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INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA DO ESTADO

DE PERNAMBUCO

2015-2020

Março, 2022
Atualizado em Maio, 2022
Paulo Henrique Saraiva Câmara
Governador do Estado de Pernambuco

Luciana Barbosa de Oliveira Santos


Vice Governadora do Estado de Pernambuco

José Antônio Bertotti Júnior


Secretário Estadual de Meio Ambiente
e Sustentabilidade de Pernambuco

Inamara dos Santos Melo


Secretária Executiva de
Meio Ambiente e Sustentabilidade

Samanta Della Bella


Superintendente de Sustentabilidade e Clima

Ivson Lucas de Santana


Gerente de Baixo Carbono

Sônia Aline Roda


Analista de Sustentabilidade

Hugo Alves Mariz de Moraes


Coordenador Técnico
Sumário

1. APRESENTAÇÃO ........................................................................................................... 4
2. CARACTERÍSTICAS DE PERNAMBUCO .............................................................................5
3. SETOR AGRICULTURA, PECUÁRIA E OUTROS USOS DO SOLO (AFOLU) ..............................6
3.1. Pecuária ...................................................................................................................... 6
3.2. Mudança de Uso da Terra .............................................................................................9
4. SETOR ENERGIA ESTACIONÁRIA .................................................................................. 14
5. SETOR TRANSPORTES ................................................................................................. 19
6. SETOR PROCESSOS INDUSTRIAIS – IPPU .......................................................................24
7. SETOR RESÍDUOS ........................................................................................................28
8. CONSOLIDAÇÃO GERAL DOS RESULTADOS ...................................................................33
9. EXCLUSÃO DAS EMISSÕES ...........................................................................................36
10. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................ 38
1. APRESENTAÇÃO

Pernambuco tem sua política de mudança do clima desde 2010, e desde então tem
desenvolvido diversas ações buscando a mitigação de emissão de gases de efeito estufa (GEE)
e a adaptação aos efeitos da mudança climática. Em 2019, foi elaborado o primeiro inventário
de GEE do Estado. Durante 2020, mesmo em meio à crise pandêmica do Covid-19,
Pernambuco construiu, com o apoio de quatro câmaras técnicas do Fórum Pernambucano de
Mudança Climática, uma lista de ações para a redução de emissões de GEE, nos setores de
Resíduos, Energia, AFOLU (agricultura, floresta e outros usos do solo) e Transporte, visando a
redução de emissões. Iniciou em 2021 a elaboração de sua trajetória de descarbonização, com
o apoio técnico da União Europeia, do governo alemão e participação do Fórum
Pernambucano de Mudança do Clima, lançando em março de 2022, seu Plano de
Descarbonização para que o Estado seja neutro em emissões de gases de efeito estufa até
2050. O inventário de 2019 foi base para toda essa construção.
Agora inicia-se uma etapa de implementação de ações e de monitoramento da
redução de emissões, na qual o inventário de emissões de GEE constitui uma ferramenta
importante no acompanhamento do progresso das metas de redução de emissões.
O presente inventário reanalisa os dados de 2015 a 2018 e acrescenta informações de
2019 e 2020, sobre emissões de GEE. Este documento traz um resumo das informações
obtidas para o Estado, suas Regiões de Desenvolvimento e Municípios, apresentando a
metodologia e os principais resultados divididos pelos setores emissores: AFOLU, Energia
Estacionária, Transporte, Indústria e Resíduos.
Buscando a melhoria contínua, este trabalho representa mais uma etapa para a
implementação de um sistema de monitoramento, reporte e verificação a fim de apoiar o
Estado de Pernambuco na busca por um 2050 carbono neutro.
2. CARACTERÍSTICAS DE PERNAMBUCO

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Estado de


Pernambuco, localizado na região nordeste do Brasil, possui uma área de 98.068,021 km², com
a população estimada de 9.674.793 de habitantes em 2021, distribuídos em 185 municípios,
sendo o 7º estado mais populoso do país. Pernambuco divide-se em 12 Regiões de
Desenvolvimento (RD): Sertão do São Francisco, Sertão do Araripe, Sertão Central, Sertão de
Itaparica, Sertão do Pajeú, Sertão do Moxotó, Agreste Meridional, Agreste Central, Agreste
Setentrional, Mata Sul, Mata Norte e Região Metropolitana do Recife
O Índice de Desenvolvimento Humano no Estado em 2010 era de 0,673,
correspondendo a 19ª posição no Brasil. Pernambuco é a segunda maior economia do
Nordeste, com o Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 197 bilhões em 2019. Espacialmente, o PIB
do Estado é concentrado na Região Metropolitana do Recife (RMR), com cerca de 60% de
participação no total, onde localiza-se o complexo industrial portuário de Suape. Em seguida
vem o Agreste (região do Polo de Confecções e Bacia Leiteira) e a Mata Pernambucana (região
da agroindústria canavieira).
3.SETOR AGRICULTURA, FLORESTAS E OUTROS USOS DO SOLO (AFOLU)

No setor de AFOLU, as emissões de gases de efeito estufa são resultantes


principalmente da agropecuária e da conversão de áreas de vegetação para outros usos da
terra. As emissões do subsetor de agropecuária estão relacionadas ao preparo do solo
(aplicação de fertilizantes), queima de resíduos agrícolas, pela criação de certos tipos de
animais cujos processos biológicos emitem metano, através da fermentação entérica dos
ruminantes, e através do manejo de seus dejetos. Neste trabalho consideramos apenas a
frementação entérica e o manejo de dejetos.
Já as emissões pela conversão de áreas de vegetação para outros usos se dão
principalmente por pressão antrópica, expansão da fronteira agrícola e extração de lenha.
Também são consideradas as remoções de carbono provenientes do crescimento ou
recuperação da vegetação natural.

