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Estratégia de logística reversa de produtos eletrônicos: o caso da IBM

XIV SIMPEP (2007)

Eduardo Miguez (UFRJ) ecmiguez@yahoo.com.br


Fabrício Molica de Mendonça (UFRJ) fabríciomolica@yahoo.com.br
Rogério Valle (UFRJ) Valle@pep.ufrj.br
Giancarlo Teixeira (IBM Brasil) giant@br.ibm.com

Este trabalho visa mostrar, por meio de um estudo de caso, a aplicação da Logística Reversa
na IBM Brasil que atua na área de produtos eletrônicos. Nesta empresa, a sucata proveniente
de servidores e computadores pessoais pode ter destinações diferenciadas em função do
potencial de recuperação do valor e do benefício ambiental, relacionados ao custo de
recuperação e descarte de produtos e componentes tais como: revenda após a remanufatura;
desmonte para reuso; reuso de partes e componentes; venda de partes e componentes e
descarte de materiais, reciclagem, reforma e aterro. Por meio das técnicas de Logística
Reversa adotadas, a empresa consegue assegurar a sua imagem no mercado e, obtém ganhos
financeiros provenientes da revenda de seus produtos no mercado.
Palavras-chave: Logística Reversa; Componentes Eletrônicos; Impacto Ambiental.

1. Introdução
Com a evolução da sociedade capitalista, principalmente a partir do século XX, os
modelos de crescimento econômico adotados em diversos países do mundo trouxeram
conseqüências ambientais danosas, comprometendo a qualidade de vida na terra. Em virtude
desses danos, passou a ser necessária a adoção de regras para a exploração do meio ambiente,
responsabilizando toda a humanidade, inclusive as empresas.Empresas que ainda não adotam
estratégias que minimizem o impacto ambiental são severamente punidas tanto pelas
legislações quanto pelos próprios consumidores. Isso, segundo Barbieri (1997), faz com que a
questão ambiental seja vista pelas empresas como uma fonte de investimento, quando a
empresa busca captar oportunidades por meio do crescente contingente de consumidores
responsáveis.
Desse modo, percebe-se a tendência de a legislação ambiental tornar as empresas cada
vez mais responsáveis por todo o ciclo de vida de seus produtos, incluindo o seu destino após
a entrega aos clientes e o impacto que estes produzirem no meio ambiente. Nesse contexto,
surgem com intensidade estudos na área de logística reversa, caracterizada como o processo
de planejamento, implementação e controle do fluxo de materiais, de produtos e de resíduos,
com eficiência de custo, abrangendo o fluxo da matéria-prima, o processo de fabricação, o
processo de comercialização, o fluxo do retorno do produto ou resíduo, do ponto de consumo
ao ponto de origem, com o intuito de reagregar valor ou descartar de forma apropriada
(Rogers & Tibben-Lembke, 1998). Esse processo logístico por meio da reciclagem, do reuso,
da recuperação e do gerenciamento de resíduos, contribui para diminuir o uso de recursos não
renováveis e reduzir ou eliminar resíduos que afetam negativamente o meio ambiente (Carter
& Ellram, 1998).
Entretanto, existem registros mostrando que muitas empresas – e até mesmo muitos
países – tem encarado a logística reversa como apenas a atividade de recolhimento de
produtos. Algumas estratégias de descarte utilizadas pela indústria eletrônica nos Estados
Unidos e na Europa consistem em exportar produtos eletrônicos, principalmente para o

