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INSTITUTO DE QUÍMICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA
Elzbieta Mitkiewicz
Orientador:
Marco Antonio Gaya de Figueiredo, D.Sc, IQ/UERJ
ELZBIETA MITKIEWICZ
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________________________
Prof. Dr. Marco Antonio Gaya de Figueiredo – PPGEQ/UERJ (orientador)
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Altino Medeiros Rodrigues – IQ/UERJ
_____________________________________________________________
Dr. Roberto de Barros Emery Trindade - Petrobras
_____________________________________________________________
Prof. Dr. Ubirajara Aluizio de Mattos - FEN / UERJ
CDU 504.3
iii
RESUMO
iv
ABSTRACT
The Intergovernamental Panel Climate Change - IPCC from ONU has proved with higher
level of confidence, along last years, a strong relation between the global average temperature
increasing and the Greenhouse Gases increasing mainly about the biggest contributor to the
composition in these gases: the carbonic gas or CO2.
Brazil is included in the list of these gas polluters, mainly because of its deforestation. Then,
it assumed the commitment with United Nations Framework Convention on Climate Change
UNFCCC of stabilize and calculate his Greenhouse Gases (GHG) Inventory. In this context,
the industries must to survey their part of responsibility in this threatening process for the life
in this planet.
For the reasons above, the main purpose from the present work is to calculate the Greenhouse
Gases emissions inventory in 2006 from a enterprise that produces important inputs for a
petroleum industry.
The specific purposes were to research the bibliography about the most suitable methodology
and its application for this enterprise.
The author of this work didn’t find any emission factors for CO2 developed in Brazil for
calculate the inventory, with a reasonable level of confidence, which can show the real and
local situation about this subject. Then, the entire bibliographic search done showed that the
works found even in governmental institutions used the IPCC methodology, done by
developed countries, that isn’t our reality.
For this study, it was done several visits to that enterprise and identified all the sources from
these GHG, fuel uses and their quantities and intensive bibliographic searches about several
national and international methodologies. It was seen the developed work done by this
enterprise about generation of seedling (plants) in its market garden. It was chosen the IPCC
methodology that was the tool to calculate about 76.000 t of CO2 emitted by the enterprise in
2006. This studied enterprise neutralized 80 t of CO2, through the production of plants
cuttings (for donation to people and to plant in around an area that is an environmental
passive) in its market garden and what it planted in that passive area in 2006. This was about
0,1% on that it emitted.
Key- words:
Greenhouse gases Emissions Inventory.
Methodologies for Greenhouse gases Emissions Inventory and CO2 capture and storage.
v
SUMÁRIO
RESUMO...................................................................................................................................iv
ABSTRACT................................................................................................................................v
LISTA DE FIGURAS E DE GRÁFICOS...............................................................................viii
LISTA DE TABELAS...............................................................................................................ix
LISTA DE ABREVIATURAS..................................................................................................xi
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................................1
2. METODOLOGIA DE TRABALHO ..................................................................................4
3. EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA ...............................................................6
3.1 Mudanças Climáticas e Emissões......................................................................................7
3.1.1 Quais são os GEE’s e suas fontes?.....................................................................................7
3.1.2 O que é efeito estufa e qual o processo de sua formação?..............................................11
3.1.3 Quais e porque as conseqüências tão temidas? ..............................................................13
3.2 Histórico.............................................................................................................................22
3.2.1 Mudanças Climáticas: Evolução dos debates.................................................................22
3.3 O Protocolo de Kyoto........................................................................................................26
4. MECANISMOS PARA CAPTURA, ESTOCAGEM E FIXAÇÃO DE CO2 ...............28
4.1 Principais métodos para captura de CO2.......................................................................29
4.2 Principais métodos para estocagem de CO2...................................................................29
4.3 Reflorestamento................................................................................................................32
5. PRINCIPAIS TRABALHOS COM METODOLOGIAS DE INVENTÁRIO DE
EMISSÕES..............................................................................................................................45
5.1 Primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa
emissões de dióxido de carbono por queima de combustíveis: abordagem “top-down”. 47
5.2 - Coeficientes da matriz de emissões ..............................................................................52
5.3 - Avaliação das Emissões de CO2 pelo uso do Processo “Top-Down” Estendido.......55
5.4 Primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa por
queima de combustíveis (abordagem bottom-up) COPPE/MCT.......................................56
5.5 Transportes........................................................................................................................57
vi
6.1 - Descrição Resumida da Empresa .................................................................................64
6.2 Situação ambiental da empresa pesquisada...................................................................66
6.2.1 Caracterização Geológica da região de contorno da empresa estudada.......................66
6.2.2 Caracterização Hidrogeológica......................................................................................66
6.2.3 Histórico do passivo ambiental .......................................................................................66
ANEXO I
ANP - PORTARIA Nº 104, DE 8 DE JUlHO DE 2002 Especificação de GN
ANEXO II
ABNT/CB-38 PROJETO 38:009.01-001/1 JANEIRO:2007
ANEXO III
Dados e cálculo de CO2 absorvido pela vegetação da empresa estudada
ANEXO IV
GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA E CONSUMO DE COMBUSTÍVEIS
ANEXO V
ANUÁRIO ESTATÍSTICO da ANP de 2005
vii
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE GRÁFICOS
viii
LISTA DE TABELAS
ix
LISTA DE ABREVIATURAS
x
MOP – (Meeting of Parts) - Encontro das Partes
O3 – Ozônio
ONS – Operador Nacional do Sistema elétrico
ONU – Organização das Nações Unidas
OSCIP e&e - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público Economia e Energia
PNUMA - Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PPE - Programa de Planejamento Energético
Reference Manual – Manual de referência
SEMADS - Secretaria Estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
SOx – Óxidos de enxofre
SRES – (Special Report on Emissions Scenarios) - Relatório Especial sobre cenários de
emissão
tep – tonelada equivalente de petróleo
“Top-down” – “de cima para baixo”
UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
UNFCCC – (United Nations Framework Convention on Climate Change) – Convenção
Quadro das Nações Unidas para Mudança do Clima
WMO – (World Meteorological Organization) – Organização Meteorológica Mundial
xi
1. INTRODUÇÃO
Diante dos constantes alertas sobre as mudanças climáticas globais e suas onerosas
conseqüências, além das catástrofes cada vez mais freqüentes observadas de fato, a
humanidade está começando a voltar sua atenção para a exausta fonte de vida que a acolhe: a
terra.
O objetivo geral deste trabalho foi o de levantar e contabilizar o Inventário dos GEE’s
emitidos em 2006 por uma indústria química que produz importantes insumos para a indústria
de petróleo, bem como o CO2 fixado através da produção, doação e plantação de mudas em
seu horto.
1
Todos os trabalhos pesquisados sobre levantamento desse tipo de inventário se basearam nos
métodos do IPCC, principalmente em suas versões anteriores. Como exemplo, o 1º Inventário
Nacional de GEE’s, coordenado pelo Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) foi
realizado, usando a versão do IPCC de 1996 revisada com algumas adaptações ao sistema
energético brasileiro.
É importante frisar que o inventário da empresa estudada neste trabalho não foi obtido por
medições dos gases de efeito estufa e sim através de cálculos das emissões desses GEE’s, a
partir de fatores de emissão (tabelados nos métodos do IPCC) expressos em toneladas de GEE
por unidade energética (em terajoule ou TJ = 1012J) dos combustíveis usados.
O método do IPCC escolhido para este trabalho se baseia principalmente no uso desses
fatores de emissão para cada combustível e para cada um dos GEE’s emitidos por diversas
fontes (estacionárias e móveis) de diferentes setores (no caso específico da empresa, foi
adotado o setor energia, pois usa combustíveis fósseis para geração de calor nas fontes
estacionárias e para força motriz em suas fontes móveis).
Apenas para se ter uma idéia da variabilidade das características dos combustíveis até dentro
do Brasil, o gás natural (um dos mais simples quanto à composição) principal combustível
usado pela empresa mencionada, tem especificações da ANP diferentes para o sudeste e norte
(ANEXO I).
Na pesquisa bibliográfica realizada, constatou-se que o Brasil ainda não desenvolveu seus
próprios fatores de emissão de GEE’s (doravante identificados por FE’s), ou seja, os fatos são
esses: ainda temos que usar os fatores fora da nossa realidade, mas consagrados
2
mundialmente. Isso reforçou a autora usar os fatores tabelados da versão 2006 do IPCC.
Quanto à fixação de CO2 por vegetação, foram usados os valores de carbono resgatado pelas
espécies nativas do Paraná (de um artigo encontrado e apresentado no decorrer desta
dissertação) comuns às que foram plantadas na área da empresa. Para as espécies que não são
comuns às do artigo, estimou-se um valor médio na literatura encontrada, por sugestão da
bióloga da empresa estudada.
O resultado da pesquisa dos trabalhos realizados com métodos existentes para o cálculo do
inventário de emissões de GEE’s está no Capítulo 5.
3
2. METODOLOGIA DE TRABALHO
Para levantar o inventário de GEE’s emitidos pela empresa estudada, foi realizada pesquisa
em diversas fontes bibliográficas nacionais e internacionais sobre cálculos de emissões desses
gases. Nessa pesquisa, ficou claro que não foram desenvolvidos fatores de emissão nacionais,
para diminuir as incertezas e refletir melhor a realidade brasileira quanto às suas emissões em
toneladas de GEE por unidade energética dos combustíveis.
Todos os trabalhos vistos adotaram os métodos do IPCC (versões anteriores) usando seus
fatores internacionais, à exceção de um estudo, que usou os fatores da versão mais nova do
IPCC (2006).
Foram também pesquisadas na internet (sites e e-mails para o MME, MCT, ANP) as
características médias dos combustíveis nacionais com seus desvios padrão (pelo menos
regionalmente) na tentativa de conseguir “fabricar” fatores de emissão locais e, portanto, mais
confiáveis.
Foi realizado um delineamento dos limites do projeto (físicos e temporais) e dos critérios
correspondentes adotados. Assim, foi definido o ano base (2006), bem como identificadas e
delimitadas as fontes sob a responsabilidade da empresa estudada. Não foram consideradas
neste trabalho, as emissões relacionadas com a obtenção dos insumos utilizados no processo
de fabricação do produto principal, a geração decorrente da utilização do produto gerado no
processo e nem do transporte aéreo.
Foram levantados os consumos por equipamento (desde que disponíveis) visando diminuir a
incerteza dos resultados obtidos, através de detalhamentos maiores (explicados no Capítulo 5
– Principais Trabalhos com Metodologias de Inventário de Emissões).
4
Coletadas todas as informações disponíveis com o Consultor Técnico de Meio Ambiente da
empresa e outros funcionários responsáveis pela unidade fabril.
Foram feitos levantamentos, através de visitas locais à empresa e diversos contatos com uma
bióloga da empresa, sobre o horto e o entorno de um lago que é um passivo ambiental
(descrito no Capítulo 6) e consultas a bibliografias específicas referentes à fixação de CO2 por
plantas mais compatíveis com a área de influência da empresa;
Foram feitos vários contatos e consultas com o MME e o ONS, MCT e ANEEL, solicitando a
matriz de geração eletricidade. O MME forneceu essa matriz, que serviu de base para a autora
desta dissertação calcular o fator de emissão nacional por GWh (em toneladas de CO2/GWh)
produzido no Brasil.
Foi feita adaptação ao método do IPCC de 2006, com relação à gasolina C, que é uma mistura
de gasolina A com álcool (diferente das gasolinas usadas nos países desenvolvidos).
Foi realizado o levantamento sobre a situação da empresa em 2006, sobre fixação de carbono
por vegetação.
5
3. EMISSÕES DE GASES DE EFEITO ESTUFA
Ultimamente, em várias páginas da internet [3,4,5] ou mídias impressas [6], faladas ou mesmo
filmadas (como o documentário “Uma verdade inconveniente” do Al Gore, ex vice-presidente
dos EUA) tem-se visto alertas sobre gases de efeito estufa (GEE’s) que provocam mudanças
climáticas e desastres naturais ocorridos com freqüência e intensidade cada vez maiores.
Esses alertas se tornaram mais freqüentes após a publicação, em abril do corrente ano, da 1ª
parte do 4º Relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas
(Intergovernmental Panel on Climate Change – IPCC) da ONU, após consenso de cerca de
500 cientistas e relatores em Paris.
Quando solicitado, o IPCC presta assessoria à Conferência das Partes (COP) da Convenção
Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima. Seu principal trabalho são os relatórios
de avaliação (assessment reports) emitidos a cada cinco anos) das mudanças climáticas, que
serão mencionados no item 3.2 (Histórico).
6
3.1 Mudanças Climáticas e Emissões
Os três primeiros GEE’s mencionados são emitidos e retirados da atmosfera por processos
naturais. Entretanto, suas concentrações têm aumentado acentuadamente nos dois últimos
séculos, devido ao aumento das atividades humanas (origem antrópica) conforme o último
relatório (2007) do IPCC, cujas conclusões parciais serão apresentadas no item 3.1.3.
Vapor d’água (nuvens ou H2O) não tem vida longa, apesar de ser o GEE mais abundante na
atmosfera, além de não misturar-se bem com ela. Sua concentração global não sofre
influência direta das atividades antrópicas, mas o aumento dos outros GEE’s pode alterar o
ciclo hidrológico. Quanto maior a temperatura (provocada pelo aumento dos outros GEE’s)
maior a capacidade da atmosfera em reter a água e formar nuvens, que influenciam no efeito
estufa, que será apresentado no item 3.1.2.
7
Gás carbônico (dióxido de carbono ou CO2) é um gás produzido na natureza por
microorganismos na fermentação e na respiração celular. As plantas captam o CO2 da
atmosfera durante sua fotossíntese, para formar carboidratos, liberando oxigênio para a
atmosfera que depois é usado na sua própria respiração (liberando CO2) e de organismos
heterotróficos (organismos que utilizam matéria orgânica sintetizada por outros organismos
como fonte de energia e nutrição) formando parte do ciclo biogeoquímico do carbono. [8]
A concentração de CO2 na atmosfera é aumentada por fontes antrópicas, tais como: queima de
combustíveis fósseis obtidos do petróleo ou carvão em termelétricas, em indústrias para
geração de calor, na produção de cimento, em veículos, na queima de árvores e do lixo sólido
(fontes que aumentam cada vez mais sua concentração). Além das fontes mencionadas, é
emitido pela emanação de animais e erupção de vulcões, entre outros. O CO2 é responsável
por cerca de 60% [9] do efeito estufa.
Óxido nitroso ou N2O participa do ciclo natural do nitrogênio através do ar, solo e
organismos vegetais e animais. O nitrogênio do ar compõe a matéria biológica, através das
bactérias e algas, pelo processo denominado fixação de nitrogênio. Após vários processos
bioquímicos, são formados os nitratos que nutrem o vegetal para o seu crescimento. Outras
bactérias no solo convertem esses nitratos a nitrogênio gasoso (reação de denitrificação),
completando o ciclo mencionado. O N2O (um potente GEE) é um subproduto dessa reação.
