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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ALIMENTOS

CLARA LIMA FACÓ


JÉSSICA AZEVEDO
KARYNNA TELES BEZERRA
MARÍLIA CASTILHO

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: PRODUÇÃO DE ÁLCOOL A PARTIR DE FRUTAS


TROPICAIS

FORTALEZA
2019
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA: PRODUÇÃO DE ÁLCOOL A PARTIR DE FRUTAS
TROPICAIS

Dissertação apresentada na disciplina de


Aproveitamento de Resíduos da Universidade
Federal do Ceará.
Prof. Dr. Júlio Rocha

FORTALEZA
2019
LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 - ​Quadro informativo sobre a composição dos resíduos urbanos no Brasil ...... 06
FIGURA 02 - ​Fluxograma de produção de etanol através de cana de açúcar ……………....14

LISTA DE TABELAS

TABELA 01 - ​Composição de açúcares em frutos tropicais ………………………………..


12
SUMÁRIO

1. RESUMO​ ……………………………………….…………………………………... 3
2. INTRODUÇÃO​……………………………………………………………………… 6
3. DESENVOLVIMENTO ……………………………………………………………..
6
3.1 Geração de resíduos …………………………………………………………….... 7
3.2 Produção frutífera ……………………………………………………………… .. 8
3.3 Consumo …………………………………………………………………………. 9
3.4 ​ ​Produção de Álcool por Meio de Processos Fermentativos ………………….. 10
3.5 ​ ​Produção de Álcool através da Fermentação de Frutas Tropicais ……………... 11
3.6 ​Comparação da Produção de Álcool …………………………………………… 12
4. CONCLUSÃO​ ..……………………………………………………………………. 14
5. REFERÊNCIAS ​………………………………………………………………….... 15
RESUMO

O cenário brasileiro de produção energética a partir de fontes alternativas tem crescido a cada
ano, a fim de reduzir a produção de resíduos urbanos, como matéria orgânica, que são gerados
toneladas, segundo dados do Ministério do Meio Ambiente. As frutas são exemplo de resíduo
de matéria orgânica, principalmente as tropicais, devido a localização de grande parte do
território brasileiro, que podem ser utilizadas para produção de álcool, por meio de processos
fermentativos. O álcool pode ser produzido através de bagaço, de resíduos de pós-colheita, de
resíduos de consumo urbano, de resíduos industriais e, assim, sendo altamente benéfico e
eficiente na redução da poluição ambiental. Além disso, essa forma de aproveitamento
contribui além de ambientalmente, economicamente, pois o que seria lixo, agora será
matéria-prima para produção de um produto em expansão, devido ao crescimento rápido dos
preços do petróleo e pelo fato de ser uma fonte não renovável a curto prazo. Portanto, o
aproveitamento dos resíduos pode alavancar a economia local, reduzir o acúmulo de resíduos
e ser ambientalmente eficiente.

Palavras-chave​: Aproveitamento. Álcool. Frutas tropicais.


ABSTRACT

The Brazilian scenario of energy production, from alternative sources has been growing each
year in order to reduce the production of urban waste, such as organic matter, which is
generated tons, according to data from the Ministry of the Environment. Fruits are an example
of organic matter residues, especially tropical ones, due to the location of the Brazilian
territory, which can be used for alcohol production through fermentation processes. Alcohol
can be produced through bagasse, post-harvest waste, urban waste, industrial waste and thus
is highly beneficial and efficient in reducing environmental pollution. Moreover, this form of
exploitation contributes beyond environmentally, economically, because what would be
garbage, now will be raw material for production of an expanding product, due to the rapid
growth of oil prices and the fact that it is a non-renewable source. in short time. Therefore,
waste utilization can leverage local economy, reduce waste accumulation and be
environmentally efficient.

Keywords​: ​Harnessing. Alcohol. Tropical fruits.


