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NOTA TÉCNICA DEA 017/2019

Cenário econômico para


os próximos dez anos
(2020-2029)

Novembro de 2019

1
Nota Técnica

Cenário econômico
GOVERNO FEDERAL
MINISTÉRIO DE MINAS E ENERGIA para os próximos
MME/SPE

Ministério de Minas e Energia


dez anos (2020-2029)
Ministro
Bento Costa Lima Leite de Albuquerque Junior

Secretária-Executiva
Marisete Fátima Dadald Pereira

Secretário de Planejamento e
Desenvolvimento Energético
Reive Barros dos Santos

Secretário de Energia Elétrica (Adjunto)


Domingos Romeu Andreatta

Secretária de Petróleo, Gás Natural e


Combustíveis Renováveis
Renata Beckert Isfer

Secretário de Geologia, Mineração e


Transformação Mineral
Alexandre Vidigal de Oliveira

Empresa pública, vinculada ao Ministério de Minas e Energia, Coordenação Geral


instituída nos termos da Lei n° 10.847, de 15 de março de 2004, a Thiago Vasconcellos Barral Ferreira
EPE tem por finalidade prestar serviços na área de estudos e
pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor
Giovani Vitória Machado
energético, tais como energia elétrica, petróleo e gás natural e seus
derivados, carvão mineral, fontes energéticas renováveis e
eficiência energética, dentre outras. Coordenação Executiva
Carla Lopes da Costa Achão
Presidente Jeferson Borghetti Soares
Thiago Vasconcellos Barral Ferreira
Diretor de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais
Giovani Vitória Machado Coordenação Técnica
Diretor de Estudos de Energia Elétrica Arnaldo dos Santos Junior
Erik Eduardo Rego Gustavo Naciff de Andrade
Diretor de Estudos de Petróleo, Gás e Biocombustível
José Mauro Ferreira Coelho
Diretor de Gestão Corporativa Equipe Técnica
Álvaro Henrique Matias Pereira Isabela de Almeida Oliveira
João Moreira Schneider de Mello
URL: http://www.epe.gov.br Lidiane de Almeida Modesto
Sede
Esplanada dos Ministérios Bloco "U" - Ministério de Minas e
Energia - Sala 744 - 7º andar – 70065-900 - Brasília – DF

Escritório Central
Av. Rio Branco, 01 – 11º Andar
No EPE/DEA-NT-017/2019
20090-003 - Rio de Janeiro – RJ Data: 29 de novembro de 2019
NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

Índice

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 2
2. CENÁRIO MUNDIAL ............................................................................................................................................. 3
3. CENÁRIO NACIONAL ............................................................................................................................................ 4
3.1. CENÁRIO MACROECONÔMICO ................................................................................................................................... 4
3.2. CENÁRIO SETORIAL ................................................................................................................................................. 9
4. REFERÊNCIAS .....................................................................................................................................................15

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

1. Introdução
A evolução da economia é de suma importância para entender qual será o comportamento da
demanda de energia no futuro e, consequentemente, qual será a necessidade de expansão da
capacidade de oferta de energia no país.

Além da trajetória de crescimento da economia, é importante ter conhecimento de como este será
distribuído entre os setores econômicos, já que isto é extremamente relevante para estimar a
demanda de energia do país, visto que o consumo de energia varia bastante entre os setores. Sendo
assim, neste estudo são apresentadas as projeções para os macrossetores - agropecuária, serviços e
indústria - com destaque para os setores da transformação, na qual estão inseridas as indústrias com
maior relevância do ponto de vista do consumo de energia.

Este trabalho está dividido em duas partes. A primeira apresenta o cenário mundial, com destaque
para o crescimento esperado da economia mundial, bem como para o comércio mundial. A seguinte
mostra o cenário doméstico, ressaltando as projeções para as principais variáveis macroeconômicas
e a evolução setorial esperada para o horizonte decenal.

Cabe ressaltar que o cenário econômico explicitado nesta Nota Técnica foi finalizado em março de
2019.

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

2. Cenário Mundial
O ambiente global é de grande importância para o crescimento econômico nacional, dado que o
Brasil, ainda apresenta um significativo grau de vulnerabilidade externa. Nesse sentido, é importante
caracterizar seria o cenário mundial no qual o cenário nacional traçado para o horizonte decenal está
inserido.