3.1.Pecuária

As emissões de metano provenientes da fermentação entérica dos ruminantes são


estimadas a partir da estimativa anual do rebanho e dos fatores de emissão padrão para cada
animal. Foram utilizados dados do IBGE referente à Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM)
(IBGE, 2022), sobre a quantidade de cabeças de bovinos, bubalinos, equinos, suínos, caprinos e
ovinos para cada ano inventariado. Ainda, para os bovinos foram observados dados da Quarta
Comunicação Nacional do Brasil à UNFCCC (MCTI, 2020a) sobre sua composição e seu fator de
emissão para CH4. Sendo assim, considerou-se que do total do rebanho, 16% são machos, 19%
são fêmeas e 65% são jovens. Para os fatores de emissão desse grupo de animais, utilizou-se
funções estatísticas com base na média dos valores conhecidos dos fatores de emissão entre
1990 e 2010 específicos para Pernambuco abordados pelo MCTI para prever os fatores mais
atuais. Para machos e jovens, foram considerados os valores para gado de corte. Já para as
fêmeas, o do gado leiteiro. Para os demais animais, aplicaram-se os fatores de emissão padrão
das Diretrizes do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, 2006).
Considerou-se, também, as emissões oriundas do manejo de dejetos dos animais
supracitados, aliado à quantidade estimada de galináceos, também adquirida através da PPM
do IBGE (2022).
O cálculo das emissões da pecuária revelou que a fermentação entérica contribuiu
com quase a totalidade (95,7%) das emissões, ficando o restantes atribuído ao manejo de
dejetos. Nota-se, também, uma redução das emissões totais no período de 2015 a 2018. Este
decréscimo pode ser resultado da seca prolongada que ocorreu entre 2010 e 2017, que afetou
a manutenção do rebanho na região semiárida pernambucana (Martins et al., 2017). Após a
seca, observa-se o crescimento das emissões, atingindo a maior emissão do período observado,
no ano de 2020 com cerca de 3,70 toneladas de CO2e. A Figura 1 apresenta as emissões do
subsetor da pecuária para os anos analisados.

Figura 1. Emissões de GEE do subsetor pecuária em Pernambuco no período de 2015 a 2020.

A pecuária é uma importante atividade econômica na região semiárida do estado, ao


regionalizar os dados por regiões de desenvolvimento, percebe-se um protagonismo do
Agreste Central e do Agreste Meridional (Figura 2), onde encontra-se a bacia leiteira do
Estado. Em 2020 essas regiões representaram cerca de 40,4% das emissões geradas pela
atividade pecuária em Pernambuco.
Figura 2. Emissões de GEE derivadas da pecuária por Região de desenvolvimento de Pernambuco no
período de 2015 a 2020.

Com destaque para o município de São Bento do Una, localizado no Agreste Central,
que emitiu em média 85.281,4 tCO2e por ano no período de 2015 a 2020. A Figura 3 abaixo
apresenta as emissões de GEE em 5 municípios que tiveram as maiores contribuições no
subsetor da pecuária no período estudado.

Figura 3. Emissões de GEE provenientes da pecuária nos municípios de São Bento do Una, Petrolina,
Itaíba, Serra Talhada e Bom Conselho no período de 2015 a 2020.
3.2. Transição de Uso da Terra

A estimativa das emissões e remoções por transição do uso da terra é realizada por
meio da associação dos estoques de carbono da cobertura da terra com a estimativa da área
das coberturas. A metodologia utilizada está de acordo com as Diretrizes do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas - IPCC para Inventários Nacionais de Gases de
Efeito Estufa de 2006 (IPCC, 2006).
Em Pernambuco é importante considerar a ocorrência de dois grandes biomas: Mata
Atlântica e Caatinga. O bioma Mata Atlântica é caracterizado pela ocorrência de formações
florestais nativas, composto predominantemente por espécies ombrófilas ou semideciduais,
enquanto a Caatinga é caracterizada por uma vegetação tropical sazonalmente seca,
predominantemente caducifólia (RODAL; MARTINS; SAMPAIO, 2008). Em razão desta
heterogeneidade, foram conduzidas revisões dos estoques de carbono das fitofisionomias,
com a regionalização para os biomas.
Os dados de uso e cobertura da terra foram obtidos através da plataforma do
MapBiomas, em sua coleção 6.0 para os anos de 2015 a 2020. O projeto realiza o mapeamento
anual da cobertura e uso da terra no Brasil (SOUZA et al., 2020). O sistema de classificação do
MapBiomas para o estado de Pernambuco categoriza o uso e cobertura da terra em 20 classes,
são elas: Formação Florestal, Formação Savânica, Formação Campestre, Mangue, Áreas
úmidas, Salinas, Afloramento Rochoso, Pastagem, Cana-de-açúcar, Floresta Plantada, Outras
Culturas Temporárias, Outras Culturas Perenes, Mosaico de Agricultura e Pastagem, Praia e
Dunas, Infraestrutura Urbana, Mineração, Outras Áreas não Vegetadas, Rios, Lagos e Oceano,
Aquicultura e Não Observado.
Para o cálculo, a classe de “Mosaico de Agricultura e Pastagem” foi considerada como
pastagem, visto que são áreas de uso agropecuário nos quais não é possível distinguir entre
pastagem e agricultura. Nesse sentido, a classificação como pastagem foi feita apenas de
forma conservadora, pois sua transição representa maior perda no estoque de biomassa. A
classe “Formação Campestre” que é descrita pelo MapBiomas como vegetação com
predominância de espécies herbáceas, também foi considerada como pastagem por
apresentar características semelhantes. Ainda, a classe de “Áreas Úmidas” também foi
considerada como pastagem, pois compreendem as áreas de influências de rios e reservatórios
caracterizadas por uma vegetação herbácea.
Para quantificar o estoque de carbono dos usos e coberturas da terra foram estimados
os valores de biomassa acima e abaixo do solo, utilizaram-se os dados da Tabela 4.4 e 4.7 das
diretrizes do IPCC (IPCC, 2006). Para outros usos não apresentados, os valores do estoque de
biomassa foram obtidos através de revisão bibliográfica, como descrito no Quadro 1.

