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Expresso BMI Boletim Macro IBRE


Vinícius Botelho
Vinícius.Botelho@fgv.br
Projeção de PIB para o Terceiro Trimestre Silvia Matos
26 de Novembro de 2013 Silvia.Matos@fgv.br

Elevamos ligeiramente a nossa previsão de crescimento do PIB para o terceiro


trimestre de -0,4% (TsT) para -0,3% (TsT).
PIB: -0,3% TsT (2,4% AsA)
Apesar das revisões entre as diferentes aberturas, elevamos nossa expectativa para o PIB do
terceiro trimestre em apenas 0,1pp (para 2,4% AsA). As principais revisões são na Agropecuária,
na Extrativa Mineral, em Transportes, em Outros Serviços e em Serviços de Informação.

Mesmo com o alto crescimento da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) na comparação com o
ano anterior (9,0%), notamos uma forte desaceleração do indicador em termos dessazonalizados.
Além disso, o resultado de importações e exportações mostra um aumento do déficit externo. Os
números também apontam uma variação negativa dos estoques neste trimestre.

Tabela 1: PIB do Terceiro Trimestre – Ótica da Demanda

Agregado AsA TsT


Consumo das famílias 2,5% 1,1%
Consumo da APU 2,0% 0,9%
Formação Bruta de Capital Fixo 9,0% -0,8%
Exportação 6,1% 0,6%
Importação 11,7% -1,4%
Elaboração: IBRE/FGV.

1. Agropecuária: -1,2% TsT (5,8% AsA)


Revisamos nossa projeção para o crescimento da atividade agropecuária para baixo, com base nos
dados de produção do SCNT divulgados pelo IBGE, que apontam para uma contribuição menor do
que esperávamos dos produtos secundários dessa atividade. Além disso, revisamos para baixo a
nossa expectativa de crescimento dos produtos da pecuária.
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Seguindo o ritmo de expansão deste ano, projetamos (para o terceiro trimestre de 2013) alta de
10,3% AsA para o abate de bovinos, 9,2% AsA para o abate de aves e -6,0% para o abate de suínos.
Porém, esperávamos um crescimento mais forte para todos os produtos: 14,0% para abate de
bovinos, 11,5% para o abate de aves e contração de somente 4,5% AsA para o abate de suínos.
Nossa expectativa, baseada em uma base de comparação baixa no mês de setembro, foi
consistentemente frustrada pela coleta diária que fazemos destes dados, e, com isso, decidimos
revisá-la.

Os produtos secundários da agropecuária representaram, pelos nossos cálculos, mais de 9% do


total da oferta da atividade em 2012. Com isso, os produtos derivados de pesca e aquicultura
devem contribuir com 0,3pp do crescimento AsA, enquanto que todos os outros devem ter
contribuição negativa de 0,2pp.1 Consequentemente, os produtos secundários contribuem
somente com 0,1pp do crescimento da agropecuária (crescendo a 1,9% AsA, em média, ao
contrário do restante dos produtos, que cresce a uma média de 4,2%).

Na parte agrícola, tem destaque a contribuição ao crescimento da cana-de-açúcar, que tem mais
de 50% da sua safra no terceiro trimestre. De acordo com a LSPA, ela apresenta um crescimento
da produção de 6,2% AsA. Esse aumento de produção, todavia, veio acompanhado de um
aumento de somente 0,6% na área plantada. Como, para as Contas Nacionais, a utilização de
insumos depende da evolução da área plantada, estimamos que esse produto aumentará
significativamente o valor adicionado da atividade (com contribuição ao crescimento de 3,2pp
AsA). Feijão (que tem mais de 37% da colheita no terceiro trimestre) também apresenta
crescimento significativo (4,9% AsA da oferta) e queda de 4,7% da área plantada (com
contribuição ao crescimento de 0,5pp AsA). Milho é outro destaque positivo, com aumento da
oferta da ordem de 12,9% e da área plantada de somente 4,2% (com contribuição ao VA de
0,9pp). O destaque negativo é a safra de laranja, cuja oferta se contrai em 14,2% com queda de
produtividade (área plantada se reduz em apenas 8,7%). Portanto, esse produto contribui com
1pp de queda do VA. Contabilizando todos os produtos, chegamos a uma contribuição dos
produtos agrícolas ao crescimento da agropecuária de 3,2pp.

Tabela 2: Crescimento dos Produtos da Agropecuária

Categoria Contribuição ao crescimento AsA (pp)


Agrícola 3,2
Pecuária 2,5
Produtos secundários 0,1
Elaboração: IBRE/FGV.

1 O resultado negativo da produção de gás liquefeito de petróleo e arredondamentos fazem com que a projeção fique em -0,8%.
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2. Indústria: -0,1% TsT (1,9% AsA)


A indústria extrativa é o destaque positivo do terceiro trimestre, com crescimento esperado de
1,6% TsT. Contudo, vale notar que esse resultado indica uma recuperação, e não um crescimento
(a atividade ainda se recupera do choque adverso do primeiro trimestre deste ano).

