura de querosene, óleo diesel,
dentre outros óleos inflamáveis, que são separados de acordo com a temperatura de
ebulição (Figura 2).

A gasolina combustível é uma mistura de hidrocarbonetos constituídos por entre


cinco e doze carbonos na molécula (C5 e C12) e que são relativamente voláteis, ou seja,
possuem ponto de ebulição de até 260ºC. Tais hidrocarbonetos são estruturas químicas

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UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

formadas basicamente por moléculas de carbono ligados entre si e hidrogênio, de


maneira que cada átomo de carbono tenha 4 ligações químicas.

A composição da gasolina pode variar de acordo com a sua classificação, contudo é


formada por centenas desses compostos hidrocarbonetos independentemente de sua
origem (ANP, 2018c, MAGNANELLI, 2012).

Figura 2. Destilação do petróleo para extração da gasolina.

Gás (butano e propano)

Gasolina leve (nafta)

Querosene

Óleo Diesel
Petróleo
bruto

Óleo combustível

Forno de Óleo lubrificante,


destilação parafina, asfalto

Fonte: Adaptado de Wikimedia_1.

As gasolinas comercializadas no Brasil são:

»» Gasolina A – É a gasolina isenta de componentes oxigenados e que atende


ao regulamento técnico da PORTARIA ANP Nº 309, 2001. Pode ser
produzida no país ou ser importada ou formulada pelos agentes
econômicos autorizados para cada caso. Ou seja, é a gasolina sem etanol
vendida pelos produtores e importadores de gasolina.

»» Gasolina C – Gasolina A com adição de etanol anidro combustível,


nas proporções e especificações definidas pela legislação em vigor e
que atenda ao regulamento técnico da PORTARIA ANP Nº 309, 2001.
Essa é a gasolina vendida aos postos revendedores e em seguida ao
consumidor final.
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PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Para que qualquer gasolina automotiva seja comercializada em território nacional, deve
atender integralmente à Resolução ANP n° 40/2013, que compreende o Regulamento
Técnico ANP n° 3/2013.

Tal norma determina as características físico-químicas a serem observadas pelo


referido combustível, bem como as metodologias normatizadas aceitas para avaliação
de cada um de seus parâmetros, sem que se faça nenhuma distinção quanto à origem
da matéria-prima. A norma traz que:

“A determinação das características dos produtos será realizada mediante


o emprego de Normas Brasileiras (NBR) da Associação Brasileira de
Normas Técnicas (ABNT) ou de normas da ASTM International.”

Considera-se gasolina adulterada aquela que não está dentro das especificações
legais. Dentre as principais adulterações praticadas na gasolina estão:

»» A adição de álcool etílico anidro combustível em porcentagens superiores


às estabelecidas pela ANP.
»» Adição de etanol hidratado.
»» A adição de solventes derivados do processamento do petróleo, como
querosene, aguarrás, hexano, benzenos, toluenos, xilenos, entre outros.

A adulteração da gasolina aumentando a mistura de solventes ou a diluição pela adição


de etanol anidro ou hidratado decorre do fato de que tantos os solventes adicionados,
como o etanol, são produtos químicos mais baratos, e assim, melhoram a rentabilidade
do negócio em até 10%.

Vale saber que a Lei fixa em 2% o limite máximo de solvente a ser misturado na gasolina
e em 27% a adição permitida de etanol combustível à gasolina automotiva, desde que o
etanol anidro; é proibida a adição de etanol hidratado à gasolina. Na gasolina premium,
o máximo permitido de etanol anidro é de 25%

Figura 3. Abastecimento de combustível em veículo.

Fonte: Pixabay 2.

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UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

A adição de etanol anidro nas proporções adequadas ou inapropriadas pode ser


identificada por uma análise simples que utiliza uma proveta (aparato químico de
característica volumétrica). A análise consiste em se misturar 50 mL da gasolina com
50 mL de água destilada. Em seguida, agita-se vigorosamente a mistura por alguns
segundos e, então, mantem a mistura em repouso até que não se observe espumas – a
água e a gasolina não se misturam, contudo, o etanol tem maior afinidade pela água do
que pela gasolina, de maneira que o etanol presente na gasolina se desloca para a fração
de água adicionada. Nitidamente, nota-se uma separação de fases, no qual a gasolina
fica na parte superior da mistura, enquanto a água, mais densa, fica na parte inferior da
proveta. Será observado que o volume da porção de água não será mais de 50 mL e sim
de 75 mL ou mais, caso a quantidade de álcool adicionada à gasolina seja superior a 25%.

Já a adição de óleo diesel, por exemplo, à gasolina pode ser identificada submetendo
uma amostra do combustível à luz ultravioleta. A gasolina não apresenta interação
com a luz ultravioleta, enquanto que o óleo diesel sim; a incidência dessa luz no óleo
diesel faz com que este emita uma radiação fluorescente, tornando com aspecto turvo.
Ao ser notada essa turbidez na amostra de gasolina ao ser submetida à luz ultravioleta,
há indicativo de adulteração por óleo diesel.

Álcool
O etanol, cuja fórmula molecular é C2H6O (Figura 4), é produzido especialmente
via fermentação de açúcares. No Brasil, o etanol combustível é obtido a partir da
cana-de-açúcar, sendo uma opção de combustível considerada ecologicamente correta;
além de emitir menores teores de poluentes ao meio ambiente, os canaviais auxiliam
na absorção do gás carbônico (CO2) emitido a partir da queima dos combustíveis, o
que contribui com as questões climáticas.

Pela razão mencionada acima, o etanol combustível tem sido cada vez mais utilizado
como um biocombustível em motores de combustão interna com ignição por centelha
(Ciclo Otto) como uma alternativa à gasolina e a outros combustíveis fósseis.

Figura 4. Molécula de Etanol.

H3C-CH2-OH
Fonte: Pixabay 3.

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PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Devido as suas propriedades físico-químicas (líquido combustível e incolor), pode ser


misturado a outros combustíveis fósseis, como a gasolina e o diesel, como uma maneira
de diminuir o consumo desses combustíveis sem perder a eficiência.

Contudo, o etanol passível de ser adicionado nos combustíveis fósseis é diferente do


etanol combustível utilizado diretamente nos veículos; enquanto o etanol combustível
deve conter até 4,9% de água, o etanol adicionado nos combustíveis fósseis deve ser
isento de água e por isso é chamado de “etanol anidro”:

»» Etanol anidro: usado como componente de mistura na formação da


gasolina C. Recebe corantes para ter coloração laranja, que só podem ser
adquiridos pelos agentes regulados específicos e devem ser registrados
junto à ANP.

»» Etanol hidratado: comercializado em todo o país como um combustível


automotivo final.

As especificações do etanol em todas as formas permitidas, teor de pureza, normas de


comercialização e de adição de corantes estão estabelecidas no Regulamento Técnico
ANP Nº 2/2015 anexo à Resolução ANP n° 19/2015, cujas especificações devem ser
atendidas por todos os agentes que comercializam o etanol combustível, mesmo nos
casos em que as análises não são obrigatórias. A Resolução traz que:

“A determinação das características do Etanol Combustível deverá ser


feita mediante o emprego de Normas Brasileiras (NBR) da Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e/ou das normas internacionais
da ASTM International, do Comitté Européen de Normalisation (CEN)
ou do International Organization for Standartization (ISO).

(...) A análise deverá ser realizada em amostra representativa do produto,


coletada segundo as normas: ABNT NBR 5764 - Amostragem de
Produtos Químicos Industriais Líquidos de uma só Fase; ASTM D4057
- Practice for Manual Sampling of Petroleum and Petroleum Products;
ou ASTM E300 - Practice for Sampling Industrial Chemicals.”

A adulteração mais comum do etanol combustível é a adição de água ao produto, devido


à facilidade com que a água se mistura ao etanol, formando uma mistura sem aparência
irregular visível. Além da adição de água, a adição de metanol vem se tornando uma
prática crescente no intuito de aumentar os lucros no negócio; o metanol é extremamente
tóxico, podendo, em altas concentrações, causar cegueira e até mesmo a morte.

Com o intuito de se coibir o uso do metanol como adulterador do etanol combustível, a


recente Resolução ANP nº 696, de 31/08/2017, retificada em 03/10/2017, tornou

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UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

obrigatória a análise do teor de metanol no etanol combustível pelos fornecedores e


distribuidores de combustíveis líquidos.

Com essa norma, a Resolução ANP nº 712, de 27/11/2017, estipulou o prazo de 10/3/2018
para que todos os emissores de certificados de qualidade e boletins de conformidade
contemplem essa característica em todo o produto comercializado no Brasil.

Diesel
O óleo diesel é um combustível líquido derivado de petróleo, constituído por hidrocarbonetos
com cadeias entre 8 e 16 carbonos, mais pesados que aqueles hidrocarbonetos
constituintes da gasolina. Além de hidrocarbonetos, fazem parte da composição do óleo
diesel: nitrogênio, enxofre e oxigênio, embora em concentrações muito menores.

O Diesel é utilizado principalmente nos motores ciclo Diesel (de combustão interna
e ignição por compressão) de veículos rodoviários, ferroviários e marítimos e em
geradores de energia elétrica.

Para atender às diversas aplicações do produto, vários tipos de diesel são encontrados
no mercado. No território nacional, a ANP estabelece (ANP, 2017b):

Óleo diesel (S10 e S500) de uso rodoviário

Utilizado em veículos automotivos, máquinas agrícolas, máquinas de construção e


máquinas industriais. A versão S10 teve o teor de enxofre reduzido a fim de proporcionar
maior qualidade ao combustível e diminuir seu grau de poluidor atmosférico.

A presença de enxofre reduz a vida útil do motor e aumenta as emissões de óxidos de


enxofre (SO2 ou SO3). Esses gases, em conjunto com os óxidos de nitrogênio (N2O, NO
e NO2), quando em contato com as gotas de água presentes na atmosfera, promovem a
formação das chuvas ácidas. Ao reagirem com a água, formam o ácido sulfúrico (H2SO4)
e o ácido nitroso (HNO3), que baixam o pH das chuvas para valores entre 4 e 2.

As reações químicas de formação desses ácidos são:

Formação do ácido sulfúrico:

S + O2 → SO2

SO2 + 1⁄2 O2 → SO3

SO3 + H2 O → H2 SO4

18
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Formação do ácido nítrico e ácido nitroso:

N2 + 2O2 → 2NO2

2NO2 + H2O → HNO3 + HNO2

A versão S500 recebe adição obrigatória de corante vermelho, para diferenciá-lo da


versão menos poluente (S10) (ANP, 2017b).

Óleo diesel S1800 de uso não rodoviário

Utilizado na mineração a céu aberto, transporte ferroviário, geração de energia elétrica


(outorgado pela ANEEL como produtor independente de energia ou serviço público).

Óleo diesel marítimo DMA/DMB

Esse tipo de óleo diesel é utilizado em embarcações marítimas.

Dentre as legislações que regem o óleo Diesel, destacam-se aqui aquelas relacionadas a
sua utilidade para fins aquaviários ou rodoviários:

»» Resolução ANP nº 686/2017 – Altera a Resolução ANP nº


52/2010, que estabelece as especificações dos combustíveis aquaviários
comercializados pelos diversos agentes econômicos em todo o território
nacional.

»» Resolução ANP Nº 50/2013 – Estabelece as especificações do óleo


diesel de uso rodoviário, contidas no Regulamento Técnico ANP nº 4/2013,
parte integrante desta resolução, e as obrigações quanto ao controle da
qualidade a serem atendidas pelos diversos agentes econômicos que
comercializam o produto em todo o território nacional.

Biodiesel

O biodiesel é um combustível de origem vegetal, obtido a partir da reação de


transesterificação de óleos vegetais. A reação dos triglicerídios presentes nos óleos
vegetais com um álcool primário, álcool etílico ou metílico, na presença de um
catalisador, leva à formação de um éster (Biodiesel) e glicerina, conforme mostrado na
equação abaixo. A glicerina tem ampla aplicação na indústria química e cosmética, de
maneira que a produção de biodiesel não gera resíduos inutilizáveis.

19
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

Figura 5. Reação química de formação do Biodiesel.

Triglicerol Éster de ácidos graxo


Álcool etílico Glicerina
(Óleo vegetal) BIODIESEL
Fonte: Própria.

O Biodiesel pode ser utilizado como combustível em substituição ao óleo diesel de origem
fóssil, apenas após passar por processos de purificação. Sua utilização é permitida
para motores que funcionam com o ciclo diesel (motores de ignição por compressão),
sendo uma alternativa ao óleo diesel de fonte renovável e livre de enxofre, logo, menos
poluente.

Além disso, o biodiesel é biodegradável e não corrosivo.

Como matéria prima são empregados diferentes óleos vegetais. No Brasil, a maior
produtividade de Biodiesel é realizada com óleo de babaçu (15000 kg/ha.ano), seguido
de óleo de dendê (10000 kg/ha.ano) e em menor quantidade óleo de soja, algodão,
amendoim, gergelim, mamona (~2000 kg/ha.ano), dentre outros (SOUZA, 2007).

A regulamentação da produção do Biodiesel é dada pela Resolução ANP n° 41/2004, a


qual dispõe sobre os produtores de Biodiesel, seja empresa, cooperativa ou consórcio
de empresas autorizado pela ANP a exercer a atividade de produção de Biodiesel.

A Resolução ANP n° 42/2004 define biodiesel – B100 como: combustível composto


de alquil-estéres de ácidos graxos oriundos de óleos vegetais ou gorduras animais,
designado B100, observando atendimento ao Regulamento Técnico ANP n° 4/2004.
A Lei 11.097/05 determinou o percentual de biodiesel (B100) a ser misturado ao óleo
diesel (B2) e estabeleceu a inserção do novo combustível no mercado brasileiro; a
partir de 2013 a lei determinou a adição obrigatória de 5% de Biodiesel no óleo diesel
comercializado no Brasil. Já a Resolução ANP nº 15/2006 estabelece a especificação
da mistura obtida. Outras misturas para testes e uso experimental devem atender à
Resolução ANP n°18/2007.

A Lei n 11.116/2005, em seu artigo 11, dispõe sobre a decisão da ANP em implementar
a adição de marcador do biodiesel puro (B100), produzido no Brasil ou importado,
a ser misturado ao óleo diesel, permitindo a identificação e quantificação rápidas do

20
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

produto adicionado no óleo diesel, no propósito de garantir a QUALIDADE e inibir a


ADULTERAÇÃO do combustível a ser disponibilizado à sociedade em qualquer parte
do território nacional.

O marcador do biodiesel deve ser um composto químico de cadeia orgânica, estável,


inerte, não tóxico e não corrosivo.

Figura 6. Matéria prima para biodiesel.

Fonte: Pixabay 4.

Adulteração do óleo diesel

Por ter inúmeras opções de óleo diesel disponíveis aos consumidores como visto
anteriormente, é difícil para o consumidor identificar uma possível fraude ou
adulteração. Até mesmo quando falamos apenas em óleo diesel automotivo, são duas
as opções possíveis: A versão S-10, com menor teor de enxofre, e a versão S-500, com
maior teor de enxofre.

Assim como para os demais combustíveis, a adulteração do óleo diesel pode trazer prejuízos
ao consumidor, tanto em questões de problemas mecânicos com seus automóveis, como
financeiros por estarem pagando caro por um produto de má qualidade.

Dentre as possíveis adulterações do óleo diesel, citam-se:

»» Adição de óleos vegetais como óleo de soja, óleo de girassol ou milho


residual de frituras.

»» Adição de água com ou sem corantes.

»» Solventes derivados de naftas.

»» Álcool ou querosene.
21
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

A identificações dessas possíveis adulterações geralmente é simples, com exceção da


identificação da adição de óleos vegetais quanto em pequenas quantidades.

A avalição do aspecto visual do produto pode indicar adulteração. A coloração das


versões do óleo diesel combustível são características do teor de enxofre e da adição de
diferentes óleos vegetais:

»» O óleo diesel S-10, com baixo teor de enxofre: límpido (sem turbidez) e
apresenta coloração de incolor a amarelo claro.

»» O óleo diesel S-500, com alto teor de enxofre: límpido (sem turbidez) e
apresenta coloração vermelha.

A adição de água pode ser identificada separando uma quantidade do óleo diesel e
mantendo-o em repouso num frasco de vidro por alguns minutos. A água, por apresentar
propriedade físico-química polar é imiscível no óleo diesel, que apresenta propriedade
físico-química apolar, a exemplo de óleo de cozinha e água. Logo, ao manter o produto
em repouso pode-se notar a separação de fase, no caso de uma adição fraudulenta de
água ao produto.

Já a adição de querosene não é notável por separação de fase, pois apresentam


propriedades de polaridade semelhantes, logo são produtos miscíveis. Contudo, a
presença de pequenas quantidades de querosene ao óleo diesel combustível altera o
odor característico do produto. Comparando o odor de um produto isento de querosene
com o produto suspeito, nota-se a diferença no odor.

Da mesma maneira, a adição de óleos vegetais altera o aspecto do produto em termos


de coloração, viscosidade e densidade.

Na identificação de quaisquer dessas características é crucial a análise química de acordo


com a normatização específica, para que o laudo tenha validade de prova material. A
seguir, serão abordados os métodos de análise recomendados pela ANP.

Análises periciais de combustíveis


A análise dos combustíveis para fins periciais consiste em testes preliminares simples,
que indicam uma possível adulteração e, posteriormente, análises específicas que
determinam quantitativamente uma adulteração ou a qualidade de um combustível.

Inicialmente, são realizadas análises físico-químicas que caracterizam as propriedades


de densidade e de aparência visual.

22
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

A densidade é medida por um densímetro e está estritamente ligada à qualidade dos


combustíveis, pois cada líquido apresenta uma densidade específica. Assim, a adição de
líquidos de densidades diferentes daquelas do combustível irá mostrar uma densidade
distinta daquela da especificação.

A gasolina comum, por exemplo, tem densidade de 0,75 g/mL. Uma densidade menor
do que este valor irá indicar a adulteração por líquidos/solventes menos densos como o
etanol. E um valor maior indicar a adição de líquidos mais densos.

Posteriormente, é realizada uma análise de teor de água pelo método de titulação por
oxirredução com Iodo (Método de Karl Fisher). Os combustíveis devem obedecer a
legislação quanto ao teor de água; a simples adição de álcool não anidro (que contém
água em sua composição) à gasolina pode ser detectado por meio do método Karl Fisher
(titulação oxirredução). A legislação atual prevê teor de até 0,4% de água no etanol
anidro e de até 4,9% de água no etanol hidratado. Enquanto que a gasolina deve ser
isenta de água.

Método Karl Fisher para determinação do teor


de água

O método de Karl Fisher é baseado na reação de oxirredução entre uma solução de Iodo
e a água presente no meio, de acordo com a equação:

I2 + SO2 + H2O→ 2HI + H2SO4

As titulações de oxirredução podem ser executadas de duas maneiras distintas, dependendo


do teor de água presente no meio: Titulação volumetria ou titulação coulométrica.

Na titulação volumétrica a solução de iodo é adicionada à amostra por meio de


uma bureta automatizada, enquanto o método coulométrico, o Iodo é gerado por
oxidação eletroquímica dentro da célula de reação. Enquanto o método por titulação
volumétrica se aplica para estimativa de teores de água na faixa de 100 ppm a 100%, a
titulação coulométrica é capaz de determinar teores de água na ordem de 1 ppm a 5%.
Considerando os teores de água permitidos nos combustíveis brasileiros, o método de
Karl Fisher via titulação coulométrica é o mais indicado.

Atualmente, ambos os processos se encontram automatizados, sendo que diversas


empresas fornecem equipamentos e soluções prontas para a execução dessas titulações.

A quantidade de etanol anidro adicionada à gasolina, por exemplo, pode ser medida
com a adição de uma solução de NaCl e água. Esse procedimento permite a separação

23
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

de fases entre a gasolina e o álcool anidro, pois o álcool se mistura à solução de NaCl,
enquanto a gasolina não se mistura. Como consequência, ocorre a separação de fases.

Após esses testes preliminares, as técnicas a serem utilizadas para análise de combustíveis
são baseadas na cromatográfica gasosa com detector por ionização em chama ou,
em alguns casos específicos, é necessário o emprego de equipamentos acoplados a
detectores espectrômetros de massas, devido a sua especificidade. Tais equipamentos,
são denominados cromatógrafos a gás.

Essas técnicas são capazes de separar os componentes presentes nos combustíveis; essa
separação ocorre quando a amostra é submetida a passar por um capilar metálico que
contém em seu interior um material polimérico adsorvente, por meio de uma pressão
negativa promovida pela passagem de um gás inerte (nitrogênio, hidrogênio ou hélio).
Dessa maneira, os compostos mais voláteis, que são menos absorvidos no material
polimérico, percorrem o capilar mais rapidamente, que aqueles componentes menos
voláteis e mais pesados. Ao saírem desse capilar, são submetidos à queima no detector
por ionização em chama, e devido à energia emitida ao serem queimados, geram um
sinal analítico que será proporcional ao seu teor presente na amostra. O gráfico gerado
relacionando a intensidade do sinal analítico gerado e o tempo em que a amostra
permaneceu no capilar, é denominado de cromatograma, é a partir desse gráfico que
toda a análise é realizada.

A identificação dos componentes da mistura se dá pela análise do cromatograma obtido


a partir da análise de amostra, e o cromatograma obtido a partir de uma amostra padrão,
ou seja, de um material cujos componentes e seus respectivos teores são conhecidos.
Os laboratórios credenciados para tais análises também dispõem de padrões de referência
de adulterantes comuns de combustíveis, tornando possível tanto a identificação de um
adulterante como a ordem de grandeza da adulteração.

Um exemplo típico de adulteração de combustível que exige a análise por cromatográfica


gasosa com detector por ionização em chama é a investigação do aditivo metil terc-butil
éter (MTBE). Esse aditivo é permitido na gasolina do Estado do Rio Grande do Sul,
em substituição ao etanol, pela proximidade com os polos produtivos desse produto,
mas é proibido em outros estados, como Santa Catarina e São Paulo. Contudo, a sua
identificação e quantificação não é notada por testes pré-eliminares, sendo crucial a
análise por cromatografia.

Em casos de componentes desconhecidos, para os quais há a indisponibilidade de


padrões, a técnica cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas é útil
para fins de identificação dos adulterantes. Contudo, não se é possível avaliar em quais
quantidades um determinado adulterante foi adicionado no combustível.

24
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Para a identificação da adulteração da gasolina pela adição de metanol, um grupo


de pesquisadores tentou detectar a adulteração por meio dos métodos de análise
tradicionais para a inspeção da qualidade da gasolina. Os pesquisadores adicionaram
quantidades variadas de metanol, porém mantendo a porcentagem de adição de etanol
anidro na faixa de 22% (adição obrigatório no período em que o estudo foi realizado).
Os autores avaliaram a densidade, o poder de octanagem e as temperaturas de destilação
de combustíveis não adulterados e de adulterados com 5 e 10%. Nenhum dos ensaios
permitiu a detecção da adulteração da gasolina com os teores de metanol mencionados,
indicando a necessidade do emprego de técnicas analíticas mais sofisticadas para a
possível identificação de metanol na gasolina (Teixeira et al., 2001). Para esse caso, mais
uma vez, a identificação química por cromatografia gasosa com detector por ionização
em chama, torna-se a técnica mais apropriada.

Os fundamentos cromatografia gasosa acoplada à espectrometria de massas


serão apresentados nos próximos capítulos. Nesse momento, vale ressaltar que a
sua especificidade e capacidade de identificação decorre do seu funcionamento.
Os analisadores espectrômetro de massas analisam razões massa/carga. Ou seja,
para que um composto seja passível de identificação, ele precisa estar em sua forma
carregada. A fonte de íons, parte desses equipamentos, faz essa função, ou seja, promove
a ionização de moléculas neutras, tornando-as moléculas carregadas.

Em CG-MS, a ionização das moléculas ocorre por impacto de elétrons, a partir da


aplicação de uma voltagem de 70 eV, que promove a fragmentação das moléculas em
diferentes partes, formando íons de diferentes razões massa/carga. Uma vez que as
condições em que esse processo de ionização ocorre são exatamente as mesmas em
todos os equipamento de GC-MS, é possível se obter os mesmos íons e as mesmas
proporções entre os íons em todos os equipamentos, e por sua vez, se faz possível a
elaboração de bibliotecas de espectros de massas; nessas bibliotecas são registradas o
perfil de íons (espectro de massas) gerados para diversas moléculas.

Ao perfil dos íons gerados para uma dada molécula (quais íons e em quais proporções), o
qual é visualizado pelo espectrômetro de massas, dá-se o nome de “espectro de massas”
de uma molécula. Diz-se que o espectro de massas é o RG de uma molécula orgânica,
tamanha a sua especificidade. Daí a sua vasta aplicação na área de identificações em
química.

O quadro a seguir resume as possíveis adulterações para os combustíveis mais comum


no Brasil, a especificação, e a análise a ser aplicada para uma possível identificação
de fraude.

25
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

Quadro 1. Resumo: adulterações, especificações e análises relacionadas à gasolina, etanol e óleo diesel
combustíveis (Fonte: elaboração própria).

Combustível Adulteração Especificação Análise

Adição de álcool etílico anidro acima do Gasolina comum: até 27% Análise de proveta: mistura de gasolina e
teor permitido Gasolina premium: até 25% água 50:50 (v:v).

Teor de água pelo método Karl Fischer


Adição de etanol hidratado Proibida; teor de água < 0,4%
Gasolina Coulométrico
Colocar o combustível sob luz ultravioleta
A adição de outros solventes orgânicos < 2%
– Presença de diesel - turbidez.
Outros componentes/solventes orgânicos Isento GC-FID / GC-MS
Teor de água pelo método Karl Fischer
Adição de água < 4%
coulométrico ou volumétrico
Etanol Adição de metanol Isento GC-FID
Adição de outros componentes/solventes
Isento GC-FID / GC-MS
orgânicos
Avaliação da cor:
»» S10: coloração de transparente a
Teor de enxofre acima do permitido Aspecto característico
amarelo claro
»» S500: coloração vermelha
Diesel Adição de querosene Odor característico Avaliação do odor

Separação de fase: água é imiscível no


Adição de água Isento
óleo diesel

Adição de outros componentes/solventes


Isento GC-FID / GC-MS
orgânicos

26
CAPÍTULO 2
Perícia de Incêndio

De maneira geral, os incêndios podem ocorrer de forma acidental ou intencional, sendo


a perícia do local de ocorrência essencial para o esclarecimento quanto à natureza
acidental ou intencional dos fatos

A partir da perícia e de investigação, são coletadas informações essenciais para:

a. Fornecer subsídios fundamentais para as indústrias e profissionais que


atuam na área de segurança.

b. Fornecer subsídios fundamentais para as companhias seguradoras,


especialmente nos processos de regulação e liquidação de sinistros.

c. Fornecer subsídios fundamentais para a justiça na elucidação de fatos e


atos criminosos em locais onde haja pressuposto de crime.

