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O DESEMPENHO DA ECONOMIA PORTUGUESA EM 2019

Mª Inês Silva

O presente trabalho irá abordar o desempenho da economia portuguesa em 2019,


focando em três indicadores: o produto interno bruto (PIB), a inflação e o desemprego com o
objetivo de compreender se 2019 realmente foi um ano positivo para Portugal.

Por outro lado, sendo Portugal um membro integrado da União Europeia (UE), não
seria correto falar da economia nacional sem analisá-la “face aos seus congéneres europeus,
procurando apurar o verdadeiro grau de convergência da economia portuguesa e, em que
medida, estamos mais «europeus»” (Coelho, 2019), sobretudo quando 2019 foi um ano de
travagem para a Europa: em termos de crescimento anual, na Zona Euro, o PIB recuou de 1,9%
em 2018 para 1,2% no ano passado e na UE abrandou de 1,8% para 1,4%, no mesmo período.

Assim, este trabalho irá recair sobre o desempenho da economia portuguesa


articulando-a com a atuação da área do euro e do conjunto dos 27 Estados-Membros e tentar
perceber se a nossa economia se aguentou numa Europa em desaceleração.

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O PIB português superou todas as expetativas quando o Instituto Nacional de
Estatística (INE) anunciou que o mesmo tinha crescido 2,2% em 2019 ultrapassando, assim, a
previsão para um crescimento de 1,9%.

Mas, apesar de a economia portuguesa ter apresentado uma expansão acima das
projeções, estes valores mostram que a mesma abrandou relativamente a 2018, ano em que o
seu crescimento tinha sido de 2,6% (gráfico 1).

Gráfico 1. Crescimento real do PIB

Num trabalho de Esteves (2020), o Consumo das Famílias cresceu a um ritmo menos
intenso em 2019 (2,3%) do que em 2018 (2,9%). Tal evolução deve-se maioritariamente à
desaceleração da componente dos bens duradouros que subiram apenas 0,8% no ano
passado, face aos 6,1% registados em 2018.
Em contrapartida, o Investimento acelerou, crescendo 6,5% em termos reais
(comparativamente ao crescimento de 6,2% em 2018). Segundo o INE, foi a Formação Bruta de
Capital Fixo (FBCF) que deu gás a esta evolução registando uma taxa de variação de 6,4% no
ano passado (mais 0,6 pontos percentuais, p.p., que 2018).
As Exportações Líquidas agravaram-se: as Exportações de Bens e Serviços perderam
fulgor, crescendo 3,7% em 2019, face a 4,5% em 2018 e as Importações de Bens e Serviços
passaram de 5,7% em 2018 para 5,2% em 2019.
Mas, no último trimestre de 2019, a procura externa líquida salvou a expansão do PIB
crescendo +1,3 p.p. (-1,5 p.p. no 3º trimestre), perante uma procura interna que cresceu 0,9
p.p. (3,4 p.p. no trimestre anterior), refletindo sobretudo a diminuição do investimento, que
decresceu 2,6% face à subida de 8,6% no trimestre anterior.

Olhando, agora, para a Europa, 2019 é o 3º ano consecutivo em que Portugal cresce a
um ritmo superior ao da média da Zona Euro e da União Europeia (1% e 1,1%,
respetivamente). Mas, não nos podemos iludir com estes valores.

Desde 2017 – ano “com maior taxa de crescimento desde 2000” (Coelho, 2019) – a
economia portuguesa tem a abrandado e é dito que Portugal tem sido ultrapassado pelo Leste.
Em 2018, o PIB per capita português medido em Paridades de Poder de Compra (PPC)
– indicador “que permite comparar países com moedas e níveis de preços diferentes” (Varzim
& Peixoto, 2020) – foi de 76,8% da média europeia, quando em 2000 era mais de 80% da
mesma. Ora, quando as economias do Leste que, integradas em 2004, “já estão no mesmo

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nível de Portugal” isto apenas significa que pioramos. Segundo Coelho (2019), e olhando o
gráfico 2, nas previsões do FMI relativamente aos países da área do euro, em 2019, Portugal
ocuparia o 17º lugar “(apenas à frente da Letónia e Grécia), […] abaixo do 12º lugar registado
em 2000”.

Gráfico 2. Ranking do PIB per capita em PPC

Significa isto que o poder de compra dos portugueses diminuiu, ao passo que a
inflação tem recuado nos últimos anos. “A estabilidade dos preços é fundamental para o
crescimento […] sustentável de uma economia. As evidências históricas demonstram que esse
nível ótimo […] é um nível de inflação entre os 2 e os 4 por cento (Krugman e Wells, 2006;
Pinto, 1999; Samuelson e Nordhaus, 1999)” (Diogo, 2011). Em 2019, em termos médios, o
Índice de Preços no Consumidor (IPC) subiu 0,3%, um
recuo de 0,7 p.p. face a 2018. Um aspeto interessante que
se pode verificar no gráfico 3 é que a componente
Produtos alimentares não transformados e Produtos
energéticos contribuiu positivamente em 2000, 2017 e
2018, mas em 2019 esse efeito dissipou-se uma vez que
excluindo essa categoria o indicador de inflação
subjacente em 2019 foi superior à taxa de inflação, o
oposto do ocorrido nos outos anos.

Já o Índice Harmonizado de Preços no consumidor


(IHPC) foi, em termos homólogos, 0,4% em dezembro de
2019, menos 0,9 p.p. do valor na Zona Euro, o que fez de
Portugal o país europeu com “menor taxa anual de
inflação na Zona Euro”, numa altura em que, com a
Gráfico 3. Taxa de inflação média economia da área do euro a abrandar, o Banco Central
Europeu (BCE) definiu como objetivo “que a inflação
ronde os 2%, num nível inferior mas próximo”. Em fevereiro deste ano, depois de 6 meses de
aceleração – e do IPC registar uma variação homóloga negativa de 0,3% em julho de 2019 – os
preços no consumidor voltam a desacelerar para 0,4%, face aos 0,8% de janeiro e o IHPC para
0,5% (0,8% no mês precedente), enquanto que na área euro recuou de 1,4% em janeiro para
1,2%.

