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AVALIAÇÃO DOS IMPACTOS AQUECIMENTO GLOBAL,

ECOTOXICIDADE TERRESTRE E ACIDIFICAÇÃO DO PROGRAMA DE


COLETA SELETIVA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS DOMICILIARES NO
MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA/ PB- BRASIL

Júlia Lessa Feitosa Virgolino(1)


Graduanda em Engenheira Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
e-mail: virgolinojulia@gmail.com
(2)
Claudia Coutinho Nóbrega
Engenheira Civil pela UFPB, Mestre em Engenharia Civil, área Engenharia Sanitária Área Engenharia
Sanitária e Ambiental - pela UFPB (1991), Doutora em Recursos Naturais Área Engenharia Sanitária e
Ambiental - pela UFCG (2003). Professora Associado III da UFPB (desde 1994). Professora do
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UFPB. Professora do Programa de Pós Graduação em
Engenharia Civil e Ambiental da UFPB.
e-mail: claudiacn@uol.com.br
Wanessa Alves Martins(3)
Engenheira Ambiental pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Mestranda no Programa
de Pós- Graduação em Engenharia Civil e Ambiental da Universidade Federal de Paraíba (UFPB).
e-mail: wanessaufcg@gmail.com
José Dantas de Lima(4)
Engenheiro Civil pela UFPB (1987), Mestre em Engenharia Civil - Área Engenharia Sanitária e
Ambiental - pela UFPB (2001), Doutor em Engenharia Civil Área Engenharia Sanitária e Ambiental -
pela Universidade Federal de Pernambuco. Engenheiro da Autarquia Especial Municipal de Limpeza
Urbana de João Pessoa/EMLUR. Consultor Técnico Ambiental
e-mail: dantast@terra.com.br
Yasmim Cristina LeirosMeira(5)
Graduanda em Engenharia Ambiental da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
e-mail: yasmimleiros@gmail.com

RESUMO
A eminente necessidade de se estudar os impactos ambientais causados pelos resíduos sólidos gerados,
bem como sua disposição final, vem fazendo com que ferramentas como a Análise do Ciclo de Vida
(ACV) se tornem a cadadia mais populares. A ACV ou LCA (Life cycleassessment) como é denominada
internacionalmente, vem sendo utilizada para avaliare quantificaros impactos ambientais de produtos ou
sistemas, tratando-
olhar superficial sobre seus impactos. No presente trabalho, estaferramenta serviu de base para obtenção
de um diagnóstico ambiental do programa de coleta seletivado Município de João Pessoa/PB nosanos de
2005 à 2014. Para execução da análise foi utilizado o softwareSimaPro8.0,empregando como unidade
funcional de direção do estudo uma tonelada de resíduos sólidos gerados e considerando as seguintes
categorias de impactos: aquecimentoglobal,ecotoxicidade terrestre e acidificação. Verificou-se que o
desempenho do programa de coleta seletiva dos resíduos sólidos domiciliares (RDO) no município ainda
não é suficiente para amenizar os efeitos do aquecimento global envolvidos neste sistema, contudo, o
mesmo representa um aspecto positivo para a redução da ecotoxicidade terrestre, enquanto a categoria de

do ano de observação. Para a obtenção dos resultados foram considerados os consumos de água,
eletricidade e diesel bem como as emissões de poluentes para o ar,água esolo compreendidos nesta
atividade. Sabe-se que a coleta seletiva é um serviço que desempenha um papel importante para a busca
da sustentabilidade,diminuindo a quantidade de resíduos encaminhados aos aterros sanitários ou outros
tipos de destinação final, reaproveitando materiais que servirão de matéria-prima para novos produtos,
gerando economia dos recursos naturais e reduzindo possíveis contaminações no solo.Entretanto, quando
a quantidade de resíduos coletados é insuficiente, estes benefícios podem ser superados pelos impactos
gerados pelo sistema que o compõe. Contudo, é sempre importante considerar os benefícios econômicos e
sociais gerados pela coleta seletiva, tornando a reciclagem uma atividade industrial muitas vezes lucrativa
e fazendo com que a população e os catadores se tornem importantes atores da gestão de resíduos sólidos
urbanos.

PALAVRAS-CHAVE: Resíduos Sólidos Domiciliares, Coleta Seletiva, Análisedo Ciclo de Vida.


