Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
RESUMO
A eminente necessidade de se estudar os impactos ambientais causados pelos resíduos sólidos gerados,
bem como sua disposição final, vem fazendo com que ferramentas como a Análise do Ciclo de Vida
(ACV) se tornem a cadadia mais populares. A ACV ou LCA (Life cycleassessment) como é denominada
internacionalmente, vem sendo utilizada para avaliare quantificaros impactos ambientais de produtos ou
sistemas, tratando-
olhar superficial sobre seus impactos. No presente trabalho, estaferramenta serviu de base para obtenção
de um diagnóstico ambiental do programa de coleta seletivado Município de João Pessoa/PB nosanos de
2005 à 2014. Para execução da análise foi utilizado o softwareSimaPro8.0,empregando como unidade
funcional de direção do estudo uma tonelada de resíduos sólidos gerados e considerando as seguintes
categorias de impactos: aquecimentoglobal,ecotoxicidade terrestre e acidificação. Verificou-se que o
desempenho do programa de coleta seletiva dos resíduos sólidos domiciliares (RDO) no município ainda
não é suficiente para amenizar os efeitos do aquecimento global envolvidos neste sistema, contudo, o
mesmo representa um aspecto positivo para a redução da ecotoxicidade terrestre, enquanto a categoria de
do ano de observação. Para a obtenção dos resultados foram considerados os consumos de água,
eletricidade e diesel bem como as emissões de poluentes para o ar,água esolo compreendidos nesta
atividade. Sabe-se que a coleta seletiva é um serviço que desempenha um papel importante para a busca
da sustentabilidade,diminuindo a quantidade de resíduos encaminhados aos aterros sanitários ou outros
tipos de destinação final, reaproveitando materiais que servirão de matéria-prima para novos produtos,
gerando economia dos recursos naturais e reduzindo possíveis contaminações no solo.Entretanto, quando
a quantidade de resíduos coletados é insuficiente, estes benefícios podem ser superados pelos impactos
gerados pelo sistema que o compõe. Contudo, é sempre importante considerar os benefícios econômicos e
sociais gerados pela coleta seletiva, tornando a reciclagem uma atividade industrial muitas vezes lucrativa
e fazendo com que a população e os catadores se tornem importantes atores da gestão de resíduos sólidos
urbanos.
Figura 2: Relação entre a quantidade total de resíduos coletados no município de João Pessoa e a
quantidade de resíduos destinados a coleta seletiva
Fonte: Adaptado, EMLUR, 2015.
.
Figura 3: Quantidade de materiais recicláveis coletados de acordo com a tipologia
Fonte: Adaptado, EMLUR, 2015.
Tabela1: Distâncias percorridas das residências até os núcleos de coleta e das residências até a
central de triagem/ aterro sanitário
Transporte Inicial
Distância Origem-Núcleos Distância Origem-Central de
(km/t) Triagem/Aterro (km/t)
Bairro do Estados 8,44 8,09
Caiq 6,09 9,70
Cabo Branco 5,83 8,47
Bessa 5,12 8,82
Mangabeira 12,15 7,71
Fonte: Autores, 2016
Tabela3: Quantidade de catadores presentes nos núcleos de coleta eletiva e na central de triagem
Núcleos de Coleta Número de Associados
Núcleo de Coleta do Bessa 11
Núcleo de Coleta do Cabo Branco 12
Núcleo de Coleta de Mangabeira 18
Núcleo de Coleta do Jardim Cidade Universitária 16
Núcleo de Coleta do Aterro Sanitário 85
Núcleo de Coleta do Bairro dos Estados 11
Fonte: Município de João Pessoa, 2014.
Apenas o Núcleo Bairro dos Estados (13 de Maio) informou que não possuía caminhão para dar suporte
na coleta seletiva da região compreendida, enquanto os núcleos do Bessa e Cabo Branco dividem o
mesmo caminhão para auxiliar na coleta seletiva. Já os núcleos Caiq e Mangabeira informaram que
possuem caminhões, mas não souberam informar se era o mesmo para os dois núcleos.
O transporte utilizado pelos catadores associados dos núcleos de coleta seletiva do município de João
Pessoa são veículos de tração humana, com três ou quatro rodas e com capacidade entre 100 e
120Kg.Portanto, não apresentam consumos de diesel ou emissões de gases para a atmosfera. Cada núcleo
possui entre 5 e 18 carrinhos.