Suas fontes antropogênicas significativas são: produção de ácido adípico (matéria prima para
a produção de nylon), ácidos nítricos, carros com três modos de conversão catalítica (three
way, em inglês), queima de biomassa e de combustíveis fósseis. [8] É ainda emitido por
atividades agricultoras, bem como pela combustão de resíduos sólidos [10].
8
Halocarbonetos como os clorofluorcarbonetos (CFC’s), hidroclorofluorcarbonetos
(HCFC’s), perfluorcarbonetos (PFC’s), constituídos por cloro, flúor e carbono, além de
hexafluoreto de enxofre (SF6) são compostos produzidos pelo homem.
As maiores fontes dos perfluorocarbonetos (PFC’s) CF4 e C2F6 são a produção de alumínio
primário e fabricação de semicondutores. HFC’s são usados como substitutos de compostos
destruidores da camada de ozônio. PFC’s e SF6 (hexafluoreto de enxofre) são emitidos na
produção de alumínio, de semicondutores, transmissão e distribuição de eletricidade [8].
Para comparar os efeitos radiativos (ou capacidades de prender calor) relativos das emissões
de vários gases de efeito estufa através de uma medida simples, foi desenvolvido o conceito
do Potencial de Aquecimento Global (Global Warming Potential – GWP, em inglês). Esse
índice é definido como o forçamento radiativo (ou aquecimento) cumulativo causado por uma
unidade de massa de GEE emitida agora, até algum horizonte de tempo escolhido, expresso
em relação ao de um gás de referência (é usado o CO2). [11]
O aquecimento global futuro (em um determinado horizonte de tempo) provocado por um gás
de efeito estufa pode ser avaliado, multiplicando-se quantidade emitida desse gás pelo seu
PAG (GWP) para esse horizonte de tempo [11]. Ou seja, o PAG permite converter as
emissões de vários GEE’s numa mesma medida (para agregar os impactos de vários GEE’s)
em carbono ou equivalentes em dióxido de carbono (CO2e). A incerteza associada aos valores
dos PAG’s gira em torno de ± 35%, sem considerar a incerteza da estimativa do CO2 [12].
O IPCC publicou estimativas mais atuais dos valores de referência para PAG’s de diversos
GEE’s no Terceiro Relatório de Avaliação do IPCC com relação aos do 2º Relatório, como
parte de suas avaliações científicas sobre mudança do clima. Essas diferenças não ultrapassam
a incerteza de ± 35% (já mencionada) dos PAG’s.
9
Há três principais grupos ou tipos gases com altos PAG’s: hidrofluorocarbonos (HFC’s),
perfluorocarbonos (PFC’s), e hexafluoreto de enxofre (SF’6). Esses compostos são os mais
potentes GEE’s. A tabela 3.1 apresenta esses valores de PAG.
Tabela 3.1
Potenciais de Aquecimento Global (PAG) e tempos de vida atmosférica (anos) [13]
10
3.1.2 O que é efeito estufa e qual o processo de sua formação?
Até uma determinada concentração, os gases de efeito estufa (GEE’s) são benéficos à terra,
pois equilibram sua temperatura, aquecendo-a e impedindo que fique congelada à noite. Os
GEE’s formam uma camada que permite a entrada dos raios solares de ondas curtas em
direção a terra, mas absorvem a radiação infravermelha de ondas longas do calor de volta da
superfície da terra em direção à atmosfera, aquecendo-se e elevando a temperatura média do
planeta. Esse aquecimento e elevação da temperatura global é o famoso Efeito Estufa.
Em outras palavras, durante o dia, parte da energia solar é captada pela superfície da Terra e
absorvida e outra parte é irradiada para a atmosfera. Os gases naturais que existem na
atmosfera funcionam como uma capa protetora que impede a dispersão total desse calor para
o espaço exterior e o planeta permanecer quente.
O processo que cria o efeito estufa é natural e é responsável pelo aquecimento do planeta.
Certos gases, como o dióxido de carbono, criam uma espécie de telhado, como o de uma
estufa, sobre a Terra - daí o nome do fenômeno -, deixando a luz do Sol entrar e não deixando
o calor sair.
Se não existisse efeito de estufa natural, a temperatura da superfície terrestre seria, em média,
cerca de 33ºC [4] mais fria do que é hoje. Assim, o efeito estufa gerado pela natureza é
imprescindível para a manutenção da vida sobre a terra. Se a composição dos GEE’s for
alterada, para mais ou para menos, o equilíbrio térmico da terra sofrerá conseqüentemente.
Entretanto, quando a concentração dos GEE’s atinge valores muito altos, provenientes
principalmente das atividades humanas, mais concentrada e densa será a camada da “estufa” e
mais calor será absorvido por ela, impedindo-o de se dissipar para espaços além da troposfera
(camada mais próxima da Terra que se estende até uma altitude de 10 km nas regiões polares
e até 16 km acima do equador) aumentando assim, a temperatura média global da terra e
acarretando conseqüências apresentadas no decorrer deste Capítulo.
11
atividades antrópicas ao efeito estufa:
Figura 3.1. Participação relativa dos GEE´s na atmosfera [14]
Diante dessa alta contribuição (60%) do CO2 na atmosfera, entende-se porque esse gás recebe
maior atenção quando se fala em projetos de redução de emissões dos GEE’s. Outra fonte
mais recente [8] já menciona uma participação maior deste gás: 83%.
Fabio Feldmann também define o efeito estufa como um fenômeno natural gerado por gases
causadores de efeito estufa -GEE-, os quais absorvem luz infravermelha térmica que deveria
ser direcionada ao espaço, aquecendo a atmosfera e garantindo a vida no planeta.
A figura 3.2 [16] mostra como ocorre o efeito estufa, onde se vê que os raios solares
atravessam a atmosfera e parte deles é absorvida pela terra, que reflete outra parcela da
radiação solar para o espaço. Uma parte refletida pela terra (radiação infravermelha ou calor)
não atravessa a atmosfera, pois os GEE’s os absorvem, aquecendo a superfície da terra.
Assim, pode-se concluir que o aumento da temperatura média terrestre é proporcional à
concentração dos GEE’s na atmosfera.
12
Figura 3.2 Processo de formação do efeito estufa [16]
Como foi visto, o efeito estufa é essencial à vida sobre a terra. Entretanto, se a concentração
dos gases que o provocam for muito elevada, esse efeito se intensifica e a temperatura média
global aumenta, desequilibrando o padrão de correntes atmosféricas, marítimas e de
precipitações, acarretando então, secas em regiões outrora férteis e vice versa (inundações em
áreas outrora secas) bem como desastres naturais cada vez mais intensos e freqüentes como
tempestades, ondas intensas de calor, incêndios, degelo, secas e furacões, com perdas de vidas
humanas e econômicas incalculáveis e muitas vezes irreparáveis.
A 1ª parte do 4º relatório do IPCC foi divulgada [3] no dia 2 de fevereiro de 2007, em Paris
(França). O estudo concluiu que o planeta pode ficar 4o C mais quente até 2100, como
conseqüência das alterações climáticas provocadas pelo aumento do efeito estufa de origem
antrópica. Isso acarretaria o aumento do nível do mar e catástrofes climáticas cada vez mais
intensas e freqüentes. “A emissão de gases de efeito estufa nas taxas atuais ou maiores têm
90% de chance de causar aquecimento global e alterações climáticas durante o século XXI
maiores do que aquelas observadas no século XX”, segundo o relatório.
13
O relatório apresentou o consenso de que o aumento médio da temperatura da terra será de
1,8oC, até o ano de 2100. Este valor é uma média da maioria das hipóteses levantadas, mas na
pior delas, esse aumento pode chegar a 6,4oC.
Os cientistas relataram que basta um aumento de 1oC na temperatura global para causar
grandes catástrofes, como o derretimento das geleiras nos pólos do planeta e o conseqüente
aumento no nível do mar. Segundo o relatório, é possível o derretimento total do gelo no
verão do Pólo Norte por volta de 2100, e conseqüente elevação do nível dos oceanos em até
59 cm.
Esse relatório, que tem como objetivo estabelecer as conclusões das bases científicas da
mudança climática foi o primeiro de vários que o IPCC divulgará durante o ano de 2007 sobre
o impacto do aquecimento e as alternativas para contê-lo, finalizando com o documento de
síntese, que deverá ser apresentado em Valência (Espanha) em novembro deste ano. Os
autores do relatório afirmam que 11 dos 12 anos mais quentes ocorreram a partir de 1995,
desde que foram iniciados os registros climáticos confiáveis, em meados de século XIX.[17]
Um dos principais cenários apresentados nesse relatório do IPCC foi a previsão da ameaça de
extinção de até 30% das espécies de plantas e animais existentes, se a temperatura aumentar
entre 1,5 e 2,5º C.
14
Já foi percebido e comprovado o derretimento parcial das calotas polares, que provocam o
aumento dos níveis dos oceanos que acarretam inundações no litoral dos continentes,
ameaçando até o desaparecimento de pequenos países insulares inteiros.
(b)
(a) (c)
Cenários
A figura 3.3 mostra que a concentração de CO2 permaneceu razoavelmente constante desde o
ano 1000 (através do “ice core” que será explicado mais adiante) até em torno de 1800,
próximo à revolução industrial (1750) quando se iniciou a produção de bens de consumo em
15
grandes unidades industriais e com recurso a máquinas a carvão e, mais tarde, a petróleo, gás
natural e eletricidade [19].
A partir daí, sofreu um suave aumento até em torno de 1960, disparando (acentuando a curva
ascendente) entre esse ano e 2000, quando as concentrações de CO2 começaram a ser medidas
diretamente na atmosfera (diferentemente do “ice core”, definido adiante). A partir daí, a
curva apresenta diversas projeções para diferentes cenários, que refletem crescimentos
econômicos mais ou menos sustentáveis a serem adotados pela humanidade [15].
A próxima figura 3.4 (apesar da fraca visibilidade, foi a única encontrada, recente e do IPCC,
que não deixa margem a dúvidas) mostra um gráfico da variação da temperatura da
superfície terrestre, indicando a mesma tendência do aumento de CO2 na atmosfera,
apresentada na figura anterior (3.3). O gráfico desta figura (3.4) apresenta também projeções
para diversos cenários com desenvolvimentos econômicos em diferentes níveis de
sustentabilidade, a partir do ano de 2000 (todas as curvas foram fortemente ascendentes).
Figura 3.4 Variação da temperatura da superfície da terra de 1000 a 2100 [15]
Barras
mostram a
faixa em
2100
produzida
por vários
modelos
Cenários
Ano
16
Legenda (Figura 3.4):
Dados indiretos (1) são obtidos através de corais, “ice cores” (explicados adiante) e registros
históricos.
SRES (2) significa “Special Report on Emissions Scenarios” em inglês, cuja tradução é:
Relatório especial sobre cenários de emissão.
Na figura 3.4, a 1ª parte do gráfico (do ano 1000 até ~ 1860) mostra as variações da
temperatura média da superfície do Hemisfério Norte. De 1860 a 2000, são mostradas as
variações da temperatura média da superfície terrestre, através de observações instrumentais.
De 2000 a 2100, são apresentadas as projeções para a temperatura média global, em função de
desenvolvimentos mais ou menos sustentáveis (definidos anteriormente). Essas variações são
referentes ao ano de 1990.
“Ice-core”, comentado na figura 3.3 e 3.4 é uma amostra cilíndrica retirada a diferentes
profundidades e locais (Groelândia, Antártica) de neve ou gelo acumulado ao longo de muitos
anos, que preserva a atmosfera antiga (“prende” o ar da época) e fornece informações que
podem ser usadas para reconstruir o quadro da mudança climática passada e é um exemplo de
registro não instrumental. [20]. Para avaliar temperaturas de tempos muito antigos, usa-se
uma técnica denominada paleotermômetro que se baseia na composição isotópica do gelo que
varia com a temperatura da neve no local de sua formação. [21]
A figura 3.5 a seguir mostra as concentrações de CO2, CH4 e N2O ao longo dos últimos 2.000
anos. Os aumentos verificados desde cerca de 1750 são atribuídos a atividades humanas na
era industrial. As unidades de concentração são expressas em partes por milhão (ppm) ou
partes por bilhão (ppb) indicando o número de moléculas do GEE por milhão ou bilhão de
moléculas de ar, respectivamente, na amostra atmosférica.
17
Figura 3.5
Concentrações atmosféricas de importantes GEE’s de vida longa nos últimos 2.000 anos [22]
Metano (CH4)
Ano
FAQ 2.1, Figure 1
A figura 3.6 a seguir apresenta outro gráfico, indicando a relação entre o aumento da
temperatura com o aumento de CO2 atmosférico para períodos anteriores (400.000 anos atrás)
aos das figuras 3.3 a 3.5 (1.000 anos atrás) [21].
18
Figura 3.6 [21]
Variação da temperatura da superfície da terra com a da concentração de CO2 atmosférico
T
e
m
p
e
r
a
t
u
r
a
o
C
A próxima figura (3.7) mostra as mudanças observadas na: (a) temperatura média da
superfície global (curva ascendente); (b) o nível médio global do mar (ascendente) avaliado
por medidores instrumentais de marés e (c) a cobertura de neve no Hemisfério Norte
(descendente) nos meses de março a abril. A linha representa valores médios por décadas,
enquanto os círculos mostram valores anuais. A área larga em azul representa os intervalos de
incertezas estimadas. Percebe-se que com o aumento da temperatura, o nível do mar sobe e a
cobertura de neve cai, indicando as conseqüências do aumento dos GEE’s de origem
antrópica, que aumentam a temperatura terrestre.
19
Figura 3.7
Mudanças na temperatura, nível do mar e cobertura de neve no hemisfério norte: [23]
Ano
A próxima figura 3.8 apresenta os fatores que influenciaram no clima terrestre em 2005,
através das estimativas e faixas de suas forças radiativas globais médias que aquecem ou
esfriam a terra, se estiverem à direita ou à esquerda do eixo vertical em zero, respectivamente
Esse eixo parte do valor zero e fica entre os limites -1 e 1 da abscissa. Os GEE’s são positivos
e são bem dispersos (“well mixed”, em inglês) na atmosfera global, enquanto a família dos
aerossóis fica mais próxima da área onde são emitidos, em geral.
20
Figura 3.8 Contribuição para a força radiativa [25]
GEE’s de {
longa vida Alto
Médio
Ozônio Estratosférico Troposférico
Baixo
(2)
Méd.
Albedo de Baixo
Uso terra Carbono negro na
superfície neve
Méd.
(3) Baixo
(4) Baixo
Baixo
Irradiação Baixo
solar
Total líquido
antropogênico
O forçamento radiativo antropogênico líquido (em valores), sua faixa e o nível avaliado de
entendimento científico (LOSU-Level of Scientific Understanding, em inglês) são mostrados
também na figura 3.8. Esses forçamentos radiativos requerem a soma de estimativas com
incertezas assimétricas dos termos componentes e não podem ser obtidos por simples adição.
