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Estudo

de Caso

Transporte e Distribuição

Professor: Marné Junior


Unicesumar
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estudo de
caso

A Logística Reversa das Embalagens Vazias de


Agrotóxico
Consoante Leite (2003), a logística reversa é uma nova área da logística empresarial que visa
equacionar os aspectos logísticos do retorno dos bens ao ciclo produtivo ou de negócios
por meio da multiplicidade de canais de distribuição reversos de pós-venda e de pós-con-
sumo, agregando-lhes valor econômico, ecológico, legal e de localização.
Segundo Rodrigues et al. (2002) e Leite (2003), várias são as razões ao estímulo à logística
reversa: (i) sensibilidade ecológica; (ii) pressões legais, como marcos regulatórios; (iii) redução
do ciclo de vida dos produtos; (iv) redução de custos; e (v) competitividade.
Conforme a Lei no 7.802/89 (BRASIL, 1989), agrotóxicos são produtos químicos usados nos
setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pas-
tagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas, de outros ecossistemas e, também,
de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora
ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem
como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimulado-
res e inibidores de crescimento.
Sato et al. (2006) observam que o Brasil é um país de grande extensão de áreas agrícolas,
cujo consumo de agrotóxicos é bastante elevado, o que gera uma quantidade significativa de
embalagens utilizadas, as quais devem, por conseguinte, serem retornadas e recicladas. Na
safra de 2000/2001, foram utilizadas no campo 130 milhões de embalagens de agrotóxicos.
Na safra de 2001/2002, o consumo de agrotóxicos atingiu a quantidade de 32 mil toneladas
(INPEV, 2009). Grande parte dessas embalagens teve destino desconhecido, pois até essa
data ainda não havia um marco regulatório disciplinando o retorno de tais embalagens.
Os problemas ambientais causados por essas embalagens têm sido estudados por várias
organizações governamentais e não governamentais e estão intrinsecamente ligados à
questão do desenvolvimento sustentável. E, na direção da preservação do meio ambiente, o
Brasil promulgou, em junho de 2001, o principal marco regulatório no que tange à logística
reversa de embalagens vazias de agrotóxicos, consubstanciada na Lei no 9.974/00 e comple-
mentada pelo Decreto-Lei 4.074/02, que entrou em vigor em 2002, regulamentando, entre
outras atividades, o transporte e a destinação final das embalagens vazias.
Dentre as exigências desses marcos regulatórios estabelecidos, estão explicitadas as se-
guintes determinações na Lei no 9.974/00 (BRASIL, 2000):
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§ 5o As empresas produtoras e comercializadoras de agrotóxicos, seus componentes e afins,


são responsáveis pela destinação das embalagens vazias dos produtos por elas fabricados e
comercializados, após a devolução pelos usuários, e pela dos produtos apreendidos pela ação fis-
calizatória e dos impróprios para utilização ou em desuso, com vistas à sua reutilização, reciclagem
ou inutilização, obedecidas as normas e instruções dos órgãos registrantes e sanitário-ambien-
tais competentes.” (AC).

Art. 7o Para serem vendidos ou expostos à venda em todo o território nacional, os agrotóxicos e
afins são obrigados a exibir rótulos próprios e bulas, redigidos em português, que contenham,
entre outros, os seguintes dados:” (NR).

d) informações sobre os equipamentos a serem usados e a descrição dos processos de tríplice


lavagem ou tecnologia equivalente, procedimentos para a devolução, destinação, transporte,
reciclagem, reutilização e inutilização das embalagens vazias e efeitos sobre o meio ambiente
decorrentes da destinação inadequada dos recipientes;” (NR)

Art. 3o A Lei no 7.802, de 1989, passa a vigorar acrescida do seguinte art. 12A:

“Art. 12A. Compete ao Poder Público a fiscalização:” (AC)

“I – da devolução e destinação adequada de embalagens vazias de agrotóxicos, seus componen-


tes e afins, de produtos apreendidos pela ação fiscalizadora e daqueles impróprios para utilização
ou em desuso;” (AC)

“II – do armazenamento, transporte, reciclagem, reutilização e inutilização de embalagens vazias


e produtos referidos no inciso I.” (AC)

E consta no Decreto-Lei 4.074/02 (BRASIL, 2002) que:

serão objeto de inspeção e fiscalização os agrotóxicos, seus componentes e afins, sua produção,
manipulação, importação, exportação, transporte, armazenamento, comercialização, utilização,
rotulagem e a destinação final de suas sobras, resíduos e embalagens (art. 70).

Dessa forma, em dezembro de 2001, foi criado o Instituto Nacional de Processamento de


Embalagens Vazias (Inpev), que surgiu de uma iniciativa da indústria para atender às respon-
sabilidades legais, sociais e ambientais no que se refere à destinação final das embalagens
dos agrotóxicos comercializados.
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Para planejar toda a rede e realizar a contratação de transporte para devolução das embalagens
ao destino final, o Inpev criou o Centro de Programação de Transporte (CPT) e estabeleceu o
programa denominado Sistema Campo Limpo. Dentro de seu departamento de logística e,
como gestor de toda a rede, capacitou empresas de transportes locais, regionais e nacionais
para cuidar da movimentação dessas cargas (capacitação tecnológica). Dessa forma, toda a
cadeia logística teve que ser adaptada, desde o fabricante do agrotóxico até o consumidor
final, a fim de dar cabo ao cumprimento dos novos ditames legais.
A Tabela 1 apresenta um comparativo da relação entre a destinação final de embalagens
vazias de agrotóxicos e safra agrícola nacional de grãos para o período entre 2002 e 2008.
Tabela 1: Comparativo da relação entre a destinação final de embalagens vazias
de agrotóxicos e a produção agrícola de grãos no período entre 2002 e 2008.

ANO 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008


Destinação final de
embalagens vazias de 3.767,42 7.855,00 13.933,56 17.881,16 19.673,84 21.129,38 24.415,33
agrotóxicos (t)
Safra agrícola brasileira
96.799,00 123.168,00 119.114,20 114.695,00 122.530,80 131.750,60 144.113,70
de grãos (1.000t)

Relação embalagens
retornadas (t) / safra de 0,04 0,06 0,12 0,16 0,16 0,16 0,17
grãos (1.000t)

Fontes: Inpev (2009) e CONAB (2009).

Pela análise da Tabela 1, verifica-se que, com a instalação do marco regulatório, a relação
entre a quantidade total de embalagens que tiveram uma correta destinação final (t) e o
total da safra agrícola de grãos (1.000t) era de 0,04 em 2002 e, em 2008, passou para 0,17, ou
seja, um acréscimo de 325% no período considerado.
Assim, o que antes era lixo rural, que contaminava o meio ambiente, passou a ser, após
a reciclagem, mercadoria útil, na forma de tubos para fibra ótica, recipientes plásticos para
lubrificantes e até mesmo de nova embalagem para defensivo agrícola.

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