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de Cereais em
Portugal:
Trajetória e horizonte de um pilar
fundamental para a Soberania
Alimentar
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Actualizados a 23 de Setembro de 2021.
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Resultado final da actividade de produção das unidades produtivas residentes na região ou no país no período de referência e que
é calculado segundo a óptica da produção, da despesa e do rendimento. (INE@a, 2021) https://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes/8283.
Corresponde ao saldo da conta de produção, a qual inclui em recursos, a produção, e em empregos, o consumo intermédio, antes
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da dedução do consumo de capital fixo. Tem significado económico tanto para os sectores institucionais como para os ramos de ac-
tividade. O VAB é avaliado a preços de base, ou seja, não inclui os impostos líquidos de subsídios sobre os produtos. (INE@a, 2021):
10 https://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes/5703.
CADERNO TÉCNICO
de 75%. O Alentejo foi a região que mais área Embora com evoluções distintas a nível regio-
de cereais perdeu: 342 mil hectares entre 1989 nal, o peso da área de cereais por escalões
e 2019. Em proporção de área, a maior dimi- de área das explorações aumentou a partir do
nuição deu-se no Algarve (-88%), e a menor no escalão das explorações entre 20 e 50 ha. A
Ribatejo e Oeste (-44%). Exceptuando esta últi- proporção da área de cereais em explorações
ma região e a Beira Litoral, todas as outras tive- com mais de 20 ha subiu de 50% em 1989
ram perdas de área de cereais acima dos 75%. para 64% em 2019.
Quanto ao peso na área total cultivada com ce- Esta evolução da área cultivada com cereais
reais, o Ribatejo e Oeste (RO) passou de 8,8% encontra paralelo na evolução do número de
em 1989 para 20% em 2019. A Beira Litoral explorações com cereais. Entre 1989 e 2019,
(BL) foi a outra região que viu subir a sua parte o número de explorações com cereais diminuiu
na área de cereais em Portugal: de 10% para em 302 mil explorações (-81%), das quais 286
12%, no mesmo intervalo de tempo. Tal como mil tinham menos de 5 ha.
acontecia em 1989, Alentejo e Ribatejo e Oeste Proporcionalmente, a região do Algarve foi a
continuavam a deter, em 2019, cerca de 65% que registou uma maior descida (-95%), se-
da área total de cereais cultivada em Portugal. guida do RO (-90%). As perdas situaram-se
Discrepância
Fonte: INE 11
CADERNO TÉCNICO
abaixo dos 80% apenas no Entre Douro e Mi- do Alentejo. Em Portugal, este rácio subiu de
nho (EDM) e em Trás-os-Montes e Alto Dou- 27,5% para 50,1%, entre 1999 e 2019.
ro (TAM). Contudo, as perdas absolutas foram A diminuição da área de cereais ficou a dever-
maiores na BL (-89 mil), EDM (-74 mil), BI (-35 -se principalmente à diminuição da área com
mil) e TAM (-34 mil). trigo (em 2019, menos 293 mil ha que em 1989,
Um outro dado interessante é o de que apesar 43% do total da redução da área com cereais),
de se registarem, entre 1999 e 2019, descidas mas com contribuições importantes do milho
acentuadas nas áreas cultivadas com cereais, e (menos 138 mil ha, 20% da redução), em espe-
uma diminuição, em território nacional, da área cial do milho de regadio, do centeio (menos 94
total das explorações especializadas em cerea- mil ha, 14% da redução) e da aveia (menos 86
licultura, oleaginosas e proteaginosas (menos mil ha, 13% da redução).
48 mil ha, -29%), esta última tem aumentado A diminuição da área de trigo deu-se sobretudo
em algumas regiões: RO (mais 13600 ha, uma no Alentejo (77%), que também concentra 63%
variação positiva de 63,7%), BL (mais 5350 da perda da área de aveia. Já a área de milho
ha, 49%), EDM (2831 ha, 149%) e TAM (1270 diminuiu sobretudo em EDM (58%) e BL (35%).
ha, 117%). Deste modo, parece existir, nestas A área de centeio reduziu-se em especial em
regiões, um aumento da especialização das TAM (48%) e na BI (36%).
explorações produtoras de cereais, em simul- A proporção de área cultivada com trigo caiu
tâneo com o desaparecimento de muitas ex- 23 pontos percentuais (p.p.) desde 1989, si-
plorações que, não sendo especializadas nas tuando-se, em 2019, nos 13% do total da área
culturas cerealíferas, as praticavam como parte cultivada com cereais em Portugal. As maiores
do seu sistema cultural. Tal parece ser também variações positivas foram as das proporções
o que indica o facto do rácio entre a área de de milho (11 p.p., estando em 35% em 2019) e
explorações especializadas em cerealicultura, do arroz (9.2 p.p., sendo 13% em 2019). Nes-
oleaginosas e proteaginosas, e a área cultiva- te ano, o milho era o cereal que ocupava mais
da com cereais, ter vindo a crescer consisten- área, seguindo-se a aveia (16%) e o arroz.
