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Universidade Federal de Viçosa Campus Rio Paranaíba

ICET - Instituto de Ciências Exatas e Tecnológicas

ENP 492 – Metodologia de Pesquisa para Engenharia de Produção

Professor: Samuel Borges Barbosa

LAIS GONÇALVES VIANA - 6692


JANAINE DE FÁTIMA RIBEIRO - 6721

LOGÍSTICA REVERSA NO RETORNO DE EMBALAGENS DE


AGROQUÍMICOS: UM ESTUDO EM EMPRESAS DO SETOR AGRÍCOLA
SITUADAS NO ALTO PARANAÍBA

RIO PARANAÍBA-MINAS GERAIS


2023
RESUMO

Devido à preocupação com a sustentabilidade e os impactos formados pelo setor


agrícola, encontra-se o desafio para o equilíbrio das duas partes. Dessa forma, a logística
reversa vem como fator mitigador dos efeitos causados pelas embalagens dos agroquímicos,
para que seja feita a destinação correta desses resíduos. O presente estudo objetiva analisar
como ocorre a logística reversa das embalagens, de forma compreender a eficácia desse
processo baseado na legislação brasileira e nos princípios da sustentabilidade, focando-se na
observação de três empresas do setor agrícola situadas na região do Alto Paranaíba. Os dados
serão coletados por meio de pesquisas bibliográficas em artigos, livros e/ou internet e por
entrevistas semiestruturadas com os responsáveis das instituições. Através das informações
obtidas a respeito do volume de agroquímicos comprados e embalagens devolvidas pela
organização espera-se que haja um equilíbrio entre essas quantidades, resultando em uma
benevolente logística reversa.

Palavras-chaves: Logística Reversa; Agroquímicos; Embalagens; Meio Ambiente.

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1. Contextualização

O setor agrícola cresceu de forma exponencial nas últimas décadas no Brasil,


transformando-se na principal variável econômica para o país, ocupando uma posição de
destaque no cenário mundial na produção de alimentos, fato que demanda um alto consumo de
insumos agrícolas como sementes, agroquímicos e fertilizantes. O valor bruto da produção
agropecuária de 2020 alcançou uma quantia de R$871,3 bilhões, tornando-se o maior da série
histórica dos últimos 32 anos (AGÊNCIA BRASIL, 2021). Ainda, de acordo com Pignati
(2012), o Brasil é o maior consumidor de agroquímicos do mundo, sendo uma das razões o fato
de ser um dos maiores produtores agrícolas mundiais, principalmente de soja, uma cultura com
um dos índices mais elevados de defensivos químicos.
No entanto, as atividades agrícolas geram diversos tipos de resíduos, dentre eles, as
embalagens de agroquímicos. O destino final desse tipo de resíduo sólido continua sendo um
desafio para a sociedade moderna, que concebe, consome e descarta produtos de difícil
degradação e alto potencial poluidor, causando sérios problemas ambientais como a
contaminação do solo e da água proporcionando riscos à saúde do meio ambiente (SILVA,
2018; MELGAREJO e LEITE, 2021). Os problemas ambientais causados ​pela má gestão
desses resíduos devem-se, em parte, à falta de orientação técnica e fiscalização na
comercialização de agroquímicos de venda livre. Segundo Corcino (2019), essa situação já vem
sendo alertada por muitos pesquisadores há algum tempo.
A legislação brasileira de embalagens e descontaminação é uma das que mais
preocupa o mundo avançado. No âmbito federal, é citada a Lei de Agrotóxicos (Brasil, 1989),
atualizando Lei de Agrotóxicos (Brasil, 2000), Política Nacional de Resíduos Sólidos (Brasil,
2010) e Lei de Agrotóxicos (Brasil, 2002), orientando as atividades que abrangem o uso de
agroquímicos e orientações sobre destinação final de resíduos e embalagens. Conforme a Lei
de Agrotóxicos, os agricultores são obrigados a cumprir o tríplice de lavagem, furar e devolver
a embalagem no prazo de um ano a partir da data de compra, no local indicado na nota fiscal.
Os comerciantes devem fornecer um local para as devoluções, o qual deve ser indicado na nota
fiscal de venda. Por outro lado, os postos/centrais de recebimento são responsáveis por receber
as embalagens vazias, separando-as (contaminadas e não contaminadas). Por último, cabe ao
fabricante do produto encaminhar as embalagens lavadas para a reciclagem ou realizar a
incineração das mesmas.