6
1 INTRODUÇÃO
Diferentes biocombustíveis podem ser obtidos de diferentes matérias-primas através
de diferentes processos térmicos, químicos e bioquímicos. A partir de açúcares e amidos
(cana-de-açúcar, mandioca, milho, beterraba e trigo), utilizando-se processos fermentativos,
podem ser produzidos etanol, butanol, etil, butil, éter e outros produtos químicos (BALAT e
BALAT, 2009).
Resíduos podem ser utilizados para produção de biocombustíveis. Levando em
consideração os elevados números de produção de resíduos, dados fornecidos pelo Ministério
do Meio Ambiente, o Brasil poderia tornar-se autossuficiente em produção energética.

Figura 01. Quadro informativo sobre composição de resíduos urbanos

Fonte: Dissertação“Dados e informações sobre resíduos sólidos urbanos no Brasil” por Marcelo Chaves Moreira.

A literatura geralmente sugere como alternativa, o aproveitamento de resíduos


orgânicos para a produção de biofertilizantes, a fim de ser utilizado na agricultura, na
produção de biogás e na produção de etanol para a co-geração de energia. (BARREIRA,
2003; GONÇALVES, 2005; LOPES, 2007).
No Brasil, com uma grande área na zona tropical, temos produção em larga escala de
frutas tropicais, seja para exportação ou consumo. É característico destas frutíferas
apresentarem crescimento quase que contínuo, com vários “surtos de crescimento” durante o
ano e possuem folhas persistentes (não caem no inverno) (SOUZA, 2002).
A fruticultura é considerada uma das atividades mais dinâmicas da economia
brasileira e apresenta evolução contínua, tanto no mercado interno quanto externo. (BORGES,
A. L.; ​SOUZA, L. da S.​). Assim, como a fruticultura gera grandes números de produtos no
mercado interno, grandes resíduos também são gerados. Através do aproveitamento desses
7
resíduos, como para a produção de etanol, os impactos ambientais são reduzidos e novas
fontes de economia são geradas.
Segundo Glauco Rodrigues pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, o
patamar elevado dos preços do petróleo aliado às pressões ambientalistas vão à favor do
aumento da utilização de álcool na matriz de transporte. Vários países, entre eles EUA, Japão,
China e membros da União Européia, vêm fazendo testes e/ou estudando a adição de álcool à
gasolina. No entanto, a competitividade do álcool em relação a gasolina diminuiu bastante
neste período de entressafra, já que a conjugação de demanda forte por álcool (mercado
interno e exportação) e ausência de estoques reguladores levou a uma escalada do seu preço.
Entre junho de 2005 e fevereiro de 2006, o preço do álcool ao consumidor subiu 54%
(AGÊNCIA NACIONAL DO PETRÓLEO, 2006).

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Geração de Resíduos


Os resíduos resultantes das atividades agroindustriais são gerados no
processamento de alimentos, madeira, produção de açúcar e álcool, etc. Sua produção é
geralmente, sazonal, condicionada pela maturidade da cultura ou oferta da matéria-prima
(MATOS, 2005). A geração de resíduos orgânicos no caso da cadeia produtiva de frutas
provoca um grande impacto no meio ambiente, as perdas ocorrem desde a colheita, estimado
em 10%, passam pelas etapas de transporte e industrialização, somando 50% e, ainda,
ocorrem durante o preparo de alimentos nas residências dos consumidores, sendo 10% do
desperdício, o qual é gerado pelo processamento culinário inadequado e por maus hábitos
alimentares. (FAO, 2008). Além dessas etapas, perdas ocorrem nas centrais de abastecimento
de todo o País e nos supermercados, sendo 30% o total estimado. Segundo a Organização das
Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, 2008), o Brasil perde cerca de 64% de
toda a produção anual de alimentos, o que onera o preço final, a quantidade e a qualidade dos
produtos. Segundo a EMBRAPA (2007), em países em desenvolvimento mais de 40%
das perdas de alimentos ocorrem nas etapas de pós-colheita e processamento.
Em países industrializados mais de 40% das perdas ocorrem nas etapas do varejo e
consumo e as soluções direcionadas ao produtor passam a ter importância apenas marginal,
uma vez que os consumidores perdem grandes quantidades de alimentos Os resíduos
8
alimentares originados a partir da manipulação desses produtos são basicamente as cascas,
polpas e as folhas das frutas.