INTRODUÇÃO
A elevação do número de habitantes global é responsável por diversas adversidades que comprometem
cada vez mais o bem-estar, a saúdee o desenvolvimento da sociedade. Dentre os problemas desse
aumento populacional estão o consumo excessivo de recursos naturais e, consequentemente, maior
geração de resíduos sólidos. Além disso, a maior parte da população mundial vive nas cidades o que
propiciou o crescente processo de industrialização dos alimentos e a incorporação de novos hábitos de
consumo passando a gerar cada vez mais embalagens, com diferentes tipos de materiais, principalmente
plásticos, metais e alumínio. Resultando no aumento da quantidade de resíduos sólidos, a maioria dos
quais não-biodegradável ou de degradação extremamente lenta (PARANÁ, 2003). Com isso, a quantidade
de resíduos sólidos domiciliares (RDO) nos aterros sanitáriosse lixões vêm ficando insustentável e, a
dificuldade para encontrar áreas adequadas à implantação de novos aterros vem se tornando outro
problema para o poder público.
Neste cenário, a coleta seletiva revela-se como uma ferramenta essencial para a redução deste problema e
para inserção da sociedade (população e catadores) na gestão dos RDO, através da separação dos
materiais recicláveis.
A Lei nº 12.305/2010 instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) em que a coleta seletiva
passou a ser exigida nos municípios do Brasil com o intuito de alcançarmetas do Plano Nacional sobre
Mudança do Clima (PNMC), que seria de atingir o índice de reciclagem de resíduos de 20% até 2015,
contudo segundo dados do Compromisso Empresarial para a Reciclagem CEMPRE (2013), apenas 3%
de todo o resíduo sólido produzido no Brasil é reciclado. A Política Nacional de Resíduos Sólidos
também prevê a prevenção e a redução na geração de resíduos, tendo como proposta a prática de hábitos
de consumo sustentável e um conjunto de instrumentos para propiciar o aumento da reciclagem e da
reutilização dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado)
e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado).
(MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE, 2000).
Com a Lei nº 12.305/2010 em vigor, a maior parte dos municípios brasileiros passou a apoiar
cooperativas e/ou associações de catadores. Dentre os apoios mais comuns, estão: equipamentos, galpões
de triagem, pagamento de gastos com água e energia elétrica, caminhões, capacitações e auxílio na
divulgação e educação ambiental, como foirealizado no município de João Pessoa. Sabe-se, no entanto,
que as associações dos catadoresdo referido município ainda não estão completamente capacitadas para
desenvolver uma coleta seletiva do RDOque atenda toda a população, sendo esta uma realidade vista em
todo país, ondeapenas sete, dos 5.568 municípios brasileiros conseguem atender toda a
população(CEMPRE, 2013).
Apesar da eficácia da coleta seletiva dos RDOno Brasil ainda ser pequena, é necessário considerar o papel
social desta atividade, gerando mais empregos e renda à população e agregando maior valor ao papel dos
catadores dentro da sociedade.
O presente trabalho tem por objetivoanalisar os impactos (aquecimentoglobal, ecotoxicidade terrestre e
acidificação)do programa de coleta seletiva de RDO no município de João Pessoa-PB do ponto de vista
ambiental e de forma detalhada nos anos 2005, 2008, 2011 e 2014. Dessa forma, a metodologia de análise
do ciclo de vida (ACV) se destaca como a abordagem analítica ideal, por ser a mais completa e
interessante ao avaliar os impactos dos materiais e serviços utilizados desde a geração do resíduo sólido
nas residências até a sua destinação final, contemplando todo o sistema envolvido no processo da coleta
seletiva.A metodologia de uma ACV é a mais eficaz e com a maior credibilidade para a avaliação dos
impactos ambientais de um produto ou de uma atividade (LASSIO,2013). A abordagem adotada é
rigorosamente descrita e leva em consideração todos os consumos e rejeitos do objeto de estudo. A
estrutura metodológica de uma análise do ciclo de vida é regida pela série de normas internacionais ISO
14040, que definiu quatro fases principais para o estudo de ACV, as quais se interligam (Figura 1).