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Dessa forma, a logística reversa opera e controla o fluxo e as informações logísticas
correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós consumo e pode trazer
contribuições para o desenvolvimento sustentável uma vez que agrega valor aos bens nas mais
diversas naturezas: econômica, ecológica, legal, logística de imagem corporativa
(MARCHESE, 2013). Sendo assim, essa logística tem como objetivos principais, o
recolhimento e reaproveitamento de produtos e materiais que dispuseram do seu ciclo
produtivo encerrado, apresentando o processo inverso da logística tradicional, pois esta se
baseia no fluxo da origem do produto para o seu ponto de consumo (LACERDA, 2002).
Devido às preocupações com o desgaste ambiental e escassez de matéria-prima, essa
contracorrente vem ganhando cada vez mais espaço no mundo comercial, havendo a
necessidade de conscientizar a população sobre a importância de uma produção mais
sustentável (COSTA e VALLE, 2006).

2. Problema de pesquisa

Nas últimas décadas, a produção de produtos vem atingindo grandes recordes


mundialmente, esse cenário é devido às novas tecnologias implantadas no setor agrícola, com o
intuito de suprir a grande demanda do mercado consumidor mundial. Dessa forma, com a
finalidade de controlar as plantas invasoras, pragas e doenças que surgiram com o decorrer do
tempo, fez se necessário a utilização do uso dos agrotóxicos pelo homem com o objetivo de
minimizar as perdas e comprometimento do rendimento da produção.
No entanto, ao mesmo tempo em que são importantes para garantir incremento de
produtividade na agricultura, podem causar intoxicação ao homem e degradação do meio
ambiente pelo seu uso incorreto e não racional, incluindo-se a destinação final das embalagens
depois de utilizadas, as quais demoram mais de 100 anos para se decompor. Além disso, os
resíduos presentes nessas embalagens enquadram-se na categoria de resíduos perigosos por
conterem substâncias químicas que alteram o ambiente nas suas mais diferentes formas de
vida, comprometendo de forma definitiva a cadeia natural, interferindo diretamente na saúde da
população e no meio ambiente.
Diante do exposto, fica evidente a importância dos consumidores fazerem um descarte
correto das embalagens de agroquímicos conforme prescrito na legislação, essa situação fornece
fundamentos primordiais para levantar a seguinte pergunta de pesquisa: Qual a eficiência da
Logística Reversa no retorno de embalagens de agrotóxicos das principais empresas do
setor agrícola situadas no Alto Paranaíba?

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3. Objetivos

3.1 Objetivo geral


Analisar o processo de logística reversa de embalagens de agroquímicos em
três empresas do setor agrícola localizadas no Alto do Paranaíba.

3.2 Objetivos específicos


● Descrever os processos logísticos das empresas;
● Enumerar os pontos de coleta de embalagens de agroquímicos
existentes;
● Quantificar as embalagens de agroquímicos usadas por período;
● Avaliar a destinação final das embalagens dos agroquímicos utilizados.