2.2 Produção Frutífera

É fato que a produção de frutas influencia fortemente a economia do país produtor,


estima-se que produção mundial de frutas está em torno de 540,0 milhões de toneladas,
correspondendo ao montante de US$162,0 bilhões. O Brasil, depois da China e Índia (55,6
milhões e 48,1 milhões de toneladas, respectivamente), é o 3° maior produtor de frutas do
mundo, estimado em 38 milhões de toneladas no ano de 2003. No Brasil, o investimento em
sistemas de irrigação trouxe o aumento da produção de frutas no nordeste, em regiões do
semi-árido, tornando possível a produção diversas frutas durante o ano todo, com destaque
para a produção de melão, manga e uva. Acredita-se que a região Nordeste, mais
especificamente o Rio Grande do Norte e o Ceará, tem grande potencial para aumentar a
produção frutícola transformando-se em uma vantagem competitiva para esses estados
(ANUÁRIO, 2008). Segundo dados da EMBRAPA – SEMI ÁRIDO, a região do vale do São
Francisco representa cerca de 95% das exportações brasileiras nesse segmento, gerando
aproximadamente US$ 300 milhões por ano e no mercado interno e US$ 400 milhões ao ano,
no mercado externo, gerando mais de 240 mil empregos entre os setores produtivos da região.
Dados do Anuário de fruticultura apontam que a fruticultura brasileira reúne atrativos
e condições favoráveis para produzir e exportar mais frutas ao longo do ano. A produção foi
estimada em 43,5 milhões de toneladas para 2017, abaixo das 44,8 milhões de toneladas do
ano anterior, segundo a Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e
Derivados (Abrafrutas). A produção de frutas poderá aumentar 5% em 2018, beneficiada pelo
clima favorável, projeta Eduardo Brandão, assessor técnico da Comisão de Fruticultura da
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). Portanto, o volume total de frutas
poderá chegar a 45,6 milhões de toneladas.
Devido a grande extensão territorial do Brasil a variedade de frutas produzidas é
grande tanto nas lavouras permanentes quantos nas temporárias, segundo dados do SEBRAE,
as principais frutas produzidas no Brasil de safra permanente são laranja (17549536
toneladas), mamão (1582638 toneladas), uva (1439535 toneladas), coco-da-baía (1926857
toneladas) e banana (6892622 toneladas). As de safra temporária são melancia (2163501
9
toneladas), abacaxi (1655887 toneladas) e melão (565900 toneladas), os maiores produtores
dessas frutas são os estados São Paulo, Bahia e Minas Gerais e entre os maiores exportadores
destacam-se os estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia.
Apesar do país ser o terceiro maior produtor de frutas mundial, segundo dados do
Instituto Brasileiro de Frutas (IBRAF) o Brasil ainda está em 15º lugar no ranking de
exportação de frutas, a justificativa está no consumo interno que absorve parte significativa da
produção. Em 2004 a produção mundial de frutas estava em torno de 540 milhões de
toneladas e a participação do Brasil estava em 48,1 milhões de toneladas gerando uma receita
de 55,6 milhões. Em 2007 a receita gerada pelas exportações teve um crescimento de 34% em
relação a 2006 para um volume 14% maior pelo alto valor agregado tendo a uva como líder
no ranking de exportações. De acordo com o sistema Agrostat, do Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento (MAPA), a fruticultura do nordeste exportou aproximadamente 600
mil toneladas de frutas em 2017, de um total de 878,4 mil toneladas. O restante foi embarcado
pela região Sudeste (158,6 mil toneladas), Sul (102,8 mil toneladas) e Norte (14,1 mil
toneladas). Dos estados nordestinos, os que apresentaram maior importância em relação a
valor de exportação foram o Rio Grande do Norte e o Ceará, somando 346,4 milhões de
dólares. Os maiores mercados para as frutas brasileiras são: a União Européia, EUA e
Canadá, somente a União européia é responsável por 85% das exportações.
Em relação ao consumo interno de frutas no país, principalmente nas Centrais de
Abastecimento (CEASA) nota-se que houve um aumento em 2017. As frutas comercializadas
somaram 4,816 milhões de toneladas, com um aumento de 447,440 mil toneladas em relação
ao volume negociado em 2016. As vendas nos CEASAS chegou a R$ 12,894 bilhões em
2017, com acréscimo de R$ 171,770 milhões, segundo dados do Programa Brasileiro de
Modernização do Mercado de Hortigranjeiro (PROHORT), da Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB).