Quadro 1. Estoque de Carbono da vegetação considerados para as classes do MapBiomas.

Estoque de Carbono Estoque de Carbono


Classe na Mata Atlântica na Caatinga Fonte
(ton CO2 ha-1) (ton CO2 ha-1)
Formação florestal 60,85 43,34 MCTI (2020b)
Formação savânica 18,65 18,65 MCTI (2020b)
Formação Campestre 18,49 10,87 MCTI (2020b)
Mangue 49,35 49,35 Medeiros e
Sampaio (2008)
Áreas úmidas 18,49 10,87 MCTI (2020b)
Pastagem 2,6 1,19 MCTI (2020b)
Cana de açúcar 19,98 19,98 Carvalho (2015)
Floresta plantada 40,43 40,43 MCTI (2020b)
Outras Culturas 3,83 0,56 MCTI (2020b)
Temporárias
Outras culturas 23,52 24,8 MCTI (2020b)
perenes
Mosaico de 3,215 8,85 MCTI (2020b)
agricultura e
pastagem

Os valores de transição foram calculados através da diferença entre o estoque de


carbono do uso ou cobertura inicial e o uso ou cobertura final.
A vegetação do bioma Caatinga possui uma dinâmica sazonal da vegetação que pode
dificultar as estimativas de emissões de remoções de CO2. Como as emissões brutas desse
setor estão associadas principalmente à supressão da vegetação natural, é importante a
qualidade da classificação de uso e cobertura da terra para a quantificação das transições. A
Figura 4 apresenta a estimativa das emissões de CO2 observadas entre 2015 e 2020.
Figura 4. Emissões de GEE por transições do uso da terra nos Biomas Mata Atlântica e Caatinga em
Pernambuco no período de 2015 a 2020.

Nota-se um aumento das emissões no ano de 2017, que pode estar associado ao
período de seca prolongada na região semiárida de 2010 a 2017 (Martins et al., 2017).
Também se nota um aumento das emissões por transição de uso da terra em relação ao
inventário anterior (SEMAS, 2019) que pode ser em razão da atualização dos dados da
plataforma do MapBiomas e da atualização dos fatores de emissão de estudos regionalizados
nos cálculos realizados para este inventário.
Em contraposição a pecuária, que registrou a maior emissão no ano de 2020, a
estimativa de remoções por transição do uso da terra foi a maior neste ano. Isto pode estar
associado à pandemia do COVID-19 que pode ter interferido nas atividades econômicas na
região, baseadas maioritariamente na pecuária, na agricultura de sequeiro e na extração de
lenha da caatinga. Mais estudos precisam ser conduzidos para entender o comportamento do
setor. Na Figura 5 são apresentadas as emissões e remoções em Pernambuco no período
estudado.
Figura 5. Emissões e Remoções de GEE em Pernambuco no subsetor de transições de uso da terra no
período de 2015 a 2020.

A Figura 6 e 7 apresentam as emissões de GEE do setor de AFOLU em Pernambuco no


período de 2015 a 2020, sendo que a Figura 6 apresenta o total líquido, o balanço entre as
emissões e remoções e a Figura 7 apresenta a contribuição correspondente de cada subsetor:
fermentação entérica, manejo de dejetos, emissão e remoção por transição no uso da terra.

Figura 6. Total líquido de emissões de gases de efeito estufa do setor de AFOLU de Pernambuco no
período de 2015 a 2020.
Figura 7. Total de emissões e remoções de GEE dos subsetores de AFOLU em Pernambuco no período de
2015 a 2020.

Salienta-se que as emissões de transição de uso da terra são mais expressivas nos
municípios de Floresta e Petrolina (Figura 8), que são os municípios que possuem maior área
no estado.

Figura 8. Emissões de GEE provenientes da transição de uso da terra nos municípios de Floresta,
Petrolina, Serra Talhada, Ouricuri, Bodocó e Parnamirim no período de 2015 a 2020.
4. SETOR ENERGIA ESTACIONÁRIA

As emissões de GEE desse setor são resultantes da queima de combustíveis em fontes


estacionárias para geração de energia elétrica. O setor de energia é responsável por emitir CO2
por oxidação do carbono contido nos combustíveis durante a sua queima, além de CH4 e N2O
emitidos durante o processo de combustão. Os dados para o cálculo das emissões desse setor
são baseados no consumo dos seguintes produtos:

a) Energia elétrica (proveniente do Sistema Interligado Nacional - SIN)


b) Perdas na transmissão de energia elétrica
c) Gás liquefeito de petróleo (GLP) ou gás de cozinha
d) Gás natural
e) Diesel
f) Óleo Combustível
g) Querosene iluminante

Subdivide-se o setor de energia estacionária nos seguintes subsetores:

a) Residencial
b) Comercial
c) Industrial
d) Poderes públicos
e) Agricultura e pecuária
f) Outras fontes não especificadas