Figura 1: Estrutura de uma ACV


Fonte: ISO 14040,2006.
MATERIAIS E MÉTODOS
O referido trabalho teve como área de estudo a central de triagem(CT), localizada próximo ao Aterro
Sanitário Metropolitano de João Pessoa e os núcleos de coleta seletiva Cabo Branco, Bessa, Bairro dos
Estados (13 de Maio), Caiq e Mangabeira, todos localizados no município de João Pessoa. Alguns
caminhões da coleta convencional de resíduos sólidos domiciliares, executadas pelas empresas
terceirizadas que prestam serviços à Autarquia Municipal Especial de Limpeza Urbana (EMLUR),
descarregam na CT, onde os catadores separam os materiais recicláveis e o rejeito é disposto no aterro
supracitado. O Núcleo de Coleta Seletiva Cabo branco, atende aos bairros de Tambaú, Altiplano,
Miramar, parte de Manaíra e Cabo Branco, totalizando cerca de 13.980 residências, o Núcleo Bessa
atende aos bairros do Bessa, Jardim Oceania, Aeroclube e parte do bairro de Manaíra, com um total de
aproximadamente 15.898 residências, o Núcleo do Bairro dos Estados (ou 13 de Maio), é responsável
pela coleta dos bairros da Torre, Pedro Gondim, Bairro dos Estados, 13 de Maio e parte do Bairro dos
Ipês e de Mandacaru, com cerca de 11.537 residências. O Núcleo Caiq contempla os bairros: Bancários,
Anatólia, Jardim Cidade Universitária e parte de Mangabeira totalizando 16.710 residências e o Núcleo
Mangabeira que abrange parte do bairro de Mangabeira, sendo este o maior bairro da capital paraibana e
atende em média 5.459 residências. O estudo foi dividido em três partes. A primeira, contemplou o
levantamento de dados bibliográficos relacionados à coleta seletiva no Brasil e a aplicação da análise de
ciclo de vida a fim de fundamentar a revisão bibliográfica por meio de artigos, dissertações, teses,
revistas, estudos e debates recentes.
A segunda parte refere-se à verificação de dados quantitativos da coleta seletiva e dos resíduos
domiciliares coletados no município de João Pessoa/PB contando com entrevistas, questionário e coleta
de dados. Junto a EMLUR foram coletados dados sobre o volume e tipologia dos materiais coletados nos
anos de 2005, 2008, 2011e 2014, já nos núcleos de coleta seletiva foram obtidas informações acerca da
presença de caminhões, quantidade de catadores, sucateiros, materiais recicláveis coletados e quilômetros
percorridos, além do tipo e quantidade transportes utilizados em cada núcleo. As entrevistas só puderam
ser realizadas após aprovação do Comitê de Ética do Hospital Lauro Wanderley (Protocolo Nº 0231/2015.
CAAE: 44589715.5.0000.5188.)
A terceira parte caracterizou-se pela metodologia utilizada para o desenvolvimento da Análise de Ciclo de
Vida(ACV), seguindo as recomendações da ISO 14044 (2009). Esta fase se compôs, em primeiro lugar,
pelo levantamento das quantidades dos insumos essenciais necessários ao sistema de coleta seletiva para a
elaboração do inventário, neste caso, contemplaram-se os consumos de água, eletricidade e diesel em
todas as etapas do processo de coleta seletiva e reciclagem nos núcleos de coleta seletiva e na Central de
Triagem.Em seguida, definiu-se a unidade funcional do estudo, a base de dados, o método e as categorias
de impactos a serem consideradas nesta pesquisa, as quais foram: aquecimento global, ecotoxicidade
terrestre e acidificação, para então modelar a ACV.Para a obtenção dos resultados, utilizou-se o software
SimaPro 8.0. De acordo com as exigências normativas, após a obtenção dos resultados foi realizada a
interpretação a fim de analisar os três impactos ambientais (aquecimento global,ecotoxicidade terrestre e
acidificação)do programa de coleta seletiva no município de João Pessoa.

ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Levantamento dos Dados Quantitativos

O levantamento de dados quantitativos da coleta seletiva e dos resíduos domiciliares coletados no