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Continente Africano, alegando que se trata de uma ação que visa quebrar barreiras digitais em
países pobres, por meio da inclusão digital (BAN, 2005).Como conseqüência dessas
estratégias, está havendo descarte de substâncias perigosas ao ambiente e formação de lixões
nesses países porque muitos dos produtos exportados não se encontram em condições de uso.
Para evitar a continuidade desse tipo de estratégia, foram criadas legislações
ambientais mais severas, no sentido de comprometer mais as indústrias pelo destino dos seus
produtos após o uso. Tais legislações, aliadas ao trabalho de conscientização no consumidor
de produtos eletrônicos, tem feito as empresas repensarem seus comportamentos, no sentido
de maior atuação na Logística Reversa, como vantagem competitiva. Algumas estratégias
podem até gerar um ganho econômico adicional para a organização, como é o caso da
empresa IBM Brasil, que será apresentada neste estudo de caso.
O trabalho procura mostrar, por meio de um estudo de caso, como a IBM Brasil utiliza
o conceito logística reversa em seus produtos eletrônicos no sentido de recuperar valor,
atingindo benefícios financeiros e, ainda, aumentar a sua valoração no mercado por meio da
melhoria de sua imagem institucional.
Os dados foram obtidos por meio de pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e
entrevista semi-estruturada, aplicada ao corpo técnico responsável pela área de logística
reversa.
2. Logística Reversa: definição e principais atividades
O termo “Logística Reversa”, como fluxo inverso de materiais e produtos, tomou
importância significativa nos últimos anos. Porém, a preocupação com esse fluxo inverso vem
sendo objeto de estudo desde os anos de 1970 (De Brito, 2003). Nos anos de 1970, destacam-
se os trabalhos de Guiltinan & Nwokoye (1974), considerados como referência na literatura
internacional, onde aparecem as nomenclaturas “canais reversos” e “fluxos reversos”. Durante
os anos de 1980, Lambert & Stock (1981) lançam o termo “indo pelo caminho errado”. Nos
anos de 1990 e a década seguinte, surgiram um maior número de definições, com destaque
especial para o termo “Logística Reversa” apresentado por Rogers & Tibben-Lembke (1998),
onde a idéia estava relacionada com a inversão do termo logística.
Desse modo, enquanto a logística trata do fluxo de saída dos produtos, desde o ponto
de origem da matéria-prima até o ponto de consumo do produto acabado – de modo a
percorrer um caminho de menor custo e que venha atender às necessidades dos clientes – a
Logística Reversa tem que se preocupar com o retorno de produtos, materiais e peças ao
processo de produção da empresa. Nesse sentido, foi conceituada por Rogers & Tibben-
Lembke (1998) como: o processo de planejamento, implantação e controle do fluxo –
eficiente e de baixo custo – de materiais, estoques de processo, estoques de produtos acabados
e, ainda, informações relacionadas, desde o ponto de consumo até o ponto de origem, com o
propósito de recuperar valor ou fazer o descarte de forma apropriada.
A Logística Reversa, então, passa a significar todas as operações relacionadas com a
reutilização de produtos e materiais. Refere-se, assim, a todas as atividades logísticas de
coletar, desmontar e processar produtos e/ou materiais e peças usados a fim de assegurar uma
recuperação sustentável (DAHER et. al, 2003). Para Prahinski & Kocabasoglu (2006), no
geral, essas atividades englobam:
a) O reuso para imediata revenda ou reutilização do produto;
b) O upgrade do produto que consiste em reembalar, reparar, reformar ou
remanufaturar o produto;
c) A recuperação do produto tanto por meio da canibalização – reaproveitamento de

