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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA

CÁLCULO DO INVENTÁRIO DE EMISSÕES DE GASES


EFEITO ESTUFA
ESTUDO DE CASO EM UMA INDÚSTRIA QUÍMICA

Elzbieta Mitkiewicz

Orientador:
Marco Antonio Gaya de Figueiredo, D.Sc, IQ/UERJ

Rio de Janeiro, Agosto, 2007


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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA

Cálculo do Inventário de Emissões de Gases Efeito Estufa

Estudo de caso em uma Indústria Química

ELZBIETA MITKIEWICZ

Dissertação submetida ao corpo docente do Programa de Pós-graduação em


Engenharia Química do Instituto de Química da Universidade do Estado do Rio de
Janeiro como requisito final para a obtenção do título de Mestre em Ciências em
Engenharia Química.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________________
Prof. Dr. Marco Antonio Gaya de Figueiredo – PPGEQ/UERJ (orientador)

_____________________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Altino Medeiros Rodrigues – IQ/UERJ

_____________________________________________________________
Dr. Roberto de Barros Emery Trindade - Petrobras

_____________________________________________________________
Prof. Dr. Ubirajara Aluizio de Mattos - FEN / UERJ

Rio de Janeiro, RJ – Brasil


Agosto - 2007
CATALOGAÇÃO NA FONTE
UERJ/REDE SIRIUS/CTC/Q

M684 Mitkiewicz, Elzbieta


Cálculo do inventário de emissões de gases efeito estufa, estudo
de caso em uma indústria química. / Elzbieta Mitkiewcz. – 2007.
X, 162 f.

Orientador : Marco Antonio Gaya de Figueiredo


Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, Instituto de Química.

1. Gases de combustão – Levantamentos – Teses. 2. Dióxido de


carbono – Estudo de casos – Teses. 3. Ar - Poluição – Teses. I.
Figueiredo, Marco Antonio Gaya de. II. Universidade do Estado do
Rio de Janeiro. Instituto de Química. III. Título.

CDU 504.3

iii
RESUMO

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) tem comprovado com


nível de confiança cada vez maior, ao longo dos últimos anos, a forte relação entre o aumento
da temperatura média global e o aumento dos gases de efeito estufa (GEE’s) principalmente
quanto ao gás que mais contribui para a composição desses gases: o gás carbônico ou CO2.
O Brasil se insere no rol dos emissores desse gás, principalmente devido ao desmatamento
das reservas florestais que possui. Assim, assumiu o compromisso na Convenção Quadro das
Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (United Nations Framework Convention on
Climate Change UNFCCC) de estabilizar suas emissões e inventariar periodicamente os seus
GEE’s. Dentro deste contexto, cabe também à indústria levantar sua parcela de
responsabilidade significativa neste processo ameaçador para a vida no planeta terra.
Desta forma, o principal objetivo do presente trabalho foi o de levantar e contabilizar o
Inventário dos GEE’s emitidos em 2006 por uma empresa que produz importantes insumos
para a indústria de petróleo. A pesquisa bibliográfica sobre a metodologia mais adequada e
sua aplicação para a empresa em estudo foram os principais objetivos específicos.
A autora não encontrou fatores de emissão de CO2 (kg CO2/TJ do combustível, detalhado no
decorrer deste trabalho) desenvolvidos no Brasil para levantar o inventário, com um nível
razoável de confiança, que reflita a situação real e local. Toda a pesquisa bibliográfica feita
mostrou que os trabalhos realizados mesmo por órgãos governamentais brasileiros usaram a
metodologia do IPCC (versão anterior à usada neste trabalho) que foi elaborada por países
desenvolvidos, que não é o nosso caso ou realidade.
Foram feitas diversas visitas à empresa, levantadas todas as fontes potenciais de emissão,
consumos e características de todos os combustíveis usados, bem como o levantamento do
trabalho desenvolvido sobre geração de mudas de plantas no seu horto.
Através de cálculos por essa metodologia reconhecida mundialmente (IPCC) a autora
encontrou um valor em torno de 76.000 toneladas de CO2 emitidos pela empresa em 2006. A
empresa neutralizou cerca de 80 toneladas de CO2, através da produção de mudas (para
doação e plantio em torno de uma área que é um passivo ambiental) em seu horto e o que
plantou na área desse passivo em 2006. Isso significou cerca de 0,1% do que emitiu.
Palavras-chave:
Inventário de emissões de gases de efeito estufa;
Metodologias para Inventário de emissões e de captura, armazenamento e seqüestro de CO2.

iv
ABSTRACT

The Intergovernamental Panel Climate Change - IPCC from ONU has proved with higher
level of confidence, along last years, a strong relation between the global average temperature
increasing and the Greenhouse Gases increasing mainly about the biggest contributor to the
composition in these gases: the carbonic gas or CO2.
Brazil is included in the list of these gas polluters, mainly because of its deforestation. Then,
it assumed the commitment with United Nations Framework Convention on Climate Change
UNFCCC of stabilize and calculate his Greenhouse Gases (GHG) Inventory. In this context,
the industries must to survey their part of responsibility in this threatening process for the life
in this planet.
For the reasons above, the main purpose from the present work is to calculate the Greenhouse
Gases emissions inventory in 2006 from a enterprise that produces important inputs for a
petroleum industry.
The specific purposes were to research the bibliography about the most suitable methodology
and its application for this enterprise.
The author of this work didn’t find any emission factors for CO2 developed in Brazil for
calculate the inventory, with a reasonable level of confidence, which can show the real and
local situation about this subject. Then, the entire bibliographic search done showed that the
works found even in governmental institutions used the IPCC methodology, done by
developed countries, that isn’t our reality.
For this study, it was done several visits to that enterprise and identified all the sources from
these GHG, fuel uses and their quantities and intensive bibliographic searches about several
national and international methodologies. It was seen the developed work done by this
enterprise about generation of seedling (plants) in its market garden. It was chosen the IPCC
methodology that was the tool to calculate about 76.000 t of CO2 emitted by the enterprise in
2006. This studied enterprise neutralized 80 t of CO2, through the production of plants
cuttings (for donation to people and to plant in around an area that is an environmental
passive) in its market garden and what it planted in that passive area in 2006. This was about
0,1% on that it emitted.
Key- words:
Greenhouse gases Emissions Inventory.
Methodologies for Greenhouse gases Emissions Inventory and CO2 capture and storage.

v
SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................................iv
ABSTRACT................................................................................................................................v
LISTA DE FIGURAS E DE GRÁFICOS...............................................................................viii
LISTA DE TABELAS...............................................................................................................ix
LISTA DE ABREVIATURAS..................................................................................................xi
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1
2. METODOLOGIA DE TRABALHO ..................................................................................4
3. EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA ...............................................................6
3.1 Mudanças Climáticas e Emissões......................................................................................7
3.1.1 Quais são os GEE’s e suas fontes?.....................................................................................7
3.1.2 O que é efeito estufa e qual o processo de sua formação?..............................................11
3.1.3 Quais e porque as conseqüências tão temidas? ..............................................................13
3.2 Histórico.............................................................................................................................22
3.2.1 Mudanças Climáticas: Evolução dos debates.................................................................22
3.3 O Protocolo de Kyoto........................................................................................................26
4. MECANISMOS PARA CAPTURA, ESTOCAGEM E FIXAÇÃO DE CO2 ...............28
4.1 Principais métodos para captura de CO2.......................................................................29
4.2 Principais métodos para estocagem de CO2...................................................................29
4.3 Reflorestamento................................................................................................................32
5. PRINCIPAIS TRABALHOS COM METODOLOGIAS DE INVENTÁRIO DE
EMISSÕES..............................................................................................................................45
5.1 Primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa
emissões de dióxido de carbono por queima de combustíveis: abordagem “top-down”. 47
5.2 - Coeficientes da matriz de emissões ..............................................................................52
5.3 - Avaliação das Emissões de CO2 pelo uso do Processo “Top-Down” Estendido.......55
5.4 Primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa por
queima de combustíveis (abordagem bottom-up) COPPE/MCT.......................................56

5.5 Transportes........................................................................................................................57

5.6 - IPCC 2006 .......................................................................................................................60


5.7 – Projeto de Norma ABNT/CB-38 38:009.01-001/1.......................................................62
6. ESTUDO DE CASO............................................................................................................64

vi
6.1 - Descrição Resumida da Empresa .................................................................................64
6.2 Situação ambiental da empresa pesquisada...................................................................66
6.2.1 Caracterização Geológica da região de contorno da empresa estudada.......................66
6.2.2 Caracterização Hidrogeológica......................................................................................66
6.2.3 Histórico do passivo ambiental .......................................................................................66

6.2.4 Ações na área ambiental..................................................................................................67


6.3 Levantamento do Inventário de emissões ......................................................................70
6.3.1 Considerações preliminares............................................................................................70
6.3.2 Levantamento por Fontes e Gases emitidos...................................................................75
6.3.3 Síntese dos resultados......................................................................................................92
7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES.........................................................................96
7.1 Conclusões..........................................................................................................................96
7.2 Recomendações específicas à empresa ...........................................................................97
7.3 Recomendações gerais......................................................................................................97
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA......................................................................................98

ANEXO I
ANP - PORTARIA Nº 104, DE 8 DE JUlHO DE 2002 Especificação de GN
ANEXO II
ABNT/CB-38 PROJETO 38:009.01-001/1 JANEIRO:2007
ANEXO III
Dados e cálculo de CO2 absorvido pela vegetação da empresa estudada
ANEXO IV
GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA E CONSUMO DE COMBUSTÍVEIS
ANEXO V
ANUÁRIO ESTATÍSTICO da ANP de 2005

vii
LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1. Participação relativa dos GEE´s na atmosfera .......................................................12


Figura 3.2 Processo de formação do efeito estufa....................................................................13
Figura 3.3 Concentrações atmosféricas passadas e futuras de CO2..........................................15
Figura 3.4 Variação da temperatura da superfície da terra de 1000 a 2100 .............................16
Figura 3.5 Concentrações atmosféricas de importantes GEE’s de vida longa nos últimos 2.000
anos...........................................................................................................................................18
Figura 3.6 Variação da temperatura da superfície da terra com a da concentração de CO2
atmosférico................................................................................................................................19
Figura 3.7 Mudanças na temperatura, nível do mar e cobertura de neve no hemisfério
norte..........................................................................................................................................20
Figura 3.8 Contribuição para a força radiativa.........................................................................21
Figura 3.9 Interações entre os parâmetros que influenciam no clima.......................................22
Figura 4.1 Alternativas para captura e estocagem de CO2........................................................30
Figura 4.2 Alternativas para armazenamento geológico...........................................................31
Figura 4.3 Esquema simplificado da fotossíntese.....................................................................35
Figura 4.4 – Cloroplastro..........................................................................................................36
Figura 4.5 Representação de fotossíntese.................................................................................36
Figura 6.1 Fluxograma da empresa avaliada............................................................................65

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 6.1 - Participação por tipo de emissão........................................................................92


Gráfico 6.2 - Determinação da maior fonte das emissões diretas............................................93
Gráfico 6.3 - Participação das fontes de outras emissões indiretas.........................................94

viii
LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 Potenciais de aquecimento Global (GWH) e tempos de vida atmosférica


(anos).........................................................................................................................................10
Tabela 4.1 Listagem das espécies trabalhadas com o respectivo valor do carbono resgatado
por indivíduo por ano................................................................................................................39
Tabela 4.2 Densidade e estrutura de algumas espécies maduras da mata atlântica................44
Tabela 5.1 Fatores de emissão FEC (t C/TJ) usados no 1º Inventário Brasileiro (Top Down)50
Tabela 5.2 Fração de carbono oxidado.....................................................................................53
Tabela 5.3 Valores comparativos de FEC’s para 2004.............................................................55
Tabela 5.4 Fatores de emissão para carros de passeio..............................................................59
Tabela 5.5 Fatores de emissão para ônibus...............................................................................59
Tabela 6.1 Valores de tC/TJ de CO2 e de kg CO2/TJ (IPCC 1996 e 2006)..............................72
Tabela 6.2 FE’s de CH4 e N2O para fontes estacionárias.........................................................73
Tabela 6.3 Diferença de FE’s por equipamento........................................................................73
Tabela 6.4 FE’s de CH4 e N2O para fontes móveis..................................................................74
Tabela 6.5 Consumo de matérias primas (Potenciais geradores de GEE’s no Processo).........76
Tabela 6.6 – Consumos de combustíveis pela retroescavadeira, empilhadeiras e refeitório... 76
Tabela 6.7 - Dados e cálculo do consumo em litros de óleo diesel em transporte de cargas....77
Tabela 6.8 Dados e cálculo de consumos totais dos combustíveis para transporte de pessoas79
Tabela 6.9 Balanço de massa da sacarose para tratamento.......................................................80
Tabela 6.10 Dados de entrada para o cálculo dos consumos de combustíveis em unidades de
energia.......................................................................................................................................81
Tabela 6.11 Cálculo das Emissões Diretas de GEE’s...............................................................83
Tabela 6.12 Cálculo de Outras Emissões Indiretas de GEE’s..................................................85
Tabela 6.13 Cálculo de FEC e de CO2 emitido de Álcool Etílico Anidro Combustível .........86
Tabela 6.14 Cálculo das emissões de CO2 das biomassas........................................................87
Tabela 6.15 Geração de energia elétrica e consumo de combustíveis......................................88
Tabela 6.16 Consumo de combustíveis na geração de eletricidade no Brasil em 2006 e cálculo
de suas emissões........................................................................................................................90
Tabela 6.17 Cálculos das emissões nacionais em t CO2e / GWh.............................................91

ix
LISTA DE ABREVIATURAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas


ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica
ANP – Agência Nacional do Petróleo
BEN - Balanço Energético Nacional
“Bottom-up” – “de baixo para cima”
CCS (Carbon Dioxide – CO2 – Capture and Storage) – Captura e Armazenamento de dióxido
de carbono – CO2
CCX – (Chicago Climate Exchange) – Bolsa do Clima de Chicago
CETESB - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (SP)
CFC’s - Clorofluorcarbonos
CO – Monóxido de carbono
COP – (Conference of Parties) Conferência das Partes
COPPE – Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-graduação e Pesquisas de Engenharia
DOE – (U.S. Department of Energy) – Departamento de Energia dos EUA
Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EUA – Estados Unidos da América
FE’s – Fatores de Emissão de GEE’s
FEC’s – Fatores de Emissão de Carbono
FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
GEE’s – Gases de Efeito Estufa
GWP – (Global Warming Potential) – Potencial de Aquecimento Global (PAG)
HCFC’s Hidroclorofluorcarbonetos
IPCC – (Intergovernmental Panel on Climate Change) - Painel Intergovernamental de
Mudanças Climáticas
IPEF - Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais
IPT - Instituto de Pesquisas Tecnológicas
ISO – (International Organization for Standarization) – Organização Internacional para
Padronização
MCT – Ministério da Ciência e Tecnologia
MDL - Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
MME – Ministério de Minas e Energia

x
MOP – (Meeting of Parts) - Encontro das Partes
O3 – Ozônio
ONS – Operador Nacional do Sistema elétrico
ONU – Organização das Nações Unidas
OSCIP e&e - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público Economia e Energia
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PPE - Programa de Planejamento Energético
Reference Manual – Manual de referência
SEMADS - Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
SOx – Óxidos de enxofre
SRES – (Special Report on Emissions Scenarios) - Relatório Especial sobre cenários de
emissão
tep – tonelada equivalente de petróleo
“Top-down” – “de cima para baixo”
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
UNFCCC – (United Nations Framework Convention on Climate Change) – Convenção
Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima
WMO – (World Meteorological Organization) – Organização Meteorológica Mundial

xi
1. INTRODUÇÃO

Diante dos constantes alertas sobre as mudanças climáticas globais e suas onerosas
conseqüências, além das catástrofes cada vez mais freqüentes observadas de fato, a
humanidade está começando a voltar sua atenção para a exausta fonte de vida que a acolhe: a
terra.

O IPCC - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU tem emitido vários


relatórios alarmantes ao longo de 2007 (com nível de confiança cada vez maior que os dos
anos anteriores) que o aumento da temperatura média global está diretamente relacionado
com o aumento dos gases de efeito estufa (GEE’s) de origem antrópica, principalmente
quanto ao que mais contribui para a composição desses gases: o gás carbônico ou CO2.

O Brasil tem compromisso assumido em inventariar periodicamente os seus GEE’s, de acordo


com o artigo 4 [1] da Convenção-Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima
(UNFCCC, em inglês) quando a assinou em junho de 1992. Essa Convenção foi ratificada
pelo Congresso Nacional, em fevereiro de 1994. A Convenção entrou em vigor para o Brasil
em maio de 1994, no nonagésimo dia após a ratificação pelo Congresso Nacional. Dentro
deste contexto, cabe à indústria levantar sua significativa parcela de responsabilidade neste
processo ameaçador para a vida neste planeta.

O objetivo geral deste trabalho foi o de levantar e contabilizar o Inventário dos GEE’s
emitidos em 2006 por uma indústria química que produz importantes insumos para a indústria
de petróleo, bem como o CO2 fixado através da produção, doação e plantação de mudas em
seu horto.

Para tal fim, os objetivos específicos foram:


• Pesquisar e encontrar métodos confiáveis e adotados no País ou no exterior para o
cálculo do inventário de emissões da empresa;
• Aplicar o método mais confiável e referenciado nacional e internacionalmente, que foi
o do IPCC na sua última versão (2006) e encontrar a forma de apresentar o inventário.
• Pesquisar e encontrar bibliografia sobre cálculo de fixação (ou neutralização no
sentido de compensação) de CO2 pela vegetação plantada na empresa ou doada a 3os.

1
Todos os trabalhos pesquisados sobre levantamento desse tipo de inventário se basearam nos
métodos do IPCC, principalmente em suas versões anteriores. Como exemplo, o 1º Inventário
Nacional de GEE’s, coordenado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) foi
realizado, usando a versão do IPCC de 1996 revisada com algumas adaptações ao sistema
energético brasileiro.

É importante frisar que o inventário da empresa estudada neste trabalho não foi obtido por
medições dos gases de efeito estufa e sim através de cálculos das emissões desses GEE’s, a
partir de fatores de emissão (tabelados nos métodos do IPCC) expressos em toneladas de GEE
por unidade energética (em terajoule ou TJ = 1012J) dos combustíveis usados.

O método do IPCC escolhido para este trabalho se baseia principalmente no uso desses
fatores de emissão para cada combustível e para cada um dos GEE’s emitidos por diversas
fontes (estacionárias e móveis) de diferentes setores (no caso específico da empresa, foi
adotado o setor energia, pois usa combustíveis fósseis para geração de calor nas fontes
estacionárias e para força motriz em suas fontes móveis).

Esses fatores de emissão de carbono C (doravante denominados FEC’s) ou CO2 (definidos no


Capítulo 5) são padrões (default, em inglês), apesar de que o teor de carbono varia até para o
mesmo combustível, pois não é uma substância pura e sim, uma mistura de hidrocarbonetos
que pode variar até mesmo entre campanhas ou bateladas. O mesmo acontece com a energia
liberada. Por esse motivo, as incertezas na determinação quantitativa das emissões são altas,
quando se usa os fatores do IPCC, que foram elaborados por outros países, onde os petróleos,
processos e derivados são diferentes entre si e do Brasil.

Apenas para se ter uma idéia da variabilidade das características dos combustíveis até dentro
do Brasil, o gás natural (um dos mais simples quanto à composição) principal combustível
usado pela empresa mencionada, tem especificações da ANP diferentes para o sudeste e norte
(ANEXO I).

Na pesquisa bibliográfica realizada, constatou-se que o Brasil ainda não desenvolveu seus
próprios fatores de emissão de GEE’s (doravante identificados por FE’s), ou seja, os fatos são
esses: ainda temos que usar os fatores fora da nossa realidade, mas consagrados

2
mundialmente. Isso reforçou a autora usar os fatores tabelados da versão 2006 do IPCC.

Cumpre destacar a dificuldade para encontrar na pesquisa bibliográfica, as características


físico-químicas dos combustíveis brasileiros, necessárias para o cálculo do inventário em
questão. Foi encontrada apenas uma fonte (ANP) que continha valores médios dessas
características, sem considerar as faixas, num nível de confiança aceitável.

Quanto à fixação de CO2 por vegetação, foram usados os valores de carbono resgatado pelas
espécies nativas do Paraná (de um artigo encontrado e apresentado no decorrer desta
dissertação) comuns às que foram plantadas na área da empresa. Para as espécies que não são
comuns às do artigo, estimou-se um valor médio na literatura encontrada, por sugestão da
bióloga da empresa estudada.

O presente trabalho apresenta no Capítulo 2, a metodologia de trabalho adotada para realizar


esta dissertação.

O capítulo 3 mostra o problema de Mudanças Climáticas, suas causas e conseqüências, além


de definir o que é o efeito estufa e os gases que o provocam.

O Capítulo 4 apresenta as tecnologias e procedimentos para captura e estocagem do principal


gás de efeito estufa (GEE): o gás carbônico ou CO2. Nesse Capítulo também são apresentados
trabalhos sobre seqüestro de CO2 por vegetação.

O resultado da pesquisa dos trabalhos realizados com métodos existentes para o cálculo do
inventário de emissões de GEE’s está no Capítulo 5.

O Capítulo 6 apresenta a empresa em questão e o levantamento de suas fontes emissoras, bem


como o cálculo das emissões (inventário) através da metodologia escolhida e detalhada. Além
disso, apresenta e quantifica a situação atual da empresa, em termos de neutralização destes
gases.

Finalmente, no Capítulo 7 constam as conclusões e recomendações.

3
2. METODOLOGIA DE TRABALHO

Para levantar o inventário de GEE’s emitidos pela empresa estudada, foi realizada pesquisa
em diversas fontes bibliográficas nacionais e internacionais sobre cálculos de emissões desses
gases. Nessa pesquisa, ficou claro que não foram desenvolvidos fatores de emissão nacionais,
para diminuir as incertezas e refletir melhor a realidade brasileira quanto às suas emissões em
toneladas de GEE por unidade energética dos combustíveis.

Todos os trabalhos vistos adotaram os métodos do IPCC (versões anteriores) usando seus
fatores internacionais, à exceção de um estudo, que usou os fatores da versão mais nova do
IPCC (2006).

Foram também pesquisadas na internet (sites e e-mails para o MME, MCT, ANP) as
características médias dos combustíveis nacionais com seus desvios padrão (pelo menos
regionalmente) na tentativa de conseguir “fabricar” fatores de emissão locais e, portanto, mais
confiáveis.

Foi realizado um delineamento dos limites do projeto (físicos e temporais) e dos critérios
correspondentes adotados. Assim, foi definido o ano base (2006), bem como identificadas e
delimitadas as fontes sob a responsabilidade da empresa estudada. Não foram consideradas
neste trabalho, as emissões relacionadas com a obtenção dos insumos utilizados no processo
de fabricação do produto principal, a geração decorrente da utilização do produto gerado no
processo e nem do transporte aéreo.

Realizados levantamentos (através de visitas locais à empresa em questão) de todas as fontes


físicas de emissões diretas dos GEE’s, incluindo outras fontes de emissões indiretas (definidas
no Capítulo 5) bem como dos combustíveis usados nessas fontes, decorrentes das atividades
da empresa.

Foram levantados os consumos por equipamento (desde que disponíveis) visando diminuir a
incerteza dos resultados obtidos, através de detalhamentos maiores (explicados no Capítulo 5
– Principais Trabalhos com Metodologias de Inventário de Emissões).

4
Coletadas todas as informações disponíveis com o Consultor Técnico de Meio Ambiente da
empresa e outros funcionários responsáveis pela unidade fabril.

Foram feitos levantamentos, através de visitas locais à empresa e diversos contatos com uma
bióloga da empresa, sobre o horto e o entorno de um lago que é um passivo ambiental
(descrito no Capítulo 6) e consultas a bibliografias específicas referentes à fixação de CO2 por
plantas mais compatíveis com a área de influência da empresa;

Foram feitos vários contatos e consultas com o MME e o ONS, MCT e ANEEL, solicitando a
matriz de geração eletricidade. O MME forneceu essa matriz, que serviu de base para a autora
desta dissertação calcular o fator de emissão nacional por GWh (em toneladas de CO2/GWh)
produzido no Brasil.

Foi feita adaptação ao método do IPCC de 2006, com relação à gasolina C, que é uma mistura
de gasolina A com álcool (diferente das gasolinas usadas nos países desenvolvidos).