4. Justificativa

Ao observar a atividade econômica da região do Alto Paranaíba, conclui-se que há


uma maior predominância de produção agrícola, sendo uma das principais regiões do
agronegócio de Minas Gerais, de acordo com IBGE (2013), o Alto Paranaíba produziu 2,6
milhões de toneladas de grãos, totalizando 22% da safra mineira; além disso, essa área tem o
destaque no cultivo de cana-de-açúcar, café e laranja. De acordo com o Itamar Santos (2022), o
Brasil atualmente produz 3,8 milhões de toneladas para cada 1 milhão de hectares semeado,
dessa forma, na região do Alto Paranaíba há o cultivo de 684 mil ha de grão e utiliza 2,4
milhões de kg de agrotóxico por ano, baseado na estatística feita pelo IBGE (2010), que o
produtor brasileiro utiliza em média 3,6 kg de agroquímicos por ha.
A utilização destes produtos gera uma crescente produção de resíduos que possuem a
necessidade de um descarte correto. Nesse sentido, a logística reversa vem com o intuito de
mitigar o impacto negativo preservando a sustentabilidade na área estudada, assim, a devolução
adequada dessas embalagens diminui a contaminação do solo, dos rios e animais. Nesse
contexto, será delimitado a análise de três empresas que possuem produção de abacate, alho,
beterraba, blueberry, café arábica, cenoura, milho, trigo, soja e repolho. O presente trabalho
tem por foco, portanto, promover um indicativo nas empresas do setor agrícola da região do
Alto Paranaíba, sobre a devolução das embalagens e ao seu descarte, em relação à uma análise
sustentável e baseada na legislação brasileira. Em consequência deste estudo poderá ter uma

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nova análise sobre a conscientização do uso da logística reversa e da sustentabilidade ambiental
voltada para os produtores rurais.

5. Referencial teórico

5.1) Logística Reversa


A logística é definida, de acordo com o Council of Supply Chain Management
Professionals (CSCMP, 2007), como a área responsável pelo planejamento, implementação e
controle do fluxo de operações, como a armazenagem de bens, serviços e informações com o
foco de atender às necessidades dos clientes. Ela tem como objetivo conciliar o custo e a
entrega do serviço, trazendo o equilíbrio entre a necessidade e a expectativa do consumidor
com os produtos/serviços de uma organização, sendo assim, é considerado cinco aspectos
importantes: projeto de rede, informações, transporte, estoque e armazenagem. Dessa forma,
entende-se que as atividades da logística é vasta:

«Logística ou a Gestão Logística inclui as atividades de sourcing e de procurement, o


planeamento e programação da produção, a embalagem, a assemblagem e o serviço
ao cliente. A Logística ou a Gestão Logística está envolvida em todos os níveis de
planeamento e execução – estratégico, táctico e operacional. A Gestão Logística é
integradora e coordenadora, procurando melhorar as atividades Logísticas e integrar a
Logística com as demais funções da empresa, entre elas o marketing, as vendas, a
produção, a área financeira e as tecnologias de informação» (CSCMP, 2010).

Devido a sua amplitude de utilização, existe a área da logística reversa, na qual é


conceituada na sustentabilidade ecológica e econômica pela prática de operacionalizar o
retorno de resíduos de pós-venda e pós-consumo, englobando todas as atividades logísticas de
coletar, desmontar e processar produtos e/ou materiais e peças usadas a fim de assegurar uma
recuperação ambiental (LEITE, 2017). Portanto, a logística reversa começa atuar no momento
em que a logística direta encerra as suas práticas e assim, é possível reinserir elementos no
sistema produtivo. Além de mitigar um impacto considerável no meio ambiente, é possível
gerar um retorno econômico através das seguintes atividades: o processamento de retorno de
mercadorias, reciclagem dos materiais, descarte de equipamentos obsoletos e recuperação de
patrimônio.
«O Reverse Logistics Executive Council - RLEC define logística reversa como sendo
o processo de movimentação de mercadorias do seu destino final típico para outro

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ponto, com o objetivo de obter valor de outra maneira indisponível, ou com o objetivo
de efetuar a disposição final dos produtos» (P Guarnieri, 2011).