município de João Pessoa/PB é um dos principais objetivos deste trabalho, pois se trata de uma etapa
fundamental para o desenvolvimento da análise de ciclo de vida. Para isso foram obtidos dados da
quantidade e da tipologia e, destinação final dos resíduos sólidos urbanos, junto a EMLUR e as
associações de catadores.
Só foi possível a aplicação dos questionários e entrevistas, para a obtenção de dados, após a submissão e
aprovação da pesquisa ao Comitê de Ética em Pesquisa do Hospital Universitário Lauro Wanderley -
CEP/HULW, da Universidade Federal da Paraíba, em atendimento a Portaria Nº 196/1996 do CNS/MS,
que requer a aprovação no conselho de ética de trabalhos que tragam consigo temas que pesquisem e/ou
trabalhem diretamente com seres humanos. Essa pesquisa foi aprovada de acordo com o Protocolo nº
0231/15. CAAE: 44589715.5.0000.5188.
Na Figura 2 pode-se observar a relaçãoentre a quantidade total de resíduos sólidos domiciliares coletados
no município de João Pessoa nos anos de 2005, 2008,2011 e 2014 e, a quantidade de resíduos destinados
aos núcleos de coleta seletiva e à central de triagem nos respectivos anos.
Observa-se, na Figura 2, que existe uma grande diferença entre a quantidade de resíduos sólidos coletados
anualmente no município de João Pessoa e a quantidade de resíduos que são destinados à coleta seletiva.
Também, pode-se verificar que a quantidade dos resíduos encaminhados à coleta seletiva tem um
crescimento sutil entre os anos analisados. O aumento na quantidade de resíduos sólidos urbanos entre os
anos, em estudo, está diretamente relacionado ao crescimento populacional do referido município, que
possuía uma população de 660,7 mil habitantes, em 2005, tendo um crescimento de aproximadamente
18,2% na população até 2014, apresentando uma quantidade de780,7 mil habitantes. Também no ano de
2005, houve uma expansão do programa de coleta seletiva no referido município, por isto que se optou
iniciar este trabalho a partir de referido ano. A figura 3mostra a quantidade dos materiais coletado pelos
núcleos de coleta seletiva e pela Central de Triagem.

Figura 2: Relação entre a quantidade total de resíduos coletados no município de João Pessoa e a
quantidade de resíduos destinados a coleta seletiva
Fonte: Adaptado, EMLUR, 2015.

.
Figura 3: Quantidade de materiais recicláveis coletados de acordo com a tipologia
Fonte: Adaptado, EMLUR, 2015.

Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais - ABRELPE -


(2014), a geração total de resíduos sólidos urbanos (RSU) no Brasil, em 2014, foi de 78.583.405
toneladas, constando-se um aumento de 2,90% em relação ao ano anterior.Este índice também se
configura superior à taxa de crescimento populacional, pois no período de realização do estudo o valor era
0,9%. No que se refere à geração per capita média no país, a referida Associação mostrou um aumento de
2,02% em relação a 2013, representando uma geração de 387,63 kg/hab/ano. Em nível estadual, a
ABRELPE (2014) mostra um aumento de 95 t/dia na geração de RSU, em 2014, este valor somado ao
ano anterior equivale à produção de 3.504 t/dia.
Outras informações referentesà coleta seletiva no município foram adquiridas através de estimativas e
entrevistas com os catadores, como os quilômetros percorridos entre a origem da geração dos resíduos
sólidos (residências) até os núcleos de coleta seletiva ou até a central de triagem e ao aterro sanitário
metropolitano de João Pessoa (Tabela 1). Já, as distâncias percorridas pelos atravessadores e sucateiros
dos núcleos de coleta seletiva ou da central de triagem até seus galpões, assim como a distância em
quilômetros entre estes galpões e as indústrias de reciclagem pode ser visto na Tabela 2.
Foram obtidas informaçõestambém sobre o tipo e a quantidade de transportes utilizados em cada núcleo
de coleta seletiva, a quantidade de catadores que trabalham em cada núcleo e na CT (Tabela 3), a
presença de caminhões nos núcleos, a quantidade de atravessadores e sucateiros para cada material e as
empresas de reciclagem. Segundo Araújo (2015), os materiais coletados no município são vendidos,
geralmente com frequência quinzenal, para atravessadores que recolhem este material, acumulam
volumes maiores em seus endereços e, posteriormente, vendem para empresas de reciclagem,
como:Petromix (plástico), Compel (papel), Gerdal (metal), Owens Illinois (vidro) e Recipol (borracha).