A unidade funcional adotada na pesquisa foi de 1 tonelada de resíduos sólidos urbanos. A base de dados
utilizada para o desenvolvimento da ACV foi oCML-IA, baseline V300/world2000 que se trata de um
banco de dados que contém fatores de caracterização para a análise de impacto do ciclo de vida. Esta base
de dados contém fatores de caracterização para todos os métodos tais como GWP100, POCP, HTPinf e
AP, além de fatores de caracterização adicionais para os métodos de caracterização não-fundamentais,
como GWP20, HTP100 e MSETP e métodos de caracterização adicionais, tais como Eco-indicador 99 e
EPS.
Os dados quantitativos coletados durante a pesquisa correspondem aos insumos essenciais ao sistema de
coleta seletiva. Esses dadosforam utilizados para a elaboração do inventário, sendo esta a etapa mais
complexa e demorada do estudo. Foram contemplados os consumos de água e eletricidade (Tabela 4) e
diesel (estimados a partir das distâncias percorridas- Tabelas 1 e 2) em todas as etapas do processo de
coleta seletiva dos RDO, englobando todos os núcleos de coleta seletiva, a CT, os galpões dos
atravessadores/sucateiros e as indústrias recicladoras.
Consumos
O produto final gerado pela ACV são as contribuições líquidasde cada categoria de impacto para cada ano
estudado. Como pode ser observada na Figura 5, os valores para acidificação estão variando entre valores
de contribuições positivas e negativas de kgSO2eqdependendo do ano, enquanto os resultados gerados
2eq
az contribuições líquidas negativas
de kg 1,4-DB eq.
a) Acidificação
b)-Aquecimento Global
c)-Ecotoxicidade Terrestre
A análise do ciclo de vida do programa de coleta seletiva foi realizada com dados do ano de 2005, 2008,
2011 e 2014 (a cada 3 anos). Os valores negativos dos gráficos da Figura 5 conforme afirmado por
Foolmaun (2013), representam benefícios ambientais líquidos e são atribuídos a prevenção de emissões.
Ou seja, quanto maiores os valores negativos, maiores são as emissões evitadas através do programa de
coleta seletiva do município de João Pessoa e, portanto, maior o benefício ambiental líquido. Já os valores
positivos são sinônimos de prejuízos ao meio ambiente, apresentando valores líquidos de emissões de um
dado componente (CO2,SO2, C2H4) conforme categoria de impacto analisada.
Acidificação
kgSO2eq presentes no sistema
analisado. O dióxido de enxofre (SO2) é um gás incolor com um odor peculiar e ocorre como uma
impureza nos combustíveis fósseis, proveniente, principalmente, de atividades como queima de diesel nos
veículos pesados e da queima de combustíveis fosseis nas atividades industriais.
Nos resultados obtidos com a ACV os valores desta categoria de impacto oscilaram entre os anos
analisados, gerando impactos positivos e negativos para o meio ambiente dependendo do ano. Portanto,
através dos dados analisados as possíveis causas da diferença entre os valores das emissões entre os anos
estudados podem ser explicadas pelo aumento da reciclagem, principalmente, do plástico e do metal nos
anos 2008 e 2014 e, consequentemente, a diminuição dos consumos envolvidos na fabricação deste
material virgem, o qual pode ser observado na Tabela 5.
Tabela 5: Consumos de eletricidade e água na fabricação de uma tonelada de plástico e metal
utilizando matéria prima virgem e material reciclado.
Matéria prima virgem Material Reciclado
Material (1 t)
Energia (KW/h) Água (l) Energia (KW/h) Água (l)
Plástico 6,74 mil 1640 1,44 mil 400
Metal 16,5 mil 100,000,000 750 24,000,000
Fonte: WWF, 2008; GETRA GESTÃO AMBIENTAL, 2014.
Na Figura 6 é mostrado um resultado numérico das emissões de dióxido de enxofre evitadas com a
reciclagem dos materiais, com destaque para o plástico e o metal nos anos de 2008 e 2014, sendo estes os
anos que houve contribuições liquidas de kgSO2eq negativas ou positivas, mas com emissões bastante
inferiores em comparação aos outros anos, demonstrando a influência da reciclagem destes materiais para
a minimização deste impacto ambiental.