O objetivo principal das perícias de incêndio é garantir a segurança, fazendo com que a
estabilidade da estrutura submetida ao incêndio seja preservada, evitando a extensão
dos danos. Dessa maneira, a perícia inicia-se no entendimento das possíveis causas e da
extensão dos danos causados pelo incêndio.

O Código de Processo Penal prevê em seu artigo 173 que:

“No caso de incêndio, os peritos verificarão a causa e o lugar em que


houver começado, o perigo que dele tiver resultado para a vida ou
para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e as demais
circunstâncias que interessarem à elucidação”.

As causas de um incêndio constituem as circunstâncias ou uma série de circunstâncias


que conduziram diretamente ao incêndio.

Fundamentos de incêndio
Os incêndios só ocorrem a partir da combinação de três fatores, tais quais:

a. presença de um combustível;

b. presença de um comburente;

c. presença de uma fonte de transmissão de calor.


27
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

Na ausência de qualquer de um desses fatores não há incêndio. E tendo isso em vista,


as possíveis causas de um incêndio são classificadas como:

a. Ação Humana – Deve ser utilizada essa opção de “causa”, quando não
tivermos certeza se a ação humana foi ou não intencional. Alguns exemplos
são: imperícia, imprudência, negligência, fraude, terrorismo, falhas de
projeto, de construção, de manutenção (preventiva, programada, etc.),
de instalação, e etc.

b. Ação Humana Direta (Intencional) – Quando a conclusão for de


que o incêndio teve origem por uma ação humana intencional. Exemplo:
um incêndio criminoso, com utilização de agente acelerante. Geralmente,
os motivos mais comuns dos incêndios por ação humana direta são:
benefício econômico; ocultar outro crime; satisfação (piromaníacos);
vingança; vandalismo; atos de violência e etc.

c. Ação Humana Indireta (Não Intencional) – Quando a conclusão


for de ação humana não intencional. Como por exemplo, excesso de
carga em um ponto elétrico, um curto-circuito, contato imperfeito ou
superaquecimento; etc.

d. Naturais – Fenômenos da natureza. Ex.: Maremoto, terremoto,


descargas atmosféricas, etc.

e. Acidentais – Defeitos ou falhas de máquinas ou equipamentos.

f. Desconhecida ou indeterminada – Quando não foi possível detectar


a causa do incêndio.

O calor é a energia térmica em movimento, ou seja, a energia térmica transferida


de um corpo para outro, devido à diferença de temperatura entre eles.
Essa transmissão de calor pode ocorrer por meio de três processos distintos:
Condução, Convecção ou Irradiação.

»» Condução: transmissão de energia térmica, devido à agitação das


moléculas presente nos materiais, portanto, está relacionada à
condutividade dos materiais. Nos incêndios, alguns materiais, por
sua natureza, podem servir como meio de propagação de calor
por condução, fazendo com que materiais combustíveis distantes
do foco inicial do incêndio recebam calor suficiente para atingir a
sua temperatura de ignição e provocar a formação de novos focos
de incêndios.

28
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

»» Convecção: é a transmissão do calor através do transporte de matéria,


que é a forma de transferência de calor comum para os gases e líquidos,
os quais levam o calor de um ponto ao outro através do movimento.

»» Irradiação: transferência de calor por meio de ondas eletromagnéticas,


sem a necessidade de contato entre os corpos para que haja a
transferência de calor. Isso ocorre, pois as ondas eletromagnéticas se
propagam no vácuo, ou seja, sem a necessidade de matéria.

Durante a investigação das possíveis causas de um incêndio, devem ser investigadas,


ainda, as possíveis subcausas que podem dar início a um incêndio, que podem ser:

a. Agentes físicos: Choque mecânico, fagulha (chama/brasa), superfície


aquecida etc.

b. Agentes químicos: Reações químicas exotérmicas.

c. Agentes biológicos: Ação de bactérias - difícil de comprovar.

d. Fenômeno termoelétrico: Curto-circuito, sobrecarga, sobretensão,


desconexão parcial, contato imperfeito, grafitização, descarga atmosférica,
fuga de corrente.

e. Agentes Ígneos: Brasa, chama, centelha, fagulha, choque mecânico,


onda de choque, reação química exotérmica, superfície aquecida etc.

É evidente que os danos causados por um incêndio decorrem do intenso calor do fogo.
Contudo, a intensidade dos danos depende das circunstâncias e do período de duração
em que o incêndio se manteve ativo, causando danos.

Para se iniciar a perícia de um incêndio é importante saber qual a temperatura interna


atingida no local incendiado. Para tal, leva-se em consideração o “modelo de incêndio”,
para o qual se admite que a temperatura dos gases no ambiente respeite a curva
padronizada de ensaios. Ou seja, a propagação de um incêndio obedece a um processo
padrão no qual apresenta início, meio e fim, com raras as exceções.

Figura 7. Incêndio em floresta.

Fonte: Pixabay 5.

29
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

As fases de um incêndio
As fases padrões de um incêndio são de extrema importância para se avaliar quão
danificada está a estrutura incendiada, os possíveis riscos, além de poder indicar o
ponto inicial de um incêndio. As principais fases são:

Início do incêndio e fase de incubação

É o princípio de qualquer incêndio; o ponto de inflamação ou de ignição de um material


combustível presente no local é atingido devido à ação de um agente de ignição.
Uma vez que o agente de ignição interfira sobre o material combustível de maneira
que o seu ponto de ignição é alcançado, o material combustível entra em processo de
combustão, e início das chamas.

O local de início do incêndio é denominado de foco inicial ou foco principal do incêndio.


A partir do foco inicial das chamas, o calor resultante das chamas propaga-se por
todo o ambiente; essa fase é, então, definida como “fase de incubação do incêndio”.
Nessa fase, a temperatura ambiente do local de incêndio atinge cerca de 38ºC, e o calor
ambiente é absorvido pelos materiais combustíveis do local. Inicia-se a produção de
gases inflamáveis em decorrência da queima de alguns materiais e o teor de oxigênio no
ar é de aproximadamente 20%.

Fase destrutiva, dividida em generalização ou


flashover, propagação e extinção

Inicia-se a fase de queima livre, na qual os gases aquecidos preenchem a parte superior
do ambiente, onde a temperatura pode exceder a 700º C. Como consequência, nessa
temperatura diversos materiais são aquecidos drasticamente a ponto de atingir seu
ponto de ignição, e novas chamas são iniciadas; nesse momento, o ar próximo às chamas
é aquecido, diminuindo a sua densidade. Dessa maneira, o ar quente sobre, atingindo as
regiões próximas ao teto, enquanto o ar não aquecido, mais denso, permanece próximo
ao solo. Essa é a fase de generalização do incêndio

As chamas se propagam por contato direto com os materiais combustíveis, podendo


ocorrer a fase de flashover, a qual é caracterizada pela ignição simultânea de todos
os combustíveis no ambiente. Essa ignição simultânea, pode ocasionar uma explosão
ambiental, envolvendo todo o ambiente em chamas.

Caso ocorra, após o flashover um calor intenso envolve todo o ambiente do local de
incêndio; níveis de oxigênio no ar caem para abaixo de 8%. Além disso, tem-se alta
concentração de gases combustíveis, devido a queima de matérias orgânicos, e a presença

30
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

de brasas com queima lenta. Nessa fase do incêndio, caso ocorra a entrada de grande
quantidade de oxigênio no local, como a entrada de ar devido à abertura de janelas e
portas, ocorre a fase de backdraft; a mistura de altas temperaturas com materiais em
queima lenta e elevadas concentrações de gases inflamáveis com a presença de ar rico
em oxigênio (abertura de portas e janelas) pode provocar uma explosão.

Após essas fases, a fase de extinção representa a decadência do fogo; a redução


progressiva das chamas até o seu completo desaparecimento. A extinção pode ocorrer
devido à exaustão dos materiais combustíveis, pela carência de oxigênio, caso não haja
entrada progressiva de oxigênio no locar de incêndio, ou pela obstrução da combustão.

A possibilidade de um incêndio evoluir ou extinguir depende de alguns fatores, tais quais:

I. Quantidade, volume e espaçamento dos materiais combustíveis no local.

II. Tamanho e situação das fontes de ignição.

III. Área e localização das janelas.

IV. Velocidade e direção do vento.

V. A forma e dimensão do local.

Outro ponto importante nas perícias de incêndio é conhecer os sinais de caracterização


da velocidade de propagação do fogo. É obvio pensar que, dependendo da área ou do
material de início do incêndio, as características de queima e propagação de fogo são
distintas. De acordo com a velocidade de propagação do fogo, uma queima pode ser
caracterizada como Lenta ou Rápida:

»» Queima lenta: A característica de queima lenta são sinais de queima


uniforme e superficial no teto, que indica um lento emergir de calor, uma
mancha de queima grande no chão ou uma marca de queima uniforme
na superfície de uma madeira, mantendo o plano da superfície original
no mesmo alinhamento. Esses são sinais de que o processo de queima do
incêndio foi lento.

»» Queima rápida: Os sinais da queima rápida são praticamente o oposto


dos sinais da queima lenta. A queima rápida fará um intenso estrago
localizado no teto, concentrado numa área mínima, localizada logo
acima da chama principal; o foco de fogo possivelmente estará situado
na projeção desse sinal que queima. A área de espalhamento da chama
no chão é mais estreita, e a queima rápida da madeira deixará intensas
rachaduras e uma superfície irregular, sem conservar o plano primitivo
da superfície.
31
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

Procedimentos básicos de perícia em Incêndio

A determinação e identificação do foco de incêndio é o passo mais importante em uma


perícia de incêndio, uma vez que pode revelar o agente ígneo iniciador da combustão.
A constatação do ponto de origem é feita através de exame visual das características
da queima, que apresentam perfis característicos e distintos em decorrência do
comportamento do fogo, e das circunstâncias em que o incêndio ocorreu.

Na perícia, deve-se buscar identificar qual foi o caminho de propagação das chamas,
tentando localizar o ponto de início do fogo. Essa identificação dos caminhos das
chamas pode ser realizada avaliando-se os materiais queimados e suas características,
quanto aos pontos citados anteriormente.

O exame deve ser realizado do local menos queimado para o local mais queimado. No
caso de incêndios generalizados com queima total dos materiais de fácil combustão
não é possível a determinação da movimentação do fogo, bem como da sua origem e
destino. Neste caso, o recurso adequado é a análise laboratorial de amostras coletadas
no local e em zonas previamente selecionadas, para determinação de gases, líquidos e
de sólidos.

Para a determinação da origem do incêndio deve-se identificar o centro geométrico


do local incendiado, considerando os fundamentos de propagação de queima do fogo.
Deve-se observar-se que a presença de acelerante permite uma rápida movimentação e
generalização do fogo, com aumento do seu volume e a sustentação da combustão por
mais tempo.

Um ponto importante é avaliar a presença de botijões de gás; eles podem ser partes
integrantes do local ou estarem posicionados em locais sem explicação (levados
intencionalmente para um local) sendo a fonte de material combustível para o início
do incêndio.

A presença de marcas fantasmas no chão do local pode ser decorrente de líquidos


combustíveis derramados ou espargidos. E a presença de focos múltiplos, ou seja,
presença de materiais combustíveis espalhados de maneira sem ter relação entre si
podem ser indícios de foco de incêndio intencional. Nesses casos, a conversa com
pessoas associadas ao incêndio pode indicar um motivo pessoal para se suspeitar de
um incêndio intencional, como problemas familiar, separação, traição (guarda roupa,
cama), doença terminal etc.

32
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Figura 8. Bombeiro tentando conter um incêndio.

Fonte: Pixabay 6.

Incêndio em veículos
Quando não ocorre devido a ações intencionais ou acidentes veiculares, em geral,
ocorre pelo envelhecimento da mangueira de borracha que leva o combustível para o
motor e este, aquecido, provoca o incêndio. Portanto, deve-se examinar com atenção
as mangueiras.

Além disso, vazamento de combustível em conjunto com atrito excessivo dos


componentes pneumáticos, de lonas de freio, entre outros, são também possíveis causas
de um início de incêndio.

Incêndio em silos e armazéns


Nos silos e em armazéns de grãos existe uma enorme quantidade de poeira decorrente
do descascamento de grãos secos. Essa poeira liberada pelos grãos tem uma grande
superfície de contato, o que, em casos de incêndio, promove uma rápida propagação às
chamas aumentando os riscos de explosão. Os armazéns, devido à grande quantidade
de grãos estocados, representam um grande risco de propagação de incêndios.

Incêndio em imóveis
Nas residências, os riscos de incêndio podem ocorrer como consequência:

»» Do uso de velas.

»» Do uso indevido dos bujões a gás.

»» Da sobrecarga na fiação elétrica pelo uso de vários aparelhos numa mesma


tomada; fios desencapados etc.
33
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

Incêndio nas florestas


Nas florestas, os riscos de incêndio e, principalmente, a perda de controle da situação
de incêndio são ainda piores. Todos os anos, inúmeras queimadas ocorrem em todo o
Brasil em épocas de seca, colocando em risco a vida de inúmeros animais, bem como a
flora local.

Devido à ampla quantidade de material combustível, as chamas logo alcançam alturas


exorbitantes; a inclinação dos terrenos facilita a propagação do fogo; com a queimada,
a queda de árvores proporciona uma propagação do incêndio ainda mais rápida, sem
contar com a ação dos ventos que renova o oxigênio nos pontos de alta combustão,
aumento ainda mais as chamas, e colabora com o espalhamento das chamas.
Todos esses pontos tornam os incêndios em florestas uma tarefa difícil tanto de ser
desvendada como de ser controlada.

Esses incêndios ocorrem principalmente pela ação intencional ao atear fogo por
vingança ou desequilíbrio mental (piromaníaco); pela negligência da população quando
iniciam as chamas para fins recreativos como fogueiras em acampamentos, caçadas ou
pescarias. e/ou por causas naturais como altas descargas elétricas devido a raios.

34
CAPÍTULO 3
Perícia de medicamentos, cosméticos
e saneantes

Os exames periciais em medicamentos, cosméticos e saneantes visam detectar, pela


análise dos materiais, se houve adulteração, alteração, falsificação ou corrupção tanto
das embalagens como nas formulações. A primeira etapa da análise pericial consiste na
avaliação das embalagens, tanto do quesito “atender às normas de rotulagem” como na
perícia quanto à violação e falsificação dos produtos.

Normas específicas regulamentam o registro, a autorização de produção/comercialização,


e a rotulagem de produtos farmacêuticos, cosméticos e saneantes. A seguir, veremos cada
caso. Mas inicialmente, você conhece a classificação das embalagens, a nomenclatura
utilizada e quais as informações que devem estar devidamente apresentadas em
cada embalagem (tipo)? Essas informações são cruciais na realização de perícia de
medicamentos, cosméticos e saneantes.

Tipos de embalagem
De acordo com a Associação Brasileira de Embalagens são diversas as nomenclaturas
utilizadas (ABRE, 2018):

As normas regulamentam as especificações das embalagens de acordo com a classificação


em embalagens primárias, secundárias e terciárias (Figura 9):

»» Embalagem Primária: que está em contato direto com o produto.

»» Embalagem Secundária: designada para conter uma ou mais


embalagens primárias, podendo não ser indicada para o transporte.

»» Embalagem Terciária: agrupa diversas embalagens primárias ou


secundárias para o transporte, como a caixa de papelão ondulado.

O Rótulo é a parte externa da embalagem que contém toda e qualquer informação


relativa ao produto transcrita na embalagem. Por ser uma forma de comunicação visual,
deve conter a marca do produto, além de informações sobre ele.

35
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

Figura 9. Esquema ilustrativo de embalagem primária, secundária e terciária.

Primária

Secundária

Terciária

Fonte: alquimia do papel, 2018.

Quanto ao tipo da embalagem, pode ser:

»» Blister: Embalagem composta de uma cartela-suporte – cartão ou filme


plástico – na qual o produto é fixado por um filme em forma de bolha.
Embalagens utilizadas para comprimidos, por exemplo.

Figura 10. Blister de comprimidos.

Fonte Pixabay 7.

»» Cartucho: Embalagem estruturada em papel cartão. Exemplo: caixas de


cereais matinais e caixas de sabão em pó.

»» Contêiner: Grande caixa, de dimensões e outras características


padronizadas, para acondicionar e transportar produtos, facilitando seu
embarque, desembarque e transbordo em diferentes meios de transporte.
36
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Pode ser de metal ou madeira e é conhecido como cofre de carga quando


é dotado de dispositivos de segurança previstos por legislações nacionais
e convenções internacionais.

Quanto ao material, podem ser:

»» Embalagens mistas: Combinam dois ou mais materiais e materiais


reciclados. Exemplos: plástico com metal; metal com madeira; plástico
com vidro; vidro com metal; madeira com papel. A vantagem é a união
das propriedades dos materiais para proteger e transportar os produtos,
e atrair os consumidores.

»» Embalagens multicamadas: Combinam diferentes materiais, como


por exemplo alumínio + papel ou papel + papelão.

»» Embalagens laminadas: São embalagens formadas pela sobreposição


de materiais como filme plástico metalizado + adesivo + filme plástico.

»» Embalagens plásticas flexíveis: São aquelas cujo formato depende da


forma física do produto acondicionado e cuja espessura é inferior a 250
micra. Nessa classificação, enquadram-se sacos ou sacolas, envoltórios
fechados por torção e/ou grampos etc.

»» Embalagem reutilizável: Embalagem reutilizada em sua forma original


para o mesmo fim para a qual foi concebida e projetada. Ela deve desempenhar
um número mínimo de viagens ou rotações dentro de seu ciclo de vida.

Figura 11. Embalagem reutilizável.

Fonte: Pixabay 8.

Para cada caso apresentado a seguir – medicamentos, cosméticos, saneantos – existem


normas que estabelecem quais embalagens devem ser utilizadas, seu tipo e quais
informações devem estar contidas. Se atente para as informações, pois a perícia começa
em avaliar se a embalagem do produto está de acordo com a norma específica.

37
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

Medicamentos
Os medicamentos são regidos por diversas normas, sendo a Lei nº 6.360, de 23 de
setembro de 1976, a norma que dispõe sobre a vigilância sanitária a que ficam sujeitos
os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, definidos em Lei
anterior (Lei 5.991 de 1973). Em seu artigo 12, traz:

“Nenhum dos produtos de que trata esta Lei, inclusive os importados,


poderá ser industrializado, exposto à venda ou entregue ao consumo
antes de registrado no Ministério da Saúde.”

Isso significa que as empresas fabricantes de medicamentos, para seu funcionamento,


devem obter prévia autorização junto à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
Devem manter arquivo informatizado com o registro de todas as suas transações comerciais.

Os peritos devem estar atentos a todo vestígio que indique uma possível anormalidade
e devem tomar as medidas cabíveis com relação aos suspeitos de conduzirem a fraude.

Diversos estudos nacionais e internacionais abrangem os aspectos informativos das


embalagens e suas bulas; no Brasil, a informação em embalagens de medicamentos
é regulamentada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, que
recentemente aprovou novas regras para bulas de medicamentos, que devem oferecer
informações mais claras, linguagem objetiva e conteúdos padronizados para pacientes
e profissionais de saúde, segundo a Resolução da Diretoria Colegiada – RDC Nº
47, de 8 de setembro de 2009. Há inclusive uma lei, de nº 8.926, de 9 de agosto de
1994, que torna obrigatória a inclusão, nas bulas de medicamentos, de advertências e
recomendações sobre seu uso por pessoas de mais de 65 anos.

A avaliação de medicamentos pelo perito ocorre em várias etapas e visa à detecção


de anormalidades que indiquem a possível fraude. Inicia-se na avaliação pelas
embalagens dos medicamentos sob suspeita.

Figura 12. Rótulos de medicamentos.

Fonte: Pixabay 9.

38
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Existem diversos tipos de embalagens primárias de medicamentos, os mais comuns


são:
»» Envelope: material flexível formado por duas camadas do mesmo
material (geralmente alumínio), que são seladas e protegem cada dose
do medicamento.

»» Bisnaga: recipiente flexível para semissólidos e cremes.

»» Blister: bandeja moldada com selagem laminada para comprimidos e


pílulas.

»» Frasco: recipiente rígido para líquidos, geralmente de plástico ou vidro.

Contudo, as embalagens secundárias são as primeiras a serem analisadas pelos peritos


e estas devem conter informações básicas, como:

»» Nome comercial do medicamento (ausente no caso de medicamentos


genéricos).

»» Denominação genérica do princípio ativo.

»» Nome, endereço e CNPJ do detentor de registro no Brasil.

»» Nome do fabricante e local de fabricação do produto.

»» Número do lote.

»» Data de fabricação (no mínimo mês/ano).

»» Data de validade (no mínimo mês/ano).

»» Sigla “MS” seguida do número de registro no Ministério da Saúde, conforme


publicado em Diário Oficial da União (D.O.U), sendo necessários os 13
dígitos.

»» Telefone do Serviço de Atendimento ao Consumidor – SAC.

»» Cuidados de conservação, indicando a faixa de temperatura e condições


de armazenamento.

As normas para embalagens de medicamentos foram inicialmente regidas pela


Resolução da ANVISA RDC n° 168, de 10 de julho de 2002, a qual foi revisada em
2011, com o propósito de renovar a identidade visual das embalagens de medicamentos
distribuídos pelo Ministério da Saúde.

A norma específica da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a


rotulagem de medicamentos dispõe que os rótulos das embalagens dos medicamentos
39
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

com destinação institucional ao Ministério da Saúde, para distribuição por meio de


programas de saúde pública, devem obedecer à identificação padronizada e descrita no
Manual de Identificação Visual para Embalagens de Medicamentos (SUS, 2016).

As embalagens de medicamentos do SUS passaram a ter nova identidade visual, com


grafismo e tons de verde, os quais remetem à bandeira brasileira.

Normas a serem seguidas pelos fabricantes

Cada tipo de embalagem tem padrões específicos. Isso significa que padrões de um
tipo jamais poderão ser utilizadas em embalagem de outro tipo. Por exemplo: se a
produção é de uma ampola, as regras de embalagem de ampola devem ser atendidas,
e jamais deve se aplicar as regras de outros tipos de embalagem, como blister,
por exemplo.

Os medicamentos direcionados ao paciente devem conter nas embalagens secundárias,


a exemplo dos cartuchos, o nome comercial ou, na ausência desse, a sua denominação
genérica em Braille. Outras informações como concentração, forma farmacêutica, SAC,
também podem ser incluídas, desde que seja viável tecnicamente.

Para as embalagens com tamanho reduzido, o manual traz:

“As embalagens com tamanho reduzido devem conter o máximo de informações


possíveis para estas embalagens. A exclusão de algumas informações deve-se limitar
aos casos nos quais não se encontrou possibilidade de acomodá-las nos rótulos de forma
legível. As informações que não podem ser excluídas, pois garantem identificação e
rastreabilidade do medicamento, são:

»» Nome comercial do medicamento ou denominação genérica.

»» Concentração.

»» Via de administração.

»» Volume, se aplicável.

»» Nome da empresa titular do registro.

»» Nº do lote.

»» Data de validade.

»» ‘Agite antes de usar’, se aplicável.”

40
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

MANUAL DE EMBALAGENS DE MEDICAMENTOS – Sistema Único de Saúde (SUS)


– Fevereiro/2016.

Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2016/marco/


14/manual-medicamentos.pdf

Análise das características de segurança

A avaliação das características de segurança da embalagem secundária é a segunda


etapa dos exames. Essas características são:

»» Presença de tinta reativa: tinta que ao ser friccionada com metal revela a
palavra “Qualidade”, e a logomarca do fabricante.

»» Presença de lacre ou selo de segurança: tem rompimento irrecuperável e


detectável, por isso permite a visualização de uma possível violação para
adulteração. Por norma, deve ser adesivo e personalizado de acordo com
o fabricante.

Além da falsificação das embalagens, os medicamentos podem estar sujeitos a


adulterações. Um caso pouco abordado é a problemática da adulteração de formulações
de suplementos nutricionais. Atualmente, não há uma legislação específica e ora são
tratados como medicamentos, ora como alimentos.

Essa falta de norma faz com que a fiscalização sobre esses produtos ocorra de maneira
pífia, abrindo margem a adulteração não só de embalagens, mas também de formulação.

Suplementos nutricionais
Um suplemento nutricional ou dietético é definido como um produto utilizado para
fornecer uma dieta. São produtos à base de vitaminas, minerais, extratos de plantas,
aminoácidos e/ou enzimas e metabólitos, comercializados em diferentes formas de
apresentação, tais como comprimidos, cápsulas, cápsulas gelatinosas, líquidos ou pós
(DSHEA, 1994).

As normas internacionais exigem que os fabricantes e distribuidores de suplementos


nutricionais e de ingredientes alimentares devem cumprir as normas de formualção e
rotulagem, de maneira que todos os contituintes utilizados devem estar expressamente
declarados nos rótulos e obedecendo os limites diários recomendados. As empresas
são responsáveis por avaliar a segurança e rotulagem dos seus produtos antes da
comercialização, para garantir todos os requisitos regulamentados pelas agências

41
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

DSHEA e FDA. A FDA é a agência de fiscalização responsável pela punição das empresas
que apresentarem qualquer irregularidade em seus produtos.

Figura 13. Medicamentos e suplementos nutricionais.

Fonte: Pixabay 10.

A problemática da adulteração dos suplementos nutricionais está na garantia ao


consumidor de que os rótulos apresentam informações fidedignas a respeito da
composição do produto, além da adição de substâncias com atividades similares aquelas
indicadas nos rótulos, porém com menor eficiência. Estimulantes, anorexígenos,
fármacos inibidores das fosfodiesterase-5 (IPDE-5), laxativos, diuréticos, hormônios,
antidepressivos e ansiolíticos são alguns dos compostos já encontrados de maneira
inapropriada na formulação de diversas formulações com indicação para perda de
peso, estímulo das capacidades intelectuais, aumento do desempenho físico e/ou
estímulo sexual.

Não é de hoje que ouvimos notícias que relatam casos de intoxicação por ingestão de
alimentos contaminados, como o caso da adição de soda no leite, produto de limpeza
no achocolatado, produtos contaminados com gluten cujos rótulos não especificam
a isenção desse componente, dentre outros. Contudo, a devida atenção não tem sido
passada para os relatos de intoxicação, dentre outros problemas de saúde, relacionados
aos suplementos alimentares.

