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Mª Inês Silva
Por outro lado, sendo Portugal um membro integrado da União Europeia (UE), não
seria correto falar da economia nacional sem analisá-la “face aos seus congéneres europeus,
procurando apurar o verdadeiro grau de convergência da economia portuguesa e, em que
medida, estamos mais «europeus»” (Coelho, 2019), sobretudo quando 2019 foi um ano de
travagem para a Europa: em termos de crescimento anual, na Zona Euro, o PIB recuou de 1,9%
em 2018 para 1,2% no ano passado e na UE abrandou de 1,8% para 1,4%, no mesmo período.
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O PIB português superou todas as expetativas quando o Instituto Nacional de
Estatística (INE) anunciou que o mesmo tinha crescido 2,2% em 2019 ultrapassando, assim, a
previsão para um crescimento de 1,9%.
Mas, apesar de a economia portuguesa ter apresentado uma expansão acima das
projeções, estes valores mostram que a mesma abrandou relativamente a 2018, ano em que o
seu crescimento tinha sido de 2,6% (gráfico 1).
Num trabalho de Esteves (2020), o Consumo das Famílias cresceu a um ritmo menos
intenso em 2019 (2,3%) do que em 2018 (2,9%). Tal evolução deve-se maioritariamente à
desaceleração da componente dos bens duradouros que subiram apenas 0,8% no ano
passado, face aos 6,1% registados em 2018.
Em contrapartida, o Investimento acelerou, crescendo 6,5% em termos reais
(comparativamente ao crescimento de 6,2% em 2018). Segundo o INE, foi a Formação Bruta de
Capital Fixo (FBCF) que deu gás a esta evolução registando uma taxa de variação de 6,4% no
ano passado (mais 0,6 pontos percentuais, p.p., que 2018).
As Exportações Líquidas agravaram-se: as Exportações de Bens e Serviços perderam
fulgor, crescendo 3,7% em 2019, face a 4,5% em 2018 e as Importações de Bens e Serviços
passaram de 5,7% em 2018 para 5,2% em 2019.
Mas, no último trimestre de 2019, a procura externa líquida salvou a expansão do PIB
crescendo +1,3 p.p. (-1,5 p.p. no 3º trimestre), perante uma procura interna que cresceu 0,9
p.p. (3,4 p.p. no trimestre anterior), refletindo sobretudo a diminuição do investimento, que
decresceu 2,6% face à subida de 8,6% no trimestre anterior.
Olhando, agora, para a Europa, 2019 é o 3º ano consecutivo em que Portugal cresce a
um ritmo superior ao da média da Zona Euro e da União Europeia (1% e 1,1%,
respetivamente). Mas, não nos podemos iludir com estes valores.
Desde 2017 – ano “com maior taxa de crescimento desde 2000” (Coelho, 2019) – a
economia portuguesa tem a abrandado e é dito que Portugal tem sido ultrapassado pelo Leste.
Em 2018, o PIB per capita português medido em Paridades de Poder de Compra (PPC)
– indicador “que permite comparar países com moedas e níveis de preços diferentes” (Varzim
& Peixoto, 2020) – foi de 76,8% da média europeia, quando em 2000 era mais de 80% da
mesma. Ora, quando as economias do Leste que, integradas em 2004, “já estão no mesmo
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nível de Portugal” isto apenas significa que pioramos. Segundo Coelho (2019), e olhando o
gráfico 2, nas previsões do FMI relativamente aos países da área do euro, em 2019, Portugal
ocuparia o 17º lugar “(apenas à frente da Letónia e Grécia), […] abaixo do 12º lugar registado
em 2000”.