Foram realizados os cálculos dos GEE’s correspondentes a todas as fontes mencionadas


(agrupadas ou separadas, dependendo dos dados disponíveis, apresentados no Capítulo 6).

Apresentado o inventário à luz do projeto de Norma ABNT 38:0009.01-001/1 (ANEXO II)


[2] (correspondente à Norma ISO 14064 - 1ª Parte) cujo título é: “Especificação com
orientação a organizações para a quantificação e a elaboração de relatórios de emissões e
remoções de gases de efeito estufa”.

Pesquisada bibliografia sobre a capacidade de absorção de carbono por tipo de vegetação.


Foram obtidas informações sobre o horto e a taxa de crescimento das mudas, através dos
responsáveis pelo horto da fábrica objeto do levantamento de dados.

Foi realizado o levantamento sobre a situação da empresa em 2006, sobre fixação de carbono
por vegetação.

5
3. EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA

Para entender melhor o assunto apresentado na introdução, o presente capítulo abordará as


seguintes questões:

1. Quais são os GEE’s e suas fontes?


2. O que é efeito estufa e qual o processo de sua formação?
3. Quais e porque as conseqüências tão temidas?
4. Como evoluiu no tempo e espaço esse grave problema, que ameaça a vida no planeta?
5. Quais as medidas já tomadas a nível global?

Ultimamente, em várias páginas da internet [3,4,5] ou mídias impressas [6], faladas ou mesmo
filmadas (como o documentário “Uma verdade inconveniente” do Al Gore, ex vice-presidente
dos EUA) tem-se visto alertas sobre gases de efeito estufa (GEE’s) que provocam mudanças
climáticas e desastres naturais ocorridos com freqüência e intensidade cada vez maiores.
Esses alertas se tornaram mais freqüentes após a publicação, em abril do corrente ano, da 1ª
parte do 4º Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC) da ONU, após consenso de cerca de
500 cientistas e relatores em Paris.

O IPCC, criado pela Organização Meteorológica Mundial (WMO) e pela Organização


Meteorológica Mundial, em 1988, é uma fonte confiável que reúne 2.500 cientistas de mais de
130 países. Esses cientistas se baseiam em obras técnicas e cientificas publicadas, para
elaborar relatórios de avaliação, relatórios especiais, artigos técnicos, além de materiais-
suporte e metodologias que são muito utilizados por pesquisadores e tomadores de decisão.

Quando solicitado, o IPCC presta assessoria à Conferência das Partes (COP) da Convenção
Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima. Seu principal trabalho são os relatórios
de avaliação (assessment reports) emitidos a cada cinco anos) das mudanças climáticas, que
serão mencionados no item 3.2 (Histórico).

6
3.1 Mudanças Climáticas e Emissões

3.1.1 Quais são os GEE’s e suas fontes?

Os principais gases de efeito estufa são:


• Dióxido de Carbono: CO2
• Óxido Nitroso: N2O
• Metano: CH4
• Vapor d’água (nuvens)
• Clorofluorcarbonos (CFC’s)
• Hidroclorofluorcarbonetos (HCFCs)

Os três primeiros GEE’s mencionados são emitidos e retirados da atmosfera por processos
naturais. Entretanto, suas concentrações têm aumentado acentuadamente nos dois últimos
séculos, devido ao aumento das atividades humanas (origem antrópica) conforme o último
relatório (2007) do IPCC, cujas conclusões parciais serão apresentadas no item 3.1.3.

A atmosfera terrestre é composta em volume, por nitrogênio (78%) e oxigênio (21%). Em


seguida, vem argônio com 0,9%. O 0,1% restante da atmosfera [7] é composto por gases
chamados de “gases traços”, constituídos por gases nobres, inertes, não reativos e os GEE’s.

É importante diferenciar os denominados GEE’s dos gases poluentes convencionais do ar


(CO, SOx, NOx, HC, O3). Os primeiros se misturam uniformemente na atmosfera (“well
mixed” em inglês) devido ao seu relativo longo tempo de vida e, assim, seus impactos
ambientais não são relacionados ao local de sua emissão. Ao contrário, os gases
convencionais têm vida curta e impactam próximo às suas fontes de emissão [8].

Vapor d’água (nuvens ou H2O) não tem vida longa, apesar de ser o GEE mais abundante na
atmosfera, além de não misturar-se bem com ela. Sua concentração global não sofre
influência direta das atividades antrópicas, mas o aumento dos outros GEE’s pode alterar o
ciclo hidrológico. Quanto maior a temperatura (provocada pelo aumento dos outros GEE’s)
maior a capacidade da atmosfera em reter a água e formar nuvens, que influenciam no efeito
estufa, que será apresentado no item 3.1.2.

7
Gás carbônico (dióxido de carbono ou CO2) é um gás produzido na natureza por
microorganismos na fermentação e na respiração celular. As plantas captam o CO2 da
atmosfera durante sua fotossíntese, para formar carboidratos, liberando oxigênio para a
atmosfera que depois é usado na sua própria respiração (liberando CO2) e de organismos
heterotróficos (organismos que utilizam matéria orgânica sintetizada por outros organismos
como fonte de energia e nutrição) formando parte do ciclo biogeoquímico do carbono. [8]

A concentração de CO2 na atmosfera é aumentada por fontes antrópicas, tais como: queima de
combustíveis fósseis obtidos do petróleo ou carvão em termelétricas, em indústrias para
geração de calor, na produção de cimento, em veículos, na queima de árvores e do lixo sólido
(fontes que aumentam cada vez mais sua concentração). Além das fontes mencionadas, é
emitido pela emanação de animais e erupção de vulcões, entre outros. O CO2 é responsável
por cerca de 60% [9] do efeito estufa.

Metano ou CH4 é emitido principalmente por matéria orgânica em decomposição anaeróbica


(sem oxigênio), tanto pela ação da natureza, como antrópica. Origens antrópicas: florestas
derrubadas; hidrelétricas que represam e inundam extensas áreas vegetais; agriculturas em
áreas alagadas como arroz; gado; degradação de lixo orgânico em aterros; queima de
biomassa e combustíveis fósseis. Além dessas fontes, é também emitido durante a produção e
transporte do carvão, do gás natural, e do petróleo. [10].

Óxido nitroso ou N2O participa do ciclo natural do nitrogênio através do ar, solo e
organismos vegetais e animais. O nitrogênio do ar compõe a matéria biológica, através das
bactérias e algas, pelo processo denominado fixação de nitrogênio. Após vários processos
bioquímicos, são formados os nitratos que nutrem o vegetal para o seu crescimento. Outras
bactérias no solo convertem esses nitratos a nitrogênio gasoso (reação de denitrificação),
completando o ciclo mencionado. O N2O (um potente GEE) é um subproduto dessa reação.

Suas fontes antropogênicas significativas são: produção de ácido adípico (matéria prima para
a produção de nylon), ácidos nítricos, carros com três modos de conversão catalítica (three
way, em inglês), queima de biomassa e de combustíveis fósseis. [8] É ainda emitido por
atividades agricultoras, bem como pela combustão de resíduos sólidos [10].

8
Halocarbonetos como os clorofluorcarbonetos (CFC’s), hidroclorofluorcarbonetos
(HCFC’s), perfluorcarbonetos (PFC’s), constituídos por cloro, flúor e carbono, além de
hexafluoreto de enxofre (SF6) são compostos produzidos pelo homem.

Os CFC’s são usados como gases refrigerantes (ar condicionado, refrigeradores) e


componentes de aerossóis. Cabe ressaltar que apesar de contribuírem para o aumento do
efeito estufa, os CFC’s não são considerados pela Convenção do Clima, mas são tratados pelo
Protocolo de Montreal, pois afetam a camada de ozônio [8].

As maiores fontes dos perfluorocarbonetos (PFC’s) CF4 e C2F6 são a produção de alumínio
primário e fabricação de semicondutores. HFC’s são usados como substitutos de compostos
destruidores da camada de ozônio. PFC’s e SF6 (hexafluoreto de enxofre) são emitidos na
produção de alumínio, de semicondutores, transmissão e distribuição de eletricidade [8].

Para comparar os efeitos radiativos (ou capacidades de prender calor) relativos das emissões
de vários gases de efeito estufa através de uma medida simples, foi desenvolvido o conceito
do Potencial de Aquecimento Global (Global Warming Potential – GWP, em inglês). Esse
índice é definido como o forçamento radiativo (ou aquecimento) cumulativo causado por uma
unidade de massa de GEE emitida agora, até algum horizonte de tempo escolhido, expresso
em relação ao de um gás de referência (é usado o CO2). [11]

O aquecimento global futuro (em um determinado horizonte de tempo) provocado por um gás
de efeito estufa pode ser avaliado, multiplicando-se quantidade emitida desse gás pelo seu
PAG (GWP) para esse horizonte de tempo [11]. Ou seja, o PAG permite converter as
emissões de vários GEE’s numa mesma medida (para agregar os impactos de vários GEE’s)
em carbono ou equivalentes em dióxido de carbono (CO2e). A incerteza associada aos valores
dos PAG’s gira em torno de ± 35%, sem considerar a incerteza da estimativa do CO2 [12].

O IPCC publicou estimativas mais atuais dos valores de referência para PAG’s de diversos
GEE’s no Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC com relação aos do 2º Relatório, como
parte de suas avaliações científicas sobre mudança do clima. Essas diferenças não ultrapassam
a incerteza de ± 35% (já mencionada) dos PAG’s.

9
Há três principais grupos ou tipos gases com altos PAG’s: hidrofluorocarbonos (HFC’s),
perfluorocarbonos (PFC’s), e hexafluoreto de enxofre (SF’6). Esses compostos são os mais
potentes GEE’s. A tabela 3.1 apresenta esses valores de PAG.
Tabela 3.1
Potenciais de Aquecimento Global (PAG) e tempos de vida atmosférica (anos) [13]

Gás Tempo de vida atmosférica PAGa

Dióxido Carbono (CO2) 50-200 1

Metano (CH4) b 12±3 21

Óxido Nitroso (N2O) 120 310

HFC-23 264 11,700

HFC-32 5.6 650

HFC-125 32.6 2,800

HFC-134a 14.6 1,300

HFC-143a 48.3 3,800

HFC-152a 1.5 140

HFC-227ea 36.5 2,900

HFC-236fa 209 6,300

HFC-4310mee 17.1 1,300

CF4 50,000 6,500

C2F6 10,000 9,200

C4F10 2,600 7,000

C6F14 3,200 7,400

SF6 3,200 23,900


a
Horizonte de tempo de 100 anos;
b
O PAG do metano inclui os efeitos diretos e aqueles indiretos devido à produção de vapor de
ozônio troposférico e vapor d’água estratosférico. O efeito indireto devido à produção de CO2
não foi incluído.

10
3.1.2 O que é efeito estufa e qual o processo de sua formação?

Até uma determinada concentração, os gases de efeito estufa (GEE’s) são benéficos à terra,
pois equilibram sua temperatura, aquecendo-a e impedindo que fique congelada à noite. Os
GEE’s formam uma camada que permite a entrada dos raios solares de ondas curtas em
direção a terra, mas absorvem a radiação infravermelha de ondas longas do calor de volta da
superfície da terra em direção à atmosfera, aquecendo-se e elevando a temperatura média do
planeta. Esse aquecimento e elevação da temperatura global é o famoso Efeito Estufa.

Em outras palavras, durante o dia, parte da energia solar é captada pela superfície da Terra e
absorvida e outra parte é irradiada para a atmosfera. Os gases naturais que existem na
atmosfera funcionam como uma capa protetora que impede a dispersão total desse calor para
o espaço exterior e o planeta permanecer quente.

O processo que cria o efeito estufa é natural e é responsável pelo aquecimento do planeta.
Certos gases, como o dióxido de carbono, criam uma espécie de telhado, como o de uma
estufa, sobre a Terra - daí o nome do fenômeno -, deixando a luz do Sol entrar e não deixando
o calor sair.

Se não existisse efeito de estufa natural, a temperatura da superfície terrestre seria, em média,
cerca de 33ºC [4] mais fria do que é hoje. Assim, o efeito estufa gerado pela natureza é
imprescindível para a manutenção da vida sobre a terra. Se a composição dos GEE’s for
alterada, para mais ou para menos, o equilíbrio térmico da terra sofrerá conseqüentemente.

Entretanto, quando a concentração dos GEE’s atinge valores muito altos, provenientes
principalmente das atividades humanas, mais concentrada e densa será a camada da “estufa” e
mais calor será absorvido por ela, impedindo-o de se dissipar para espaços além da troposfera
(camada mais próxima da Terra que se estende até uma altitude de 10 km nas regiões polares
e até 16 km acima do equador) aumentando assim, a temperatura média global da terra e
acarretando conseqüências apresentadas no decorrer deste Capítulo.

Em junho de 2006, durante a Conferência Internacional Ethos [14] Fabio Feldmann


apresentou a seguinte figura (3.1) sobre a contribuição relativa de gases provenientes de

11
atividades antrópicas ao efeito estufa:
Figura 3.1. Participação relativa dos GEE´s na atmosfera [14]

Diante dessa alta contribuição (60%) do CO2 na atmosfera, entende-se porque esse gás recebe
maior atenção quando se fala em projetos de redução de emissões dos GEE’s. Outra fonte
mais recente [8] já menciona uma participação maior deste gás: 83%.

Fabio Feldmann também define o efeito estufa como um fenômeno natural gerado por gases
causadores de efeito estufa -GEE-, os quais absorvem luz infravermelha térmica que deveria
ser direcionada ao espaço, aquecendo a atmosfera e garantindo a vida no planeta.

É interessante comentar os tempos levados para alcançar o equilíbrio, após redução da


emissão de CO2: a concentração do próprio CO2 atmosférico só se estabiliza de 100 a 300
anos; o nível do mar aumenta durante vários milênios devido ao derretimento do gelo e de
séculos a milênios devido à sua expansão térmica e a temperatura só se estabiliza após alguns
séculos [15].

A figura 3.2 [16] mostra como ocorre o efeito estufa, onde se vê que os raios solares
atravessam a atmosfera e parte deles é absorvida pela terra, que reflete outra parcela da
radiação solar para o espaço. Uma parte refletida pela terra (radiação infravermelha ou calor)
não atravessa a atmosfera, pois os GEE’s os absorvem, aquecendo a superfície da terra.
Assim, pode-se concluir que o aumento da temperatura média terrestre é proporcional à
concentração dos GEE’s na atmosfera.

12
Figura 3.2 Processo de formação do efeito estufa [16]

3.1.3 Quais e porque as conseqüências tão temidas?

Como foi visto, o efeito estufa é essencial à vida sobre a terra. Entretanto, se a concentração
dos gases que o provocam for muito elevada, esse efeito se intensifica e a temperatura média
global aumenta, desequilibrando o padrão de correntes atmosféricas, marítimas e de
precipitações, acarretando então, secas em regiões outrora férteis e vice versa (inundações em
áreas outrora secas) bem como desastres naturais cada vez mais intensos e freqüentes como
tempestades, ondas intensas de calor, incêndios, degelo, secas e furacões, com perdas de vidas
humanas e econômicas incalculáveis e muitas vezes irreparáveis.

A 1ª parte do 4º relatório do IPCC foi divulgada [3] no dia 2 de fevereiro de 2007, em Paris
(França). O estudo concluiu que o planeta pode ficar 4o C mais quente até 2100, como
conseqüência das alterações climáticas provocadas pelo aumento do efeito estufa de origem
antrópica. Isso acarretaria o aumento do nível do mar e catástrofes climáticas cada vez mais
intensas e freqüentes. “A emissão de gases de efeito estufa nas taxas atuais ou maiores têm
90% de chance de causar aquecimento global e alterações climáticas durante o século XXI
maiores do que aquelas observadas no século XX”, segundo o relatório.

13
O relatório apresentou o consenso de que o aumento médio da temperatura da terra será de
1,8oC, até o ano de 2100. Este valor é uma média da maioria das hipóteses levantadas, mas na
pior delas, esse aumento pode chegar a 6,4oC.

Os cientistas relataram que basta um aumento de 1oC na temperatura global para causar
grandes catástrofes, como o derretimento das geleiras nos pólos do planeta e o conseqüente
aumento no nível do mar. Segundo o relatório, é possível o derretimento total do gelo no
verão do Pólo Norte por volta de 2100, e conseqüente elevação do nível dos oceanos em até
59 cm.

Segundo os especialistas, as causas principais do aquecimento global são o aumento das


emissões e da concentração de CO2 na atmosfera, principalmente devido ao uso de
combustíveis fósseis. O CO2 atmosférico impede a saída do calor, causando grande
incremento no efeito estufa. De acordo com o relatório, são de mais de 90% as chances do
maior aquecimento global ter sido causado pelo homem, nos últimos 50 anos.

Esse relatório, que tem como objetivo estabelecer as conclusões das bases científicas da
mudança climática foi o primeiro de vários que o IPCC divulgará durante o ano de 2007 sobre
o impacto do aquecimento e as alternativas para contê-lo, finalizando com o documento de
síntese, que deverá ser apresentado em Valência (Espanha) em novembro deste ano. Os
autores do relatório afirmam que 11 dos 12 anos mais quentes ocorreram a partir de 1995,
desde que foram iniciados os registros climáticos confiáveis, em meados de século XIX.[17]

A 2ª parte do 4º Relatório do IPCC [18] divulgada em 6 de abril de 2007, em Bruxelas,


mostra principalmente a urgência de implantar um modelo de desenvolvimento realmente
sustentável. (Segundo a ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, que
presidiu a Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1987, o
desenvolvimento sustentável "satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades").

Um dos principais cenários apresentados nesse relatório do IPCC foi a previsão da ameaça de
extinção de até 30% das espécies de plantas e animais existentes, se a temperatura aumentar
entre 1,5 e 2,5º C.

14
Já foi percebido e comprovado o derretimento parcial das calotas polares, que provocam o
aumento dos níveis dos oceanos que acarretam inundações no litoral dos continentes,
ameaçando até o desaparecimento de pequenos países insulares inteiros.

Concentrações de CO2 e temperaturas médias globais continuarão a se elevar, como mostram


os gráficos da figura 3.3 a seguir: [15]
Figura 3.3 Concentrações atmosféricas passadas e futuras de CO2 [15]

Concentrações atmosféricas passadas e futuras de CO2

(b)
(a) (c)
Cenários

(a) Dados de concentração de CO2 pelo “ice core”


(b) Medidas diretas das concentrações de CO2
(c) Projeções futuras para as concentrações de CO2

A figura 3.3 mostra que a concentração de CO2 permaneceu razoavelmente constante desde o
ano 1000 (através do “ice core” que será explicado mais adiante) até em torno de 1800,
próximo à revolução industrial (1750) quando se iniciou a produção de bens de consumo em

15
grandes unidades industriais e com recurso a máquinas a carvão e, mais tarde, a petróleo, gás
natural e eletricidade [19].

A partir daí, sofreu um suave aumento até em torno de 1960, disparando (acentuando a curva
ascendente) entre esse ano e 2000, quando as concentrações de CO2 começaram a ser medidas
diretamente na atmosfera (diferentemente do “ice core”, definido adiante). A partir daí, a
curva apresenta diversas projeções para diferentes cenários, que refletem crescimentos
econômicos mais ou menos sustentáveis a serem adotados pela humanidade [15].

A próxima figura 3.4 (apesar da fraca visibilidade, foi a única encontrada, recente e do IPCC,
que não deixa margem a dúvidas) mostra um gráfico da variação da temperatura da
superfície terrestre, indicando a mesma tendência do aumento de CO2 na atmosfera,
apresentada na figura anterior (3.3). O gráfico desta figura (3.4) apresenta também projeções
para diversos cenários com desenvolvimentos econômicos em diferentes níveis de
sustentabilidade, a partir do ano de 2000 (todas as curvas foram fortemente ascendentes).
Figura 3.4 Variação da temperatura da superfície da terra de 1000 a 2100 [15]

A partir da temperatura de 1990, oC Vários


modelos
Observações do Hemisfério Projeções para
Norte (dados indiretos (1)) diferentes
Observações cenários
globais SRES (2)
instrumentais

Barras
mostram a
faixa em
2100
produzida
por vários
modelos

Cenários

Ano

16
Legenda (Figura 3.4):
Dados indiretos (1) são obtidos através de corais, “ice cores” (explicados adiante) e registros
históricos.
SRES (2) significa “Special Report on Emissions Scenarios” em inglês, cuja tradução é:
Relatório especial sobre cenários de emissão.

Na figura 3.4, a 1ª parte do gráfico (do ano 1000 até ~ 1860) mostra as variações da
temperatura média da superfície do Hemisfério Norte. De 1860 a 2000, são mostradas as
variações da temperatura média da superfície terrestre, através de observações instrumentais.
De 2000 a 2100, são apresentadas as projeções para a temperatura média global, em função de
desenvolvimentos mais ou menos sustentáveis (definidos anteriormente). Essas variações são
referentes ao ano de 1990.

“Ice-core”, comentado na figura 3.3 e 3.4 é uma amostra cilíndrica retirada a diferentes
profundidades e locais (Groelândia, Antártica) de neve ou gelo acumulado ao longo de muitos
anos, que preserva a atmosfera antiga (“prende” o ar da época) e fornece informações que
podem ser usadas para reconstruir o quadro da mudança climática passada e é um exemplo de
registro não instrumental. [20]. Para avaliar temperaturas de tempos muito antigos, usa-se
uma técnica denominada paleotermômetro que se baseia na composição isotópica do gelo que
varia com a temperatura da neve no local de sua formação. [21]

A figura 3.5 a seguir mostra as concentrações de CO2, CH4 e N2O ao longo dos últimos 2.000
anos. Os aumentos verificados desde cerca de 1750 são atribuídos a atividades humanas na
era industrial. As unidades de concentração são expressas em partes por milhão (ppm) ou
partes por bilhão (ppb) indicando o número de moléculas do GEE por milhão ou bilhão de
moléculas de ar, respectivamente, na amostra atmosférica.

17
Figura 3.5
Concentrações atmosféricas de importantes GEE’s de vida longa nos últimos 2.000 anos [22]

Concentrações de GEE’s de 0 a 2005

Dióxido de carbono (CO2)

Metano (CH4)

Óxido Nitroso (N2O)

Ano
FAQ 2.1, Figure 1

A figura 3.6 a seguir apresenta outro gráfico, indicando a relação entre o aumento da
temperatura com o aumento de CO2 atmosférico para períodos anteriores (400.000 anos atrás)
aos das figuras 3.3 a 3.5 (1.000 anos atrás) [21].

18
Figura 3.6 [21]
Variação da temperatura da superfície da terra com a da concentração de CO2 atmosférico

T
e
m
p
e
r
a
t
u
r
a
o
C

A próxima figura (3.7) mostra as mudanças observadas na: (a) temperatura média da
superfície global (curva ascendente); (b) o nível médio global do mar (ascendente) avaliado
por medidores instrumentais de marés e (c) a cobertura de neve no Hemisfério Norte
(descendente) nos meses de março a abril. A linha representa valores médios por décadas,
enquanto os círculos mostram valores anuais. A área larga em azul representa os intervalos de
incertezas estimadas. Percebe-se que com o aumento da temperatura, o nível do mar sobe e a
cobertura de neve cai, indicando as conseqüências do aumento dos GEE’s de origem
antrópica, que aumentam a temperatura terrestre.

19
Figura 3.7
Mudanças na temperatura, nível do mar e cobertura de neve no hemisfério norte: [23]

Temperatura média global

Nível médio global do mar

Cobertura de neve no Hemisfério Norte

Ano

Um índice importante no mecanismo potencial de mudança de clima é a força radiativa


(medida pela razão watts/m3) que é uma medida da influência que um fator tem em alterar o
balanço de energia de entrada e de saída no sistema terra – atmosfera. Forças positivas tendem
a aquecer a superfície, enquanto as negativas tendem a esfriá-la. [24].

A próxima figura 3.8 apresenta os fatores que influenciaram no clima terrestre em 2005,
através das estimativas e faixas de suas forças radiativas globais médias que aquecem ou
esfriam a terra, se estiverem à direita ou à esquerda do eixo vertical em zero, respectivamente
Esse eixo parte do valor zero e fica entre os limites -1 e 1 da abscissa. Os GEE’s são positivos
e são bem dispersos (“well mixed”, em inglês) na atmosfera global, enquanto a família dos
aerossóis fica mais próxima da área onde são emitidos, em geral.