Em conformidade com Leite (2017), a logística reversa possui duas categorias de


canais de distribuição, o pós venda e pós o consumo. O primeiro conceito se define pelo
retorno de uma parcela de produtos com pouco ou nenhum uso, feito pelo sentido inverso
(consumidor - varejista) motivados pelo de término de validade, por problemas de qualidade
ou defeito, consignação e entre outros. Enquanto no pós consumo, se refere aos materiais que
são destinados ao descarte, sendo caracterizado três subsistemas reversos: os canais reversos
de reuso, os de remanufatura e os de reciclagem. Os canais de reuso são representados por
produtos que possuem uma extensão maior de uso, como os bens duráveis ou semiduráveis. A
remanufatura acontece quando algum artefato tem algum reaproveitamento mediante a
substituição de componentes complementares. Enquanto a reciclagem opera na transformação
de itens em matérias primas secundárias que serão utilizadas para a fabricação de novos
produtos. Além disso, acontece a disposição final em que é feita em artefatos e resíduos que
não possuem condição de revalorização, onde poderá ser depositado em aterros sanitários ou
feito a incineração.
De acordo com Leite (2017) a logística reversa influencia diretamente na
competitividade entre as empresas quando feita em integração de estratégia e marketing.
Enquanto ao uso da logística reversa no pós-consumo, há ganhos de visão no mercado sobre o
impacto dos produtos no meio ambiente e a demonstração da sustentabilidade na organização.
Isso é consequência do fato que atualmente os clientes são mais conscientes sobre as questões
ambientais e por isso valorizam as empresas que adotam essa postura. Além disso, as
instituições diminuem o risco da imagem ao usar a logística reversa para enquadrar nos
padrões estabelecidos pelas normas de qualidade e pela legislação brasileira.
Dessa forma, os ganhos de competitividade estão relacionados às atividades da
logística reversa, por isso, ao fazer o reaproveitamento de componentes e de materiais
constituintes, através da coleta e suprimento de produtos de retorno à linha de desmanche,
favorece a diminuição de custos operacionais na confecção do produto. A estratégia de
adequação fiscal influencia diretamente nos custos, Leite (2017, p 200) descreve: “Essas
economias fiscais podem provir da adequação da classificação fiscal de suas atividades
reversas ou da adequação aos preceitos fiscais brasileiros à rede logística reversa
implementada”. Portanto, quando esses fatores atuam em conjunto, eles favorecem ganhos
financeiros, imagem da marca e reputação.

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5.2) Agronegócio e o uso de agroquímicos no Brasil
O agronegócio, expressão tradicional conhecida pelo termo em inglês agribusiness ,
inclui toda a cadeia produtiva da agricultura e pecuária, desde a fabricação dos insumos
essenciais, à produção e os procedimentos envolvidos, até o consumo final dos produtos
agrícolas (BIALOSKORSKI NETO, 1994). Nesta cadeia são desenvolvidos diversos serviços:
pesquisa, processamento, comercialização, exportação, distribuição, consumo, entre outros.
(CONTINI et al., 2006). Dessa forma, o agronegócio tem papel fundamental na economia
brasileira, pois gera empregos e renda, participa ativamente do saldo positivo da balança
comercial brasileira e destaca o país no comércio internacional. O Brasil é o terceiro maior
exportador de commodities2 e ocupa o primeiro lugar em açúcar, café, suco de laranja, carne
bovina e frango (ASSAD et al., 2012).
Além disso, o Brasil tem sido considerado um dos principais produtores de
combustíveis agrícolas como cana-de-açúcar, mamona, a própria soja, óleo de palma, entre
outros, que são as matérias-primas para a produção de etanol e biodiesel. Em todo o mundo, a
área total de cultivo de matérias-primas para agrocombustíveis foi estimada em 36 milhões de
hectares em 2008, o dobro do valor de 2004. Destes, 8,3 milhões de hectares estão na União
Europeia, com cultivo de canola; 7,5 milhões nos Estados Unidos, com plantações de milho; e
6,4 milhões de hectares na América Latina, principalmente cultivo de cana-de-açúcar no
Brasil (Banco Mundial, 2010). Ainda segundo o Banco Mundial (2010), a maior participação
do agrocombustível brasileiro no mercado mundial se dá principalmente na produção de
milho, soja e cana-de-açúcar.
Devido à importância do agronegócio para a economia brasileira, o agronegócio é um
dos principais receptores de investimentos governamentais, o que incentiva a expansão do
mercado de novas técnicas de monocultura. Porém, com o crescimento do setor, cresce a
preocupação com os impactos ambientais da agropecuária, principalmente relacionados ao
consumo de água, uso de defensivos e fertilizantes, emissão de gás metano, desmatamento e
queima de matérias-primas para expansão do agronegócio (ASSAD et al., 2012). A conversão
de áreas florestais para cultivos representa uma mudança dramática no ecossistema original,
pois produz mudanças morfológicas, físicas, químicas e biológicas nas propriedades do solo,
e por isso tem grandes impactos devido a mudanças nos mecanismos naturais de circulação e
conservação do sistema (LIMA et al. 2011; LUIZÃO et al. 2006). Portanto, pode-se dizer que
os impactos ambientais advindos das atividades agrícolas sobre os recursos naturais se devem
da mudança no uso da terra, provocado pela supressão da vegetação natural e sua conversão