temente em todas as regiões, com excepção O essencial da área com trigo, em 2019, man-
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CADERNO TÉCNICO
tinha-se no Alentejo (70%), bem como a área nuir 29 mil toneladas no Alentejo. As perdas
de aveia (78%) e cevada (83%). A área de milho das produções de trigo (427 mil toneladas), de
tem uma dispersão maior, estando 29% no RO, aveia (49 mil toneladas) e de cevada (15 mil
24% na BL, 22% no EDM e 15% no Alentejo. toneladas) estão concentradas fundamental-
A área de centeio concentra-se essencialmente mente no Alentejo. As de centeio dão-se so-
em TAM (60%) e na BI (35%). bretudo em TAM (61 mil toneladas) e na BI (25
A produção de cereais caiu mais de 680 mil mil toneladas). A produção de cevada desceu
toneladas entre 1989 e 2019, numa redução 15 mil toneladas no Alentejo, mas aumentou 4
de 37%, situando-se em 2019 nos 1 milhão e mil toneladas no RO.
151 mil toneladas. Isto apesar das subidas na
produção de milho de regadio (mais 102 mil to-
neladas, uma subida de 11%) e do arroz (mais Evolução dos preços, dos consumos intermédios
17 mil toneladas, 12% de subida). É que só a e rentabilidade das explorações agrícolas
produção de trigo desceu 541 mil toneladas
(-88%), a de centeio 103 mil toneladas (-86%) e
Preços
a de aveia 77 mil toneladas (-61%).
Por outro lado, a dinâmica de variação da pro- Nos dados da campanha de comercialização
dução de cereais revela importantes diferen- de cereais de Outono-Inverno (Setembro 2021)
ças regionais. Por exemplo, a produção de verificou-se alguma estabilidade, com excep-
milho de regadio desceu 143 mil toneladas em ção do mercado do Alentejo que resultou num
EDM, sendo as suas subidas de produção de- aumento das cotações devido a uma oferta de
vidas em grande medida ao RO e ao Alentejo, baixa a média e a uma procura de média a alta.
cada uma produzindo mais 131 mil toneladas Pela análise da Tabela 2 observa-se um aumen-
que em 1989. Já o arroz viu a sua produção to muito significativo no preço da aveia, apro-
aumentar 42 mil toneladas em RO, mas dimi- ximadamente 32%, e do triticale, aproximada- 13
CADERNO TÉCNICO
mente 25%, na última semana de Setembro. da cotação, ainda que, com menor significância
Na situação específica do trigo mole panificável, na última semana do mês de Setembro.
na região do Alentejo, verificou-se uma subida
Fonte: SIMA
Como mencionado nesta edição da Voz da plantas (15%) e fertilizantes e correctivos (11%).
Terra, o preço dos cereais é fortemente influen- As rendas têm ainda um peso considerável,
ciado pelo comércio internacional, o que leva destacando-se, por outro lado, a desvaloriza-
a instabilidades frequentes por razões diversas ção de custos com salários e amortizações,
(incerteza política, tensões comerciais, sani- muito associado à crescente terceirização do
dade vegetal e animal,…). Contudo, a Organi- sector (ex. subcontração de mão-de-obra)
zação para a Cooperação e Desenvolvimento (GPP, 2020).
Económico (OCDE) perspectiva, num quadro Já no caso do milho, os consumos intermédios
de abundância, uma redução do preço dos ce- representam uma parte mais significativa (83%)
reais (real) até 2028 pelo espectável abranda- do total de encargos das explorações, com um
mento da procura (GPP, 2020). peso representativo dos fertilizantes e correcti-
vos (24%) e das sementes e plantas (17%), sen-
do ainda de destacar um peso das componen-
Consumos intermédios
tes de aluguer de máquinas e outros consumos
Numa análise generalista ao sector, pode afir-
intermédios (15%) (GPP, 2020).
mar-se que os custos com os consumos inter-
médios representam uma parte muito signifi-
cativa dos encargos das explorações agrícolas Rentabilidade das explorações agrícolas
em Portugal. As maiores fatias correspondem à Podemos concluir que, em média, as explo-
aquisição de sementes e plantas, custos com rações orientadas para a produção de arroz
energia e lubrificantes e com fertilizantes e cor- apresentam rendimentos negativos sem apoio
rectivos (GPP, a partir do CEA (Base 2011) INE). de políticas, e que as políticas actuais de-
No caso específico do arroz, os consumos in- sempenham um papel crucial e indispensável
termédios representam dois terços dos encar- no suporte ao rendimento empresarial destes
gos da exploração agrícola (66%). O maior con- agricultores. O mesmo não acontece com as
sumo está associado à aquisição de produtos explorações agrícolas orientadas para a produ-
14 fitofarmacêuticos (21%), com as sementes e ção de milho para grão (Figura 1).