20
Figura 3.8 Contribuição para a força radiativa [25]

Termos FR Valores Escala (1)


FR Wm-2 espacial
Alto

GEE’s de {
longa vida Alto

Médio
Ozônio Estratosférico Troposférico
Baixo
(2)
Méd.
Albedo de Baixo
Uso terra Carbono negro na
superfície neve
Méd.
(3) Baixo

(4) Baixo

Baixo

Irradiação Baixo
solar
Total líquido
antropogênico

Forçamento radiativo, Wm-2


Figure SPM.2

Legenda da figura 3.8:


(1) LOSU (explicado adiante);
(2) Vapor de água estratosférico de CH4;
(3) Efeito direto;
(4) Efeito albedo das nuvens (explicado adiante);
FR – Forçamento radiativo.

O forçamento radiativo antropogênico líquido (em valores), sua faixa e o nível avaliado de
entendimento científico (LOSU-Level of Scientific Understanding, em inglês) são mostrados
também na figura 3.8. Esses forçamentos radiativos requerem a soma de estimativas com
incertezas assimétricas dos termos componentes e não podem ser obtidos por simples adição.

Albedo é a razão entre a parcela do volume de luz refletida na superfície de um planeta e o


total que este recebe do sol. Áreas cobertas por neve têm alto albedo, devido a sua cor branca.
Já a vegetação tem baixo albedo, devido a sua cor escura e em função de parte da luz ser

21
absorvida pela fotossíntese. As nuvens têm albedo intermediário e são os maiores
contribuintes para o albedo agregado da Terra. [26]

O Sistema Climático da Terra é o resultado de múltiplas interações entre o espaço, a


atmosfera, a biosfera, os oceanos e os continentes, como mostra a figura 3.9, a seguir. Se
algum desses fatores se altera, suas interações também sofrerão mudanças proporcionais, pois
o equilíbrio entre eles é dinâmico e não estável.
bio a biosfera, os oceanos e os continentes, como mostra a figura 3.9, a seguir
Figura 3.9 Interações entre os parâmetros que influenciam no clima [28]
Figura 3.9 – Interações entre os parâmetros que influenciam no clima [27]

Radiação solar
incidente (onda Radiação terrestre
curta) líquida
(ondas longas)

Absorção
Reflexão Gelo / Neve
Emissão
Nuvens Gases e
partículas
Precipitação Vento vulcânicas
Interação Descarga
Interações ar-mar
ar-gelo fluvial
Gelo marinho Atividades
Correntes Humanas
Lagos e
Interações Rios Processos no
gelo-oceano solo

3.2 Histórico

3.2 Histórico

3.2.1 Mudanças Climáticas: Evolução dos debates

A partir da década de oitenta, com o surgimento das primeiras evidências científicas que
relacionavam as atividades antrópicas (causadas pela ação do homem no meio ambiente) com
o aquecimento global, aumentou o interesse público em se discutir as questões das mudanças
climáticas e o mundo começou a se preocupar com o que aconteceria no futuro.
22
Resumidamente, a evolução dos debates seguiu a seguinte cronologia:

1873 – Foi criada a Organização Internacional de Meteorologia (World Meteorological


Organization - WMO) e, em 1950 discutia questões do clima com 187 estados membros.

1972 – Conferência de Estocolmo – primeira convenção mundial sobre meio ambiente, na


Suécia. Essa conferência teve como resultado a ação do Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (também conhecido por PNUMA). Pela Declaração de Estocolmo, um meio
ambiente sadio e equilibrado passou a ser reconhecido como um direito fundamental dos
indivíduos, tanto para as gerações presentes quanto para as futuras.

1979 – A Primeira Conferência Mundial sobre o Clima reconheceu a mudança do clima como
um problema grave e de interesse global. Nesse ano, foi realizada a Primeira Conferência
Mundial sobre o Clima, evento inaugural de uma série que propiciou a união do PNUMA e da
Organização Meteorológica Mundial, de cujos estudos extraiu-se a base teórico-científica para
a elaboração da Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre a Mudança do Clima
(UNFCCC), adotada na Rio-92 (Cúpula da Terra). Essa Convenção entrou em vigor desde
março de 1994, em que se fixou, como meta, “a estabilização das concentrações de gases de
efeito estufa na atmosfera num nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no
sistema climático”.

1988 - A Organização Meteorológica Mundial (WMO) e Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA) criam o IPCC, com o objetivo de fornecer informações científicas,
técnicas e sócio-econômicas relacionadas às mudanças climáticas globais e melhorar o
entendimento científico sobre o tema, através da cooperação dos países membros da ONU.

1990 - A Assembléia Geral da ONU inicia as negociações para a adoção da Convenção sobre
Mudanças Climáticas, sob recomendação do IPCC, que publicou o 1º relatório nesse ano.

1992 - A Convenção Quadro das Nações Climáticas (UNFCCC) é adotada em 9 de maio, em


Nova York. O Brasil é o primeiro país a assinar a Convenção, em 4 de junho, durante a
Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Eco - 92),
no Rio de Janeiro.

23
1994 - A Convenção é ratificada pelo Brasil em 28 de fevereiro e entra em vigor em 21 de
março. A UNFCCC admitiu as mudanças climáticas como um problema ambiental real e
global; reconheceu a interferência humana nessas mudanças e a necessidade de cooperação
internacional na solução da emissão de gases que contribuem com o efeito estufa num nível
em que as atividades humanas não afetem o clima ou que as mudanças ocorram lentamente,
além de assegurar que a produção de alimentos e o desenvolvimento econômico sejam
sustentáveis.

1995 - O segundo relatório do IPCC foi publicado e ofereceu incentivo para as negociações
do que viria a ser o Protocolo de Kyoto, que será melhor apresentado adiante. No dia 7 de
abril, em Berlim (Alemanha) acontece a primeira reunião anual dos representantes dos
países signatários da UNFCCC. O encontro é denominado Conferência das Partes (COP).
Na COP - 1 é proposta a constituição de um protocolo e decisões sobre o acompanhamento
das obrigações da Convenção, batizado em 1997 como Protocolo de Kyoto.

1996 - Entre os dias 8 e 19 de julho acontece a COP - 2, em Genebra (Suíça). Neste


encontro, por meio da Declaração de Genebra, é firmada a criação de obrigações legais com
metas de redução na emissão de gases que aumentam o efeito estufa.

1997 - A COP - 3, no dia 11 de dezembro, em Kyoto (Japão) dá continuidade às negociações


da conferência anterior e culmina com a adoção do Protocolo de Kyoto, estabelecendo metas
de redução de gases de efeito estufa para os principais países emissores, chamados países do
anexo I. O referido Protocolo será apresentado posteriormente.

1998 - O Protocolo de Kyoto é aberto à assinatura em 16 de março, em Nova York, e a COP


- 4 acontece em Buenos Aires, direcionando os trabalhos para implantar e ratificar o Protocolo
de Kyoto.

1999 - De 22 de outubro a 5 de novembro é realizada a COP - 5 em Bonn (Alemanha) dando


continuidade aos trabalhos iniciados em Buenos Aires.

2000 - Na COP - 6, de 13 a 24 de novembro, em Haia (Países Baixos), as negociações são


suspensas por falta de acordo entre a União Européia e os Estados Unidos em relação aos

24
sumidouros e às atividades de mudança do uso da terra. No Brasil, um Decreto Presidencial
cria o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.
2001 - As discussões são retomadas na COP - 6 e 1/2, em 27 de junho, em Bonn (Alemanha),
já sem contar com os Estados Unidos, que se retira sob a alegação de que os custos para a
redução de emissões seriam muito elevados para a economia norte-americana. Os Estados
Unidos contestam também a ausência de metas de redução para os países do Sul, em especial
a China, Índia e o Brasil. Cabe lembrar que os Estados Unidos são responsáveis por cerca de
25% das emissões globais de gases de efeito estufa, conforme os registros de 1990 utilizados
como parâmetro. O terceiro relatório do IPCC foi lançado nesse ano e continuou o trabalho
de oferecer informações sobre as mudanças climáticas, subsidiando as discussões da COP7.
No mesmo ano, entre 29 de outubro e 10 de novembro, em Marrakesh (Marrocos) acontece a
COP – 7, onde foi decidido que os relatórios do IPCC continuariam sendo produzidos como
fonte constante de dados confiáveis sobre mudanças climáticas.

2002 - A Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+10) acontece entre os


dias 26 de agosto e 4 de setembro, em Johanesburg, África do Sul. As negociações
internacionais não têm grandes avanços. Entretanto, inicia a discussão sobre o
estabelecimento de metas de uso de fontes renováveis na matriz energética dos países. Entre
os dias 23 de outubro e 1° de novembro acontece a COP - 8, em Nova Deli, na Índia.

2003 – COP-9 realizada entre 1 e 12 de dezembro em Milão, Itália - Destacou-se a questão da


regulamentação de sumidouros de carbono no âmbito do MDL. No mesmo ano foi realizada a
conferência Mundial sobre Mudanças Climáticas, em Moscou, com o objetivo de ratificação
do Protocolo de Kyoto pela Rússia. Diante da insegurança econômica dos russos, o Presidente
Vladimir Putin não ratificou o Protocolo e adiou sua decisão para o segundo semestre de
2004. O governo russo também reforçou as incertezas científicas sobre a existência do
aquecimento global, seguindo o discurso do governo americano, o que é inconcebível já que
muitos estudos científicos indicam que o aquecimento global está em curso e que se dá por
razões antropogênicas. [5]

2004 – Em 30 de setembro, a Rússia ratifica sua adesão ao Protocolo de Kyoto. A Rússia,


terceiro maior emissor (cerca de 17% do total global) era o único país capaz de fazer o
protocolo entrar em vigor, pois o maior emissor (EUA) tinha se retirado, conforme

25
mencionado. Na COP-10, delegados de cerca de 150 governos marcaram o relançamento das
negociações sobre a mudança climática, com o novo impulso imprimido pela ratificação russa
ao protocolo de Kyoto.

2005 – Em 16 de fevereiro entra em vigor o Protocolo de Kyoto.


A COP-11 foi marcada por um pacto estabelecido entre União Européia, Canadá e países em
desenvolvimento (G77). O pacto ainda tem de se tornar oficial com a aceitação formal de
todas as partes e concentra-se na adoção de oficinas de trabalho para definir passos contra o
efeito estufa e as mudanças climáticas. [28]

2005 – em Montreal, Canadá – Foi realizada em paralelo a 1a Conferência das Partes do


Protocolo de Kyoto (COP/MOP 1). Foram duas reuniões de extrema importância, uma vez
que a COP 11 e a COP/MOP 1 foram as primeiras conferências realizadas após a entrada em
vigor do Protocolo de Kyoto, em 16 de fevereiro de 2005. As discussões giraram em torno das
perspectivas para o segundo período do acordo, pós 2012. As associações ambientais da
Europa apontam para a necessidade de uma redução de 20 a 30% das emissões de gases de
efeito de estufa (com base no ano de 1990) até 2030 e de 60% a 80% até 2050.

2006 – COP-12/ MOP-2 em Nairobi, Quênia – Representantes de 189 nações assumiram o


compromisso de levar aos seus países a missão de rever os prós e os contras do Protocolo de
Kyoto. A revisão do tratado deve ocorrer em 2008, mas o assunto será retomado na próxima
conferência do clima, na Indonésia, em 2007. Durante o evento também foram estipuladas
regras do Fundo de Adaptação, ferramenta para o financiamento de projetos que ajudem os
países mais pobres a se adaptarem às conseqüências das mudanças climáticas, como
inundações e secas. O Brasil participou da convenção com uma proposta de criação de um
mecanismo de incentivos positivos para países em desenvolvimento que reduzirem suas
emissões de gases de efeito estufa, através do combate ao desmatamento. [5]

3.3 O Protocolo de Kyoto

Na primeira sessão da Conferência das Partes (COP-1) que ocorreu em Berlim, em 1995, as
Partes concluíram que o compromisso dos países desenvolvidos de voltar suas emissões para
os níveis de 1990, até o ano 2000, era insuficiente para se atingir o objetivo de longo prazo da

26
Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança de Clima, que consiste em impedir
uma interferência antrópica (produzida pelo homem) perigosa no sistema climático.
Ministros e outras autoridades responderam com a adoção do “Mandato de Berlim” e com o
início de uma nova fase de discussões sobre o fortalecimento dos compromissos dos países
desenvolvidos. O grupo sobre o Mandato de Berlim foi então formado para elaborar o esboço
de um acordo que, após oito sessões, foi encaminhado a COP-3 para negociação final.

Cerca de 10.000 delegados, observadores e jornalistas participaram desse evento de alto nível
realizado em Kyoto, Japão, em dezembro de 1997. A conferência culminou na decisão por
consenso de adotar-se um Protocolo segundo o qual os países industrializados reduziriam suas
emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% com relação aos níveis de
1990, até o período entre 2008 e 2012. Esse compromisso prometia produzir uma reversão da
tendência histórica de crescimento das emissões iniciadas nesses países havia cerca de 150
anos.

O Protocolo de Kyoto foi aberto para assinatura em 16 de março de 1998. Entraria em vigor
90 dias após a sua ratificação por pelo menos 55 Partes da Convenção, incluindo os países
desenvolvidos que contabilizaram pelo menos 55% das emissões totais de dióxido de carbono
em 1990 desse grupo de países industrializados, chamados países do anexo I. Enquanto isso,
as Partes da Convenção sobre Mudança do Clima continuariam a observar os compromissos
assumidos sob a Convenção e a preparar-se para a futura implantação do Protocolo.

O Protocolo também trouxe a opção dos países do Anexo I compensarem suas emissões,
através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) considerando como medida de
redução os projetos sócio - ambientais sustentáveis implementados nos países em
desenvolvimento.

Em 2001, os Estados Unidos se retiraram das discussões dos COP´s sob a alegação de que os
custos para a redução de emissões seriam muito elevados para a economia norte-americana.
Os Estados Unidos contestaram também a ausência de metas de redução para os países do
Sul, em especial a China, Índia e o Brasil. Cabe lembrar que os Estados Unidos são
responsáveis por cerca de 25% das emissões globais de gases de efeito estufa, conforme os
registros de 1990 utilizados como parâmetro.

27
4. MECANISMOS PARA CAPTURA, ESTOCAGEM E FIXAÇÃO DE CO2

Diante do aumento acelerado (provocado por atividades antrópicas) de concentrações de CO2


(principal GEE) com seus níveis atuais considerados perigosos (>380 ppm) e da alta certeza
(>90%) de sua relação com os acidentes climáticos ocorridos nos últimos anos, apresentada
pelo último relatório do IPCC, a comunidade científica mundial tem focado em tecnologias
para estabilização desses níveis atuais de GEE’s.

O DOE (Departamento de Energia dos EUA) define o seqüestro de carbono como: “Captura e
armazenagem segura de CO2 que de outro modo seria emitido para a atmosfera ou
permaneceria nela”.
Existem dois tipos de seqüestro de CO2:
 Direto  Captura de fontes estacionárias de CO2 e armazenamento (ou estocagem)
em sumidouros
 Indireto  Fixação do CO2 atmosférico, através da estimulação de processos
naturais.

O IPCC, no seu Relatório especial (Special Report) de setembro de 2005, define a “captura e
o armazenamento do dióxido de carbono (CO2) (“Carbon dioxide Capture and Storage” –
CCS) como um processo que consiste na separação do CO2 das fontes industriais e fontes
energéticas, do seu transporte a um local de armazenamento e de seu isolamento da
atmosfera por longo prazo”. Basicamente, envolve a captura e compressão de CO2 das
principais fontes, transporte do CO2 comprimido e estocagem do CO2 comprimido.

Outras opções de atenuação, diz o relatório, incluem melhorias da eficiência energética,


mudança para combustíveis menos intensivos em carbono, energia nuclear, fontes de energia
renováveis, aumento de sumidouros biológicos, e redução de emissões de outros GEE’s que
não o CO2. Além disso, menciona que a aplicação difundida de CCS dependeria da
maturidade técnica, dos custos, do potencial total, difusão e transferência da tecnologia aos
países em desenvolvimento e sua capacidade aplicar a tecnologia, aspectos regulatórios,
questões ambientais e percepção pública.

Esse relatório mostra que nenhuma opção tecnológica única e simples forneceria todas as

28
reduções de emissão necessárias para alcançar a estabilização dos GEE’s, mas seria
necessário um portfólio de medidas de atenuação.

4.1 Principais métodos para captura de CO2

Primeiramente, deve-se levar em conta que apenas o CO2 emitido por grandes fontes têm
viabilidade técnica econômica para ser capturado e enviado para armazenamento [29]. Assim,
o CO2 tem que ser comprimido nessas fontes e transportado para os locais de armazenamento.

Os dutos são preferidos para transportar grandes quantidades de CO2 para distâncias até cerca
de 1.000 quilômetros. Para quantidades menores do que alguns milhões de toneladas de CO2
por ano ou para maiores distâncias, o uso de navios, onde aplicável, poderia ser
economicamente mais atrativo. O transporte por dutos do CO2 opera como uma tecnologia
madura de mercado (nos EUA, mais de 2.500 quilômetros de dutos transportam acima de 40
toneladas métricas de CO2 por ano).

O transporte do CO2, análogo ao transporte de gases liquefeitos de petróleo, é


economicamente viável sob condições específicas, mas é geralmente realizado em pequena
escala, devido à demanda limitada. O CO2 pode também ser transportado por tanques
ferroviários ou rodoviários, mas é improvável que estas poderiam ser opções atrativas para o
transporte de CO2 em grande escala.

4.2 Principais métodos para estocagem de CO2

Os métodos técnicos potenciais de armazenamento de CO2 são:

 Armazenamento geológico em formações geológicas, tais como campos de óleo e de


gás explorados, leitos de carvão não mineráveis e formações salinas profundas;
 Armazenamento no oceano (lançamento direto na coluna d’água do oceano ou no
fundo do oceano) e
 Fixação industrial de CO2 em carbonatos inorgânicos.

O relatório especial do IPCC de 2005 (Carbon Dioxide Capture and Storage) sugere [30] que

29
o armazenamento geológico ainda é a melhor opção, devido aos menores riscos ambientais,
maiores tempos de retenção e maior maturidade tecnológica, em relação às outras opções de
armazenamento. Com o decorrer do tempo, o CO2 dissolve ou reage com minerais na rocha,
resultando num processo mais seguro. Até 2005, existiam 3 projetos operando em escala
industrial: na Noruega, Canadá e região do Saara em Algeria. A figura 4.1 apresenta algumas
alternativas de armazenamento e estocagem (CCS, em inglês) de CO2.
Figura 4.1 Alternativas para captura e estocagem de CO2 [29]

Gás para
suprimento
doméstico Biomassa Carvão
Cimento, aço,
refinarias, etc.

GN +
captura de Plantas
Óleo Geração de eletricidade petroquímicas
CO2
+ Captura de Futuro uso
CO2 de H2
Carbonatação mineral
Estocagem
geológica
de CO2

Usos industriais

Estocagem Estocagem oceânica


geológica (Navio ou duto)
de CO2

Essa figura (4.1) mostra as fontes para as quais o CCS pode ser relevante e opções de
transporte e estocagem de CO2, tais como estocagem geológica e oceânica, carbonatação
30
mineral e usos industriais. Nela, pode-se observar o fluxo de entrada de energia nas diversas
atividades humanas e a saída (saldo) do CO2, com várias destinações possíveis.

Como há possibilidade de ocorrer escapamento de um reservatório de armazenamento, a


fração retida é definida como a fração da quantidade acumulada de CO2 injetado que é retido
por um período de tempo especificado, segundo o mesmo relatório.

Figura 4.2 Alternativas para armazenamento geológico [29]


Óleo ou gás
produzido
CO2 injetado

CO2 armazenado

A figura 4.2 mostra uma visão geral das opções de armazenamento geológico, quais sejam:
(1) em reservatórios esgotados de óleo e gás; (2) uso do CO2 para aumento da recuperação de
óleo e gás; em formações salinas profundas (3a) offshore (no mar) e (3b) onshore (na terra);
(4) uso de CO2 na recuperação de metano em leito de carvão.

O ponto comum a todas essas tecnologias apresentadas de uma forma bastante simplificada, é
que tentam evitar ou diminuir a emissão do carbono e seus derivados (GEE’s) para a

31
atmosfera, através de seu aprisionamento ou isolamento.

Entretanto, há outras formas de atingir o objetivo da diminuição dos GEE’s lançados para a
atmosfera, que podem ser resumidas numa palavra: Descarbonização, que consiste no uso das
seguintes fontes de energia (ou combustíveis):

 Com menor relação C/H (Carbono/Hidrogênio);


 Hidrogênio;
 Energia nuclear e
 Fontes Renováveis de energia: Solar, Eólica, Biomassa, Geotérmica, Hidrológica.

4.3 Reflorestamento

No início deste capítulo, foi visto que além da forma direta de seqüestro de carbono (captura
na fonte, transporte e estocagem) existe uma forma indireta de seqüestro: a da absorção do
CO2 por estímulo de processos naturais, ou seja, através de biomassa, que depende desse gás
para se desenvolver.

Neste capítulo, será abordado o reflorestamento, que é uma forma de “neutralizar ou


compensar” o que já foi ou está sendo emitido, pois não se trata de uma captura industrial do
gás para estocá-lo em reservatório seguro.

Cabe mencionar algumas experiências já realizadas por algumas empresas no Brasil, que
adotam essa forma de seqüestro, com retornos financeiros muitas vezes nada desprezíveis.

 Peugeot

A Peugeot [31] se engajou num programa de neutralização de GEE’s veiculares, através do


seu projeto denominado “Poço de Carbono”. Por esse projeto, a empresa pretendia neutralizar
dezenas de milhões de toneladas de carbono por ano, pela reabilitação de vários milhões de
árvores em 5.000 ha de terra no Estado do Mato Grosso, através do reflorestamento de zonas
antigamente transformadas em pastagens, ao longo de 40 anos.

32
Entretanto, o impacto comercial pretendido pela empresa esbarrou no alto grau de ambição do
projeto. A principal causa para o insucesso da empreitada foi relacionada a uma baixa taxa de
sobrevivência das mudas florestais plantadas num pasto de brachiária (colmo – caule com nós
- herbáceo florescendo todos os anos com flor hermafrodita masculina ou feminina) e as
repercussões das tentativas feitas para superar este obstáculo, ao optar pela pulverização aérea
do herbicida Roundup. [32]

Assim, o projeto foi redirecionado e teve seu objetivo modificado para reflorestamento de
2.000 ha (ao invés de 5.000 ha) e a estimativa inicial de 2 milhões de t C a ser atingido em 40
anos foi reduzida para 500.000 t C em 100 anos.

 Projeto PLANTAR em Curvelo, MG

Segundo Chang Man Yu [32] o Projeto Plantar é um projeto comercial, pois foi fundado no
final dos anos 60 devido aos incentivos fiscais para reflorestamento. Mais tarde, foi integrado
à produção de ferro gusa para agregar valor, aproveitando a própria matéria prima.

O projeto se situa numa região abastecedora de carvão vegetal para as indústrias metalúrgicas
de Minas Gerais. (central do cerrado desse estado). O uso do carvão vegetal (ao invés do
carvão mineral) como redutor na produção do ferro gusa foi a justificativa do projeto para se
candidatar ao MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, mencionado no Histórico -
Protocolo de Kyoto), visando obter créditos de carbono para vender aos países
(desenvolvidos) do Anexo I desse Protocolo.

Foi estimado que o projeto poderia gerar créditos de cerca de 1,2 milhões de toneladas pelo
reflorestamento de 23.000 ha com eucalipto e de 2,1 milhões t C oriundas do uso do carvão
vegetal, ao longo de 28 anos.

33
 Klabin [33]

A Klabin, maior produtora e exportadora de papéis do Brasil assumiu o compromisso com a


bolsa internacional de intercâmbio de emissões de GEE’s (CCX - Chicago Climate Exchange,
em inglês, nos Estados Unidos) de reduzir suas emissões desses gases em torno de 1% por
ano, a partir de 2003, visando chegar a 6% em 2010. A sistemática de cálculo considera a
meta de redução e as emissões reais comprovadas ao longo do período.

Esse projeto visa plantar 32 000 hectares de florestas de eucalipto. O carbono seqüestrado,
elegível segundo as regras do CCX, representa em torno de 25 toneladas de CO2 por
hectare/ano de créditos de carbono.

A Klabin foi a primeira empresa brasileira a aderir à CCX, em 2004, habilitando-se a vender
créditos de carbono para empresas que necessitam reduzir seus GEE’s emitidos.