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Quanto ao desemprego, este sempre
foi uma variável sensível em Portugal. Com a
crise de 2008, a taxa de desemprego disparou –
em cinco anos, esta aumentou quase 9%,
passando de 7,8% em 2008 para 16,2% em 2013
(gráfico 4).

A partir de 2014, começou a descer e


em 2019, fixou-se nos 6,5%, menos 0,5 p.p. face
a 2018. Os três agregados etários apresentaram
também diminuições nas suas taxas de
desemprego, mas a população ativa jovem
continua a ser a mais afetada, com um valor de
Gráfico 4. Evolução da taxa de
18,3%.
desemprego

Analisada trimestralmente, a taxa de desemprego merece alguma atenção. No gráfico


5, verifica-se que Portugal iniciou 2019 com um aumento da taxa de desemprego (6,9% no 1º
trimestre) que diminuiu nos 2 trimestres seguintes, mas que no 4º trimestre voltou a subir
registando o mesmo valor que um ano antes (6,7%). Segundo Lourenço (2020), “economistas
falam em fim de ciclo ‘dourado’ no mercado de trabalho nacional”, pois “este foi o primeiro
incremento na população desempregada, em termos homólogos, desde 2013, no auge da crise
económica e financeira, quando a economia portuguesa bateu no fundo”.

Gráfico 5. Análise trimestral da taxa de


desemprego em 2019

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Olhando agora para a Europa, a posição portuguesa não é a melhor. De acordo com
dados da Eurostat, Portugal “registou a segunda maior subida (da Europa) ao nível da taxa de
desemprego total entre janeiro de 2019 e igual mês deste ano […] mais três décimas
percentuais” (Ribeiro,2020). À nossa frente estão a Lituânia, o Luxemburgo e a Suécia cujo
aumento foi de 0,5 pontos percentuais.

Gráfico 6. Ranking da taxa de desemprego na UE


(janeiro de 2019-janeiro de 2020)

No início deste ano a taxa era já de 6,9%, fazendo de nós o quarto país da UE com a
maior taxa de desemprego (gráfico 6). Em consequência, Portugal tornou-se também no
quinto pior desemprego juvenil da Europa (19,3%) – a “taxa deteriorou-se cerca de 1,8 pontos
percentuais, naquele que é o maior aumento desde maio de 2013” (Ribeiro, 2020).

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Numa visão geral, é possível afirmar que 2019 foi para Portugal um registo positivo
com a economia a crescer acima do esperado e da média europeia, facto que foi elogiado
interna – “desde que o euro foi criado que a economia portuguesa não crescia de forma
sustentada acima da média” (Varzim & Peixoto, 2020) – e externamente – “uma melhoria
significativa” (Comunidade Europeia, 2020). Mas, os técnicos de Bruxelas alertam: “Portugal
fez progressos limitados”, tanto que o desemprego não recuou pela primeira vez desde 2013,
o poder de compra baixou e os níveis de inflação estão baixos e longe dos valores europeus. O
crescimento “não se traduziu em convergências de rendimento com os Estados-membros
[com economias] mais avançadas, uma vez que o rendimento per capita de Portugal em
paridades de poder de compra mantém-se perto dos 77% da média da UE” que, como já
analisado, reflete uma degradação da nossa situação europeia. Portanto, crescer acima da
média europeia não foi suficiente para reverter esta tendência.

Concluindo, num ano em que a Europa esteve em desaceleração a economia


portuguesa segurou-se e cresceu, mas está volátil e a apresentar um desempenho “face aos
seus congéneres europeus” desequilibrado.

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Referências
Caetano, E. (2020, fevereiro 5). Taxa de desemprego em Portugal desceu para os 6,5% em
2019, diz o INE. Observador em https://observador.pt

Coelho, M. (2019, setembro 25). Crescimento da economia: a aritmética da verdade.


Observador

Diogo, A. P. (2011, setembro). Série Longa de Inflação em Portugal. Instituto Universitário de


Lisboa

Esteves, P. F. (2020, fevereiro 28). Economia portuguesa supera as expectativas e cresce 2,2%
em 2019. Público em https://www.publico.pt

Lourenço, S. M. (2020, fevereiro 9). Acabou a descida no desemprego em Portugal. Expresso


em https://expresso.pt

Ribeiro, L. R. (2020, março 4). Taxa de desemprego de Portugal é a segunda que mais alastra
na Europa. Diário de Notícias em https://www.dn.pt

Santo, M. E. (2020, janeiro 7). Portugal continua com taxa de inflação anual mais baixa da Zona
Euro. ECO em https://eco.sapo.pt

Varzim, T. (2020, janeiro 31). Economia da Zona Euro trava no quarto trimestre. PIB cresceu
1,2% em 2019. Jornal de Negócios em https://www.jornaldenegocios.pt

Varzim, T. e Peixoto, M. (2020, fevereiro 28). Portugal deixou-se apanhar pelos países do Leste
europeu. Jornal de Negócios

Varzim, T. (2020, fevereiro 28). Inflação em Portugal interrompe tendência de subida. Taxa
trava para 0,4% em fevereiro. Jornal de Negócios

PORDATA: Gráficos do PIB, Inflação e Taxa de desemprego em https://www.pordata.pt

INE: Gráficos do Inflação e Taxa de desemprego em https://www.ine.pt

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