21
absorvida pela fotossíntese. As nuvens têm albedo intermediário e são os maiores
contribuintes para o albedo agregado da Terra. [26]
Radiação solar
incidente (onda Radiação terrestre
curta) líquida
(ondas longas)
Absorção
Reflexão Gelo / Neve
Emissão
Nuvens Gases e
partículas
Precipitação Vento vulcânicas
Interação Descarga
Interações ar-mar
ar-gelo fluvial
Gelo marinho Atividades
Correntes Humanas
Lagos e
Interações Rios Processos no
gelo-oceano solo
3.2 Histórico
3.2 Histórico
A partir da década de oitenta, com o surgimento das primeiras evidências científicas que
relacionavam as atividades antrópicas (causadas pela ação do homem no meio ambiente) com
o aquecimento global, aumentou o interesse público em se discutir as questões das mudanças
climáticas e o mundo começou a se preocupar com o que aconteceria no futuro.
22
Resumidamente, a evolução dos debates seguiu a seguinte cronologia:
1979 – A Primeira Conferência Mundial sobre o Clima reconheceu a mudança do clima como
um problema grave e de interesse global. Nesse ano, foi realizada a Primeira Conferência
Mundial sobre o Clima, evento inaugural de uma série que propiciou a união do PNUMA e da
Organização Meteorológica Mundial, de cujos estudos extraiu-se a base teórico-científica para
a elaboração da Convenção-Quadro das Nações Unidas Sobre a Mudança do Clima
(UNFCCC), adotada na Rio-92 (Cúpula da Terra). Essa Convenção entrou em vigor desde
março de 1994, em que se fixou, como meta, “a estabilização das concentrações de gases de
efeito estufa na atmosfera num nível que impeça uma interferência antrópica perigosa no
sistema climático”.
1988 - A Organização Meteorológica Mundial (WMO) e Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente (PNUMA) criam o IPCC, com o objetivo de fornecer informações científicas,
técnicas e sócio-econômicas relacionadas às mudanças climáticas globais e melhorar o
entendimento científico sobre o tema, através da cooperação dos países membros da ONU.
1990 - A Assembléia Geral da ONU inicia as negociações para a adoção da Convenção sobre
Mudanças Climáticas, sob recomendação do IPCC, que publicou o 1º relatório nesse ano.
23
1994 - A Convenção é ratificada pelo Brasil em 28 de fevereiro e entra em vigor em 21 de
março. A UNFCCC admitiu as mudanças climáticas como um problema ambiental real e
global; reconheceu a interferência humana nessas mudanças e a necessidade de cooperação
internacional na solução da emissão de gases que contribuem com o efeito estufa num nível
em que as atividades humanas não afetem o clima ou que as mudanças ocorram lentamente,
além de assegurar que a produção de alimentos e o desenvolvimento econômico sejam
sustentáveis.
1995 - O segundo relatório do IPCC foi publicado e ofereceu incentivo para as negociações
do que viria a ser o Protocolo de Kyoto, que será melhor apresentado adiante. No dia 7 de
abril, em Berlim (Alemanha) acontece a primeira reunião anual dos representantes dos
países signatários da UNFCCC. O encontro é denominado Conferência das Partes (COP).
Na COP - 1 é proposta a constituição de um protocolo e decisões sobre o acompanhamento
das obrigações da Convenção, batizado em 1997 como Protocolo de Kyoto.
24
sumidouros e às atividades de mudança do uso da terra. No Brasil, um Decreto Presidencial
cria o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas.
2001 - As discussões são retomadas na COP - 6 e 1/2, em 27 de junho, em Bonn (Alemanha),
já sem contar com os Estados Unidos, que se retira sob a alegação de que os custos para a
redução de emissões seriam muito elevados para a economia norte-americana. Os Estados
Unidos contestam também a ausência de metas de redução para os países do Sul, em especial
a China, Índia e o Brasil. Cabe lembrar que os Estados Unidos são responsáveis por cerca de
25% das emissões globais de gases de efeito estufa, conforme os registros de 1990 utilizados
como parâmetro. O terceiro relatório do IPCC foi lançado nesse ano e continuou o trabalho
de oferecer informações sobre as mudanças climáticas, subsidiando as discussões da COP7.
No mesmo ano, entre 29 de outubro e 10 de novembro, em Marrakesh (Marrocos) acontece a
COP – 7, onde foi decidido que os relatórios do IPCC continuariam sendo produzidos como
fonte constante de dados confiáveis sobre mudanças climáticas.
25
mencionado. Na COP-10, delegados de cerca de 150 governos marcaram o relançamento das
negociações sobre a mudança climática, com o novo impulso imprimido pela ratificação russa
ao protocolo de Kyoto.
Na primeira sessão da Conferência das Partes (COP-1) que ocorreu em Berlim, em 1995, as
Partes concluíram que o compromisso dos países desenvolvidos de voltar suas emissões para
os níveis de 1990, até o ano 2000, era insuficiente para se atingir o objetivo de longo prazo da
26
Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança de Clima, que consiste em impedir
uma interferência antrópica (produzida pelo homem) perigosa no sistema climático.
Ministros e outras autoridades responderam com a adoção do “Mandato de Berlim” e com o
início de uma nova fase de discussões sobre o fortalecimento dos compromissos dos países
desenvolvidos. O grupo sobre o Mandato de Berlim foi então formado para elaborar o esboço
de um acordo que, após oito sessões, foi encaminhado a COP-3 para negociação final.
Cerca de 10.000 delegados, observadores e jornalistas participaram desse evento de alto nível
realizado em Kyoto, Japão, em dezembro de 1997. A conferência culminou na decisão por
consenso de adotar-se um Protocolo segundo o qual os países industrializados reduziriam suas
emissões combinadas de gases de efeito estufa em pelo menos 5% com relação aos níveis de
1990, até o período entre 2008 e 2012. Esse compromisso prometia produzir uma reversão da
tendência histórica de crescimento das emissões iniciadas nesses países havia cerca de 150
anos.
O Protocolo de Kyoto foi aberto para assinatura em 16 de março de 1998. Entraria em vigor
90 dias após a sua ratificação por pelo menos 55 Partes da Convenção, incluindo os países
desenvolvidos que contabilizaram pelo menos 55% das emissões totais de dióxido de carbono
em 1990 desse grupo de países industrializados, chamados países do anexo I. Enquanto isso,
as Partes da Convenção sobre Mudança do Clima continuariam a observar os compromissos
assumidos sob a Convenção e a preparar-se para a futura implantação do Protocolo.
O Protocolo também trouxe a opção dos países do Anexo I compensarem suas emissões,
através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) considerando como medida de
redução os projetos sócio - ambientais sustentáveis implementados nos países em
desenvolvimento.
Em 2001, os Estados Unidos se retiraram das discussões dos COP´s sob a alegação de que os
custos para a redução de emissões seriam muito elevados para a economia norte-americana.
Os Estados Unidos contestaram também a ausência de metas de redução para os países do
Sul, em especial a China, Índia e o Brasil. Cabe lembrar que os Estados Unidos são
responsáveis por cerca de 25% das emissões globais de gases de efeito estufa, conforme os
registros de 1990 utilizados como parâmetro.
27
4. MECANISMOS PARA CAPTURA, ESTOCAGEM E FIXAÇÃO DE CO2
O DOE (Departamento de Energia dos EUA) define o seqüestro de carbono como: “Captura e
armazenagem segura de CO2 que de outro modo seria emitido para a atmosfera ou
permaneceria nela”.
Existem dois tipos de seqüestro de CO2:
Direto Captura de fontes estacionárias de CO2 e armazenamento (ou estocagem)
em sumidouros
Indireto Fixação do CO2 atmosférico, através da estimulação de processos
naturais.
O IPCC, no seu Relatório especial (Special Report) de setembro de 2005, define a “captura e
o armazenamento do dióxido de carbono (CO2) (“Carbon dioxide Capture and Storage” –
CCS) como um processo que consiste na separação do CO2 das fontes industriais e fontes
energéticas, do seu transporte a um local de armazenamento e de seu isolamento da
atmosfera por longo prazo”. Basicamente, envolve a captura e compressão de CO2 das
principais fontes, transporte do CO2 comprimido e estocagem do CO2 comprimido.
Esse relatório mostra que nenhuma opção tecnológica única e simples forneceria todas as
28
reduções de emissão necessárias para alcançar a estabilização dos GEE’s, mas seria
necessário um portfólio de medidas de atenuação.
Primeiramente, deve-se levar em conta que apenas o CO2 emitido por grandes fontes têm
viabilidade técnica econômica para ser capturado e enviado para armazenamento [29]. Assim,
o CO2 tem que ser comprimido nessas fontes e transportado para os locais de armazenamento.
Os dutos são preferidos para transportar grandes quantidades de CO2 para distâncias até cerca
de 1.000 quilômetros. Para quantidades menores do que alguns milhões de toneladas de CO2
por ano ou para maiores distâncias, o uso de navios, onde aplicável, poderia ser
economicamente mais atrativo. O transporte por dutos do CO2 opera como uma tecnologia
madura de mercado (nos EUA, mais de 2.500 quilômetros de dutos transportam acima de 40
toneladas métricas de CO2 por ano).
O relatório especial do IPCC de 2005 (Carbon Dioxide Capture and Storage) sugere [30] que
29
o armazenamento geológico ainda é a melhor opção, devido aos menores riscos ambientais,
maiores tempos de retenção e maior maturidade tecnológica, em relação às outras opções de
armazenamento. Com o decorrer do tempo, o CO2 dissolve ou reage com minerais na rocha,
resultando num processo mais seguro. Até 2005, existiam 3 projetos operando em escala
industrial: na Noruega, Canadá e região do Saara em Algeria. A figura 4.1 apresenta algumas
alternativas de armazenamento e estocagem (CCS, em inglês) de CO2.
Figura 4.1 Alternativas para captura e estocagem de CO2 [29]
Gás para
suprimento
doméstico Biomassa Carvão
Cimento, aço,
refinarias, etc.
GN +
captura de Plantas
Óleo Geração de eletricidade petroquímicas
CO2
+ Captura de Futuro uso
CO2 de H2
Carbonatação mineral
Estocagem
geológica
de CO2
Usos industriais
Essa figura (4.1) mostra as fontes para as quais o CCS pode ser relevante e opções de
transporte e estocagem de CO2, tais como estocagem geológica e oceânica, carbonatação
30
mineral e usos industriais. Nela, pode-se observar o fluxo de entrada de energia nas diversas
atividades humanas e a saída (saldo) do CO2, com várias destinações possíveis.
CO2 armazenado
A figura 4.2 mostra uma visão geral das opções de armazenamento geológico, quais sejam:
(1) em reservatórios esgotados de óleo e gás; (2) uso do CO2 para aumento da recuperação de
óleo e gás; em formações salinas profundas (3a) offshore (no mar) e (3b) onshore (na terra);
(4) uso de CO2 na recuperação de metano em leito de carvão.
O ponto comum a todas essas tecnologias apresentadas de uma forma bastante simplificada, é
que tentam evitar ou diminuir a emissão do carbono e seus derivados (GEE’s) para a
31
atmosfera, através de seu aprisionamento ou isolamento.
Entretanto, há outras formas de atingir o objetivo da diminuição dos GEE’s lançados para a
atmosfera, que podem ser resumidas numa palavra: Descarbonização, que consiste no uso das
seguintes fontes de energia (ou combustíveis):
4.3 Reflorestamento
No início deste capítulo, foi visto que além da forma direta de seqüestro de carbono (captura
na fonte, transporte e estocagem) existe uma forma indireta de seqüestro: a da absorção do
CO2 por estímulo de processos naturais, ou seja, através de biomassa, que depende desse gás
para se desenvolver.
Cabe mencionar algumas experiências já realizadas por algumas empresas no Brasil, que
adotam essa forma de seqüestro, com retornos financeiros muitas vezes nada desprezíveis.
Peugeot
32
Entretanto, o impacto comercial pretendido pela empresa esbarrou no alto grau de ambição do
projeto. A principal causa para o insucesso da empreitada foi relacionada a uma baixa taxa de
sobrevivência das mudas florestais plantadas num pasto de brachiária (colmo – caule com nós
- herbáceo florescendo todos os anos com flor hermafrodita masculina ou feminina) e as
repercussões das tentativas feitas para superar este obstáculo, ao optar pela pulverização aérea
do herbicida Roundup. [32]
Assim, o projeto foi redirecionado e teve seu objetivo modificado para reflorestamento de
2.000 ha (ao invés de 5.000 ha) e a estimativa inicial de 2 milhões de t C a ser atingido em 40
anos foi reduzida para 500.000 t C em 100 anos.
Segundo Chang Man Yu [32] o Projeto Plantar é um projeto comercial, pois foi fundado no
final dos anos 60 devido aos incentivos fiscais para reflorestamento. Mais tarde, foi integrado
à produção de ferro gusa para agregar valor, aproveitando a própria matéria prima.
O projeto se situa numa região abastecedora de carvão vegetal para as indústrias metalúrgicas
de Minas Gerais. (central do cerrado desse estado). O uso do carvão vegetal (ao invés do
carvão mineral) como redutor na produção do ferro gusa foi a justificativa do projeto para se
candidatar ao MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, mencionado no Histórico -
Protocolo de Kyoto), visando obter créditos de carbono para vender aos países
(desenvolvidos) do Anexo I desse Protocolo.
Foi estimado que o projeto poderia gerar créditos de cerca de 1,2 milhões de toneladas pelo
reflorestamento de 23.000 ha com eucalipto e de 2,1 milhões t C oriundas do uso do carvão
vegetal, ao longo de 28 anos.
33
Klabin [33]
Esse projeto visa plantar 32 000 hectares de florestas de eucalipto. O carbono seqüestrado,
elegível segundo as regras do CCX, representa em torno de 25 toneladas de CO2 por
hectare/ano de créditos de carbono.
A Klabin foi a primeira empresa brasileira a aderir à CCX, em 2004, habilitando-se a vender
créditos de carbono para empresas que necessitam reduzir seus GEE’s emitidos.
34
Fotossíntese
Uma árvore necessita de CO2 para se desenvolver e crescer, através do processo biológico
denominado fotossíntese, no qual praticamente toda energia entra na biosfera. Pode ser
resumida de maneira muito simplificada pela seguinte reação química:
Radiação solar
6CO2 + 6H2O C6H12O6 + 6O2
Clorofila
Glicose
Durante a fotossíntese, a energia solar quebra a molécula da água (fotólise) além de ser
absorvida pelos cloroplastos (definidos adiante) formando oxigênio gasoso e íons de
hidrogênio que reduzem as moléculas de CO2, transformando-as em açúcares (como a
glicose) ou carboidratos [35]. Dessa forma, a planta cresce, floresce e dá frutos.
O termo “fotossíntese” significa “síntese que usa luz”. Organismos fotossintéticos usam
energia solar para formar compostos orgânicos que não poderiam ser produzidos sem essa
energia.
Açúcares
35
oxigênio, conforme já exposto. Assim, a clorofila não se desgasta nem é consumida.