CADERNO TÉCNICO
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Conceito (INE@, 2021): Traduzido em percentagem E dado pela razão entre a produção interna (exclusivamente obtida a partir
de matérias-primas nacionais) e a utilização interna total. Mede, para um dado produto, o grau de dependência de um território,
relativamente ao exterior (necessidades de importação) ou a sua capacidade de exportação. https://smi.ine.pt/Conceito/Detalhes/73
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Campanha de 2017/2018. GPP, 2020. 15
CADERNO TÉCNICO
Segundo os dados apresentados podemos in- uma variação percentual das cotações bastan-
ferir que para os três cereais existiu um aumen- te elevada em função do preço de importação
to gradual da cotação das importações ao lon- quer do período homólogo de 2020 quer do
go do mês de Setembro, ainda que, no que se período homólogo do último triénio para os três
refere ao milho tenha sido menos significativa e cereais.
18 só na última semana do mês. Contudo houve
CADERNO TÉCNICO
Milho
Nos finais dos anos 80, a superfície cultivada
com milho grão ocupava mais de 200 mil hec-
tares, tendo vindo a diminuir gradualmente. Em
2015 representava somente 78.600ha, (dados
do PU2015). A redução foi mais acentuada ao
nível da produção do milho de regadio, a partir
de 2013, devido à conjugação de vários facto-
res, tais como os preços baixos no mercado
mundial (quebra superior a 30% desde 2014),
e as alterações da PAC, nomeadamente ao ní-
vel da integração do Greening.
A diminuição da superfície cultivada com milho
e por conseguinte a diminuição da quantidade
com o comportamento do preço mundial dos
de milho produzido em Portugal não tem ge-
cereais, que tem apresentado grande volatilida-
rado efeitos positivos na cotação de milho ao
de. Os preços nas indústrias de moagem e de
nível dos produtores Portugueses, antes pelo
alimentos para animais evoluíram de forma si-
contrário, tem-se assistido ao aumento dos
milar, apresentando uma forte correlação, infla-
custos de produção e à manutenção ou dimi-
cionando os produtos destinados à panificação
nuição dos preços à produção. Contudo, sen-
e o alimento concentrado destinado à pecuária.
do o milho um dos principais elementos da pro-
dução da indústria da moagem e da fabricação
de alimentos para animais, dado que provém Cereais Praganosos
maioritariamente do mercado externo, a evo- Em igual período, a partir de meados da dé-
lução do preço nas indústrias está relacionada cada de 80, a superfície semeada com cereais 19
CADERNO TÉCNICO
O sector dos cereais e do arroz beneficia ainda tematizados especificamente para esta cultura,
de um conjunto importante de apoios de natu- utilizando o alagamento como método exclu-
reza agroambiental e de apoio à manutenção sivo de irrigação, e que mantenham a cultura
da actividade agrícola em zona desfavorecida, pelo menos até ao início de estágio de grão
consideradas Medidas do Segundo Pilar (mais leitoso em condições normais de crescimento.
informações no Caderno Técnico “Medidas Foi estabelecido um apoio com o valor unitário
Agro-Ambientais no Período de Transição da indicativo de 194 €/ha, correspondente a um
PAC”, Voz da Terra n.º 102). envelope financeiro de 6 Milhões €. Segundo
o Instituto de Financiamento da Agricultura e
Pescas (IFAP), em 2018 foram apresentadas
1.045 candidaturas, relativas a 29.629 ha num
montante de apoio de 5.681 mil €, valores es-
tes que se têm mantido estáveis nos últimos
anos e representam cerca de 5% do apoio as-
sociado voluntário.