2.1. Indústria Extrativa: 1,6% TsT (-1,0% AsA)

Como mostra a tabela 03, seis produtos da indústria extrativa correspondem, segundo as nossas
estimativas, a mais de 99% da atividade.

Tabela 3: Pesos dos Produtos da Indústria Extrativa

Produto Peso estimado no


terceiro trimestre
Petróleo e gás natural 67,2%
Minério de ferro 19,8%
Carvão mineral 0,8%
Minerais metálicos não-ferrosos 3,5%
Minerais não-metálicos 7,7%
Gás liquefeito de petróleo 0,6%
Fonte: IBGE. Elaboração: IBRE/FGV.

Usando os índices de oferta de produto divulgados pelo IBGE, portanto, estimamos que a indústria
extrativa mineral deverá encolher 1,0% em comparação com o terceiro trimestre do ano passado.
As maiores contribuições para essa queda deverão vir da extração de petróleo e gás natural,
seguida da extração de minério de ferro e da extração de minerais metálicos não ferrosos.
Extração de carvão mineral deve atenuar o resultado, com contribuição ao crescimento de 0,2pp .
Vale notar que, entre as produções mais relevantes, a extração de carvão é a que mais tem
crescido nas Contas Nacionais, desde 2009.

2.2. Indústria de Transformação: -0,9% TsT (1,6% AsA)

A conta com maior participação na indústria de transformação, nas Contas Nacionais, é a de


máquinas e equipamentos (incluindo manutenção e reparos). No terceiro trimestre ela teve um
crescimento expressivo (média de 17%, tendo como base a média de todo o ano de 2012),
contribuindo com o crescimento do indicador agregado em 1,1pp. A conta “Caminhões e ônibus”,
apesar do peso pequeno, também contribui bastante para o indicador (0,4pp). Por fim, o bloco
associado a combustíveis2 também apresenta um dos maiores destaques positivos, com

2 Gasolina automotiva, gasoálcool, óleo combustível, óleo diesel e outros produtos do refino de petróleo e coque.
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contribuição de 0,7pp. Os movimentos associados a outros produtos são bastante dispersos, sem
mais destaques relevantes.

2.3. Construção civil: -0,3% TsT (2,4% AsA)

2.4. Produção e distribuição de eletricidade, gás, água, esgoto e limpeza urbana: 1,1% TsT (3,8%
AsA)

3. Serviços: 0,3% TsT (2,3% AsA)


Na Tabela 4 estão as projeções para o setor de serviços da economia. O desempenho ruim da
atividade de comércio no terceiro trimestre é explicado pelo enfraquecimento da indústria de
transformação. Já o destaque positivo, “Serviços de Intermediação Financeira e Seguros”, é
resultado de uma baixa base de comparação (a atividade contraiu-se em 1,0% AsA no mesmo
período em 2012).

Tabela 4: Projeção de Crescimento das Atividades do Setor Serviços

Atividade AsA TsT


Comércio 1,3% -1,3%
Transporte, armazenagem e correio 2,7% 0,4%
Serviços de informação 2,5% 0,3%
Intermediação financeira e seguros 3,5% -0,1%
Outros serviços 2,5% 0,5%
Serviços imobiliários e aluguel 1,8% 0,1%
APU, educação e saúde pública 2,1% 0,7%
Fonte: IBGE. Elaboração: IBRE/FGV.

4. Impostos: 2,3% AsA


O menor crescimento dos impostos no PIB se deve principalmente ao desempenho mais fraco da
indústria de transformação.
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Apêndice: Revisão das Contas Nacionais com a Nova Pesquisa


Mensal de Serviços (PMS)
Apesar de não ser possível fazer uma comparação inequívoca entre o crescimento da PMS e o
crescimento do PIB, dado que ambos são agregados de forma diferente (e os dados desagregados
só estão disponíveis para o IBGE), estimamos a revisão do PIB de 2012 em 0,3% (entre 0,0% e
0,3%3) e em 0,0% (entre -0,3% e 0,0%) a revisão para o primeiro semestre de 2013. Na oferta, as
revisões devem ser feitas em todas as atividades (implicando revisões inclusive na conta de
impostos); na demanda, essas revisões devem ser concentradas na conta de consumo das famílias.
Esses cálculos não contemplam a revisão de deflatores, que será discutida em cada caso.

A primeira dificuldade de estimação do impacto da PMS no PIB reside no fato de a PMS ser
somente uma série de oferta, enquanto que o PIB é um equilíbrio entre oferta e demanda: uma
parte do aumento da oferta deve ser ajustada para o consumo intermediário da produção de
outros produtos, o que pode indicar a necessidade de revisão no valor da produção destes outros
produtos também. Outra dificuldade deriva da recomposição que o IBGE certamente fará na
tradução dos dados da PMS para o Sistema de Contas Nacionais Trimestrais (SCNT), dispondo dos
dados desagregados de cada uma dessas pesquisas. Isso dificulta a análise tanto do crescimento
do valor adicionado das atividades como da evolução dos deflatores.