O ambiente internacional passa por um momento marcado por incertezas importantes com potencial
para afetar o crescimento econômico global nos próximos anos, o que vem levando a revisões das
projeções para o PIB mundial, sobretudo no curto prazo. Entre as principais incertezas, destacam-se
os impactos da guerra comercial entre China e Estados Unidos sobre a economia global, os potenciais
reflexos da saída do Reino Unido da União Europeia, além de quais serão os impactos da transição
de modelo de crescimento da economia chinesa.

Antes de descrever as principais premissas qualitativas do cenário mundial, bem como as trajetórias
esperadas de evolução para o PIB e comércio mundial, é importante frisar que para os primeiros
cinco anos deste estudo são adotadas as projeções de crescimento do PIB e do comércio mundial do
World Economic Outlook1, do FMI.

Nesse cenário, assume-se que os países em desenvolvimento terão um papel importante para o
crescimento global, ainda que a China passe por um processo de desaceleração suave em virtude da
mudança do seu modelo de crescimento. Essa transição para uma estrutura com maior participação
do setor de serviços e de fortalecimento do mercado interno pode acarretar uma redução da
demanda por exportações desse país, dado o menor investimento e menor participação da indústria,
o que afetaria os preços internacionais das commodities, a balança comercial de diversos países,
incluindo o Brasil, bem como o volume de comércio global.

Para os países desenvolvidos, espera-se um crescimento mais moderado, limitado, em parte, pela
menor oferta de mão de obra no longo prazo devido ao envelhecimento populacional. No que diz
respeito aos Estados Unidos, espera-se que os estímulos fiscais que, tiveram impacto importante
sobre o crescimento do país sobretudo em 2018, se dissipem ao longo dos anos, levando a um
crescimento mais modesto da economia americana nos próximos anos. Para a União Europeia, a
expectativa é que haja uma expansão moderada com baixa dispersão entre os países membros, ainda
que existam riscos políticos e incertezas quanto aos impactos do Brexit.

Apesar dos riscos e incertezas sinalizados anteriormente, espera-se que a economia mundial
apresente uma trajetória de crescimento moderado ao longo dos próximos dez anos, conforme pode

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Neste estudo foram adotadas as projeções da versão do World Economic Outlook de janeiro de 2019.

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

ser visto no Gráfico 1. Entre 2020 e 2029, espera-se um crescimento médio de 3,3% para o PIB
mundial e de 3,7% para o comércio mundial.

Gráfico 1 – Evolução esperada para o PIB e comércio mundial

6,0%

4,1%
3,5% 3,7% 3,6% 3,8% 3,5%
3,1%

2010-2014 2015-2019 2020-2024 2025-2029


PIB Mundial Comércio Mundial

Fonte: FMI (histórico e projeções até 2023) e EPE (projeções a partir de 2024).

3. Cenário Nacional
Nesta seção será detalhado o cenário econômico doméstico para os próximos dez anos. Inicialmente,
serão descritas as premissas qualitativas juntamente com as projeções para as principais variáveis
macroeconômicas e, na subseção seguinte, será abordado o cenário setorial.

3.1. Cenário macroeconômico

Há que se considerar que a conjuntura internacional e nacional apresenta muitos fatores que elevam
a incerteza acerca das possíveis trajetórias de crescimento econômico ao longo dos próximos anos.
Sendo assim, nesta seção será descrito o cenário considerado o de maior probabilidade de
ocorrência, analisando as premissas e desafios para sua concretização e, posteriormente, seus
desdobramentos para os setores da economia.

O cenário para os próximos dez anos assume uma recuperação gradual da economia brasileira,
alcançando taxas de crescimento do PIB moderadas. Além disso, ele é caracterizado pelo
enfrentamento de alguns desafios e entraves importantes que, ainda que se considerem avanços,
estes ainda impedirão, de alguma forma, um crescimento mais forte no horizonte em questão.

No curto prazo, a economia será beneficiada pelo elevado nível de capacidade ociosa que permitirá
uma expansão da oferta sem a necessidade de um volume muito grande de investimentos adicionais.
Além disso, espera-se que, com um ambiente mais estável, ocorra uma recuperação da confiança

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

dos agentes econômicos, levando a uma retomada da demanda interna e, consequentemente, a um


aquecimento da atividade econômica.