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alguns componentes dos produtos retornáveis – quanto por meio da reciclagem;
d) O gerenciamento dos resíduos que inclui incineração e envio do resíduo para aterro.
Cabe ressaltar que, muitas vezes, as práticas de logística reversa está relacionada
apenas ao recolhimento dos produtos, sem um adequado gerenciamento de todo o caminho
que este tem que passar até o descarte adequado do mesmo. Estudos têm mostrado que
diversas empresas americanas e européias, fabricantes de componentes eletrônicos, têm
recolhido seus produtos e enviado para países pobres – destacando os da África - com a
alegação de que, agindo assim, estariam contribuindo para o acesso à informática e outros
produtos de tecnologia mais avançadas, pela população desses países. Como conseqüência,
tem verificado graves passivos ambientais em tais países, decorrentes da contaminação por
substâncias tóxicas. Segundo relatório do Grupo de Ação de Basel (“The Basel Action
Network” - BAN) de 2005, 75% dos equipamentos de informática exportados para os países
africanos é lixo, ou seja, não é economicamente viável seu reaproveitamento, seja por reuso
ou por remanufatura. Além disso, os países africanos não possuem qualquer sistema de
estrutura de tratamento de lixo eletrônico. O que existem são lixões formais e informais, onde
as toxinas são facilmente infiltradas nos lençóis freáticos e, em virtude de queimadas
rotineiras, são emitidas substâncias químicas tóxicas, como dioxinas e metais pesados.
Deste modo, para que se possa exportar produtos eletrônicos, como estratégia de
logística reversa, torna-se necessário que todos os componentes sejam testados no país de
origem, de modo a receber selos e certificados de garantia de que são produtos servíveis.
Para regular a Logística Reversa de produtos eletrônicos, a ONG Greenpeace
elaborou, no ano de 2006, o Guia Ambiental de Eletrônicos (Guide to Greener Electronics).
Esse guia tem por finalidade fazer com que os fabricantes tenham responsabilidade por todo o
ciclo de vida de seus produtos, incluindo o lixo eletrônico que eles geram. O objetivo
principal do relatório é fazer com que as empresas limpem os produtos, através da eliminação
de substâncias perigosas e, ainda, recuperem e reciclem seus produtos, logo que se tornem
obsoletos.
Com o desenvolvimento de legislações ambientais mais severas e a conscientização do
consumidor sobre a importância do meio ambiente, as empresas estão sendo obrigadas a
repensar suas responsabilidades sobre seus produtos após o uso, buscando atuarem na
Logística Reversa.
Cabe ressaltar que a própria legislação que regula a forma correta do descarte, tem
favorecido estudos no sentido de buscar benefícios econômicos por meio do uso de produtos e
resíduos do processo produtivo, uma vez que as empresas passam a ter que decidir entre usar
tais produtos ou incorrer em altos custos do correto descarte de lixo (DAHER et. al, 2003).
Rogers & Tibben-Lembke (1998) apontam também alguns motivos estratégicos para
que as empresas atuem na Logística Reversa tais como: diferenciação de serviços; limpeza do
canal de distribuição; proteção de margem de lucros; recaptura de valor e recuperação de
ativos e; imagem da empresa no mercado.
3. A operação reversa da IBM do Brasil
Há alguns anos, a IBM do Brasil não tem fabricado computadores de pequeno porte.
Estes são terceirizados para fornecedores que processam as máquinas seguindo os processos e
critérios estipulados pela IBM. A prioridade dessa empresa passou a ser a venda de serviços
aos clientes, incluindo prestação de serviços de TI, manutenção, softwares e hardwares.
Apesar de ter terceirizado a produção, a IBM é responsável pelos produtos eletrônicos
que são vendidos com a sua marca. Por isso, o maior interesse da IBM com a logística reversa

