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​ Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP

Faculdade de ciências aplicadas - FCA

Mudanças climáticas e políticas públicas em nível municipal

Carlos Rufino - RA: 195412


Micael Alves - RA: 203722

Limeira-SP
2019
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Introdução

O tema das mudanças climáticas possui extrema importância, tanto no âmbito de um


país, como de um município. Nos últimos dias após a divulgação de novas queimadas nas
regiões da floresta amazônica, esse assunto ficou ainda mais em evidência, colocando em
xeque as políticas públicas em relação a preservação ambiental e planos de ação para garantir
essa preservação. Segundo o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)
está previsto o aumento da temperatura mundial em até 1,8°C, até 2100, no Brasil, o relatório
aponta que a temperatura pode aumentar de 1°C até 6°C, algo muito preocupante.
Na questão de políticas públicas municipais vamos abordar o município de Curitiba,
localizado no estado do Paraná, para evidenciar o trabalho da gestão municipal em relação a
este problema. A secretaria municipal do meio ambiente por meio do portal da prefeitura
municipal disponibiliza um relatório com ações que o município deve tomar e até
recomendações aos governos estaduais e federais em relação às mudanças climáticas.
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1- Como o problema é declarado pelo município

Um dos relatórios mais recentes publicados através dos portais do município é:


CURITIBA AÇÕES ESTRATÉGICAS: CLIMA E RESILIÊNCIA. O relatório foi elaborado
durante o Seminário de Cidades Resilientes Comunidade e Clima (SECIRE) reunidos em
Curitiba-PR, nos dias 14, 15 e 16 de outubro de 2015.

Para que fosse desenvolvido o relatório e apresentados as diversas análises,


indicadores e propostas, foi necessário o trabalho em conjunto de diversos atores que se
dialogam para que se possam ser alcançados os objetivos para a resolução dos impactos
ambientais.

O ator principal que trás o relatório é a secretaria municipal do meio ambiente de


Curitiba, sendo que para a realização do relatório, foram apoiadores e financiadores ICLEI
(Governos locais pela sustentabilidade), ONU Habitat, União Europeia, e a prefeitura de
Curitiba.

2. definição do problema pela política (indicadores, consequências?)

No referido relatório, o município de Curitiba trás sua visão em relação aos problemas
enfrentados relacionados às mudanças climáticas, na carta que inicia o relatório, o autor
afirma em sua visão que “Cidades que adotam o modelo de desenvolvimento sustentável e
conservam adequadamente suas áreas naturais têm maior potencial de adaptação, resistindo
melhor aos impactos de eventos climáticos extremos” evidenciando de início o caminho pelo
qual irá traçar no desenvolvimento de políticas, e ainda afirma “Por essa razão, a conservação
de ecossistemas naturais em ambientes urbanos e periurbanos é de suma importância para
diminuir a vulnerabilidade das cidades aos impactos das mudanças climáticas.”
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Para que as políticas pudessem ser melhores direcionadas foi realizado o 2º Inventário
de Emissão de Gases de Efeito Estufa. O relatório segue as diretrizes orientadas pelo IPCC de
2006 para inventários nacionais de GEE.

A coleta de dados foi realizados em diversos pontos e contaram com o


acompanhamento da ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade.

Os dados apresentados no inventário, são comparados graficamente e posteriormente


são realizadas breves análises dos anos de 2012 (dados do inventário anterior) e 2013 (ano do
referido relatório).

O primeiro indicador apresentado é a participação dos setores na emissão de GEE. Em


2012 foram emitidos o total de 3.656.358 toneladas de ​CO​2 eq,
​ sendo que a participação dos
setores de transporte, energia estacionária e resíduos são respectivamentes 75%, 14% e 11%.
No ano de 2013 foram emitidos 4.125.853 toneladas de ​CO​2​eq sendo que a participação foi
para os respectivos setores 72%, 15% e 13%, evidenciando um leve aumento da participação
dos setores de energia estacionária e resíduos, porém mantendo-se a estrutura e emissões,
entretanto houve um aumento da emissão geral em aproximadamente 12% de um ano para o
outro.