-1000
kgSO2eq
-2000
-3000
-4000
-5000
Reciclagem do Reciclagem do Reciclagem do Reciclagem do Reciclagem da
Papel Plástico Metal Vidro Borracha
Figura 6: Gráfico das emissões de kgSO2eq evitadas com a reciclagem do papel, plástico,
metalvidroe da borracha.
Fonte: Autora, 2016.
Aquecimento Global
2eq. O
dióxido de carbono (CO2) também conhecido como gás carbônico é um gás importante para o reino
vegetal, pois é essencial na realização do processo de fotossíntese das plantas, porém a quantidade
excessiva deste gás pode ser um dos responsáveis pelo aquecimento global, que é o processo de aumento
da temperatura média dos oceanos e da atmosfera da terra. (WWF, 2014). Este gás é liberado através da
queima de combustiveis fosseis (gasolina, diesel, querosene, carvão mineral e vegetal). Na Figura 5 é
possivel observar que o programa da coleta seletiva resultou em emissões positivas de kgCO2eq para o
meio ambiente, apresentando valores maiores nos anos de 2011 e 2014, podendo ser explicado pelo
aumento de toneladas de resíduos coletados e, consequentemente, o aumento de quilômetros percorridos
na etapa de coleta até os núcleos, dos núcleos até os atravessadores e do galpão dos atravessadores até as
indústrias recicladoras. Todas essas distâncias, são percorridas por caminhões movidos à diesel.
Ecotoxicidade Terrestre
emissões líquidas de kg 1,4-DBeq evitadas através do programa de coleta seletiva dos RDOdo município
de João Pessoa. O diclorobenzeno é um composto orgânico usado como pesticida e em substituição à
tradicional naftalina e, assim como utilizada também como um precursor na produção do polímero. Os
polímeros estão abundantemente presentes nos resíduos sólidos domiciliares, isto porque estão presentes
nos plásticos (poliestireno, PVC, Teflon), fibras sintéticas (Nylon, Poliéster); pneus, isolantes elétricos
outros.Este composto é responsável pela ecotoxicidade terrestre por ser pouco solúvel em água e não ser
facilmente quebrado por organismos do solo, logo permanece no solo por longos períodos (GORNI,
2003).Além disso, este composto pode ser tratado com uma substância cancerígena. Desta forma, a
provável razão pelo qual o programa da coleta seletiva vem trazendo benefícios ambientais na categoria
de impacto em questão é devido ao aumento da quantidade de RDO destinados à coleta seletiva e,
consequentemente, uma diminuição dos resíduos sólidos dispostos no aterro sanitário.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho permitiu concluir, através da aplicação da análisede ciclo de vida ACV - que o programa de
coleta seletiva do município de João Pessoa, entre os anos de 2005 e 2014, provoca impactos tanto
-seque o
programa, nos anos analisados, contribuiu para evitar as emissões de dióxido de enxofre em 2008,
contudo nos anos restantes estas emissões estavam presentes no programa. No que diz respeito ao
aquecimento global os resultados obtidos mostraram que o programa de coleta seletiva do município de
João Pessoa gera emissões de dióxido de carbono capazes de contribuir negativamente com este impacto
ambiental. Já as emissões de diclorobenzeno presentes nos polímeros foram reduzidas devido á coleta
seletiva, que diminuiu a quantidade de materiais recicláveisno aterro sanitário evitando maiores impactos
de ecotoxicidadeterrestre.No geral, sabe-se que a coleta seletiva é um método de gestão de resíduos
sólidos que propicia melhorias para o meio ambientealém de contribuir para a sustentabilidade urbana
com reflexos na saúde ambiental e humana (BESEN et al., 2014), contudo, os resultados da ACV
mostraram que devido a quantidade dos RDO coletados nos núcleos de coleta seletiva e na central de
triagemserem insuficienteso desempenho do programa está sendo incapaz de gerar todosos benefícios
ambientaisesperados por esta atividade. Deste modo, é notável que a elaboração de cenários visando à
otimização da gestão adequada da coleta seletiva é iminente e requer estratégias especialmente, no âmbito
de ampliá-la. Ainda assim, é importante ressaltar os benefícios sociais gerados pelo programa de coleta
seletivada capital paraibana, transformando a população em atores sociais e os catadores em um dos
protagonistas das mudanças requeridas na sociedade com focos na sustentabilidade.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradem:
Ao CNPq - MCTI / CNPq No. 14/2013 - Universal / Processo nº. 484357/2013-1, pelo financiamento da
pesquisa.