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se dá através do reaproveitamento de hardware. Os dois principais tipos de hardware que são
focos da atividade de logística reversão são: a) os servidores (tipo Main Frames, mas neste
trabalho, serão considerados como servidores apenas), considerados carro-chefe da logística
reversa da IBM, representando mais de 92% da receita decorrente da atividade de logística
reversa; e, b) os computadores pessoais, que representam apenas 8% dessa receita.
Para a realização desses trabalhos, a IBM possui um grande centro para as atividades
de logística reversa, o qual, no Brasil, existe há cerca de sete anos. O local se situa na cidade
de Hortolândia, no estado de São Paulo, e controla as operações de logística reversa da IBM
para a América Latina. A área é formada por um departamento comercial, que cuida da
compra e venda de computadores e a área que lida com o retorno físico dos produtos, e conta
com 30 funcionários, além de pessoas terceirizadas que cuidam da coleta, triagem, desmonte e
remanufatura dos equipamentos. O departamento de GARS (Global Asset Recovery Services)
em conjunto com o Banco IBM, fazem parte da organização de Global Finance da IBM, que é
um grande contribuidor à margem de lucro da empresa, segundo o balanço da companhia do
ano passado, esta área apresentou uma rentabilidade de até 50% maior se comparado à venda
de máquinas. O Banco IBM é o responsável pela área de leasing, operação usual na venda dos
equipamentos de pequeno, médio e grande porte.
Em virtude das especificidades dos dois tipos de produtos em relação a previsão de
retorno, tipos de clientes, forma de distribuição e venda, tipo de contrato utilizado na
transação e outros, os trabalhos de logística reversa em cada um desses tipos divergem
bastante, porém, como o objetivo principal é o reaproveitamento das máquinas para revenda,
existe um estrutura geral que é seguida para conduzir os trabalhos de logística reversa.
3.1 Estrutura Geral do trabalho de Logística Reversa da IBM
Tanto o grupo de Servidores quanto o de Computadores Pessoais (PCs), para o
trabalho de logística reversa, têm seguido o modelo apresentado na figura 1, desenvolvido
pela IBM, para a tomada de decisão em relação ao tipo de tratamento a ser adotado. Esse
modelo consiste em uma série decrescente de prioridades de técnicas de logística reversa a ser
adotada em função do potencial de recuperação do valor e do benefício ambiental,
relacionado com o custo de recuperação ou de descarte de produto e/ou material.
Analisando esta série, percebe-se que o objetivo principal da empresa é o
reaproveitamento das máquinas para revenda. Caso os aparelhos cheguem à empresa em um
estado que não valha a pena economicamente recuperá-los, ou então, em estado avançado de
obsolescência, estes são encaminhados para o desmonte, onde os componentes são testados.
Os que estiverem em boas condições, são armazenados para a utilização como peças de
reposição, primeiro na hora da remanufatura das máquinas e, em seguida, como peças de
manutenção ao cliente. Neste mesmo processo de desmonte dos aparelhos em componentes,
as peças podem ser vendidas para os fabricantes de computadores e servidores da IBM, assim
como para montadores de computadores. As peças e componentes que não puderem ser
aproveitadas seguem para a última etapa no processo de agregação de valor da IBM, o
desmonte dos equipamentos, por completo, visando à reciclagem e ao correto tratamento e à
destinação dos materiais e resíduos perigosos.
Confrontando esta série com os benefícios ambientais e com a agregação de valor,
pode-se inferir que quanto mais alto na cadeia de agregação de valor (reuso da máquina),
menos se agride o meio ambiente. Isto acontece porque a reutilização da máquina não gera
resíduos perigosos para serem descartados. Quanto mais baixo na cadeia, mais impacto haverá
no meio ambiente. Além disso, o reuso do computador para revenda é a atividade que mais
agrega valor e gera rentabilidade e a etapa de desmonte para envio de materiais para a
reciclagem é a que menos agrega valor, e, por conseguinte, mais gera custo.

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Revenda de máquinas
Potencial recuperação de valor

Desmonte de máquinas

Benefício ambiental
Reuso de partes e
componentes

Venda de partes e
componentes

Descarte de materiais
Reciclagem, Reforma e Aterro

Custo de recuperação
FIGURA 1 – Série decrescente de prioridades de tratamento de logística reversa da IBM
Fonte: IBM Corporation (2006)