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em terras agricultáveis, da degradação do solo das áreas cultivadas, práticas inadequadas de
manejo (SAMBUICHI et al., 2012), e abuso de pesticidas e fertilizantes.
Devido à sua toxicidade, persistência no solo e níveis crescentes no meio ambiente, o
uso excessivo de agrotóxicos na agricultura é considerado um importante contribuinte para a
poluição do solo, da água e do ar (OLIVEIRA et al., 2006 ; SILVERIO et al ., 2012).
Estima-se que apenas 30% da quantidade total de agrotóxicos permaneçam nas plantas. Os
impactos negativos desses produtos nos ecossistemas naturais e cultivados incluem alterações
na microbiologia do solo, morte de polinizadores e organismos que controlam as populações
de pragas e danos às lavouras, além da poluição ambiental (PINHEIRO e FREITAS, 2010).Os
fertilizantes, quando aplicados em grandes quantidades, também causam impactos ambientais
significativos que podem levar à eutrofização de cursos de rios, lagos e nascentes,
acidificação do solo, contaminação de aquíferos, produção de gases relacionados ao efeito
estufa e destruição da camada de ozônio (SAMBUICHI et al., 2012). Dessa forma, os
impactos gerados nos solos podem provocar impactos nas águas superficiais e subsuperficiais
e, estas, por sua vez, podem afetar a fauna e os seres humanos. Segundo Silvério et al (2012),
o consumo dessas águas ou seu reuso na agricultura traz riscos à saúde pública, além de poluir
os recursos naturais. Portanto, a persistência, magnitude e riscos desses impactos sobre os
recursos naturais e a biodiversidade ao longo do tempo requerem mais pesquisas.

5.3)Legislação brasileira e as embalagens de agroquímicos


Embora a legislação tenha adotado medidas para flexibilizar o registro do uso de
agrotóxicos, ainda existem leis rígidas que regem esses produtos e sua destinação. Como a
norma ISO 14000, que tem como objetivo o equilíbrio e proteção ambiental, a prevenção da
poluição e dos possíveis problemas que ela pode trazer à sociedade e à economia (ABNT,
2019), e devido a vasta legislação ambiental, maiores responsabilidades tem sido destinadas
às empresas quanto ao ciclo de vida total de seus produtos, desde a sua utilização até os
possíveis impactos ambientais causados pelo seu descarte, como diz Boldrin et al. (2007).
De acordo com Galvão et al. (2011), antes da legislação, todo produto comercializado
chegava às mãos do agricultor com uma bula que o orientava como acondicionar essas
embalagens no ambiente rural, onde o mais comum era o aterro, e segue uma série de
procedimentos técnicos pouco aplicados pelos agricultores, levando também à incineração. E
ainda que parte desses recipientes seja retornada ou reciclada, para muitas outras o destino é

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ainda incerto, diz Oliveira e Camargo (2014). Afim de evitar que esse tipo de prática se repita
novamente, foram criadas diversas leis especificamente voltadas para as embalagens de
agroquímicos, o quadro 1 mostra as principais legislações e regulamentos específicos no
Brasil.