2.3 Consumo
O crescimento da população e o processo de urbanização juntamente com a elevação
da renda provocaram um aumento no consumo de frutas processadas e de produtos
industrializados de fruta. Segundo dados do HORTIBRASIL a​s frutas processadas mostram
uma grande mudança no perfil do consumo, entre 2003 e 2010. Em 2003 o predomínio (81%)
foi do tipo “conservada” e do tipo “geleia e doce”, seguidos por “suco” (14%). Em 2010, o
10
predomínio foi de “ fruta seca” (38%), seguido por “suco” (21%). Segundo o IBGE ​o
consumo domiciliar brasileiro de frutas tropicais frescas, cresceu 15%, de 22 para 25 kg per
capita, entre 2002 e 2008. O consumo de abacaxi cresceu 76% de 0,84 quilos para 1,48, o
consumo de banana cresceu 9% foi de 7 para 8 quilos, um crescimento de 10% e acerola
cresceu 3% de 121 para 125 gramas. O consumo de suco de fruta envasado cresceu 37% , de
1 quilo para 1,5 quilos, e o de suco de fruta em pó 41%, de 300 para 400 gramas.
Consequentemente houve o aumento de resíduos gerados provocando a necessidade do
reaproveitamento desses resíduos orgânico, criando a necessidade da produção dos
biocombustíveis a partir do processo de fermentação desses resíduos.

2.4 ​Produção de Álcool por Meio de Processos Fermentativos

A obtenção do etanol pode ser realizada por diferentes formas: via degradativa,
sintética e fermentativa. No Brasil a via de obtenção mais utilizada é a fermentativa por
questões econômicas, domínio de tecnologia e disponibilidade de biomassa (Vieira et al.,
2009). Com relação aos processos fermentativos, estes podem ser separados em três tipos:
batelada simples (processo clássico), batelada alimentada (Melle-Boinot) e processo contínuo.
A fermentação alcoólica embasa-se na ação das leveduras sobre a biotransformação
de açúcares em álcool e CO2 (Lima, Marcondes, 2002). É necessária a compreensão de
algumas condições durante a fermentação alcoólica, pois fatores físicos (temperatura, pressão
osmótica), químicos (pH, oxigenação, nutrientes minerais e orgânicos, inibidores) e
microbiológicos (espécie, linhagem e concentração da levedura, contaminação bacteriana)
influenciam no rendimento da fermentação alcoólica e eficiência da conversão de açúcares em
etanol (Lima et al., 2001).
As leveduras são organismos eucarióticos e formam uma das classes mais
importantes dos fungos. As Saccharomyces cerevisiae são as mais utilizadas na produção de
etanol e apresentam-se normalmente na forma unicelular e com 2 a 8 micrômetros de
diâmetro. Estas se reproduzem basicamente por gemação (brotamento), onde a célula mãe,
após um período de união entre os citoplasmas, dá origem a uma nova célula
(STECKELBERG, 2001). Como entidade viva independente, a levedura realiza a
11
fermentação dos açúcares com o objetivo de conseguir a energia química necessária à sua
sobrevivência, sendo o etanol apenas e tão somente um subproduto desse processo. As células
de levedura possuem compartimentos para adequação de sua atividade metabólica. A
fermentação alcoólica (glicólise anaeróbia) ocorre no citoplasma, enquanto que a oxidação
total do açúcar (respiração), se dá na mitocôndria (AMORIM et al, 1996) .
O processo bioquímico pelo qual ocorre a fermentação alcoólica pode ser divido em
duas etapas. Na primeira etapa ocorre a hidrólise da sacarose, convertendo-a em glicose e
frutose pela ação da enzima invertase expressada pela levedura Saccharomyces cerevisiae.
Em uma segunda etapa, as moléculas de hexose (glicose e frutose) formadas pela inversão ou
já presentes no mosto são submetidas à fermentação, num processo anaeróbio em que se
transformam em álcool etílico e dióxido de carbono (LOPES e BORGES, 2009). O etanol
acumulado no caldo durante a fermentação é o principal componente tóxico para a levedura
(MAIORELLA; BLANCH; WILKE, 1983). Em concentrações acima de 40 g.L-1, o etanol
passa a afetar o crescimento celular e consequentemente a velocidade de produção de etanol
reduzindo, portanto, a produtividade volumétrica do processo (AIBA; SHODA; NAGATANI,
1968).