Outra problemática está relacionada ao fato de que alguns produtos como Whey
protein, são receitadas a pacientes debilitados por doenças graves, que tem dificuldade
na alimentação. Porém, caso o produto não atenda aos seus rótulos, o receituário não
atinge seu propósito e muitos saem perdendo. Além do mais, o risco de um quadro
alérgico em uma pessoa já debilitada torna-se ainda mais grave.

Toda essa problemática está relacionada a falta de legislação atual para normatizar e
regulamentar esse tipo de produto. Por ora, a ANVISA declara que qualquer produto
deve ter sua composição declarada nas embalagens e rótulos, de maneira que a

42
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

inspeção dos suplementos alimentares deve se dar na avaliação da sua composição em


comparação com a descrição dos rótulos.

Ler: De Carvalho, L. M., P. A. Cohen, et al. (2012). “A new approach to determining


pharmacologic adulteration of herbal weight loss products.” Food Addit Contam
Part A Chem Anal Control Expo Risk Assess 29(11): 1661-1667.

Para a investigação de formulações de suplementos nutricionais, é necessário o emprego


de técnicas cromatográficas de análise, além do uso de padrões de referência analítica para
a sua quantificação. Para tal, existem laboratórios certificados pela Anvisa, os quais
realizam as análises investigativas apropriadas.

Cosméticos
Os produtos cosméticos, apresentam-se dentro do grupo de produtos tais quais produtos
de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes, os quais são regidos pelas mesmas normas.
De acordo com a Resolução RDC 07 de 2015:

Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes


Figura 14. Produtos de Higiene Pessoal, Cosméticos e Perfumes.

Fonte: Pixabay 11.

São preparações constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso externo nas
diversas partes do corpo humano, pele, sistema capilar, unhas, lábios, órgãos genitais
externos, dentes e membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo exclusivo ou
principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua aparência e ou corrigir odores corporais
e ou protegê-los ou mantê-los em bom estado.

43
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

Podem ser classificados de acordo com a finalidade de uso, parte do corpo abrangida e
modo de usar e ainda, são classificados de acordo com o grau de risco que oferecem, sendo:

»» Grau 1: Estão dispostos na “Lista de tipos de produtos de grau 1” da RDC


07/15 e são produtos de risco mínimo, que se caracterizam por possuírem
propriedades básicas ou elementares, não sendo, inicialmente, necessária
a comprovação, nem informações detalhadas quanto ao seu modo de usar
e suas restrições de uso.

»» Grau 2: Estão dispostos na “Lista de tipos de produtos de grau 2” da


RDC 07/15 e são produtos com risco potencial; possuem indicações
específicas, cujas características exigem comprovação de segurança e/ou
eficácia, bem como informações e cuidados, modo e restrições de uso.

A legislação para fabricação e comercialização de cosméticos varia entre países.


Nos Estados Unidos e Europa, é possível a comercialização de cosméticos sem
registro formal junto ao órgão fiscalizador competente, sendo a fiscalização realizada
pós-comercialização. Já no Brasil, o fabricante deve obedecer a uma série de requisitos
formais antes da fabricação e comercialização, incluindo:

»» registrar o produto e notificar a sua comercialização;

»» comprovar, por meio de estudos científicos, a sua função e propriedades


atribuídas;

»» apresentar as diretrizes de rotulagem e folhetos de instrução de uso e etc.

A comercialização de cosméticos no Brasil era regida pelo Decreto 79.094/77 revogado


em 2013 pelo Decreto Nº 8.077, de 2013. A partir de 2013, os cosméticos foram
submetidos ao sistema de vigilância sanitária, por meio da Resolução RDC Nº 07, de
2015, a qual “dispõe sobre os requisitos técnicos para a regularização de produtos de
higiene pessoal, cosméticos e perfumes e dá outras providências”.

Especificamente, a rotulagens de cosméticos era regida pelos regulamentos:

»» RDC nº 211/2005 – dispõe sobre os requisitos obrigatórios para a rotulagem


de produtos de higiene pessoal, cosmético e perfumes

»» RDC nº 30/2012 – dispõe sobre os requisitos obrigatórios para a rotulagem


de protetores solares

»» RDC nº 38/2009 - dispõe sobre os requisitos obrigatórios para a rotulagem


de produtos cosméticos infantis

44
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Tais resoluções foram também atualizadas pela Resolução RDC Nº 07, de 2015, trazendo
em seus artigos 7 e 8 as obrigatoriedades e requisitos para os rótulos das embalagens,
respectivamente.

Leia a resolução RDC_07_2015 na íntegra - Ministério da Saúde - MS Agência


Nacional de Vigilância Sanitária - ANVISA Disponível em: http://portal.anvisa.
gov.br/documents/10181/2867685/RDC_07_2015_.pdf

O quadro resume as informações obrigatórias a serem incluídas na rotulagem primária


e secundária dos produtos de higiene pessoal, cosmético e perfumes.

Quadro 2. Quadro informativo que relaciona as informações obrigatórias a serem incluídas nas rotulagens primárias.

Item Embalagem
Nome do produto e grupo/tipo a que pertence no caso de não estar implícito nome Primária e Secundária

Marca Primária e Secundária

Número de registro do produto Secundária

Lote ou Partida Primária

Prazo de validade Secundária

Conteúdo Secundária

País de origem Secundária

Fabricante/Importador/Titular Secundária

Domicílio do Fabricante/Importador/ Titular Secundária

Modo de Uso (se for o caso) Primária ou Secundária

Advertências e Restrições de uso (se for o caso) Primária e Secundária

Rotulagem específica Primária e Secundária

Ingredientes/Composição Secundária

Fonte: RDC_07_2015 – ANVISA.

Um estudo realizado pela Fiocruz, no qual foi avaliada os desvios de integridade dos
cosméticos vendidos no Brasil, mostrou que os problemas dos produtos vão desde
parâmetros físico-químico, microbiológico e toxicológico, mas principalmente, de
rotulagem. Cerca de 95% (n=133) dos produtos avaliados, apresentaram alguma
inconformidade em seus rótulos (Rito et al., 2014). Esse é um problema grave,
levando em conta que os consumidores se baseiam na leitura dos rótulos dos
produtos cosméticos na hora da compra, visando identificar alguma substância
que lhe cause alergia, ter ciência de possíveis reações adversas, além de utilizarem
os rótulos no pós-compra para coletar instruções de uso apropriado, visando obter os
resultados esperados.

45
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

A ANVISA dispõe de um portal na internet para consulta de cosméticos regularizados


(Figura 15).

Figura 15. Portal ANVISA para consulta a Cosméticos Regularizados.

Diretrizes para avaliação da rotulagem de


produtos de higiene pessoal, cosméticos
e perfumes
A avaliação da rotulagem dos produtos inicia da avaliação da embalagem primária e
secundária.

Alguns lembretes são válidos para perícias de produtos cosméticos:

»» Os apelos ou alegações declaradas na rotulagem devem ser comprovados


e não induzir o consumidor a erro.

»» A composição deve estar completa.

»» Os campos referentes ao lote, validade e número de registro devem ser


indicados na rotulagem ou impressos em ink-jet.

»» Os produtos cosméticos não podem ter indicação ou menções terapêuticas.

»» O Fabricante/Importador (detentor do registro) é responsável pela


idoneidade/ veracidade e comprovação das informações constante da
rotulagem.
46
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Normas de rotulagem obrigatórias

As normas de rotulagem obrigatórias indicam que quando não existir embalagem


secundária toda a informação requerida deve figurar na embalagem primária.

Informações sobre prazo de validade pode se dar de duas maneiras:

»» Indicando data de fabricação e o prazo de validade.

»» Indicar a data de Validade, não sendo necessária a informação da data de


fabricação.

Algumas informações que exigidas nas embalagens primárias e secundárias podem


estar presentes no “Folheto de Instruções”, desde que conste na embalagem primária
o indicativo: “Ver folheto anexo”, tais quais: “modo de uso“ e “outras advertências ou
restrições do produto”. Isso ocorre geralmente quando a embalagem é pequena, e não
corta tais informações.

Observações sobre normas de rotulagem


específicas

»» Produtos infantis (RDC nº 38/01): É obrigatória a indicação da faixa


etária: a partir de 3 anos – “deve ser aplicado exclusivamente por adulto”
a partir de cinco anos – “utilização com supervisão de adulto”.

É obrigatório constar a advertência: “Em caso de irritação suspenda o uso


e procure orientação médica.

»» Protetores solares (RDC nº 237/02): Na rotulagem principal do


produto (primária e secundária) é obrigatório indicar de forma destacada
que o número de proteção solar seja precedido da sigla “SPF “ou “FPS”,
ou das palavras “Fator de Proteção Solar”.

O quadro resume as informações de classificação dos protetores solares que devem


constar nos rótulos, de acordo com o FPS, tipo de pele e expressão orientativa.

Quadro 3. Informações indicativas que devem conter nos rótulos de protetor solares (Fonte: ANVISAa).

Fator de proteção solar Tipo de pele Expressões orientativas

Baixa (FPS > 2 < 6) Pele pouco sensível “Oferece baixa proteção contra queimaduras solares”

Moderada (FPS > 6 < 12) Pele sensível “Oferece moderada proteção contra queimaduras solares”

Alta (FPS > 12 < 20) Pele muito sensível “Oferece alta proteção contra queimaduras solares”

Muito alta (FPS > 20) Pele extremamente sensível “Oferece muito alta proteção contra queimaduras solares”

47
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

Além das informações citadas acima, algumas expressões são obrigatórias nas embalagens
de protetores solar:
“É necessária a reaplicação do produto para manter a sua efetividade”

“Ajuda a prevenir as queimaduras solares”

“Aplique generosamente ou livremente antes da exposição ao sol e


sempre que necessário”

“Este produto não oferece nenhuma proteção contra insolação”

“Para crianças menores de (6) seis meses, consultar um médico”

“Evitar exposição prolongada das crianças ao sol”

No caso de produtos resistentes à água:

“Aplicar tão frequentemente quanto necessário; após nadar, secar-se


com toalha, sudorese intensa ou tempo de exposição prolongada ao sol”.

Produtos à base da substância benzofenona-3 devem conter a expressão (RDC 47/2006)


“Contém oxibenzona”.

Saneantes
Saneantes são todos os produtos utilizados na limpeza dos ambientes. Como por exemplo:

»» Detergente líquido.

»» Detergente em pó e sabão em pó.

»» Cera.

»» Água sanitária.

»» Inseticida, repelente de insetos e raticidas.

»» Desinfetante.

Figura 16. Saneantes - produtos de limpeza para ambientes.

Fonte: PxHere_1.

48
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

A ANVISA é o órgão responsável pela liberação da comercialização dos saneantes,


exigindo das empresas fabricantes produtos saneantes seguros, que proporcionem bons
resultados e com rigoroso controle de qualidade. Dessa forma, todo produto colocado à
venda deve ser previamente liberado pelo Ministério da Saúde.

Os produtos que não possuem a liberação do Ministério da Saúde são considerados


clandestinos ou piratas. Portanto, não apresentam avaliação de qualidade e não são
seguros ao uso dos indivíduos. Nestes casos os exames periciais são simples e baseados na
observação da embalagem. São características das embalagens de produtos saneantes:

Apresentar o rótulo de descrição do produto. As principais informações que devem


estar contidas nos rótulos são:

»» Nome do fabricante ou importador, com endereço completo, telefone.

»» Nome do técnico responsável pelo produto.

»» A frase “Produto notificado na ANVISA” ou número do registro no Ministério


da Saúde.

»» A frase “Antes de usar leia as instruções do rótulo”.

»» Avisos sobre os perigos e informações de primeiros-socorros.

»» O número de telefone do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC).

Alertas:

Caso esteja escrito no rótulo “PROIBIDA A VENDA DIRETA AO PÚBLICO” ou “USO


PROFISSIONAL” este produto somente poderá ser utilizado por profissional habilitado.

O rótulo não pode estar rasgado, descolado da embalagem, manchado ou ilegível.

Análise química de medicamentos,


cosméticos e saneantes
Os medicamentos/suplementos nutricionais, os cosméticos e saneantes são produtos
que podem ser adulterados ou contaminados, causando sérios riscos à saúde dos
consumidores. Sendo assim, a adição de componentes não declarados nos rótulos ou
em concentrações diferentes daquelas declaradas nos rótulos configura crime.

A análise desses produtos quanto à presença de componentes indevidos exige técnicas


instrumentais de separação como a cromatografia líquida e/ou a cromatografia gasosa.
Essas técnicas possibilitam não apenas a detecção de componentes desconhecidos, mas

49
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

também a quantificação dos compostos presentes na formulação, a fim de se avaliar se


as formulações correspondem àquela descrita nos rótulos.

Componentes não detectáveis por essas técnicas, como sais inorgânicos e metais são
analisados via ensaios de via úmida (titulações ácido-base, titulações de precipitação) e
por técnicas de absorção atômica e análise por chama.

Por se tratarem de formulações complexas, compostas por vários componentes, os


medicamentos/suplementos nutricionais, os cosméticos e saneantes precisam ser
submetidos a etapas de manipulação e processamento dos produtos para torná-los
passíveis de análise. Toda análise cromatográfica exige que a amostra a ser analisada
encontre-se solubilizada em um solvente apropriado, de maneira que as substâncias
ativas a serem identificadas e quantificadas encontrem-se ali dispersas, para então ser
inserida nos equipamentos para análise.

Como vimos, os ingredientes ativos das formulações desses produtos, bem como
aqueles utilizadas para a adulteração e/ou falsificação de formulações, são, em sua
maioria, substâncias orgânicas. Os fármacos e cosméticos agem no nosso organismo
provocando algum efeito esperado. Enquanto que saneantes podem conter ativas,
empregadas na adulteração de suplementos nutricionais são, em sua maioria, fármacos,
ou seja, substâncias orgânicas que agem em algum sistema do nosso organismo.
Dessa maneira, a grande maioria dessas substâncias são facilmente solubilizadas em
solventes orgânicos como metanol ou acetonitrila. Tais solventes são compatíveis com
técnicas instrumentais cromatográficas, o que facilita o procedimento de análise.

Além da necessidade de solubilização das amostras, faz-se necessária a minimização


dos demais componentes presentes nos medicamentos, cosméticos e saneantes.

50
CAPÍTULO 4
Perícias em material genético

Perícia em material genético está relacionada à grande área da Biologia Forense,


a qual abrange uma grande variedade de conhecimentos biológicos que permitem
investigar e assessorar a Justiça em diversas questões acerca da identificação humana
e da investigação de restos biológicos humanos. Bem-vindos a este novo capítulo.
Aqui, pretende-se apresentar uma parcela deste vasto campo de conhecimento,
incluindo as principais técnicas utilizadas em identificações genéticas.

Como objetivos, pretende-se proporcionar a vocês conhecimentos básicos, mas


necessários nos campos da perícia em material genético, desde a licitude do procedimento
para fins criminais, à coleta correta de materiais biológicos em locais de crimes e
seu ideal tratamento (físico e de custódia) e seu envio para análises laboratoriais e a
interpretação de resultados de laudos de Constatação de Vestígios Biológicos e de DNA.

“Há anos, perguntava-se a deputados de um certo estado norte


americano: “Onde estão situados os genes?” Parte significativa das
respostas dizia: “na cabeça”. Não pode censurar-se a resposta por ela
ser depreciativa; na verdade, o local indicado tem a sua dignidade ou,
pelo menos, há pior. Outra parte dos inquiridos respondeu: “no corpo”
(Princípios em Genética Forense)”

Amparo legal
A análise de material genético para fins de identificação de pessoas e banco de dados
de indivíduos condenados está amparada pela Lei 12.654/2012. Esta Lei, alterou a Lei
anterior 12.037/09, implementando, pela primeira vez no ordenamento jurídico pátrio,
a permissão para coleta de material genético para fins de identificação criminal.

Pelas leis anteriores, a identificação criminal era permitida apenas por meio da
datiloscopia e da identificação fotográfica. Com a deliberação da Lei 12.654/12, foi
acrescentada mais uma possibilidade, a identificação por perfil genético.

A norma traz duas possibilidades para a investigação por perfil genético:

I. Na investigação: quando durante a investigação de um dado crime


se faz essencial a prova genética para se apurar a autoria do crime.
A essencialidade da coleta do material deve ocorrer mediante decisão

51
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

judicial fundamentada, e a inclusão da análise do perfil genético nos autos


deve ser realizada por meio de requerimento da autoridade policial ou
do Ministério Público. Para que o caso seja válido, não se faz necessário
que o crime tenha sido realizado com violência ou grave ameaça contra
pessoa, sendo suficiente a demonstração da natureza essencial da coleta
para a investigação criminal.

II. Após a condenação definitiva: No caso de crimes praticados


“dolosamente, com violência de natureza grave contra pessoa, ou por
qualquer dos crimes previstos no art. 1ᵒ da Lei de Crimes Hediondos”
(Lei 12.654/12), não incluindo os crimes equiparados a hediondos, a lei
impõe, como etapa processual normal, a coleta de material genético, de
forma compulsória e automática, para armazenamento de perfil genético
de condenados por crimes considerados graves pelo legislador em banco
de dados sigiloso. Embora a Lei não exige a necessidade do transito em
julgado do caso para a coleta do material genético durante a fase de
execução processual, admite-se que é prudente aguardá-lo resguardando
o que prescreve o art. 5, LVII da Constituição Federal: “ninguém será
considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória”

Sobre a interpretação dessa lei quanto a licitude de coleta de material genético


na investigação criminal é essencial a leitura do artigo a seguir:

Lei 12.654/12: a identificação criminal por perfil genético no brasil.

Disponível em: https://lipezmartins.jusbrasil.com.br/artigos/121943801/lei-


12654-12-a-identificacao-criminal-por-perfil-genetico-no-brasil.

Mesmo a Lei em vigor desde 2012, a legalização da coleta de material genético em


investigações criminais é assunto de discussão, tendo em vista ao Princípio da não
autoincriminação do Direito Penal brasileiro. Em setembro de 2017, houve um recurso
contra o Ministério da Justiça de Minas Gerais pela autorização da coleta de material
genético de investigado, baseando-se na Lei de execução penal. Contudo, em fevereiro
de 2018, a Procuradora-Geral Raquel Dodge se manifestou favorável à coleta de material
genético e declarou constitucional a decisão do Ministério da Justiça de Minas Gerais.
Para Raquel Dodge “A identificação da pessoa é direito estatal voltado à preservação
da segurança pública” e destacou a contrapartida do banco de dados de perfil genético
em prol dos investigados: “Não havendo duas pessoas com o mesmo perfil genético,
aquele, cuja presença não for confirmada na cena do crime pela perícia, não poderá ser
condenado injustamente”.

52
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Princípio de Genética Forense


A resposta à pergunta do trecho citado acima do livro Princípios em Genética Forense,
hoje, parece óbvia. Mas vocês saberiam dizer quais materiais biológicos coletariam
para solucionar conflitos como o de paternidade, ou para identificar um criminoso?
E se apenas restassem restos cadavéricos para fins periciais?

A identificação genética de parentesco ou de um “alegado criminoso” é sempre realizada


considerando uma comparação, na qual existe uma probabilidade de resultado se o pai
ou o “criminoso” for um homem ao acaso da população. Porém, para se “determinar” a
identidade do indivíduo ao acaso é essencial a indicação da população de referência, pois
a constituição genética dos indivíduos pode variar muito de uma população para outra.

Nas perícias de matérias genéticos as amostras biológicas, vestígios biológicos como


sangue, sémen, pelos, saliva, células epiteliais, dentre outros, são colhidas no local do
crime: na cena e/ou no corpo ou peças de vestuário da vítima e/ou do suspeito. Esses
materiais biológicos são analisados em laboratório de maneira que a identificação
genética destas amostras é feita por meio do estudo do DNA. Posteriormente realiza-se
a interpretação e a avaliação estatística dos resultados encontrados.

A análise dos resultados se dá mediante comparação do perfil genético das amostras


biológicas coletadas na cena do crime e, dessa maneira, suspeitas de estares relacionadas
com o delito, com os perfis genéticos da vítima e do suspeito. Ao material genético
coletado nos materiais suspeitos dá-se o nome de “amostras problemas” e ao material
genético tido como referência, dá-se o nome de “amostras de referência”.

A existência de concordância entre o perfil genético da amostra biológica relacionada


com o delito e o perfil genético do suspeito consiste de uma indicativa em potencial de
que o suspeito é de fato o criminoso. Neste caso, faz-se a valorização dos resultados
através da determinação do Likelihood Ratio (LR). As conclusões da perícia devem ser
reportadas por meio de laudo pericial, o qual irá constituir prova em tribunal.

As amostras biológicas ou vestígios biológicos coletados devem, é claro, conter material


genético, já que o DNA nuclear (DNAnu) dos autossomas (cromossomas não sexuais)
é único para cada indivíduo (excetuando os gêmeos monozigóticos) e são idênticos em
todas as suas células; ou seja, estudando qualquer vestígio biológico pode-se identificar
o indivíduo ao qual esse vestígio pertence.

Perícias em material genético têm uma vasta aplicação, tais como na identificação
de suspeitos em casos de crimes sexuais (estupro, atentado violento ao pudor, entre
outros); auxiliar na determinação do tempo da morte e/ou de uso de substâncias
tóxicas; identificação de cadáveres carbonizados, em decomposição, mutilados, parte

53
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

e órgãos de cadáveres; cadáver resultante de aborto provocado; no estabelecimento de


relação entre instrumentos lesivos e vítimas, material biológico presente em anteparo
encontrado em local de crime; investigação de paternidade em caso de paternidade
resultante de estupro; dentre outros.

A figura abaixo mostra o esquema das etapas envolvidas na perícia em material genético.

Figura 17. Esquema ilustrativo da Perícia em Material Genético.

Coleta do material genético

Extração do DNA

Quantificação do DNA

Amplificação do DNA

Análise comparativa do DNA da amostra


problema com o DNA da amostra referência

Cálculos estatístico quando cabíveis

Laudo

Fonte: própria.

O primeiro passo na perícia em material genético é proceder à coleta da amostra no


local do crime de maneira correta. Qualquer tipo de tecido ou fluido biológico pode ser
coletado como amostra para análise de DNA em um local de crime, tendo em vista que
são formados por células. Nas células, o DNA de interesse forense encontra-se tanto no
núcleo como nas mitocôndrias (Figura 18).

Para que a análise do DNA possa alcançar seu alto grau de confiabilidade, é preciso primeiro
confiar nas amostras obtidas, para então serem analisadas por técnicas moleculares em
laboratórios e realizar a identificação do indivíduo presente na cena no crime.

54
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Vale ressaltar que mesmo com a melhor qualidade possível de amostras, a utilização
do DNA forense na pesquisa criminal não pode ser prova única, ou seja, não pode
provar sozinho a culpa ou a inocência de alguém. Entretanto é uma ferramenta
valiosa para relacionar um indivíduo suspeito a uma cena de crime, tendo em vista
que a identificação de indivíduos por meio da análise do DNA é estabelecida em todo
o mundo em processos criminais, pois permite a identificação de pessoas mesmo após
100 anos a sua morte.

Figura 18. Ilustração de uma célula com os componentes onde são encontrados o DNA em destaque.

Fonte: Bezerra, 2004.

Fundamentos da análise de DNA


O DNA é formado por várias unidades monoméricas denominadas nucleotídeos, os
quais por sua vez, são formados pela ligação de três tipos de moléculas: uma de açúcar
(pentose), uma de ácido fosfórico e uma que denominamos de base nitrogenada. São
quatro possíveis bases nitrogenadas que podem formar um nucleotídeo: adenina (A),
guanina (G), citosina (C) e timina (T). Uma sequência de nucleotídeos de diferentes
bases nitrogenadas forma a fita do DNA.

Contudo, a fórmula estrutural do DNA é composta por dupla hélice, ou seja, duas fitas de
DNA ligadas pelas suas bases nitrogenadas, uma complementar a outra. Essa estrutura
do DNA pode ser melhor entendida visualizando a Figura 19.

Ao longo de toda a estrutura linear do DNA, há regiões em que a sequência de bases


nitrogenadas de uma das fitas da estrutura do DNA se repete “n” vezes, sendo “n” um

55
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

número inteiro, conhecidas como sequências “in tandem”. Essa repetição pode ser com
poucas bases nitrogenadas ou com várias, sendo denominada como:

»» STR, do inglês short tandem repeats: sequências repetidas que contêm


poucos pares de bases (pb). Por exemplo (CA)n, ou seja, a sequência de
bases nitrogenadas citosina – Adenina de uma das fitas do DNA se repete
sucessivamente “n” vezes.

»» VNTR, do inglês variable number tandem repeats: sequências


repetidas com vários pares de bases nitrogenadas. Por exemplo:
(GCTGGAGGGCAGGA)n - 14 pb de comprimento (Bezerra, 2004).

São essas partes da estrutura do DNA que apresentam sequências “in tandem” de
interesse das análises forenses. São essas sequências que caracterizam um indivíduo.
Ou seja, essas regiões do DNA caracterizam a individualização, ou seja, a atribuição
de características genéticas que tornam um indivíduo único. O agrupamento de um
conjunto de regiões genéticas, ou sequências “in tandem, conectadas entre si geram
uma espécie de “impressão digital genética”. A análise de DNA consiste em determinar
essa sequencias e a partir da comparação dessas “impressões digitais genéticas” é
possível observar se diferentes amostras biológicas são originárias do mesmo indivíduo
ou de indivíduos diferentes; ou ainda, se há uma relação biológica entre os agentes
emissores de amostras comparadas (Santiago, 2017).

Figura 19. Estrutura do DNA dupla hélice.

Fonte: Newman e Biggers, 2018.

56
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Coleta de amostras biológicas para análise


de material genético

Questões legais

A coleta de material genético para fins de análises periciais está norteada pela Resolução
SSP 194/99, dentre outras normatizações estaduais específicas. Nela, estão descritos os
procedimentos a serem utilizadas, seus devidos cuidados para que o material coletado
tenha valia como prova material em ação judicial.

A norma traz:

“Art. 1º. – A coleta de material biológico e os procedimentos


preliminares para exame de identificação humana pela análise do DNA
ou equivalente seguirão as normas e procedimentos dispostos no Anexo
I desta Resolução.

Parágrafo único: Por exame de identificação humana entende-se


todo e qualquer procedimento experimental biológico ou bioquímico
tendente a estabelecer a identidade da pessoa humana, bem como sua
inclusão ou exclusão em análises de confronto entre o material coletado
e aquele por ela, ou seus parentes, fornecido.”

De acordo com a referida norma, a coleta de material genético na cena do crime deve,
obrigatoriamente, ser executada por Perito Criminal, o qual será o responsável pela
elaboração do Laudo pericial. Contudo, o Perito Criminal que executou a coleta do
material genético ficará proibidos de executar a análise do material genético, a qual
deverá ser realizada por outro profissional especialista no assunto.