Para o cálculo das emissões pelo uso de energia elétrica, o fator de emissão para cada
ano é dado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), visto que a energia
utilizada é ligada ao Sistema Nacional (SIN), e possui um fator único para todo o país. Calculou-
se também as emissões oriundas das perdas na transmissão e distribuição de energia. Os
dados de consumo de energia elétrica foram fornecidos pela Companhia Energética de
Pernambuco (CELPE). Dados de consumo de GLP, diesel, óleo combustível e querosene
iluminante foram cedidos pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP). Já o consumo de gás natural foi informado pela Companhia Pernambucana de Gás
(COPERGÁS). O Quadro 2 a seguir aborda os parâmetros, valores e fontes utilizadas para o
cálculo das emissões de GEE deste setor.
Quadro 2. Parâmetros fixos utilizados para o cálculo das emissões de GEE do setor de energia
estacionária.

Poder Fator de Fator de Fator de


Fontes de Densidade
calorífico emissão CO2 emissão CH4 emissão N2O
emissão (kg/m³)
inferior (kg/Tj) (kg/Tj) (kg/Tj)
GLP 11.100 552 63.100 5 0,1
Gás natural 8.800 740 56.100 92 0,1
Diesel 10.100 840 74.100 3,9 3,9
Biodiesel 9.000 880 74.100 10 0,6
Querosene
10.400 799 71.900 10 0,6
iluminante
Óleo
9.590 1.000 77.400 10 0,6
combustível
Fonte BEN (2018) BEN (2018) IPCC (2022) IPCC (2022) IPCC (2022)

A seguir, a Figura 9 mostra a participação de cada subsetor nas emissões do setor de


energia estacionária por ano. O gráfico aponta que o uso de energia elétrica em residências é
o que mais contribui para as emissões neste setor ao longo dos anos analisados, seguido pelo
subsetor industrial. Aqui se faz importante distinguir entre as emissões do setor industrial de
energia estacionária e de Processos Industriais e Uso de Produtos (IPPU). Assim como para os
outros subsetores, emissões industriais do setor de energia estacionária referem-se à
utilização de energia elétrica ou à queima de combustíveis para obtenção de energia. Já as
emissões referentes ao setor de IPPU são aquelas que são liberadas durante o processo de
produção de determinados produtos, oriundas da transformação da matéria, não devendo ser
confundidas com as anteriores.
Figura 9. Emissões dos subsetores de energia estacionária em Pernambuco no período de 2015 a 2020.

A Figura 10 apresenta a proporção de cada subsetor nas emissões de GEE por fontes
de energia estacionária. Pode-se observar que 80% do total de emissões está relacionado com
o consumo de energia nos setores residencial, industrial e comercial.

Figura 10. Fontes de consumo de energia estacionária e acumulado de emissões em Pernambuco no


período de 2015 a 2020.
A Figura 11 detalha a participação de cada região de desenvolvimento na emissão por
uso de combustíveis. Analisando as emissões para cada mesorregião do estado, pode-se
observar que na Região Metropolitana do Recife, Mata Pernambucana e Agreste
Pernambucano se destacam em emissões de energia estacionária.

Figura 11. Participação dos subsetores residencial, industrial e comercial nas emissões de energia
estacionária nas mesorregiões de Pernambuco no período de 2015 a 2020.

No subsetor industrial, destaca-se a participação da Região Metropolitana do Recife e


Zona da Mata.
Alguns municípios se sobressaem com índices maiores de emissões nos subsetores
residencial, industrial e comercial: Recife, Jaboatão dos Guararapes e Cabo de Santo Agostinho
na Região Metropolitana de Recife; Caruaru, Garanhuns e Santa Cruz do Capibaribe no Agreste
Pernambucano; e Serra Talhada, Salgueiro e Arcoverde no Sertão Pernambucano.
Observa-se que o consumo de diesel foi elevado, acima de 50%, em todas os anos. As
emissões provenientes da utilização de querosene iluminante não foram significativas para
representação gráfica, corresponde a cerca de 0,01% do total das emissões do setor em todos
os anos. A Figura 12 mostra o total de emissões de Pernambuco referentes aos setor de
energia estacionário ao longo dos anos de 2015 a 2020 e a figura 11 indica os percentuais de
emissões pelo uso de energia de fontes estacionárias e combustíveis ao longo dos anos
analisados.

Figura 12. Participação percentual das emissões de GEE por energia elétrica, diesel, GLP e GNV em
Pernambuco no período de 2015 a 2020.
5. SETOR TRANSPORTES

O cálculo das emissões de GEE para o setor de transportes, assim como o de energia,
foi baseado na quantidade de combustíveis comercializados em Pernambuco entre 2015 e
2020. Desta forma, assume-se que todo combustível comercializado é queimado para
locomoção dos veículos que circulam no Estado. Foram analisados os dados dos seguintes
combustíveis:

a) Gasolina comum
b) Diesel
c) Etanol hidratado
d) Gás natural veicular (GNV)

Salienta-se que, por recomendação do IPCC (2006), devido a questões metodológicas e


ausência de dados mais exatos, as emissões oriundas do transporte aéreo serão reportadas
separadamente como bunker. Sendo assim, não serão contabilizadas nas emissões totais do
setor. Ademais, o cálculo deste setor também desconsiderou as emissões de CO2 vindas da
queima de biocombustíveis, como etanol e biodiesel. Essa abordagem é utilizada, pois, como
os biocombustíveis possuem matéria orgânica vegetal como matéria prima, sua queima estaria
emitindo o CO2 que o vegetal capta da atmosfera durante o seu ciclo de vida através de
processos naturais, como a fotossíntese. Por essa razão, tais emissões são consideradas
“neutras”. Por conseguinte, para etanol hidratado, etanol anidro1 e biodiesel2, foram
observadas apenas as emissões de CH4 e N2O.
Os dados das quantidades de combustíveis utilizados para o cálculo das emissões
deste setor foram obtidos junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis (ANP), com exceção dos dados de consumo de GNV, estes foram cedidos pela
Copergás. Os parâmetros específicos de cada combustível utilizados para o cálculo de suas
emissões, tais como poder calorífico inferior, densidade e fatores de emissão, estão dispostos
na Quadro 3.