O CO2 é retirado da atmosfera e absorvido pelas folhas. A água é vem do solo pela raiz e sobe
pelos vasos como seiva. A energia luminosa vem da luz solar.
36
Respiração
As plantas não deixam de respirar na presença de luz, mas sua fotossíntese ultrapassa sua
respiração. Sem luz, a taxa respiratória é maior e a planta não tem atividade fotossintética. Em
condições ideais, a taxa fotossintética nas partes verdes das plantas é cerca de 30 vezes maior
do que a taxa de respiração nas mesmas partes. Dessa forma, a fotossíntese é um processo
muito significativo para regular o CO2 e oxigênio terrestres [35].
O carbono pode ficar retido na biomassa (parte aérea e raízes) ou emitido para a atmosfera na
queima da mesma. O crescimento da planta ou aumento da biomassa se processa devido à
absorção do CO2.
Serão apresentadas a seguir questões mais relevantes no que tange ao Reflorestamento, para
seqüestro indireto de CO2.
Floresta
Floresta “é a área mínima de terra de 0,05 – 1 hectare com cobertura de árvore (ou nível
equivalente de estoque) de mais de 10 a 30% com árvores com potencial de alcançar uma
altura mínima de 2 – 5 metros na maturidade in situ. Uma floresta pode consistir de formações
florestais fechadas, onde árvores de várias alturas e vegetação e sub bosque cobrem uma
grande parte da terra ou floresta aberta Estandes naturais jovens e todas as plantações que
37
ainda forem atingir uma densidade de copa de 10 – 30 por cento ou altura de árvore de 2 – 5
metros são consideradas floresta, assim como áreas que normalmente formam parte de uma
área florestal e que estão temporariamente sem estoque como resultado de intervenção
humana tal como corte ou causas naturais e que são esperadas a reverter para floresta
(CMP.1- Uso da Terra, Mudança de Uso da Terra e Florestas)”. [38]
“Florestamento é a conversão induzida diretamente pelo homem de terra que não foi
florestada por um período de pelo menos 50 anos em terra florestada por meio de
plantio, semeadura e/ou a promoção induzida pelo homem de fontes naturais de
sementes; (CMP.1- Uso da Terra, Mudança de Uso da Terra e Florestas)”. [38]
Como já foi exposto, uma das formas de seqüestrar o CO2 emitido é pela vegetação, através
da fotossíntese, formando a biomassa. Entretanto, sabe-se também que as espécies têm
diferentes capacidades de absorver esse gás, dependendo dos seus potenciais
fotossintetizadores, que por sua vez, dependem do “DNA” da planta.
Renner, R.M [39] apresentou uma lista com 67 espécies nativas do Paraná e seus respectivos
valores de carbono resgatado por indivíduo por ano, visando apresentar o benefício da
recuperação florestal pelo Programa Mata Ciliar naquele Estado. No seu trabalho, a autora
estimou a biomassa aérea (acima do solo) para as mudas plantadas, usando dados de literatura
com a seguinte equação:
onde:
Vol: volume por hectare (m3)
Dens: Densidade baseada na massa seca (t/m3 ou gramas/ cm3)
38
Fexp: fator de expansão da biomassa foi adotado como 1,74, sugerido por Brown (1997)
segundo a autora.
O volume foi estimado a partir da área basal, multiplicando o diâmetro médio pela altura
média e pelo fator de forma 0,5. Foram usados os dados de densidade da madeira úmida dos
trabalhos do IPT (1989), Carvalho (1994), Lorenzi (1992; 1998) e Embrapa (1986), segundo a
autora do artigo. Esses valores de densidade (12 a 15 % de umidade) foram transformados
para densidade baseada no peso seco pela fórmula:
A biomassa por indivíduo foi assim obtida e dividida pela idade, para calcular o incremento
anual de biomassa por indivíduo. O valor de incremento de carbono (C) por indivíduo em
toneladas por ano foi calculado, multiplicando a biomassa pelo fator 0,5 (C ≈ 50% da
biomassa).
Tabela 4.1 Listagem das espécies trabalhadas com o respectivo valor do carbono resgatado
por indivíduo por ano [39]
NOME CIENTÍFICO t C/ind/ano
Luehea divaricata 0,0050
Pterogyne nitens 0,0015
Anadenanthera colubrina 0,0121
Anadenanthera macrocarpa 0,0143
Psidium cattleianum 0,0007
Annona cacans 0,0269
39
Araucaria angustifólia 0,0039
Schinus terebenthifolius 0,0022
Mimosa scabrella var. aspericarpa 0,0156
Mimosa flocculosa 0,0015
Minosa scabrella 0,0249
Sebastiana commersonia 0,0048
Peltophorum dubium 0,0046
Nectandra lancelota 0,0007
Ocotea puberula 0,0012
Croton floribundus 0,0021
Myrsine ferruginea (Rapanea ferruginea) 0,0061
Clethra scabra 0,0055
Jacaranda puberula 0,0051
Phytolacca dióica 0,0055
Cedrela fissilis 0,0012
Cecropia hololeuca 0,0055
Ilex paraguariensis 0,0007
Albizia hassieri 0,0055
Lonchocarpus muehlbergianus 0,0001
Solanum sp. 0,0055
Campomanesia xanthocarpa 0,0015
Callophyllum brasiliense 0,0011
Schizolobium parahyba 0,0145
Astronium graveolens 0,0059
Parapiptadenea rígida 0,0015
Inga sessilis 0,0015
Tabebuia chrysotricha 0,0007
Tabebuia heptaphylla 0,0011
Cybistax antisyphulitica 0,0059
Heliocarpus americanus 0,0055
Mimosa regnelli 0,0055
40
Peschiera funchsiaefolia 0,0055
Bastardiopsis densiflora 0,0176
Cordia trichotoma 0,0051
Didimopanax morototoni 0,0127
Senna macranthera 0,0055
Mimosa bimucronata 0,0032
Ruprechia loxiflora 0,0004
Guazuma ulmifolia 0,0103
Chorisia speciosa 0,0015
Euterpe edulis 0,0040
Bauhinia forficata 0,0007
Senna multijuga 0,0033
Gallesia integrifólia 0,0020
Cytarexylum myrianthum 0,0011
Caesalpinia férrea 0,0033
Piptadenia gonoacantha 0,0174
Trema micrantha 0,0072
Aegiphila sellowiana 0,0020
Vochysia tucanorum 0,0055
Aspidosperma polyneuron 0,0004
Prunus brasiliensis 0,0018
Podocarpus lambertii 0,0015
Eugenia uniflora 0,0004
Tibouchina sellowiana 0,0055
Croton urucurama 0,0089
Alchornea glandulosa 0,0132
Cyntharexylum myrianthum 0,0011
Vitex polygama 0,0055
Eugenia pyriformis 0,0006
Piptacarpha angustifólia 0,0055
41
A média do carbono resgatado por ano é de 5,4kg de C resgatado /indivíduo/ano (kg
C/ind./ano) calculando pelos dados da tabela 4.1. Os valores variaram de 0,1 a 24,9 kg
C/ind./ano. Isso mostra como podem variar os incrementos ou absorção de carbono (ou CO2)
para formar a biomassa. Esse foi um dos dados de literatura pesquisados.
Outra referência interessante [40] diz que diferentes madeiras (ou árvores) apresentam
diferentes densidades (biomassa/volume), ou seja, refletem diversas durezas e celuloses por
volume de madeira. As menos duras ou “madeiras brancas” são de rápido crescimento, baixa
densidade e têm menor valor comercial.
Carbono na árvore = (0,28m/2)2 (m2) x Pi x 15(m) x 0,5 (t/m3) x 0,5 (%) x 0,72
42
Carbono na árvore = 166 kg de C ou 598 kg de CO2.
O número de árvores a serem plantadas para absorver o CO2 emitido é calculado a partir da
divisão do total desse CO2 pelo CO2 equivalente retido na biomassa da árvore hipotética
mencionada.
Entretanto, lembra a autora, a taxa de absorção do CO2 pelas árvores é muito menor do que a
taxa que o homem emite esse GEE. Ou seja, o que se emite hoje, só será absorvido daqui a
anos (o tempo de crescimento das árvores).
Ela afirma que é impossível estimar com precisão quanto CO2 uma árvore é capaz de absorver
durante seu crescimento, pois há muitas variáveis influentes nesse processo: a espécie
plantada, a fertilidade do solo, temperatura do ambiente, quantidade e distribuição da chuva
ao longo do ano, predadores, doenças, densidade do plantio, luminosidade, dentre outros
fatores.
De acordo com a autora, uma floresta clímax da mata atlântica estoca cerca de 400 toneladas
(t) de biomassa (~ 200 t/ha) por hectare (ha) por ano, que equivalem a 720 t (730 pelos
cálculos da autora da dissertação) de CO2. Segundo a autora, o brasileiro emite cerca de 0,6
toneladas de CO2 por ano ou 48 toneladas ao longo da vida, considerando 80 anos de idade.
Logo, um hectare de floresta pode estocar as emissões de cerca de 15 pessoas.
Uma árvore com 90 cm de diâmetro por 30 metros de altura (grande porte) pode estocar cerca
de 6 (6,9 pelos cálculos da autora da dissertação) toneladas de carbono (mais de 20 toneladas
de CO2) o equivalente às emissões de 33 pessoas/ano. Mas, uma árvore deste porte leva mais
de cem anos para atingir essas dimensões, mesmo tempo para uma floresta atingir seu estágio
de capacidade máxima de estocagem de carbono. Nessas estimativas de estocagem não foi
considerado o carbono do solo, que aumenta com a maturidade de uma floresta.
Nesta referência foi apresentada a seguinte tabela (4.2) com alguns dados de densidade e
estrutura de espécies adultas de mata atlântica, encontrados na literatura pesquisada [40]:
43
Tabela 4.2 Densidade e estrutura de algumas espécies maduras da mata atlântica [40]
Diâmetro (cm)
Nome vulgar Espécie Família Densidade e altura (m) de
(g/cm3) uma arvore
adulta
Schizolobiun
Guapuruvu Caesalpinaceae 0,38 80-100 / 20-30
parahyba
Tabebuia
Caixeta Bignoniaceae 0,39 30-40 / 12-22
cassinoides
Embaúba Cecropia
Cecropiaceae 0,43 20-30 / 6-12
Branca hololeuca
Ingá Ingá vera Mimosaceae 0,58 20-30 / 5-10
Mimosa
Bracatinga Mimosaceae 0,67 30-40 / 5-15
scabrella
Ocotea
Canela-preta Lauraceae 0,75 60-90 / 25-30
catharinensis
Cariniana
Jequitibá Lecythidaceae 0,78 90-120 / 35-45
estrellensis
Tabebuia
Ipê-Roxo Bignoniaceae 0,96 60-90 / 20-30
impetiginosa
Manilkara
Maçaranduba Sapotaceae 1,03 40-70 / 10-25
salzani
Anadenanthera
Angico Mimosaceae 1,05 40-60 / 13-20
macrocarpa
44
5 PRINCIPAIS TRABALHOS COM METODOLOGIAS DE INVENTÁRIO DE
EMISSÕES
Caloria (cal) - quantidade de calor necessária para elevar a temperatura de um grama de água
de 14,5 ºC a 15,5 ºC, à pressão atmosférica normal (760 mm Hg).
1 cal = 4,1855 J e 1 J = 0,239 cal
Poder calorífico é a quantidade de calor produzida pela combustão completa de uma unidade
de massa do combustível, expresso geralmente em kcal/kg. O calor liberado pela combustão
de uma unidade de massa de um combustível numa bomba de volume constante, com toda a
água produzida no estado líquido é definido como Poder Calorífico Superior (PCS). Já o
Poder Calorífico Inferior (PCI) é o calor liberado pela combustão de uma unidade de massa de
um combustível, em pressão constante, com a água vaporizada.
45
multiplica-se esse consumo energético pelo fator de emissão de cada GEE, expresso em kg ou
toneladas do GEE por TJ (tabelado pelo IPCC ou desenvolvido no País) para esse
combustível e chega-se a um valor de kg do GEE emitido.
Repete-se o procedimento para cada combustível consumido e cada GEE. Para obter o
resultado final, somam-se todas essas parcelas. Caso o inventariante queira obter os resultados
de todos os GEE’s baseados em CO2, basta converter os GEE’s não CO2 em CO2e (CO2
equivalente) através dos seus PAG’s correspondentes.
Para o GEE CO2, os fatores de emissão refletem o teor padrão (default, em inglês) de carbono
de cada combustível por unidade de energia contida (no setor energia) que é baseada no PCI
do combustível. Nas versões anteriores à do IPCC 2006, os fatores eram expressos em
toneladas de carbono (C) por TJ. Os fatores padrões de emissão (FE’s) para os outros GEE’s
não CO2, tais como metano (CH4) e óxido nitroso (N2O) também são expressos em kg CH4/TJ
e kg N2O/TJ, respectivamente.
Os métodos do IPCC também apresentam três níveis de complexidade relativos aos fatores de
emissão, visando diminuir as incertezas, que vão desde os valores padrões tabelados (nível 1)
até a tecnologia do equipamento de combustão, condições operacionais, etc.(nível 3) passando
pelos fatores desenvolvidos pelo país sendo inventariado (nível 2) para a versão 2006.
O conceito desses níveis mudou das versões anteriores do IPCC para a de 2006, mas não é o
foco por ora, pois o método adotado no inventário do estudo de caso adotou a de 2006.
CO2 = Mc*PCI*FE*44/12
Onde:
CO2 é a quantidade em t ou kg do CO2 emitido, quer seja CO2 ou CO2 eq (de outros GEE’s);
Mc é a massa do combustível consumido em Gg (Gg = gigagrama = 109 g) t ou kg para fins
energéticos;
PCI é o poder calorífico inferior geralmente expresso em TJ/kg , definido anteriormente neste
46
capítulo;
FE é o fator de emissão de carbono, expresso em tC/TJ;
44/12 é a relação de pesos moleculares de CO2/C, para transformar a massa de carbono em
CO2.
Quase todos os métodos encontrados se basearam nos fatores de emissão (FE em tC/TJ da
equação 1 apresentada) do IPCC 1996, pois a versão mais nova é a de 2006, onde os FE’s já
são expressos em kg de CO2/TJ. Assim, a equação 1 não usa o fator 44/12, para a última
versão 2006 pesquisada e adotada no trabalho desta dissertação.
5.1 Primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa por
queima de combustíveis: abordagem “top-down”.
Em escala macro, o COPPE elaborou e o MCT coordenou esse inventário pela metodologia
Top-down [44] recomendada pelo IPCC de 1996 (Reference Manual) [45] mas adaptada para
calcular as emissões de carbono do sistema energético brasileiro. O trabalho visou comparar a
evolução das emissões de CO2 de 1990 a 1994, por setores e seus consumos de combustíveis
fornecidos em tep pelo BEN (Balanço Energético Nacional).