 Eventos Couromoda e SPFW [34]

Os responsáveis pelo evento Couromoda (maior feira de calçados da América Latina) de


2007, realizado em São Paulo de 15 a 18 de janeiro, se comprometeram em neutralizar todo o
carbono emitido durante os dias da feira, através do plantio de árvores, junto com a Fundação
SOS mata atlântica e a Key Associados.

Já o evento de moda São Paulo Fashion Week (SPFW) realizado de 24 a 29 de janeiro na


Bienal neutralizou sua edição deste ano, da revista e do SPFW Journal. A ONG Iniciativa
Verde (The Green Initiative) calculou as emissões do evento, revista, jornal, produtora e do
site e ficou de plantar e acompanhar as mudas de 4.290 árvores de mais de 80 espécies nativas
em uma área degradada da mata atlântica, durante dois anos.

Antes de abordar a metodologia do reflorestamento propriamente dita, é importante


apresentar dois processos biológicos fundamentais na troca de oxigênio e CO2 entre o ar e as
plantas: Fotossíntese e respiração.

34
 Fotossíntese

Uma árvore necessita de CO2 para se desenvolver e crescer, através do processo biológico
denominado fotossíntese, no qual praticamente toda energia entra na biosfera. Pode ser
resumida de maneira muito simplificada pela seguinte reação química:
Radiação solar
6CO2 + 6H2O C6H12O6 + 6O2
Clorofila
Glicose
Durante a fotossíntese, a energia solar quebra a molécula da água (fotólise) além de ser
absorvida pelos cloroplastos (definidos adiante) formando oxigênio gasoso e íons de
hidrogênio que reduzem as moléculas de CO2, transformando-as em açúcares (como a
glicose) ou carboidratos [35]. Dessa forma, a planta cresce, floresce e dá frutos.

O termo “fotossíntese” significa “síntese que usa luz”. Organismos fotossintéticos usam
energia solar para formar compostos orgânicos que não poderiam ser produzidos sem essa
energia.

Figura 4.3 Esquema simplificado da fotossíntese. [36]

Açúcares

Cloroplastos são unidades fotossintéticas formadas por moléculas de clorofila (pigmento


verde) agrupadas de forma ordenada. A energia da luz solar é primeiramente absorvida pelos
pigmentos da planta. Quando a luz incide em uma molécula de clorofila, esta absorve uma
parcela dessa energia e catalisa a reação do CO2 com água, formando carboidratos e liberando

35
oxigênio, conforme já exposto. Assim, a clorofila não se desgasta nem é consumida.

O CO2 é retirado da atmosfera e absorvido pelas folhas. A água é vem do solo pela raiz e sobe
pelos vasos como seiva. A energia luminosa vem da luz solar.

Figura 4.4 – Cloroplastro [37]

Outra forma de representar a fotossíntese está representada na figura 4.5 [37]:

Figura 4.5 Representação de fotossíntese [37]

A fotossíntese é fundamental para o homem. O primeiro e principal processo de


transformação de energia no ambiente terrestre ocorre na fotossíntese realizada pelas plantas.
Quando o homem ou animal ingere o alimento vindo das plantas, parte das substâncias entra
na composição celular e outra parte fornece energia necessária às suas atividades, como o
crescimento, força, reprodução, etc.

36
 Respiração

As plantas respiram, num processo inverso ao da fotossíntese [35]: absorvem o oxigênio do ar


para converter os carboidratos em energia para sua manutenção e desenvolvimento. Nesse
processo, são produzidos CO2, água e a energia mencionada. A respiração pode ser
representada pela reação abaixo:
C6H12O6 + 6O2 6CO2 + 6H2O + energia

As plantas não deixam de respirar na presença de luz, mas sua fotossíntese ultrapassa sua
respiração. Sem luz, a taxa respiratória é maior e a planta não tem atividade fotossintética. Em
condições ideais, a taxa fotossintética nas partes verdes das plantas é cerca de 30 vezes maior
do que a taxa de respiração nas mesmas partes. Dessa forma, a fotossíntese é um processo
muito significativo para regular o CO2 e oxigênio terrestres [35].

O carbono pode ficar retido na biomassa (parte aérea e raízes) ou emitido para a atmosfera na
queima da mesma. O crescimento da planta ou aumento da biomassa se processa devido à
absorção do CO2.

Serão apresentadas a seguir questões mais relevantes no que tange ao Reflorestamento, para
seqüestro indireto de CO2.

É importante conhecer os seguintes conceitos sobre floresta, florestamento e reflorestamento,


segundo definições adotadas nas reuniões das COP’s retiradas da categoria Land Use, Land –
Use Change and Foresty (LULUCF – Uso da Terra, Mudança do Uso da Terra e Florestas) e
da COP 9 (Decisão 19/ CP.9). [38]

 Floresta

Floresta “é a área mínima de terra de 0,05 – 1 hectare com cobertura de árvore (ou nível
equivalente de estoque) de mais de 10 a 30% com árvores com potencial de alcançar uma
altura mínima de 2 – 5 metros na maturidade in situ. Uma floresta pode consistir de formações
florestais fechadas, onde árvores de várias alturas e vegetação e sub bosque cobrem uma
grande parte da terra ou floresta aberta Estandes naturais jovens e todas as plantações que

37
ainda forem atingir uma densidade de copa de 10 – 30 por cento ou altura de árvore de 2 – 5
metros são consideradas floresta, assim como áreas que normalmente formam parte de uma
área florestal e que estão temporariamente sem estoque como resultado de intervenção
humana tal como corte ou causas naturais e que são esperadas a reverter para floresta
(CMP.1- Uso da Terra, Mudança de Uso da Terra e Florestas)”. [38]

 “Florestamento é a conversão induzida diretamente pelo homem de terra que não foi
florestada por um período de pelo menos 50 anos em terra florestada por meio de
plantio, semeadura e/ou a promoção induzida pelo homem de fontes naturais de
sementes; (CMP.1- Uso da Terra, Mudança de Uso da Terra e Florestas)”. [38]

 “Reflorestamento é a conversão, induzida diretamente pelo homem, de terra não-


florestada em terra florestada por meio de plantio, semeadura e/ou a promoção
induzida pelo homem de fontes naturais de sementes, em área que foi florestada mas
convertida em terra não-florestada em 31 de dezembro de 1989 (CMP.1 - Uso da
Terra, Mudança de Uso da Terra e Florestas)”. [38]

Como já foi exposto, uma das formas de seqüestrar o CO2 emitido é pela vegetação, através
da fotossíntese, formando a biomassa. Entretanto, sabe-se também que as espécies têm
diferentes capacidades de absorver esse gás, dependendo dos seus potenciais
fotossintetizadores, que por sua vez, dependem do “DNA” da planta.

Renner, R.M [39] apresentou uma lista com 67 espécies nativas do Paraná e seus respectivos
valores de carbono resgatado por indivíduo por ano, visando apresentar o benefício da
recuperação florestal pelo Programa Mata Ciliar naquele Estado. No seu trabalho, a autora
estimou a biomassa aérea (acima do solo) para as mudas plantadas, usando dados de literatura
com a seguinte equação:

Biomassa acima do solo (em t/ha) = Vol * Dens * Fexp,

onde:
Vol: volume por hectare (m3)
Dens: Densidade baseada na massa seca (t/m3 ou gramas/ cm3)

38
Fexp: fator de expansão da biomassa foi adotado como 1,74, sugerido por Brown (1997)
segundo a autora.

O volume foi estimado a partir da área basal, multiplicando o diâmetro médio pela altura
média e pelo fator de forma 0,5. Foram usados os dados de densidade da madeira úmida dos
trabalhos do IPT (1989), Carvalho (1994), Lorenzi (1992; 1998) e Embrapa (1986), segundo a
autora do artigo. Esses valores de densidade (12 a 15 % de umidade) foram transformados
para densidade baseada no peso seco pela fórmula:

y = 0,0134 – 0,800*x (Brown, 1997) onde y é a densidade baseada no peso seco e x é a


densidade a 12 % de umidade.

A biomassa por indivíduo foi assim obtida e dividida pela idade, para calcular o incremento
anual de biomassa por indivíduo. O valor de incremento de carbono (C) por indivíduo em
toneladas por ano foi calculado, multiplicando a biomassa pelo fator 0,5 (C ≈ 50% da
biomassa).

Foram consideradas as 67 espécies nativas mais utilizadas no programa mata ciliar e o


percentual de participação de cada uma delas nos plantios, para o cálculo do valor médio de
carbono acumulado por indivíduo. O valor médio encontrado foi de 0,0055 tC/ind/ano.
O número de indivíduos considerado para o cálculo efetivo foi baseado na média dos dados de
sobrevivência (≈ 55%) de mudas obtidos em vistorias de campo. A tabela 4.1 apresenta os
resultados obtidos por esse trabalho.

Tabela 4.1 Listagem das espécies trabalhadas com o respectivo valor do carbono resgatado
por indivíduo por ano [39]
NOME CIENTÍFICO t C/ind/ano
Luehea divaricata 0,0050
Pterogyne nitens 0,0015
Anadenanthera colubrina 0,0121
Anadenanthera macrocarpa 0,0143
Psidium cattleianum 0,0007
Annona cacans 0,0269
39
Araucaria angustifólia 0,0039
Schinus terebenthifolius 0,0022
Mimosa scabrella var. aspericarpa 0,0156
Mimosa flocculosa 0,0015
Minosa scabrella 0,0249
Sebastiana commersonia 0,0048
Peltophorum dubium 0,0046
Nectandra lancelota 0,0007
Ocotea puberula 0,0012
Croton floribundus 0,0021
Myrsine ferruginea (Rapanea ferruginea) 0,0061
Clethra scabra 0,0055
Jacaranda puberula 0,0051
Phytolacca dióica 0,0055
Cedrela fissilis 0,0012
Cecropia hololeuca 0,0055
Ilex paraguariensis 0,0007
Albizia hassieri 0,0055
Lonchocarpus muehlbergianus 0,0001
Solanum sp. 0,0055
Campomanesia xanthocarpa 0,0015
Callophyllum brasiliense 0,0011
Schizolobium parahyba 0,0145
Astronium graveolens 0,0059
Parapiptadenea rígida 0,0015
Inga sessilis 0,0015
Tabebuia chrysotricha 0,0007
Tabebuia heptaphylla 0,0011
Cybistax antisyphulitica 0,0059
Heliocarpus americanus 0,0055
Mimosa regnelli 0,0055
40
Peschiera funchsiaefolia 0,0055
Bastardiopsis densiflora 0,0176
Cordia trichotoma 0,0051
Didimopanax morototoni 0,0127
Senna macranthera 0,0055
Mimosa bimucronata 0,0032
Ruprechia loxiflora 0,0004
Guazuma ulmifolia 0,0103
Chorisia speciosa 0,0015
Euterpe edulis 0,0040
Bauhinia forficata 0,0007
Senna multijuga 0,0033
Gallesia integrifólia 0,0020
Cytarexylum myrianthum 0,0011
Caesalpinia férrea 0,0033
Piptadenia gonoacantha 0,0174
Trema micrantha 0,0072
Aegiphila sellowiana 0,0020
Vochysia tucanorum 0,0055
Aspidosperma polyneuron 0,0004
Prunus brasiliensis 0,0018
Podocarpus lambertii 0,0015
Eugenia uniflora 0,0004
Tibouchina sellowiana 0,0055
Croton urucurama 0,0089
Alchornea glandulosa 0,0132
Cyntharexylum myrianthum 0,0011
Vitex polygama 0,0055
Eugenia pyriformis 0,0006
Piptacarpha angustifólia 0,0055

41
A média do carbono resgatado por ano é de 5,4kg de C resgatado /indivíduo/ano (kg
C/ind./ano) calculando pelos dados da tabela 4.1. Os valores variaram de 0,1 a 24,9 kg
C/ind./ano. Isso mostra como podem variar os incrementos ou absorção de carbono (ou CO2)
para formar a biomassa. Esse foi um dos dados de literatura pesquisados.

Outra referência interessante [40] diz que diferentes madeiras (ou árvores) apresentam
diferentes densidades (biomassa/volume), ou seja, refletem diversas durezas e celuloses por
volume de madeira. As menos duras ou “madeiras brancas” são de rápido crescimento, baixa
densidade e têm menor valor comercial.

A autora desse trabalho [40] considerou o plantio e acompanhamento de uma árvore


hipotética por 20 anos, para calcular o C ou CO2 absorvido por ela, através de sua
fotossíntese. Segundo ela, essa árvore pode atingir uma altura de 15 metros com 28cm de
diâmetro, densidade de 0,48g/cm3 e teor de carbono de 50%, desde que haja boas condições
de plantio. Não foi descontada a umidade, pois está incluída na densidade, que é calculada
pela massa de madeira seca por volume da árvore viva (úmida na natureza).

Assim, o cálculo do carbono contido foi feito pela equação:

Carbono na árvore = AB x H x DB x TC x FFA


Onde:

AB = Área Basal da árvore (m2) estimada a partir de dados de campo;


H = Altura total da árvore (m);
DB = Densidade básica (massa de madeira seca / volume da madeira fresca; kg/m3);
TC = Teor de carbono, considerado como 50% da biomassa seca;
FFA = Fator de forma arbóreo, pois a árvore não é um cilindro; é semelhante a um cone com
expansão dos galhos da copa. Este fator é calculado experimentalmente e foi adotado o valor
de 0,72.

Assim, árvore hipotética considerada tem:

Carbono na árvore = (0,28m/2)2 (m2) x Pi x 15(m) x 0,5 (t/m3) x 0,5 (%) x 0,72

42
Carbono na árvore = 166 kg de C ou 598 kg de CO2.

O número de árvores a serem plantadas para absorver o CO2 emitido é calculado a partir da
divisão do total desse CO2 pelo CO2 equivalente retido na biomassa da árvore hipotética
mencionada.

Entretanto, lembra a autora, a taxa de absorção do CO2 pelas árvores é muito menor do que a
taxa que o homem emite esse GEE. Ou seja, o que se emite hoje, só será absorvido daqui a
anos (o tempo de crescimento das árvores).

Ela afirma que é impossível estimar com precisão quanto CO2 uma árvore é capaz de absorver
durante seu crescimento, pois há muitas variáveis influentes nesse processo: a espécie
plantada, a fertilidade do solo, temperatura do ambiente, quantidade e distribuição da chuva
ao longo do ano, predadores, doenças, densidade do plantio, luminosidade, dentre outros
fatores.

De acordo com a autora, uma floresta clímax da mata atlântica estoca cerca de 400 toneladas
(t) de biomassa (~ 200 t/ha) por hectare (ha) por ano, que equivalem a 720 t (730 pelos
cálculos da autora da dissertação) de CO2. Segundo a autora, o brasileiro emite cerca de 0,6
toneladas de CO2 por ano ou 48 toneladas ao longo da vida, considerando 80 anos de idade.
Logo, um hectare de floresta pode estocar as emissões de cerca de 15 pessoas.

Uma árvore com 90 cm de diâmetro por 30 metros de altura (grande porte) pode estocar cerca
de 6 (6,9 pelos cálculos da autora da dissertação) toneladas de carbono (mais de 20 toneladas
de CO2) o equivalente às emissões de 33 pessoas/ano. Mas, uma árvore deste porte leva mais
de cem anos para atingir essas dimensões, mesmo tempo para uma floresta atingir seu estágio
de capacidade máxima de estocagem de carbono. Nessas estimativas de estocagem não foi
considerado o carbono do solo, que aumenta com a maturidade de uma floresta.

Nesta referência foi apresentada a seguinte tabela (4.2) com alguns dados de densidade e
estrutura de espécies adultas de mata atlântica, encontrados na literatura pesquisada [40]:

43
Tabela 4.2 Densidade e estrutura de algumas espécies maduras da mata atlântica [40]

Diâmetro (cm)
Nome vulgar Espécie Família Densidade e altura (m) de
(g/cm3) uma arvore
adulta
Schizolobiun
Guapuruvu Caesalpinaceae 0,38 80-100 / 20-30
parahyba
Tabebuia
Caixeta Bignoniaceae 0,39 30-40 / 12-22
cassinoides
Embaúba Cecropia
Cecropiaceae 0,43 20-30 / 6-12
Branca hololeuca
Ingá Ingá vera Mimosaceae 0,58 20-30 / 5-10
Mimosa
Bracatinga Mimosaceae 0,67 30-40 / 5-15
scabrella
Ocotea
Canela-preta Lauraceae 0,75 60-90 / 25-30
catharinensis
Cariniana
Jequitibá Lecythidaceae 0,78 90-120 / 35-45
estrellensis
Tabebuia
Ipê-Roxo Bignoniaceae 0,96 60-90 / 20-30
impetiginosa
Manilkara
Maçaranduba Sapotaceae 1,03 40-70 / 10-25
salzani
Anadenanthera
Angico Mimosaceae 1,05 40-60 / 13-20
macrocarpa

44
5 PRINCIPAIS TRABALHOS COM METODOLOGIAS DE INVENTÁRIO DE
EMISSÕES

Antes de mostrar algumas metodologias encontradas, é conveniente apresentar alguns


conceitos, tais como [41]:

Fatores de Conversão são coeficientes que transformam as quantidades expressas numa


unidade de medida para quantidades expressas em outra unidade. No Brasil, para converter 1
tonelada de lenha em tep (toneladas equivalentes de petróleo), usa-se o coeficiente 0,306, que
é a relação entre o poder calorífico da lenha e o do petróleo (3300 kcal/kg / 10800 kcal/kg), ou
seja, 1 t de lenha = 0,306 tep.

Caloria (cal) - quantidade de calor necessária para elevar a temperatura de um grama de água
de 14,5 ºC a 15,5 ºC, à pressão atmosférica normal (760 mm Hg).
1 cal = 4,1855 J e 1 J = 0,239 cal

Poder Calorífico - quantidade de calor, em kcal, produzida na combustão completa por 1 kg


ou 1m3 N de combustível [42].

Poder calorífico superior (PCS) e inferior (PCI): [43]

Poder calorífico é a quantidade de calor produzida pela combustão completa de uma unidade
de massa do combustível, expresso geralmente em kcal/kg. O calor liberado pela combustão
de uma unidade de massa de um combustível numa bomba de volume constante, com toda a
água produzida no estado líquido é definido como Poder Calorífico Superior (PCS). Já o
Poder Calorífico Inferior (PCI) é o calor liberado pela combustão de uma unidade de massa de
um combustível, em pressão constante, com a água vaporizada.

PCI = PCS - entalpia de vaporização da água

Para calcular os GEE’s emitidos em todos os métodos pesquisados, deve-se transformar o


consumo de cada combustível usado de suas unidades originais (m3, litros, toneladas, etc.)
para unidades energéticas (em TJ) através do seu Poder Calorífico Inferior (PCI). Depois,

45
multiplica-se esse consumo energético pelo fator de emissão de cada GEE, expresso em kg ou
toneladas do GEE por TJ (tabelado pelo IPCC ou desenvolvido no País) para esse
combustível e chega-se a um valor de kg do GEE emitido.

Repete-se o procedimento para cada combustível consumido e cada GEE. Para obter o
resultado final, somam-se todas essas parcelas. Caso o inventariante queira obter os resultados
de todos os GEE’s baseados em CO2, basta converter os GEE’s não CO2 em CO2e (CO2
equivalente) através dos seus PAG’s correspondentes.

Para o GEE CO2, os fatores de emissão refletem o teor padrão (default, em inglês) de carbono
de cada combustível por unidade de energia contida (no setor energia) que é baseada no PCI
do combustível. Nas versões anteriores à do IPCC 2006, os fatores eram expressos em
toneladas de carbono (C) por TJ. Os fatores padrões de emissão (FE’s) para os outros GEE’s
não CO2, tais como metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) também são expressos em kg CH4/TJ
e kg N2O/TJ, respectivamente.

Os métodos do IPCC também apresentam três níveis de complexidade relativos aos fatores de
emissão, visando diminuir as incertezas, que vão desde os valores padrões tabelados (nível 1)
até a tecnologia do equipamento de combustão, condições operacionais, etc.(nível 3) passando
pelos fatores desenvolvidos pelo país sendo inventariado (nível 2) para a versão 2006.

O conceito desses níveis mudou das versões anteriores do IPCC para a de 2006, mas não é o
foco por ora, pois o método adotado no inventário do estudo de caso adotou a de 2006.

As metodologias das versões anteriores do IPCC pesquisadas adotaram a seguinte equação


(de formas ligeiramente diferentes) para o cálculo de emissões de CO2:

CO2 = Mc*PCI*FE*44/12
Onde:
CO2 é a quantidade em t ou kg do CO2 emitido, quer seja CO2 ou CO2 eq (de outros GEE’s);
Mc é a massa do combustível consumido em Gg (Gg = gigagrama = 109 g) t ou kg para fins
energéticos;
PCI é o poder calorífico inferior geralmente expresso em TJ/kg , definido anteriormente neste

46
capítulo;
FE é o fator de emissão de carbono, expresso em tC/TJ;
44/12 é a relação de pesos moleculares de CO2/C, para transformar a massa de carbono em
CO2.

Quase todos os métodos encontrados se basearam nos fatores de emissão (FE em tC/TJ da
equação 1 apresentada) do IPCC 1996, pois a versão mais nova é a de 2006, onde os FE’s já
são expressos em kg de CO2/TJ. Assim, a equação 1 não usa o fator 44/12, para a última
versão 2006 pesquisada e adotada no trabalho desta dissertação.

Na pesquisa realizada, foram encontrados os seguintes trabalhos para o cálculo de emissões


de GEE´s:

5.1 Primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa por
queima de combustíveis: abordagem “top-down”.

Em escala macro, o COPPE elaborou e o MCT coordenou esse inventário pela metodologia
Top-down [44] recomendada pelo IPCC de 1996 (Reference Manual) [45] mas adaptada para
calcular as emissões de carbono do sistema energético brasileiro. O trabalho visou comparar a
evolução das emissões de CO2 de 1990 a 1994, por setores e seus consumos de combustíveis
fornecidos em tep pelo BEN (Balanço Energético Nacional).

A tep representa a energia contida em uma tonelada do petróleo médio consumido, que, em
média, é 10.000 Mcal. No Brasil, essa energia corresponde a 10.800 Mcal ou 45,217 x 10-3
TJ, que é função do tipo de petróleo adotado. Assim, se 1 tep padrão é igual a 10.000 Mcal
(41,868 x 10-3 TJ), 1 tep brasileira será igual a 10.800/10.000 x 41,868 x 10-3 TJ = 45,217 x
10-3 TJ ~ 45,22 x 10-3 TJ
Os dados fornecidos pelo BEN (consumo em tep) se baseiam no PCS ao invés do PCI (os
fatores de emissão do IPCC se baseiam no PCI) dos combustíveis. Assim, não é possível
transformar as quantidades expressas em tep diretamente para TJ. Nesse trabalho do MCT,
cada tep com base no PCS foi convertido para TJ baseado no PCI, através da seguinte
expressão:

47
Fator de conversão (tep com base em PCS para TJ com base em PCI) = 45,22x10-3 x fator de
correção;
onde o fator de correção para os combustíveis sólidos e líquidos é 0,95 e 0,90 para os
combustíveis gasosos, conforme recomendação do método do IPCC empregado nesse
trabalho do MCT.

Esse método permite calcular as emissões de CO2, apenas com dados sobre a oferta de energia
do país sem detalhar o destino onde esta energia é consumida. Consiste na quantificação da
produção doméstica (brasileira, no caso) de combustíveis primários, das importações e
exportações de combustíveis primários e secundários e da variação interna dos estoques
destes combustíveis.

A metodologia top-down considera que, uma vez introduzido na economia nacional, em um


determinado ano, o carbono contido em um combustível fóssil ou é emitido para a atmosfera
ou é retido de alguma forma (por exemplo, sua transformação em produtos não energéticos,
da sua retenção parcial não oxidada nos resíduos da combustão ou através do aumento do
estoque do combustível).