Além disso, a norma traz que “A coleta de material biológico em pessoas vivas será
feita somente em locais apropriados e com o expresso consentimento destas”, que
deverão assinar um “Termo de coleta”. Neste termo, deverão estar inclusas as seguintes
informações (Artigo 6):

Art. 6º. - Termo de coleta:

a) nome do doador;

b) número da Cédula de Identidade e respectivo órgão expedidor;

c) somente no caso de coleta de amostra de sangue:

1) declaração de estar doando voluntariamente 02 (duas) amostras


de sangue periférico, a serem colhidas por punção venosa;

57
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

2) declaração de não haver recebido transfusão sanguínea nos


últimos 90 (noventa) dias e não ter sido submetido a transplante de
medula óssea;

d) número do Boletim de Ocorrência Policial, Inquérito ou Processo a


que se refere o caso, bem como da Autoridade requisitante;

e) local, data e horário da coleta;

f) assinatura do doador, do Médico Legista e de 02 (duas) testemunhas.

Obs. no caso do doador ser analfabeto ou incapacitado, além de sua


impressão digital, será exigida a assinatura de uma terceira testemunha
a rogo;

g) declaração do doador de que está fornecendo o material de livre e


espontânea vontade;

h) declaração do órgão coletor de que a coleta será utilizada


exclusivamente para exames forenses relacionados com a ocorrência
em tela, visando preservar seus direitos de pessoa humana e evitar
imputações criminosas indevidas.

Procedimentos
Deve se ter o máximo de cuidado ao se deparar com amostras biológicas no local do crime.
As condições originais do material devem ser preservadas, evitando contaminações ou
degradações da amostra no ato da coleta.

Existe no mercado especializado alguns kits próprios para coleta e preservação de


vestígios biológicos. Entretanto, o próprio laboratório ou instituição que realiza perícias
em local de crime também pode preparar seu próprio kit, desde que todo material
selecionado seja de uso exclusivo para a análise de DNA, a fim de evitar possíveis
contaminações bem como garantir a presença dos diversos itens em cada coleta.

Sangue

Sangue seco

Aderido em paredes, azulejos ou suportes rígidos: pode ser coletado com suabe (cotonete
de haste longa) umedecido com água destilada, ou raspagem com lâmina. Caso haja a
necessidade de secar o material antes do armazenamento, evitar jatos de ar quente,
pois pode degradas o DNA. O material deve, então, ser acondicionado em envelope de
papel, frasco de vidro ou saco plástico.
58
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Sangue líquido

Pode ser coletado com uma seringa ou pipeta e injetado num tubo vacutainer, que
contém uma solução com propriedades anticoagulante e preservativas. Um suabe
também pode ser usado, desde que o material seja seco antes do armazenamento.
Nesse caso, lembre-se de não utilizar aquecimento, devida à sensibilidade do DNA ao
calor. Quando coletado na forma de sangue líquido, o material deve ser armazenado
em freezer ou congelador a vinte graus Celsius (-20ºC) ou, na impossibilidade, em
geladeira, a quatro graus Celsius (4ºC), até o envio para o laboratório.

Sangue presente em superfícies

Sangue presente em corpos, na rua, em móveis, em parede e etc. podem ser coletados
usando o suabe ou um chumaço de algodão. No caso de manchas de sangue em tecidos,
esses podem ser recortados e armazenados em envelope de papel, frasco de vidro ou
saco plástico. O material coletado deve ser armazenado em freezer ou congelador a
vinte graus Celsius (-20ºC) ou, na impossibilidade, em geladeira, a quatro graus Celsius
(4ºC), até o envio para o laboratório.

Sêmen

Havendo preservativos com o material genético, este pode ser coletado para análise.
A parte externa pode conter material genético da vítima, por isso deve-se tomar
o cuidado para que não haja contaminação de um material com o outro. O material
deve ser armazenado em freezer ou congelador a vinte graus Celsius (-20ºC) ou,
na impossibilidade, em geladeira, a quatro graus Celsius (4ºC), até o envio para o
laboratório.

Material em lençóis ou roupas podem ser coletados cortando a região que contém o
material biológico. Armazenar em saco de papel ou plástico e guardar no congelador ou
freezer, até enviar para o laboratório. Antes de armazenar, observar se está seco.

Saliva

Havendo a presença de marcas de mordida, deve-se atentar que mesmo o local estando
seco é possível encontrar células da saliva do agressor na região das marcas dos dentes
e proximidades. Para a coleta, friccionar um suabe úmido nessa região. Deve-se coletar
também o material da vítima a fim de servir de exclusão, que pode ser por meio de suabe
bucal, esfregaço na mucosa oral, ou pela coleta de sangue por profissional da saúde.
O Armazenamento deve ser feito em freezer ou congelador -20ºC ou em geladeira a 4ºC
e envio rápido até o laboratório.

59
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

Cabelo e Pelos

Cabelos devem ser coletados, sempre que possível, com o bulbo da raiz, ou mais
próximos possível da raiz, pois é onde encontram-se células contendo DNA pela irrigação
sanguínea no couro cabeludo. Os pelos devem, necessariamente, ser coletados com a
raiz (bulbos), devido sua extensão mais curta. A extensão do cabelo contém apenas
proteínas, não havendo células com material genético.

Ossos

Nos ossos e dentes, o material genético encontra-se na parte interna, ou seja, na medula
óssea. Cerca de 4 cm de osso contém muito material genético em sua porção interior, a
qual deve ser aberta para coletar as células contendo o DNA. No caso da Figura 20, em
um local de crime em que se encontra uma ossada humana, a coleta de DNA pode ser
utilizada para a identificação da vítima.

Figura 20. Encontro de ossada humana - coleta de DNA para identificação.

Fonte: acervo próprio.

Outros tecidos

Pequenas quantidades de tecidos (poucos miligramas) podem ser utilizadas para


coleta de DNA. Feto humano pode conter material para exame de paternidade em caso
de estupro. Tecidos de órgãos internos de corpos carbonizados também podem ser
utilizados.

Além dessas amostras, objetos como luvas, boné, relógio, óculos, ou seja, que estão
em constante atrito com o corpo do indivíduo, podem conter células, provenientes
da descamação da pele, suficientes para extração e estudo do DNA, chamados de
DNA Touch.
60
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

Amostras Post-Mortem

No caso de vítimas fatais, as amostras devem ser coletadas em duplicata. Todo material
colhido deve ser armazenado em congelador a -20 ᵒC.

Crimes sexuais: devem ser coletadas amostras de sangue para identificação da


vítima e, com a utilização de suabe, amostras da vagina, ânus, boca e possíveis vestígios
contidos sob as unhas.

Em cadáveres: a retirada de sangue é recomendada por punção cardíaca ou diretamente


da cavidade cardíaca ou, ainda, de vaso de grosso calibre.

No caso de cadáveres carbonizados, em decomposição ou decompostos devem ser


retirados fragmentos de fígado, músculos, tufos de fios de cabelos com bulbos, coágulos
de sangue contidos nas cavidades e nos órgãos, dentes e ossos, fêmur ou costela.

O artigo referenciado traz uma abordagem atual sobre a coleta de matéria


genético para fins de análise de DNA Forense.

Referência: Revista Especialize On-line IPOG - Goiânia - Ano 8, Edição nº 14 Vol.


01 dezembro/2017. ISSN 2179-5568.

Técnicas empregadas na análise de DNA


Uma das principais técnicas empregadas na análise de DNA é a eletroforese. A técnica
baseia-se na separação das moléculas de DNA de acordo com o tamanho (massa),
forma e compactação. O princípio da análise consiste na migração das moléculas de
DNA em géis de agarose ou acrilamida (que funciona como um suporte), em função da
aplicação de uma corrente elétrica. A aplicação da corrente elétrica gera uma diferença
de potencial promovendo a atração e repulsão do DNA.

As moléculas de DNA apresentam carga negativa, que quando submetidas ao


campo elétrico, são atraídas para o polo positivo. Devido ao atrito pelo suporte em
gel, as moléculas de DNA presente no material genético são separadas de acordo
com o tamanho e a forma. Quanto maior a molécula, maior o atrito e mais lenta a
migração, de modo que, depois de um tempo determinado, moléculas de tamanhos
diferentes terão migrado uma distância diferente ao longo do suporte em gel.
A distância que o fragmento percorreu a partir do ponto de aplicação é comparada
com a distância que outros fragmentos conhecidos percorrem no mesmo gel, sendo
dessa maneira realizada a identificação dos fragmentos de DNA presente no material
em análise.

61
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

A visualização do deslocamento das moléculas de DNA só é possível pela aplicação de


indicadores fluorescentes como o Brometo de Etídio (EtBr), os quais interagem com as
moléculas de DNA, e ao serem submetidos a irradiação UV emitindo radiação.

A desvantagem da eletroforese é que essa técnica não permite a identificação dos


fragmentos quanto à sequência, apenas quanto ao tamanho do DNA. Para se identificar
o DNA com uma sequência de bases especificas usa-se uma técnica chamada Shouthern
Blotting.

A técnica de Shouthern Blotting consiste na combinação da técnica de eletroforese,


hibridização com sondas marcadas radioativamente e autorradiografia. O material
genético suspeito e o DNA comparativo são fragmentados em segmentos menores
empregando enzimas apropriadas. Os fragmentos dos DNA são separados por
eletroforese, de acordo com o tamanho. Após a separação, os fragmentos são submetidos a
reação com sondas específicas marcadas radioativamente para um fragmento específico
contido no material genético comparativo. As sondas reagem com esse fragmento e
caso o mesmo fragmento esteja presente no material genético suspeito, sofrerá a
mesma reação. Após essa etapa, a visualização dos fragmentos reagidos com a sonda
específica é realizada por radiografia. A partir da comparação com o DNA comparativo
identifica-se se o fragmento alvo está contido no material genéticos suspeito ou não.

Assista ao vídeo ilustrativo da técnica por Shouthern Blotting:

http://highered.mheducation.com/olcweb/cgi/pluginpop.
cgi?it=swf::595::600::/sites/dl/free/0072552980/115875/micro14.swf::Steps%20
of%20a%20Southern%20Blot.

62
CAPÍTULO 5
Química de explosivos

Os explosivos estão associados a inúmeros feitos da humanidade, embora tenham


contribuído significativamente para a destruição de vidas humanas.

Figura 21. Pictograma – Explosivos.

Fonte: Pixabay 12.

Projetos de engenharia como a ponte Rio-Niterói, o túnel dois irmãos ou a hidrelétrica de


Itaipu seriam físicos ou, economicamente, impossíveis se não existissem os explosivos,
sendo assim um dos mais poderosos utilitários da humanidade. Dentre as aplicações
que facilitaram obras de engenharia, minerações e aplicações industriais estão a
restauração de freios de caminhões ou a construção de aeronaves, o uso de explosivos
submersos para moldar metais, além de suas aplicações para fins militares.

Na linha do tempo do desenvolvimento dos explosivos encontra-se a pólvora negra, uma


mistura de enxofre, carvão e salitre utilizada como propelente de mísseis em meados
de 1300. Em 1850, foi descoberto o uso da nitroglicerina e da nitrocelulose como
explosivo, seguido das invenções das dinamites e da espoleta de fulminato de mercúrio,
que marcaram a era dos alto-explosivos. A pólvora sem fumaça foi introduzida em 1867
e os explosivos atômicos em 1945, o que marcou o início do terceiro estágio na história
dos explosivos.

Explosivos são substâncias ou misturas que ao sofrerem combustão se transformam


rapidamente em gases e liberam enorme quantidade de calor. Como consequência,
uma enorme pressão é gerada, a qual é dissipada produzindo trabalho. São compostos
instáveis naturalmente e facilmente acionados por chama, choque, atrito ou calor.
De acordo com a forma com que são acionados são classificados em explosivos
mecânicos, atômicos ou químicos.

63
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

Os explosivos químicos, foco desse capítulo, são classificados de maneiras diversas,


como veremos a seguir:

Explosivos de acordo com a função química


São divididos pelo grupo funcional como:

»» Nitrocompostos.

»» Ésteres nítricos.

»» Nitroaminas.

»» Derivados dos ácidos clórico e perclórico.

»» Azidas.

»» Sais como cloratos, percloratos e nitratos.

»» Compostos capazes de produzir uma explosão como por exemplo


fulminatos, acetiletos, compostos ricos em N2 (como o tetrazeno),
peróxidos, ozonídeos etc.

Tais substâncias são consideradas explosivas por compor em suas estruturas moleculares
grupos denominados “explosóforos”, que são funções químicas que apresentam baixo
calor de formação de suas ligações, e, por isso, estão propensos a se decompor facilmente
com um pequeno impulso. São eles:

»» -NO2 e -ONO2 em substâncias orgânicas e inorgânicas.

»» -N=N- e -N=N=N- em azidas orgânicas e inorgânicas.

»» -NX3 (X= halogênio) ex: NCl3.

»» -N=C- em fulminatos.

»» -OClO2 e -OClO3 em cloratos e percloratos orgânicos ou inorgânicos.

»» -O-O- e -O-O-O- em peróxidos e ozonídeos orgânicos e inorgânicos.

»» -C-C- no acetileno e em acetiletos metálicos.

»» M-C em alguns compostos orgânicos contendo metal ligado a carbono.

Ainda do ponto de vista químico, os explosivos são classificados como:

»» Simples: formados por apenas uma substância química, tais como


nitroglocerina, nitroglicol, nitrocelulose, trotil e ciclonite.
64
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

»» Mistos: formados por substâncias que isoladamente não são explosivas,


mas que misturadas com algum solvente, por exemplo, tornam-se
explosivas. Cita-se os nitratos inorgânicos, cloratos e percloratos; o
nitrado de amônio, por exemplo, torna-se explosivo ao ser misturado ao
óleo diesel.

»» Compostos: formados por misturas entre explosivos simples e outras


substâncias capazes de consumir e produzir oxigênio.

Explosivos de acordo com a potência

Explosivos primários ou iniciadores

São aqueles empregados em processos de iniciação dos explosivos devido a sua facilidade
de iniciação de explosão. São materiais muito sensíveis, que podem explodir sob a ação
do fogo ou pelo impacto de um golpe. São muito perigosos de manusear e são usados
em quantidades comparativamente pequenas para iniciar a explosão de quantidades
maiores de explosivos menos sensíveis. Usualmente são sais inorgânicos, a exemplo
das espoletas, Cordel Detonante, Boosters, etc. Os mais usados industrialmente são:
Azida de Chumbo, Estifinato de Chumbo, Fulminato de Mercúrio, Nitropenta, etc.
Não tem força para detonar a rocha, apenas iniciar a explosão de outros explosivos
mais potentes.

Explosivos secundários ou Alto Explosivos

São os explosivos propriamente ditos ou, também denominados, explosivos de


ruptura. São tão potentes quanto os explosivos primários, porém apresentam
maior estabilidade quando comparados aos explosivos iniciadores, de maneira que
demandam uma maior energia para serem acionados e iniciar o processo de detonação.
Geralmente, essa energia para detonação é fornecida pela ação direta da detonação
de um explosivo primário. Embora menos sensíveis, explodem com grande violência
quando ativados. Exemplo de explosivos secundários são as Dinamites, Gelatinas,
ANFOS, Lamas etc.

Alguns materiais podem atuar tanto como primários como secundários em um processo
de detonação. É o caso da Nitropenta, que no Cordel Detonante atua como explosivo
primário ou iniciador, e atua como secundários em cargas de demolição.

65
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

Figura 22 - Ilustração de um explosivo TNT.

Fonte: Pixabay 13.

Explosivos de acordo com o desempenho


Explosivos Deflagrantes: São aqueles que se decompõem através de uma reação de
deflagração. São também denominados baixos explosivos, produzem queima rápida,
sem grande onda de choque. Usados na produção de mármores, paralelepípedos de
calçamento, etc. O único ainda usado é a pólvora negra.

Explosivos Detonantes: Decompõem-se pela reação de detonação e apresentam


grande capacidade de trabalho pelo que são também conhecidos como explosivos de
ruptura. São os explosivos industriais propriamente ditos.

Deflagração: É a autocombustão de um corpo, que pode estar em qualquer


estado físico e que contém em sua composição combustível e comburente
intimamente misturados em proporção adequada. Ocorre na direção
normal à superfície, por camadas, devido à transferência de calor da zona de
chama que se encontra na fase gasosa adjacente à superfície. Pode ocorrer a
velocidades controladas que variam de uns poucos centímetros por minuto até,
aproximadamente, 400 m/s. É um fenômeno de superfície e é característico dos
chamados baixos explosivos.

Combustão: É a reação química do oxigênio com materiais combustíveis


orgânicos, que ocorre de maneira rápida e com liberação de luz e calor.

Detonação: É o fenômeno no qual uma onda de choque de alta energia percorre


o corpo de um explosivo causando a sua transformação em produtos mais
estáveis. O processo resulta na liberação de grande quantidade de calor. Devido
ao choque, ocorre um pico de pressão no explosivo e, consequentemente, um

66
PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS │ UNIDADE I

pico de temperatura, resultando na quebra das ligações química das moléculas


do explosivo. Após a fase de choque, inicia-se a zona de reação química, gerando
produtos gasosos que resulta na elevação da pressão, densidade e temperatura
do sistema, que resulta na expansão de calor como meio de liberar a alto pressão.
Como consequência, a expansão da explosão, cujas velocidades de detonação
variam aproximadamente entre 1.000 m/s e 8.500 m/s.

Explosivos de acordo com a combustão


Explosivos de combustão completa: Queimam até a formação de CO2 e H2O e, em
alguns casos, O2.

Explosivos de combustão incompleta: Queimam de forma incompleta gerando


CO como subproduto.

Explosões comuns a serem analisadas


pela perícia
Vale lembrar que para iniciar os trabalhos periciais em locais em que ocorreu uma
explosão é necessário que a Defesa Civil verifique se não há riscos de novas explosões,
de desabamento, ou de outro risco à segurança da equipe de perícias que analisará
o local.

Em caso de suspeita de que haja explosivos de qualquer natureza, é imprescindível


que a equipe especializada em explosivos adentre o local e examine, anteriormente, os
exames periciais. Uma vez que se deve zelar pela segurança de toda a equipe da polícia
e perícia.

Depois de verificados os riscos, os peritos atuarão no sentido de coletar vestígios dos


explosivos, restos dos detonadores (para confirmar que houve o uso de explosivos),
ou averiguar as causas da explosão: acidental, imperícia, imprudência, negligência,
entre outras.

Ocorrências típicas com explosivos são:

»» Explosão de rojão ou de munição.

»» Explosão em local de estocagem de fogos.

»» Com explosivos de torcidas.

»» De tanques de combustíveis.

67
UNIDADE I │ PROCEDIMENTOS UTILIZADOS EM PERÍCIAS

»» De gases, dentro dos respectivos limites de explosividade.

»» De fogos de artifício.

Figura 23. Explosão de fogos de artifício.

Fonte: Pixabay_14.

Outras ocorrências mais frequentes que caracterizam explosões são:

»» Vazamento de gás - GLP ou GN.

»» Aquecimento externo de botijão de gás.

»» Falha da válvula de segurança das panelas de pressão.

»» Caldeiras e vasos de pressão – acidente de trabalho.

»» Acionamento acidental de airbag.

»» Na montagem de pneumáticos de caminhão.

»» De garrafa de refrigerante – PET.

»» De isqueiro de plástico.

Após ocorrer uma explosão, assim que o local de explosão for liberado pelos bombeiros/
socorristas, isolá-lo até a chegada dos peritos:

»» Não mexer em nada e nem permitir que alguém o faça.

»» A existência de cratera pode indicar o tipo de explosivo.

»» O chamuscamento pode indicar tratar-se de baixo explosivo e o local da


explosão.

»» O lançamento de material segue uma esfera centrada no local da explosão.

»» Locais fechados podem reverberar a onda de choque – Efeito Monroe – e


aumentar os efeitos destrutivos.

68
FUNDAMENTOS
E ANÁLISES UNIDADE II
RELACIONADAS ÀS
SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

CAPÍTULO 1
Análise de materiais suspeitos de conter
substâncias entorpecentes
e psicotrópicas

Substâncias entorpecentes são aquelas capazes de interferir no sistema cognitivo e/ou


no sistema nervoso central humano de maneira a alterar os sentidos, o comportamento
e o humor do usuário. É o termo utilizado pelas convenções internacionais que tratam da
questão das drogas para designar as substâncias, cujo consumo e distribuição deve ser
regulamentado. Já no âmbito popular, substâncias entorpecentes são as drogas em geral.
E substâncias psicotrópicas ou drogas psicotrópicas, segundo a Organização Mundial
da Saúde – OMS, é o termo utilizado, especificamente, para designar substâncias que
atuam no Sistema Nervoso Central (SNC) e que levam à dependência.

As análises químicas de substâncias entorpecentes e psicotrópicas são cruciais em


investigações forenses. De acordo com a Lei n 11.343 de 23 de agosto de 2006:

“Art. 50. Ocorrendo prisão em flagrante, a autoridade de polícia


judiciária fará, imediatamente, comunicação ao juiz competente,
remetendo-lhe cópia do auto lavrado, do qual será dada vista ao órgão
do Ministério Público, em 24 (vinte e quatro) horas.

§ 1o Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e


estabelecimento da materialidade do delito, é suficiente o laudo de
constatação da natureza e quantidade da droga, firmado por perito
oficial ou, na falta deste, por pessoa idônea”.

Casos investigativos necessitam que a constatação do material possa ser realizada no


local da apreensão, ou que a quantidade de material necessário para a análise seja
pequena o suficiente para possibilitar a coleta e o transporte do material até o laboratório

69
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

de maneira simples e rápida. Existem atualmente inúmeros métodos de análise rápida


para identificação de uma série de substâncias entorpecentes e psicotrópicas. São os
chamados testes rápidos, os quais são amplamente utilizados em análises preliminares
de materiais suspeitos de conter substâncias controladas, e são baseados em testes
colorimétricos ou imunoensaios. O emprego desses testes provém do fato de serem
geralmente simples, rápidos, barato e bastante sensível. Eles estão prontamente
disponíveis e requerem materiais mínimos.

Nesse capítulo, serão abordados os principais testes colorimétricos empregados em


análises de matérias entorpecentes. Atualmente, existem inúmeros procedimentos
baseados em ensaio colorimétricos para aplicações investigativas, contudo, serão
abordados aqui aqueles testes mais comuns no Brasil, devido ao perfil de drogas
utilizadas no país. Além dos testes colorimétricos será abordado o emprego da
cromatografia em camada delgada (CCD) e as técnicas instrumentais mais utilizadas,
bem como suas aplicações. Os testes baseados em imunoensaios e o emprego de técnicas
instrumentais mais sofisticadas como as cromatográficas serão abordados no capítulo
“Drogas de Abuso”, pois baseiam-se nos mesmos princípios e apresentam aplicações
similares (NIJ Standard–0604.01. 2000).

Testes colorimétricos para entorpecentes


Os testes colorimétricos mais utilizados para fins de análise de material suspeito no
âmbito da química forense são:

»» Fast Blue B, para maconha.

»» Teste de Scoot, para cocaína.

»» Teste de Marquis e teste de Simmon, para anfetaminas, derivados


opioides e alguns outros alcaloides.

»» Teste de Ehrlich, para LSD.

Os procedimentos empregados em cada um destes testes serão descritos a seguir,


considerando a sua aplicação para a identificação dos compostos específicos contidos
em cada material entorpecente.

Teste Fast Blue B - Maconha


A identificação da maconha é realizada por meio da investigação dos derivados
canabinoides presentes na planta Cannabis Sativa (O principal deles, devido ao seu

70
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

potencial psicoativo é o Δ9-THC). Esse ativo encontra-se em maior concentração nas


flores da Cannabis Sativa, e só não é encontrado nas raízes da planta.

Figura 24. Cannabis Sativa e estrutura molecular do delta-9-THC.

Fonte: Pixabay 15. Wikimedia_2.

Os derivados canabinoides na droga disponibilizada aos usuários são identificados por


meio da reação com sulfato de sódio anidro, após a extração dos canabinoides com
éter de petróleo. O produto formado entre o sulfato de sódio e os grupos fenólicos dos
canabinoides gera uma coloração entre rosa a vermelha, dependendo da quantidade
presentes no material. A adição de 0,1 N de NaOH intensifica essa coloração, tornando
a visualização mais nítida.

Figura 25. Maconha comercializada para os usuários da droga.

Fonte: Pxhere 2.

Teste Scoot – Cocaína


A cocaína e seus derivados (merla, crack e oxi, e freebase) são entorpecentes gerados
a partir das folhas da planta Erytroxylum coca. A cocaína é comercializada na forma
de pó branco e cristalino, enquanto que a crack e oxi são comercializados na forma de
pasta base (A merla é um subproduto obtido da pasta de coca nas primeiras fases de

71
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

isolamento da cocaína das folhas, sendo mais comum na região centro-oeste do Brasil).
Menos comum, a freebase é obtida a partir da dissolução do cloridrato de cocaína em
água, da adição de bicarbonato ou amônia e posterior extração com éter.

Figura 26. Erytroxylum coca e estrutura molecular da cocaína.

Fonte: awesomestories_1. Wikipedia_1.

A identificação de cocaína em materiais suspeitos é realizada por meio do teste de Scott, no


qual a molécula da cocaína reage com de tiocianato de cobalto, formando um precipitado
azul. Essa reação não é seletiva, e a cocaína vendida aos usuários contém substâncias
adulterantes que podem, também, reagir com a solução de tiocianato de cobalto, a
exemplo da lidocaína. Para contornar essa reação cruzada, adiciona-se ao precipitado 1
a 2 gotas de HCl 0,1%. O precipitado azul formado pela reação com a cocaína continua
insolúvel, enquanto que o precipitado azul de lidocaína é solúvel em meio HCl.

Figura 27. Cocaína em pó e crack – pasta base.

Fonte: Pixabay 16. Fonte Wikimedia_3.

Teste de Ehrlich – LSD (dietilamina


do ácido lisérgico)
O LSD é disponibilizado na forma de selos de papel embebidos com o princípio ativo da
droga. O teste colorimétrico para identificação desse entorpecente é o chamado Teste
72
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

de Ehrlich, no qual o ativo do LSD (lisergida) reage com p-dimetilaminobenzaldeído


em meio ácido, resultando numa coloração violeta.

Figura 28. Selos de LSD e estrutura molecular do LSD.

Fonte Wikimedia_4. Wikimedia_5.

Para o teste, prepara-se uma solução contendo 50 mg/mL de p-dimetiaminobenzaldeído


em 50% de metanol e 50% de ácido orto-fosfórico concentrado. Adiciona-se essa
solução sobre o selo suspeito de ser LSD, aguardando alguns minutos. O surgimento
da coloração violeta indica um resultado positivo para lisergida e, portanto, para LSD.