A tep representa a energia contida em uma tonelada do petróleo médio consumido, que, em
média, é 10.000 Mcal. No Brasil, essa energia corresponde a 10.800 Mcal ou 45,217 x 10-3
TJ, que é função do tipo de petróleo adotado. Assim, se 1 tep padrão é igual a 10.000 Mcal
(41,868 x 10-3 TJ), 1 tep brasileira será igual a 10.800/10.000 x 41,868 x 10-3 TJ = 45,217 x
10-3 TJ ~ 45,22 x 10-3 TJ
Os dados fornecidos pelo BEN (consumo em tep) se baseiam no PCS ao invés do PCI (os
fatores de emissão do IPCC se baseiam no PCI) dos combustíveis. Assim, não é possível
transformar as quantidades expressas em tep diretamente para TJ. Nesse trabalho do MCT,
cada tep com base no PCS foi convertido para TJ baseado no PCI, através da seguinte
expressão:
47
Fator de conversão (tep com base em PCS para TJ com base em PCI) = 45,22x10-3 x fator de
correção;
onde o fator de correção para os combustíveis sólidos e líquidos é 0,95 e 0,90 para os
combustíveis gasosos, conforme recomendação do método do IPCC empregado nesse
trabalho do MCT.
Esse método permite calcular as emissões de CO2, apenas com dados sobre a oferta de energia
do país sem detalhar o destino onde esta energia é consumida. Consiste na quantificação da
produção doméstica (brasileira, no caso) de combustíveis primários, das importações e
exportações de combustíveis primários e secundários e da variação interna dos estoques
destes combustíveis.
Para se ter uma idéia, pode-se resumir essa metodologia nas seguintes etapas:
1. Avaliação do consumo dos combustíveis, nas suas unidades de medida originais.
2. Conversão desse consumo para uma unidade de energia (TJ) através do PCI de cada
combustível.
3. Transformação desse consumo de cada combustível em conteúdo de carbono, através
da sua multiplicação pelo fator de emissão de carbono do combustível considerado.
4. Quantificação do carbono de cada combustível destinado para fins não energéticos e
dedução desta quantidade de carbono contido no consumo citado no item 3, para
calcular o conteúdo real de carbono que pode ser emitido.
5. Correção dos valores encontrados na etapa 4, considerando combustão incompleta do
combustível, descontando a fração não oxidada (fornecida pelo IPCC) para calcular a
quantidade de carbono oxidado na combustão.
6. Conversão da quantidade de carbono oxidado em emissões de CO2, através da razão
do peso molecular de CO2 (44) com o peso atômico do carbono (12).
A emissão de CO2 pelo uso de uma fonte de energia pode ser determinada, através da seguinte
48
equação:
onde:
ω = emissão anual real de CO2 (Gg CO2)
α = produção anual doméstica de energia primária, medida em unidade original
β = importação anual de energia primária e secundária, medida em unidade original
χ = exportação anual de energia primária e secundária, medida em unidade original
δ = energia anualmente embarcada em bunkers internacionais, medida em unidade original
ε = variação anual dos estoques de energia (positiva, caso haja aumento dos estoques),
medida em unidade original
Φ = fator de conversão da unidade original para terajoules (TJ/unidades originais)
γ = fator de emissão de carbono por unidade de energia contida no combustível (t C/TJ)
η = quantidade anual de carbono estocado em produtos não energéticos (t C)
λ = fração do carbono realmente oxidado na combustão
Esse método adotado pelo MCT não apresenta qualquer detalhamento do setor ou tecnologia
onde os combustíveis (ou energéticos) foram usados, ou destinos (veículo, equipamento, etc.)
e teve a finalidade de calcular as emissões do País. Além disso, os fatores de emissão são
meras cópias da tabela 1.1 na página 1.13 do capítulo 1 (Energia) do Manual de Referência do
IPCC 1996 [46]. A exceção ficou por conta do álcool, cujo valor foi a média obtida na
CETESB (1994) dos fatores de emissão da frota nacional. A tabela 5.1, a seguir, mostra os
fatores de emissão de carbono (tC/TJ) usados. [44]
49
Tabela 5.1 Fatores de emissão FEC (t C/TJ) usados no 1º Inventário Brasileiro (Top Down)
[44]
Combustível FEC
Petróleo 20
Primários
Líquidos de Gás Natural 17.2
Gasolina 18.9
Querosene de Aviação 19.5
Querosene Iluminante 19.6
Óleo Diesel 20.2
Óleo Combustível 21.1
Fósseis-Líquidos GLP 17.2
Secundários Nafta 20
Asfalto 22
Lubrificantes 20
Coque de Petróleo 27.5
Outros Produtos Secundários de Petróleo 20
Outros Produtos Não Energéticos de 20
Petróleo
Carvão Metalúrgico 25.8
Primários
Carvão Vapor 25.8
Fósseis-Sólidos
Alcatrão 25.8
Secundários
Coque de CM 29.5
Primários Gás Natural 15.3
Fósseis-Gasosos
Secundários Gás de Refinaria 18.2
Outras Primárias Fósseis 20
Lenha para Queima Direta 29.9
Lenha para Carvoejamento 29.9
Biomassa-Sólida Bagaço de Cana 29.9
Resíduos Vegetais 29.9
Carvão Vegetal 29.9
Caldo de Cana 20
Melaço 20
Biomassa-Líquida
Álcool Anidro 14.81
Álcool Hidratado 14.81
50
Os fatores desta tabela (5.1) são os recomendados pelo IPCC (IPCC, 1996), com as exceções
a seguir:
Esta metodologia apresenta ainda as estimativas das emissões de CO2 oriundas do consumo de
biomassa no sistema energético e analisa a sua evolução ao longo do tempo, no período já
mencionado (1990 a 1994). As estimativas das emissões de CO2 da biomassa foram incluídas
no inventário nacional apenas como informação (segundo recomendação do IPCC) sem
adicionar às emissões dos combustíveis fósseis. Ressaltam-se as vantagens comparativas do
Brasil, relativas às emissões de CO2 do seu sistema energético pelo uso de fontes renováveis,
e a necessidade de implantar políticas para a manutenção dessas vantagens. [47]
Foi considerado que 50% da lenha energética para o setor residencial eram renováveis, pelo
tipo de coleta praticado – aparas de árvores e lenha catada do chão. Logo, somente 50% do
51
consumo residencial contribuíram para o aumento do efeito estufa. Para o setor industrial,
levou-se em conta que apenas 20% da lenha usada eram de origem renovável (principalmente
nas indústrias de papel e celulose) pelos programas de reflorestamento.
Considerou-se que toda a lenha consumida era renovável, para as usinas autoprodutoras de
eletricidade. Essas hipóteses foram adotadas com base na experiência da equipe do
PPE/COPPE sobre o assunto, já que não foram encontradas estatísticas publicadas sobre uso
de lenha nativa para queima direta.
Para tal finalidade, o referido trabalho visou obter um coeficiente que, multiplicado pelo
consumo de cada energético em um específico setor da economia, forneça a quantidade
emitida de cada um dos gases do efeito estufa.
No cálculo, foram usados os valores dos fatores de emissão fornecidos pelo IPCC, revisão de
1996. Segundo o trabalho, a metodologia do IPCC separa o cálculo dos gases do efeito estufa
da seguinte forma:
52
(TJ), usando o seguinte cálculo: 1tep = 10.000 Mcal = 41,868TJ*10-3. Ou seja, o fator de
conversão para terajoule usado é A = 41,868 TJ/ 103 tep.
Carvão 0,98
Gás 0,995
b.2) Multiplicação pelo fator de emissão (do respectivo gás) para o setor da economia e
referente a esse combustível.
O IPCC fornece fatores de emissão para esses GEE’s (item b) para os energéticos e setores da
economia (em kg/TJ) a seguir:
Energético: petróleo, gás natural, gasolina, diesel, carvão, lenha e rejeitos de lenha, biomassa
e outros.
Setor: Indústria de energia, Indústria manufatureira e Construção, Transporte (aéreo,
rodoviário, ferroviário e hidroviário) e Outros Setores (comercial/institucional, residencial,
agricultura, silvicultura e pesca).
Ficou definido que B = fator de emissão de cada um desses energéticos para cada setor da
economia.
54
5.3 - Avaliação das Emissões de CO2 pelo uso do Processo “Top-Down” Estendido
e&e e&e*
BEN tC/TJ tC/TJ tC/TJ tC/TJ tC/TJ IPCC
Petróleo 20.0 20.0 20 Crude Oil
Líquidos de Gás Natural 17.2 17.2 17.2 Natural Gas Liquids
Gasolina 18.9 18.9 18.9 18.9 Gasoline
Querosene de Aviação 19.5 19.5 19.5 19.5 Jet Kerosene
Querosene Iluminante 19.6 19.6 19.6 19.6 Other Kerosene
Óleo Diesel 20.2 20.2 20.2 20.2 Gas/Diesel
Óleo Combustível 21.1 21.1 21.1 21.1 Residual Fuel Oil
GLP 17.2 17.2 17.2 17.2 LPG
Nafta 20.0 20.0 20.0 20.0 Naphta
Asfalto 22.0 22.0 22.0 22.0 Bitumen
Lubrificantes 20.0 20.0 20.0 20.0 Lubricants
Outros Não Energéticos de Petr. 20.0 20.0 20.0 20.0 Other Oil
Coque de Petróleo 27.5 27.5 27.5 27.5 Petroleum Coke
Carvão Vapor 25.8 25.8 25.8 25.8 Other Bituminous Coal
Carvão Metalúrgico 25.8 25.8 25.8 25.8 Coking Coal
Alcatrão 25.8 25.8 25.8 Tars
Coque de CM 29.5 29.5 29.5 29.5 Coke Oven / Gas Coke
Gás Natural 15.3 15.3 15.3 15.3 Natural Gas (Dry)
Gás de Refinaria 18.2 18.2 18.2 18.2 Other Oil
Outras Fontes Secundárias Petr. 20.0 20.0 20.0 20.0 Other Oil
Gás Canalizado 18.2 15.3
Gás de Coqueria 29.5 29.5 29.5 13.0 Coke Oven Gás
Lenha Queima Direta 28.6* 29.9 28.6 29.9 29.9 Solid Biomass
Lenha Carvoejamento 28.6* 29.9 28.6 12.4 29.9 Solid Biomass
Carvão Vegetal 29.9 29.9 20.5 32.2 29.9 * Solid Biomass
Caldo de Cana 20.0 20.0 20.0 Liquid Biomass
Melaço 20.0 20.0 20.0 Liquid Biomass
Bagaço 24.2* 29.9 24.2 29.9 29.9 Solid Biomass
Resíduos Vegetais 29.9 29.9 29.9 29.9 Solid Biomass
Turfa 28.9 Peat
Outros Primárias Fósseis 20.0 20.0 20.0 20.0 Other Primary Fuel Fóssil
Lixívia 20.0 20.0 20.0 20.0 Liquid Biomass
Álcool Etílico Anidro 18.8* 14.8 18.8 14.8 20.0 Liquid Biomass
Alcool Etilico Hidratado 18.8* 14.8 18.8 20.0 Liquid Biomass
Alcatrão + Pirolenhoso 23.9 Solid Biomass
Convenção da *
Tabela 2.2 Coincidentes com IPCC e outros Adotados IPCC Cálculo e&e
(*) Os valores recomendados pelo IPCC referem-se genericamente à biomassa líquida ou sólida.
55
A tabela 5.3 mostra que quase todos os valores de fatores de emissão coincidem com os do
IPCC, salvo as seguintes exceções:
5.4 Primeiro inventário brasileiro de emissões antrópicas de gases de efeito estufa por
queima de combustíveis (abordagem bottom-up) COPPE/MCT [50]
O relatório desse inventário apresenta estimativas das emissões de dióxido de carbono (CO2)
metano (CH4) monóxido de carbono (CO) óxidos de nitrogênio (NOx ) óxido nitroso (N2O) e
de compostos orgânicos voláteis não metânicos (NMVOC) oriundos da queima de
combustíveis no Brasil no período de 1990 a 1994 [50].
Esse trabalho se baseou na abordagem bottom-up das Diretrizes Revisadas de 1996 do IPCC
[51]. O inventário calculou o CO2 pelo nível 1 e os outros gases pelo nível 2 (mais detalhado)
de acordo com a versão do IPCC adotado na época.
O relatório desse inventário foi dividido em duas partes. A primeira apresentou os cálculos e
análises das emissões de CO2 por setor e a segunda, das emissões setoriais dos outros GEE’s.
As análises das emissões foram feitas à luz das peculiaridades da matriz energética brasileira
oferecida ao País da época, em que predominou o uso de fontes de energias renováveis,
energia hidráulica, bagaço e álcool de cana-de-açúcar, o carvão vegetal e lenha.
56
Dos gases não-CO2, apenas o CH4 e o N2O são gases de efeito estufa direto. As emissões de
CH4 e N2O foram principalmente associadas a quatro combustíveis: o Álcool Etílico, a Lenha,
o Bagaço e o Carvão Vegetal. Esses quatro combustíveis juntos foram responsáveis por 96%
das emissões de CH4 e de 73% das emissões de N2O.
A metodologia do IPCC tem como referência [50] pesquisas e metodologias elaboradas por
especialistas de países desenvolvidos, onde as emissões oriundas da queima de combustíveis
fósseis significam a maior parcela de suas emissões.
Assim, a metodologia e os fatores de emissão devem ser aplicados com cuidado, pois não
refletem totalmente, a realidade brasileira. “O uso da metodologia do IPCC pelos países em
desenvolvimento impõe a esses países um ajuste a um sistema para cuja elaboração pouco
contribuíram”, segundo o relatório do inventário em referência. Mas não há pesquisa no Brasil
para avaliar os fatores apresentados e a metodologia proposta, segundo esse relatório
(COPPE/MCT).
Segundo o mesmo relatório, ainda não há no Brasil, legislação que obrigue as empresas a
fornecer informações com respeito às suas emissões de GEE’s. Além disso, a busca e coleta
de informação não são adequadas por causa do alto custo de obtenção e armazenamento de
dados, quando comparado a qualquer melhoria da precisão da estimativa.
Portanto, não se justifica o inventário de emissões de GEE’s por si só. Assim, devem-se
priorizar estudos e pesquisas de emissões nos setores e GEE’s principais, pois as estimativas e
a qualidade dos dados podem melhorar ao longo do tempo, ainda aponta esse relatório.
Segundo Tannizak, Lenny, autora do trabalho “Base teórica para o cálculo de emissões de
CO2 relacionadas a meios de transporte”, os combustíveis mais usados em transportes no
Brasil são [40]:
57
• Gás Natural Veicular (GNV) (automotivo)
• Querosene de Aviação (QAV) (aéreo)
De acordo com a autora, deve-se avaliar o consumo do combustível (ou teor de carbono), do
rendimento e da maneira como o motorista dirige o veículo, para se calcular a emissão de CO2
(principal GEE veicular). Entende-se a maneira que o motorista dirige o veículo, como muitas
paradas ou freadas seguidas de mais ou menos bruscas acelerações, etc.