Para se ter uma idéia, pode-se resumir essa metodologia nas seguintes etapas:
1. Avaliação do consumo dos combustíveis, nas suas unidades de medida originais.
2. Conversão desse consumo para uma unidade de energia (TJ) através do PCI de cada
combustível.
3. Transformação desse consumo de cada combustível em conteúdo de carbono, através
da sua multiplicação pelo fator de emissão de carbono do combustível considerado.
4. Quantificação do carbono de cada combustível destinado para fins não energéticos e
dedução desta quantidade de carbono contido no consumo citado no item 3, para
calcular o conteúdo real de carbono que pode ser emitido.
5. Correção dos valores encontrados na etapa 4, considerando combustão incompleta do
combustível, descontando a fração não oxidada (fornecida pelo IPCC) para calcular a
quantidade de carbono oxidado na combustão.
6. Conversão da quantidade de carbono oxidado em emissões de CO2, através da razão
do peso molecular de CO2 (44) com o peso atômico do carbono (12).
A emissão de CO2 pelo uso de uma fonte de energia pode ser determinada, através da seguinte

48
equação:

onde:
ω = emissão anual real de CO2 (Gg CO2)
α = produção anual doméstica de energia primária, medida em unidade original
β = importação anual de energia primária e secundária, medida em unidade original
χ = exportação anual de energia primária e secundária, medida em unidade original
δ = energia anualmente embarcada em bunkers internacionais, medida em unidade original
ε = variação anual dos estoques de energia (positiva, caso haja aumento dos estoques),
medida em unidade original
Φ = fator de conversão da unidade original para terajoules (TJ/unidades originais)
γ = fator de emissão de carbono por unidade de energia contida no combustível (t C/TJ)
η = quantidade anual de carbono estocado em produtos não energéticos (t C)
λ = fração do carbono realmente oxidado na combustão

Esse método adotado pelo MCT não apresenta qualquer detalhamento do setor ou tecnologia
onde os combustíveis (ou energéticos) foram usados, ou destinos (veículo, equipamento, etc.)
e teve a finalidade de calcular as emissões do País. Além disso, os fatores de emissão são
meras cópias da tabela 1.1 na página 1.13 do capítulo 1 (Energia) do Manual de Referência do
IPCC 1996 [46]. A exceção ficou por conta do álcool, cujo valor foi a média obtida na
CETESB (1994) dos fatores de emissão da frota nacional. A tabela 5.1, a seguir, mostra os
fatores de emissão de carbono (tC/TJ) usados. [44]

49
Tabela 5.1 Fatores de emissão FEC (t C/TJ) usados no 1º Inventário Brasileiro (Top Down)
[44]

Combustível FEC
Petróleo 20
Primários
Líquidos de Gás Natural 17.2
Gasolina 18.9
Querosene de Aviação 19.5
Querosene Iluminante 19.6
Óleo Diesel 20.2
Óleo Combustível 21.1
Fósseis-Líquidos GLP 17.2
Secundários Nafta 20
Asfalto 22
Lubrificantes 20
Coque de Petróleo 27.5
Outros Produtos Secundários de Petróleo 20
Outros Produtos Não Energéticos de 20
Petróleo
Carvão Metalúrgico 25.8
Primários
Carvão Vapor 25.8
Fósseis-Sólidos
Alcatrão 25.8
Secundários
Coque de CM 29.5
Primários Gás Natural 15.3
Fósseis-Gasosos
Secundários Gás de Refinaria 18.2
Outras Primárias Fósseis 20
Lenha para Queima Direta 29.9
Lenha para Carvoejamento 29.9
Biomassa-Sólida Bagaço de Cana 29.9
Resíduos Vegetais 29.9
Carvão Vegetal 29.9
Caldo de Cana 20
Melaço 20
Biomassa-Líquida
Álcool Anidro 14.81
Álcool Hidratado 14.81

50
Os fatores desta tabela (5.1) são os recomendados pelo IPCC (IPCC, 1996), com as exceções
a seguir:

• Para os outros produtos não energéticos do petróleo e outros produtos secundários do


petróleo foram adotados o FE do Other Oil definido no IPCC.

• Para o carvão vapor, adotou-se o mesmo valor do FE do carvão betuminoso - Other


Bituminous Coal, pois não há recomendação do IPCC.

• Para o alcatrão obtido como subproduto da transformação do carvão metalúrgico em


coque, adotou-se o mesmo FE do carvão metalúrgico (não há recomendação do
IPCC).

• É desconhecida a composição das fontes incluídas em outras fontes primárias fósseis.


Sendo assim, adotou-se o mesmo FE do petróleo.

• Para o álcool etílico, adotou-se o FE médio da frota nacional, calculado no módulo


específico de transporte a partir dos dados obtidos na CETESB (1994), para o período
1990/1994.

Esta metodologia apresenta ainda as estimativas das emissões de CO2 oriundas do consumo de
biomassa no sistema energético e analisa a sua evolução ao longo do tempo, no período já
mencionado (1990 a 1994). As estimativas das emissões de CO2 da biomassa foram incluídas
no inventário nacional apenas como informação (segundo recomendação do IPCC) sem
adicionar às emissões dos combustíveis fósseis. Ressaltam-se as vantagens comparativas do
Brasil, relativas às emissões de CO2 do seu sistema energético pelo uso de fontes renováveis,
e a necessidade de implantar políticas para a manutenção dessas vantagens. [47]

No final do relatório, é apresentada uma metodologia diferente do IPCC, levando em conta o


uso de biomassa para energia e a diferenciação entre biomassa renovável da não renovável
(função do uso da mesma). Assim, a quantidade de biomassa renovável variou de acordo com
o setor de consumo, para o caso da lenha utilizada por queima direta. [47]

Foi considerado que 50% da lenha energética para o setor residencial eram renováveis, pelo
tipo de coleta praticado – aparas de árvores e lenha catada do chão. Logo, somente 50% do

51
consumo residencial contribuíram para o aumento do efeito estufa. Para o setor industrial,
levou-se em conta que apenas 20% da lenha usada eram de origem renovável (principalmente
nas indústrias de papel e celulose) pelos programas de reflorestamento.

Considerou-se que toda a lenha consumida era renovável, para as usinas autoprodutoras de
eletricidade. Essas hipóteses foram adotadas com base na experiência da equipe do
PPE/COPPE sobre o assunto, já que não foram encontradas estatísticas publicadas sobre uso
de lenha nativa para queima direta.

5.2 - Coeficientes da matriz de emissões

O objetivo desta metodologia [48] "Fornecimento de Instrumentos de Avaliação de Emissões


de Gases de Efeito Estufa acopladas a uma Matriz Energética" foi estimar a matriz de emissão
dos GEE’s oriundos da queima dos combustíveis usados em vários setores da economia.

Para tal finalidade, o referido trabalho visou obter um coeficiente que, multiplicado pelo
consumo de cada energético em um específico setor da economia, forneça a quantidade
emitida de cada um dos gases do efeito estufa.

No cálculo, foram usados os valores dos fatores de emissão fornecidos pelo IPCC, revisão de
1996. Segundo o trabalho, a metodologia do IPCC separa o cálculo dos gases do efeito estufa
da seguinte forma:

a. Emissão de CO2 a partir do teor de carbono dos combustíveis;


b. Emissão de CH4, N2O, NOx e CO a partir do consumo do energético organizado por
setor da economia;
c. Emissão de SO2 a partir do teor de enxofre no combustível e da retenção de enxofre
nas cinzas.

A seguir, são descritos os passos usados nessa metodologia:

a) Coeficientes para emissão de CO2


a.1) Conversão de massa, volume ou tep (tonelada equivalente de petróleo) para terajoule

52
(TJ), usando o seguinte cálculo: 1tep = 10.000 Mcal = 41,868TJ*10-3. Ou seja, o fator de
conversão para terajoule usado é A = 41,868 TJ/ 103 tep.

a.2) Multiplicação pelo fator de emissão para calcular o teor de carbono.


O IPCC fornece fatores de emissão (em toneladas de C/TJ) para líquidos fósseis primários e
secundários, sólidos fósseis primários e secundários, gás natural e biomassa sólida, líquida e
gasosa. Assim, o fator de emissão de carbono passou a ser identificado por B (B = fatores de
emissão de carbono do energético).

a.3) Correção para carbono oxidado.


Nem todo o energético (ou combustível) é totalmente queimado ou oxidado para CO2 + H2O e
parte dele se transforma em fuligem (C não oxidado). Portanto, apenas a fração oxidada da
Tabela 5.2 deve ser considerada para efeitos de emissão de CO2.

Tabela 5.2 Fração de carbono oxidado [48]

Carvão 0,98

Petróleo e seus produtos 0,99

Gás 0,995

Ficou então estabelecido que C = Fração de carbono oxidado do energético.

a.4) Conversão do carbono oxidado em emissão de CO2.


Assim, o coeficiente de emissão de carbono em Gg/10 3 tep de combustível pode ser obtido,
multiplicando-se o fator de conversão (item 1) pelo fator de emissão (item 2) para um
determinado combustível (vezes10-3 para termos o fator em Gg de C/TJ) e pela fração de
carbono oxidado correspondente (item 3). Para se obter o coeficiente de emissão de CO2 basta
multiplicar esse coeficiente (de carbono) por 44/12 (PM de CO2 / PA de C). Assim, tem-se a
seguinte equação:

Coeficiente de emissão de CO2 = A* B*10 –3 * C* 44/12 (Gg de CO2/103 tep).

b) Coeficientes para emissão de CH4, N2O, NOx e CO


b.1) Conversão para terajoule.
53
O fator de conversão para terajoule usado é A = 41,868 TJ/103 tep.

b.2) Multiplicação pelo fator de emissão (do respectivo gás) para o setor da economia e
referente a esse combustível.
O IPCC fornece fatores de emissão para esses GEE’s (item b) para os energéticos e setores da
economia (em kg/TJ) a seguir:
Energético: petróleo, gás natural, gasolina, diesel, carvão, lenha e rejeitos de lenha, biomassa
e outros.
Setor: Indústria de energia, Indústria manufatureira e Construção, Transporte (aéreo,
rodoviário, ferroviário e hidroviário) e Outros Setores (comercial/institucional, residencial,
agricultura, silvicultura e pesca).
Ficou definido que B = fator de emissão de cada um desses energéticos para cada setor da
economia.

O coeficiente de emissão do GEE em Gg/103tep pode ser obtido, multiplicando-se o fator de


conversão pelo fator de emissão (vezes 10-6 para obter Gg do GEE/TJ) de acordo com a
seguinte equação:

Coeficiente de emissão (do respectivo gás) = A* B*10 -6 (Gg / 10 3 tep)

c) Coeficiente para emissão de SO2

c.1) Conversão para terajoule.


O fator de conversão para terajoule usado é A = 41,868 TJ/103 tep;

c.2) Cálculo do fator de emissão de SO2. B = 2* [(% do teor de enxofre /100)]*[1/valor


calorífico líquido]*[(100-% retenção do enxofre na cinza)/100.

Coeficiente de emissão de SO2 = A*B* (Gg/103 tep).

54
5.3 - Avaliação das Emissões de CO2 pelo uso do Processo “Top-Down” Estendido

O trabalho trata de um levantamento de dados para revisão do Balanço de Carbono, objeto do


Termo de Parceria entre a OSCIP e&e e o MCT. Apresenta a tabela 5.3 que chamou atenção
da autora, por comparar diversos Fatores de Emissão [49]:
Tabela 5.3 Valores comparativos de FEC’s para 2004[49]
Utilizado COPPE Obtidos MCT IPCC

e&e e&e*
BEN tC/TJ tC/TJ tC/TJ tC/TJ tC/TJ IPCC
Petróleo 20.0 20.0 20 Crude Oil
Líquidos de Gás Natural 17.2 17.2 17.2 Natural Gas Liquids
Gasolina 18.9 18.9 18.9 18.9 Gasoline
Querosene de Aviação 19.5 19.5 19.5 19.5 Jet Kerosene
Querosene Iluminante 19.6 19.6 19.6 19.6 Other Kerosene
Óleo Diesel 20.2 20.2 20.2 20.2 Gas/Diesel
Óleo Combustível 21.1 21.1 21.1 21.1 Residual Fuel Oil
GLP 17.2 17.2 17.2 17.2 LPG
Nafta 20.0 20.0 20.0 20.0 Naphta
Asfalto 22.0 22.0 22.0 22.0 Bitumen
Lubrificantes 20.0 20.0 20.0 20.0 Lubricants
Outros Não Energéticos de Petr. 20.0 20.0 20.0 20.0 Other Oil
Coque de Petróleo 27.5 27.5 27.5 27.5 Petroleum Coke
Carvão Vapor 25.8 25.8 25.8 25.8 Other Bituminous Coal
Carvão Metalúrgico 25.8 25.8 25.8 25.8 Coking Coal
Alcatrão 25.8 25.8 25.8 Tars
Coque de CM 29.5 29.5 29.5 29.5 Coke Oven / Gas Coke
Gás Natural 15.3 15.3 15.3 15.3 Natural Gas (Dry)
Gás de Refinaria 18.2 18.2 18.2 18.2 Other Oil
Outras Fontes Secundárias Petr. 20.0 20.0 20.0 20.0 Other Oil
Gás Canalizado 18.2 15.3
Gás de Coqueria 29.5 29.5 29.5 13.0 Coke Oven Gás
Lenha Queima Direta 28.6* 29.9 28.6 29.9 29.9 Solid Biomass
Lenha Carvoejamento 28.6* 29.9 28.6 12.4 29.9 Solid Biomass
Carvão Vegetal 29.9 29.9 20.5 32.2 29.9 * Solid Biomass
Caldo de Cana 20.0 20.0 20.0 Liquid Biomass
Melaço 20.0 20.0 20.0 Liquid Biomass
Bagaço 24.2* 29.9 24.2 29.9 29.9 Solid Biomass
Resíduos Vegetais 29.9 29.9 29.9 29.9 Solid Biomass
Turfa 28.9 Peat
Outros Primárias Fósseis 20.0 20.0 20.0 20.0 Other Primary Fuel Fóssil
Lixívia 20.0 20.0 20.0 20.0 Liquid Biomass
Álcool Etílico Anidro 18.8* 14.8 18.8 14.8 20.0 Liquid Biomass
Alcool Etilico Hidratado 18.8* 14.8 18.8 20.0 Liquid Biomass
Alcatrão + Pirolenhoso 23.9 Solid Biomass

Convenção da *
Tabela 2.2 Coincidentes com IPCC e outros Adotados IPCC Cálculo e&e

(*) Os valores recomendados pelo IPCC referem-se genericamente à biomassa líquida ou sólida.

55
A tabela 5.3 mostra que quase todos os valores de fatores de emissão coincidem com os do
IPCC, salvo as seguintes exceções:

• Lenha queimada e carvoejamento – Diferença entre e&e (Organização Social


Economia e Energia) e IPCC

• Carvão vegetal - Diferença entre e&e, MCT e IPCC

• Bagaço - Diferença entre e&e e IPCC

• Álcool Etílico Anidro - Diferença entre e&e e IPCC (Posteriormente no capítulo 4,


serão mostrados vários FE’s para o álcool, de diversas referências)

• Álcool Etílico Hidratado - Diferença entre COPPE, e&e e IPCC (Observação da


autora deste trabalho: única diferença vista dos valores da COPPE com os do IPCC?).

5.4 Primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa por
queima de combustíveis (abordagem bottom-up) COPPE/MCT [50]

O relatório desse inventário apresenta estimativas das emissões de dióxido de carbono (CO2)
metano (CH4) monóxido de carbono (CO) óxidos de nitrogênio (NOx ) óxido nitroso (N2O) e
de compostos orgânicos voláteis não metânicos (NMVOC) oriundos da queima de
combustíveis no Brasil no período de 1990 a 1994 [50].

Esse trabalho se baseou na abordagem bottom-up das Diretrizes Revisadas de 1996 do IPCC
[51]. O inventário calculou o CO2 pelo nível 1 e os outros gases pelo nível 2 (mais detalhado)
de acordo com a versão do IPCC adotado na época.

O relatório desse inventário foi dividido em duas partes. A primeira apresentou os cálculos e
análises das emissões de CO2 por setor e a segunda, das emissões setoriais dos outros GEE’s.
As análises das emissões foram feitas à luz das peculiaridades da matriz energética brasileira
oferecida ao País da época, em que predominou o uso de fontes de energias renováveis,
energia hidráulica, bagaço e álcool de cana-de-açúcar, o carvão vegetal e lenha.

56
Dos gases não-CO2, apenas o CH4 e o N2O são gases de efeito estufa direto. As emissões de
CH4 e N2O foram principalmente associadas a quatro combustíveis: o Álcool Etílico, a Lenha,
o Bagaço e o Carvão Vegetal. Esses quatro combustíveis juntos foram responsáveis por 96%
das emissões de CH4 e de 73% das emissões de N2O.

A metodologia do IPCC tem como referência [50] pesquisas e metodologias elaboradas por
especialistas de países desenvolvidos, onde as emissões oriundas da queima de combustíveis
fósseis significam a maior parcela de suas emissões.

Assim, a metodologia e os fatores de emissão devem ser aplicados com cuidado, pois não
refletem totalmente, a realidade brasileira. “O uso da metodologia do IPCC pelos países em
desenvolvimento impõe a esses países um ajuste a um sistema para cuja elaboração pouco
contribuíram”, segundo o relatório do inventário em referência. Mas não há pesquisa no Brasil
para avaliar os fatores apresentados e a metodologia proposta, segundo esse relatório
(COPPE/MCT).

Segundo o mesmo relatório, ainda não há no Brasil, legislação que obrigue as empresas a
fornecer informações com respeito às suas emissões de GEE’s. Além disso, a busca e coleta
de informação não são adequadas por causa do alto custo de obtenção e armazenamento de
dados, quando comparado a qualquer melhoria da precisão da estimativa.

Portanto, não se justifica o inventário de emissões de GEE’s por si só. Assim, devem-se
priorizar estudos e pesquisas de emissões nos setores e GEE’s principais, pois as estimativas e
a qualidade dos dados podem melhorar ao longo do tempo, ainda aponta esse relatório.

5.5 Transportes [40]

Segundo Tannizak, Lenny, autora do trabalho “Base teórica para o cálculo de emissões de
CO2 relacionadas a meios de transporte”, os combustíveis mais usados em transportes no
Brasil são [40]:

• Gasolina (automotivo ou aéreo)


• Diesel (automotivo)

57
• Gás Natural Veicular (GNV) (automotivo)
• Querosene de Aviação (QAV) (aéreo)

De acordo com a autora, deve-se avaliar o consumo do combustível (ou teor de carbono), do
rendimento e da maneira como o motorista dirige o veículo, para se calcular a emissão de CO2
(principal GEE veicular). Entende-se a maneira que o motorista dirige o veículo, como muitas
paradas ou freadas seguidas de mais ou menos bruscas acelerações, etc.

Na metodologia em questão, foi considerado carro de passeio como o veículo com apenas um
passageiro e os ônibus com 30 passageiros. O cálculo anual considera a distância percorrida
por dia multiplicada por 365 dias por ano. Essa consideração visou a emissão causada pelo
transporte por pessoa. Para calcular as emissões causadas pelo transporte de uma pessoa,
foram adotadas as equações abaixo:
Carro:
Emissões (kg de CO2) = CC x DP x DC x TC x 3,6

Ônibus:
Emissões (kg de CO2) = CC x DP x DC x TC x 3,6 / NP

Onde:
CC = Consumo de combustível (l/km)
DP = Distância percorrida (km)
DC = Densidade do combustível (kg/l)
TC = Teor de carbono no combustível (%)
NP = Número de passageiros
TO = Taxa de ocupação dos assentos

No trabalho em referência, foi feita a tabela 5.4 abaixo, com fatores de emissão por
quilômetro percorrido. Para carros de passeio, o consumo de gasolina é função da potência do
veículo.

58
Tabela 5.4 Fatores de emissão para carros de passeio [40]:

Teor Densidade Potência Consumo km/l ou Emissões (kg


Combustível
C (kg/l ou m3) do Motor km/m3 ou (l/km) CO2/km)

Gasolina* 0,67 0,800 1,0 a 1,4 12 (0,08) 0,161

Gasolina* 0,67 0,800 1,5 a 2,0 10 (0,1) 0,194

Diesel 0,84 0,840 1,0 a 1,4 12 (0,08) 0,212

Diesel 0,84 0,840 1,5 a 2,0 10 (0,1) 0,254

GNV 0,75 0,750 1,0 a 1,4 12 (0,8) 0,169

GNV 0,75 0,750 1,5 a 2,0 10 (0,1) 0,203

*- Com 20% de álcool incluído.

Tabela 5.5 Fatores de emissão para ônibus [40]:

Consumo
Teor densidade Emissões
Combustível Pass./ônibus km/l
C (kg/l) (kgCO2/km)
ou (l/km)

diesel 0,84 0,840 30 4 (0,25) 0,0059

Transporte aéreo: não foi incluído neste trabalho [40], por não ser objeto do estudo proposto.

59
5.6 - IPCC 2006

A metodologia do IPCC 2006 [52] – Diretrizes para Inventários Nacionais de GEE’s que
atualizou a de 1996 é composta por 6 volumes, quais sejam:
• “Diretrizes para Inventários Nacionais de GEE’s” (com 4 capítulos)
• “Volume 1 Orientação Geral e Relatório” (com 8 capítulos)
• “Volume 2 Energia” (com 6 capítulos)
• “Volume 3 Processos Industriais e Uso do Produto” (com 8 capítulos e 4 anexos)
• “Volume 4 Agricultura, Silvicultura e Outro Uso da Terra” (com 12 capítulos e 3
anexos)
• “Volume 5 Lixo”

Essas novas diretrizes de 2006 abrangem novas fontes e gases e atualizam os métodos
anteriormente aplicados onde houve progresso do conhecimento técnico e científico.

O IPCC apresenta vários métodos ou níveis (Tiers, em inglês) de complexidade metodológica,


para serem escolhidos, dependendo dos dados disponíveis para o responsável pelo inventario.
Esses níveis vão do número 1 que é o mais simples até o 3, que é o mais complexo e
conseqüentemente mais preciso, por requerer dados mais detalhados, tanto dos equipamentos
quanto dos combustíveis usados (tecnologia, condições operacionais, setor-atividade, etc.).

 Nível 1

O Nível 1 é um método que se baseia na quantidade de cada combustível queimado e nos seus
fatores “default” de emissão, que o IPCC disponibiliza para todos os GEE’s relevantes (CO2,
CH4 e N2O).

A qualidade desses FE’s varia entre os GEE’s. Os FE’s para o CO2 dependem principalmente
do conteúdo de carbono (C) no combustível, não tendo importância significativa as condições
de combustão (eficiência, carbono retido nas cinzas, etc.). Assim, tem-se um valor bem
preciso através da quantidade de combustíveis queimados e do conteúdo padrão de C de cada
combustível. Os FE’s (default) do IPCC para cada combustível e cada GEE podem ser
encontrados nos capítulos 2 e 3 do Volume 2 (Setor Energia), para as fontes estacionárias e

60
móveis, respectivamente.

Para os GEE’s CH4 e N2O, os FE’s dependem da tecnologia de combustão e condições


operacionais e variam significativamente, tanto entre instalações de combustão individuais,
como ao longo do tempo (tempo: tecnologia ou idade do equipamento, segundo interpretação
da autora desta dissertação). Assim, o uso desses FE’s “default” introduz grandes incertezas,
devido à grande variabilidade nas condições tecnológicas, segundo o IPCC.

Para os esses GEE’s não CO2, o IPCC tenta diminuir as incertezas, usando fatores de emissão
por tipo de equipamento ou veículo; por exemplo, o fator de emissão “default” de N2O para
gás natural queimado em equipamentos não discriminados em indústrias (0,6 kg N2O/TJ) é
diferente do fator para caldeiras, usando o mesmo gás natural (1 kg N2O/TJ). Ambos os
fatores são fornecidos pelo IPCC.

Por essa razão, foi citado no Capítulo 2, página 6, que quanto maior o detalhamento do
consumo de combustível por equipamento, melhor será o resultado, quanto à precisão. Em
outras palavras, menores serão as incertezas.

 Nível 2

O Nível 2 é similar ao nível 1, com a diferença da exigência de usar FE’s desenvolvidos no


País. Cabe ressaltar que nas versões anteriores, a definição dos níveis era diferente da de
2006. O nível 2 não exigia FE’s desenvolvidos no País inventariante. Esse método de 2006
também reforça que, quanto mais desagregadas as fontes de emissão e seus consumos, além
dos reais conteúdos de C, menores serão as incertezas.

 Nível 3

O Nível 3 demanda modelos de emissão detalhados ou medidas e dados com detalhamento de


plantas individuais, embora considere o custo de esforços e informações mais detalhadas, para
os GEE’s não CO2, principalmente. Segundo a descrição desse nível, o monitoramento
contínuo do fluxo dos gases emitidos não se justifica apenas para medições precisas de CO2
(devido ao custo relativamente alto), mas podem ser aproveitados medidores já instalados que

61
estejam medindo outros poluentes como SO2 ou NOx.