1
Etanol anidro é aquele que é componente da gasolina comum do Brasil. De acordo com a ANP, o
percentual desse biocombustível misturado à gasolina foi de 27% entre 2015 e 2018.
2
Misturado ao diesel. Segundo a ANP, o diesel comum comercializado possuía 7% de biodiesel em 2015
e 2016, 8% em 2017 e 10% em 2018.
Quadro 3. Parâmetros fixos utilizados para o cálculo das emissões de GEE do setor de
transportes.

Poder Fator de Fator de Fator de


Fontes de Densidade
calorífico emissão CO2 emissão CH4 emissão N2O
emissão (kg/m³)
inferior (kg/Tj) (kg/Tj) (kg/Tj)
Gasolina
10.400 742 69.300 25 8
comum
Etanol
6.300 809 70.800 18 0,6
hidratado
Diesel 10.100 840 74.100 3,9 3,9
GNV 8.800 740 56.100 92 3
Querosene
10.400 799 71.500 0,5 2
de aviação
Gasolina de
10.600 726 70.000 0,5 2
aviação
Fonte BEN (2018) BEN (2018) IPCC (2022) IPCC (2022) IPCC (2022)

As emissões de gases de efeito estufa referente ao setor de transporte apresentam


pouca variação ao longo dos anos (Figura 13), observa-se pequena redução no ano de 2018 e
2020.

Figura 13. Total de emissões de gases de efeito estufa do setor de transportes de Pernambuco no
período de 2015 a 2020.
Como pode ser observado na Figura 14, o Diesel e a gasolina comum são os
combustíveis mais consumidos e os mais emissores ao longo dos anos analisados, mostrando
uma certa estabilidade das emissões de cada tipo de combustível. Tal comportamento está
diretamente ligado à manutenção de seu padrão de consumo no Estado, que permanece
tendo o diesel e a gasolina como as principais fontes energéticas veiculares. O GVN e o etanol
tiveram baixas emissões quando se comparado com os demais combustíveis, apesar de serem
mais baratos ainda são pouco consumidos.

Figura 14. Total de emissões por uso de combustíveis no setor de transportes em Pernambuco no
período de 2015 a 2020.

A Região Metropolitana do Recife, o Agreste Central e a Mata Sul foram as regiões


com maiores emissões. Também as mais populosas e com maior número de empresas
utilizadoras de combustíveis. O GNV é consumido apenas em três Regiões de Desenvolvimento
do estado: agreste central, mata sul e região metropolitana do Recife, onde esta última
apresentou os maiores índices de emissões, como exposto na Figura 15.
Figura 15. Contribuição das emissões de GEE de cada região de desenvolvimento de Pernambuco por
consumo de diesel, gasolina comum, GNV e Etanol hidratado no período de 2015 a 2020.

As emissões por consumo de diesel entre os anos 2015 e 2020 foram bastante
expressivas nos municípios de Caruaru (756.107,58 tCO2e) e São Caetano (291.5416,03 tCO2e),
no Agreste Central. Pode-se considerar que estes municípios estão na rota de áreas de
desenvolvimento importantes no estado, e que o combustível adquirido nestes municípios
tenha sido utilizado para deslocamento de automóveis trafegando nesta rota. O diesel
também foi bastante consumido e teve alta de emissões na Região Metropolitana de Recife
nos municípios de Recife (1.917.644,17 tCO2e) e Jaboatão dos Guararapes (1.390.881,84 tCO2e)
entre os anos de 2015 e 2020.
Como citado anteriormente, as emissões do transporte aéreo, aqui denominadas
como bunker, não são contabilizadas no total do setor e do ano. Contudo, seu comportamento
pode ser observado através da Figura 16. O crescimento das emissões desse segmento entre
2017 e 2018 reflete os dados da Empresa Brasileira de Estrutura Aeroportuária (Infraero), os
quais mostram o aumento no número de passageiros nacionais e estrangeiros no Estado.
Parte disso deve-se ao estabelecimento de novas rotas e conexões no principal aeroporto de
Pernambuco, o Aeroporto Internacional dos Guararapes – Gilberto Freyre, além da instalação
de um hub de uma companhia aérea. A redução observada nos anos de 2019 e 2020 se deve
possivelmente à redução do fluxo de passageiros devido a pandemia da Covid-19.
Figura 16. Emissões de GEE pela utilização de combustíveis de aviação em Pernambuco no período de
2015 a 2020.
6. SETOR PROCESSOS INDUSTRIAIS – IPPU