Significa isto que o poder de compra dos portugueses diminuiu, ao passo que a
inflação tem recuado nos últimos anos. “A estabilidade dos preços é fundamental para o
crescimento […] sustentável de uma economia. As evidências históricas demonstram que esse
nível ótimo […] é um nível de inflação entre os 2 e os 4 por cento (Krugman e Wells, 2006;
Pinto, 1999; Samuelson e Nordhaus, 1999)” (Diogo, 2011). Em 2019, em termos médios, o
Índice de Preços no Consumidor (IPC) subiu 0,3%, um
recuo de 0,7 p.p. face a 2018. Um aspeto interessante que
se pode verificar no gráfico 3 é que a componente
Produtos alimentares não transformados e Produtos
energéticos contribuiu positivamente em 2000, 2017 e
2018, mas em 2019 esse efeito dissipou-se uma vez que
excluindo essa categoria o indicador de inflação
subjacente em 2019 foi superior à taxa de inflação, o
oposto do ocorrido nos outos anos.
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Quanto ao desemprego, este sempre
foi uma variável sensível em Portugal. Com a
crise de 2008, a taxa de desemprego disparou –
em cinco anos, esta aumentou quase 9%,
passando de 7,8% em 2008 para 16,2% em 2013
(gráfico 4).
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Olhando agora para a Europa, a posição portuguesa não é a melhor. De acordo com
dados da Eurostat, Portugal “registou a segunda maior subida (da Europa) ao nível da taxa de
desemprego total entre janeiro de 2019 e igual mês deste ano […] mais três décimas
percentuais” (Ribeiro,2020). À nossa frente estão a Lituânia, o Luxemburgo e a Suécia cujo
aumento foi de 0,5 pontos percentuais.
No início deste ano a taxa era já de 6,9%, fazendo de nós o quarto país da UE com a
maior taxa de desemprego (gráfico 6). Em consequência, Portugal tornou-se também no
quinto pior desemprego juvenil da Europa (19,3%) – a “taxa deteriorou-se cerca de 1,8 pontos
percentuais, naquele que é o maior aumento desde maio de 2013” (Ribeiro, 2020).
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Numa visão geral, é possível afirmar que 2019 foi para Portugal um registo positivo
com a economia a crescer acima do esperado e da média europeia, facto que foi elogiado
interna – “desde que o euro foi criado que a economia portuguesa não crescia de forma
sustentada acima da média” (Varzim & Peixoto, 2020) – e externamente – “uma melhoria
significativa” (Comunidade Europeia, 2020). Mas, os técnicos de Bruxelas alertam: “Portugal
fez progressos limitados”, tanto que o desemprego não recuou pela primeira vez desde 2013,
o poder de compra baixou e os níveis de inflação estão baixos e longe dos valores europeus. O
crescimento “não se traduziu em convergências de rendimento com os Estados-membros
[com economias] mais avançadas, uma vez que o rendimento per capita de Portugal em
paridades de poder de compra mantém-se perto dos 77% da média da UE” que, como já
analisado, reflete uma degradação da nossa situação europeia. Portanto, crescer acima da
média europeia não foi suficiente para reverter esta tendência.
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Referências
Caetano, E. (2020, fevereiro 5). Taxa de desemprego em Portugal desceu para os 6,5% em
2019, diz o INE. Observador em https://observador.pt
Esteves, P. F. (2020, fevereiro 28). Economia portuguesa supera as expectativas e cresce 2,2%
em 2019. Público em https://www.publico.pt
Ribeiro, L. R. (2020, março 4). Taxa de desemprego de Portugal é a segunda que mais alastra
na Europa. Diário de Notícias em https://www.dn.pt
Santo, M. E. (2020, janeiro 7). Portugal continua com taxa de inflação anual mais baixa da Zona
Euro. ECO em https://eco.sapo.pt
Varzim, T. (2020, janeiro 31). Economia da Zona Euro trava no quarto trimestre. PIB cresceu
1,2% em 2019. Jornal de Negócios em https://www.jornaldenegocios.pt
Varzim, T. e Peixoto, M. (2020, fevereiro 28). Portugal deixou-se apanhar pelos países do Leste
europeu. Jornal de Negócios
Varzim, T. (2020, fevereiro 28). Inflação em Portugal interrompe tendência de subida. Taxa
trava para 0,4% em fevereiro. Jornal de Negócios