Foi realizado também dentro de cada setor a participação das emissões por elementos
que o compõe, sendo que no setor de transporte os elementos são os terrestres, aviação,
hidroviário e o ferroviário. Em 2012 a participação dos veículos terrestres representou 83%
de toda a emissão de GEE no setor de transporte, em em seguida a aviação apresente uma
participação de 17%, sendo que respectivamente foram emitidos 2.293.726 toneladas de
CO​2​eq e 469.500 toneladas de ​CO​2​eq, totalizando no setor de transporte um total de
2.765.324 tCO2 eq. Os demais elementos que compõem o setor de transporte tiveram uma
contribuição muito baixa na emissão de GEE, representando graficamente 0%.

Em 2013 foram emitidos no setor de transporte um total de 2.976.179 t​CO​2​eq,


revelando um aumento em relação ao ano anterior de aproximadamente 7,6% nas emissões de
GEE. Sendos que veículos terrestres contribuíram com 84% da emissão no setor,
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representando em números absolutos 2.506.068 t​CO​2​eq, e a aviação contribuindo com 16%,
representando em valores absolutos 467.983 tCO2 eq.

A análise se estende e apresenta a participação dos elementos dos demais setores e


auxilia o entendimento da emissão dos GEE no município de curitiba.

Os autores do relatório “CURITIBA AÇÕES ESTRATÉGICAS: CLIMA E


RESILIÊNCIA” aponta o discurso do 4° relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas) que aponta o aumento da temperatura mundial em até 2º C em
comparação ao início da era industrial. O autor cita o Painel Brasileiro de Mudanças
Climáticas, em que a soma dos principais impactos das mudanças climáticas no Brasil indica
um cenário de redução do crescimento econômico, incluindo perdas representativas na
produção agrícola, crises no setor energético, aumento das desigualdades sociais,
intensificação da pobreza e grandes problemas na área de saúde.

Ainda que ações para diminuir as emissões de gases do efeito estufa possam
desacelerar o aumento da temperatura global, os eventos climáticos extremos ocorridos nos
últimos anos nas cidades brasileiras seguirão ocorrendo devido às emissões pretéritas
acumuladas, o que traz a luz as consequências da emissão de gases do efeito estufa e ainda
demonstra a real necessidade de estratégias de adaptação às mudanças climáticas para o país.

3. Estratégias e ações

Por meio de um decreto (Decreto n.º 1.186/2009), o município de Curitiba instituiu


um plano de ação, com objetivo de preparar o município para as consequências das mudanças
climáticas, prevendo ações de médio e longo prazo que irão fundamentar de forma científica
e técnica a posição do plano municipal de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e,
após amplo debate com a sociedade curitibana, será transformado em Projeto de Lei a ser
apreciado pela Câmara Municipal de Curitiba.
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O plano de ação consiste nas seguintes etapas:

1 - A execução do Inventário das fontes de absorção de gases de efeito estufa no


Município, com ênfase nas florestas municipais.

2 - O Inventário das fontes de emissão de gases de efeito estufa, fixas e móveis nos
limites da cidade, nas metodologias estabelecidas pelo Painel Intergovernamental para
Mudanças Climáticas.

3 - Elaboração do estudo de vulnerabilidades, que indicará em que áreas a prefeitura


municipal deverá incrementar as suas ações, elaborado de acordo com as particularidades
locais e as previsões de conseqüências climáticas.

4 - Com as informações produzidas se formulará a proposta do Plano Municipal de


Mitigação e Adaptação à mudança climática, contendo os planos, programas e ações a serem
adotados de imediato e a médio e longo prazo, objetivando a redução das emissões.

5 - Formulação de indicadores para contextualizar o papel de cada cidadão curitibano


pode exercer na mitigação e adaptação às mudanças climáticas.

6 - Realização de Audiências Públicas em todas as Administrações Regionais da


cidade, com o intuito de ouvir e considerar as opiniões da população sobre o Plano proposto

Como citado, uma dos planos de ação é a execução do Inventário das fontes de
absorção de gases de efeito estufa no Município, com ênfase nas florestas municipais. O
objetivo deste inventário é identificar a capacidade de absorção de carbono (um dos GEE) por
parte florestas municipais.