Os processos industriais são responsáveis por cerca de 5% das emissões de GEE do


total emitido no país de acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito
Estufa (SEEG, 2020). Isto se dá pela transformação química e física dos materiais nos processos
industriais, sendo este setor, responsável por emitir gases de efeito estufa como: CO2, CH4,
N2O, HFCs, entre outros. Adicionalmente, a indústria alimentícia, de bebidas e de rações
animais são considerados por produzirem compostos orgânicos voláteis não metânicos,
conhecidos pela sigla NMVOC (Non Methanic Volatile Organic Compounds).
As emissões do setor IPPU são oriundas do processo de transformação e manufatura
de produtos e, são dissociadas das emissões causadas pela queima de combustíveis para
obtenção de energia (energia estacionária). São considerados, nestes processos, o uso não
energético de combustíveis fósseis e de eletricidade, assim como o uso de alguns produtos
utilizados como matéria prima.
Os dados sobre os processos industriais do estado de Pernambuco foram fornecidos
pelo IBAMA através da base de dados do COAVI, são informações auto declaratórias das
empresas no Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente Poluidoras e Utilizadoras
de Recursos Ambientais – CTF/APP. As empresas ativas entre 2015 e 2020 das tipologias
industriais consideradas no Quadro 4 foram separadas por município com relação a produtos
gerados e volume de produção.

Quadro 4. Tipologias dos processos industriais.

Processo Industrial Gases emitidos


Mineral Indústria cerâmica CO2, CH4
Produção de cimento CO2, CH4
Produção de cal CO2, CH4
Produção de vidro CO2, CH4

Para a proporção de clínquer no cimento foram utilizados os valores médios de 80%


para o cimento CP II, 45% para o cimento CP III e 65% para o cimento CP IV. Ademais, os
fatores de emissão para as tipologias industriais consideradas são apresentados no Quadro 5.
Quadro 5. Fatores de emissão considerados para as tipologias
industriais consideradas.

Tipologia Industrial Fator de emissão (tCO2/t)


Indústria cerâmica (tijolos) 0,04
Produção de cimento 0,536
Produção de clínquer 0,525
Produção de cal 0,785
Produção de vidro 0,2

As estimativas de geração de GEE das tipologias industriais consideradas foram


calculadas utilizando as quantidades produzidas por ano para cada produto, de acordo com a
metodologia e os fatores de emissão industrial indicados nas Diretrizes do Painel
Intergovernamental de Mudanças Climáticas - IPCC para Inventários Nacionais de Gases de
Efeito Estufa de 2006 (IPCC, 2006). O total das emissões para o setor industrial analisado está
apresentado na Figura 17 e no Quadro 6.

Figura 17. Total de emissões de gases de efeito estufa do setor de IPPU de Pernambuco no período de
2015 a 2020.
Quadro 6. Total de emissões do setor industrial expressa em tCO2e.

Ano Cimento Cal Vidro Tijolo TOTAL

2015 107.883,64 15.700,00 39.329,56 27.008,89 189.922,09


2016 132.144,96 23.785,50 50.090,78 31.822,44 315.859,72
2017 87.755,53 69.315,50 50.030,60 32.801,83 239.903,46
2018 318.449,61 107.859,00 46.885,36 66.967,93 544.060,54
2019 193.476,32 - 45.645,80 64.037,19 303.159,31
2020 470.370,02 - 44.216,60 56.226,47 570.813,09
Total 1.310.080,07 216.660,00 276.198,70 278.864,74 2.163.718,20

As emissões da produção de cimento no estado representam 60,5% das emissões


deste setor, seguida da produção de tijolo e vidro, com 12,9% e 12,8% respectivamente, como
apresentado na Figura 18. Quando se compara as emissões de cimento, cal e vidro com o
inventário passado (SEMAS, 2019) verificam-se valores diferentes, isto se deve pela atualização
da base de dados do IBAMA onde foram coletadas as informações de produção de cada
material.

Figura 18. Participação percentual das fontes de emissão de GEE no setor de IPPU em Pernambuco no
período de 2015 a 2020.
A Figura 19 apresenta as emissões do setor industrial por Região de Desenvolvimento
do estado. Observa-se uma concentração elevada de emissões na região do Sertão do São
Francisco, especificamente no município de Afrânio, que conta com quatro empresas
ceramistas responsáveis por 21,34% das emissões deste setor.
As indústrias localizadas na Região Metropolitana do Recife e a Zona da Mata (Mata
Norte e Sul) emitiram 68,10% do total de emissões do estado entre os anos de 2015 e 2020.
Nestas regiões estão localizadas as indústrias de cimento e vidro do estado, além de algumas
indústrias ceramistas, com destaque os municípios de Goiana (548.858,19 TCO2e) e Cabo de
Santo Agostinho (339.142,90 tCO2e) na RMR, Palmares (707.080,00 tCO2e) na Mata Sul e
Paudalho (437.610,37 tCO2e) na Mata Norte.

Figura 19. Representação gráfica do percentual de emissões do setor industrial para as Regiões de
Desenvolvimento de Pernambuco no período de 2015 a 2020.
7. SETOR RESÍDUOS

As emissões de GEE dos resíduos sólidos são provenientes do processo de


decomposição de bactérias anaeróbicas e/ou através da queima dos resíduos em processos de
coprocessamento ou incineração. Já no caso dos efluentes, as emissões provêm da degradação
da matéria orgânica por meio de diferentes tipos de tratamento utilizados nos sistemas de
coleta e tratamento, ou nos sistemas de tratamento individuais, ou mesmo quando não são
tratados.
O cálculo das emissões deste setor para os anos de 2015 a 2020 contou com as
seguintes variáveis, organizadas em dois subsetores:

● Resíduos sólidos urbanos:


a) Resíduos coletados e destinados aos aterros sanitários;
b) Resíduos coletados e destinados aos lixões.