Teste de Marquis e Simon – Anfetaminas,


metanfetaminas e seus derivados
As estruturas da anfetamina e de alguns de seus derivados (metanfetamina, ecstasy -
MDMA, DOB etc.) estão apresentadas na figura a seguir.

Figura 29. Estrutura molecular para a A. Anfetamina. B. Metanfetamina. C. Ecstasy (MDMA) e D. DOB.

A. B.

D.
C.

Fonte: Wikimedia 6. Wikimedia 7.Wikipedia 2. Wikimedia 8.

Essas substâncias são comumente disponibilizadas aos usuários na forma de pílulas


ou comprimidos de coloração e formatos variados. O teste de Marquis é comumente

73
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

empregado para identificação dessas substâncias, e consiste na reação dos ativos


anfetamínicos com formaldeído em meio ácido sulfúrico. Dependendo do anfetamínico,
diferentes colorações são observadas:

»» Laranja ou marrom: indicam a presença de anfetamina ou


metanfetamina.

»» Amarela-esverdeada ou verde: indicam a presença de


2,5-dimetoxianfetamina ou bromoanfetamina (DOB).

»» Preta: indica a presença de 3,4-metilenodioximetanfetamina (MDMA)


ou 3,4-metilenodioxianfetamina (MDA).

O teste de Simmon, teste para identificar alcaloides e aminas di-substituídas, tais como
o MDMA e a Metanfetamina, de aminas mono-substituídas, a exemplo da anfetamina,
é geralmente empregado após o teste de Maquis para distinguir com mais precisão
qual o anfetamínico presente no material. Nesse teste, a amostra do entorpecente é
submetida a reação química com 1 gota de nitroprussiato de sódio 1%, uma gota de
acetaldeído etanólico 50% e uma gota de carbonato de sódio 2%, com formação de uma
coloração azul-cobalto intensa.

Testes colorimétricos são também utilizados para identificar a possível presença


de novas substâncias psicoativas (NPS – New Psycoative Substance) em matérias
apreendidos. Geralmente, esses ensaios são empregados como testes preliminares,
sendo, posteriormente, confirmados por técnicas instrumentais mais seletivas como
as técnicas cromatográficas acopladas a detectores espectrômetros de massas. Veja os
materiais complementares disponibilizados a vocês. Falaremos mais sobre as novas
substâncias psicoativas no próximo capítulo.

O seriado Breaking bad (2008) retrata a vida de um professor de química


que, frustrado em dar aulas para adolescentes do ensino médio e tendo
que lidar com um filho sofrendo de paralisia cerebral, uma esposa grávida,
dívidas intermináveis e um diagnóstico de câncer no pulmão, resolve produzir
metanfetamina com seu ex-aluno para resolver os problemas financeiros e
pagar seu tratamento médico.

Em 2016, foi apreendido no Brasil pílulas de ecstasy em formato da fisionomia


do professor de química, personagem da série.

O material apreendido foi submetido a análises de laboratório para a identificação


do ativo presente no material, o qual identificou a presença de MDMA, indicando
que as pílulas eram entorpecentes. O casal foi preso em flagrante (O Globo, 2016).

74
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

Color Tests for the Preliminary Identification of Methcathinone and Analogues of


Methcathinone. Disponível em: https://www.dea.gov/pr/microgram-journals/
2012/mj9-1_27-32.pdf

Anvisa inclui 12-novas substâncias em suas listas de entorpecentes e psicotrópicos.


Disponível em: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/anvisa-inclui-12-novas-
substancias-em-suas-listas-de-entorpecentes-e-psicotropicos.ghtml

Identificação química da clorofenilpiperazina (CPP) em comprimidos


apreendidos. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext
&pid=S0100-40422010000300042

Cromatografia em camada delgada


Os produtos disponibilizados aos usuários contêm inúmeras substâncias adulterantes,
empregadas com o propósito de diluir o princípio ativo com substâncias mais baratas
e que apresentem efeito similar à droga. Esses adulterantes são difíceis de serem
controlados e podem interferir nas análises baseadas em técnicas colorimétrica, podendo
fornecer um resultado falso positivo ou falso negativo. Sendo assim, um resultado
fidedigno depende da análise confirmatória do material suspeito, empregando técnicas
mais sensíveis e seletivas.

Uma alternativa simples e barata empregada em identificações forenses é a cromatografia


em camada delgada (Figura 30). Essa técnica consiste na distribuição dos componentes
da matriz (conjunto dos componentes da amostra) entre duas fases em contato:

»» Fase estacionária (camada delgada de adsorvente – sílica gel ou


alumina – retido em uma superfície plana).

»» Fase móvel (líquida – solvente ou mistura de solventes orgânicos).

O processo de separação está fundamentado, principalmente, no fenômeno de adsorção.


À medida que a fase móvel percorre a fase estacionária, os componentes da amostra são
distribuídos entre as duas fases de acordo com a sua afinidade por uma ou outra fase,
ou seja, os componentes da amostra têm diferentes velocidades ao passarem pela fase
estacionária.

A fase estacionária pode ser preparada no laboratório ou adquirida de fornecedores


especializados, que oferecem placas recobertas de diferentes tipos, dependendo da
aplicação (muitas placas têm dimensões de 5 x 20 ou 20 x 20 cm). No laboratório, a
placa de camada delgada é preparada pelo espalhamento de uma suspensão aquosa
contendo o sólido adsorvente sobre uma superfície de vidro ou plástico limpa ou sobre

75
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

uma lâmina de microscópio, posicionada na horizontal. A suspensão é espalhada de


maneira uniforme manualmente (com um bastão de vidro) ou com o auxílio de um
espalhador. Após o espalhamento do sólido, a placa deve ser mantida em descanso até
que a camada esteja fortemente aderida à superfície.

Figura 30. Ilustração da preparação de uma placa de CCD em laboratório.

Superfície de vidro
ou plástico

Material
adsorvente

Deposição da suspensão
do material adsorvente
usando um bastão de vidro

Fonte: Elaboração Própria.

Depois de seca, a placa deve ser transferida para uma estufa por um determinado tempo
para que ocorra a ativação do sólido adsorvente. A sílica, por exemplo, é ativada a 105
-110° C por 30 a 60 minutos, e a espessura da camada de sílica a ser depositada deve ser
de aproximadamente 0,25 mm (PAVIA, 2009).

Para a análise, uma gota da amostra é colocada próxima a uma extremidade da placa
e sua posição é marcada com um lápis Figura 31. Espera-se até que todo o solvente da
amostra seja evaporado e, então, a placa é colocada em um recipiente saturado com
vapores da fase móvel (solvente orgânico).

Figura 31. Deposição da amostra sobre a placa de cromatografia delgada.

Superfície recoberta
Com material adsorvente

Linha para
Deposição da amostra
Região imersa na
fase móvel

Fonte: Elaboração própria.

76
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

A extremidade da placa na qual a amostra foi gotejada é imersa na fase móvel, de


maneira que a posição da amostra não entre em contato com o solvente (Figura 32).
O solvente irá percorrer a camada delgada (fase estacionária) por capilaridade,
passando pela posição da amostra em direção a outra extremidade da placa, arrastando
os componentes presentes na amostra. Após a fase móvel ter atravessado metade ou
dois terços do comprimento da placa, esta é removida do recipiente e secada.

Os componentes que apresentarem maior afinidade com a fase estacionária migram


mais lentamente, e assim são separados entre si. Dependendo se os componentes de
interesse são coloridos ou incolores, a migração e a posição final dos componentes
da amostra sobre a fase estacionária podem ser acompanhadas visualmente ou não.
Quando incolores faz-se necessário o uso de reagentes reveladores para torná-los visíveis.

Figura 32. Ilustração do procedimento de análises por CCD.

Arraste dos componentes


da amostra por capilaridade

Solvente

Fonte: Elaboração própria.

Os métodos mais utilizados são vapores de iodo, câmeras com emissão de luz UV (para
substâncias fluorescentes à radiação UV) ou reveladores específicos que reagem com a
substância de interesse tornando-as coloridas.

Tipos de reveladores químicos

Vapores de iodo são aplicáveis a substâncias com ligações insaturadas, como alcaloides.
O iodo complexa-se com esses compostos insaturados resultando em compostos que
apresentam coloração amarronzadas. Assim, pontos marrons surgem nas placas ao
serem colocadas em uma câmara contendo cristais de iodo.

Classes de substâncias e reveladores específicos:

»» Alcalóides: Dragendorff, iodoplatinato.

77
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

»» Flavonoides: NP-PEG.

»» Anti-oxidantes: β-caroteno.

»» Saponinas, terpenos e esteroides: anisaldeído sulfúrico.

»» Antraquinonase cumarinas: vapor de amônia.

»» Fenólicos, saponinase terpenoides: solução de CeSO4.

»» Compostos fenólicos: FeCl3.

Análise das placas de CCD após a revelação


dos compostos

A identificação dos compostos por CCD depende de um padrão de referência primário.


Um padrão referência é a substância a ser investigada com elevado grau de pureza e
em concentração conhecida; são adquiridos de empresas certificadas que sintetizam
substâncias com elevado grau de pureza e comercializam para fins de análise química.
Uma opção a esses padrões são os chamados padrões secundários, que são compostos
não certificados, com pureza inferior aos padrões primários, mas padronizados por um
padrão primário. Exemplos de padrões secundários são matérias primas utilizadas em
formulações, como medicamentos. Contudo, para substâncias ilícitas a única opção é
recorrer aos padrões primárias mediante importação controlada pela Polícia Federal
e Anvisa.

A solução do padrão referência é goteja ao lado da solução da amostra na placa de


CCD. A substância da amostra que percorreu a placa de CCD de maneira idêntica ao
padrão referência é identificada como a substância de interesse. Contudo, o método
não é apenas visual; utiliza-se um parâmetro denominado Fator de Retenção (Rf), dado
pela equação:

Distância percorrida pela substância


Rf =
Distrancia percorrida pelo solvente

Em condições especificadas, Rf é constante para um composto e corresponde a uma


propriedade física deste, os valores ideais para Rf estão entre 0,400 e 0,600. Para a
identificação da cocaína presente numa amostra da droga apreendida por exemplo,
identifica-se que alguma substância da droga apresenta o mesmo Rf de um padrão de
cocaína analisado juntamente com a amostra (SKOOG, 2006).

A técnica é considerada qualitativa, ou seja, é possível a identificação de um composto,


porém não é possível a sua quantificação – obter a quantidade do composto presente
na amostra analisada. Além disso, essas técnicas, embora mais seletivas que as técnicas

78
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

colorimétricas, ainda apresentam certa limitação de exatidão e concentração. É possível


identificar substâncias presentes em grandes quantidades na amostra e ainda está
sujeita à interferência por outros constituintes da amostra.

Na análise de entorpecentes para fins forenses, a CCD tem sua aplicabilidade aceita,
pois pode ser utilizada em conjunto com o teste colorimétrico e com a análise visual de
um material bem conhecido, como no caso da apreensão de cocaína e maconha. É uma
técnica que fornece resultados de maneira rápida, cerca de minutos, além de ter um
custo bastante baixo.

A seguir, serão abordados alguns exemplos de aplicação da CCD para identificação de


maconha e cocaína em materiais suspeitos:

Canabinoides por CCD

Diferentes canabinoides presentes numa amostra de maconha podem ser identificados


por CCD. Uma pequena quantidade do material é dissolvida com éter de petróleo e,
então, aplicada sobre uma placa de CCD. Como fase móvel, usa-se uma mistura de
clorofórmio com tolueno (7:3 v/v) e como revelador uma solução denominada “Fast
blue” (o-dianisidine bis(diazotized)zinc double salt).

A identificação dos canabinoides da maconha são um indício de que o material suspeito


é de fato maconha (THAÍS et al., 2013).

Cocaína/Crack por CCD

A cocaína é disponibilizada aos usuários na forma de cloridrato de cocaína (pó de


cocaína) ou na forma anidra (anidroecgnina), como pasta base (pedra – crack).
São substâncias distintas, embora apresentem efeitos semelhantes no organismo.
A CCD pode ser utilizada não apenas para confirmar um resultado inconclusivo por
métodos colorimétricos devido a interferentes, mas também para diferenciar um
material quanto à cocaína (pó) ou crack.

A análise é realizada dissolvendo o material com uma solução de hidróxido de


amônio e éter. Em seguida, a solução é aplicada sobre a placa de CCD, e a distribuição
dos componentes é realizada empregando solução de Clorofórmio e Metanol (1:1)
como fase móvel. Como revelador, usa-se a solução de Drangendorf (solução de
carbonato de bismuto e iodeto de potássio em meio ácido clorídrico). As amostras
que apresentarem uma coloração laranja são positivas para cocaína/crack (THAÍS
et al., 2013).

79
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

Técnicas instrumentais
Diferentes técnicas instrumentais podem ser aplicadas para confirmação de materiais
suspeitos. Entretanto, poucas técnicas analíticas empregadas em análise química são
específicas para uma única espécie química; em consequência, uma parte importante
da maioria das análises lida com as espécies concomitantes que ou atenuam o sinal do
analito ou produzem um sinal que é indistinguível daquele do analito.

Materiais entorpecentes costumam apresentam inúmeras substâncias em sua


composição, de maneira que a substância ativa, substância entorpecente lícita ou ilícita,
é apenas parte do material. Assim, em muitos casos, os métodos descritos anteriormente
são utilizados apenas para fins de triagem, como uma análise preliminar, fazendo-se
necessário, recorrer a técnicas que fornecem resultados mais fidedignos para compor
um laudo pericial.

Pensem vocês que um resultado positivo pode incriminar um sujeito, sendo privado
de sua liberdade em decorrência da aplicação da lei penal. Já um resultado negativo
pode inocentar um indivíduo. Assim, um resultado falso positivo pode incriminar um
inocente, enquanto um resultado falso negativo pode inocentar um criminoso. Daí a
importância em se proceder uma análise química adequada e que ofereça resultados
fidedignos.

Técnicas instrumentais mais sofisticadas são aplicadas em casos investigativos mais


complexos, como na identificação e quantificações de substâncias em uma mistura.

A cromatografia gasosa com detector por ionização em chama (GC-FID) ou com detector
de nitrogênio e fósforo (GC-NPD) e a cromatografia líquida de alta eficiência com detector
ultravioleta (HPLC-UV/DAD) são comumente utilizadas na separação e quantificação
de substâncias conhecidas. Suas aplicações decorrem do fato de que são técnicas que
permitem a separação da substância de interesse dos demais componentes da amostra,
além de permitir a quantificação de substâncias, mesmo a baixas quantidades.

A limitação para a aplicação de tais técnicas é a necessidade de padrões analíticos


primários certificados, os quais são utilizados para a identificação e quantificação
fidedigna de cada componente de interesse. Tais padrões costumam ter alto custo, e
no caso de substâncias ilícitas ou controladas por órgãos competentes, demandam
procedimentos específicos para sua aquisição, além de tempo demasiadamente longos.
Isso porque, geralmente, são adquiridos mediante importação controlada pela Polícia
Federal e ANVISA, pois não são produzidos no Brasil. Recentemente, esses padrões
começaram a ser produzidos pelo Inmetro, num projeto em parceria com a Polícia
Federal. Em agosto de 2017, o Inmetro entregou à PF o primeiro lote de materiais

80
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

certificados produzidos no Brasil; a produção teve um custo 10 vezes mais barato do


que a importação.

»» Inmetro entrega à PF primeiro lote de teste de drogas produzido no


país. Leia em: http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-08/
inmetro-entrega-pf-primeiro-lote-de-teste-de-drogas-produzido-no-
pais

»» Análise do teor de cocaína em amostras apreendidas pela polícia


utilizando-se a técnica de cromatografia líquida de alta eficiência
com detector UV-Vis. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/eq/
v34n3/08.pdf

»» Determinação de substâncias ativas em amostras de cocaína vinculadas


ao tráfico internacional apreendidas pela Polícia Federal. http://www.
enqfor.com.br/docs/5_enqfor_anais_2016.pdf - página 83

»» Chemical Profiling of Cocaine Seized by Brazilian Federal Police in


2009-2012: Major Components. Disponível em: http://www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-50532014000400001

Técnicas cromatográficas acopladas a detectores espectrômetros de massas (GC-MS e


LC-MS) são particularmente úteis em casos investigativos de substâncias desconhecidas
e na investigação de novas substâncias psicoativas. Em 2017, a Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (ANVISA) incluiu 12 novas substâncias na lista de substâncias
Entorpecentes, Psicotrópicas, Precursoras e Outras sob controle especial. Dentre elas,
encontram-se substâncias analgésicas, derivadas do fentanil, substâncias derivadas
da anfetamina com efeitos estimulantes, dentre outras substâncias com efeitos
alucinógenos e efeitos similares aos ecstasy ou cocaína. A inclusão dessas substâncias
na lista de substâncias controladas decorreu da identificação de materiais apreendidos
no território nacional suspeitos de conter substâncias já identificadas como drogas de
abuso em outros países.

Na matéria “PF identifica 59 novas drogas no País em 3 anos; danos são desconhecidos”
traz:

O surgimento de novas substâncias no Brasil acompanha uma


tendência mundial, segundo o diretor médico do Centro de Assistência
Toxicológica do Hospital das Clínicas da USP, Anthony Wong.
“O EMCDDA (Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência)
localizou, em 2013, 90 novas drogas, 107 em 2014 e outras 140 em 2015,
a maioria sintética. O problema é que o efeito delas é imprevisível.

81
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

Nesses casos, por serem substâncias relativamente novas, para as quais ainda não
foram desenvolvidos métodos de identificação, as técnicas instrumentais acopladas à
espectrometria de massas, em conjunto com o conhecimento especializado do analista
forense, são cruciais para a correta identificação de materiais suspeitos.

Veremos essas técnicas com mais detalhe no capítulo “Drogas de Abuso”.

82
CAPÍTULO 2
Drogas de abuso em matrizes biológicas

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), droga é qualquer substância não


produzida pelo organismo, e que ao ser introduzida no corpo produz alterações no
funcionamento de um ou mais sistemas do organismo.

Algumas dessas substâncias são usadas com a finalidade de produzir efeitos benéficos
para o organismo, como o tratamento de doenças. Enquanto outras, provocam efeitos
malefícios à saúde, sendo chamadas de venenos ou agentes tóxicos. E é interessante
que a mesma substância pode funcionar como medicamento em algumas situações e
como tóxico em outras.

As drogas de abuso são substâncias que atuam principalmente alterando o funcionamento


do sistema cerebral, causando modificações no estado mental e no psiquismo, e são
utilizadas intencionalmente para essa função.

A lista de substâncias na Classificação Internacional de Doenças, 10ª Revisão (CID-10),


em seu capítulo V (Transtornos Mentais e de Comportamento), inclui:

»» Álcool.

»» Opioides (morfina, heroína, codeína, diversas substâncias sintéticas).

»» Canabinoides (maconha).

»» Sedativos ou hipnóticos (barbitúricos, benzodiazepínicos).

»» Cocaína.

»» Outros estimulantes (como anfetaminas e substâncias relacionadas à


cafeína).

»» Alucinógenos.

»» Tabaco.

»» Solventes voláteis.

Do ponto de vista legal, as drogas de abuso são classificadas como lícitas – comercializadas
de forma legal, podendo ou não estarem submetidas a algum tipo de restrição.
Como por exemplo, álcool (venda proibida a menores de 18 anos) e alguns medicamentos
que só podem ser adquiridos por meio de prescrição médica especial – e ilícitas, aquelas
proibidas por lei de serem produzidas, comercializadas e consumidas.

83
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

Segundo o UNODC (2004), a cannabis, as anfetaminas, a cocaína e os opiáceos


são as classes de drogas ilícitas mais consumidas no mundo, correspondendo a
aproximadamente 90% do consumo mundial. Entretanto, a prevalência e os padrões
de uso variam entre países. No Brasil, os últimos dados publicados pelo observatório
brasileiro de informações sobre drogas (OBID) e pelo UNODC relataram a cannabis e
a COC como as classes de maior consumo entre os usuários (CEBRID, 2006; SENAD,
2009; UNODC, 2013; UNODC, 2014).

De acordo com Relatório Sobre Drogas da UNODC de 2016, a prevalência de usuários


de droga no mundo vem se mantendo constante desde 2006, contudo passou de 4,8%
para 5,2% da população mundial. Dos usuários, quase 1% sofre com problemas sociais
ou de saúde como consequência do consumo dessas substâncias.

Figura 33. Prevalência anual de usuários de drogas no mundo e prevalência de pessoas que sofrem com
problemas de saúde ou sociais relacionados ao consumo de drogas.

Número de usuários de drogas por ano


6
Prevalência anual
(Porcentagem)

(milhões)
4

3 4,9 4,9 4,8 5,0 5,2 5,2 5,2 5,2


4,6

1
0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6 0,6
0
2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Prevalência de pessoas que usam drogas (em porcentagem)


Prevalência de pessoas com problemas relacionados ao uso

Fonte: Adaptado de UNODC – World Drug Report, 2016.

De acordo com dados nacionais, estimou-se que, em 2004, 2,7% dos brasileiros com
idade entre 15 e 64 anos eram usuários de cannabis e que 0,7% deles eram usuários
de COC. Em 2011, a prevalência dos consumidores de cocaína entre 15 e 64 anos
chegou a 1,75%, e a 3% dos brasileiros estudantes universitários. Nesse ano, o Brasil foi
reconhecido como o segundo maior consumidor de COC no mundo, atrás apenas dos
Estados Unidos. Ainda em 2011, foi estimado que o número de pessoas que usaram COC
sob a forma de pasta base (crack ou merla) ao menos uma vez no ano chegou a 340.000,
considerando apenas a população das capitais brasileiras (CEBRID& UNIFESP, 2006;
SENAD, 2009, UNODC, 2013; UNODC, 2014, FIOCRUZ, 2014).

Por serem substâncias que afetam o comportamento humano, as drogas de abuso estão
diretamente relacionadas às ciências forenses, sendo um dos grandes desafios dos
processos criminais.
84
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

Análise de drogas de abuso em


matrizes biológicas
Após serem consumidas, as drogas de abuso são distribuídas no organismo via circulação
sistêmica. Parte da droga é biotransformada resultando em metabólitos ligeiramente
mais hidrofílicos do que o composto parental. Os subprodutos mais lipofílicos são mais
facilmente bioacumulados nos tecidos corpóreos, enquanto que os subprodutos mais
hidrofílicos são mais facilmente excretados do corpo, principalmente pela urina.

A lipossolubilidade é conferida às substâncias por grupamentos alquílicos e fenílicos,


enquanto a hidrossolubilidade é conferida por grupos que permitem formar ligações
por pontes de hidrogênio com moléculas de água (-OH, -COOH, -NH2, -SH).

De acordo com a solubilidade das drogas de abuso (e de seus metabólitos), diferentes


matrizes biológicas podem ser amostradas para identificação da ingestão de uma droga
de abuso. As principais matrizes biológicas de interesse na toxicologia forense são:
sangue, urina, cabelo/pelo, saliva, humor vítreo e tecidos.

Os métodos de análise para fins de análise toxicológicas são indicados por órgãos
internacionais competentes, que elaboram guias com protocolos já estabelecidos para as
substâncias conhecidas, tais quais o UNODC, SWGTOX (Scientific Working Group for
Forensic Toxicology). Os grupos de pesquisa na área da toxicologia forense são essenciais
para o desenvolvimento de novas metodologias focadas no aprimoramento dos métodos
de análise já estabelecidos, bem como para a identificação de novas drogas de abuso.

Basicamente, os métodos empregados em análises toxicológicas consistem de duas fases:


Figura 34. Ilustração das etapas da análise toxicológica.

TRIAGEM

POSITIVO Cut-off NEGATIVO GRANDE PARTE DAS


AMOSTRAS

RESULTADO FINAL
CONFIRMAÇÃO

POSITIVO NEGATIVO

RESULTADO FINAL
RESULTADO FINAL

Fonte: própria.

Fase preliminar de triagem


Consiste na análise preliminar da amostra biológica, empregando métodos qualitativos
ou semi-quantitativos, porém rápidos e de baixo custo, com o objetivo de identificar
85
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

a presença ou ausência de drogas de abuso. Métodos baseados em imunoensaios,


cromatografia em fase delgada (CCD), cromatografia gasosa com detector por ionização
em chama (GC-FID), cromatografia gasosa com detector de Nitrogênio e Fósforo
(GC-NPD) dentre outros, são comumente empregados.

Fase de confirmação

Após um resultado positivo na fase de triagem, a amostra é submetida à análise


confirmatória, empregando técnicas analíticas seletivas e quantitativas, a fim de
confirmar o resultado positivo. A UNODC e a SWGTOX recomendam o emprego de
técnicas cromatográficas acopladas à espectrometria de massas.

Resultados negativos ou positivos são baseados em concentrações limites


pré-determinadas, chamadas de “cut-off”. O quadro abaixo mostra os valores de
concentração limite a ser considerada por laboratórios credenciados para determinação
de drogas de abuso em urina para fins de exames toxicológicos.

Quadro 4. Valores de referência para métodos de triagem e confirmação de drogas de abuso em urina em
análises toxicológicas.

Classe da droga Triagem por imunoensaio (ng/mL) Análise confirmatório por GC-MS (ng/mL)
Anfetamina: 500
Anfetaminas 1000
Metanfetamina: 500
Maconha 50 THC-COOH: 15
Cocaína 300 Benzoilecgonina: 150
Morfina: 2000
Opioides 2000 Codeína: 2000
6-acetilmorfina:10

Fonte: Seize Oga.

Cut off: Valores de referência de concentração dos fármacos/metabólitos em


uma amostra biológica, recomendados por entidades internacionais para
categorização dos resultados como indicativo ou não do consumo da droga.

Métodos analíticos empregados em análise


de triagem

Imunoensaios (ver material complementar


sobre imunoensaios)

Dentre os métodos analíticos citados para a análise de triagem de drogas de abuso em


matrizes biológicas, os mais utilizados são os imunoensaios.
86
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

Dentre as vantagens das análises por imunoensaios em relação à CCD e à GC-FID


são: o pouco volume de amostra necessário para análise, permitir o processamento de
várias amostras de uma vez, dispensar procedimentos de extração da amostra, exigir
manipulação simples da amostra e de equipamentos, fornecer resultados de maneira
rápida e oferecer a sensibilidade e a especificidade exigidas para análises de triagem.

Por outro lado, são necessários kits de reagentes importados, os quais não se encontram
disponíveis para todas as substâncias de interesse da toxicologia forense, o que faz com
que muitos laboratórios optem pelas técnicas alternativas. Além disso, são susceptíveis
à interferência e à reação cruzada com outros compostos presentes nas amostras
biológicas; daí a necessidade de análise confirmatória.