No médio e longo prazo, um crescimento econômico sustentado exige uma maior capacidade de
oferta da economia e menor restrição dos gargalos existentes. Sendo assim o País precisa expandir
sua capacidade produtiva através de investimentos em infraestrutura, melhoria da educação,
avanços tecnológicos e qualificação profissional, além de promover avanços relativos ao seu
ambiente de negócios. Com avanços nesses fatores, será possível obter ganhos de produtividade,
permitindo aumentar a competitividade dos produtos nacionais.

Certamente, algumas políticas necessitam de períodos longos para gerar efeitos significativos, como
o caso dos investimentos em educação e P&D, além de medidas que exijam mudança de padrão de
comportamento da sociedade.

Ao longo do horizonte deste estudo, espera-se que os investimentos apresentem a trajetória do


Gráfico 2, alcançando, em média, 20% do PIB nos próximos dez anos. Nesse sentido, destacam-se os
investimentos no setor de infraestrutura, como para as áreas de geração de energia elétrica,
mobilidade urbana e transportes (rodovias, ferrovias, portos e aeroportos), bem como em exploração
e produção de petróleo. Além disso, também terão destaque os investimentos voltados para
infraestrutura social, tais como habitação, saneamento básico e distribuição de água.

Gráfico 2 – Evolução dos Investimentos (% do PIB)

21,5% 20,9%
19,1%
15,9%

2010-2014 2015-2019 2020-2024 2025-2029

Fonte: IBGE (histórico) e EPE (projeções).

O incremento de investimentos no setor de infraestrutura, de forma geral, reduzirá os gargalos


logísticos do País, resultando em melhorias em termos de produtividade total dos fatores (PTF). Além
disso, espera-se que, no horizonte decenal, sejam realizadas reformas microeconômicas, ainda que
de forma gradual, resultando em melhorias no ambiente de negócios e, consequentemente da PTF.
Sendo assim, a perspectiva é de que a PTF crescerá a uma média de cerca de 0,5% a.a. entre 2020 e

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

2029, conforme pode ser visto no Gráfico 3. Vale ressaltar que o histórico desse indicador não é
muito favorável. Entre 1981 e 2016, a produtividade brasileira caiu, em média, 0,26% a.a., de acordo
com os dados do Conference Board (2019), o que comprova que o cenário aqui descrito é desafiador
e requer que medidas importantes sejam tomadas para que seja concretizado.

Gráfico 3 – Evolução da taxa de crescimento da PTF (% a.a.)

0,5% 0,6%

-0,4%

-1,9%

2010-2014 2015-2019 2020-2024 2025-2029

Fonte: Conference Board (histórico) e EPE (projeções).

Um fator importante para a retomada da confiança do investidor e, consequentemente, para um


crescimento mais significativo dos investimentos é que a situação fiscal esteja sob controle, sendo
assim, espera-se que, no curto prazo, a política fiscal esteja voltada para o ajuste das contas públicas.
A perspectiva é de que, com o aumento da arrecadação possibilitado pela recuperação da economia
e com a redução de gastos públicos, haja resultados primários crescentes ao longo do horizonte deste
estudo.

Conforme pode ser visto no Gráfico 4, espera-se que, no primeiro quinquênio, o país apresente
menores superávits primários, em termos de percentual do PIB, em relação ao histórico recente, até
porque, no curto prazo, a expectativa é que ainda haja déficit primário. No entanto, a partir do
segundo quinquênio, a expectativa é que o superávit primário alcance patamares que permitam que
a relação Dívida Líquida do Setor Público/PIB volte a apresentar uma trajetória declinante, ainda que,
em termos de médias quinquenais, esse indicador ainda seja levemente maior no período 2025-2029,
quando comparado ao quinquênio anterior.

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

Gráfico 4 – Indicadores econômicos do setor público (médias no período)

70% 64,8% 65,2% 2,0%


1,8%
60% 1,5%
49,1% 1,8% 1,0%
50% 0,5%
40% 33,5% 0,5% 0,0%
30% -0,5%
-1,0%
20%
-1,5%
10% -1,8% -2,0%
0% -2,5%
2010-2014 2015-2019 2020-2024 2025-2029
DLSP/PIB Superávit Primário (% do PIB)

Fonte: Banco Central (dados históricos) e EPE (projeções).