A zona Centro engloba o maior número de be-
neficiários, cerca de metade do total, enquanto
a maior área e o maior montante do apoio res-
peitam à região LVT, representando também
Pagamento específico por superfície ao cerca de cinquenta por cento do total.
arroz
Medidas de mercado
Este apoio tem como objectivo assegurar um
O sector (cereais e arroz) integra a Organização
aprovisionamento estável à indústria local de
Comum dos Mercados de Produtos Agrícolas
transformação, que permita manter um certo
(OCM) e, tendo em conta a tipologia das pro-
nível de produção específico e evitar situações
duções, prevê a activação de mecanismos de
disruptivas no sector que conduzam ao aban-
mercado.
dono da atividade. O pagamento específico por
superfície ao arroz é atribuído anualmente aos • A intervenção pública
agricultores que semeiem ou plantem, o mais Por exemplo, na compra de trigo mole, trigo
tardar até 30 de Junho, arroz em terrenos sis- duro, cevada e milho é possível a activação
Figura 4 – Distribuição da área de cereais para grão de acordo com a Orientação da exploração
agrícola, em percentagem
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Regulamento OCM (UE) n.º 1308/2013 21
CADERNO TÉCNICO
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rientação Técnica Económica de uma exploração é o sistema de produção de uma exploração que se caracteriza pela contribuição
O
relativa dos VPP das actividades para o VPP Total da exploração. Existem três níveis de orientação técnica. https://www.gpp.pt/
images/GPP/O_que_disponibilizamos/Publicacoes/Tipologia_exploracoes.pdf. Determina o grau e o tipo de especialização de uma
exploração agrícola e é baseada na relação entre as diferentes atividades da exploração (frações da Margem Bruta Padrão total da
exploração). Se 2/3 da Margem Bruta Padrão total provém apenas de uma atividade, essa exploração é considerada especializada
nessa atividade; se apenas 1/3 da Margem Bruta Padrão total provir de uma atividade, diz-se orientada nessa atividade; finalmente,
se a Margem Bruta Padrão total de nenhuma atividade representar 1/3 da MBS total, a exploração é classificada como mista nessas
22 atividades. Decisão (CE) nº 1985/377/CE, de 7 de junho.
CADERNO TÉCNICO
Referências:
talmente influenciado pela integração na Políti- INE, 2021: “Superfície das principais cul-
ca Agrícola Comum (PAC). turas agrícolas (ha) por Localização geográfi-
ca (Região agrária) e Espécie”. Disponível em:
Por exemplo, o potencial de produção de ce-
www.ine.pt.
reais a Norte, em especial no planalto Miran-
INE, 2021: “Superfície das culturas tempo-
dês, é enorme para produção de trigo (assim rárias (ha) por Localização geográfica (Região
como foi no passado). Esta região, marcada agrária), Tipo (culturas temporárias) e Classes
pela estrutura fundiária de pequena dimensão de área (cultura agrícola)”. Disponível em: www.
e com uma gestão de carácter familiar, exige ine.pt.
apoios específicos e direccionados que per- INE, 2021: “Explorações agrícolas com cul-
mitam aumentar produtividades, actualmente turas temporárias (ha) por Localização geográ-
abaixo da média, e contribuir para o urgente fica (Região agrária), Tipo (culturas temporárias)
aumento produção nacional garantindo rendi- e Classes de área (cultura agrícola)”. Disponível
em: www.ine.pt.
mento aos pequenos e médios agricultores.
INE, 2021: “Superfície agrícola utilizada (ha)
Este apoio mais direcionado permitiria a produ-
por Localização geográfica (Região agrária/
ção de cereais para alimentação humana, já que
Ilha) e Orientação técnico-económica”. Dispo-
a maioria da produção de cereais, no essencial nível em: www.ine.pt.
nacional, se destina à alimentação animal, no INE, 2021: “Produção das principais culturas
qual o nível de produção não se apresenta com agrícolas (t) por Localização geográfica (Região
valores que se representam preocupantes. agrária) e Espécie”. Disponível em: www.ine.pt.
Desta forma, fica claro que a Agricultura é fun- INE, 2021: “Contas Nacionais Anuais”. Dis-
damental para cumprir os três Objectivos Es- ponível em: www.ine.pt.
tratégicos da Estratégia Nacional para a Pro- GPP, 2020: Draft “Análise Setorial - CE-
moção da Produção de Cereais (ENPPC): REAIS”, documento de preparação do PEPAC,
versão: Novembro de 2020. Gabinete de Políti-
• “Reduzir a dependência externa, conso- ca e Planeamento. Disponível em: www.gpp.pt
lidar e aumentar as áreas de produção” GPP, 2021: “Sistema de Informação de
• “Criar valor na fileira dos cereais” Mercados Agrícolas – Cotações de Produtos
Agrícolas e Pecuários”. Disponível em: ht-
•
“Viabilização da actividade agrícola em
tps://sima.gpp.pt/sima/
todo o território”
EDIA, 2021: “Ocupação Cultural - Campa-
Assim como no cumprimento das metas asso-
nha de rega de 2020”. Disponível em www.
ciadas de num prazo de 5 anos, do grau de edia.pt
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