Na metodologia em questão, foi considerado carro de passeio como o veículo com apenas um
passageiro e os ônibus com 30 passageiros. O cálculo anual considera a distância percorrida
por dia multiplicada por 365 dias por ano. Essa consideração visou a emissão causada pelo
transporte por pessoa. Para calcular as emissões causadas pelo transporte de uma pessoa,
foram adotadas as equações abaixo:
Carro:
Emissões (kg de CO2) = CC x DP x DC x TC x 3,6
Ônibus:
Emissões (kg de CO2) = CC x DP x DC x TC x 3,6 / NP
Onde:
CC = Consumo de combustível (l/km)
DP = Distância percorrida (km)
DC = Densidade do combustível (kg/l)
TC = Teor de carbono no combustível (%)
NP = Número de passageiros
TO = Taxa de ocupação dos assentos
No trabalho em referência, foi feita a tabela 5.4 abaixo, com fatores de emissão por
quilômetro percorrido. Para carros de passeio, o consumo de gasolina é função da potência do
veículo.
58
Tabela 5.4 Fatores de emissão para carros de passeio [40]:
Consumo
Teor densidade Emissões
Combustível Pass./ônibus km/l
C (kg/l) (kgCO2/km)
ou (l/km)
Transporte aéreo: não foi incluído neste trabalho [40], por não ser objeto do estudo proposto.
59
5.6 - IPCC 2006
A metodologia do IPCC 2006 [52] – Diretrizes para Inventários Nacionais de GEE’s que
atualizou a de 1996 é composta por 6 volumes, quais sejam:
• “Diretrizes para Inventários Nacionais de GEE’s” (com 4 capítulos)
• “Volume 1 Orientação Geral e Relatório” (com 8 capítulos)
• “Volume 2 Energia” (com 6 capítulos)
• “Volume 3 Processos Industriais e Uso do Produto” (com 8 capítulos e 4 anexos)
• “Volume 4 Agricultura, Silvicultura e Outro Uso da Terra” (com 12 capítulos e 3
anexos)
• “Volume 5 Lixo”
Essas novas diretrizes de 2006 abrangem novas fontes e gases e atualizam os métodos
anteriormente aplicados onde houve progresso do conhecimento técnico e científico.
Nível 1
O Nível 1 é um método que se baseia na quantidade de cada combustível queimado e nos seus
fatores “default” de emissão, que o IPCC disponibiliza para todos os GEE’s relevantes (CO2,
CH4 e N2O).
A qualidade desses FE’s varia entre os GEE’s. Os FE’s para o CO2 dependem principalmente
do conteúdo de carbono (C) no combustível, não tendo importância significativa as condições
de combustão (eficiência, carbono retido nas cinzas, etc.). Assim, tem-se um valor bem
preciso através da quantidade de combustíveis queimados e do conteúdo padrão de C de cada
combustível. Os FE’s (default) do IPCC para cada combustível e cada GEE podem ser
encontrados nos capítulos 2 e 3 do Volume 2 (Setor Energia), para as fontes estacionárias e
60
móveis, respectivamente.
Para os esses GEE’s não CO2, o IPCC tenta diminuir as incertezas, usando fatores de emissão
por tipo de equipamento ou veículo; por exemplo, o fator de emissão “default” de N2O para
gás natural queimado em equipamentos não discriminados em indústrias (0,6 kg N2O/TJ) é
diferente do fator para caldeiras, usando o mesmo gás natural (1 kg N2O/TJ). Ambos os
fatores são fornecidos pelo IPCC.
Por essa razão, foi citado no Capítulo 2, página 6, que quanto maior o detalhamento do
consumo de combustível por equipamento, melhor será o resultado, quanto à precisão. Em
outras palavras, menores serão as incertezas.
Nível 2
Nível 3
61
estejam medindo outros poluentes como SO2 ou NOx.
Cabe ressaltar que o IPCC 2006 Volume 2 - Energia adotado apresenta os resultados das
emissões por fontes estacionárias separadas das móveis, por combustível e por GEE,
diferentemente da abordagem da metodologia da ABNT, a seguir.
62
A seguir, são mostradas as definições adequadas ao presente inventário e adotadas por esse
projeto de Norma da ABNT, visando organizar os resultados por fontes usuárias de
combustíveis e os gases emitidos. Assim, o projeto define:
A forma de apresentação dos resultados por este projeto de Norma (fontes diretas e indiretas)
difere da do IPCC (fontes estacionárias e móveis) e foi adotada neste trabalho.
É importante ressaltar que esse projeto não propõe qualquer método para o cálculo do
inventário de emissões, como pode ser visto no ANEXO II. A escolha do método de cálculo
fica por conta do responsável pelo inventário. Ele apenas ajuda a organizar os dados, os
resultados e na apresentação do relatório do inventário.
63
6. ESTUDO DE CASO
Ela produz insumos para indústria de petróleo, suprindo o mercado nacional e parte do
mercado Latino Americano, com capacidade instalada de 32.000 t/ano dos produtos. Essa
empresa não autorizou divulgar o tipo de produtos, sua razão social e nem esclarecer seu
fluxograma. Entretanto, forneceu e autorizou a divulgação do fluxograma simplificado,
conforme a figura 6.1 a seguir.
64
Figura 6.1 Fluxograma da empresa avaliada
BOC H2SO4 BOC NaOH Caulim Água NaHMP ReCl3 HCl
Sulfato de
Aluminato Caulim Terras Raras
Aluminio
Silicato de Sódio
Preparo da Preparo da
Água Decationizada Soda Cáustica
Alumina Zeólita NaY
Água Decationizada
Solução Amoniacal
BOC
Troca Iônica Solução de Troca Iônica
PREPARO DA
NaOH 50% Moagem,
ALUMINA H
Secagem e Recuperação do
HCS seed
Calcinação RE
Solução de PRA
Atmosfera
Secagem "Spray" Recuperação de Finos
Gases
Lavagem
Queima de Gases (TDU) Solução Amoniacal ((NH4)2SO4
e água p/ lavagem
Secagem "Flash"
Calcinação
FCC Acabado
65
6.2 Situação ambiental da empresa pesquisada
A geologia da área é marcada pela presença de depósitos fluviais intercalados com depósitos
marinhos, composta predominantemente por argila e secundariamente por areia.
Existe o Canal de São Francisco a uma distância aproximada de 0,5 km a leste da fábrica.
Deste canal, atualmente é bombeada a água que abastece a empresa depois de ser processada
em sua estação de tratamento de água.
Esse resíduo sólido gerado pela fábrica é seco, com fração de argila e composto por sódio,
cloreto, amônia, sulfato e elementos da família dos lantanídeos (terras raras) possuindo como
principal característica a salinidade (prejudicial ao meio ambiente) com a seguinte
composição em base seca: 9.4 % Na2O, 6.03 % de SO4, 2.963 ppm de Cl, 53,9% SiO2 , 130
ppm de NH4 e 3,8% de Óxido de Terras Raras. O resíduo foi caracterizado como não inerte
classe II, segundo a norma 10.004 da ABNT, em função da presença de sulfato e cloreto de
sódio.
66
6.2.4 Ações na área ambiental
Em 2002, passou a ser utilizada parte da água bruta captada do canal mencionado em
substituição à da área de utilidades com as seguintes características vantajosas:
67
(Tabebuia impetiginosa), Ipê Roxo (Tabebuia heptaphyla), Albízia (Albizia Lebecck),
Jamelão( Syzygium cumini (L.) ), Aroeira (Schinus terebinthifolius ), Guapuruvu
(Schizolobium parahyba), Orelha de Negro (Enterolobium contortisiliquum), Olho de Dragão
(Adenanthera pavonina ), Cedro Rosa (Cedrela fissilis), Pata de Vaca (Bauhinia fortificata),
Sabiá (Mimosa caesalpineafolia) e Topã (Ochroma pyramidale) produzidas no próprio horto
florestal da fábrica.
Como atividades da empresa em relação ao horto, também são realizadas as seguintes ações:
produção de mudas e compostagem de escolas de municípios vizinhos e entidades
governamentais, doações de mudas a pessoas físicas, jurídicas e entidades governamentais
interessadas e práticas de educação ambiental. Compostagem é o tratamento de resíduos
orgânicos através de sua biodegradação controlada e pode ser definida como um processo
aeróbico (presença de ar).
O horto da empresa é composto por seis áreas: preparo das sementes e transplantes de mudas,
sementeira, viveiro, canteiro de crescimento de mudas, compostagem e canteiro para cultivo
de plantas medicinais. O viveiro possui uma área de compostagem para a produção de adubo
orgânico que é utilizado no próprio horto florestal.
Cada baia mede 2,5 x 2,0 x 2,0 m = 10m3. Como há 21 baias, seu volume total é de 210m3.
O aporte médio mensal de insumos é de 20m3 e a densidade do composto gira em torno de
0,62g/ml.
68
A empresa produz cerca de 1500 mudas por mês, originárias do seguinte processo:
3. Essas sementes vão para a sementeira para germinarem, onde ficam cerca de 30 dias,
conforme a espécie.
4. Após esse tempo, essas sementes germinadas vão para a área com sombrite, uma fase
intermediária para o desenvolvimento, onde permanecem de 30 a 40 dias. O sombrite
é uma tela que permite uma distribuição uniforme da luz no interior do viveiro,
evitando o desenvolvimento irregular das mudas.
5. Finalmente, vão para uma área externa (ao sol) prontas para serem doadas.
Foi realizada uma estimativa da capacidade de absorção de CO2 pelas mudas do horto, cujos
valores foram os encontrados na literatura [39] para as plantas comuns a essas mudas e estão
apresentados na tabela do ANEXO III. Para as mudas de plantas sem referência bibliográfica,
adotou-se um valor de 2,5 kg de C resgatado por indivíduo e por ano (ou absorção de 8,5 kg
CO2/ind./ano), baseando-se na sugestão da bióloga da empresa (é um valor aproximado da
média dos dados dessa referência [39] (2,7 kg C/indivíduo/ano) considerando uma
sobrevivência das mudas em torno de 50%, também adotada nessa referência.
A base de cálculo para a estimativa das capacidades de absorção de CO2 fixado no composto
orgânico, bem como resultado por indivíduo e total absorvido pelas plantas estão no ANEXO
III.
69
6.3 Levantamento do Inventário de emissões
A eletricidade comprada e consumida foi a fonte de emissão indireta da empresa. Para saber
ou calcular quanto emite cada GWh produzido, a autora deste trabalho solicitou dados da
matriz de geração de eletricidade junto a diversas instituições, quais sejam: ANEEL, ONS,
MCT, COPPE e MME. Apenas o MME forneceu os dados apresentados no ANEXO IV, que
serviram de base para os cálculos (pela autora desta dissertação) da emissão de CO2 por GWh
produzido no Brasil.
Ficou estabelecido que a abrangência do inventário incluiria essas emissões mencionadas, não
levando em conta as emissões decorrentes da fabricação das matérias primas ou do uso do
produto da empresa. Além disso, não foram também consideradas as viagens aéreas dos
funcionários da empresa em questão.
Apesar da adoção da metodologia do IPCC que separa os resultados das emissões por fontes
móveis das de fontes estacionárias, os resultados deste trabalho foram apresentados pelas
definições de fontes diretas e indiretas do Projeto 38:009.01-001/1 de Norma da ABNT [2]
70
sobre “Especificação e orientação a organizações para a quantificação e a elaboração de
relatórios de emissões e remoções de gases de efeito estufa” de janeiro de 2007.
Entretanto, nada impede apresentar também os resultados de acordo com o IPCC, somando
separadamente as emissões de todas as fontes e de todas as estacionárias. O resultado final é o
mesmo, pois os resultados são apenas organizados e apresentados de outra forma.
Para os combustíveis usados pela empresa, os FE’s em kg de CO2/TJ, adotados pelo IPCC
2006, nada mais são do que os FE’s do IPCC 1996 (carbono padrão contido no combustível
em tC/TJ ou toneladas de carbono por terajoule), multiplicados por 1000 (de t para kg) e por
44/12 que é a relação da massa molecular do CO2 para a massa atômica do carbono, conforme
citado anteriormente no Capítulo 5. Para exemplificar e comparar, a tabela 6.1 a seguir
apresenta os valores dos FE’s dos IPCC de 1996 e os de 2006, para os combustíveis usados
pela empresa estudada.
Essa tabela 6.1 é a tradução (pela autora) de parte da tabela 1-1 da página 1.13 do capítulo 1 –
Energia do Manual de Referência das Diretrizes Revisadas de 1996 para Inventários
Nacionais de GEE’s [53] e de parte da tabela 1-4 da página 1.23 do capítulo 1 – Energia –
Introdução das Diretrizes de 2006 para Inventários Nacionais de GEE’s [54], ambas do IPCC.
No presente trabalho, para o cálculo das emissões de CO2, foram usados esses valores
“default” dos FE’s do IPCC 2006 (tabela 6.1) já em kg CO2/TJ, como apresentados na tabela
6.1, para os combustíveis usados pela empresa estudada, para fontes estacionárias e móveis,
pois já foi comentado na página 60 que os “FE’s para o CO2 dependem principalmente do
conteúdo de carbono (C) no combustível, não tendo importância significativa as condições de
combustão (eficiência, carbono retido nas cinzas, etc.).”
71
Tabela 6.1 Valores de tC/TJ de CO2 e de kg CO2/TJ (IPCC 1996 e 2006) [53] [54]
IPCC 1996 IPCC 2006 [54]
[53] Em kg CO2/TJ
Em tC/TJ
Combustível Valor Valor Limite inferior Limite superior
“default” “default” (*) (*)
Gás Natural 15,3 56.100 54.300 58.300
Gasolina 18,9 69.300 67.500 73.000
GLP 17,2 63.100 61.600 65.600
Óleo diesel 20,2 74.100 72.600 74.800
(*) Intervalo de confiança igual a 95%
Para transformar o consumo do combustível em energia (TJ) foram usados os valores dos
PCI’s e densidades dos combustíveis usados pela empresa e encontrados no Anuário
estatístico de 2005 da ANP ANEXO V Cabe destacar que essa foi a única referência
encontrada com esses dados, após diversas pesquisas bibliográficas. Mesmo assim, esse
Anuário apresentou apenas os valores médios, sem qualquer informação sobre desvios
padrões dessas características, apesar dos combustíveis não serem substâncias puras, devendo
apresentar faixas de variação, dentro de um intervalo de confiança aceitável.
Para exemplificar a variabilidade dos derivados de petróleo mesmo no Brasil, basta dizer que
a especificação da ANP no ANEXO I [55] para o PCS do GN (combustível composto
praticamente só por metano e etano) varia de região para região no Brasil e até dentro da uma
mesma região, ou seja, de 34.000 a 38.400 kJ/m3 na região Norte.
Para as outras regiões, incluindo o Sudeste (onde se encontra a empresa estudada) os valores
especificados vão de 35.000 a 42.000 kJ/m3. Sua composição também varia entre essas
regiões: mínimo 68% para metano e máximo 12% de etano para a região Norte e mínimo 86%
e máximo 10%, respectivamente para esses compostos, nas outras regiões (incluindo o
Sudeste, por essa especificação da ANP.