Além de técnicas de imunoensaio automatizadas, existem disponíveis comercialmente


os chamados “testes rápidos”. São kits que baseiam nos princípios dos imunuensaios;
constitui-se de uma membrana de nitrocelulose no formato de fita, impregnada com
antígenos ou anticorpos específicos. A interpretação dá-se pela reação ou não reação
com a amostra.

A figura 35 a seguir ilustra um inmuno teste para várias drogas de abuso, cujo ensaio
mostrou um resultado positivo para uma amostra biológica,

Figura 35. Esquema ilustrativo de teste rápido.

Cocaína
Cocaína
THC
THC
Anfetam.
Anfetam.
Opiáceos
Opiáceos

Área de

Cocaína
Cocaína
THC
THC
Anfetam.
Anfetam.
Opiáceos
Opiáceos

Fonte: própria.

87
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

E a figura abaixo, mostra um teste rápido para uma droga individual, no caso o THC.

Em ambos os ensaios, a amostra é pingada na “área de reação” ou imersa num recipiente


apropriado disponibilizado juntamente com o Kit teste rápido. Após alguns segundos o
resultado é indicado pela coloração da linha relacionada ao nome da droga.

No teste multidrogas, o exemplo apresentado ilustra um resultado positivo para


cocaína, enquanto que no ensaio com o teste individual são apresentados três exemplos
de possíveis resultados: Positivo, negativo ou inválido. Nesse caso, a zona de indicador
controle deve ser utilizada para avaliar se o teste se encontra em pleno funcionamento.
Caso a linha relaciona a zona controle não seja colorida após o contato da zona de
reação com a amostra, o teste deve ser considerado inválido e um novo ensaio deve ser
realizado com outro kit de teste rápido.

Figura 36. Funcionamento de um Teste rápido para única droga (Individual).

THC THC
C

C – indicador controle
Teste rápido para T – Indicador de positividade para a
THC

C C C

T
T
T

Resutado Resutado Teste


positivo Negativo inválido

Fonte: própria.

Outra opção são os testes rápidos baseados em imunocromatografia. Como mostrado


no esquema a seguir.
Figura 37. Teste rápido imunocromatográfico.
Amostra Membrana de
nitrocelulose
Filtro de
absorção

A. Área de
aplicação da amostra

I. Suporte T. Linha C. Linha


conjugado Teste controle

Fonte: Própria.

88
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

Na imunocromatografia utiliza-se uma membrana de nitrocelulose subdividida em


quatro áreas:

A. Área de aplicação da amostra: onde é aplicada a amostra e a solução tampão.

I. Área do reagente: contém o conjugado, geralmente composto de ouro coloidal ligado


a anticorpos (imunoglobulinas).

T. Área de teste: que contém os antígenos fixados à membrana de nitrocelulose, onde se


lê o resultado da amostra testada.

C. Área de controle (C): local de controle da reação e que permite a validação do teste.

A amostra é colocada na área A, e a solução tampão é colocada sobre a amostra.


Os anticorpos da amostra fluem pela membrana, passando pela área B, onde se inicia
a ligação com o conjugado e prosseguem em direção à área de teste (T). Na área T, o
complexo anticorpo-conjugado liga-se aos antígenos do agente infeccioso investigado,
formando uma linha (ou banda) colorida. O conjugado não ligado ao anticorpo e o excesso
do complexo imune continuam a migração, ao longo da membrana de nitrocelulose, em
direção à área C, onde são capturados por anticorpos anti-imunoglobulina, formando
outra linha (ou banda) colorida.

Análise confirmatória: técnicas cromatográficas


acopladas à espectrometria de massas
A espectrometria de massa é, sem dúvida, a técnica analítica instrumental mais
completa e extraordinária que existe hoje em dia. Entre as qualidades que justificam
esta informação, podemos citar: Sua capacidade de identificação qualitativamente e
de forma inequívoca quase qualquer tipo de substância, desde compostos simples até
moléculas complexas como biopolímeros de pesos moleculares muito elevados; sua
aplicação tanto qualitativa como quantitativa, que permite não apenas a identificação
das substâncias analisadas a partir de seus espectros de massas – que é a “impressão
digital” da molécula –, como também pode-se quantificar e medir a concentração das
mesmas, desde que disponíveis padrões analíticos certificados; permite a análise de
misturas complexas, sendo capaz de identificar substâncias na presença de outras; é
universal e específica.

A análise por técnicas cromatográficas (cromatográfica gasosa ou cromatografia líquida)


acopladas à espectrometria de massas consiste 4 etapas:

89
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

Figura 38. Esquema representativo das etapas de uma análise por técnicas cromatográficas acoplada à
espectrometria de massas.

1. Separação Cromatográfica

2. Ionização

3. Análise e seleção da razão m/z

4. Detecção

Fonte: própria.

Separação cromatográfica

As técnicas de separação cromatográficas são amplamente utilizadas na química


analítica para a identificação e quantificação de compostos em amostras complexas, isto
é, produtos/materiais constituídos de inúmeros compostos desconhecidos e em teores
desconhecidos. São diversas técnicas relacionadas à denominação “cromatografia”,
contudo todas elas apresentam em comum o emprego de uma fase estacionária e uma
fase móvel. Os componentes presentes na amostra percorrem a fase estacionária pelo
fluxo da fase móvel e a separação entre os componentes ocorre com base na diferença
entre as velocidades com que cada componente migra pela fase estacionária.

Em cromatografia, o processo de transporte dos compostos presentes na amostra


através da fase estacionária, empurrados pela fase móvel, dá-se o nome de Eluição.
Assim, os compostos são eluídos pela fase móvel.

Anteriormente, foi abordado os fundamentos da cromatografia em camada delgada.


Aqui, serão abordados os fundamentos de outras duas técnicas cromatográficas, porém
agora instrumentais e automatizadas, amplamente utilizadas para identificações e
determinações de compostos orgânicos, ou seja, aqueles que apresentam o átomo de
carbono (C, MM=12 u.m.a) em sua estrutura molecular. São elas a cromatográfica
gasosa, também conhecida pela sua sigla em inglês GC (gas chromatography) e a
cromatografia líquida de alta eficiência, também conhecida pela sigla em português
CLAE ou pela sua sigla em inglês HPLC (high performance liquid chromatography).

Tanto na GC como na HPLC a fase estacionária consistes de um polímero ancorado


em sílica que reveste um tubo, aparato chamado de coluna cromatográfica; ao
percorrer essa fase polimérica, os compostos interagem por afinidade química com

90
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

o polímero permanecendo menos ou mais retidos. Assim, a velocidade de migração


dos compostos depende, dentre outros fatores, da sua afinidade/interação com a fase
polimérica, de maneira que quanto maior a interação, mais lenta é sua migração pela
coluna cromatográfica.

Atualmente, encontra-se disponível diversos tipos de polímeros empregados em coluna


cromatográfica, para diversas aplicações. De acordo com a natureza química dos
compostos que se quer identificar/separar (compostos orgânicos polares, ou apolares,
de baixo peso molecular ou alto peso molecular, polímeros, compostos voláteis ou não
voláteis), colunas específicas são mais apropriadas.

Cromatografia gasosa

Na cromatografia gasosa, como o próprio nome diz, a fase móvel é um gás inerte como
Nitrogênio (N2), Hidrogênio (H2) e Hélio (He2). A escolha do gás de arraste depende
do restante da instrumentação, especificamente do detector (falaremos mais pra
frente). Além disso, na CG a amostra e os compostos a serem introduzidos na coluna
cromatográfica para GC devem estar em sua forma gasosa, de maneira que esta técnica
é aplicável a compostos voláteis ou semi-voláteis (Pontos de ebulição de até 300 ᵒC).
Compostos não voláteis devem ser previamente derivatizados por meio de reações
químicas específicas, de maneira que são inseridos grupos funcionais voláteis à molécula
do composto a que se quer investigar, previamente a análise por GC.

A separação das espécies ocorre em função da interação dos compostos com a coluna
cromatográfica, conforme o gás de arraste empurra-os para a outra extremidade da
coluna cromatográfica. Sendo a fase móvel um gás inerte (não interage), a separação
ocorre em função da afinidade dos compostos presentes na amostra com a coluna,
de maneira que quanto maior a afinidade mais o composto ficará retido na coluna e
mais demorará para sair da coluna cromatográfica. Além da interação com a coluna, a
separação dos compostos é dada, também, em função da pressão do sistema, ou seja,
do fluxo do gás de arraste. Fluxos entre 0,6 a 4,0 mL/min são geralmente empregados.

Diferentes colunas cromatográficas encontram-se disponíveis comercialmente.


Variações na fase polimérica, comprimento da coluna, tamanho do diâmetro interno
e espessura do filme polimérico são os parâmetros principais a ser considerados no
desenvolvimento de um método por GC.

Gradientes de eluição podem ser realizados para promover a separação dos compostos,
sem aumentar em demasiado o tempo da corrida cromatográfica. Na GC, esse gradiente
pode ser realizado aumentando a temperatura do forno gradativamente, promovendo

91
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

a saída dos compostos da coluna cromatográfica de acordo com a sua temperatura de


ebulição e afinidade com a coluna.

Para uma maior compreensão, assista a aula exemplo de cromatográfica gasosa,


para análise da cachaça, disponível no link a seguir: http://eaulas.usp.br/portal/
video.action?idItem=5103.

Cromatografia Líquida

Na cromatografia líquida a fase móvel consiste de uma mistura de solventes líquidos, um


polar (geralmente água pura ou com aditivos como ácidos, bases ou soluções tampões)
e outro apolar (metanol, acetonitrila, hexano, etc). A separação ocorre em função do
equilíbrio de partição ou entre a constante de distribuição entre a fase estacionária e a
fase móvel dos compostos durante a eluição cromatográfica.

A constante de distribuição de um determinado composto em cromatografia é dada


pela razão entre a sua concentração na fase estacionária e a sua concentração na fase
móvel. Logo, se o composto apresenta maior afinidade pela fase estacionária do que pela
fase móvel, maior será a sua constante de distribuição e mais lenta será sua migração
pela coluna cromatográfica. Já quanto maior a afinidade de composto pela fase móvel,
menor será a constante de distribuição e mais rápida será a corrida cromatográfica.

A cromatografia líquida, de acordo com a polaridade do polímero da fase estacionária


pode ser denominada como cromatografia normal ou cromatografia em fase reversa:

»» Na cromatografia em fase normal: fase estacionária apresenta propriedade


polar e, portanto, a fase móvel mais apolar promove um maior coeficiente
de distribuição, enquanto uma fase móvel polar promove a eluição dos
compostos da fase estacionária.

»» Na cromatografia em fase reversa observa-se o inverso; a fase estacionária


é apolar, logo, uma fase móvel apolar promove a eluição dos compostos
da coluna cromatográfica e uma fase móvel polar aumenta o coeficiente
de distribuição.

As colunas analíticas empregadas geralmente utilizam fase estacionária C8 (octil) ou


C18 (octadecil) e tamanho da partícula variável entre 3 e 10 mm. A fase móvel consiste
em uma mistura do solvente polar e do solvente apolar, de maneira que não se deve
atingir 100% de um ou de outro. Gradientes de eluição são geralmente empregados,
visando separações cromatográficas eficientes em um menor curo de tempo de corrida
cromatográfica. Em HPLC, os gradientes de eluição são realizados por aumento gradativo

92
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

na proporção do solvente forte, ou seja, do solvente que irá diminuir o coeficiente de


partição, promovendo com maior facilidade a eluição dos compostos.

Ajustes na temperatura e na vazão da fase móvel também influenciam nas eleições dos
compostos. Temperaturas entre 25 e 50 ᵒC são geralmente empregadas e vazões entre 0,3
a 2,0 mL/min, dependendo da pressão do sistema. A pressão do sistema cromatográfico
depende da viscosidade da mistura de solventes da fase móvel, do tamanho da coluna
cromatográfica e, principalmente do tamanho da partícula da fase polimérica da
coluna, os sistemas de HPLC convencionais são programados para suportar entre 400
e 600 bar de pressão. Os sistemas chamados de UPLC (cromatografia líquida de ultra
performance) suportam até 1200 bar, os quais possibilitam o emprego de colunas
cromatográficas com fases poliméricas com tamanhos de partícula menores do que 2
um. Tais colunas permitem separações de um maior número de compostos em menor
tempo quando comparada as colunas convencionais (3 a 10 mm).

Ionização

Acetonitrila (ACN) ou metanol (MeOH) são utilizados como solventes orgânicos e água
ultrapura enriquecida com um eletrólito (e.g. ácido fórmico, hidróxido de amônio) é
utilizada como solvente aquoso; o aditivo eletrolítico tem por finalidade favorecer a
ionização dos analitos antes de serem direcionados à fonte de ionização, proporcionando
maior eficiência na formação de moléculas protonadas ou desprotonadas.

Os analisadores espectrômetros de massas analisam a relação massa/carga dos analitos.


Por isso, é indispensável que as substâncias estejam em sua forma iônica quando
entrarem no analisador. Essa ionização das moléculas ocorre na parte do espectrômetro
de massas chamada fonte de íons:

Na cromatografia gasosa, após a separação na coluna, os compostos são direcionados


para a fonte de íons. A ionização ocorre por impacto de elétrons, ou seja, através de
um bombardeamento da substância com uma “cascata” de elétrons com 70eV de nível
de energia. Como resultado, as moléculas são não apenas ionizadas, mas também
fragmentadas em moléculas de massas moleculares menores. Cada molécula apresenta
uma fragmentação específica, por meio da qual é realizada a sua identificação.

Na cromatografia líquida, a fonte de íons preferencialmente emprega é a ionização


por eletrospray (ESI), na qual a formação de íons ocorre por reações em fase líquida
de perda ou ganho de prótons à molécula neutra, gerando moléculas protonadas
(i.e. [M+Hn]n+) ou desprotonadas (i.e.[M-Hn]n-). A fase líquida é submetida a um
potencial elétrico e posta em contato com um gás inerte secante, formando um spray
e promovendo a dessolvatação das partículas ionizadas (Crotti et al., 2006). Aqui, não
93
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

ocorre a fragmentação das moléculas, mas apenas a sua ionização, sendo por isso a ESI
conhecida como fonte de ionização branda.

Analise e seleção das razões m/z

Os analisadores são a parte dos espectrômetros de massas responsáveis por “visualizar”


os íons gerados na fonte de íons. Diferentes analisadores de massas estão disponíveis
atualmente, tais quais: quadrupolo, iontrap, tempo de voo. Dentre os analisadores
disponíveis, o analisador quadrupolo vem sendo preferencialmente empregado devido
à simplicidade, à facilidade de ser operado e ao menor custo.

Figura 39. Esquema ilustrativo de um analisador quadrupolo.

Íons não selecionados

Detector
(eletromultiplicadora)

Íons selecionados

Voltagens de corrente contínua

Fonte: Lanças, F.M. 2013.

Em LC-MS/MS, uma vez que não ocorre a fragmentação das moléculas na fonte de
íons, os analisadores são constituídos por dois analisadores quadrupolos sequencias,
separados por uma célula de colisão (Figura 40). A célula de colisão é geometricamente
um hexapolo, preenchida com um gás neutro, tais como nitrogênio, hélio e argônio;
nela, as moléculas ionizadas selecionadas no primeiro quadrupolo são submetidas
a impacto por elétrons, sendo fragmentadas em moléculas de menor razão m/z.
Os fragmentos gerados são então analisados no segundo quadrupolo e, posteriormente,
direcionados ao detector, onde são transformados em sinais elétricos.

Figura 40. Ilustração de uma análise de MRM por LC-MS/MS (triploquadrupolo).

Cromatograma de MRM
Intensidade
relativa

Seleção do Seleção do
Fragmentação íon
íon Tempo
precursor produto

Fonte: Própria.

94
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

Planejamento de uma análise toxicológica


de confirmação
O primeiro passo de uma análise toxicológica é o planejamento da análise, respondendo
questões como:

»» ‘qual é a substância suspeita?”

»» “quais os produtos de biotransformação e/ou produtos inalterados a ser


identificados?”

Biotransformação da cocaína

A cocaína pode ser consumida sob a forma de pasta base ou crack, fumada em cachimbos,
ou sob a forma de cloridrato de cocaína ou pó, por via intranasal (IN) ou endovenosa (EV).

Dependendo da forma de administração escolhida pelo usuário, diferentes metabólitos da


cocaína (COC) são gerados no organismo e excretados via urina em diferentes proporções.
Independente da via de uso, os principais metabólitos gerados a partir da ação enzimática
no fígado são: a benzoilecgonina (BE), o éster metílico da ecgonina (EME) e a ecgonina
(ECG). Quando ingerida em conjunto com álcool, ocorre a transesterificação da cocaína no
fígado, pela ação da enzima carboxiesterase, produzindo o cocaetileno. A queima da pasta
base produz o produto éster metílico da anidroecgonina (AEME), que após ser inalado pelo
usuário, hidrolisado à anidroecgonina (AE) (Cone et al., 2003; EMCDDA. 2008).

Figura 41. Biotransformação da cocaína e seus biomarcadores após o consumo via A) Inalação e B) Com bebida
alcóolica e fumada na forma de crack.

CE
EEE

Etanol Etanol

H2O
EME AEME
COC Pirólise
H2O
H2O H2O

H2O

ECG BE AE

Fonte: própria.

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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

Biotransformação dos Opiáceos


Figura 42. Papoula ópio: planta da qual é extraído o ópio.

Fonte: Pixabay 17 e Wikipédia 3.

A figura a seguir mostra a biotransformação dos opioides.

Figura 43. Biotransformação dos opiáceos: codeína, heroína e morfina e seus biomarcadores.

Heroína
Codeína

6-acetil-Morfina

Morfina
Morfina conjugada

Fonte própria.

Tanto o consumo de codeína (fármaco lícito) como o consumo de heroína levam


à formação de morfina no organismo. A morfina é o produto de biotransformação
majoritário e mais estável tanto da codeína como da heroína. Dessa maneira, o
monitoramento apenas da morfina na urina dos usuários pode resultar em testes falso
positivos para heroína (droga de abuso ilícita).

96
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

Para diferenciar o consumo da heroína do consumo de codeína ou mesmo da própria


morfina, deve-se monitorar a 6-acetil morfina, um biomarcador específico para
heroína. Porém, por ser instável, é encontrado em concentrações muito baixas na urina,
de maneira que a análise quantitativa deve ser baseada na concentração da morfina
presente na urina.

Outro ponto importante dos opióides é a formação da morfina conjugada a partir da


reação com ácido glicurônico presente no organismo. Para a quantificação exata da
concentração de morfina na urina, deve-se proceder com uma etapa de preparo de
amostra previamente à análise quantitativa, na qual a morfina conjugada é convertida
à morfina por meio de reação de hidrólise enzimática.

Biotransformação da maconha

A biotranformação da maconha (Δ 9-THC) envolve a formação do ácido 11-nor delta


9-THC e posterior a formação de seu conjugado, devido à reação com ácido glucônico
presente no organismo. O biomarcador utilizado em análise toxicológicas confirmatórios
é o 11-nor delta 9-THC, contudo, para a quantificação da concentração do biomarcador
na urina, é necessária a etapa de preparo de amostra por meio de reação de hidrólise
alcalina, convertendo a molécula conjugada na sua forma não conjugada.

Figura 44. Biotransformação do Delta-9-THC.

Delta-9-
Ácido 11-nor-delta-9-THC-COOH
Tetraidrocanabinol (THC)

Ácido 11-nor- delta -9 -THC-COOH conjugado

Fonte: Própria.

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UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

Biotransformação das Anfetaminas (Metanfetamina,


Anfetamina, Efedrina)
As anfetaminas de interesse da toxicologia são moléculas similares, que ao serem consumidas
são biotransformadas nos mesmos subprodutos (Figura 45).

Figura 45. Anfetaminas, dextroanfetamina, metanfetamina.

Fonte: Pixnio 1.

A presença de anfetamina na urina pode ser associada ao consumo da própria


anfetamina, da metanfetamina ou do femproporex, substância prescrita para fins de
emagrecimento. Dessa maneira, dependo da finalidade da análise, o composto parental
deve ser também monitorado.

Figura 46. Biotransformação das anfetaminas.

Metanfetamina Efedrina

Anfetamina

Femproporex Fenilpropalonamina

Fonte: Própria.

98
CAPÍTULO 3
Doping esportivo: Exames Antidoping

Figura 47. Investigações do mundo do Esporte.

Fonte: Pixabay 18.

No mundo competitivo do esporte, o termo doping esportivo, ou dopagem, está


relacionado a busca por métodos ou substâncias capazes de aumentar artificialmente
o desempenho individual em competições esportivas para obter vantagens sobre os
demais competidores. Em 2016, a delegação Russa foi banida das Olimpíadas do Rio
de 2016 devido a um escândalo de doping e casos como esses se repetem no mundo
todo, todos os anos.

Apesar de um termo atual, os primeiros relatos da ingestão de substâncias para o


melhoramento do desempenho no esporte datam de 2.700 a.C, quando o Imperador
Shen-Nung, fornecia aos lutadores chineses uma planta local chamada “machuang” ou
Ma Huang com altas concentrações de efedrina como estimulante para dar ânimo e
coragem nas disputas.

A morte do ciclista dinamarquês Knut Jensen durante os jogos olímpicos de Roma em


1960, devido ao elevado consumo de anfetamina, vasodilatador e cafeína marcou a
história do doping esportivo no mundo. Foi a partir desse episódio que as autoridades
começaram a discutir meios para se combater a dopagem de maneira mais enfática; no
mesmo ano, aproximadamente 30% dos atletas de competições internacionais faziam
uso de algum tipo de substância para melhoramento de desempenho.

99
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

A Federação Internacional de Futebol (FIFA) foi pioneira na implementação de exame


antidoping em competições esportivas. Em 1966, na Copa do Mundo da Inglaterra
todos os jogadores foram submetidos a exames toxicológicos. Em 1967 foi fundado o
Comitê Olímpico Internacional (COI), que instituiu o exame antidoping também em
eventos olímpicos já no ano seguinte, em 1968, e elaborou uma lista com as substâncias
e métodos proibidos em competições esportivas. Em 1984, os anabolizantes foram
incluídos na lista de substâncias proibidas e, desde 2000, com a criação da Agência
Mundial Antidoping (AMA), essa lista é revisada anualmente.

No Brasil, o doping esportivo passou a ser controlado em 1972 pelo Conselho Nacional
do Esporte (CNE), e somente em 2003, com a criação da Comissão de Combate ao
Doping, foram propostas as primeiras regras de controle de doping nas partidas, provas
ou equivalentes do Esporte. Tais normas foram oficialmente registradas pela Resolução
do Ministério do Esporte n 2, de 2004.

Atualmente, a AMA é a agência responsável por coordenar internacionalmente o


controle do doping esportivo, instituindo métodos cada vez mais específicos para
diferenciação de substâncias mediante detecção de subprodutos de biotransformação
corpórea e detecção de novas substâncias utilizadas para fins de doping.

Substâncias químicas utilizadas no


doping esportivo
O uso de substâncias que promovem o ganho de massa muscular, a força e a
resistência é o recurso mais utilizado pelos atletas profissionais para fins de doping.
Geralmente, as substâncias utilizadas são fármacos vendidas sob prescrição médica,
contudo empregadas em concentrações muito acima da dose terapêutica. Esse uso
em altas dosagens associado à aplicação, muitas vezes, por pessoas sem formação
técnica especializada configuram um alto risco à saúde do atleta; aumento dos efeitos
adversos, intoxicações, efeito alérgicos e efeitos de associação entre substâncias
farmacologicamente ativas, além de desenvolvimento de intolerância ou dependência,
são algumas das consequências associadas ao uso indevido de fármacos.

Dentre as substâncias mais utilizadas no doping esportivo encontram-se:


Agentes anabólicos, hormônios, agonistas beta-2, agentes com atividades antiestrogênica,
diuréticos, agentes mascarantes, estimulantes, narcoanalgésicos, cannabinoides
e glicocorticoides. Além dessas classes de substâncias, etanol e bloqueadores
betas-andrenérgicos são utilizadas na dopagem em esportes específicos.

100
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

Figura 48. Doping, um mercado imenso de medicamentos.

Fonte: Pixabay 19.

Agentes anabólicos

Em geral, os agentes anabólicos são utilizados para fins de ganho de força e massa
muscular do atleta. A testosterona é o agente anabólico mais utilizado no meio
esportivo. Pertence a classe dos esteroides anabólicos androgênicos, que promovem
a síntese de proteínas e o crescimento muscular e esquelético. Além da testosterona,
a boldenona, a nandrolona, ametenolona e o estanozolol são esteroides sintéticos
já utilizados no doping esportivo. Outros anabolizantes que se diferenciam dos
esteroides na estrutura molecular e no mecanismo de ação também usados no doping
são: clembuterol e tibolona.

Figura 49. Doping esportivo – ganho de massa muscular.

Fonte Pixabay 20.

101
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

Hormônios

Os hormônios são utilizados por atletas profissionais para diferentes fins:

Eritropoietina: promove a produção de eritrócitos, que por sua vez aumenta a


capacidade corpórea de transporte de oxigênio, melhorando o desempenho dos atletas
em esportes que exigem resistência (ciclismo, maratona etc). Contudo, promove
também o aumento da viscosidade sanguínea e seu o uso inadequado pode levar à
trombose e ataque cardíaco.

Hormônio de crescimento (GH): estimula o crescimento de quase todos os


tecidos corpóreos por estimular a liberação hepática do fator de crescimento tipo
insulina (IGF-I), responsável pelo processo de hipertrofia, reparação do dano muscular
localizado e ativação das células musculares precursoras. A ação do GH é a incorporação
de aminoácidos em proteínas musculares lesionadas e o aumento do metabolismo
de lipídios (queima de gordura corpórea), conservando a reserva de carboidratos.
Devido a esses efeitos, o GH é utilizado principalmente por fisiculturistas para fins de
aumento do tecido muscular. Dentre os efeitos adversos destacam-se o crescimento
desmedido das mãos e pés, alongamento da mandíbula e crescimento de órgão internos,
além de contribuir para o aparecimento da diabetes.

Gonadotrofinas: é um hormônio natural produzido em grandes quantidades


durante a gravidez. Sua ação induz a ovulação e a espermatogênese, sendo utilizado
principalmente antes das competições no propósito de estimular a produção de
testosterona e/ou prevenir a atrofia testicular após o uso prolongado de substâncias
androgênicas.

Insulina: atua no metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios e tem ação conjunta


com hormônios como o GH. Tem sido empregado no doping esportivo, juntamente
com glicose, para estimular a glicogênese e a síntese proteica, promovendo o ganho de
massa muscular. Em casos de atletas diabéticos, o uso de insulina é licito, desde que
notificado pelo médico responsável pelo atleta.