● Esgotamento sanitário:
a) Efluentes coletados e tratados;
b) Efluentes tratados por soluções individuais;
c) Efluentes não tratados.

O volume de resíduos e composição gravimétrica foram calculados a partir das taxas


de geração per capita obtidas dos oito agrupamentos dos Plano Intermunicipal de Resíduos
Sólidos elaborado pela Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas, 2017a; Semas,
2017b; Semas, 2017c; Semas, 2017d; Semas, 2017e; Secretaria de Cidades, 2018) de estudos
realizados pelo Instituto de Tecnologia de Pernambuco (ITEP).
Para os municípios onde não foi encontrada a taxa de geração per capita nos
documentos disponíveis, foi adotada a média da respectiva região de desenvolvimento. As
estimativas das populações municipais foram obtidas no site do IBGE (2020) com base no
Censo Demográfico 2010. As disposições finais em aterros sanitários foram obtidas dos
mesmos planos citados anteriormente.
De acordo com a Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), no Estado apenas cinco
municípios realizam a modalidade de disposição final em unidade de compostagem (Recife,
Olinda, Petrolina, Petrolândia e Sairé). E os volumes da compostagem são conhecidos apenas
no município de Recife, sendo inexpressivos para contabilização desse inventário.
Os quantitativos e classificações de tratamento de efluentes residuários que passaram
ou não por algum processo de tratamento foram fornecidos pela Companhia Pernambucana
de Saneamento (COMPESA) e combinados com informações obtidas no Atlas de Esgoto (2015)
da Agência Nacional de Águas. Os demais parâmetros estão dispostos no Quadro 7.

Quadro 7. Parâmetros fixos utilizados para o cálculo das emissões de GEE do subsetor de tratamento de
efluentes.

Parâmetros de cálculo Valores


Consumo diário de proteína per capita 84,5g/hab/dia
Fator de correção de metano (MCF) para tratamentos de efluentes anaeróbicos 0,8
Fator de correção de metano (MCF) para fossas sépticas 0,5
Fator de correção de metano (MCF) para tratamento com lodo ativado, filtro biológico, valo
0,3
de oxidação, lagoa aeróbia e lagoa facultativa
Capacidade máxima de produção de metano 0,6 kgCH4/kgDBO
Fator de correção para efluentes industriais 1,25
0,16 kg N/kg
Fração de nitrogênio na proteína
proteína

0,005 kg N2O-N/kg
Fator de emissão de óxido nitroso
N
Fonte: MCTI (2016).

O cálculo das emissões de CH4 e N2O ocasionadas pelo tratamento de efluentes foi
feito com base na população atendida pelo serviço de coleta e tratamento de esgoto, nos
fatores de correção de metano respectivos a cada tratamento, e nos valores da demanda
bioquímica de oxigênio (DBO).
Em relação aos resíduos sólidos foi utilizado o modelo metodológico de
comprometimento de metano disponível no Global Protocol for Community-Scale Greenhouse
Gas Emissions Inventories (WRI et al., 2014), uma vez que para se obter as emissões pela
metodologia de decaimento de metano, aconselhado pelo IPCC, seria necessária uma grande
série histórica de volume de deposição de resíduos sólidos no estado, não disponível no
momento.
Os parâmetros específicos utilizados para o cálculo das emissões desse subsetor são do
MCTI (2016), conforme a Quadro 8.
Quadro 8. Parâmetros fixos utilizados para o cálculo das emissões de GEE do
subsetor de resíduos sólidos.

Parâmetros de cálculo Valores


Fator de correção de metano (MCF) em aterros 1
sanitários
Fator de correção de metano (MCF) em lixões 0,6

Fração de carbono orgânico degradável 0,5


Fração de metano no biogás 0,5
Fator de oxidação 0,1
Fonte: MCTI (2016)

O total das emissões desse setor é apresentado na Figura 20. Destaca-se as emissões
de resíduos sólidos sobre as de efluentes em todos os anos analisados.

Figura 20. Percentual de emissões de GEE de resíduos sólidos e efluentes em Pernambuco no período de
2015 a 2020.

Houve um aumento anual das emissões dos resíduos sólidos que se deu pelo
crescimento gradativo de municípios que passaram a encaminhar seus resíduos aos aterros,
cujas emissões são mais intensas do que os lixões devido ao fator de correção do metano,
como exposto na Figura 21.
Figura 21. Contribuição de emissões oriundas de aterro sanitário e lixão em Pernambuco no período de
2015 a 2020.

Na Figura 22 pode-se observar que houve pouca variação anual entre as Regiões de
Desenvolvimento do estado com relação a emissões de resíduos sólidos. Destaca-se
fortemente a Região Metropolitana do Recife (RMR). Esta região contempla dezesseis
municípios (incluindo Fernando de Noronha) altamente populosos, muitos com programas de
coleta seletiva implantados e todos os municípios encaminham os resíduos para aterros
sanitários. A cidade do Recife é responsável por cerca de 42% das emissões de resíduos sólidos
da Região Metropolitana do Recife.
Em relação aos efluentes sanitários, a RMR foi a região mais emissora, seguida do
Sertão de São Francisco e Agreste Central. Assim como nos resíduos sólidos, no tratamento de
efluentes não houve variação acentuada de emissão entre os anos analisados.
Figura 22. Total de emissões de resíduos sólidos e média de geração de resíduo per capita diário por
região de desenvolvimento em Pernambuco no período de 2015 a 2020.
8. CONSOLIDAÇÃO GERAL DOS RESULTADOS

Estima-se que, em Pernambuco foram emitidos 19.300.000,95 tCO2e em 2015,


18.190.573,04 tCO2e em 2016, 19.738.600,51 tCO2e em 2017, 18.120.127,39 tCO2e em 2018,
19.513.133,94 tCO2e em 2019 e 17.136.035,22 tCO2e em 2020.
A partir de uma visão geral da estimativa de emissões de GEE de Pernambuco, torna-
se evidente a participação significativa do setor de transportes, que no ano de 2020 chega a
compor 28% das emissões totais. A Figura 23 exibe a participação total de emissões por ano
dos setores no período estudado.