Tabela1: Distâncias percorridas das residências até os núcleos de coleta e das residências até a
central de triagem/ aterro sanitário
Transporte Inicial
Distância Origem-Núcleos Distância Origem-Central de
(km/t) Triagem/Aterro (km/t)
Bairro do Estados 8,44 8,09
Caiq 6,09 9,70
Cabo Branco 5,83 8,47
Bessa 5,12 8,82
Mangabeira 12,15 7,71
Fonte: Autores, 2016

Tabela 2: Distâncias percorridas pelos atravessadores do núcleo de coleta seletiva e da central de


triagem para os seus galpões e deste até as indústrias.
Transporte Intermediário e Final
Materiais Distância Média dos 5 Distância Central de DistânciaGalpões
Núcleos- Galpões (km) Triagem- Galpões (km) Empresas (km)
Papel 18,1 179,0
3,7
Vidro 19,7 121,0
7,3
Plástico 18,5 15,8
4,0
Metal 10,3 15,8 122,0

Borracha 6,2 25,6 6,8

Fonte: Autores, 2016.

Tabela3: Quantidade de catadores presentes nos núcleos de coleta eletiva e na central de triagem
Núcleos de Coleta Número de Associados
Núcleo de Coleta do Bessa 11
Núcleo de Coleta do Cabo Branco 12
Núcleo de Coleta de Mangabeira 18
Núcleo de Coleta do Jardim Cidade Universitária 16
Núcleo de Coleta do Aterro Sanitário 85
Núcleo de Coleta do Bairro dos Estados 11
Fonte: Município de João Pessoa, 2014.

Apenas o Núcleo Bairro dos Estados (13 de Maio) informou que não possuía caminhão para dar suporte
na coleta seletiva da região compreendida, enquanto os núcleos do Bessa e Cabo Branco dividem o
mesmo caminhão para auxiliar na coleta seletiva. Já os núcleos Caiq e Mangabeira informaram que
possuem caminhões, mas não souberam informar se era o mesmo para os dois núcleos.
O transporte utilizado pelos catadores associados dos núcleos de coleta seletiva do município de João
Pessoa são veículos de tração humana, com três ou quatro rodas e com capacidade entre 100 e
120Kg.Portanto, não apresentam consumos de diesel ou emissões de gases para a atmosfera. Cada núcleo
possui entre 5 e 18 carrinhos.

ANÁLISE DE CICLO DE VIDA

Definição dos objetivos e do limite do sistema

O objetivo da ACV, para o presente estudo, é analisar os impactosambientais


(aquecimentoglobal,ecotoxicidade terrestre e acidificação) da coleta seletiva dos RDO, nos, anos 2005,
2008, 2011 e 2014 no município de João Pessoa/PB, Brasil. Para o desenvolvimento da ACV foram
analisados os consumos de energia elétrica, água e combustíveis dos núcleos, dos galpões dos
atravessadores, dos sucateiros e da reciclagem, levando em consideração a quantidade de RDOem cada
núcleo, bem como as emissões e efluentes envolvidos neste sistema a fim de identificar os possíveis
impactos ambientais causados. O limite do sistema estámostrado na Figura 4 e, foi considerado a partir do
ponto em que os consumidores eliminam os seus resíduos até o momento em que a matéria prima é
reciclada.

Figura 4: Limite do sistema da ACV da coleta seletiva do município de João Pessoa/PB


Fonte: Autores, 2016.

Análise do Inventário e Avaliação dos Impactos

A unidade funcional adotada na pesquisa foi de 1 tonelada de resíduos sólidos urbanos. A base de dados
utilizada para o desenvolvimento da ACV foi oCML-IA, baseline V300/world2000 que se trata de um
banco de dados que contém fatores de caracterização para a análise de impacto do ciclo de vida. Esta base
de dados contém fatores de caracterização para todos os métodos tais como GWP100, POCP, HTPinf e
AP, além de fatores de caracterização adicionais para os métodos de caracterização não-fundamentais,
como GWP20, HTP100 e MSETP e métodos de caracterização adicionais, tais como Eco-indicador 99 e
EPS.
Os dados quantitativos coletados durante a pesquisa correspondem aos insumos essenciais ao sistema de
coleta seletiva. Esses dadosforam utilizados para a elaboração do inventário, sendo esta a etapa mais
complexa e demorada do estudo. Foram contemplados os consumos de água e eletricidade (Tabela 4) e
diesel (estimados a partir das distâncias percorridas- Tabelas 1 e 2) em todas as etapas do processo de
coleta seletiva dos RDO, englobando todos os núcleos de coleta seletiva, a CT, os galpões dos
atravessadores/sucateiros e as indústrias recicladoras.