Em relação ao setor externo, o alto grau de incerteza no cenário mundial e a expectativa de


crescimento menor da economia mundial no curto prazo contribuirão para a obtenção de resultados
positivos na balança comercial do país ao longo do horizonte. Vale ressaltar que esse saldo é
decrescente nas médias quinquenais, por conta do aumento mais forte das importações
impulsionado pelo maior crescimento da economia brasileira. No que diz respeito às exportações,
espera-se que um dos destaques seja o setor extrativo, ainda que a redução das taxas de crescimento
da economia chinesa e o patamar mais baixo dos preços de commodities impactem estes resultados.

Na conta de transações correntes, a expectativa é de saldo negativo e crescente ao longo de todo


período, consequência do maior déficit da balança de serviços e rendas e pelo menor saldo da
balança comercial. Este resultado, contudo, é sustentável considerando-se que se espera uma maior
entrada de capitais, via investimento direto no país.

Gráfico 5 – Indicadores econômicos de setor externo

50 47,2 -4%
38,0 -3,0% -3%
40
-2,1% 31,1 -2%
30
-1%
20 -0,6%
13,5 0%
10 1%
0 1,7% 2%
2010-2014 2015-2019 2020-2024 2025-2029

Balança comercial (US$ bilhões) Transações Correntes (% PIB)

Fontes: Banco Central (dados históricos) e EPE (Projeções).

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

Dada a evolução dos demais indicadores macroeconômicos, espera-se que, mesmo considerando as
restrições a um crescimento mais vigoroso, a economia brasileira retome a sua trajetória de
crescimento sustentado, crescendo, em média, cerca de 2,9% ao ano entre 2020 e 2029. O Gráfico 6
mostra a trajetória esperada para o PIB no horizonte decenal.

Gráfico 6 – Evolução da taxa de crescimento do PIB

10%
8%
6%
4%
2%
0%
-2%
-4%
-6%
2010 2012 2014 2016 2018 2020 2022 2024 2026 2028

Fonte: IBGE (histórico) e EPE (projeção).

Como resultado das projeções de crescimento econômico e de evolução demográfica no horizonte


decenal, espera-se que o PIB per capita brasileiro cresça, cerca de 2,3% ao ano entre 2020 e 2029,
passando do patamar de R$ 33 mil em 2020 para cerca de R$ 41 mil em 2029.2

Gráfico 7 – Evolução do crescimento do PIB per capita (% a.a.)

2,7%
2,4%
2,1%

-1,2%
2010-2014 2015-2019 2020-2024 2025-2029

Fonte: IBGE (histórico) e EPE (projeções).

2
Os valores de PIB per capita estão em reais de 2018.

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

3.2. Cenário setorial

A partir do cenário macroeconômico apresentado anteriormente, são traçadas premissas para o


comportamento dos macrossetores do PIB3 - agropecuária, indústria e serviços – nos próximos dez
anos, com destaque para o setor industrial, o qual possui grande peso no consumo de energia no
país.

No curto prazo, espera-se que grande parte dos setores apresente taxas de crescimento mais
modestas, em virtude da retomada gradual dos principais condicionantes de demanda, como
emprego, renda e crédito. Entretanto, o excesso de capacidade ociosa deverá contribuir
positivamente para o desempenho de alguns setores sem a necessidade de um volume significativo
de novos investimentos, como é o caso da indústria de transformação. No médio prazo, a perspectiva
é de que a realização de reformas microeconômicas, ainda que de forma parcial, tenham impactos
positivos sobre o ambiente de negócios, tornando os setores mais competitivos no mercado
internacional. Nesse sentido, destaca-se a indústria de transformação que deve avançar, ainda que
de forma tímida, em direção a cadeias de valor mais complexas.

Ainda que se tenha algumas incertezas no ambiente internacional, espera-se que os setores primário-
exportadores apresentem crescimento significativo, sobretudo aqueles em que o país já apresenta
competitividade internacional, como agropecuária, mineração, extração de petróleo e celulose.