Na versão do IPCC de 2006, os fatores “default” de emissão já são fornecidos em kg de


CO2/TJ. Esses FE’s em kg de CO2/TJ, nada mais são do que os FE’s do IPCC 1996 (carbono
padrão contido no combustível em tC/TJ à exceção de poucos FE’s que foram modificados ou
incluídos) multiplicados por 44/12, que é a relação da massa molecular do CO2 para a massa
atômica do carbono

Cabe ressaltar que o IPCC 2006 Volume 2 - Energia adotado apresenta os resultados das
emissões por fontes estacionárias separadas das móveis, por combustível e por GEE,
diferentemente da abordagem da metodologia da ABNT, a seguir.

5.7 – Projeto de Norma ABNT/CB-38 38:009.01-001/1 [2] ANEXO II

Os projetos de Norma da ABNT são compostos por 3 partes:

Parte 1: Especificação com orientação a Organizações para a quantificação e a elaboração de


relatórios de emissões e remoções de gases de efeito estufa

Parte 2: Especificação com orientação a Projetos para quantificação, monitoramento e


elaboração de relatórios das reduções de emissões ou melhoria da remoção de gases de efeito
estufa

Parte 3: Especificação com orientação para a validação e verificação de declarações relativas


a gases de efeito estufa

Apenas o projeto de Norma ABNT/CB-38 38:009.01-001/1 Parte 1 (que corresponde à


Norma ISO 14064 - 1ª Parte) foi usado neste trabalho, pois trata da orientação a organizações
para quantificar e elaborar os relatórios de emissões, um dos objetos desta dissertação. Define
o que são fontes diretas e indiretas de emissões de GEE’s, além de especificar princípios e
requisitos para a quantificação e elaboração de relatórios de emissão de GEE’s. Em outras
palavras, orienta a forma de apresentação dos resultados, mediante suas definições.

62
A seguir, são mostradas as definições adequadas ao presente inventário e adotadas por esse
projeto de Norma da ABNT, visando organizar os resultados por fontes usuárias de
combustíveis e os gases emitidos. Assim, o projeto define:

• Inventário de gases de efeito estufa como fontes de gases de efeito estufa,


sumidouros de gases de efeito estufa, emissões e remoções de GEE de uma
organização.
• Emissão direta como emissão de GEE de fonte de gases de efeito estufa pertencente
ou controlada pela organização. O item 2.14 mencionado no projeto de norma define
fonte de gases de efeito estufa como unidade física ou processo que libera um GEE
na atmosfera.
• Emissão indireta de gases de efeito estufa por uso de energia como a emissão de
GEE na geração de eletricidade, calor ou vapor importados pela organização, para seu
consumo.
• Outras emissões indiretas de gases de efeito estufa como emissões de GEE não
associadas à energia importada, e que sejam uma conseqüência de atividades da
organização, mas advindas de fontes de gases de efeito estufa que pertencem ou são
controladas por outras organizações.
• Dióxido de carbono equivalente CO2e como unidade para comparar a intensidade de
radiação de um GEE ao do dióxido de carbono.
• Potencial de aquecimento global PAG como fator que descreve a intensidade da
irradiação de uma unidade de massa de um dado GEE relativa a uma unidade
equivalente de dióxido de carbono durante um dado período de tempo.

A forma de apresentação dos resultados por este projeto de Norma (fontes diretas e indiretas)
difere da do IPCC (fontes estacionárias e móveis) e foi adotada neste trabalho.

É importante ressaltar que esse projeto não propõe qualquer método para o cálculo do
inventário de emissões, como pode ser visto no ANEXO II. A escolha do método de cálculo
fica por conta do responsável pelo inventário. Ele apenas ajuda a organizar os dados, os
resultados e na apresentação do relatório do inventário.

63
6. ESTUDO DE CASO

6.1 - Descrição Resumida da Empresa

A empresa está situada no Rio de Janeiro e emprega aproximadamente 500 trabalhadores,


entre empregados e terceiros.

Ela produz insumos para indústria de petróleo, suprindo o mercado nacional e parte do
mercado Latino Americano, com capacidade instalada de 32.000 t/ano dos produtos. Essa
empresa não autorizou divulgar o tipo de produtos, sua razão social e nem esclarecer seu
fluxograma. Entretanto, forneceu e autorizou a divulgação do fluxograma simplificado,
conforme a figura 6.1 a seguir.

As fontes emissoras de GEE’s são: 3 Secadores Flash (“Flash Driers”) 3 Calcinadores, 1


Secador Spray (“Spray Drier”) e 2 caldeiras aquotubulares que fornecem 30 toneladas por
hora de vapor d'água à pressão de 14 kgf/cm2 ao processo. O combustível usado em todos
esses equipamentos mencionados (fontes estacionárias) é o Gás Natural (doravante
denominado GN).

64
Figura 6.1 Fluxograma da empresa avaliada
BOC H2SO4 BOC NaOH Caulim Água NaHMP ReCl3 HCl

Sulfato de
Aluminato Caulim Terras Raras
Aluminio

Al2(SO4)3 Natal Suspensão de Caulim ReCl3

Soda Cáustica Preparo da Água Decationizada


Preparo da
Suspensão Soda Cáustica
Semente
Silicato de Sódio de Cogel Silicato de Sódio

Silicato de Sódio
Preparo da Preparo da
Água Decationizada Soda Cáustica
Alumina Zeólita NaY
Água Decationizada

Solução Amoniacal
BOC
Troca Iônica Solução de Troca Iônica
PREPARO DA
NaOH 50% Moagem,
ALUMINA H
Secagem e Recuperação do
HCS seed
Calcinação RE

Solução de PRA

Ácido Nítrico 54%


Amônia Recuperada
Ácido Sulfúrico 30% Recuperação do NH3

Ácido Fosfórico 33%


Silicato de Sódio Preparo de FCC Bruto
ou Sisol "Strike"
Efluente Para
Água Tratamento Externo

Atmosfera
Secagem "Spray" Recuperação de Finos
Gases

Lavagem
Queima de Gases (TDU) Solução Amoniacal ((NH4)2SO4
e água p/ lavagem
Secagem "Flash"

Calcinação

FCC Acabado

65
6.2 Situação ambiental da empresa pesquisada

6.2.1 Caracterização Geológica da região de contorno da empresa estudada:

A geologia da área é marcada pela presença de depósitos fluviais intercalados com depósitos
marinhos, composta predominantemente por argila e secundariamente por areia.

6.2.2 Caracterização Hidrogeológica:

Existe o Canal de São Francisco a uma distância aproximada de 0,5 km a leste da fábrica.
Deste canal, atualmente é bombeada a água que abastece a empresa depois de ser processada
em sua estação de tratamento de água.

6.2.3 Histórico do passivo ambiental

Inicialmente, durante os 5 primeiros anos de operação da fábrica, de 1988 a 1993 eram


estocados cerca de 1.000 toneladas de um resíduo da fábrica dentro de sua própria área de
aproximadamente 6,0 ha, localizada na borda leste da mesma. Durante 2 anos seguidos, esse
resíduo foi destinado para tratamento externo. Em 1995, o resíduo apresentou granulometria
mais grossa, ou seja, d50 de 30 micra (50% retido na peneira de 30µ) e foi novamente
armazenado no mesmo local anterior (aproximadamente 600 t em base seca). Posteriormente,
este despejo no terreno sofreu uma terraplanagem – com uma cobertura de argila com cerca
de 20 cm de espessura.

Esse resíduo sólido gerado pela fábrica é seco, com fração de argila e composto por sódio,
cloreto, amônia, sulfato e elementos da família dos lantanídeos (terras raras) possuindo como
principal característica a salinidade (prejudicial ao meio ambiente) com a seguinte
composição em base seca: 9.4 % Na2O, 6.03 % de SO4, 2.963 ppm de Cl, 53,9% SiO2 , 130
ppm de NH4 e 3,8% de Óxido de Terras Raras. O resíduo foi caracterizado como não inerte
classe II, segundo a norma 10.004 da ABNT, em função da presença de sulfato e cloreto de
sódio.

66
6.2.4 Ações na área ambiental

Em 2000, foi assinado o Termo de Compromisso de Ajuste Ambiental entre a empresa,


FEEMA e SEMADS (Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável). Como conseqüência desse Termo, foi criado em 2001 e mantido até hoje, um
horto florestal de 1007,5 m2, onde são produzidas mudas para o reflorestamento do entorno do
lago formado para dessalinização da área mencionada.

Em 2001, foi iniciado o processo de dessalinização da área de deposição de resíduos (Área do


entorno do lago: 81.525,85 m2 e do espelho d’água do lago: 60.000,00 m2) utilizando o
efluente da área de utilidades da fábrica com as seguintes características:
• pH alcalino (máximo 9,5)
• teores altos de sólidos em suspensão e alumínio (450 ppm e 100 ppm,
respectivamente)
• vazão ao redor de 15 m3/hora;
• elevada condutividade elétrica (600 a 900 microsiemens/centímetro ou µScm-1).

Condutividade elétrica é a propriedade que a água tem de conduzir corrente elétrica e é


relacionada com a presença de íons dissolvidos, que são partículas carregadas eletricamente.
Quanto maior a quantidade de íons dissolvidos, maior será a condutividade elétrica da água.
[28].

Em 2002, passou a ser utilizada parte da água bruta captada do canal mencionado em
substituição à da área de utilidades com as seguintes características vantajosas:

• pH na faixa de especificação da FEEMA (6,0 a 9,0);


• baixa condutividade elétrica (80 a 100 µScm-1);
• menores teores de sólidos em suspensão (em relação aos anteriores) incorporando
menos resíduos no lago de dessalinização;
• vazão em torno de 70m3/h.

Em novembro de 2001, iniciou-se o processo de reflorestamento da área do entorno do local


em dessalinização, através do plantio de 1200 mudas de espécies nativas e exóticas (Ipê Rosa

67
(Tabebuia impetiginosa), Ipê Roxo (Tabebuia heptaphyla), Albízia (Albizia Lebecck),
Jamelão( Syzygium cumini (L.) ), Aroeira (Schinus terebinthifolius ), Guapuruvu
(Schizolobium parahyba), Orelha de Negro (Enterolobium contortisiliquum), Olho de Dragão
(Adenanthera pavonina ), Cedro Rosa (Cedrela fissilis), Pata de Vaca (Bauhinia fortificata),
Sabiá (Mimosa caesalpineafolia) e Topã (Ochroma pyramidale) produzidas no próprio horto
florestal da fábrica.

O reflorestamento foi efetuado primeiramente ao redor da área do dique construído para a


criação do lago. O processo de reflorestamento iniciou-se com uma cobertura verde,
amenizando o impacto visual e formando posteriormente uma floresta secundária.

Como atividades da empresa em relação ao horto, também são realizadas as seguintes ações:
produção de mudas e compostagem de escolas de municípios vizinhos e entidades
governamentais, doações de mudas a pessoas físicas, jurídicas e entidades governamentais
interessadas e práticas de educação ambiental. Compostagem é o tratamento de resíduos
orgânicos através de sua biodegradação controlada e pode ser definida como um processo
aeróbico (presença de ar).

O horto da empresa é composto por seis áreas: preparo das sementes e transplantes de mudas,
sementeira, viveiro, canteiro de crescimento de mudas, compostagem e canteiro para cultivo
de plantas medicinais. O viveiro possui uma área de compostagem para a produção de adubo
orgânico que é utilizado no próprio horto florestal.

A matéria prima para o processo de compostagem é gerada pelos resíduos de poda,


jardinagem e pó de café usado do restaurante. Toda a matéria orgânica produzida pelos
resíduos de poda e jardinagem é acondicionada em baias do horto, para a decomposição
orgânica que dura 90 dias em média e produção de composto orgânico.

Cada baia mede 2,5 x 2,0 x 2,0 m = 10m3. Como há 21 baias, seu volume total é de 210m3.
O aporte médio mensal de insumos é de 20m3 e a densidade do composto gira em torno de
0,62g/ml.

68
A empresa produz cerca de 1500 mudas por mês, originárias do seguinte processo:

1. Compra de sementes em instituições reconhecidas, tais como UFRRJ e IPEF


(Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais) ou realização da prática de coleta de
sementes e de propagação de plantas existentes nas localidades.

2. Priorização das espécies nativas da mata atlântica. Quando não há disponibilidade de


sementes de espécies nativas nas instituições, é realizada a compra de sementes de
plantas exóticas, que se adaptam às condições de clima, solo e vegetação da área de
influência da empresa.

3. Essas sementes vão para a sementeira para germinarem, onde ficam cerca de 30 dias,
conforme a espécie.

4. Após esse tempo, essas sementes germinadas vão para a área com sombrite, uma fase
intermediária para o desenvolvimento, onde permanecem de 30 a 40 dias. O sombrite
é uma tela que permite uma distribuição uniforme da luz no interior do viveiro,
evitando o desenvolvimento irregular das mudas.

5. Finalmente, vão para uma área externa (ao sol) prontas para serem doadas.

Foi realizada uma estimativa da capacidade de absorção de CO2 pelas mudas do horto, cujos
valores foram os encontrados na literatura [39] para as plantas comuns a essas mudas e estão
apresentados na tabela do ANEXO III. Para as mudas de plantas sem referência bibliográfica,
adotou-se um valor de 2,5 kg de C resgatado por indivíduo e por ano (ou absorção de 8,5 kg
CO2/ind./ano), baseando-se na sugestão da bióloga da empresa (é um valor aproximado da
média dos dados dessa referência [39] (2,7 kg C/indivíduo/ano) considerando uma
sobrevivência das mudas em torno de 50%, também adotada nessa referência.

A base de cálculo para a estimativa das capacidades de absorção de CO2 fixado no composto
orgânico, bem como resultado por indivíduo e total absorvido pelas plantas estão no ANEXO
III.

69
6.3 Levantamento do Inventário de emissões

6.3.1 Considerações preliminares

Adotando as definições do mencionado projeto da ABNT, o presente trabalho separou os


inventários por emissões diretas, indiretas e outras indiretas (para somar todas as emissões no
final). Ficou definido que as emissões diretas da empresa são provenientes de todos os
equipamentos que usam combustíveis dentro da área da empresa e sob sua responsabilidade.

Conforme essas considerações, as fontes de emissões diretas de GEEs da empresa foram


provenientes da combustão de gás natural (GN) no processo, de óleo diesel na
retroescavadeira e do GLP usado nas empilhadeiras e no refeitório durante o ano de 2006,
que foi o ano base adotado de comum acordo.

A eletricidade comprada e consumida foi a fonte de emissão indireta da empresa. Para saber
ou calcular quanto emite cada GWh produzido, a autora deste trabalho solicitou dados da
matriz de geração de eletricidade junto a diversas instituições, quais sejam: ANEEL, ONS,
MCT, COPPE e MME. Apenas o MME forneceu os dados apresentados no ANEXO IV, que
serviram de base para os cálculos (pela autora desta dissertação) da emissão de CO2 por GWh
produzido no Brasil.

Quanto às outras emissões indiretas, as fontes foram o transporte veicular de cargas e


pessoas, além do tratamento do efluente contendo sacarose em uma empresa vizinha à em
estudo (não autorizadas suas identificações).

Ficou estabelecido que a abrangência do inventário incluiria essas emissões mencionadas, não
levando em conta as emissões decorrentes da fabricação das matérias primas ou do uso do
produto da empresa. Além disso, não foram também consideradas as viagens aéreas dos
funcionários da empresa em questão.

Apesar da adoção da metodologia do IPCC que separa os resultados das emissões por fontes
móveis das de fontes estacionárias, os resultados deste trabalho foram apresentados pelas
definições de fontes diretas e indiretas do Projeto 38:009.01-001/1 de Norma da ABNT [2]

70
sobre “Especificação e orientação a organizações para a quantificação e a elaboração de
relatórios de emissões e remoções de gases de efeito estufa” de janeiro de 2007.

Entretanto, nada impede apresentar também os resultados de acordo com o IPCC, somando
separadamente as emissões de todas as fontes e de todas as estacionárias. O resultado final é o
mesmo, pois os resultados são apenas organizados e apresentados de outra forma.

Conforme já exposto anteriormente, o método de cálculo das emissões do IPCC apresenta 3


níveis de complexidade, principalmente para os gases não CO2 (CH4 e N2O). No caso em
estudo, foi adotado o método do nível 1 do IPCC versão 2006, pois ainda não há FE”s
desenvolvidos no Brasil, para aplicar o método do nível 2.

Para os combustíveis usados pela empresa, os FE’s em kg de CO2/TJ, adotados pelo IPCC
2006, nada mais são do que os FE’s do IPCC 1996 (carbono padrão contido no combustível
em tC/TJ ou toneladas de carbono por terajoule), multiplicados por 1000 (de t para kg) e por
44/12 que é a relação da massa molecular do CO2 para a massa atômica do carbono, conforme
citado anteriormente no Capítulo 5. Para exemplificar e comparar, a tabela 6.1 a seguir
apresenta os valores dos FE’s dos IPCC de 1996 e os de 2006, para os combustíveis usados
pela empresa estudada.

Essa tabela 6.1 é a tradução (pela autora) de parte da tabela 1-1 da página 1.13 do capítulo 1 –
Energia do Manual de Referência das Diretrizes Revisadas de 1996 para Inventários
Nacionais de GEE’s [53] e de parte da tabela 1-4 da página 1.23 do capítulo 1 – Energia –
Introdução das Diretrizes de 2006 para Inventários Nacionais de GEE’s [54], ambas do IPCC.

No presente trabalho, para o cálculo das emissões de CO2, foram usados esses valores
“default” dos FE’s do IPCC 2006 (tabela 6.1) já em kg CO2/TJ, como apresentados na tabela
6.1, para os combustíveis usados pela empresa estudada, para fontes estacionárias e móveis,
pois já foi comentado na página 60 que os “FE’s para o CO2 dependem principalmente do
conteúdo de carbono (C) no combustível, não tendo importância significativa as condições de
combustão (eficiência, carbono retido nas cinzas, etc.).”

71
Tabela 6.1 Valores de tC/TJ de CO2 e de kg CO2/TJ (IPCC 1996 e 2006) [53] [54]
IPCC 1996 IPCC 2006 [54]
[53] Em kg CO2/TJ
Em tC/TJ
Combustível Valor Valor Limite inferior Limite superior
“default” “default” (*) (*)
Gás Natural 15,3 56.100 54.300 58.300
Gasolina 18,9 69.300 67.500 73.000
GLP 17,2 63.100 61.600 65.600
Óleo diesel 20,2 74.100 72.600 74.800
(*) Intervalo de confiança igual a 95%

Para transformar o consumo do combustível em energia (TJ) foram usados os valores dos
PCI’s e densidades dos combustíveis usados pela empresa e encontrados no Anuário
estatístico de 2005 da ANP ANEXO V Cabe destacar que essa foi a única referência
encontrada com esses dados, após diversas pesquisas bibliográficas. Mesmo assim, esse
Anuário apresentou apenas os valores médios, sem qualquer informação sobre desvios
padrões dessas características, apesar dos combustíveis não serem substâncias puras, devendo
apresentar faixas de variação, dentro de um intervalo de confiança aceitável.

Para exemplificar a variabilidade dos derivados de petróleo mesmo no Brasil, basta dizer que
a especificação da ANP no ANEXO I [55] para o PCS do GN (combustível composto
praticamente só por metano e etano) varia de região para região no Brasil e até dentro da uma
mesma região, ou seja, de 34.000 a 38.400 kJ/m3 na região Norte.

Para as outras regiões, incluindo o Sudeste (onde se encontra a empresa estudada) os valores
especificados vão de 35.000 a 42.000 kJ/m3. Sua composição também varia entre essas
regiões: mínimo 68% para metano e máximo 12% de etano para a região Norte e mínimo 86%
e máximo 10%, respectivamente para esses compostos, nas outras regiões (incluindo o
Sudeste, por essa especificação da ANP.

Para calcular os GEE’s CH4 e N2O (gases não CO2) foram usados os FE’s (“default”) da
tabela 2.3 de página 2.18 do Capítulo 2: Combustão Estacionária (quanto às fontes) e os FE’s

72
da tabela 3.2.2 da página 3.21 do Capítulo 3: Combustão Móvel (fontes móveis) ambos do
Volume 2 – Energia das Diretrizes do IPCC de 2006 para Inventários Nacionais de GEE’s.
Parte dessas tabelas foi traduzida pela autora deste trabalho, gerando as tabelas 6.2 e 6.4 com
os FE’s dos combustíveis usados pela empresa.

Tabela 6.2 [56]


FE’s de CH4 e N2O para fontes estacionárias
FE’s “default” para combustão estacionária em Indústrias
kg GEE/TJ com base no PCI
GEE CH4 N2O
Valor Limite Limite Valor Limite Limite
Combustível Default inferior superior Default inferior superior
Gás Natural
(GN) 1 0,3 3 0,1 0,03 0,3
GLP 1 0,3 3 0,1 0,03 0,3

O próprio nome da tabela 6.2 já indica que esses FE’s são usados para qualquer fonte
estacionária industrial (sem discriminação do equipamento). Entretanto, o IPCC prevê uma
desagregação, através de FE’s específicos para cada equipamento de combustão industrial
(Tabelas 2.6, 2.7 e 2.8 nas páginas 2.25 a 2.27, respectivamente no capítulo 2: Combustão
Estacionária do Volume 2 - Energia) e numa parte traduzida e condensada pela autora na
tabela 6.3 abaixo (para o GN - único combustível usado no processo da fábrica em questão):

Tabela 6.3 Diferença de FE’s por equipamento [57]


Equipamento a GN FE’s, kg/TJ
GEE CH4 N2O
Caldeiras (“Boilers”) 1 1
Secadores (“Driers”) 1,1 ND
ND = Não disponível

O valor do FE para o N2O desta tabela 6.3 (1 kg/TJ) difere cerca de 10 vezes do da tabela 6.2
(0,1 kg/TJ), para o mesmo combustível (GN) e o mesmo GEE. Essa diferença mostra como é
importante desagregar os consumos dos combustíveis nos equipamentos. A empresa estudada

73
não tinha os valores de GN por equipamento, acarretando o uso dos valores “default” dos
FE’s da tabela 6.2 (consumo de GN agregado ou total usado em todos os equipamentos do
processo).

Tabela 6.4 FE’s de CH4 e N2O para fontes móveis [58]


FE’s “default” de CH4 e N2O e faixas de incerteza para transporte rodoviário
GEE CH4 N2O
(kg/TJ) (kg/TJ)
Combustível / Categoria Valor Valor Valor Valor Valor Valor
representativa do veículo Default Inferior Superior Default Inferior Superior
Motor a gasolina – sem
catalisador 33 9,6 110 3,2 0,96 11
Motor a gasolina – com
catalisador de oxidação 25 7,5 86 8,0 2,6 24
Óleo diesel 3,9 1,6 9,5 3,9 1,3 12
Gás Natural 92 50 1540 3 1 77
GLP 62 Nf (*) Nf (*) 0,2 Nf (*) Nf (*)
Carros a Etanol (Brasil) 18 13 84 Nf (*) Nf (*) Nf (*)

Essa tabela 6.4 mostra a diferença entre as emissões dos motores a gasolina sem e com
catalisador, tanto para o CH4 (33 e 25 kg/TJ) como para o N2O (3,2 e 8,0 kg/TJ), confirmando
o que já foi mencionado sobre a influência da tecnologia sobre a emissão desses gases. Assim,
quanto mais desagregados (ou separados) os consumos por equipamento, mais específicos e,
portanto, mais precisos serão os resultados, mesmo no nível 1 do IPCC.

Para os GEE’s CH4 e N2O, foram calculadas as emissões em CO2e, através da multiplicação
das quantidades calculadas desses gases pelos seus respectivos PAG’s (em relação ao CO2 )
cujos valores são 21 e 310, respectivamente.

A CETESB publicou um trabalho em 2006 [59], mostrando o teor médio de emissão de CO2
(não tinha as de CH4 e de N2O) para veículos leves novos, para a gasolina C, que é uma
mistura de 78% de gasolina A com 22% de álcool. Mas, tanto o IPCC [59] diz que “As
emissões de CO2 da combustão de biomassa não são incluídas nos totais nacionais, mas são

74
registradas como um item de informação” como o Projeto de Norma da ABNT [2] diz: “As
emissões de CO2 originadas da combustão de biomassa deverão ser quantificadas
separadamente”. Assim, ambas prevêem o cálculo separado para as emissões de biomassa,
como é o caso do álcool na gasolina C.