Figura 23. Total de emissões de GEE distribuídos nos setores de AFOLU, Energia estacionária, Resíduos,
IPPU, Transportes em Pernambuco no período de 2015 a 2020.

A Figura 24 fornece uma visão subsetorial que permite identificar as principais fontes
de emissão do Estado, outras fontes como: gás natural, manejo de dejetos e gasolina de
aviação não foram incluídas no gráfico por não serem significativas para representação gráfica.
O subsetor de resíduos sólidos segue como maior emissor de CO2, como no último inventário
de GEE de Pernambuco (SEMAS, 2019). Com a atualização dos fatores de emissão no subsetor
de transição do uso da terra, este passou a ser o segundo maior emissor, seguido do subsetor
de fermentação entérica.
Figura 24. Participação subsetorial das principais fontes de emissão em Pernambuco no período de 2015
a 2020.

A Figura 25 apresenta as emissões dos setores e a média de emissão anual per capita
anual por região de desenvolvimento no ano de 2020. Isto permite identificar quais regiões de
Pernambuco mais contribuem com emissões de GEE e que setor é mais crítico dentro de cada
região. Nota-se que a Região Metropolitana se destaca na quantidade de CO2e emitido e com
grandes contribuições dos setores de resíduos (38,98%), transportes (34,44%) e energia
(20,64%).
e média de emissão per capita.

Figura 25. Emissões de GEE dos setores por região de desenvolvimento em Pernambuco no ano de 2020
9. EXCLUSÃO DAS EMISSÕES

Determinadas fontes de emissões não foram estimadas para este inventário devido à
indisponibilidade de informações e/ou baixa representatividade perante as emissões totais no
ano inventariado.

Atividades Industriais
De acordo com o Portal da Indústria, os principais segmentos do setor industrial no
Estado são os de construção, alimentos, serviços industriais de utilidade pública, produtos
químicos e derivados de petróleo e biocombustíveis. Contudo, dados de produção industrial,
necessários para o cálculo das emissões, não são de fácil acesso e muitas vezes não estão
disponíveis. Para este inventário, obteve-se informações da indústria mineral (Cimento CP II, III
e IV, vidro, cal e tijolos (cerâmica)). Os processos industriais envolvendo a indústria alimentícia
liberam os gases conhecidos como NMVOC (Non-Methane Volatile Organic Compounds), que
representam uma série de compostos orgânicos caracterizados pela ausência do metano.
Contudo, apesar de não possuírem metano, e mesmo não estando inclusos pesos que
determinam os potenciais de aquecimento global, os NMVOCs também causam o efeito estufa.
No entanto, os dados recebidos do setor alimentício não eram precisos e careciam de
informações vitais, como unidade de medida. Por esta razão, estes gases não foram incluídos
neste inventário. Devido à falta de informações específicas de produtos utilizados dos setores
de produção de plásticos, papel e celulose, produtos químicos e derivados de petróleo, estes
também não puderam ser contabilizados.

Disposição de resíduos sólidos industriais


Prevê-se através da resolução CONAMA nº 313/2002 que determinadas tipologias de
indústrias devem produzir seu inventário de resíduos sólidos, reportando informações sobre
geração, características, armazenamento, transporte e destinação. Contudo, as últimas
informações disponíveis sobre esse setor para o Estado de Pernambuco são de 2003, de
acordo com o Diagnóstico de Resíduos Sólidos Industriais, publicado pelo IPEA em 2012. Sendo
assim, considerou-se que essa tipologia de resíduo foi reaproveitada pelas próprias indústrias,
ou encaminhada para os aterros sanitários que atendem o Estado, tendo suas emissões
contabilizadas dentro do subsetor de resíduos sólidos urbanos.
Tratamento de efluentes industriais
Assim como no caso da disposição de resíduos sólidos industriais, o tratamento de
efluentes provenientes da indústria carece de informações. De acordo com a Resolução
CONAMA nº 430/11, as indústrias são responsáveis pela gestão dos próprios efluentes. Ainda,
segundo a COMPESA, em nenhuma de suas Estações de Tratamento são recebidas cargas de
esgoto oriundas de indústrias. Dessa forma, pelo desconhecimento dos quantitativos
produzidos e tratados, essas emissões também não estão incluídas neste documento.

Uso de produtos
O uso de gases refrigerantes, lubrificantes e parafinas em processos de produção não
foram considerados neste inventário devido à ausência de dados disponíveis em fontes
públicas.

Incineração e compostagem
Dado a insignificância da contribuição das emissões provenientes da compostagem e
da incineração de resíduos (aqui inclui-se os resíduos especiais de saúde) no total inventariado,
aliada à indisponibilidade de dados, estas também não foram contabilizadas neste estudo.

Transporte aquático e emissões fugitivas de combustíveis


Neste inventário não foram incluídas as emissões oriundas do transporte aquático e de
emissões fugitivas de combustíveis pela ausência de informações. Espera-se que esses dados
sejam obtidos e incluídos em inventários futuros.
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de resíduos sólidos – PIRS: Estado de Pernambuco: agrupamento 5. Recife, 2017d.
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