Para a tomada de decisão em relação ao procedimento de logística reversa a ser


adotado, a IBM analisa a viabilidade econômica dessas atividades. Para isso, alguns fatores
são levados em consideração, tais como:
a) O estado da máquina – quando a IBM recebe uma proposta de venda é necessário
que seja avaliado o estado em que o equipamento se encontra uma vez que, máquinas muito
avariadas não interessam a IBM. Geralmente, máquinas que recebem serviços da própria IBM
recebem uma proposta de compra maior, pois é sabido que elas estão em bom estado. O
estado que o equipamento se encontra é determinante, quanto menos tempo e dineheiro se
gartar para recuperar uma máquina maior será o interesse da IBM na recompra do
equipamento;
b) O custo de compra do aparelho – existem critérios especificos, atendendo a todas as
regras e leis regionais, além do qual é feito um estudo para se analisar quanto se pode pagar
por determinado equipamento, já levando em conta seu potencial valor de venda;
c) O custo de remanufatura – quando se trata de um aparelho para remanufatura é feito
um estudo para verificar esse custo. Caso este custo supere o previsto, ou a empresa aumenta
o valor de venda do bem ou arca com a redução de seu lucro;
d) O custo de peças defeituosas – quando se trata de peças defeituosas é feito um
estudo para verificar o tipo de defeito. Se a peça for muito cara, o aparelho é encaminhado
para a canibalização;
e) O problema técnico – quando detectado problemas técnicos que inviabilizam o
reaproveitamento do aparelho, este é indicado para a canibalização;
f) O contrato de venda inicial – antes de fazer um contrato de venda é analisado o
valor oferecido, o tempo de leasing e vontade de compra por parte do cliente. Isso é
importante para que se possa fazer a previsão de servidores que retornarão para a empresa.
Cabe ressaltar que a IBM busca o retorno, em sua maioria, de máquinas da própria

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empresa, mas há casos em que ela pode recuperar computadores de outras marcas. Isso
depende do estado físico dos aparelhos.
3.2 A Logística Reversa de servidores
As diversas filiais da IBM, em todo o mundo, estão conectadas e trocando
informações de venda de equipamentos, mais especificamente, servidores. A venda de um
servidor, por parte da IBM, é feita por meio de um contrato de leasing, com tempo
determinado, com a opção de o cliente comprar ou não o equipamento ao final do contrato.
Como os próprios consultores da IBM se envolvem nesse processo de compra do
equipamento, por parte do cliente, o fluxo de informação é facilitado, permitindo que a
empresa tenha uma previsão, com alto grau de acerto, do retorno desses servidores.
Esta operação, embora possa apresentar impactos logísticos, pode ser determinante na
viabilização da operação como um todo, uma vez que a IBM deixará de fabricar uma máquina
nova, consequenemente será um equipamento a menos a ser inventariado e gerenciado, além
de fazer uso de uma máquina já fabricada e consequentemente terá um equipamento a menos
nos livros contábeis da empresa.
Assim, quando a área de leasing da empresa (o Banco IBM) negocia um contrato de
leasing de um servidor, a área de logística reversa é consultada para ver se há ou não interesse
da empresa na compra deste equipamento ao final do contrato. Caso o setor de logística
reversa da IBM tenha interesse na compra da máquina, ela deverá informar quanto estará
disposta a pagar ao final do leasing. Por exemplo, se um servidor custar R$ 10 milhões, e a
área de logística reversa da IBM oferecer 10% do valor do equipamento, então, a empresa
contratante pagará R$ 9 milhões até o final do contrato de leasing, após o término do contrato,
ela poderá escolher entre pagar R$ 1 milhão e ficar com o aparelho em definitivo, ou devolver
o servidor. Por esta razão, o departamento de logística reversa da IBM não pode oferecer um
valor muito baixo, que estimule a compra do servidor por parte da empresa contratante, mas
também não pode oferecer um valor muito alto, o que inviabilizaria o seu lucro na hora da
revenda.
Acabado então o contrato de leasing, caso o cliente não adquira o equipamento em
definitivo, a IBM efetua o retorno do servidor até seu depósito. Este aparelho fica armazenado
até que seja feita uma venda de um servidor. Quando o departamento comercial anuncia a
venda de um servidor, a área de logística reversa começa o processo de remanufatura dos
servidores retornados. Os servidores não podem ser remanufaturados antes de serem
vendidos, pois eles precisam passar por uma customização para o cliente. Por exemplo, uma
companhia aérea necessita de maior capacidade de processamento, enquanto um banco
necessita de maior capacidade de armazenamento.
Cabe ressaltar que, o ciclo de vida de um servidor varia entre 8 e 10 anos e, nesse
espaço de tempo, um aparelho pode já ter passado por diversas remanufaturas e
customizações. A margem de lucro com a revenda de um servidor é consideravelmente
grande, um servidor remanufaturado pode ser vendido por 1/3 do valor de um servidor novo.
O custo variável desse servidor é de 14% do preço de vendas, apresentando uma margem de
contribuição de 86%, sem a dedução de impostos. Com a geração de um produto mais barato,
consegue atender empresas de menores portes em suas necessidades de modernização
relacionadas com novas tecnologias de informática e de comunicação.
Assim, percebe-se que durante esse ciclo de vida dos servidores, à medida que
retornam à empresa, sofrem remanufatura e são revendidos para empresas de menor porte que
não precisam de servidores de última geração. Além dessa remanufatura, muitas vezes,
dependendo do estado físico do servidor, este pode sofrer canibalização. Neste processo de