2.5 ​Produção de Álcool através da Fermentação de Frutas Tropicais


Um dos fatores mais importantes de qualidade das frutas é o sabor, dado pelo teor de
açúcares solúveis contidos nela e também de ácidos orgânicos. Durante o amadurecimento o
conteúdo de ácidos orgânicos diminui e o de açúcares aumenta (MEDLICOTT, A.P.;
THOMPSON, A.K. 1985). A sacarose é o principal açúcar da manga madura (MATOO, et al,
1975).
Na tabela abaixo observa-se a quantidade de açúcares em algumas frutas tropicais. É
notório que algumas apresentam grandes quantidade de determinados açúcares. Sabendo que
os processos fermentativos requerem esse elemento para que o processo ocorra, pode-se
inferir que a produção de álcool utilizando resíduos desses produtos pode ser eficiente em
termos de rendimento.

Tabela 01. Composição de açúcares em frutas tropicais


12

Fonte: Estudo da composição de açúcares em frutas tropicais do Nordeste Brasileiro Estudo da composição de
açúcares em frutas tropicais do Nordeste Brasileiro, Sociedade Brasileira de Química ( SBQ).

A produção de etanol a partir de resíduos agrícolas foi analisada técnica e


economicamente por Sitton et ai. (1979), utilizando resíduos de milho. No caso de tascas de
frutos deve considerar-se em primeiro lugar a sua composição química, que durante o
amadurecimento a casca sofre transformações do tipo encontrado quanto ao fruto (Fernandes
et ai. 1979).

2.6 Comparação da Produção de Álcool


​As matérias-primas mais utilizadas no Brasil, comercialmente, para a produção de etanol
são a cana-de-açúcar e os resíduos da produção de açúcar a partir da cana-de-açúcar. Segundo
Léo da Rocha Lima, as matérias-primas disponíveis para a indústria do etanol são
classificadas, para efeito didático, em: matérias-primas açucaradas; matérias-primas amiláceas
e feculentas; matérias-primas celulósicas.
Encerram em sua composição o amido, polissacarídeo de fórmula geral (CH, 50), reserva
das plantas verdes, encontrado em altos teores em grãos de cereais, raízes e tubérculos.
Exemplos de matérias-primas amiláceas: milho, sorgo granífero, arroz, cevada, trigo, aveia,
centeio etc.; e feculentas: mandioca, cará, batata-doce, batata-inglesa, araruta, raiz de girassol,
coco de babaçu etc.
Os açúcares presentes nas matérias primas açucaradas são comumente denominados
de açúcares fermentescíveis, pois os microrganismos que geralmente são utilizados nesse
13
processo metabolizam com facilidade frutose, glicose e sacarose. Entretanto, as
matérias-primas amiláceas e celulósicas possuem moléculas de carboidratos maiores,
dificultando o processo fermentativo para o microrganismo, sendo necessária, geralmente,
uma ação enzimática prévia. A enzima será responsável por catalisar uma reação de quebra da
molécula de carboidrato, retirando as ligações glicosídicas. Com a ação enzimática, os
açúcares de maior cadeia irão diminuir, tornando-se açúcares fermentescíveis, o ideal para
fermentação com a maioria dos microorganismos (MASIERO, 2012).
A indústria sucroalcooleira é uma das mais relevantes na produção de etanol. A
cana-de-açúcar como matéria-prima tem aspectos positivos devido a sua composição que, em
média, 75% de água, 12% de sólidos totais, 10% de sacarose, 0,5% de não açúcares
orgânicos e 0,3% de não açúcares inorgânicos (MASIERO, 2012). A presença de compostos
açucarados na cana-de-açúcar é bem relevante e demonstra o potencial da matéria-prima para
ser utilizada em processos de fermentação alcoólica para obtenção de etanol.
No Brasil, as usinas seguem as etapas de moagem, uma operação unitária de redução
de tamanho, clarificação e concentração do caldo, em seguida, são transferidos para dornas,
onde o mosto produzido será colocado em contato com leveduras que iniciarão o processo
fermentativo. Em seguida, após o fim da fermentação, haverá um processo de separação do
vinho e das leveduras, com auxílio de uma centrífuga. O vinho seguirá para torres de
destilação, onde através dessa operação unitária será produzido etanol hidratado. O
fluxograma na figura 02 retrata o processo de produção de etanol com cana-de-açúcar.
Figura 02. Fluxograma de produção de etanol através de cana-de-açúcar
14
Fonte: Dissertação “Microusinas de Etanol de Batata Doce: viabilidade econômica e técnica” por Sara
Scomazzon Masiero.