Corticotrofina: é utilizada por atletas devido sua ação de estimular a recuperação


da fadiga e de lesões físicas, promovendo a recuperação pós competição do atleta
mais rápida. Em doses mais elevadas, promove ação euforizante, que auxiliam no
desempenho do atleta em provas. A corticotrofina estimula as células do córtex adrenal,
aumentando os níveis de corticosteroides endógenos que tem ação anti-inflamatória.
Seus efeitos indesejados são a diminuição da síntese proteica, hipertensão arterial,
osteoporose, fraqueza muscular, dentre outros.

102
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

Agonistas beta-2

Usado por atletas para aumentar a resistência e diminuir a fadiga muscular, uma vez
que tem ação broncodilatadora. São substâncias utilizadas para o tratamento da asma,
contudo para fins de ação doping, a dose necessária chega a ser 20 vezes superior a dose
terapêutica. O salbutamol, clembuterol, terbutalina, fenoterol, salmoterol são alguns
dos agonistas beta-2 proibidos pela AMA.

Diuréticos

Os diuréticos aumentam a formação e a eliminação de líquidos pelos organismos,


promovendo, consequentemente, a diminuição do peso corpóreo. Nesse sentido são
utilizados no meio esportivo para se chegar ao peso de categorias específicas (judô,
boxe, halterofilismo etc.). Atletas usuários de esteroides anabolizantes costumam
utilizar diuréticos para ganhar vantagens em competições ao se incluírem em categorias
inferiores. Ademais, o uso de diuréticos é empregado no propósito de mascarar o
consumo de outras substâncias, uma vez que o aumento da excreção de líquidos
diminui a concentração das substâncias ingeridas na urina (matriz biológica na qual
são realizados exames antidoping).

O uso em demasia de diuréticos está relacionado a doenças renais, desidratação,


câimbra muscular, alterações do ritmo cardíaco e perda acentuada de sais minerais.

Agentes mascarantes

Assim como os diuréticos, os agentes mascarantes são utilizados no meio esportivo com
o propósito de mascarar o consumo de outras substâncias proibidas. Dessa maneira, o
consumo de substâncias, tais como probenicida, epitestosterona e expansores de plasma
(e.g. albumina, dextran), não são permitidos em competições esportivas, embora não
sejam classificadas como agentes dopantes.

Estimulantes

Substâncias estimulantes, como a cafeína, são utilizadas por atletas em doses acima da
dose terapêutica para aumentar a competitividade, diminuir a fadiga, além de promover
o estado de alerta do indivíduo. Os primeiros relatos de doping no esporte foram
ocasionados devido ao consumo dessa classe de substâncias, tais como anfetaminas e
cocaína, e, atualmente, no mundo do esporte de elite são o maior motivo de preocupação
das autoridades responsáveis pelo controle de doping. Periodicamente, a AMA atualiza
a lista de substâncias estimulantes proibidas, tendo em vista a rápida entrada de novas

103
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

substâncias disponibilizadas aos usuários. Na atualização de 2013, 64 novas substâncias


foram adicionadas a lista, incluindo substâncias disponibilizadas somente no mercado
ilícito. As anfetaminas, cocaína e efedrinas são algumas das substâncias incluídas na
lista atualizada.

Os principais efeitos colaterais do uso indevido de substâncias estimulantes incluem


taquicardia, insônia, irritabilidade, anorexia, hipertensão, cefaleia, ansiedade e tremor.
Após o uso de doses elevadas, é frequente um período de crise depressiva, acompanhada
por fadiga crônica, letargia e hiperfagia, conhecido como “síndrome abrupta”. O abuso
de cocaínicos pode levar ainda a paranoia, alucinação e distúrbios psíquicos.

Vale ressaltar que tais substâncias, principalmente os simpatomiméticos (anfetaminas,


efedrinas e pseudoefedrinas), são encontras em formulações para resfriados, gripes e
alergias, devendo o atleta evitar o uso desses medicamentos quando em períodos de
competições.

Narcoanalgésicos

O uso de narcoanalgésicos, como a morfina, por atletas deriva de do potencial de


reduzir a dor dessas substâncias, permitindo que o indivíduo desempenhe esforços
além de seu limiar normal da dor. Dentre os mais utilizados citam-se: buprenorfina,
dextromoramida, heroína, fentanil e seus derivados, metadona e etc.

Algumas substâncias narcoanalgésicos, entretanto, são permitidas para prescrição


devido a lesões esportivas: codaína, tapentadol e tremadol.

Canabinoides

Os compostos encontrados na planta Cannabis Sativa, denominados canabinóides,


são proibidos em práticas esportivas. Alguns autores afirmam que seu uso melhora de
maneira indireta o desempenho do atleta, uma vez que diminui a ansiedade e promove
um efeito relaxante antes das competições, permitindo que o indivíduo descanse melhor
e tenha uma performance livre de nervosismo. Por outro lado, o uso rotineiro tende a
diminuir o desempenho em provas de resistência e trazem prejuízo no estado de alerta
e tempo de resposta do atleta, prejudicando-o em provas como automobilismo.

Glicocorticoides

Os glicocorticoides administrados por via auricular, oftálmico ou dermatológico no


meio esportivo é permitido pela AMA. São amplamente prescritos no mundo esportivo

104
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

para fins de tratamento de lesões do sistema musculoesquelético. Contudo, devido a sua


potente ação anti-inflamatória, que proporciona melhoria no desempenho dos atletas,
pois atenua a sensação de fadiga e impede a sensação de dor muscular por esforço físico,
o uso por via oral, retal, intravenosa e intramuscular durante competições são banidos
pela AMA. Efeitos tóxicos graves, como a síndrome de Cushing, são consequência do
uso prolongado e em demasia desses fármacos.

Álcool

O consumo de bebidas alcoólicas é considerado doping somente em modalidades


de competição específicas, tais como arco-flecha, automobilismo, aviação, caratê,
motociclismo e corridas de barco. Isso porque, embora seja utilizado como ansiolítico
previamente a competições, seus efeitos diminui a performance do atleta. Por ser
depressor do sistema nervoso central, o álcool diminui o estado de alerta do competidor,
a coordenação motora, a precisão e o equilíbrio, aumentado a chance de acidentes em
determinadas provas. Embora seja uma droga e seus efeitos nocivos bem conhecidos,
o controle de bebida alcoólica em competições é realizado esporadicamente; apenas
quando a solicitação oficial das federações esportivas.

Bloqueadores beta-andrenérgicos

Os bloqueadores beta-andrenérgicos, fármacos utilizados no tratamento de doenças


cardiovasculares, apresentam efeitos ergogênico, tais como diminuição da frequência
cardíaca, da pressão sanguínea, do suor palmar e do tremor das mãos. Atletas de
modalidades esportivas que exigem precisão e firmeza de movimento, tais como tiro
com arco, jogos de bilhar, dardos, golfe, aproveitam desses efeitos ergogênicos para
melhorar sua performance em competições. Além disso, seus efeitos depressores
também são aproveitados para diminuir a ansiedade pré-competição, sendo proibidos,
também, durante competições das modalidades de esqui e automobilismo.

Exames antidoping
Os exames antidoping esportivos são realizados em amostras biológicas dos atletas a
fim de avaliar o consumo de substâncias proibidas pela AMA. As amostras biológicas
geralmente utilizadas nas análises são a urina e o sangue, sendo a urina a mais utilizada
devido à coleta não invasiva e à disponibilidade de material biológico. Por outro lado, a
análise do sangue é menos susceptível à adulteração e, em alguns casos, a interpretação
do resultado é mais simples.
105
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

A detecção de substâncias banidas na urina e sangue dos atletas decorre da distribuição


e biotransformação corpórea após a ingestão. No sangue, as substâncias podem ser
detectadas poucas horas, ou até minutos após o consumo. Porém conforme ocorre
a distribuição sanguínea por meio da circulação sistêmica e a biotransformação
das substâncias no organismo por processos químicos e metabólicos, os níveis das
substâncias no sangue diminuem rapidamente, até não serem detectadas, o que pode
levar horas. Dessa maneira, a análise do sangue, geralmente, indica um consumo
recente de uma substância e são obtidas informações sobre a substância inalterada,
não sendo possível, na maioria dos casos, a detecção de produtos de biotransformação.
A desvantagem da análise na urina é que a substância inalterada muitas vezes não
está presente, e a interpretação deve ser realizada com relação ao seu produto de
biotransformação ou a sua forma conjugada, ou a substância não é excretada via urina,
como é o caso do hormônio de crescimento. Por outro lado, as substâncias podem ser
detectadas em uma janela maior de tempo entre a sua ingestão e a coleta da amostra.

Para a correta interpretação do resultado faz-se necessário o conhecimento sobre os


processos de distribuição e biotransformação corpórea. A análise dos estimulantes
simpatomiméticos e narcoanalgésicos, por exemplo, são exemplos da complexidade de
alguns casos de exames de doping: o consumo de anfetamina, de metanfetamina ou
de anorexígenos como o femproporex e clobenzorex pode resultar em concentrações
elevadas apena de anfetamina na urina de um atleta, e a morfina é detectada na urina
após o consumo de morfina, heroína, banidos no esporte, ou mesmo de codeína, que
não tem restrição de uso.

A análise antidoping é qualitativa, ou seja, o resultado emitido é positivo ou negativo.


Isso porque diversos fatores interferem na quantidade de uma substância no sangue e
na urina. Contudo, valores limites para concentração de algumas substâncias na urina
são estabelecidos pelas agências de controle antidoping para nortear as análises, ou
seja, valores encontrados acima dos valores limites estabelecidos são considerados
positivos e abaixo são considerados negativos

A maioria das análises em exames antidoping empregam técnicas cromatográficas de


análise (cromatográfica líquida – HPLC e cromatografia gasosa – GC) e imunoensaios.
Geralmente envolvem duas etapas: triagem – rápida, seletiva, de fácil execução e baixo
custo; geralmente métodos baseados em imunoensaios ou HPLC-UV, e confirmação
– técnicas cromatográficas acopladas à espectrometria de massas (GC-MS, LC-MS/MS).

106
CAPÍTULO 4
Plantas alucinógenas

Alucinógenos são substâncias classificadas como perturbadores da atividade do


sistema nervoso central, que modificam qualitativamente a atividade do cérebro.
Tais modificações perturbam, distorcem o funcionamento cerebral, fazendo com que
o usuário tenha visões deformadas, como imagens de sonhos. Levam a alterações de
pensamentos, do estado de percepção, da consciência e do humor. Afetam gravemente
a saúde humana e apresentam efeito cruzado, ou seja, são necessárias doses cada
vez maiores para levar aos mesmos efeitos. Contudo, mesmo quando usado em altas
concentrações, são mínimos os casos de alterações anatômicas cerebrais irreversíveis,
responsáveis por causar dependência. As perturbações mentais ocorrem devido à
efeitos psicológicos, classificados como:

»» Estado confuso,

»» Paranoicos agudos,

»» Reações esquizofrênicas ou paranoica,

»» Alucinose persistente

»» Depressão psicótica.

Figura 50. Alucinose.

Fonte: Alucinogenosfarma.

107
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

Em épocas primitivas, o uso de plantas alucinógenas tinha finalidade mística, tendo


um papel essencial em ritos religiosos e culturais. Atualmente, em nossa cultura, o uso
dessas plantas tem finalidade recreativa, muito embora ainda existem seitas como a
União do Vegetal e a Santo Daime, as quais têm autorização legal, sem restrição, para
uso de plantas alucinógenas em seus rituais. Ao contrário desses grupos com ritos
culturais, a cultura atual faz uso dessas substâncias de maneira ilícita com o objetivo de
gerar prazer individual e imediato e de fuga da realidade.

A problemática do uso abusivo das substâncias alucinógenas está em seus efeitos


bioquímicos, psicológicos e sociais. A busca pelos seus efeitos de visões fantásticas,
coloridas e cheias de figuras místicas tornam a experiência viciante, de maneira que
a busca cada vez maior pelos seus efeitos torne as plantas alucinógenas um problema
social e de saúde pública.

A alucinação decorrente do consumo de plantas alucinógenas é um conjunto de alterações


das percepções (visuais, auditivas e olfativas), elaborada pela mente e projetada para os
sentidos como se o agente causador fosse, de fato, existente. Contudo, mesmo sendo o
fator externo inexistente, a alucinação leva tanto a sensações de prazer como de medo,
ansiedade, dor, dentre outras.

Os usuários designaram o termo badtrip à reação adversa causada pela alucinação, tais
como alucinações bizarras, sensação de perda de controle, distorção do próprio corpo,
desespero, medo da morte, tendência suicida, ou reações físicas como palpitação, suor
excessivo, náuseas e paralisia. Além da badtrip, o termo flashbacks é usado para os
transtornos de percepção pós-alucinação. São episódios curtos, que podem repetir
exatamente as alucinações sob efeito.

Na história do uso de plantas alucinógenas destacam-se o uso de cogumelos, muito


utilizados pelos Maias visando a busca pela comunhão com divindades, e a mandrágora
e a beladona utilizadas, principalmente, em rituais de bruxaria na Europa da
Idade Média.

Principais plantas alucinógenas

Beladona e Datura

A Atropa belladonna L., conhecida como Beladona, tem em sua composição alcaloides
capazes de causar efeitos alucinógenos como a hiosciamina, a escopolamina e traços
de alcaloides tropano. O componente majoritário é a atropina, substância utilizada em
colírios para causar dilatação da pupila.

108
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

A Datura, conhecida no Brasil como saia branca, trombeteira, maxixi bravo, dentre
outros nomes, possui os mesmos alcaloides alucinógenos da Beladona, porém ganha
destaque devido ao potencial risco a saúde. Seus efeitos surgem logo após o consumo
do chá preparado a partir das flores da planta, e perduram por até 48 horas.

Jurema e Epaná
A Minosa hostilis e a Virola theiodora, utilizadas em cerimonias por tribos indígenas
do Brasil, são constituídas por alcaloides do grupo da triptamina e da carbolina,
com propriedades alucinógenas e alto poder tóxico ao ser humano. Logo após o uso,
aparecem sintomas de excitabilidade, que passar a se tornar contrações musculares
faciais, intumescimento dos membros, descontrole das atividades musculares, náuseas,
alucinações visuais e sono profundo.

Ayahuasca
Dá-se o nome de Ayahuasca à bebida preparada por meio da mistura da Banisteriopsis
caapi e da Psichotria viridis, popularmente conhecida como chá do Santo Daime” ou
“vegetal”. Seus efeitos estão relacionados à substância dimetiltriptamina. Há relatos do
uso da ayahuaca em toda a Amazônia Ocidental, chegando à costa do Pacífico no Peru,
Colômbia e Equador, bem como na costa do Panamá. Chegaram a ser identificadas 72 tribos
indígenas de diversas etnias que faziam uso da ayahuasca sob diversas denominações.
Apesar de sua popularidade, ainda existem poucos estudos acerca de seus efeitos. Contudo,
são relatadas alterações no estado emocional, euforia em poucos minutos, alterações na
memória, pânico, alcance do estado visionário e perda da coerência da fala.

A legislação brasileira dispõe de instrumento legal para consumo de ayahuasca no


Brasil. A Resolução nº 1/2010 do CONAD (Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas)
estabelece que o consumo da bebida tem permissão legal apenas para fins religiosos;
enquanto que o DMT presente na bebida é considerado uma droga proscrita no país,
portanto seu consumo, cultivo e comercialização para qualquer outro fim é proibido.

Figura 51. Representação das plantas: a) Banisteriopsis caapi e b) Psychotria viridis. (Fonte Santodaime) e Bebida
de ayahuasca produzida pela decocção das plantas Banisteriopis caapi e Psychotria viridis.

Fonte: Culturaacriana.

109
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

Mescalina

A mescalina (3,4,5 – trimetoxifeniletilamina) é extraída do cacto peiote (Lophopharo


williamsii), San Pedro (Trichocereus pachanoi) e o wachuma (trichocereus peruvianus).
Funciona como uma substância agonista, ligando-se aos mesmos receptores cerebrais
que a dopamina, noradrenalina e serotonina e desempenhando as mesmas funções que
essas substâncias.

Seu consumo é dado de diferentes maneiras como na forma de chá, massagem ou


ingestão dos botões do cacto ou na forma de pasta. Entre seus efeitos destacam-se:
euforia, sensação de alegria, alucinações visuais de olhos abertos e fechados, estimulante,
tato mais intenso e experiências exotéricas profundas. Em contrapartida, variados
também são os efeitos adversos: náusea e vômitos, dores no pescoço, opressão física no
peito, falta de ar, calafrios, insônias, pensamentos indesejáveis, depressão, ansiedade,
chegando a pânico, e paranoia.

Psilocibina

Derivado da triptamina, a psilocibina é extraída de diversas espécies de cogumelos


frescos ou secos. São alcaloides, que apresentam efeito alucinógeno devido a alterações
na oxigenação cerebral e no fluxo sanguíneo à certas regiões do cérebro. Seu efeito
sobre o sistema nervoso é desconhecido, porém há especulações de que agem como
inibidores de neurotransmissores. Não se conhece doses letais, sendo consumidas em
torno de 10 a 20 mg, com efeitos que duram entre 4 e 6 horas. O uso de 30 mg provoca
sensações de alucinação que duram até 7 ou 8 horas.

Métodos empregados para identificação de


consumo de plantas alucinógenas
Por se tratar muitas vezes de casos de intoxicação inespecíficos, a identificação
do consumo de plantas alucinógenas ou mesmo a identificação de uma planta
alucinógena é realizada por meio de técnicas cromatográficas acopladas a diferentes
detectores, dependendo da substância de estudo. Por serem em sua maioria alcaloides,
a cromatografia líquida acoplada a detectores de ultravioleta (HPLC-UV/DAD) e a
detectores espectrômetros de massas (LC-MS) têm sido preferencialmente empregados.

Técnicas analíticas: preparo de amostra

Previamente, para a etapa da análise química das substâncias ativas, empregando


equipamentos sofisticados, faz-se necessário utilizar técnicas de preparo de amostra

110
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

que permitam a extração dessas substâncias das folhas, caules e/ou flores das plantas,
além de minimizar a presença de outras substâncias constituintes das plantas que
possam interferir na análise química. Tais procedimentos exigem um conhecimento
técnico e químico por parte do analista, tanto relacionado à composição da parte da
planta a ser analisada como da substância a ser investigada e das técnicas disponíveis.

A seguir, serão abordadas as técnicas de preparo de amostra mais utilizadas para a


extração de substâncias orgânicas, como as substâncias ativas presentes nas planas, de
plantas e amostras similares.

QuEChERS

QuEChERS (Quick,Easy,Cheap,Effective,Rugged,Safe) é a denominação dada para


um procedimento de extração sólido-líquido mais elaborado e considerado simples,
rápido, barato, sem requerer equipamento ou vidraria especial.

A técnica foi desenvolvida por Anastassiades e seus colaboradores, visando suprir a


dificuldade nas análises de amostras de alimentos quanto à presença de pesticidas.
A determinação de resíduos de pesticidas em alimentos requer uma etapa prévia de
preparo de amostra, devido as concentrações aos quais se encontram serem geralmente
muito baixas. Além disso, diferentes classes de pesticidas apresentarem propriedades
químicas distintas, de maneira que uma simples extração não é eficiente para todas
substâncias. Ressalta-se que, assim como as plantas, amostras de alimentos são
consideradas “amostras complexas” devido à presença de inúmeros componentes que
podem interferir e inviabilizar a análise, caso não sejam adequadamente eliminados.

O procedimento de preparo de amostras denominado QuEChERS consiste em:

1. Extração de compostos em solvente orgânico, seguida de uma etapa de


extração/partição pela adição de um sal (salting-out).

2. Agitação em ultrassom e/ou vortex para promover a interação do solvente


com os analitos.

3. Centrifugação, para promover a precipitação de proteínas e outras


macromoléculas presente no meio.

4. Limpeza do extrato (clean up), etapa fundamental para reduzir as


interferências, além de diminuir a necessidade de manutenção do sistema
cromatográfico.

Um esquema da técnica de extração QuEChERS pode ser visualizado na Figura 52:

111
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

Nas etapas de Extração e clean up são utilizados reagentes apropriados de acordo com
a aplicação, como por exemplo:

»» Etapa de extração: Acetonitrila e Sulfato de magnésio para promover a


extração e a partição entre a água (da amostra) e o solvente orgânico.

»» Clean up: Amina primária/secundária – PSA para remover açucares,


ácidos graxos e analitos ácidos.

»» Clean up: Carbono negro grafitado ou negro de fumo para remover


pigmentos, clorofila e esteróis.

»» Fase polimérica C18 para remover interferentes apolares.

Esta técnica de preparo de amostras tem demonstrado ser eficiente na remoção de


interferentes na determinação de resíduos tóxicos de praguicidas. No entanto, a técnica
já foi utilizada na determinação de mais de 40 substâncias, dentre elas estimulantes,
anestésicos, antidepressivos, hormônios e ansiolíticos em amostras de sangue total, com
porcentagens de recuperação acima de 80% e coeficientes de variação da repetibilidade
abaixo de 10% para vários dos analitos pesquisados.

Figura 52. Técnica de extração QuEChERS. (1) Extração/partição na presença de um sal; (2) Agitação; (3)
Centrifugação; (4 e 5) Extração em fase sólida dispersiva; (6) Agitação; (7) Centrifugação.

Fonte: própria.

Extração em fase sólida

A extração em fase sólida (SPE, do inglês Solid Phase Extraction) tem sido o preparo
de amostra preferencialmente empregado para análise de drogas psicotrópicas
em diferentes matrizes. Além da limpeza da amostra, a SPE possibilita também a

112
FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO │ UNIDADE II

concentração das substâncias de interesse. A instrumentação necessária para se realizar


a SPE é simples, porém pode ser acoplada aos cromatógrafos líquidos, tornando-se
mais sofisticadas.

A possibilidade de automação da SPE e o uso de pequenos volumes de solventes


orgânicos são algumas das conveniências que a tornaram uma alternativa frente à
extração líquido-líquido, por exemplo. Além das vantagens citadas, a disponibilidade
de fases extratoras diversificadas possibilita extrações seletivas para determinada
classe de compostos. Os mecanismos de separação envolvidos podem ser baseados em
processos químicos (adsorção, partição, troca iônica), similares aqueles envolvidos em
cromatografia líquida.

As etapas da SPE consistem em (Figura 53):

I. Condicionamento: percolação de solventes apropriados pela fase


extratora do cartucho, preparando-a para reter os analitos.

II. Adição da amostra: percolação da amostra pela fase extratora


condicionada, retendo os analitos com afinidade pela fase extratora
presente na amostra.

III. Lavagem: passagem de um solvente pelo cartucho para retirar


interferentes e manter os analitos de interesse na fase extratora.

IV. Eluição: percolação de baixo volume de solvente apropriado pela fase


extratora, recuperando os analitos de interesse retidos.

Figura 53. Esquema ilustrativo das etapas envolvidas em SPE: (x) interferentes; (•) analitos; porção em azul claro
ilustra a amostra; em cinza, a fase extratora e em branco, o solvente.

Fonte: própria.

113
UNIDADE II │ FUNDAMENTOS E ANÁLISES RELACIONADAS ÀS SUBSTÂNCIAS DE ABUSO

Na necessidade de um fator de pré-concentração mais alto dos analitos ou no preparo


do extrato da amostra em um solvente apropriado para a análise, o volume de solvente
utilizado na eluição pode ser evaporado e o extrato seco dissolvido em volume e solvente
desejados. O fator de concentração resultante depende do volume inicial da amostra e
do volume final do extrato.

A escolha da fase extratora depende das propriedades físico-químicas das substâncias


a serem determinadas e da matriz de interesse.

A figura a seguir resume as etapas das análises para identificação de drogas de abuso,
de substâncias utilizadas no dopping esportivo e de substâncias alucinógenas presentes
em plantas. A seleção de cada opção descrita depende da amostra e, principalmente, da
substância a ser analisada. Sendo assim, é crucial o conhecimento do Perito tanto na
amostra como nas análises para que a identificação seja realizada de maneira adequada.

Figura 54. Resumo das etapas envolvidas em análises de identificação e quantificação de drogas de abuso em
materiais entorpecentes, amostras biológicas e plantas alucinógenas.

Coleta da amostra Preparo de amostra Análise

Material Amostra Planta


biológica Alucinógena Dissolução Extração dos
entorpecente Triagem Confirmatória
em compostos
solvente
apropriado
Sangue
Líquido-líquido Imunoensaio GC-MS
Urina
Sólido-líquido LC-MS/MS
Cromatografia em
Cabelo Extração em camada delgada
Saliva fase sólida GC-FID
Humor QUECHERS
HPLC-DAD

114
EMPREGO DA
MICROSCOPIA EM UNIDADE III
IDENTIFICAÇÕES
QUÍMICAS FORENSES

CAPITULO 1
Conceitos gerais

Nesta unidade falaremos da importância das técnicas de microscopia em aplicações


forenses. Seus fundamentos, conceitos e as principais aplicações na solução de casos
criminais.

A microscopia, como vocês devem estar imaginando, está relacionada ao microscópio, ou


seja, o uso de instrumentos sofisticados para a identificação/visualização de partículas
invisíveis a nossa visão. Não à toa, a palavra microscópio tem origem de duas palavras
gregas, tais quais “pequeno” e “observar”.

Figura 55. Microscópio óptico.

Fonte: Pixabay 21.

Os primeiros instrumentos óticos foram desenvolvidos no século XVII. A. Leeuwenhoek


(1632 - 1723) criou uma lupa capaz de visualizar e estudar vários microrganismos e
células. No século XIX foram desenvolvidos os microscópicos óticos de luz refletida
e os microscópicos óticos de luz transmitida, capazes de identificar metais em
superfícies opacas, e componentes poliméricos e biológicos em materiais translúcidos.
115
UNIDADE III │ EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES

Depois deste, muitos outros modelos foram aperfeiçoados para as mais variadas
aplicações, que vão desde a biologia até a microeletrônica e a astronomia. Com o
avanço da eletrônica e da engenharia, instrumentos ópticos de grande precisão foram
desenvolvidos, tanto no âmbito da microscopia ótica como na microscopia eletrônica.

O quadro a seguir mostra a evolução na capacidade de aplicação do campo de visão, desde


o olho humano até as técnicas mais recentes como a microscopia de varredura eletrônica
(MEV), amplamente empregada em investigações forenses.

Quadro 5. Evolução da capacidade de visão instrumental (Seabra, 2003).

Técnica Capacidade de visão


Olho humano 0,1 mm

Microscopia ótica 0,5 a 1 um

Microscopia eletrônica de varredura (MEV) até 10 nm

Microscopia eletrônica de transmissão (MET) 10 A

Microscopia de ponto de prova (SPM) Nível atômico ou 1 A

Diferença entre a Microscopia ótica e a


Microscopia Eletrônica

Microscopia ótica

Consiste da incidência de um feixe de luz sobre a amostra, e um conjunto de lentes


posicionadas de maneira estratégica permite a visualização aumentada do objeto.
O conjunto de lentes consiste de dois sistemas de lentes convergentes, denominados
objetiva e ocular.