Dessa forma, a expectativa é que nos próximos dez anos, os macrossetores cresçam a taxas
semelhantes à do PIB, mostrando que o crescimento da economia se dará de forma mais igualitária
entre os grandes setores, conforme pode ser visto no Gráfico 8. Nesse sentido, espera-se que não
haja grandes mudanças em termos de participação dos macrossetores no PIB. A indústria deverá ter
um pequeno aumento de participação (de 24,6% em 2018 para 25,1% em 2029), em detrimento dos
serviços, que passarão de 69,6% em 2018 para 69,1% em 2029. A seguir, serão tratadas
separadamente as principais premissas para o comportamento dos macrossetores no horizonte
decenal

3
A desagregação do PIB entre os macrossetores segue a ótica da produção, utilizando o conceito de Valor Adicionado
(VA) do IBGE, divulgado no âmbito do Sistema de Contas Nacionais. Segundo esse conceito, o VA de um setor é a
diferença entre o seu valor de produção e o consumo intermediário desse setor, e representa “a contribuição ao
produto interno bruto pelas diversas atividades econômicas” (IBGE, 2019). Adota-se o VA a preços fixos de 2010, a fim
de se obter as taxas de variação reais, ou seja, sem o efeito da variação de preços.

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

Gráfico 8 – Projeções de crescimento dos macrossetores (% a.a.) – 2020 - 2029


4,0%
3,4% 3,2% 3,3% 3,1%
2,8% 3,0% 3,0% 3,1%
2,8% 2,8%
2,5% 2,9%

-0,2%
-0,6%

-1,7%

2010-2014 2015-2019 2020-2024 2025-2029


PIB Agropecuária Indústria Serviços
Fonte: IBGE (histórico) e EPE (projeções).

3.2.1. Agropecuária

O setor agropecuário brasileiro se destaca pela sua forte competitividade internacional na produção
de commodities, posicionando-se entre os principais exportadores de soja, milho, café, carnes, entre
outros produtos.

No horizonte decenal, espera-se que esse setor continue se destacando, já que o País faz parte de
um seleto grupo de países com disponibilidade de terra capaz de viabilizar um crescimento vigoroso
da produção. Mudanças no perfil da pecuária na direção do tipo mais intensivo deverão aumentar
esse potencial. Além disso, espera-se que a maior demanda por alimentos e bioenergéticos em
função do crescimento populacional, do aumento da renda e da evolução de políticas energéticas no
mundo devem contribuir para o desempenho positivo desse setor. Essas premissas são corroboradas
pelas perspectivas de expansão do agronegócio para os próximos dez anos, publicadas pelo
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA, 2018). Nesse sentido, projeta-se um
crescimento de 2,9% a.a. no período 2020-2029.

3.2.2. Serviços

O setor de serviços acompanhará o crescimento gradual da renda e do consumo das famílias,


apresentando taxas mais significativa no segundo quinquênio. Em média, espera-se um crescimento
de 2,9% a.a. para o horizonte decenal.

Atualmente, apesar da elevada participação no PIB4, o setor de serviços no Brasil ainda é


caracterizado pelo predomínio de atividades de baixa produtividade, baixos salários médios, baixo
conteúdo tecnológico e baixa inovação (ARBACHE, 2015).

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O valor adicionado do setor de serviços corresponde a cerca de 70% do PIB (em R$ de 2010).

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

Há evidências empíricas de que esse setor apresenta uma tendência de crescimento de sua
participação no PIB à medida que os países se tornem mais desenvolvidos, uma vez que o aumento
da renda média da população tende a aumentar a demanda de serviços como saúde, educação,
seguridade, entre outros. Além disso, espera-se que com maior desenvolvimento econômico e
tecnológico, ocorra uma expansão dos serviços com perfil de maior valor agregado e com maior nível
de qualificação da mão de obra, como aqueles ligados aos segmentos de tecnologia da informação e
comunicação.

3.2.3. Indústria

O setor industrial foi um dos que mais sofreram com a crise econômica, atingindo altos graus de
ociosidade, sobretudo aqueles segmentos mais atrelados à demanda interna, como a indústria de
transformação e a construção civil. Sendo assim, no curto prazo, espera-se que o excesso de
capacidade ociosa contribua para um crescimento mais significativo do setor. Já no médio prazo, a
realização de reformas microeconômicas parciais terá impactos em termos de competitividade do
setor, possibilitando uma taxa de crescimento próxima ao do PIB. No período entre 2020 e 2029,
espera-se que o valor adicionado do setor cresça 3,2% a.a.