Nossa análise parte dos pesos estimados para cada uma das atividades revisadas,4 e calcula a
diferença entre os crescimentos indicados pelo SCNT e o indicado pela PMS. Em todos os cenários,
a série de “Serviços prestados às famílias” do SCNT foi considerada equivalente à série de “Outros
serviços prestados às famílias” da PMS e a série de “Serviços de alojamento e alimentação” do
SCNT foi considerada equivalente à série de mesmo nome na PMS. As séries de “Serviços de
manutenção e reparação” e de “Outros Serviços Prestados às Empresas”, do SCNT, foram
consideradas similares às de “Serviços técnico-profissionais” e “Serviços Administrativos e
Complementares” (PMS), respectivamente. Com cada uma dessas duas séries também foi
eventualmente combinada a série “Outros Serviços” (PMS), resultando nos cenários alternativos
de revisão indicados no primeiro parágrafo. O crescimento dessas séries foi considerado igual ao
crescimento do valor adicionado da série “Outros Serviços” do PIB. Vale notar que a série “Outros
Serviços” ainda contempla outros produtos: somente 68% dela será revisada.

A série “Transportes” da PMS foi considerada equivalente à série “Transportes” no PIB (já que as
séries de oferta não dispõem da mesma divisão adotada na TRU) e a série de “Serviços de
Informação e Comunicação” do SCNT foi considerada equivalente à sua homônima na PMS.

3 Dependendo da ponderação usada para a série “Outros Serviços”, da PMS, para transformá-la em uma série do SCNT.
4 De acordo com a nota metodológica de revisão do PIB do terceiro trimestre
(ftp://ftp.ibge.gov.br/Contas_Nacionais/Contas_Nacionais_Trimestrais/Notas_Tecnicas/nota_tecnica_07112013.pdf). Acesso em
13/11/2013.
As séries de oferta utilizadas nesta análise são baseadas nas tabelas de recursos e usos de 2011, 2012 e 2013, que projetamos
internamente. Todos os cálculos consideraram a manutenção da razão entre valor adicionado e valor produzido constante.
Todavia, nada garante que esse será o procedimento adotado pelo IBGE.
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Apesar da divulgação dos novos deflatores, a nota técnica da revisão indica que o conjunto de
informação antigo não será descartado. Como não existe informação nova sobre a evolução dos
índices de preço, consideramos improvável uma revisão significativa da série “Transportes” (cuja
evolução nominal no PIB e na PMS segue a taxas muito próximas). Afinal, a PMS é um bom
indicador da evolução nominal das atividades e ela já indica o crescimento apontado no SCNT
(considerando estabilidade da relação entre o valor adicionado e o valor da produção). Contudo,
vale notar que o deflator escolhido para o SCNT indica uma inflação muito menor do que o
deflator do PIB. O simples ajuste do deflator, pelos nossos cálculos, poderia impactar em até 0,4%
o PIB de 2012.

A série “Serviços de Informação” deve passar a apresentar crescimento nominal (em termos
nominais, a atividade encolheu quando comparamos o primeiro trimestre de 2013 com o primeiro
trimestre de 2012). No entanto, o deflator deve ser revisado para cima, já que o SCNT indica
deflação nessa atividade (ao contrário do IPCA, que sugere uma inflação baixa). Dessa forma, a
revisão dos deflatores poderá amenizar o impacto da incorporação da série.

A série “Outros Serviços” do SCNT é a mais importante e a mais problemática, por não haver uma
composição óbvia para a conta de “Serviços Prestados às Empresas”, que representa mais de 50%
do total da revisão da oferta da série. Além disso, nossos cálculos indicam que o seu deflator tem
sido ligeiramente superior ao deflator que deve ser usado para a PMS (com maior impacto em
2012 do que em 2013). Sendo assim, existe a possibilidade de essa série ser revisada para cima em
2012 (a revisão de deflator tem possível impacto de 0,2% no PIB); para 2013 não acreditamos
haver efeito oriundo da mudança de deflatores.

Ou seja, acreditamos haver espaço para uma revisão de até 0,9% no PIB de 2012 (0,6pp devido à
revisão de deflatores e 0,3pp devido à PMS), enquanto que o espaço para revisão do PIB de 2013
parece ser menor (de -0,3% até nulo). Todavia, acreditamos que a revisão será mais concentrada
no novo conjunto de informação (que se refere ao crescimento nominal das atividades), e que,
portanto, mudanças que seriam causadas principalmente por trocas de índices de preços não
serão mecanicamente realizadas. Vale ressaltar que esses movimentos implicarão revisões no
consumo intermediário de todas as outras atividades e que, juntamente com a revisão ocasionada
pela PMS, serão incorporadas outras pesquisas ao PIB trimestral (como é típico da divulgação do
PIB do terceiro trimestre e a nota técnica do IBGE explica). Portanto, a despeito das elucubrações
sobre as causas das revisões que serão feitas, não teremos como saber a origem da mudança dos
indicadores quando da divulgação do PIB.

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