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canibalização, parte de suas peças são separadas para serem reaproveitadas. Entretanto, até
mesmo os componentes que são encaminhados para a reciclagem geram lucros para a empresa
uma vez que, partes lucrativas como placas e circuitos são enviadas para empresas
especializadas na extração de metais preciosos. Isso mostra que os servidores apresentam
quase 100% de reaproveitamento.
3.3 A Logística Reversa de computadores pessoais (PCs)
O ciclo de vida dos computadores pessoais varia entre 2 e 3 anos. Porém, de acordo
com os especialistas, em virtude das dificuldades financeiras da população o brasileiro não
tem o hábito de trocar seu computador neste tempo, efetuando a troca apenas quando o PC
apresenta problemas ou não serve mais para a realização de determinadas atividades. Com
isso, o melhor canal para captar computadores pessoais usados é por meio das empresas, que
sempre estão necessitando de computadores mais modernos em suas operações. Neste caso, as
empresas se comprometem a trocar seus PCs em um determinado prazo, fazendo com que a
IBM tenha capacidade de controlar o número de PCs que retornam com um certo grau de
exatidão.
Os computadores pessoais são retornados por intermédio de contratos com empresas
clientes, que negociam a troca de seus micros por computadores mais potentes. Para a IBM
vender os equipamentos mais modernos, ela compra os computadores antigos da empresa. As
grandes empresas, geralmente, não trocam os seus computadores de uma vez só, mas ao longo
de alguns anos, pois elas possuem algumas dezenas de milhares de computadores, e caso
fizessem a troca simultaneamente, a empresa certamente teria que parar de funcionar por um
tempo. Com isto, a IBM garante o ciclo de chegada de computadores pessoais.
Ao mesmo tempo em que os PCs antigos são comprados pelo setor de logística
reversa, o departamento de vendas realizam as vendas destes computadores, geralmente, para
empresas de menor porte, e que não necessitam de computadores de última geração.
A compra e venda de PCs usados acontece quase que concomitantemente. Os
computadores chegam ao depósito da IBM, e seguem para a fase de testes. Eles são testados e,
caso não estejam em condições adequadas de uso, têm todos os seus componentes testados,
para que seja identificada qual peça está defeituosa. Depois que a peça é detectada, outra
semelhante é solicitada ao setor de peças de manutenção. A peça nova é entregue no mesmo
instante em que a defeituosa é devolvida, para que possa ser analisada a viabilidade de sua
recuperação.
O objetivo da recuperação dos PCs é deixá-los com as mesmas característica e
configurações de quando saíram da fábrica. O fluxo de compra e venda de computadores
usados é freqüente, portanto, o giro dos computadores no estoque também tem que ser rápido.
Se os PCs retornados estiverem com uma qualidade muito baixa, que não dê para se
aproveitar ou então, se já estiverem muito obsoletos, não compensando sua recuperação, eles
sofrem o processo de desmonte e de canibalização, onde são aproveitados peças e
componentes para servirem de peça de reposição ou para virarem matéria-prima para revenda.
Os computadores que sofrem a canibalização possuem um total de mais de 50% de peças
aproveitadas.
Os demais componentes e peças que estejam defeituosos ou que por algum outro
motivo - como obsolescência, por exemplo - não puderam ser aproveitados, seguem para a
parte de descarte, onde se tornarão commodities. Este material segue para outro setor, onde
será armazenado e desmontado. As peças e componentes são separados por tipos de materiais
e colocados em caixas separadas. Os circuitos e drivers são inutilizados, para que não possam
ser aproveitados por terceiros no futuro. Após esta etapa, os materiais são prensados e