À Autarquia Municipal de Limpeza Urbana- EMLUR pelo fornecimento de dados.
Aos catadores das quatro associações do município de João Pessoa/PB.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1. ABRELPE (São Paulo) (Org.). PANORAMA DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO BRASIL 2014.
São Paulo: Grappa Editora, 2014. 118 p.
2. ARAÚJO, Elizabeth Sousa de.DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL E ACV DA COLETA
SELETIVA. ESTUDO DE CASO: NÚCLEO CABO BRANCO - JOÃO PESSOA/PB-
BRASIL.2015. TCC (Graduação) - Curso de Engenharia Ambiental, Centro de Tecnologia,
Universidade Federal da Paraiba, João Pessoa, 2015.
3. BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. . Coleta Seletiva. Disponível em:
<http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/catadores-de-materiais-
reciclaveis/reciclagem-e-reaproveitamento>. Acesso em: 03 ago. 2016.
4. BESEN, Gina Rizpahet al. COLETA SELETIVA NA REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO
PAULO: IMPACTOS DA POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS. Ambiente &
Sociedade, São Paulo, v. 23, n. 3, p.259-278, 30 jun. 2014.
5. CEMPRE COMPROMISSO EMPRESARIAL PARA RECICLAGEM (Org.). CempreReview.
São Paulo, 2013.
6. FOOLMAUN, R. K.; RAMJEEAWON, T. Comparative life cycle assessment and social life cycle
assessment of used polyethylene terephthalate (PET) bottles in Mauritius. The International Journal
of Life Cycle Assessment, Janeiro de 2013.Volume 18, Issue 1,pp 155-171.
7. GETRA GESTÃO AMBIENTAL (Campinas). Especificação da reciclagem. 2014. Disponível em:
<http://www.getraambiental.com.br/especificacao.php>. Acesso em: 01 ago. 2016.
8. GORNI, Antonio Augusto (Ed.). INTRODUÇÃO AOS PLÁSTICOS. 2003. Disponível em:
<http://www.gorni.eng.br/intropol.html>. Acessoem: 10 jun. 2016.
9. ISO 14040. Environmental management: life cycle assessment principles and framework.
International Standards Organization. ISO 14040: 2009.
10. LASSIO, João Gabriel Gonçalves de. Aplicação do programa simapro na avaliação dos ciclos de vida
dos materiais da construção civil: Estudo de caso para um conjunto habitacional. 2013. 91 f. TCC
(Graduação) - Curso de Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2013.
11. NÓBREGA, Claudia Coutinho; LIMA, José Dantas de; FLORES NETO, Josué Peixoto. ANÁLISE
DO PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO PROGRAMA DE COLETA SELETIVA NA CIDADE
DE JOÃO PESSOA - PARAÍBA. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA
SANITÁRIA E AMBIENTAL, 23., 2005, Campo Grande. João Pessoa: Congresso Brasileiro de
Engenharia Sanitária e Ambiental, 2005.
12. NÓBREGA, C. C. Utilização da Ferramenta Análise de Sustentabilidade de Análise de Ciclo de Vida
(ASCV) para a Avaliação do Programa de Coleta Seletiva na Cidade de João Pessoa/PB Brasil.
João Pessoa: UFPB, 2013. Edital Universal MCTI/CNPq nº 484357/2013-1.
13. PARANÁ. Política de Resíduos Sólidos do Estado do Paraná. Programa Desperdício Zero, Agosto
2003.
14. WWF (Brasil). Conheça os benefícios da coleta seletiva. 2008. Disponível em:
<http://www.wwf.org.br/?uNewsID=14001>. Acesso em: 02 jul. 2015.
15. WWF (Brasil). As Mundanças Climáticas. 2014. Disponível em:
<http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_de_impactos2/clima/mudancas_climaticas2/>.
Acesso em: 16 maio 2016.