A objetiva é um conjunto de lentes com pequena distância focal, e fornece uma


imagem real e aumentada do objeto que é observado. A ocular também é formada
por lentes convergentes, mas funciona como uma lupa, e fornece uma imagem virtual
e aumentada da imagem real que se formou pela objetiva. A objetiva e a ocular
são dispostas nas extremidades de um cilindro oco – a coluna do microscópio –, e
podem se aproximar ou afastar da amostra até a focalização perfeita. A potência do
microscópio é resultado do produto entre a ampliação linear da objetiva e a potência
da ocular; tanto maior é a potência do microscópio quanto menor a distância focal da
objetiva e da ocular.

A resolução dos microscópios óticos é a capacidade do instrumento óptico em produzir


imagens separadas de pequenos objetos muito próximos um do outro. Assim, a resolução
é a mínima distância entre pontos ou partes de um objeto possíveis de serem distinguidos.

116
EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES │ UNIDADE III

As lentes objetivas são responsáveis pela ampliação da amostra. Para uma alta ampliação
e uma alta resolução necessita-se de lentes objetivas com uma grande abertura numérica.
Esse parâmetro determina o poder de separação de imagens do microscópio.

O sistema de iluminação da microscopia ótica se dá por luz transmitida, luz refletida,


por campo claro ou por campo escuro:

»» Luz transmitida ou campo claro: A luz gerada por uma fonte (lâmpada
+ espelho parabólico, em geral) é “colimada” por lentes condensadoras e
passa através de aberturas de tamanho variados, chamadas diafragmas.
Na sequência, a luz colimada passa por filtros e, finalmente incide sobre
a amostra. Nesse caso, para a análise da amostra, a mesma deve ser
disposta como uma lâmina fina o suficiente para que seja transparente.
A microscopia ótica com luz transmitida tem importante aplicação na
caracterização de minerais translúcidos.

A microscopia de campo claro apresenta algumas vantagens como menor


toxicidade por necessitar de menores concentrações de corantes que irão
interagir com a luz emitida revelando a imagem. Contudo, devido ao
uso de baixas concentrações de corantes, tem-se como consequência um
baixo contraste, gerando imagens pouco nítidas. Essa limitação pode ser
melhorada selecionando o comprimento de onda de máxima absorção do
corante, intensificando a imagem.

»» Luz refletida ou campo escuro: A luz incide sobre a amostra e é refletida


de modo especular. Um semi-espelho reflete 50% da luz incidida, de maneira
que 50% dela é refletida e 50% é transmitida e incidida sobre a amostra.
Isso faz com que haja perdas de intensidade da imagem, porém há ganho
na resolução. Enquanto a microscopia de luz transmitida é empregada para
materiais translúcidos, a microscopia de luz refletida aplica-se a materiais
opacos, sendo principalmente utilizada para caracterização desses materiais.

A luz dispersada entra na objetiva e o objeto aparece iluminado e brilhante


sobre um fundo escuro. Isso ocorre devido à utilização de condensador
especial que ilumina o objeto obliquamente. A luz atinge o material a ser
analisado e somente os feixes desviados pelo objeto percorrem o resto do
sistema, as objetivas e oculares.

Microscopia eletrônica

Nas técnicas baseadas na microscopia eletrônica, ao invés de um feixe de luz, um feixe


de elétrons é incidido sobre a amostra a ser analisada. A partir da incidência desse

117
UNIDADE III │ EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES

feixe de elétrons são geradas imagens com resoluções espaciais, ou seja, na ordem de
centenas de milhares de vezes.

Instrumentos de microscopia eletrônica modernos oferecem um grau detalhado


de características estruturais, espectroscópicas, composicionais e cristalográficas.
Pode ser aplicada em diferentes materiais, tais como metais, ligas metálicas,
cerâmicas, semicondutores, vidros, polímeros, madeira, têxteis, concreto, amostras
biológicas etc.

A microscopia eletrônica de transmitância (MET) e a microscopia eletrônica de


varredura (MEV) são as técnicas mais utilizadas. Na técnica de MET, uma amostra
muito fina é alocada entre a fonte de elétrons e um anteparo; o feixe de elétrons
atravessa a amostra interagindo com a sua estrutura. Parte dos feixes de eletros
são transmitidos e parte dos feixes de elétrons são difratados, e vão em direção a
um campo, no qual a imagem será formada. A imagem ampliada é formada pela
projeção bidimensional da amostra. Dependendo do equipamento, o campo de
formação de imagem pode ser: campo claro, campo escuro ou campo de difração
de elétrons.

Na MEV, ocorre a irradiação da superfície da amostra, onde os sinais elétricos produzidos


são traduzidos na forma de imagem.

Ambas as técnicas MET e MEV podem ser acopladas a técnicas de difração de raios X,
permitindo o estudo da composição elementar das amostras. A técnica empregada é
denominada “mapeamento composicional e semi quantitativo – EDS”.

A MEV acoplada ou não a técnicas de difração de raios X são especialmente empregadas


no campo das ciências forenses, tais como em investigação de gemas, em balística e
muito mais.

Microscopia Eletrônica de Varredura


Microscópio Eletrônico de Varredura (MEV) é um instrumento versátil, porém seu uso
na obtenção de imagens nítidas não é trivial; exige conhecimento técnico especializado.
Por outro lado, o resultado obtido é uma imagem de simples interpretação.

Comparada com as demais, a MEV apresenta capacidade de aumento e resolução de


imagem entre a MO e a MET. Sua principal vantagem em comparação com a MET é
a facilidade no preparo de amostra, além de apresentar elevada profundidade de foco
(imagem com aparência tridimensional) e permitir, além da análise microestrutural, a
microanálise química dos materiais.

118
EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES │ UNIDADE III

Componentes

O MEV é formado por uma coluna ótico-eletrônica, uma unidade de varredura, uma
câmara de amostra, um sistema de detectores e um sistema de visualização da imagem.
A Figura 56 mostra os componentes e os subcomponentes de um MEV.

Na coluna ótico-eletrônica ficam localizados o canhão de elétrons (fonte de alta tensão)


que gera os elétrons primários, lentes condensadoras do feixe de elétrons e as bobinas
que promovem o movimento do feixe de elétrons sobre uma dada região da amostra
e as bobinas que fazem as correções óticas necessárias. Toda a coluna deve estar sob
vácuo de 7,5 x 10-6 torr ou 10-5 mbar durante a emissão do feixe de elétrons primários
para evitar que os elétrons colidam com moléculas de gás antes de atingir a amostra.

O canhão de elétrons compõe um filamento de tungstênio (0,2 a 30 kV) que produz um


feixe de elétrons com energia suficiente para ser detectado (120 a 200 kV). As lentes
eletromagnéticas condensadoras atuam diminuindo o diâmetro do feixe eletrônico,
com o objetivo de produzir um feixe de elétrons focado e com um pequeno diâmetro
sobre uma determinada região da amostra.

O feixe de elétrons passa através da amostra, de maneira que os elétrons interagem


com os átomos da amostra gerando vários tipos de radiação (elétrons secundários,
retroespalhados, fótons, raios-X, elétrons Auger, etc.), sendo que cada uma delas requer
um detector específico para a aquisição e transformação da radiação em sinal elétrico.

Figura 56. Ilustração dos componentes principais de um Microscópio eletrônico de varredura.


Fonte de alta tensão

Catodo
Câmera sob vácuo

Anodo acelerador

Lente
condensadora

Objeto Lente objetiva


Imagem
intermediária
Lente de projeção

Imagem final

Placa fotográfica
ou tela fluorescente

Fonte: Young Freedman, 2009.

119
UNIDADE III │ EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES

Os elétrons transmitidos são detectados pelo conjunto de lentes (objetiva e projeção),


gerando a imagem aumentada na tela fotográfica. O poder de resolução dos equipamentos
atuais é na ordem de 0,2 nm, porém, os mecanismos de contrastes da placa fotográfica
podem melhorar ou piorar a visualização da imagem. Os principais mecanismos de
contraste são:

»» Contraste de espessura por massa: Refere-se ao processo de


espalhamento de elétrons devido à passagem do feixe pela amostra, ou
seja, transmissão dos elétrons devido à colisão com os átomos da amostra.
Quanto maior a espessura da amostra ou a massa atômica dos átomos
que compõe a amostra, menor a quantidade de elétrons transmitidos,
logo mais escura é a imagem gerada e mais difícil a visualização desta.

»» Contraste de difração: Refere-se ao espalhamento elástico das


amostras cristalinas.

»» Contraste por fase: Refere-se ao mecanismo de recombinação dos


feixes transmitidos e difratados pela amostra no plano da imagem que
permite a visualização da rede cristalina entre os átomos da amostra.

Os três mecanismos ocorrem simultaneamente, e ajustes finos podem ser realizados


para se ter uma melhor combinação entre os mecanismos de contraste, gerando imagens
com maior resolução e nitidez.

Para fins de análises forenses, na maioria dos casos utilizam-se a radiação emitida pelo
MEV na forma de elétrons secundários, elétrons retroespalhados ou raios-X. Os elétrons
secundários geram as imagens topográficas de alta resolução da superfície da amostra;
os retroespalhados fornecem uma imagem característica da composição ou do contraste
de número atômico. Os raios-X fornecem informações qualitativas e semiquantitativas
da composição da amostra na região de incidência do feixe de elétrons, de maneira não
destrutiva. Assim, os detectores mais utilizados são os baseados na medida de energia,
do inglês “energy dispersive spectroscopy” (EDS) ou espectroscopia por dispersão de
energia.

As análises por MEV-EDS são extremamente rápidas, de maneira que a composição


química em uma região da amostra pode ser identificada em no máximo 100 s,
dependendo da concentração dos elementos.

120
CAPÍTULO 2
Aplicações da Microscopia em
ciências forenses

O MEV é um dos equipamentos de maior versatilidade na análise microestrutural de


materiais sólidos. As vantagens do MEV nas aplicações forenses vêm do fácil preparo
da amostra previamente à análise (em alguns casos, o material pode ser observado
sem nenhuma preparação anterior); da possibilidade de se obter diferentes tipos de
imagens; da possibilidade de aquisição de sinal digital, o que permite processamento
posterior dos dados, e a possibilidade de combinar a análise microestrutural com a
análise de composição química microlocalizada.

Atualmente, a MEV tem ampla aplicação para a identificação de resíduos de disparo


de arma de fogo. Contudo, é ainda empregada em inúmeros outros casos criminais,
tais como orientação e concentração de elementos (inclusive sangue) em roupas
(fibras) e objetos; detecção de resíduos metálicos em amostras de tecido, luvas de mão
(cadáver) e em ossos (casos de agressão por objeto contundente, armas de fogo, etc.),
inclusive em corpos exumados; análise de projéteis para busca de microvestígios,
como por exemplo vidro, permitindo a confirmação da trajetória do disparo; análise
de objetos encontrados em cenas de crime com impregnações de tinta proveniente
de veículos automotores, solo, etc.; análise de ranhuras e marca de percutor em
estojos recolhidos em locais de crime, quando a análise por microcomparador
balístico não se mostrar conclusiva; análise de números de série adulterados em
armas de fogo, quando estes não puderem ser revelados através das técnicas usuais
de metalografia.

Balística
Balística forense é a parte integrante da criminalística que estuda as armas de fogo, sua
munição e os efeitos dos tiros por elas produzidos, sempre que tiverem uma relação
direta ou indireta com infrações penais, visando esclarecer e provar sua ocorrência.
O aumento no número de crimes envolvendo armas de fogo é um problema mundial,
de maneira que a detecção de resíduos de tiro (GSR) em locais de crime é crucial na
resolução de um caso criminal e na identificação da arma utilizada, informação muitas
vezes útil na identificação do criminoso. A Figura 57 mostra um cartucho de munição
de arma de fogo, identificando os seus componentes.

121
UNIDADE III │ EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES

Figura 57. Ilustração de um cartucho de munição de arma de fogo.

Fonte: Prova material, v 6, 2005.

O cartucho de munição de arma de fogo é composto de quatro partes: o projétil, o estojo


(ou cápsula), o propelente (ou pólvora) e a espoleta (Figura 57). O projétil atravessa o
cano da arma e atinge o alvo, devido à combustão da pólvora, cuja aceleração do projétil
dependerá da eficiência dessa combustão. Ou seja, a queima gera grande quantidade
de gás, aumentando a pressão interna no cano da arma; assim, o projétil é empurrado
para frente. A combustão da pólvora é promovida pela faísca fornecida pela espoleta,
quando o explosivo sensível ao choque mecânico é pressionado pelo gatilho. O estojo
ou cápsula é o recipiente que contém o projétil na ponta, a pólvora, dentro, e a espoleta
na base.

Logo, uma vez que o projétil disparado, resíduos de pólvora devido à explosão são
espalhados próximo à arma, assim como os mesmos resíduos permanecem no projétil
acompanhando todo o caminho que esse percorre. Da mesma maneira, resíduos de
pólvora também são espalhados no material atingido pelo projétil.
122
EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES │ UNIDADE III

Esses resíduos de disparo de arma de fogo são formados, entretanto, não apenas
pela pólvora, mas também pelos metais dos cartuchos e dos projéteis. Assim, para se
determinar que um resíduo é, de fato, oriundo de arma de fogo, deve ser considerado
tanto a morfologia como a composição química dos resíduos suspeitos. Essas são
características únicas, exclusivas e determinantes. Um resíduo de disparo de arma de
fogo apresenta partícula esférica e composição química composta por chumbo (Pb),
bário (Ba), antimônio (Sb), cobre (Cu) dentre outros elementos oriundos da própria
arma, dos cartuchos e etc. A identificação de apenas dois dos três elementos principais
não assegura que o resíduo seja de disparo de arma de fogo.

Testes químicos por análises de via-úmida são ainda frequentemente utilizados


em laboratórios de criminalística. Reagentes para detecção qualitativa de resíduos
orgânicos ou inorgânicos são bem estabelecidos como o método de Griess (ácido
parasulfanílico) para a revelação de nitritos produzidos em disparos, detecção de
chumbo com rodizonato de sódio, determinação simultânea de chumbo e bário pela
reação com iodeto de trifenilmetilarsênio, e reação com ditio-oxamida para a detecção
de cobre. Embora eficientes, estes métodos não garantem que a natureza dos elementos
químicos detectados seja proveniente de disparo de arma de fogo, uma vez que são
susceptíveis a reações cruzadas, além de não identificar a origem desses elementos.

Na presença de oxigênio do ar, os nitritos sofrem oxidação, levando à formação de


nitratos ou volatilizando-se como ácido nitroso. Sendo assim, para que o teste de
Griess seja viável, o exame deve ser feito o mais breve possível após o suposto disparo.
Vale ressaltar que o teste de Griess não identifica a origem do nitrito presente no
material; mas sim identifica a presença de nitritos de qualquer origem, não sendo,
portanto, reativo específico para nitritos oriundos de disparo por arma de fogo. Sendo
assim, esse teste está sujeito tanto a reportar um resultado falso negativo, como um
resultado falso positivo, de maneira que o teste de Griess quase não é utilizado pelos
peritos, sob a alegação de pouca confiabilidade como prova pericial.

A detecção de chumbo pelo rodizonato de sódio como reagente colorimétrico também


é susceptível a resultados errôneos. O complexo azul-violeta formado a partir da reação
entre o rodizonato de sódio com o chumbo, pode ser estabilizado por meio do uso de
uma solução tampão. Contudo, como consequência de um contato prolongado com
o meio ácido, pode ocorrer a decomposição do complexo azul-violeta a compostos
incolores, perdendo os resultados.

Essa problemática com os métodos por via-úmida faz com que técnicas mais sofisticadas
e confiáveis sejam cruciais em investigações criminais. Uma artimanha é fazer uso da
morfologia característica única dos resíduos de pólvora. Além disso, as partículas de
pólvora podem apresentar tamanhos variados de acordo com o tipo de arma empregada
123
UNIDADE III │ EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES

para efetuar o disparo (revólveres produzem mais partículas esféricas do que pistolas)
e o calibre (quanto maior o calibre, maior o tamanho médio das partículas). A
Figura 58 mostra a imagem obtida a partir da análise por MEV de resíduos de tiro
de submetralhadora (Amostra D1) e fuzil automático leve (amostra B9) coletados
diretamente do corpo do atirador.

A composição também pode variar, dependendo da composição da espoleta. Uma mesma


partícula também pode apresentar regiões com composições diferentes. Essas informações
são úteis para identificar a qual o modelo da arma utilizada na cena do crime, o que
faz da MEV-EDS uma técnica extremamente útil em balística, uma vez que determina
não apenas a morfologia do resíduo suspeito, mas também a composição química
semi-quantitativa.

Figura 58. Análise por MEV de resíduos de tiro de submetralhadora (Amostra D1) e fuzil automático leve (amostra
B9) coletados diretamente do corpo do atirador.

Amostra B9 – Imagem de elétrons secundários: Amostra B9 – Imagem de elétrons


particulados de GSR cavitados retroespalhados: particulados de GSR cavitados

Amostra D1 – Particulados de GSR irregulares Amostra D1 – Particulados de GSR regulares,


aplainados em agregados esferoides

Fonte: Revista Perícia Federal Ano XI – Número 27.

Um exemplo de aplicação da análise por MEV-EDS em balística é apresentado a seguir.


A Figura 59 mostra o resultado da análise de resíduos coletados na borda de um orifício
de projetil identificado em um crânio humano exumado, após 2 anos de crime ainda
não resolvido. Visualize o gráfico de EDS obtido na fonte apresentada.

124
EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES │ UNIDADE III

Figura 59. Fotomicrografia e espectro de EDS dos resíduos encontrados na borda do orifício do crânio.

Fonte: Revista Perícia Federal Ano XI – Número 27.

A vítima estava desaparecida e fora encontrada boiando no águas do rio Guamá


(município de Acará, Estado do Pará). A vítima teria sido detida, levada em uma viatura
da PM e teria sido espancada violentamente, a ponto de ter as mãos decepadas e a
cabeça esmagada. Havia suspeitas de que policiais militares teriam sido os autores do
crime, o que se tornou imprescindível apurar se a vítima tinha sido também atingida
por projéteis de arma de fogo, motivo pelo qual o Ministério Público pediu a exumação
do cadáver. Com a análise de MEV-EDS, foi contatado a existência de resíduos de
chumbo, principal material constituinte da maioria dos projéteis de arma de fogo, nas
bordas dos orifícios de entrada e saída da perfuração, e juntamente com a reconstrução
do crânio mostrou uma trajetória do projetil com entrada pela porção esquerda da nuca
e saída pelo lado direito da face, indicando que o disparo de arma de fogo foi efetuado
pelas costas.

Outro exemplo de aplicação da MEV-EDS em prol da justiça, foi a resolução de caso


pericial a favor da Polícia Federal, no qual peritos criminais federais determinam
resíduos e distância de disparo de arma de fogo em vestimenta da vítima e provam a
isenção de policiais no crime.

Caso

Durante operação da Polícia Federal de busca e apreensão em uma residência, em


Aracaju, foi efetuado disparo de arma de fogo para conter um cachorro solto. O disparo
ricocheteou no chão e, em seguida, atingiu uma porta. Alguns dias depois, os residentes
iniciaram uma ação judicial contra a Polícia Federal e apresentaram fotografias
e um vestido com um orifício, alegando que a perfuração da vestimenta teria sido
produzida pelo disparo efetuado pelo policial federal. Foi declarado também que o
policial que efetuou o disparo estava a cerca de 3 metros de distância da residente e
atirou entre as pernas da mesma (Caso extraído da Revista Perícia Federal Ano XI –
Número 27, pg 10).

125
UNIDADE III │ EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES

Para a investigação do caso, a vestimenta analisada no instituto de balística, empregando


a técnica MEV-EDS, para a identificação da morfologia e da composição química dos
resíduos de arma de fago, de fato, encontrados no vestido.

Foram coletadas e analisadas duas amostras do vestido, utilizando “Stub” de alumínio


recobertos por fita adesiva dupla face de carbono. A figura a seguir mostra a zona
de tatuagem do disparo de arma de fogo, a imagem de MEV do resíduo encontrado
próximo a zona de tatuagem e a sua composição química, determinada por EDS.
Para identificar a arma utilizada e a distância do disparo, os peritos efetuaram disparos
sobre o retido da vestimenta, utilizando armas curtas e cartuchos de diferentes calibres,
tais como, .38” SPL, .380” Auto, 9 mm PARA e .40” S&W, e variaram a posição do tecido,
de maneira a mimetizar a posição do tecido quando em uso. Efetuados os disparos,
os peritos compararam a zona de tatuagem investigada com as zonas de tatuagem
resultantes dos disparos (Revista Perícia Federal Ano VI – Número 22). Visualize o
gráfico de EDS obtido na fonte apresentada.

Figura 60. Identificação de resíduos de arma de fogo coletados na roupa da vítima por MEV-ESD.

Zona de tatuagem de 35mm de diâmetro

Fonte: Revista Perícia Federal Ano VI – Número 22.

A partir dos resultados obtidos nos testes concluiu-se que os orifícios presentes na
região analisada do vestido foram produzidos por disparo de arma de fogo a curta
distância, provavelmente a cerca de 10 cm, ao invés de 3 metros. Embora não foi possível
identificar a arma utilizada, foi possível determinar que o disparo não foi perpendicular
ao tecido, como seria caso alguém tivesse atirado contra o vestido, e sim inclinado, com
ângulo menor que 90º da direita para a esquerda, olhando o vestido de frente, o que
seria algo impossível considerando a descrição do caso.

126
EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES │ UNIDADE III

Coleta de material para análise por MEV


Vimos como o avanço da tecnologia contribui na solução de casos que, sem tais avanços,
como com um microscópio ótico de 1800, não seriam possíveis. Ou até seriam, contudo,
poderiam demorar anos e mais anos. No mundo de uma investigação “tempo que passa
é verdade que foge”, e o emprego da tecnologia como forma de agilizar a conclusão de
exames periciais poderia ser tomado como parâmetro absoluto.

Por outro lado, não se pode deixar de lado o fato que por trás de todo esse avanço
encontra-se as regras de boa conduta de um Perito Criminal, e as definições e normas
rígidas (procedimentos-padrão) que devem ser levadas em consideração para a
preservação e o exame dos locais de crime. Portanto, se o local do crime não for
preservado, se a coleta das amostras para compor a prova material da cena do crime
não forem realizadas de maneira apropriada, e preservadas de maneira adequada, todos
esses avanços tecnológicos serão inúteis.

Figura 61. “Stub” utilizados para coleta de material para análise por MEV.

Fonte: Revista Perícia Federal Ano VI – Número 22.

A coleta, preservação e análise das amostras para fins da microscopia eletrônica de


varredura é crucial para que o resultado obtido seja útil e fidedigno. O que vocês devem
estar pensando é sobre como a coleta de partículas tão diminutas de diferentes materiais
são coletadas.

Exemplo de matérias que podem conter resíduos de arma de fogo e são amostrados
em balística são: a própria arma, a mão do suspeito, a roupa da vítima, os materiais
localizados próximos a uma possível trajetória da munição, dentre outros. Entretanto,
mesmo após essa coleta, pensem vocês que, procurar uma diminuta partícula em uma
grande área de uma película plástica adesiva não é uma tarefa fácil, sendo ainda uma
limitação da técnica. Nesse caso, o uso de um marcador químico não-destrutivo, antes
da análise de MEV-EDS, poderia ser muito vantajoso.

127
UNIDADE III │ EMPREGO DA MICROSCOPIA EM IDENTIFICAÇÕES QUÍMICAS FORENSES

As boas práticas indicam o emprego de fitas condutoras adesivas dupla-face, a exemplo


das fitas de carbono; uma das faces é aderidas a um suporte compatível com MEV,
denominado “stub” (Figura 61) enquanto a outra face é pressionada nos diferentes
materiais encontrados na cena do crime que podem conter vestígios de respingo
de resíduo de arma de fogo. Na falta desses kits, podem ser utilizadas fitas adesiva
dupla-face comum, fita crepe ou esparadrapo, que após a coleta dos resíduos são
aderidos a um suporte de material permeável como papel de filtro ou lenço de papel.
De fato, esses procedimentos menos sofisticados permite a análise por MEV, contudo,
como podem imaginar, a qualidade, diversidade de marcas, a presença de impurezas,
a falta de um padrão na coleta e, principalmente, a variação do tamanho da área de
contato, dificulta a detecção dos elementos químicos desejados.

No propósito de melhorar as técnicas de preparo de amostra no Brasil, pesquisadores


forenses têm proposto o uso de diferentes materiais e procedimentos, visando
amostragens simples, rápidas e que facilitem o trabalho dos peritos no momento da
análise de vestígios de resíduos de arma de fogo por MEV.

O perito criminal Dr. Hélio Rochel desenvolveu e propôs o uso de uma nova resina
polimérica para exame residuográfico, cujos resultados preliminares indicam que pode
ser utilizada para análise por MEV/EDS. No entanto, o tempo de polimerização da
resina (cerca de 20 min) pode constituir um empecilho para peritos de local.

Um grupo de pesquisadores propôs o uso de moldes à base de alginato para arraste e


detecção de resíduos de tiro por MEV/EDS. De acordo com os pesquisadores, o alginato
é um hidrocoloide irreversível desenvolvido após a II Guerra Mundial, extraído de algas
marrons da classe Phaeophyceae e rotineiramente empregado para a obtenção de moldes
odontológicos, curativos, coberturas para o tratamento de feridas e como espessante
na indústria alimentícia. A boa aceitação do alginato está relacionada com sua fácil
manipulação, baixo custo (cerca de R$50,00/ kg, suficientes para aproximadamente
110 amostras), capacidade de reprodução de detalhes e baixo tempo de curagem.

A resina de alginato foi utilizada de maneira que esta foi espalhada com espátula
sobre a região de interesse e após cerca de 1 min, foi gentilmente descolada da pele
e armazenada em placas de Petri de policarbonato de 25 mm de diâmetro, estéreis.
Em seguida. A mesma região também foi amostra para fins comparativos. De acordo
com os pesquisadores, a busca por partículas positivas foi mais fácil do que em amostras
coletadas com fita dupla-face convencional; apresentam boa estabilidade sob o feixe de
elétrons do MEV tanto em baixo vácuo como em alto vácuo, desde que previamente
secas em estufa. O único inconveniente foi a presença de cálcio detectado na composição
química, cujo pico de energia por EDS pode se sobrepor ao de Sb, necessitando de uma
análise mais detalhada.
128
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