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pesados.
Cabe ressaltar que, os computadores têm suas peças desmontadas até o nível de
componentes, como placas, drivers e outras. Eles não são separados em resistores, transistores
etc., pois o custo para realizar o desmonte dos componentes neste nível, não compensa
economicamente.
Todos os materiais que chegam para este processo são pesados na entrada. Os
materiais que saírem, depois de prensados deverão ser pesados também, e o peso deverá ser o
mesmo. Por exemplo, se chegarem 20 kg em computadores, após estes serem desmontados,
deverão ser pesados os metais, componentes e vidros, e todos juntos, devem chegar aos 20 kg
iniciais. Após a pesagem, os materiais são separados para serem coletados por empresas
especializadas na reciclagem dos diversos tipos de materiais.
A IBM vende estes materiais para empresas, que devem ser certificadas para poderem
realizar tais tarefas. Por se tratar de uma empresa grande e, com uma grande quantidade de
materiais, o poder de barganha dela é alto, até mesmo se comparado com empresas
especializadas na recuperação de materiais eletroeletrônicos.
Os materiais perigosos são separados na fase de desmonte dos PCs, e seguem para um
local separado, onde são encaminhados para o descarte. A IBM paga empresas certificadas
para darem o correto tratamento a estes materiais.
A IBM segue a legislação local e os padrões internacionais da empresa que, em geral,
são mais rigorosos do que as legislações locais, como o padrão da CETESB (Companhia de
Tecnologia de Saneamento Ambiental, do estado de São Paulo). Para demonstrar o
comprometimento da empresa para com o meio ambiente, a IBM é certificada pela ISSO
14000.
Cabe ressaltar que os PCs possuem cerca de 80% de reaproveitamento por meio do
conserto e manutenção. Os 20% que não são reaproveitados geralmente são canibalizados.
4. Conclusão
O estudo de caso teve por finalidade mostrar como a IBM Brasil se utiliza do conceito
de logística reversa em seus produtos eletrônicos, de modo a atender as legislações ambientais
específicas para o setor.
Há alguns anos a IBM terceirizou sua produção, porém, como é responsável pelos
destinos dos produtos eletrônicos vendidos com sua marca, estruturou, há sete anos, um
centro voltado para realizar atividades de logística reversa em seus dois principais produtos:
servidores e computadores de uso pessoal.
Apesar das especificidades desses dois tipos de produtos, existe uma estrutura geral,
baseada numa série decrescente de prioridades de técnicas de logística reversa a ser adotada
em função do potencial de recuperação do valor e do benefício ambiental, relacionados ao
custo de recuperação e descarte de produto e/ou componentes. Tais técnicas, em ordem de
prioridade, são: revenda de máquinas; desmonte de máquinas; reuso de partes e componentes;
venda de partes e componentes; e descarte de materiais, reciclagem, reforma e aterro.
Pode-se perceber que, por meio dessas técnicas, a IBM Brasil consegue cumprir as
legislações ambientais voltadas para o setor, assegurando a sua imagem no mercado e, obtém
ganhos financeiros oriundos das estratégias de recuperação de valor de componentes e de
produtos.

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