No que diz respeito à indústria extrativa, este setor é bastante competitivo, em função de reservas
minerais de boa qualidade e quantidade, assim como pela presença de empresas competitivas e com
infraestrutura interligada aos mercados internos e internacionais. Assim, espera-se que a indústria
extrativa apresente o maior crescimento do setor industrial, com expansão de 4,0% a.a. até 2029. A
contribuição ao crescimento do segmento de extração de minério de ferro deverá ser mais
concentrada no primeiro quinquênio, enquanto a exploração de petróleo e gás impulsionará o
desempenho do setor ao longo de todo o horizonte em virtude do pré-sal.

O setor de construção civil e infraestrutura deverá retomar de forma mais lenta que os demais da
indústria. O ramo imobiliário enfrenta, no início do período, altos volumes de estoques somados a
condições de demanda ainda limitadas por conta da recuperação lenta do mercado de trabalho, bem
como das condições de crédito restritivas.

A infraestrutura, por sua vez, esbarra na baixa disponibilidade do Estado de arcar com investimentos,
uma vez que o cenário prevê que a situação fiscal exigirá um prolongado período de ajuste.
Entretanto, espera-se que com a recuperação da confiança dos agentes e com avanços na realização
de concessões, sejam realizados investimentos no setor, com potencial de crescimento para reduzir
os déficits habitacionais, sanitários e os gargalos de infraestrutura, com a realização de concessões.
O crescimento médio esperado para a construção civil é de 2,8% a.a. ao longo do decênio.

A produção e a distribuição de energia elétrica, de água e de gás está fortemente associada à


atividade econômica e ao uso dos serviços básicos pela população. Espera-se uma evolução natural
em função do acesso ao saneamento, do aumento do número de domicílios, assim como de uma

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

possível mudança do perfil médio de consumo das famílias com mais eletrodomésticos. É importante
destacar a existência de potencial de ganhos de eficiência no setor, tanto na ótica da oferta, quanto
no consumo, com equipamentos mais econômicos e mudanças de hábitos. Sendo assim, o valor
adicionado do setor crescerá a uma taxa de 2,7% a.a., um pouco abaixo do PIB.

A indústria de transformação, segmento caracterizado pelo forte dinamismo, é responsável pela


maior parte da produção industrial, fornecendo não apenas produtos para consumo final, como
também intermediários para a própria indústria, além de bens de capital.

No curto prazo, o excesso de ociosidade permitirá que a indústria de transformação responda


rapidamente ao crescimento da demanda decorrente do reaquecimento da atividade econômica. A
expectativa de algumas reformas em nosso cenário que reduzam entraves burocráticos e aliviem a
complexidade fiscal, ainda que apenas parcialmente, contribui para uma elevação de competitividade
da indústria no médio e longo prazos. Dessa forma, espera-se que a transformação avance um pouco
mais na direção de bens com maior agregação de valor no segundo quinquênio, ainda que sem uma
mudança estrutural significativa.

Sendo assim, a média de crescimento da transformação no horizonte decenal é de 3,0% a.a., sendo
que o primeiro quinquênio será marcado pela recuperação dos segmentos de demanda mais
impactados pela crise, notadamente os bens duráveis e de capital. O Gráfico 9 mostra as taxas de
crescimento médias por quinquênio dos segmentos da indústria.

Gráfico 9 – Evolução dos valores adicionados dos setores industriais (% a.a.) – 2020-2029

4,3% 5,3% 5,0%


3,8%
3,1% 2,8% 3,1% 2,8%
2,4% 2,4% 2,6% 3,0%
1,4% 1,7%

-1,7%

-5,8%

2010-2014 2015-2019 2020-2024 2025-2029

Extrativa Transformação Construção EE água e Gás

Fonte: IBGE (histórico) e EPE (projeções).

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

BOX I – Quais são os condicionantes para que a economia brasileira apresente um maior crescimento
nos próximos 10 anos?

O contexto econômico atual, tanto doméstico quanto global, apresenta uma série de incertezas, o
que amplia o desafio de construir cenários para o médio e longo prazo. Ainda que neste estudo tenha
sido considerado uma trajetória de referência, é importante considerar que, a depender de como
essas incertezas se concretizem, a economia brasileira pode apresentar trajetórias distintas de
crescimento.