Além da cana-de-açúcar, outros produtos de origem vegetal também são utilizados


como base para produção de etanol, como é o caso do abacaxi. De acordo com Martin et al.
(2012), apenas uma faixa entre 22,5% a 35% do abacaxi são utilizados para consumo
humano, o sobressalente é descartado e tratado como resíduo. Dessa forma, uma saída para
tratar esse resíduo é a obtenção de biocombustível através da sua fermentação.
As etapas para obtenção do etanol através do abacaxi são: preparo do caldo através da
centrifugação para trituração dos resíduos da fruta, em seguida, o caldo é filtrado e inserido
no reator para fermentação. Após o período de fermentação, o mosto é levado a um
evaporador rotativo para separação em uma mistura de água e etanol.

4 CONCLUSÃO

Dado o cenário do Brasil, um país de região tropical de grande escala de produção


frutífera, é fundamental investigar, estudar e viabilizar maneiras e processos de
reaproveitamento do resíduo gerado pela produção das frutas tropicais. A produção de
biocombustível através do resíduo gerado no processo produtivo de frutas é responsável por
sanar algumas disfunções que ocorrem nessa cadeia produtiva, fazendo com que o que antes
era inutilizado, agora se torne um coproduto do processo.
A indústria da fruticultura no Brasil é um mercado em constante crescimento, ou seja,
há um grande espectro de pesquisas e inovações que podem ser realizadas nesse âmbito, tanto
para melhorias intrínsecas ao processo, como também para fins de analisar toda a emergia do
que se está sendo produzido. Vale ressaltar que de acordo com as regras de emergia, a
quantidade total de capacidade emergética gasta para os produtos é a mesma gasta para
produção dos coprodutos, assim se torna imprescindível a potencialização dos estudos
relacionados ao tratamento dos resíduos inerentes a processos alimentícios.
Tal fato, torna o estudo de reaproveitamento benéfico para produtores, visto que irá
gerar uma melhoria econômica: o que antes era destinado ao despejo, passar a ser levado a
uma zona de tratamento de resíduos, acarretando a existência de um novo valor agregado a
toda essa cadeia produtiva. A produção de etanol através de frutas tropicais por processo
15
fermentativo é de fácil processamento, não sendo necessário altos investimentos para
implementação e gera um valor econômico. Devido a facilidade de obtenção do etanol,
também é possível a produção do mesmo por pequenos produtores.
Assim, há diversas oportunidades de pesquisas e trabalhos no campo de coprodutos
relacionados à frutas tropicais, mostrando ser uma área de estudo grandemente importante
para a área de Ciência de Alimentos, podendo ser relacionadas com áreas ambientais e de
sustentabilidade.

REFERÊNCIAS

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