Quadro 1 - Regulamentação específica sobre agrotóxicos

Legislação O que regulamenta

Lei 6.938 / 1981 Dispõe sobre a Política Nacional do Meio


Ambiente, seus fins e mecanismos de
formulação e aplicação e dá outras
providências.

Lei 7.802 / 1989 – Lei dos Agrotóxicos Dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a
produção, a embalagem e rotulagem, o
transporte, o armazenamento, a
comercialização, a propaganda comercial, a
utilização, a importação, a exportação, o
destino final dos resíduos e embalagens, o
registro, a classificação, o controle, a
inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus
componentes e afins e dá outras
providências.

Decreto 98.816 / 1990 Regulamenta a Lei Nº 7.802, de 11 de julho


de 1989.

Lei 9.605 / 1998 – Lei dos Crimes Dispõe sobre as sanções penais e
Ambientais administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente e dá
outras providências.

Lei 9.974 / 2000 Altera a Lei no 7.802, de 11 de julho de 1989


e regulamenta a obrigatoriedade do
recolhimento das embalagens pelas empresas
produtoras e comercializadoras de
agrotóxicos.

Decreto 3.550 / 2000 Dá nova redação aos dispositivos do Decreto


nº 98.816, de 11 de janeiro de 1990.

Decreto 3.828 / 2001 Altera e inclui dispositivos ao Decreto nº


98.816 de 11 de janeiro de 1990, que dispõe
sobre o controle e a fiscalização de
agrotóxicos e dá outras providências.

Decreto 3.694 / 2002 Altera e inclui dispositivos ao Decreto nº


98.816 de 11 de janeiro de 1990.

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Decreto 4.074 / 2002 Regulamenta a Lei no 7.802, de 11 de julho
de 1989.

Resolução - CONAMA 465 / 2014 Dispõe sobre os procedimentos de


licenciamento ambiental de estabelecimentos
destinados ao recebimento de embalagens
vazias de agrotóxicos.
Fonte: Legislações específicas.
A Legislação Ambiental brasileira procura traçar sua direção para a responsabilidade
das empresas em controlar o ciclo de vida do produto e não apenas a responsabilidade de
entregar o mesmo, como afirma Boldrin et al. (2007).
Cientes da necessidade em ter um órgão que dê auxílio neste processo, foi criado em
14 de dezembro de 2001 no Brasil, durante assembleia na Casa da Fazenda, o Instituto
Nacional de Processamento de Embalagens Vazias -InpEV, que iniciou suas atividades em
janeiro de 2002, para atender e executar as atividades determinadas pela lei, sendo uma
entidade sem fins lucrativos que representa diversas categorias de associações e empresas do
setor agroquímico, cuja missão é gerir o processamento de embalagens vazias de
fitossanitários no Brasil, além de cumprir as responsabilidades impostas pela legislação para o
setor, canais de distribuição e agricultores. O instituto conta com a associação de diversos
agentes ligados ao agronegócio com o objetivo de implementar um sistema ágil e eficiente
para o descarte de embalagens vazias de agrotóxicos. Seu objetivo é fornecer apoio logístico
em nível nacional para que todos os envolvidos nesta cadeia do agronegócio contribuam
efetivamente para a sustentabilidade ambiental (INPEV, 2020).

6. Procedimentos metodológicos

O projeto de pesquisa propõe realizar o estudo que possui como foco o levantamento e
descrição dos processos operacionais da logística reversa em três principais empresas do setor
agrícola situadas na região do Alto Paranaíba. Elas dispõem da produção de abacate, alho,
beterraba, blueberry, café arábica, cenoura, milho, trigo, soja e repolho. A primeira empresa
tem 50 mil ha de produção, enquanto a segunda e a terceira detém de 3,20 ha e 160 ha,
respectivamente.
Em relação à natureza deste trabalho, emprega-se a pesquisa aplicada, no qual
concentra em torno dos problemas presentes nas atividades de uma organização. Ela está
sempre empenhada na elaboração de diagnósticos, identificação de problemas e busca de