Tabela 4: Consumos de eletricidade e água nas etapas de coleta seletiva

Consumos

Eletricidade (kwh/t) Água (m3/t)


Núcleos de coleta seletiva do
município de João Pessoa 50,1 5,83

Central de triagem CT 45,82 1,07

Empresas Recicladoras 1845,0 6005,6


Fonte: Autores, 2016.

O produto final gerado pela ACV são as contribuições líquidasde cada categoria de impacto para cada ano
estudado. Como pode ser observada na Figura 5, os valores para acidificação estão variando entre valores
de contribuições positivas e negativas de kgSO2eqdependendo do ano, enquanto os resultados gerados
2eq
az contribuições líquidas negativas
de kg 1,4-DB eq.

a) Acidificação

b)-Aquecimento Global
c)-Ecotoxicidade Terrestre

Figura 5: Contribuição líquida para cada categoria de Impacto


Fonte: Autora, 2016.

Análise dos Resultados

A análise do ciclo de vida do programa de coleta seletiva foi realizada com dados do ano de 2005, 2008,
2011 e 2014 (a cada 3 anos). Os valores negativos dos gráficos da Figura 5 conforme afirmado por
Foolmaun (2013), representam benefícios ambientais líquidos e são atribuídos a prevenção de emissões.
Ou seja, quanto maiores os valores negativos, maiores são as emissões evitadas através do programa de
coleta seletiva do município de João Pessoa e, portanto, maior o benefício ambiental líquido. Já os valores
positivos são sinônimos de prejuízos ao meio ambiente, apresentando valores líquidos de emissões de um
dado componente (CO2,SO2, C2H4) conforme categoria de impacto analisada.

Acidificação
kgSO2eq presentes no sistema
analisado. O dióxido de enxofre (SO2) é um gás incolor com um odor peculiar e ocorre como uma
impureza nos combustíveis fósseis, proveniente, principalmente, de atividades como queima de diesel nos
veículos pesados e da queima de combustíveis fosseis nas atividades industriais.
Nos resultados obtidos com a ACV os valores desta categoria de impacto oscilaram entre os anos
analisados, gerando impactos positivos e negativos para o meio ambiente dependendo do ano. Portanto,
através dos dados analisados as possíveis causas da diferença entre os valores das emissões entre os anos
estudados podem ser explicadas pelo aumento da reciclagem, principalmente, do plástico e do metal nos
anos 2008 e 2014 e, consequentemente, a diminuição dos consumos envolvidos na fabricação deste
material virgem, o qual pode ser observado na Tabela 5.
Tabela 5: Consumos de eletricidade e água na fabricação de uma tonelada de plástico e metal
utilizando matéria prima virgem e material reciclado.
Matéria prima virgem Material Reciclado
Material (1 t)
Energia (KW/h) Água (l) Energia (KW/h) Água (l)
Plástico 6,74 mil 1640 1,44 mil 400
Metal 16,5 mil 100,000,000 750 24,000,000
Fonte: WWF, 2008; GETRA GESTÃO AMBIENTAL, 2014.

Na Figura 6 é mostrado um resultado numérico das emissões de dióxido de enxofre evitadas com a
reciclagem dos materiais, com destaque para o plástico e o metal nos anos de 2008 e 2014, sendo estes os
anos que houve contribuições liquidas de kgSO2eq negativas ou positivas, mas com emissões bastante
inferiores em comparação aos outros anos, demonstrando a influência da reciclagem destes materiais para
a minimização deste impacto ambiental.

Emissões de kgSO2eq evitadas com a reciclagem do


papel, plástico, metal, vidro e da borracha
1000

-1000
kgSO2eq

-2000

-3000

-4000

-5000
Reciclagem do Reciclagem do Reciclagem do Reciclagem do Reciclagem da
Papel Plástico Metal Vidro Borracha

2005 2008 2011 2014

Figura 6: Gráfico das emissões de kgSO2eq evitadas com a reciclagem do papel, plástico,
metalvidroe da borracha.
Fonte: Autora, 2016.