Para calcular os GEE’s CH4 e N2O (gases não CO2) foram usados os FE’s (“default”) da
tabela 2.3 de página 2.18 do Capítulo 2: Combustão Estacionária (quanto às fontes) e os FE’s
72
da tabela 3.2.2 da página 3.21 do Capítulo 3: Combustão Móvel (fontes móveis) ambos do
Volume 2 – Energia das Diretrizes do IPCC de 2006 para Inventários Nacionais de GEE’s.
Parte dessas tabelas foi traduzida pela autora deste trabalho, gerando as tabelas 6.2 e 6.4 com
os FE’s dos combustíveis usados pela empresa.
O próprio nome da tabela 6.2 já indica que esses FE’s são usados para qualquer fonte
estacionária industrial (sem discriminação do equipamento). Entretanto, o IPCC prevê uma
desagregação, através de FE’s específicos para cada equipamento de combustão industrial
(Tabelas 2.6, 2.7 e 2.8 nas páginas 2.25 a 2.27, respectivamente no capítulo 2: Combustão
Estacionária do Volume 2 - Energia) e numa parte traduzida e condensada pela autora na
tabela 6.3 abaixo (para o GN - único combustível usado no processo da fábrica em questão):
O valor do FE para o N2O desta tabela 6.3 (1 kg/TJ) difere cerca de 10 vezes do da tabela 6.2
(0,1 kg/TJ), para o mesmo combustível (GN) e o mesmo GEE. Essa diferença mostra como é
importante desagregar os consumos dos combustíveis nos equipamentos. A empresa estudada
73
não tinha os valores de GN por equipamento, acarretando o uso dos valores “default” dos
FE’s da tabela 6.2 (consumo de GN agregado ou total usado em todos os equipamentos do
processo).
Essa tabela 6.4 mostra a diferença entre as emissões dos motores a gasolina sem e com
catalisador, tanto para o CH4 (33 e 25 kg/TJ) como para o N2O (3,2 e 8,0 kg/TJ), confirmando
o que já foi mencionado sobre a influência da tecnologia sobre a emissão desses gases. Assim,
quanto mais desagregados (ou separados) os consumos por equipamento, mais específicos e,
portanto, mais precisos serão os resultados, mesmo no nível 1 do IPCC.
Para os GEE’s CH4 e N2O, foram calculadas as emissões em CO2e, através da multiplicação
das quantidades calculadas desses gases pelos seus respectivos PAG’s (em relação ao CO2 )
cujos valores são 21 e 310, respectivamente.
A CETESB publicou um trabalho em 2006 [59], mostrando o teor médio de emissão de CO2
(não tinha as de CH4 e de N2O) para veículos leves novos, para a gasolina C, que é uma
mistura de 78% de gasolina A com 22% de álcool. Mas, tanto o IPCC [59] diz que “As
emissões de CO2 da combustão de biomassa não são incluídas nos totais nacionais, mas são
74
registradas como um item de informação” como o Projeto de Norma da ABNT [2] diz: “As
emissões de CO2 originadas da combustão de biomassa deverão ser quantificadas
separadamente”. Assim, ambas prevêem o cálculo separado para as emissões de biomassa,
como é o caso do álcool na gasolina C.
Como já foi comentado, para calcular a quantidade emitida do GEE por um determinado
combustível, multiplica-se o seu fator de emissão (kg de GEE/TJ) para esse combustível pelo
seu volume queimado e transformado em energia, através do seu PCI em TJ/l ou TJ/kg. Os
fatores de emissão usados já foram apresentados nas tabelas 6.1, 6.2 e 6.4.
75
Tabela 6.5 Consumo de matérias primas (Potenciais geradores de GEE’s no Processo)
SACAROSE Consumo de
ANO MÊS comprada, t (sol. a GÁS NATURAL
3
66%) no Processo, m
Para o cálculo das outras emissões indiretas, a empresa forneceu o consumo veicular de
cargas e pessoas, a distância média percorrida por viagem, bem como o número de viagens
por/mês ou por/ano, além do consumo médio de cada veículo apresentados nas tabelas 6.7 e
6.8. Esses dados foram organizados e os totais de combustíveis para cada tipo de veículo
76
foram calculados (pela autora desta dissertação) nas 2 últimas colunas (Tabelas 6.7 e 6.8).
Tabela 6.7 - Dados e cálculo do consumo em litros de óleo diesel em transporte de cargas
Distância
Consumo Quantidade Numero
média Consumo
Modelo Tipo do médio de transportada de Total km
por combustível
do veículo combustível combustível em t por viagem ano
viagem litros
km/l viagem por ano
em km
Caminhão
Diesel 4 1 500 120 60000 15000
TRUCK
Caminhão
com Diesel 4 0,88 41 13 533 133,25
caçamba
77
Tabela 6.7 Dados e cálculo do consumo em litros de óleo diesel em transporte de cargas
Continuação
Navio
4 500 18900 4 75600 18900
(China)
Caminhão
Diesel 4 19 85 105 8925 2231,25
(big bag)
Caminhão
4 19 420 56 23520 5880
TRUCK
Navio
4 630 9400 4 37600 9400
(Alemanha)
Caminhão
Diesel 4 25 85 100 8500 2125
(big bag)
Caminhão
Diesel 4 23 380 143 54340 13585
TRUCK
Caminhão Diesel 4 18 600 6 3600 900
78
Tabela 6.8 Dados e cálculo de consumos totais dos combustíveis para transporte de pessoas
Distância
média Numero Total
Total Total km
Tipo do Tipo do Consumo médio de por de consumo
km/ todos
veículo combustível combustível viagem viagem todos
veículo veículos
em km/ por mês veículos
veículo
Automóvel
(14 GNV, 307440
3 14 122 2520 307440 4304160 3
veículos de km/m m
passeio)
Diesel
Ônibus (6) 3 163 122 19886 119316 39772 l
km/litro
GNV, 3
Automóvel 3 14 200 22 4400 4400 314 m
km/m
GNV, 3
Automóvel 3 14 125 872 109000 109000 7786 m
km/m
Automóvel
Gasolina
(3 veículos 12 168 22 3696 11088 924 l
km/litro
de passeio)
Automóvel
(2 veículos
Gasolina
de passeio 12 140 22 3080 6160 513 l
km/litro
com
catalisador)
Automóvel
GNV, 3
(9 veículos 3 14 50 234 11700 105300 7521 m
km/m
de passeio)
Automóvel
GNV, 3
(2 veículos 3 14 40 120 4800 9600 686 m
km/m
de passeio)
Diesel
Ônibus 3 40 22 880 880 293 l
km/litro
km Volume
A empresa também forneceu dados que permitiram fazer o balanço de massa da sacarose e,
consequentemente, calcular as emissões de CO2. A tabela 6.9 apresenta esses dados também
organizados e o balanço de massa da sacarose excedente para tratamento (calculado pela
autora deste trabalho).
79
A tabela 6.9 mostra o total de solução a 66% de sacarose comprada (3282,9 t de solução que
corresponde a 2166,7 t de sacarose base seca, tbs) e do produto (11809,0 t) que reteve 0,8%
de sacarose (cerca de 94 t de sacarose base seca, tbs) permitindo calcular a quantidade que
sobrou (ou excedente) de sacarose (2073 t) enviada no efluente a ser tratado numa outra
empresa.
Tratamento efluente
80
A tabela 6.10 a seguir apresenta o resumo das características dos combustíveis fornecidas pela
ANP (ANEXO V) e seus consumos (pela empresa) para calculá-los em unidades de energia,
através dos seus PCI’s e densidades.
Tabela 6.10
Dados de entrada para o cálculo dos consumos de combustíveis em unidades de energia
Dado Valor
Consumo de GN no processo, m3 29.129.193
PCI do GN, kcal/kg 11900
Densidade do GN, t/ m3 ou kg/l 0,00074
Consumo de GLP no Refeitório, kg 4860
PCI do GLP 11300
Consumo de óleo diesel na retroescavadeira, l 3000
PCI do óleo diesel, kcal/kg 10350
Densidade do óleo diesel, t/ m3 ou kg/l 0,8520
Consumo de GLP nas empilhadeiras, kg 23040
Consumo de Óleo diesel para transporte de cargas, l 999545
Consumo de Óleo diesel para transporte de pessoas, l 480784
Consumo de gasolina C para transporte de pessoas, l 11088 (1)
PCI de gasolina A, kcal/kg 10550
Densidade da gasolina A, kg/l 0,742
Consumo de gasolina C para transporte de pessoas, l 6160 (2)
Consumo de GN para transporte de pessoas, m3 3884966
(1) Carros sem catalisador
(2) Carros com catalisador
Só foi possível detalhar mais (desagregar) as emissões (gases não CO2) dos veículos com
catalisador dos sem catalisador, pois foram fornecidos os dados de consumo de cada tipo.
Assim, foram adotados os FE’s “default” do IPCC mais precisos, por estarem desagregados
os consumos.
Dessa forma, foram elaboradas as tabelas 6.11 e 6.12 a seguir, para as emissões diretas e
outras emissões indiretas, respectivamente. Para calcular as emissões indiretas, foi
construída a tabela 6.17 detalhada posteriormente, a partir dos dados fornecidos (matriz de
geração de eletricidade) pelo MME, conforme já citado.
Para esclarecer melhor a elaboração dessas 2 tabelas, toma-se como exemplo na tabela 6.11, o
cálculo da emissão de GEE’s do GN total no processo, cujo consumo foi de 29.129.193 m3,
com PCI de 11.900 kcal/kg e densidade de 0,00074 t/m3. Multiplica-se o PCI (kcal/kg) pela
densidade (t/m3) e por 1000 (t para kg), para se obter 8806 kcal/m3. Multiplica-se esse valor
pelo consumo total do GN (29.129.193 m3), para obter-se o consumo em 2,57*1011 kcal, que
é transformado em TJ, dividindo esse valor por 2,39*108 (1TJ = 2,39*108 kcal), resultando
em 1.073,3 TJ de consumo de GN no processo, em unidade energética.
Para calcular o CO2 emitido, basta multiplicar esse consumo energético calculado em TJ
(1.073,3 TJ) pelo FE de CO2 para o GN (56.100 kg CO2/TJ na Tabela 6.1, chegando-se ao
valor de 60210481 kg de CO2 emitidos no processo. Para os outros GEE’s, adota-se o mesmo
procedimento, substituindo o FE do CO2, pelos do N2O (0,1 kg/TJ) e do CH4 (1 kg/TJ),
conforme apresentados na tabela 6.2, chegando a valores de 107 kg de N2O (em laranja) e de
e 1.073,3 kg de CH4 (em verde). Multiplicando-se esses valores pelos respectivos PAG’s
(310 e 21, respectivamente), obtém-se os valores de 33.271 kg CO2e para o N2O e de 22.539
kg CO2e para o CH4.
Somando todos esses valores (em CO2e), chega-se a um valor total de 60266291 kg de CO2e
emitidos no processo. Repete-se esse procedimento para todas as outras fontes, usando os
dados específicos dos FE’s para cada combustível, bem como suas características listadas na
Tabela 6.10. Resumindo, basta fazer uma planilha em Excel e entrar com dados de consumo,
características de cada combustível por equipamento, PAG’s e os FE’s do IPCC ou do País.
82
Tabela 6.11 Cálculo das Emissões Diretas de GEE’s
Emissões Diretas (ABNT)
Considerando ANP 2005 (1)
PROCESSO
3
Consumo GN Processo, 29129193 m
3
PCI = 11900 kcal/kg 8806 kcal/m
3
Densidade = 0,00074 t/m
Consumo GN (em energia) 2,57E+11 kcal 1073,3 TJ
FE CO 2 GN 56100 kg/TJ Emissão CO2: 60210481 kg CO 2
FE N2O GN 0,1 kg/TJ Emissão N2O: 107 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 33271 kg CO 2e
FE CH4 GN 1 kg/TJ Emissão CH4: 1073,3 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 22539 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 60266291 kg CO 2e
REFEITÓRIO
Consumo GLP = 4860 kg
PCI= 11300 kcal/kg
Consumo GLP (em energia) 54918000 kcal 0,23 TJ
FE CO 2 GLP 63100 kg/TJ Emissão CO2: 14499 kg CO 2
FE N2O GLP 0,1 kg/TJ Emissão N2O: 0,023 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 7 kg CO 2e
FE CH4 GLP 1 kg/TJ Emissão CH4: 0,23 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 5 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 14511 kg CO 2e
RETROESCAVADEIRA
Consumo óleo diesel 3000 litros
PCI = 10350 kcal/kg ? 8818 kcal/l
Densidade = 0,852 kg/l
Consumo óleo diesel (em energia) 26454600 kcal 0,11 TJ
FE CO 2 Óleo Diesel 74100 kg/TJ Emissão CO2: 8202 kg CO 2
FE N2O Óleo Diesel 3,9 kg/TJ Emissão N2O: 0,432 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 134 kg CO 2e
FE CH4 Ól. Dies. 3,9 kg/TJ Emissão CH4: 0,43 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 9 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 8345 kg CO 2e
EMPILHADEIRA
Consumo de GLP 23040 kg
PCI= 11300 kcal/kg ?
Consumo GLP (em energia) 2,6E+08 kcal 1,09 TJ
FE CO 2 GLP 63100 kg/TJ Emissão CO2: 68737 kg CO 2
FE N2O GLP 0,2 kg/TJ Emissão N2O: 0,22 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 68 kg CO 2e
FE CH4 GLP 62 kg/TJ Emissão CH4: 67,5 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 1418 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 70223 kg CO 2e
Outras Fontes estacionárias
Produto PAG(4) Consumo kg CO2eq
CFC-12 10600 27 kg 286200
HCFC-22 1700 204 kg 346800
HFC-134a 1300 68,1 kg 88530
721530 kg CO 2eq
Total Emissões Diretas (ABNT) 61080900 kg CO 2e
(1) Anuário Estatístico da ANP
(2) Potencial de Aquecimento Global
83
Na tabela 6.11 são também apresentadas as emissões diretas dos gases refrigerantes: CFC-12
(27 kg/ano), HCFC-22 (204 kg/ano), HFC-134a (68,1 kg/ano) de outras fontes estacionárias.
Essas quantidades foram fornecidas pela empresa, considerando o volume usado para
completar o nível dos equipamentos em 2006, ou seja, para substituir o que foi perdido para a
atmosfera. A quantidade de cada um desses gases foi multiplicada pelo seu respectivo PAG,
para transformá-la em CO2e e somar às outras emissões em CO2 ou CO2e.
Foi também calculado o FEC para o álcool, através do seu PCI (6750 kcal/kg) e da relação do
peso molecular do etanol para 2 átomos de carbono (relação estequiométrica) na mesma
tabela 6.13. O FEC assim calculado (18,3 tC/TJ) foi comparado aos FEC’s obtidos de outras
fontes já mencionadas na pesquisa bibliográfica. O valor calculado para a emissão de CO2 a
partir desse FEC calculado (5648 kg de CO2) ficou próximo do valor calculado pela
estequiometria da reação (5702 kg de CO2) e do valor a partir do FEC do IPCC de 19,3 tC/TJ
ou FE de 70800 kg CO2/TJ (5960 kg de CO2).