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soluções (THIOLLENT, 2009, p.36). Quanto aos objetivos, será usado a pesquisa
exploratória, em que há a finalidade de propor mais informações do caso estudado, o que
possibilita a definição e o delineamento (CLEBER CRISTIANO E ERNANI CESAR, 2013).
Ela será realizada por meio do levantamento bibliográfico, entrevista com pessoas
relacionadas à empresa e análise de exemplos que estimulam a compreensão sobre os
processos logísticos de devolução das embalagens de agrotóxicos. A metodologia utilizada
para os procedimentos será o estudo de caso, de acordo com Cleber Cristiano e Ernani Cesar
(2013), o estudo de caso visa a coleta de informações que possuem o objetivo de investigar
uma unidade de forma aprofundada.
Por meio da coleta de dados numéricos, será feito uma pesquisa quantitativa para
validar hipóteses, rejeitá-las ou a título informativo; e uma pesquisa qualitativa para realizar a
interpretação dos fenômenos e atribuí-los a seus significados. Para Cleber Cristiano e Ernani
Cesar (2013), a pesquisa quantitativa requer técnicas estatísticas, como por exemplo
porcentagem, média, desvio padrão e etc, após a formulação das hipóteses é feito a
classificação de acordo com suas variáveis para que elas tenham precisão em seus resultados.
Enquanto a pesquisa qualitativa, o ambiente natural é a fonte direta para a coleta de dados e o
pesquisador é o instrumento-chave, o processo e seu significado são os focos principais de
abordagem (CLEBER CRISTIANO E ERNANI CESAR, 2013). Após a escolha do tema e a
revisão de literatura feita por artigos científicos e livros, será feito o levantamento de dados
em relação às empresas do setor agrícola, o entendimento e avaliação dos pontos de coleta de
embalagens, análise da quantidade de agrotóxico utilizado por hectare e o processo logístico
para o descarte das embalagens feito pela empresa, por meio da internet e elaboração de
questionários. Posteriormente, será feita a análise dos dados e por fim será feita a conclusão
sobre o problema. Nesse sentido, foi elaborado uma tabela das etapas de construção da
pesquisa:

Tabela I: Etapas de Elaboração da Pesquisa

Ordem Etapa

1º Revisão teórica

2º Entrevista nas empresas

3º Contagem do uso de agrotóxicos e das embalagens


geradas

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4º Levantamento de pontos de coleta de embalagens

5° Análise do sistema logístico das empresas


Fonte: Autores (2023)

7. Resultados esperados
A responsabilidade pela devolução das embalagens de agroquímicos é do consumidor,
que deve despachá-las à unidade receptora (posto ou central) indicada na nota fiscal de compra
no prazo de um ano a partir da data da compra, dessa forma, buscando atingir o objetivo da
pesquisa, por meio de um estudo de caso em três principais empresas do setor agrícola
localizadas no Alto Paranaíba espera-se que as mesmas após utilizar os agroquímicos separe as
embalagens em lavável, não lavável e contaminada. Posteriormente, as embalagens laváveis
devem passar pelo processo de tríplice de lavagem, em seguida, ambas as embalagens
juntamente com suas tampas e rótulos, devem ser encaminhadas à empresas produtoras e
comercializadoras, à reutilização, reciclagem ou inutilização, obedecidas normas e instruções
dos órgãos registrantes e sanitários ambientais competentes, conforme prescrito pelo INVEP.
Ainda, através dos dados coletados a respeito do volume de agroquímicos comprados e
embalagens devolvidas pelas organizações espera-se que haja um equilíbrio entre essas
quantidades, resultando em uma benevolente logística reversa. Caso haja uma discrepância
muito grande desses dados é necessário apresentar para as empresas a legislação e a
importância do descarte correto dessas embalagens para a saúde do ser humano e a preservação
do meio ambiente, como abordado no presente trabalho. Portanto, para que a pesquisa seja
válida, é esperado que o trabalho tenha continuidade e seja concretizado na prática.

8. Referências bibliográficas

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