Aquecimento Global
2eq. O
dióxido de carbono (CO2) também conhecido como gás carbônico é um gás importante para o reino
vegetal, pois é essencial na realização do processo de fotossíntese das plantas, porém a quantidade
excessiva deste gás pode ser um dos responsáveis pelo aquecimento global, que é o processo de aumento
da temperatura média dos oceanos e da atmosfera da terra. (WWF, 2014). Este gás é liberado através da
queima de combustiveis fosseis (gasolina, diesel, querosene, carvão mineral e vegetal). Na Figura 5 é
possivel observar que o programa da coleta seletiva resultou em emissões positivas de kgCO2eq para o
meio ambiente, apresentando valores maiores nos anos de 2011 e 2014, podendo ser explicado pelo
aumento de toneladas de resíduos coletados e, consequentemente, o aumento de quilômetros percorridos
na etapa de coleta até os núcleos, dos núcleos até os atravessadores e do galpão dos atravessadores até as
indústrias recicladoras. Todas essas distâncias, são percorridas por caminhões movidos à diesel.
Ecotoxicidade Terrestre

emissões líquidas de kg 1,4-DBeq evitadas através do programa de coleta seletiva dos RDOdo município
de João Pessoa. O diclorobenzeno é um composto orgânico usado como pesticida e em substituição à
tradicional naftalina e, assim como utilizada também como um precursor na produção do polímero. Os
polímeros estão abundantemente presentes nos resíduos sólidos domiciliares, isto porque estão presentes
nos plásticos (poliestireno, PVC, Teflon), fibras sintéticas (Nylon, Poliéster); pneus, isolantes elétricos

outros.Este composto é responsável pela ecotoxicidade terrestre por ser pouco solúvel em água e não ser
facilmente quebrado por organismos do solo, logo permanece no solo por longos períodos (GORNI,
2003).Além disso, este composto pode ser tratado com uma substância cancerígena. Desta forma, a
provável razão pelo qual o programa da coleta seletiva vem trazendo benefícios ambientais na categoria
de impacto em questão é devido ao aumento da quantidade de RDO destinados à coleta seletiva e,
consequentemente, uma diminuição dos resíduos sólidos dispostos no aterro sanitário.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho permitiu concluir, através da aplicação da análisede ciclo de vida ACV - que o programa de
coleta seletiva do município de João Pessoa, entre os anos de 2005 e 2014, provoca impactos tanto
-seque o
programa, nos anos analisados, contribuiu para evitar as emissões de dióxido de enxofre em 2008,
contudo nos anos restantes estas emissões estavam presentes no programa. No que diz respeito ao
aquecimento global os resultados obtidos mostraram que o programa de coleta seletiva do município de
João Pessoa gera emissões de dióxido de carbono capazes de contribuir negativamente com este impacto
ambiental. Já as emissões de diclorobenzeno presentes nos polímeros foram reduzidas devido á coleta
seletiva, que diminuiu a quantidade de materiais recicláveisno aterro sanitário evitando maiores impactos
de ecotoxicidadeterrestre.No geral, sabe-se que a coleta seletiva é um método de gestão de resíduos
sólidos que propicia melhorias para o meio ambientealém de contribuir para a sustentabilidade urbana
com reflexos na saúde ambiental e humana (BESEN et al., 2014), contudo, os resultados da ACV
mostraram que devido a quantidade dos RDO coletados nos núcleos de coleta seletiva e na central de
triagemserem insuficienteso desempenho do programa está sendo incapaz de gerar todosos benefícios
ambientaisesperados por esta atividade. Deste modo, é notável que a elaboração de cenários visando à
otimização da gestão adequada da coleta seletiva é iminente e requer estratégias especialmente, no âmbito
de ampliá-la. Ainda assim, é importante ressaltar os benefícios sociais gerados pelo programa de coleta
seletivada capital paraibana, transformando a população em atores sociais e os catadores em um dos
protagonistas das mudanças requeridas na sociedade com focos na sustentabilidade.

AGRADECIMENTOS
Os autores agradem:
Ao CNPq - MCTI / CNPq No. 14/2013 - Universal / Processo nº. 484357/2013-1, pelo financiamento da
pesquisa.
À Autarquia Municipal de Limpeza Urbana- EMLUR pelo fornecimento de dados.
Aos catadores das quatro associações do município de João Pessoa/PB.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. ABRELPE (São Paulo) (Org.). PANORAMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 2014.
São Paulo: Grappa Editora, 2014. 118 p.
2. ARAÚJO, Elizabeth Sousa de.DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL E ACV DA COLETA
SELETIVA. ESTUDO DE CASO: NÚCLEO CABO BRANCO - JOÃO PESSOA/PB-
BRASIL.2015. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia Ambiental, Centro de Tecnologia,
Universidade Federal da Paraiba, João Pessoa, 2015.
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<http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/catadores-de-materiais-
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