84
Tabela 6.12 Cálculo de Outras Emissões Indiretas de GEE’s
Outras Emissões Indiretas (ABNT)
Considerando ANP 2005 (1)
TRANSPORTE CARGAS
Consumo óleo diesel 999545 litros
PCI = 10350 kcal/kg ? 8818 kcal/l
Densidade = 0,852 kg/l
Consumo óleo diesel (em energia) 8,81E+09 kcal 37 TJ
FE CO 2 Óleo Diesel 74100 kg/TJ Emissão CO2: 2732766 kg CO 2
FE N2O Óleo Diesel 3,9 kg/TJ Emissão N2O: 144 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 44587 kg CO 2e
FE CH4 Ól. Dies. 3,9 kg/TJ Emissão CH4: 144 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 3020 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 2780374 kg CO 2e
TRANSPORTE PESSOAS
Consumo óleo diesel 480784 litros
PCI = 10350 kcal/kg ? 8818 kcal/l
Densidade = 0,852 kg/l
Consumo óleo diesel (em energia) 4,24E+09 kcal 17,7 TJ
FE CO 2 Óleo Diesel 74100 kg/TJ Emissão CO2: 1314469 kg CO 2
FE N2O Óleo Diesel 3,9 kg/TJ Emissão N2O: 69,2 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 21447 kg CO 2e
FE CH4 Ól. Dies. 3,9 kg/TJ Emissão CH4: 69 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 1453 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 1337368 kg CO 2e
Consumo GN 3884966 m3
3
PCI = 11900 kcal/kg 8806 kcal/m
Densidade = 0,00074 t/m 3
Consumo GN (em energia) 3,42E+10 kcal 143,1 TJ
FE CO 2 GN 56100 kg/TJ Emissão CO2: 8030283 kg CO 2
FE N2O GN 3 kg/TJ Emissão N2O: 429 kg N2O
(2) PAG N2O = 310 Emissão de CO 2e: 133122 kg CO 2e
FE CH4 GN 92 kg/TJ Emissão CH4: 13169 kg CH4
PAG CH4 = 21 Emissão de CO 2e: 276551 kg CO 2e
Total Emissão CO2e: 8439956 kg CO 2e
(1) Anuário Estatístico da ANP
Emissões Diretas (ABNT) 61080900 kg CO 2e
Emissõe indiretas (eletricidade) ABNT 2416802 kg CO 2e
Outras emissões indiretas (ABNT) 12589185 kg CO 2e
Total emissões, kg 76086887 kg CO 2e
Total emissões, ton. 76087 t CO 2e
85
Tabela 6.13 Cálculo de FEC e de CO2 emitido de Álcool Etílico Anidro Combustível (AEAC)
Consumos de AEAC nos veículos sem e com catalisador (22% na gasolina A)
Consumo
AEAC 2439 1916 kg Etanol Densidade do AEAC, kg/l
s/cat.,l = 0,791 (99,3% etanol)
Consumo
AEAC 1355 1064 kg Etanol
c/cat.,l
Total de etanol (100%) consumido 2980 kg etanol
Essas considerações são para a queima completa do AEAC, conforme a reação acima
86
Na tabela 6.14, foi mostrado o resultado das emissões do tratamento do efluente contendo
sacarose em uma empresa vizinha à indústria em estudo, bem como as emissões da queima do
álcool da gasolina C. Os cálculos de carbono na sacarose nesta tabela se basearam na relação
entre a massa de carbono (C) contida na sacarose e a massa molecular desta (12*12/342 =
0,42105). Assim, multiplicando esse valor encontrado pela massa de sacarose excedente
(0,42105*2072) chegou-se ao valor de 873 toneladas de carbono para o tratamento.
Como 40 a 60% de C são transformados em CO2 (referência [60] na tabela 6.14), multiplica-
se a massa de C (873 t) contido na sacarose por 0,4 e 0,6 e por 44/12 (CO2/C) para calcular o
limite mínimo e máximo de 1279,7 a 1919,6 toneladas de CO2 emitidos no tratamento de
sacarose, respectivamente. Somando esses valores à média do CO2 emitido pelo álcool (5,8 t)
calculada a partir dos FE’s da tabela 6.13, as emissões totais produzidas pelas 2 fontes
renováveis (álcool e tratamento do efluente orgânico) totalizaram de 1285,5 a 1925,3
toneladas de CO2, como mostra essa Tabela 6.14.
87
Quanto às emissões indiretas da empresa causadas pelo consumo de eletricidade, a tabela
6.15 mostra os dados de consumo de combustíveis na matriz brasileira de geração de
eletricidade no ano de 2006, fornecida pelo MME [61].
A tabela 6.16 a seguir mostra os resultados dos cálculos de emissões (a partir da tabela 6.15 e
dos dados de combustíveis) por GWh produzido no País.
Para esclarecer como essa tabela 6.16 foi construída, focando no GN Seco participante na
88
geração de eletricidade, deve-se transformar seu volume (2.928.200 mil m3) em energia, como
foi feito na tabela 6.11, ou seja, multiplicar seu PCI (11.900 kcal/kg) pela sua densidade
(0,00074 t/ m3) e por 1.000 (t para kg), obtendo-se o valor de 8.806 kcal/m3.
Esse valor é multiplicado pelo volume mencionado (2.928.200 mil m3) e por 1000 (mil m3
para m3) chegando ao valor de 2,58*1013 kcal. Depois, transforma-se esse valor em kcal para
TJ, encontrando o valor de 107.890 TJ. Finalmente, multiplica-se esse valor pelo FE do GN
(56.100 kg CO2/TJ) cujo resultado foi 6.052.634 toneladas de CO2 emitido pelo GN seco, que
é um dos componentes da geração de eletricidade que contribuem para a emissão deste GEE.
Repete-se esse procedimento para cada um dos componentes (em amarelo) que são emissores
de CO2. Não foram considerados emissores deste GEE, a energia hidráulica, urânio, lenha e
outras fontes renováveis. Tem-se a o CO2 emitido (21.078.322 t) pela geração total de
eletricidade brasileira em 2006.
Para GEE’s CH4 (verde) e N2O (laranja) o procedimento foi similar ao descrito no parágrafo
anterior e foi construída a tabela 6.17, considerando os FE’s para cada um deles e para cada
combustível, além dos seus PAG’s: 21 e 310, respectivamente. Foram obtidos os valores de
26750 e 61537 t para o CO2e do CH4 e do N2O, respectivamente
Somam-se então as parcelas calculadas de CO2 emitido da tabela 6.16 com os valores de
CO2e do CH4 e do N2O da tabela 6.17, para calcular a emissão total de CO2e cujo resultado
foi 21.166.609 t. Divide-se esse total (21.166.609 t de CO2e) pelo total de energia gerada
(377.644 GWh) para encontrar a emissão por GWh gerado, cujo resultado foi 56 t
CO2/GWh.
Esse resultado ficou próximo ao encontrado num trabalho realizado pela empresa ICF
International para a indústria Aracruz Celulose [62] em 2005, cujo valor foi 54,3 t CO2/GWh.
Multiplicando esse último valor pelo consumo de eletricidade pela empresa em estudo (43,3
GWh) chega-se a um valor de 2425 t. de CO2 emitido por essa fonte indireta.
89
Tabela 6.16 Consumo de combustíveis na geração de eletricidade no Brasil em 2006 e cálculo
de suas emissões
90
Tabela 6.17 Cálculos (pela autora da dissertação) das emissões nacionais em t CO2e / GWh
3
GÁS NAT. ÚMIDO milh m
3
GÁS NAT. SECO mil m 107890 1 107890 0,1 10789
C.VAPOR 3100
mil t 5059 10 50586 1,5 7588
C.VAPOR 3300
mil t 29410 10 294100 1,5 44115
C.VAPOR 4200
mil t 1441 10 14410 1,5 2162
C.VAPOR 4500
mil t 53190 10 531904 1,5 79786
C.VAPOR 4700
mil t
C.VAPOR 5200
mil t
C.VAPOR 6000
mil t 1833 10 18326 1,5 2749
HIDRÁULICA GWh
LENHA mil t
BAGAÇO DE CANA mil t
LIXÍVIA mil t
OUTRAS RENOV. mil tep
3
ÓLEO DIESEL mil m 59528 3 178585 0,6 35717
3
ÓLEO COMBUST. mil m 26000 3 78000 0,6 15600
3
GÁS DE COQUERIA milh m
URÂNIO C. UO2 t
3
GÁS DE REFINARIAmil m
3
OUT.EN.PETRÓLEO mil m
3
ALCATRÃO mil m
TOTAL de GERAÇÃO, GWh: 377.644 1273802 kg CH4 198505 kg N2O
(f) = (b)*(e) PAG = PAG =
(h) = (b)*(g) 21 310
91
6.3.3 Síntese dos resultados
Somando todas essas emissões, chegou-se ao valor total emitido de 76.087 toneladas de
CO2e.
100,0
80,0
60,0
%
40,0
20,0
0,0
Tipo de Emissão
Outras emissões 16,5
indiretas
Emissões indiretas 3,2
(eletricidade)
Emissões Diretas 80,3
Pelo gráfico 6.1, percebe-se que as emissões diretas são predominantes, com valor de 80,3 %
das emissões totais.
92
Para saber qual a fonte que mais contribuiu para as emissões diretas (maior participação)
verifica-se no gráfico 6.2 a seguir que o maior responsável foi o processo.
Emissões Diretas
100,00
80,00
60,00
%
40,00
20,00
0,00
Process Refeitóri Retroes Empilha Outras
Processo 98,67 0,02 0,01 0,11 1,18
Fontes
O 2º tipo de emissão de maior peso é o de outras emissões indiretas (1,18%) geradas pelo
transporte de pessoas e de cargas, cujos pesos (em %) são mostrados no gráfico 6.3 a seguir:
93
Gráfico 6.3 - Participação das fontes de outras emissões indiretas
80,00
60,00
77,91
% 40,00
20,00 22,09
0,00
Transporte Cargas Transporte Pessoas
Fonte
A fonte com maior peso entre as fontes de outras emissões indiretas foi a de transporte de
pessoas (~78%). Cabe lembrar que não foram contabilizadas nesses valores as emissões de
álcool da gasolina C e nem tampouco as do tratamento do efluente com sacarose excedente,
por se tratarem de biomassas.
Entre as outras emissões indiretas (controladas por outras empresas, mas causadas pelas
atividades da empresa em estudo) a que mais pesou foi a causada pelo transporte de pessoas
(9.809 t de CO2e), representando cerca de 78% dessas emissões e 13% das emissões totais.
As fontes que mais emitiram nessa categoria foram os veículos a GN (86% das emissões do
transporte de pessoas).
Somando apenas as emissões dessas duas fontes (Processo e transporte de pessoas) chega-se a
uma participação de 92% do total emitido pela empresa.
Somando as emissões da sacarose com as do álcool, o total de CO2 emitido ficou entre
1285,5 e 1925,3 toneladas, que não são incluídas no inventário total da empresa (citação nas
páginas 74 e 75).
95
7. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
7.1 Conclusões
Não existem fatores de emissão desenvolvidos no Brasil, para permitir adotar o método de
nível 2 do IPCC, mais preciso que o de nível 1 usado neste trabalho. Nem mesmo as
características físico-químicas básicas dos combustíveis (PCI e densidade) encontradas na
única fonte encontrada na pesquisa (ANP) foram apresentadas com faixas de valores, mas
apenas um valor, como se esses produtos fossem substâncias químicas puras, o que não é
verdade.
Cabe lembrar que esses FE’s foram desenvolvidos por países desenvolvidos, o que não reflete
a realidade brasileira, onde os combustíveis devem ter diferentes conteúdos padrões de
carbono, pois são obtidos a partir de outros petróleos e outros esquemas de refino. Em outras
palavras, um valor obtido no País com os teores reais e locais de carbono dos seus
combustíveis geraria resultados mais precisos e confiáveis.
Assim, ainda é necessário usar os FE’s e PAG’s do IPCC, enquanto o Brasil não desenvolver
faixas confiáveis das características de seus combustíveis, principalmente no que tange aos
teores de carbono e dos PCI’s.
96
7.2 Recomendações específicas à empresa
Com base nos valores obtidos e considerando as informações prestadas pela empresa,
recomenda-se:
Instalação de sistema de medição nos equipamentos que utilizam o gás natural no
processo (maior emissor de GEE’s) visando implantar um programa de identificação e
racionalização do uso do referido combustível por equipamento;
Estudo da viabilidade técnica e econômica da substituição total ou parcial do gás
natural por outra fonte de energia renovável;
Participação da empresa em projetos de reflorestamento regional ou nacional, posto
que, por sua iniciativa para neutralização, seria necessário um aumento de mil vezes
do que faz atualmente;
Incentivo do uso de combustíveis de origens renováveis às empresas transportadoras
de pessoas, principalmente, por serem as fontes com maior peso (em torno de 78%)
dentro das emissões indiretas.
Envidar esforços para o País desenvolver seus próprios fatores de emissões, visando
avaliar melhor sua realidade emissora e impactante.
Para alcançar esse objetivo, seria necessário conhecer melhor as faixas das
características dos combustíveis por equipamento, principalmente dos seus teores de
carbono e PCI’s.
97
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
98
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[42]Economia & Energia No 40: Setembro-Outubro 2003
[43] Disponível em www.demec.ufmg.br acesso em 08/03/2007
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[51] Diretrizes Revisadas de 1996 do IPCC, editado em 1997
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[53] Revised 1996 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories: Reference
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[54] 2006 IPCC Guidelines for National Greenhouse Gas Inventories – Volume 2: Energy
Chapter 1: Introduction
[55] PORTARIA ANP Nº 104, DE 8.7.2002 - DOU 9.7.2002
[56] Tradução de parte da tabela 2.3 da página 2.18 do Capítulo 2: Combustão Estacionária
Volume 2 – Energia das Diretrizes do IPCC de 2006
[57] Tabelas 2.6, 2.7 e 2.8 nas páginas 2.25 a 2.27, respectivamente no capítulo 2: Combustão
Estacionária do Volume 2 - Energia
[58] Tradução de parte da tabela 3.2.2 da página 3.21 do Capítulo 3: Combustão Móvel
Volume 2 – Energia das Diretrizes do IPCC de 2006
[59] Relatório de qualidade do ar no Estado de São Paulo
[60] Madigan, Michael T., Martinko, John, M. e Parker, Jack. (2004). Microbiologia de
100
Brock. Capítulo 5: Nutrição, Cultivo Laboratorial e Metabolismo dos Microrganismos. 10a
Edição, Prentice-Hall.
[61] Dados fornecidos pelo Departamento de Planejamento Energético - Secretaria de
Planejamento e Desenvolvimento Energético - Ministério de Minas e Energia
[62] Protocolos para Medição e Geração de Dados relativos a Gases de Efeito Estufa (GEE)
elaborados pela ICF International para a Aracruz Celulose, editados em 2006.
101
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( http://www.livrosgratis.com.br )