Nesse sentido, este box apresenta alguns dos fatores que poderiam levar a um cenário de
crescimento mais forte, já que este seria mais desafiador em termos de planejamento energético,
por necessitar de maior esforço, em termos de expansão de oferta, para atender a demanda de
energia mais elevada.

Um dos principais fatores seria a realização de reformas importantes, que tem o potencial de
melhorar o ambiente de negócios e contribuir para aumentar a competitividade da economia
brasileira. Entre essas reformas, destaca-se a tributária que buscaria simplificar o sistema brasileiro
com o objetivo de torna-lo mais eficiente e eficaz, permitindo uma redução do custo Brasil e atraindo
mais investimentos.

Tais reformas permitiriam uma recuperação mais rápida e forte da confiança, já quem um contexto
de maior credibilidade, os empresários tenderiam a ampliar ainda mais seus investimentos,
contribuindo para o crescimento econômico. Ao mesmo tempo, os consumidores também seriam
impactados, com melhorias nos mercados de trabalho e crédito, proporcionando uma recuperação
mais rápida da demanda interna.

Ainda que tais reformas tenham um impacto mais significativo no médio e longo prazo, uma
recuperação mais rápida aconteceria no curto prazo em virtude da alta capacidade ociosa atual da
economia, que possibilita uma rápida resposta em termos de capacidade de oferta frente a uma
retomada da demanda. Já no médio e longo prazo, há necessidade de expansão da oferta, com maior
esforço em termos de investimento e de medidas para solucionar os principais gargalos da economia.

Neste cenário alternativo, a economia brasileira cresceria 3,5% a.a. nos próximos dez anos,
acumulando um aumento de cerca de 46% em relação ao PIB de 2018. O Gráfico 10 mostra o
comportamento dessa variável nos próximos dois quinquênios (no cenário de referência, o
crescimento acumulado é de 36% até 2029). Em termos setoriais, os três macrossetores seriam
impactados positivamente pelos ganhos de produtividade. Sendo assim, a indústria alcança uma taxa
de 3,6% a.a., impulsionada pelo maior nível de investimentos e maior crescimento da demanda
interna, enquanto os serviços e a agropecuária crescem 3,5% a.a. e 3,2% a.a., respectivamente. Dadas

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

as projeções demográficas, isso resultaria em um crescimento de 3,0% a.a. do PIB per capita neste
mesmo período

Gráfico 10 – Evolução do PIB e do PIB per capita no cenário alternativo

3,7%
3,4% 3,5%
3,0% 2,9%
2,7%

-0,4%

-1,1%

2010-2014 2015-2019 2020-2024 2025-2029

PIB PIB per capita

Fonte: IBGE (histórico) e EPE (projeções).

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NOTA TÉCNICA | Cenário econômico para os próximos dez anos (2020-2029)

4. Referências
ARBACHE, J. Produtividade no setor de serviços. In: NEGRI, F. R; CAVALCANTE , L. R. (orgs.)
Produtividade no Brasil: Desempenho e Determinantes – Vol 2. Brasília: Ipea, 2015.

CONFERENCE BOARD. Total Economy Database - Growth Accounting and Total Factor Productivity.
Disponível em: < http://www.conference-board.org>. Acesso em jan/2019.

FMI [Fundo Monetário Internacional]. World Economic Outlook Reports: Challenges to Steady
Growth. Washington, DC: October, 2018. Disponível em <
https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2018/09/24/world-economic-outlook-october-
2018>. Acesso em: 12 ago. 2019.

_______________. World Economic Outlook Update: A Weakening Global Expansion. Washington,


DC: January, 2019. Disponível em <
https://www.imf.org/en/Publications/WEO/Issues/2019/01/11/weo-update-january-2019>. Acesso
em: 12 ago. 2019.

IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]. Contas Nacionais Trimestrais - 4º trimestre de


2019. Disponível em: < http://www.ibge.gov.br/>. Acesso em jul/2019.

MAPA [Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento]. Projeções do Agronegócio 2017/2018


a 2027/2028. Brasília: MAPA, 2018.

Fontes de dados

BCB [Banco Central do Brasil]: http://www.bcb.gov.br

Conference Board: https://www.conference-


board.org/data/economydatabase/index.cfm?id=27762

FMI [Fundo Monetário Internacional]: http://www.imf.org

IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística]: http://www.ibge.gov.br

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