O estudo realizado entre os anos de 2008 e 2009 demonstrou que nas florestas
municipais que continham um número maior de araucárias, a quantidade de carbono
acumulado era maior, de maneira que colabora para que as reservas de carbono no municípios
de destaque dentre os demais municípios do país. A conclusão que se chega a respeito disso é
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que segundo o inventário “ a presença de araucárias pode interferir de maneira positiva nos
estoques de carbono em áreas naturais de Curitiba.”

Esse tipo de pesquisa pode colaborar e muito com o direcionamento de políticas para
o desenvolvimento de áreas florestais visando a prevenção e o combate das mudanças
climáticas resultantes da emissão de gases de efeito estufa.

Entretanto em todo o relatório não são apresentados os planos de ações detalhados


voltados aos dados obtidos. São apresentados apenas alguns planos de ação como já citados,
porém a elaboração detalhada dos processos para se implementar tais planos não são
devidamente desenvolvidos no relatório em questão.

4. Atores envolvidos na formulação e implementação

Os autores envolvidos na formulação e futura implementação do plano de ação acima


citadas, são: A Secretaria Municipal do Meio Ambiente- SMMA, Conselho Municipal do
Meio Ambiente – CMMA, ICLEI - GOVERNOS LOCAIS PELA SUSTENTABILIDADE
(SAMS), União Europeia, e a Prefeitura Municipal de Curitiba. A segundo o relatório, haverá
consulta a população, para que então possa ser incluído, políticas públicas pensadas pelos
próprios beneficiário, que possuem uma visão mais ampla, pois em parte são os mais
afetados.

A ICLEI - GOVERNOS LOCAIS PELA SUSTENTABILIDADE, tem o papel de


apoio a esse relatório, já a União Europeia financiou a execução deste relatório e realizado
pela Prefeitura Municipal de Curitiba, pela sua Secretária Municipal do Meio Ambiente-
SMMA.

5 - Recursos disponibilizados

Em sua LOA (Lei orçamentária anual), está previsto o valor de R$481.381.000,00​


para o ano de 2019, porém esse valor compete para toda a Secretaria Municipal do Meio
Ambiente- SMMA, que possui um amplo trabalho no município de curitiba, como as
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revitalizações e manutenção dos parques da cidades, pagamentos de funcionários, obras de
revitalização de bacias hidrográficas do município, entre outras despesas que envolve a
Secretaria Municipal do Meio Ambiente- SMMA. Entre as despesas alocadas na LOA (Lei
orçamentária anual), a que mais se enquadraria na proposta de preservação das florestas
municipais é a de manutenção e execução de programas e projetos de controle, preservação,
melhoria da qualidade ambiental e equilíbrio ecológico, com o valor de R$ 1.053.000,00.

6 - Comparação entre a estratégia do município de Curitiba com a Austrália

O município de Curitiba tem como um de seus objetivos o aumento da absorção de


gás carbônico - ​CO​2 , porém ainda se encontra em fase de estudo, os pesquisadores
quantificaram a absorção de gás carbônico ​CO​2 nas áreas verdes que o município possui. Os
autores do relatório concluíram que dentro da cidade o contingente de árvores utilizadas na
arborização é grande e absorvem o carbono oriundo do processo fotossintético em sua
estrutura interna.

Como apresentado, uma das estratégias para o combate e redução dos GEE é a
absorção por parte das florestas da região e a importância das araucárias para a absorção do
carbono. Porém no relatório apresentado pela Secretária Municipal do Meio Ambiente-
SMMA não há descrito como a prefeitura através da secretaria vai por em prática esse plano.

Quando olhamos para o país escolhido, a Austrália também busca controlar a emissão
dos gases de efeito estufa, porém o país em 2012 implementou uma política um tanto quanto
diferente a do município de curitiba, segundo o artigo AQUECIMENTO GLOBAL:
ACORDOS INTERNACIONAIS, EMISSÕES DE CO2 E O SURGIMENTO DOS
MERCADOS DE CARBONO NO MUNDO o autor apresenta as políticas adotadas por
diversos países, entre eles a austrália, e segundo o autor, uma das medidas tomadas pela
austrália para a redução da emissão dos GEE, foi a criação das chamadas “Alíquotas de
impostos sobre carbono”, o imposto sobre carbono se resume em “qualquer preço a ser pago
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pela emissão de carbono com alguma métrica bem definida, tal como US$/tonelada de CO2
eq” (WORLD BANK, 2016, p. 131).