Assim, foi decidido separar as emissões do álcool e calcular separadamente da gasolina A. As


emissões do tratamento do efluente contendo sacarose também foram contabilizadas à parte,
pelos mesmos motivos. Para calcular as emissões de CO2 do álcool, foi considerada sua
queima total pela reação de combustão apresentada e comentada posteriormente na tabela
6.13 e comparadas essas emissões, usando o FEC desenvolvido por esta autora e o FE
adotado pelo IPCC para “biogasoline”.

6.3.2 – Levantamento por Fontes e Gases emitidos

Como já foi comentado, para calcular a quantidade emitida do GEE por um determinado
combustível, multiplica-se o seu fator de emissão (kg de GEE/TJ) para esse combustível pelo
seu volume queimado e transformado em energia, através do seu PCI em TJ/l ou TJ/kg. Os
fatores de emissão usados já foram apresentados nas tabelas 6.1, 6.2 e 6.4.

A empresa avaliada forneceu o consumo mensal de gás natural em m3 (sem discriminar o


consumo por equipamento) e de solução a 66% de sacarose em toneladas (Tabela 6.5) ambos
usados no processo. Forneceu também o consumo de óleo diesel para a retroescavadeira e o
GLP usado nas empilhadeiras e no refeitório durante o ano de 2006 (Tabela 6.6).

75
Tabela 6.5 Consumo de matérias primas (Potenciais geradores de GEE’s no Processo)

CONSUMO DE MATÉRIAS PRIMAS PARA O PROCESSO

SACAROSE Consumo de
ANO MÊS comprada, t (sol. a GÁS NATURAL
3
66%) no Processo, m

Jan 209,21 2350656,00


Fev 315,17 2536684,00
Mar 268,90 2518064,00
2222 0000 0000 6666

Abr 274,36 2102506,00


Mai 353,30 2308376,00
Jun 292,57 2612423,00
Jul 388,13 3094374,00
Ago 335,61 2595767,00
Set 233,46 2629830,00
Out 301,48 2879101,00
Nov 272,79 2713489,00
Dez 37,92 787923,00
3282,90 29129193

Tabela 6.6 – Consumos de combustíveis pela retroescavadeira, empilhadeiras e no refeitório


Equipamento Combustível Consumo mensal Consumo anual
Retroescavadeira Óleo diesel 250 litros 3000 litros
Empilhadeiras (2) GLP 1920 kg 23040 kg
Refeitório GLP 405 kg 4860 kg

A empresa também forneceu o consumo de eletricidade (fonte de emissão indireta) cujo


valor foi de 43,3 GWh dos quais 35% são usados na geração de utilidades (vapor, ar de
instrumento e processo, água gelada, de refrigeração, processo e potável) e 17% no
equipamento spray drier. O restante é usado num varejo de mais de 550 motores para bombas,
agitadores, sopradores, etc. O cálculo da emissão será detalhado na tabela 6.16.

Para o cálculo das outras emissões indiretas, a empresa forneceu o consumo veicular de
cargas e pessoas, a distância média percorrida por viagem, bem como o número de viagens
por/mês ou por/ano, além do consumo médio de cada veículo apresentados nas tabelas 6.7 e
6.8. Esses dados foram organizados e os totais de combustíveis para cada tipo de veículo
76
foram calculados (pela autora desta dissertação) nas 2 últimas colunas (Tabelas 6.7 e 6.8).

Tabela 6.7 - Dados e cálculo do consumo em litros de óleo diesel em transporte de cargas

Distância
Consumo Quantidade Numero
média Consumo
Modelo Tipo do médio de transportada de Total km
por combustível
do veículo combustível combustível em t por viagem ano
viagem litros
km/l viagem por ano
em km
Caminhão
Diesel 4 1 500 120 60000 15000
TRUCK

Diesel 4 24,91 440 82 36080 9020

Diesel 4 10,95 70 387 27090 6772,5


Caminhão
Diesel 4 3,114 25 8 200 50
caçamba

Caminhão
com Diesel 4 0,88 41 13 533 133,25
caçamba

Caminhão Diesel 4 0,393 41 8 328 82

Caminhão Diesel 4 1,697 41 53 2173 543,25

Caminhão Diesel 4 4,784 41 27 1107 276,75

Caminhão Diesel 4 1,8 70 50 3500 875

Caminhão Diesel 4 1 70 31 2170 542,5

Caminhão Diesel 4 0,3953 70 86 6020 1505

Caminhão Diesel 4 8,8 70 21 1470 367,5

Caminhão Diesel 4 1,287 65 6 390 97,5

Caminhão Diesel 4 0,24 95 5 475 118,75


Caminhão
Diesel 4 28 1190 1330 1582700 395675
TRUCK
Caminhão
Diesel 4 31 510 492 250920 62730
TRUCK
Caminhão
Diesel 4 21 290 350 101500 25375
TRUCK
Caminhão
Diesel 4 26 980 54 52920 13230
TRUCK
Caminhão
Diesel 4 26 680 20 13600 3400
TRUCK

77
Tabela 6.7 Dados e cálculo do consumo em litros de óleo diesel em transporte de cargas
Continuação

Consumo Quantidade Distância


Numero Consumo
Modelo do Tipo do médio de transportada média por Total km
de viagem combustível
veículo combustível combustível em ton por viagem ano
por ano litros
km/l viagem em km
Caminhão
Diesel 4 26 710 796 565160 141290
TRUCK
Caminhão
Diesel 4 26 470 308 144760 36190
TRUCK
Tubovia - 4 - - - 0
Caminhão Diesel 4 25 650 702 456300 114075
Navio
4 1400 6000 1 6000 1500
(Amapá)
Caminhão
4 20 25 70 1750 437,5
(granel)
Caminhão Diesel 4 25 1900 220 418000 104500

Navio
4 500 18900 4 75600 18900
(China)

Caminhão
Diesel 4 19 85 105 8925 2231,25
(big bag)
Caminhão
4 19 420 56 23520 5880
TRUCK
Navio
4 630 9400 4 37600 9400
(Alemanha)
Caminhão
Diesel 4 25 85 100 8500 2125
(big bag)
Caminhão
Diesel 4 23 380 143 54340 13585
TRUCK
Caminhão Diesel 4 18 600 6 3600 900

Caminhão Diesel 4 18 500 4 2000 500


Caminhão
Diesel 4 18 500 20 10000 2500
TRUCK
Caminhão Diesel 4 18 500 12 6000 1500
Caminhão Diesel 4 18 500 7 3500 875
Caminhão Diesel 4 18 500 3 1500 375
Caminhão Diesel 4 18 500 9 4500 1125
Caminhão
Diesel 4 25 8 16 128 32
TRUCK
Tubovia - 4 - - - 0
Caminhão Diesel 4 16 530 24 12720 3180
Caminhão Diesel 4 16 530 20 10600 2650
Total de óleo diesel consumido pela empresa, l 999545

78
Tabela 6.8 Dados e cálculo de consumos totais dos combustíveis para transporte de pessoas

Distância
média Numero Total
Total Total km
Tipo do Tipo do Consumo médio de por de consumo
km/ todos
veículo combustível combustível viagem viagem todos
veículo veículos
em km/ por mês veículos
veículo
Automóvel
(14 GNV, 307440
3 14 122 2520 307440 4304160 3
veículos de km/m m
passeio)
Diesel
Ônibus (6) 3 163 122 19886 119316 39772 l
km/litro
GNV, 3
Automóvel 3 14 200 22 4400 4400 314 m
km/m
GNV, 3
Automóvel 3 14 125 872 109000 109000 7786 m
km/m
Automóvel
Gasolina
(3 veículos 12 168 22 3696 11088 924 l
km/litro
de passeio)
Automóvel
(2 veículos
Gasolina
de passeio 12 140 22 3080 6160 513 l
km/litro
com
catalisador)
Automóvel
GNV, 3
(9 veículos 3 14 50 234 11700 105300 7521 m
km/m
de passeio)
Automóvel
GNV, 3
(2 veículos 3 14 40 120 4800 9600 686 m
km/m
de passeio)
Diesel
Ônibus 3 40 22 880 880 293 l
km/litro

km Volume

Total Gás Natural Veicular (GNV), km e


3 4532460 323747
m
Total Óleo Diesel, km e l 120196 40065
Total Gasolina, km
17248 1437
e litros

A empresa também forneceu dados que permitiram fazer o balanço de massa da sacarose e,
consequentemente, calcular as emissões de CO2. A tabela 6.9 apresenta esses dados também
organizados e o balanço de massa da sacarose excedente para tratamento (calculado pela
autora deste trabalho).

79
A tabela 6.9 mostra o total de solução a 66% de sacarose comprada (3282,9 t de solução que
corresponde a 2166,7 t de sacarose base seca, tbs) e do produto (11809,0 t) que reteve 0,8%
de sacarose (cerca de 94 t de sacarose base seca, tbs) permitindo calcular a quantidade que
sobrou (ou excedente) de sacarose (2073 t) enviada no efluente a ser tratado numa outra
empresa.

Tabela 6.9 Balanço de massa da sacarose para tratamento

PRODUÇÃO, toneladas base seca (tbs) Consumo

Produção produto com


SACAROSE
ANO MÊS 0,8% de sacarose, tbs
(sol. a 66%), t
(base seca)

Janeiro 783,1 209,2


Fevereiro 1102,6 315,2
Março 1022,8 268,9
2 Abril 1098,9 274,4
0 Maio 1319,2 353,3
0 Junho 915,2 292,6
6 Julho 1375,7 388,1
Agosto 1217 335,6
Setembro 822,0 233,5
Outubro 1003 301,5
Novembro 881,5 272,8
Dezembro 268,1 37,9

Total produto com 0,8% de sacarose, tbs 11809 3283


Total sacarose no produto e comprada, tbs 94 (a) 2167 (b)
Total
Total Sacarose no Sacarose
produto (0,8%), tbs comprada,
(base seca) tbs (base
seca)

(b-a) 2073 Toneladas de sacarose


excedente

Tratamento efluente

80
A tabela 6.10 a seguir apresenta o resumo das características dos combustíveis fornecidas pela
ANP (ANEXO V) e seus consumos (pela empresa) para calculá-los em unidades de energia,
através dos seus PCI’s e densidades.

Tabela 6.10
Dados de entrada para o cálculo dos consumos de combustíveis em unidades de energia
Dado Valor
Consumo de GN no processo, m3 29.129.193
PCI do GN, kcal/kg 11900
Densidade do GN, t/ m3 ou kg/l 0,00074
Consumo de GLP no Refeitório, kg 4860
PCI do GLP 11300
Consumo de óleo diesel na retroescavadeira, l 3000
PCI do óleo diesel, kcal/kg 10350
Densidade do óleo diesel, t/ m3 ou kg/l 0,8520
Consumo de GLP nas empilhadeiras, kg 23040
Consumo de Óleo diesel para transporte de cargas, l 999545
Consumo de Óleo diesel para transporte de pessoas, l 480784
Consumo de gasolina C para transporte de pessoas, l 11088 (1)
PCI de gasolina A, kcal/kg 10550
Densidade da gasolina A, kg/l 0,742
Consumo de gasolina C para transporte de pessoas, l 6160 (2)
Consumo de GN para transporte de pessoas, m3 3884966
(1) Carros sem catalisador
(2) Carros com catalisador

Só foi possível detalhar mais (desagregar) as emissões (gases não CO2) dos veículos com
catalisador dos sem catalisador, pois foram fornecidos os dados de consumo de cada tipo.
Assim, foram adotados os FE’s “default” do IPCC mais precisos, por estarem desagregados
os consumos.

Os dados da tabela 6.10 permitiram transformar os consumos de cada combustível em energia


(kcal e depois em TJ) através dos seus respectivos PCI’s (e densidades, quando a unidade
81
original foi fornecida em volume), como já foi comentado anteriormente.
Depois foi só multiplicar esses consumos em TJ pelos respectivos FE’s (em kg/TJ do GEE)
para cada GEE e cada combustível, já apresentados nas tabelas 6.1, 6.2 e 6.4, obtendo-se
assim, as quantidades totais de GEE’s de cada fonte. Para os GEE’s não CO2, usou-se ainda o
PAG do CH4 e do N2O, para calcular essas emissões em CO2 equivalente (CO2e).

Dessa forma, foram elaboradas as tabelas 6.11 e 6.12 a seguir, para as emissões diretas e
outras emissões indiretas, respectivamente. Para calcular as emissões indiretas, foi
construída a tabela 6.17 detalhada posteriormente, a partir dos dados fornecidos (matriz de
geração de eletricidade) pelo MME, conforme já citado.

Para esclarecer melhor a elaboração dessas 2 tabelas, toma-se como exemplo na tabela 6.11, o
cálculo da emissão de GEE’s do GN total no processo, cujo consumo foi de 29.129.193 m3,
com PCI de 11.900 kcal/kg e densidade de 0,00074 t/m3. Multiplica-se o PCI (kcal/kg) pela
densidade (t/m3) e por 1000 (t para kg), para se obter 8806 kcal/m3. Multiplica-se esse valor
pelo consumo total do GN (29.129.193 m3), para obter-se o consumo em 2,57*1011 kcal, que
é transformado em TJ, dividindo esse valor por 2,39*108 (1TJ = 2,39*108 kcal), resultando
em 1.073,3 TJ de consumo de GN no processo, em unidade energética.

Para calcular o CO2 emitido, basta multiplicar esse consumo energético calculado em TJ
(1.073,3 TJ) pelo FE de CO2 para o GN (56.100 kg CO2/TJ na Tabela 6.1, chegando-se ao
valor de 60210481 kg de CO2 emitidos no processo. Para os outros GEE’s, adota-se o mesmo
procedimento, substituindo o FE do CO2, pelos do N2O (0,1 kg/TJ) e do CH4 (1 kg/TJ),
conforme apresentados na tabela 6.2, chegando a valores de 107 kg de N2O (em laranja) e de
e 1.073,3 kg de CH4 (em verde). Multiplicando-se esses valores pelos respectivos PAG’s
(310 e 21, respectivamente), obtém-se os valores de 33.271 kg CO2e para o N2O e de 22.539
kg CO2e para o CH4.

Somando todos esses valores (em CO2e), chega-se a um valor total de 60266291 kg de CO2e
emitidos no processo. Repete-se esse procedimento para todas as outras fontes, usando os
dados específicos dos FE’s para cada combustível, bem como suas características listadas na
Tabela 6.10. Resumindo, basta fazer uma planilha em Excel e entrar com dados de consumo,
características de cada combustível por equipamento, PAG’s e os FE’s do IPCC ou do País.

82
Tabela 6.11 Cálculo das Emissões Diretas de GEE’s
Emissões Diretas (ABNT)
Considerando ANP 2005 (1)
PROCESSO
3
Consumo GN Processo, 29129193 m
3
PCI = 11900 kcal/kg 8806 kcal/m
3
Densidade = 0,00074 t/m
Consumo GN (em energia) 2,57E+11 kcal 1073,3 TJ
FE CO 2 GN 56100 kg/TJ Emissão CO2: 60210481 kg CO 2
FE N2O GN 0,1 kg/TJ Emissão N2O: 107 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 33271 kg CO 2e
FE CH4 GN 1 kg/TJ Emissão CH4: 1073,3 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 22539 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 60266291 kg CO 2e
REFEITÓRIO
Consumo GLP = 4860 kg
PCI= 11300 kcal/kg
Consumo GLP (em energia) 54918000 kcal 0,23 TJ
FE CO 2 GLP 63100 kg/TJ Emissão CO2: 14499 kg CO 2
FE N2O GLP 0,1 kg/TJ Emissão N2O: 0,023 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 7 kg CO 2e
FE CH4 GLP 1 kg/TJ Emissão CH4: 0,23 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 5 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 14511 kg CO 2e
RETROESCAVADEIRA
Consumo óleo diesel 3000 litros
PCI = 10350 kcal/kg ? 8818 kcal/l
Densidade = 0,852 kg/l
Consumo óleo diesel (em energia) 26454600 kcal 0,11 TJ
FE CO 2 Óleo Diesel 74100 kg/TJ Emissão CO2: 8202 kg CO 2
FE N2O Óleo Diesel 3,9 kg/TJ Emissão N2O: 0,432 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 134 kg CO 2e
FE CH4 Ól. Dies. 3,9 kg/TJ Emissão CH4: 0,43 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 9 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 8345 kg CO 2e
EMPILHADEIRA
Consumo de GLP 23040 kg
PCI= 11300 kcal/kg ?
Consumo GLP (em energia) 2,6E+08 kcal 1,09 TJ
FE CO 2 GLP 63100 kg/TJ Emissão CO2: 68737 kg CO 2
FE N2O GLP 0,2 kg/TJ Emissão N2O: 0,22 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 68 kg CO 2e
FE CH4 GLP 62 kg/TJ Emissão CH4: 67,5 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 1418 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 70223 kg CO 2e
Outras Fontes estacionárias
Produto PAG(4) Consumo kg CO2eq
CFC-12 10600 27 kg 286200
HCFC-22 1700 204 kg 346800
HFC-134a 1300 68,1 kg 88530
721530 kg CO 2eq
Total Emissões Diretas (ABNT) 61080900 kg CO 2e
(1) Anuário Estatístico da ANP
(2) Potencial de Aquecimento Global
83
Na tabela 6.11 são também apresentadas as emissões diretas dos gases refrigerantes: CFC-12
(27 kg/ano), HCFC-22 (204 kg/ano), HFC-134a (68,1 kg/ano) de outras fontes estacionárias.
Essas quantidades foram fornecidas pela empresa, considerando o volume usado para
completar o nível dos equipamentos em 2006, ou seja, para substituir o que foi perdido para a
atmosfera. A quantidade de cada um desses gases foi multiplicada pelo seu respectivo PAG,
para transformá-la em CO2e e somar às outras emissões em CO2 ou CO2e.

Quanto às outras emissões indiretas (transporte de cargas e pessoas) descritas na planilha da


tabela 6.12, o procedimento é o mesmo do exemplo do GN da tabela 6.11, mas usando os
valores dos FE’s da Tabela 6.4, para os GEE’s não CO2 das fontes móveis. Cumpre descrever
a adaptação que se fez ao método do IPCC, no que tange às emissões da gasolina C, composta
de 78% de gasolina A e 22% de álcool de mínimo 99,3º INPM (ou 99,3% em peso de etanol).

Decidiu-se calcular separadamente as emissões da gasolina A ao considerar como quantidade


consumida sua fração (78%) multiplicada pelo volume total de gasolina C, chegando-se a
valores de 8.649 litros (78% do volume de 11.088 l de gasolina C) de gasolina A nos
veículos sem catalisador e de 4.805 litros nos veículos com catalisador.

Essa adaptação se deveu às orientações do IPCC e do projeto da ABNT de não incluir as


emissões de biomassa no inventário, bastando anotar essas emissões. Assim, para calcular as
emissões do álcool contido nos veículos a gasolina C (com e sem catalisador) foi considerada
queima total do etanol (a 100%, após transformação do álcool a 99,3º INPM) na reação de
combustão, levando em conta as relações estequiométricas dos reagentes (etanol com
oxigênio) com os produtos (CO2 e água). Esses cálculos estão apresentados na planilha da
Tabela 6.13.

Foi também calculado o FEC para o álcool, através do seu PCI (6750 kcal/kg) e da relação do
peso molecular do etanol para 2 átomos de carbono (relação estequiométrica) na mesma
tabela 6.13. O FEC assim calculado (18,3 tC/TJ) foi comparado aos FEC’s obtidos de outras
fontes já mencionadas na pesquisa bibliográfica. O valor calculado para a emissão de CO2 a
partir desse FEC calculado (5648 kg de CO2) ficou próximo do valor calculado pela
estequiometria da reação (5702 kg de CO2) e do valor a partir do FEC do IPCC de 19,3 tC/TJ
ou FE de 70800 kg CO2/TJ (5960 kg de CO2).

84
Tabela 6.12 Cálculo de Outras Emissões Indiretas de GEE’s
Outras Emissões Indiretas (ABNT)
Considerando ANP 2005 (1)
TRANSPORTE CARGAS
Consumo óleo diesel 999545 litros
PCI = 10350 kcal/kg ? 8818 kcal/l
Densidade = 0,852 kg/l
Consumo óleo diesel (em energia) 8,81E+09 kcal 37 TJ
FE CO 2 Óleo Diesel 74100 kg/TJ Emissão CO2: 2732766 kg CO 2
FE N2O Óleo Diesel 3,9 kg/TJ Emissão N2O: 144 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 44587 kg CO 2e
FE CH4 Ól. Dies. 3,9 kg/TJ Emissão CH4: 144 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 3020 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 2780374 kg CO 2e
TRANSPORTE PESSOAS
Consumo óleo diesel 480784 litros
PCI = 10350 kcal/kg ? 8818 kcal/l
Densidade = 0,852 kg/l
Consumo óleo diesel (em energia) 4,24E+09 kcal 17,7 TJ
FE CO 2 Óleo Diesel 74100 kg/TJ Emissão CO2: 1314469 kg CO 2
FE N2O Óleo Diesel 3,9 kg/TJ Emissão N2O: 69,2 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 21447 kg CO 2e
FE CH4 Ól. Dies. 3,9 kg/TJ Emissão CH4: 69 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 1453 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 1337368 kg CO 2e

PCI (gas. A) = 10550 kcal/kg ? 7828 kcal/l


Densidade= 0,742 kg/l
Cons.gas. C carros s/cat., l 11088 8649 gas. A, l 67702419 kcal TJ 0,283
Cons.gas. C carros c/cat., l 6160 4805 gas. A, l 37612455 kcal TJ 0,157
FE CO 2 gas. A 69300 kgCO2/TJ Emissão CO2: 30537 kg CO 2
FE N2O gas. A s/cat. 3,2 kg/TJ Emissão N2O: 0,91 kg N2O
FEN2O gas. A c/cat. 8 kg/TJ Emissão N2O: 1,26 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 671 kg CO 2e
FE CH4 gas. A. s/cat. 33 kg/TJ Emissão CH4: 9,3 kg CH4
FE CH4 gas. A. c/cat. 25 kg/TJ Emissão CH4: 3,9 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 279 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 31487 kg CO 2e

Consumo GN 3884966 m3
3
PCI = 11900 kcal/kg 8806 kcal/m
Densidade = 0,00074 t/m 3
Consumo GN (em energia) 3,42E+10 kcal 143,1 TJ
FE CO 2 GN 56100 kg/TJ Emissão CO2: 8030283 kg CO 2
FE N2O GN 3 kg/TJ Emissão N2O: 429 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 133122 kg CO 2e
FE CH4 GN 92 kg/TJ Emissão CH4: 13169 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 276551 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 8439956 kg CO 2e
(1) Anuário Estatístico da ANP
Emissões Diretas (ABNT) 61080900 kg CO 2e
Emissõe indiretas (eletricidade) ABNT 2416802 kg CO 2e
Outras emissões indiretas (ABNT) 12589185 kg CO 2e
Total emissões, kg 76086887 kg CO 2e
Total emissões, ton. 76087 t CO 2e
85
Tabela 6.13 Cálculo de FEC e de CO2 emitido de Álcool Etílico Anidro Combustível (AEAC)
Consumos de AEAC nos veículos sem e com catalisador (22% na gasolina A)
Consumo
AEAC 2439 1916 kg Etanol Densidade do AEAC, kg/l
s/cat.,l = 0,791 (99,3% etanol)
Consumo
AEAC 1355 1064 kg Etanol
c/cat.,l
Total de etanol (100%) consumido 2980 kg etanol

1 -Por estequiometria: Considerando combustão total:


Etanol CO2 C2H6O + 3O2 2CO2 + 3H2O
46 88 46 kg C2H6O 88 kg CO2
2980 x
x= 5702 kg CO2 CO2 emitido pelo AEAC total

2 - Cálculo do FEC de AEAC:

C2H6O + 3O2 2CO2 + 3H2O


46 kg C2H6O 88 kg CO2 Transformação unidades:
46 kg C2H6O 24 kg C 1TJ = 2,39E+08 kcal
xTJ = 6750 kcal (PCI)

PCI AEAC 6750 kcal/kg 2,82E-05 TJ/kg 1,30E-03 TJ em 46 kg C2H6O

23,8 (*)kg C 1,30E-03 TJ x= 1,83E+04 kg C/TJ


x kg C 1 TJ
1,83E+01 t C/TJ
FEC do AEAC 18,3 t C/TJ

Essas considerações são para a queima completa do AEAC, conforme a reação acima

Outras referências, FEC Álcool Etílico


Fatores de Emissão,
Referência
tC/TJ PCI AEAC: 2,82E-05 TJ/kg
1 - IPCC 2006
(Biogasoline) 19,3 AEAC consumido, kg 2980 kg
2 - CETESB 1994 14,81 AEAC consumido, TJ 8,42E-02 TJ
e&e 18,8 (**)
COPPE 14,8
MCT 20
Autora (Elzbieta) 18,3 (***) Pelo FEC 18,3 tC/TJ 5648 kg CO2
(*) O teor mínimo de etanol puro no AEAC é 99,3% (ANP RT 7/2005)
(**) Considerou todo ciclo de vida (insumos para a produção do álcool)
(***) AEAC (só CO2 emitido, sem ciclo de vida)

3 - Pelo FE do IPCC "Biogasoline": 70800 kg CO2/TJ 5960 kg CO2

86
Na tabela 6.14, foi mostrado o resultado das emissões do tratamento do efluente contendo
sacarose em uma empresa vizinha à indústria em estudo, bem como as emissões da queima do
álcool da gasolina C. Os cálculos de carbono na sacarose nesta tabela se basearam na relação
entre a massa de carbono (C) contida na sacarose e a massa molecular desta (12*12/342 =
0,42105). Assim, multiplicando esse valor encontrado pela massa de sacarose excedente
(0,42105*2072) chegou-se ao valor de 873 toneladas de carbono para o tratamento.