Entretanto existe um conflito político no país, a Austrália é o país que mais emitem
GEE per capita, tendo em vista a dependência da geração de energia provinda da queima de
carvão. No relatório elaborado pela United Nations Association of Australia, aponta que na
austrália a geração de energia elétrica é responsável por 34% das emissões de gases do efeito
estufa - GEE, pois o principal fonte para geração de energia elétrica é a queima de carvão
mineral.

O país em 2012 taxou um total de 60% dos setores industriais, grandes consumidores
de gás e atividades agrícolas. O valor médio taxado de US$/tonelada de CO2 eq ficou em
aproximadamente 18,6/tCO2 em 2012. “O Mecanismo de Precificação do Carbono (CPM),
aplicado desde 2012. O preço do carbono foi fixado (ou seja, funcionou como um imposto
sobre o carbono) nos três primeiros anos, antes da migração para o esquema de mercado de
emissões, em 2015.”(AQUECIMENTO GLOBAL, 2018, p. 234).

Pode-se concluir assim que existem diversas estratégias para se combater os efeitos
causados pela emissão de GEE, desde estudos sobre o plantio de espécies de árvores em
meios as florestas para uma maior absorção do carbono (no caso do município de Curitiba),
até a criação de impostos de setores que emitem grandes quantidades de carbono (caso da
Austrália e outros países que adotaram essa medida).

Entretanto as expectativas apresentadas pelo IPCC são de agravamento dos impactos


ambientais causados pelo aumento da emissão dos gases de efeito estufa, demonstrando
assim que é necessário cada vez mais de se trabalhar para que os países, unidos em um só
propósito, trabalhem em conjunto para o desenvolvimento de pesquisas e políticas que
auxiliem em princípio o controle da emissão dos gases e num futuro próximo uma redução
gradual desses gases na atmosfera e o trabalho em conjunto contra os desmatamentos e o
incentivo ao plantio de árvores nos perímetros urbanos e o reflorestamento de áreas
desmatadas para a contribuição da absorção do carbono gerado.
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7 - Referências:

ICLEI-BRASIL; PREFEITURA DE CURITIBA. Curitiba Ações Estratégicas: Clima


e Resiliência. Curitiba, 2016. Acesso em 29/08/2019
<​http://multimidia.curitiba.pr.gov.br/2016/00182811.pdf​>

AQUECIMENTO GLOBAL: ACORDOS INTERNACIONAIS, EMISSÕES DE


CO2 E O SURGIMENTO DOS MERCADOS DE CARBONO NO MUNDO. BNDES Set.,
Rio de Janeiro, v. 24, n. 48, p. 167-244, set. 2018 Acesso em 29/08/2019
<​https://web.bndes.gov.br/bib/jspui/bitstream/1408/16043/2/PRArt214085_Aquecimento%20
global_compl_P.pdf​>

PREFEITURA MUNICIPAL DE CURITIBA, PEÇA ORÇAMENTÁRIA DO


EXERCÍCIO DE 2019 - LEI ORÇAMENTÁRIA ANUAL - ​Decreto nº 1462, de 27/12/18
<​http://www.orcamentos.curitiba.pr.gov.br/orcamento2019/QDD_2019_INTERNET.pdf​>

Hunter, G. - Managing climate change in Australia. United Nations Association of


Australia.JAN/2019<https://www.unaa.org.au/wp-content/uploads/2019/02/UNAA-Climate-
Change-Position-Paper-2019-1-1.pdf>

Markovic,N. Climate change negotiations. Parliament of Australia. october of 2008


<​https://www.aph.gov.au/About_Parliament/Parliamentary_Departments/Parliamentary_Libr
ary/pubs/BN/0809/ClimateChangeNegotiations#frame​>

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