Como 40 a 60% de C são transformados em CO2 (referência [60] na tabela 6.14), multiplica-
se a massa de C (873 t) contido na sacarose por 0,4 e 0,6 e por 44/12 (CO2/C) para calcular o
limite mínimo e máximo de 1279,7 a 1919,6 toneladas de CO2 emitidos no tratamento de
sacarose, respectivamente. Somando esses valores à média do CO2 emitido pelo álcool (5,8 t)
calculada a partir dos FE’s da tabela 6.13, as emissões totais produzidas pelas 2 fontes
renováveis (álcool e tratamento do efluente orgânico) totalizaram de 1285,5 a 1925,3
toneladas de CO2, como mostra essa Tabela 6.14.

Tabela 6.14 Cálculo das emissões de CO2 das biomassas [60]


1 - Emissões de CO2 no Tratamento do Efluente (sacarose)

Sacarose excedente, t 2072

Peso molecular de C12H22O11 342

Relação C/Sacarose = 0,42105


Relação C/Sacarose Empresa: 873 t C

Pela referência [60], 40 a 60% de C vai para o crescimento de microorganismos (MO) do


tratamento do efluente. Portanto de 40 a 60% de C se transforma em CO2.

Assim, foram 1279,7 t CO2 a


emitidas de: 1919,6 t CO2
2 - Emissões de CO2 do Álcool contido no total da gasolina C consumida

Pelo FEC 18,3 tC/TJ cálculo (pela autora da 5648 kg CO2


dissertação) na tabela 6.13
Pelo FE do IPCC "Biogasoline": 5960 kg CO2
Por estequiometria: 5702 kg CO2
Média desses valores, total de t de CO2 emitido 5,8 t CO2

3 - Total CO2 emitido pelas biomassas


1285,5 a 1925,3
sacarose + álcool, t

87
Quanto às emissões indiretas da empresa causadas pelo consumo de eletricidade, a tabela
6.15 mostra os dados de consumo de combustíveis na matriz brasileira de geração de
eletricidade no ano de 2006, fornecida pelo MME [61].

Tabela 6.15 Geração de energia elétrica e consumo de combustíveis [61]

2006 BRASIL CENTRAIS PÚBLICAS


Consumo de Consumo de
FONTES DE ENERGIA combustíveis combustíveis Geração GWh
(unidade física) (mil tep)
GÁS NAT.ÚMIDO milh m3 0 0
GÁS NAT. SECO milh m3 2.928 2.577 13.049
C.VAPOR 3100 mil t 390 115 269
C.VAPOR 3300 mil t 2.130 660 1.672
C.VAPOR 4200 mil t 82 33 44
C.VAPOR 4500 mil t 2.825 1.200 4.458
C.VAPOR 4700 mil t 0 0
C.VAPOR 5200 mil t 0 0
C.VAPOR 6000 mil t 73 42 80
HIDRÁULICA GWh 335.761 28.875 335.761
LENHA mil t 158 49 152
BAGAÇO DE CANA mil t 0 0
LIXÍVIA mil t 0 0
OUTRAS RENOV. mil tep 35 35 237
ÓLEO DIESEL mil m3 1.613 1.368 5.484
ÓLEO COMBUST. mil m3 632 606 2.684
GÁS DE COQUERIA milh m3 0 0
URÂNIO C. UO2 t 48 3.582 13.754
GÁS DE REFINARIA mil m3 0 0
OUT.EN. PETRÓLEO mil m3 0 0
ALCATRÃO mil m3 0 0
TOTAL DE GERAÇÃO 377.644
GERAÇÃO POR DERIVADOS DE PETRÓLEO 8.168

A tabela 6.16 a seguir mostra os resultados dos cálculos de emissões (a partir da tabela 6.15 e
dos dados de combustíveis) por GWh produzido no País.

Para esclarecer como essa tabela 6.16 foi construída, focando no GN Seco participante na
88
geração de eletricidade, deve-se transformar seu volume (2.928.200 mil m3) em energia, como
foi feito na tabela 6.11, ou seja, multiplicar seu PCI (11.900 kcal/kg) pela sua densidade
(0,00074 t/ m3) e por 1.000 (t para kg), obtendo-se o valor de 8.806 kcal/m3.

Esse valor é multiplicado pelo volume mencionado (2.928.200 mil m3) e por 1000 (mil m3
para m3) chegando ao valor de 2,58*1013 kcal. Depois, transforma-se esse valor em kcal para
TJ, encontrando o valor de 107.890 TJ. Finalmente, multiplica-se esse valor pelo FE do GN
(56.100 kg CO2/TJ) cujo resultado foi 6.052.634 toneladas de CO2 emitido pelo GN seco, que
é um dos componentes da geração de eletricidade que contribuem para a emissão deste GEE.

Repete-se esse procedimento para cada um dos componentes (em amarelo) que são emissores
de CO2. Não foram considerados emissores deste GEE, a energia hidráulica, urânio, lenha e
outras fontes renováveis. Tem-se a o CO2 emitido (21.078.322 t) pela geração total de
eletricidade brasileira em 2006.

Para GEE’s CH4 (verde) e N2O (laranja) o procedimento foi similar ao descrito no parágrafo
anterior e foi construída a tabela 6.17, considerando os FE’s para cada um deles e para cada
combustível, além dos seus PAG’s: 21 e 310, respectivamente. Foram obtidos os valores de
26750 e 61537 t para o CO2e do CH4 e do N2O, respectivamente

Somam-se então as parcelas calculadas de CO2 emitido da tabela 6.16 com os valores de
CO2e do CH4 e do N2O da tabela 6.17, para calcular a emissão total de CO2e cujo resultado
foi 21.166.609 t. Divide-se esse total (21.166.609 t de CO2e) pelo total de energia gerada
(377.644 GWh) para encontrar a emissão por GWh gerado, cujo resultado foi 56 t
CO2/GWh.

Esse resultado ficou próximo ao encontrado num trabalho realizado pela empresa ICF
International para a indústria Aracruz Celulose [62] em 2005, cujo valor foi 54,3 t CO2/GWh.

Multiplicando esse último valor pelo consumo de eletricidade pela empresa em estudo (43,3
GWh) chega-se a um valor de 2425 t. de CO2 emitido por essa fonte indireta.

89
Tabela 6.16 Consumo de combustíveis na geração de eletricidade no Brasil em 2006 e cálculo
de suas emissões

Cálculos (pela autora da dissertação) das


BRASIL CENTRAIS PÚBLICAS emissões nacionais de CO2 da geração de
eletricidade, t
Consumo FE, t
Consumo Consumo CO2
combustíveis Geração CO2/TJ
FONTES DE ENERGIA combustível, combustível, emitido, t
(unidade GWh IPCC
kcal (a) TJ (b) (d=b*c)
física) (c)
3
GÁS NAT.ÚMIDO milh m 0
3
GÁS NAT. SECO mil m 2.928.200 13.049 2,58,E+13 107890 56,1 6052634
C.VAPOR 3100 mil t 390 269 1,21,E+12 5059 94,6 478541
C.VAPOR 3300 mil t 2.130 1.672 7,03E+12 29410 94,6 2782190
C.VAPOR 4200 mil t 82 44 3,44E+11 1441 94,6 136319
C.VAPOR 4500 mil t 2.825 4.458 1,27E+13 53190 94,6 5031810
C.VAPOR 4700 mil t 0
C.VAPOR 5200 mil t 0
C.VAPOR 6000 mil t 73 80 4,38E+11 1833 94,6 173367
HIDRÁULICA GWh 335.761 335.761
LENHA mil t 158 152
BAGAÇO DE CANA mil t 0
LIXÍVIA mil t 0
OUTRAS RENOV. mil tep 35 237
3
ÓLEO DIESEL mil m 1.613 5.484 1,42,E+13 59528 74,1 4411053
3
ÓLEO COMBUST. mil m 632 2.684 6,21E+12 26000 77,4 2012408
3
GÁS DE COQUERIA milh m 0
URÂNIO C. UO2 t 48 13.754
3
GÁS DE REFINARIAmil m 0
3
OUT.EN.PETRÓL. mil m 0
3
ALCATRÃO mil m 0
TOTAL DE GERAÇÃO, GWh 377.644 Total CO2 emitido, t 21078322

90
Tabela 6.17 Cálculos (pela autora da dissertação) das emissões nacionais em t CO2e / GWh

Cálculos (pela autora da dissertação) das emissões nacionais em


BRASIL t CO2e / GWh produzido

Consumo FE, kg CH4 FE, kg N2O


FONTES DE ENERGIA combustível, CH4/TJ emitido, N2O/TJ emitido,
TJ (b) IPCC (e) kg (f) IPCC (g) kg (h)

3
GÁS NAT. ÚMIDO milh m
3
GÁS NAT. SECO mil m 107890 1 107890 0,1 10789
C.VAPOR 3100
mil t 5059 10 50586 1,5 7588
C.VAPOR 3300
mil t 29410 10 294100 1,5 44115
C.VAPOR 4200
mil t 1441 10 14410 1,5 2162
C.VAPOR 4500
mil t 53190 10 531904 1,5 79786
C.VAPOR 4700
mil t
C.VAPOR 5200
mil t
C.VAPOR 6000
mil t 1833 10 18326 1,5 2749
HIDRÁULICA GWh
LENHA mil t
BAGAÇO DE CANA mil t
LIXÍVIA mil t
OUTRAS RENOV. mil tep
3
ÓLEO DIESEL mil m 59528 3 178585 0,6 35717
3
ÓLEO COMBUST. mil m 26000 3 78000 0,6 15600
3
GÁS DE COQUERIA milh m
URÂNIO C. UO2 t
3
GÁS DE REFINARIAmil m
3
OUT.EN.PETRÓLEO mil m
3
ALCATRÃO mil m
TOTAL de GERAÇÃO, GWh: 377.644 1273802 kg CH4 198505 kg N2O
(f) = (b)*(e) PAG = PAG =
(h) = (b)*(g) 21 310

26750 t CO2e 61537 t CO2e


Somando o CO2 calculado na tabela 6.16 com os CO2e do
CH4 e do N2O, teremos total de CO2e, em t (i): 21078322+26750+61537 = 21166609

(j) Divisão de (i) pelo total de geração nacional em GWh 56 t CO2e/GWh

91
6.3.3 Síntese dos resultados

A tabela 6.12 apresentou as quantidades totais de emissões em CO2e (transformadas de kg


para toneladas abaixo) emitidas pela empresa do estudo de caso, quais sejam:

• Emissões Diretas – 61081 t


• Emissões Indiretas – 2417 t
• Outras Emissões Indiretas – 12589 t

Somando todas essas emissões, chegou-se ao valor total emitido de 76.087 toneladas de
CO2e.

É interessante calcular a participação em % de cada tipo de emissão, como apresentado pelos


gráficos abaixo:
Gráfico 6.1 - Participação por tipo de emissão

Participação por Tipo de Emissão

100,0

80,0

60,0
%
40,0

20,0

0,0
Tipo de Emissão
Outras emissões 16,5
indiretas
Emissões indiretas 3,2
(eletricidade)
Emissões Diretas 80,3

Pelo gráfico 6.1, percebe-se que as emissões diretas são predominantes, com valor de 80,3 %
das emissões totais.

92
Para saber qual a fonte que mais contribuiu para as emissões diretas (maior participação)
verifica-se no gráfico 6.2 a seguir que o maior responsável foi o processo.

A identificação das fontes neste gráfico 6.2 é:


Process significa Processo
Refeitóri significa Refeitório
Retroes significa Retroescavadeira
Empilha significa Empilhadeira
Outras significam as fontes estacionárias de gases refrigerantes.

Gráfico 6.2 - Determinação da maior fonte de emissões diretas

Emissões Diretas

100,00
80,00
60,00
%
40,00
20,00
0,00
Process Refeitóri Retroes Empilha Outras
Processo 98,67 0,02 0,01 0,11 1,18
Fontes

O 2º tipo de emissão de maior peso é o de outras emissões indiretas (1,18%) geradas pelo
transporte de pessoas e de cargas, cujos pesos (em %) são mostrados no gráfico 6.3 a seguir:

93
Gráfico 6.3 - Participação das fontes de outras emissões indiretas

Outras Emissões Indiretas

80,00

60,00
77,91
% 40,00

20,00 22,09

0,00
Transporte Cargas Transporte Pessoas
Fonte

A fonte com maior peso entre as fontes de outras emissões indiretas foi a de transporte de
pessoas (~78%). Cabe lembrar que não foram contabilizadas nesses valores as emissões de
álcool da gasolina C e nem tampouco as do tratamento do efluente com sacarose excedente,
por se tratarem de biomassas.

As emissões causadas pela combustão de GN no processo (60.267 t de CO2e) foram as mais


significativas dentre todas as outras e representou cerca de 79% das emissões totais e quase
99% das emissões diretas (controladas pela empresa).

Entre as outras emissões indiretas (controladas por outras empresas, mas causadas pelas
atividades da empresa em estudo) a que mais pesou foi a causada pelo transporte de pessoas
(9.809 t de CO2e), representando cerca de 78% dessas emissões e 13% das emissões totais.
As fontes que mais emitiram nessa categoria foram os veículos a GN (86% das emissões do
transporte de pessoas).

Somando apenas as emissões dessas duas fontes (Processo e transporte de pessoas) chega-se a
uma participação de 92% do total emitido pela empresa.

O efluente contendo sacarose emitiu no tratamento aeróbico de 1285,5 a 1925,3 toneladas


de CO2 (tabela 6.14), levando em conta que cerca de 40 a 60% do insumo em carbono se
transforma em CO2, de acordo com a referência mencionada nessa tabela.
94
O Álcool total contido na gasolina C usada emitiu 5,8 toneladas de CO2. Esse valor foi
obtido tanto pela estequiometria da reação de combustão do álcool, como pelo fator de
emissão do IPCC (“biogasoline”) e do calculado pela autora deste trabalho.

Somando as emissões da sacarose com as do álcool, o total de CO2 emitido ficou entre
1285,5 e 1925,3 toneladas, que não são incluídas no inventário total da empresa (citação nas
páginas 74 e 75).

A empresa produz no horto, cerca de 360 plantios de mudas de espécies resistentes à


salinidade da área por ano. Isso significa uma captação de cerca de 900kg de CO2 captado,
que somados às 80 toneladas produzidas no horto, dá um total de cerca de 81 toneladas de
CO2 captado em 2006. Isso representa aproximadamente 0,1% do que foi emitido pela
empresa (76.087 toneladas de CO2) em 2006.

95
7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

7.1 Conclusões

Não existem fatores de emissão desenvolvidos no Brasil, para permitir adotar o método de
nível 2 do IPCC, mais preciso que o de nível 1 usado neste trabalho. Nem mesmo as
características físico-químicas básicas dos combustíveis (PCI e densidade) encontradas na
única fonte encontrada na pesquisa (ANP) foram apresentadas com faixas de valores, mas
apenas um valor, como se esses produtos fossem substâncias químicas puras, o que não é
verdade.

Cabe lembrar que esses FE’s foram desenvolvidos por países desenvolvidos, o que não reflete
a realidade brasileira, onde os combustíveis devem ter diferentes conteúdos padrões de
carbono, pois são obtidos a partir de outros petróleos e outros esquemas de refino. Em outras
palavras, um valor obtido no País com os teores reais e locais de carbono dos seus
combustíveis geraria resultados mais precisos e confiáveis.

Os métodos do IPCC são internacionais e são os mais usados em todas as referências


consultadas sobre cálculos de GEE’s.

Assim, ainda é necessário usar os FE’s e PAG’s do IPCC, enquanto o Brasil não desenvolver
faixas confiáveis das características de seus combustíveis, principalmente no que tange aos
teores de carbono e dos PCI’s.

96
7.2 Recomendações específicas à empresa

Com base nos valores obtidos e considerando as informações prestadas pela empresa,
recomenda-se:
 Instalação de sistema de medição nos equipamentos que utilizam o gás natural no
processo (maior emissor de GEE’s) visando implantar um programa de identificação e
racionalização do uso do referido combustível por equipamento;
 Estudo da viabilidade técnica e econômica da substituição total ou parcial do gás
natural por outra fonte de energia renovável;
 Participação da empresa em projetos de reflorestamento regional ou nacional, posto
que, por sua iniciativa para neutralização, seria necessário um aumento de mil vezes
do que faz atualmente;
 Incentivo do uso de combustíveis de origens renováveis às empresas transportadoras
de pessoas, principalmente, por serem as fontes com maior peso (em torno de 78%)
dentro das emissões indiretas.

7.3 Recomendações gerais

 Envidar esforços para o País desenvolver seus próprios fatores de emissões, visando
avaliar melhor sua realidade emissora e impactante.
 Para alcançar esse objetivo, seria necessário conhecer melhor as faixas das
características dos combustíveis por equipamento, principalmente dos seus teores de
carbono e PCI’s.

97
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] Disponível em http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/4092.html Acesso em


17/08/2007
[2] ABNT/CB-38 Projeto 38:009.01-001/1 – Janeiro:2007
[3] Disponível em www.noticias.terra.com.br/ciencia/interna acesso em 02/02/2007
[4] Disponível em www.conpet.gov.br acesso em 03/02/2007
[5] Disponível em www.carbonobrasil.com acesso em 03/02/2007
[6] Jornal O Globo e Jornal do Brasil de 03/02/2007
[7] Santos, M. A., Inventário de Emissões de Gases de Efeito Estufa Derivadas de
Hidrelétricas. Tese* de D. Sc., COPPE/UFRJ, RIO DE JANEIRO, RJ, Brasil, 2000.
[8] DUBEUX , C. Mitigação de emissões de gases de efeito estufa por municípios brasileiros:
metodologias para elaboração de inventários setoriais e cenários de emissões como
instrumentos de planejamento. Tese* de Dsc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil, 2007
[9] Disponível em www.pr.gov.br acesso em 10/07/2007
[10] Disponível em www.epa.gov/climatechange/emissions acesso em 06/07/2007
[11] Disponível em http://www.eia.doe.gov/oiaf/1605/gg04rpt/global.html acesso em
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[12] Disponível em http://200.130.9.7/Clima/ciencia/relato06.htm acesso em 20/08/2007
[13] Disponível em www.epa.gov/nonco2/econ-inv/table.html (tabela traduzida) acesso em
01/04/2007
[14] Conferência Internacional Ethos – Empresas e Responsabilidade Social, em São Paulo
(junho de 2006)
[15] Climate Change 2001 Synthesis Report – Summary for Policemakers (IPCC)
[16] Disponível em www.rudzerhost.com/ambiente/estufa acesso em 02/04/2007
[17] Disponível em www.ethanolsummit.com acesso em 15/04/2007
[18] Jornal O Globo de 7/04/2007
[19] Disponível em www.atmosphere.mpg.de acesso em 20/07/2007
[20] Disponível em www.earthscape.org/r1/ari02/glossary.html acesso em 15/08/2007
[21] Disponível em http://www.sciencepoles.org/index.php?s=2&rs=home&uid=650&lgen
acesso em 16/08/2007
[22] IPCC Fourth Assessment Report – Working Group I Report “The Physical Science
Basis” - Chapter 2 (AR4WG1)

98
[23] Sumário da contribuição do grupo de trabalho I para o 4º Relatório de Avaliação (AR4)
do IPCC (2007)
[24] Disponível em www.ipcc.ch/SPM2feb07.pdf acesso em 16/05/2007
[25] IPCC/TAR/WG1/SPM, adapted Prather
[26] Disponível em http://www.ivig.coppe.ufrj.br/pbr/livro01_glossario.htm acesso em
28/08/2007
[27] A Circulação Oceânica em Grande Escala e sua importância no Sistema Climático
Prof. Dr. Edmo Campos Depto. de Oceanografia Fisica, Química e Geológica IOUSP 2005
encontrado em www.labmon.io.usp.br/cursos/difusao_cultural/Aula_Sep_2007.ppt acesso em
28/08/07
[28] Disponível em www.ambientebrasil.com.br acesso em 09/08/2007
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Summary (IPCC, 2005)
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[34] Disponível em www.latinchemical.com.br acesso em 04/05/2007
[35] Scarpinella, Gustavo d’Almeida Reflorestamento no Brasil e Protocolo de Quioto, julho
de 2002 (Tese de mestrado IEE/PIPGE/USP).
[36] Disponível em www.ciagri.usp.br/~luagallo/FOTOSSINTESE acesso em 01/05/07
[37] Disponível em www.br.geocities.com/saladefisica acesso em 06/05/07
[38] Disponível em http://www.cepea.esalq.usp.br/pdf/Artigo_projetos%20florestais.pdf
acesso em 08/01/07
[39] Renner, R.M e Bittencourt, S.M Estimativa de estoque e incremento de carbono das
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[40] Tannizak, Lenny – “Base teórica para o cálculo de emissões de CO2 relacionadas a meios
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[43] Disponível em www.demec.ufmg.br acesso em 08/03/2007
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[45] Manual de Referência do IPCC,1996
[46] Revised 1996 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gás Inventories: Reference
Manual
[47] Rosa, Luiz Pinguelli et al. Primeiro Inventário Brasileiro de Emissões Antrópicas de
Gases de Efeito Estufa - Relatórios de Referência Elaborado conforme contrato entre o
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD, a agência implementadora do
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[48] Disponível em www.ecen.com acesso em 23/01/07
[49] Disponível em www.ecen.com/eee58/eee58p/avaliacao_das_emissoes_de_co2_.htm
acesso em 23/04/07
[50] Primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa emissões
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[51] Diretrizes Revisadas de 1996 do IPCC, editado em 1997
[52] Disponível em www.ipcc-nggip.iges.or.jp/public/2006gl/index.htm acesso em
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[53] Revised 1996 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories: Reference
Manual pág. 1.13
[54] 2006 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories – Volume 2: Energy
Chapter 1: Introduction
[55] PORTARIA ANP Nº 104, DE 8.7.2002 - DOU 9.7.2002
[56] Tradução de parte da tabela 2.3 da página 2.18 do Capítulo 2: Combustão Estacionária
Volume 2 – Energia das Diretrizes do IPCC de 2006
[57] Tabelas 2.6, 2.7 e 2.8 nas páginas 2.25 a 2.27, respectivamente no capítulo 2: Combustão
Estacionária do Volume 2 - Energia
[58] Tradução de parte da tabela 3.2.2 da página 3.21 do Capítulo 3: Combustão Móvel
Volume 2 – Energia das Diretrizes do IPCC de 2006
[59] Relatório de qualidade do ar no Estado de São Paulo
[60] Madigan, Michael T., Martinko, John, M. e Parker, Jack. (2004). Microbiologia de

100
Brock. Capítulo 5: Nutrição, Cultivo Laboratorial e Metabolismo dos Microrganismos. 10a
Edição, Prentice-Hall.
[61] Dados fornecidos pelo Departamento de Planejamento Energético - Secretaria de
Planejamento e Desenvolvimento Energético - Ministério de Minas e Energia
[62] Protocolos para Medição e Geração de Dados relativos a Gases de Efeito Estufa (GEE)
elaborados pela ICF International para a Aracruz Celulose, editados em 2006.

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