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BIOMETANO DE GÁS DE ATERROS NO BRASIL: POTENCIAL E PERSPECTIVAS.

Conference Paper · November 2015

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2 authors:

Ana Paula Beber Veiga Sonia Seger Mercedes


Universidade Federal do ABC (UFABC) Federal University of Minas Gerais
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AGRENER GD 2015
10º Congresso sobre Geração Distribuída e Energia no Meio Rural
11 a 13 de novembro de 2015
Universidade de São Paulo – USP – São Paulo

BIOMETANO DE GÁS DE ATERROS NO BRASIL: POTENCIAL E


PERSPECTIVAS

Ana Paula Beber Veiga1, Sonia Seger Mercedes2

1
Programa de Pós-Graduação em Energia, Instituto de Energia e Ambiente, Universidade
de São Paulo (IEE/USP). Av. Professor Luciano Gualberto, 1289 – Butantã – São Paulo/SP - CEP
05508-010 - Tel: +55 (11) 3091-2648 - e-mail: anapbveiga@usp.br
2
Instituto de Energia e Ambiente, Universidade de São Paulo (IEE/USP). Av. Professor Luciano
Gualberto, 1289 – Butantã – São Paulo/SP - CEP 05508-010 - Tel: +55 (11) 3091-2534 - e-mail:
seger@usp.br

Resumo
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) pode representar um grande avanço na
questão sanitária do país. Além de visar a diminuição da necessidade de destinação final, a
PNRS prevê o aproveitamento energético dos gases gerados nas unidades de disposição
final. Antes mesmo de sua aprovação, diversos projetos de aproveitamento energético do
biogás extraído de aterros sanitários de maneira forçada foram implantados, com o objetivo
principal de produzir energia elétrica destinada ao Sistema Interligado Nacional. Em parte
motivados pela aprovação de políticas regionais, projetos recentes de recuperação de gás
de aterro promovem sua purificação, resultando na produção de biometano, um potencial
substituto ao gás natural de origem fóssil. O presente trabalho discute as dimensões
tecnológica e legal-institucional que envolvem a produção deste recurso, apresenta seu
potencial de produção e analisa os possíveis impactos decorrentes de sua adoção para uso
direto como energia primária.

Palavras-chave: Biometano, Gás de aterro, Política Nacional de Resíduos Sólidos.

Abstract
The National Policy on Solid Waste (PNRS) can represent a major breakthrough in the
matter of sanitary conditions of Brazil. In addition to its aim of reduced need for final disposal,
the PNRS foresees the energy recovery from gases generated in the final disposal units.
Even before its adoption, several energy recovery projects of biogas from landfills have been
implemented with the main goal of producing electricity to be dispatched to the National
Interconnected System. Partly motivated by the approval of regional policies, recently
developed landfill gas energy recovery projects promote its purification, resulting in the
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production of biomethane, a potential substitute for natural gas from fossil origin. This paper
discusses the technological and legal-institutional dimensions related to the production of this
resource, presents its production potential and assesses the possible impacts of its adoption
as primary energy.

Keywords: Biomethane, landfill gas, National Policy on Solid Waste

1. INTRODUÇÃO

A diminuição da dependência de combustíveis fósseis e consequente redução de


emissões de gases do efeito estufa, bem como a busca por melhores condições de
saneamento são questões convergentes quando a promoção do uso do biogás é avaliada,
com destaque para o setor de gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU).
A recuperação de gás de aterros para produção de energia incorre, necessariamente,
em um aprimoramento da gestão de resíduos sólidos, uma vez que pressupõe uma
disposição final em aterros sanitários ou, no mínimo, controlados. Adicionalmente, o
aproveitamento energético deste gás, que apresenta um grande potencial inexplorado, pode
contribuir para alguma redução no uso de fontes fósseis e, consequentemente, na emissão
de gases estufa.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei N° 12.305/ 2010, representa um
importante avanço na questão sanitária do país, uma vez que regula diversos parâmetros
importantes da gestão de resíduos, entre outros, a necessidade de redução da destinação
final, baseada na diminuição da geração e na revalorização dos resíduos. Além disso,
estabelece a obrigatoriedade de disposição dos rejeitos em aterros sanitários, os quais
apresentam padrões muito superiores à realidade atualmente constatada no Brasil.
No Brasil, a utilização energética do biogás foi fortemente impulsionada pela adoção
do Protocolo de Quioto (IPEA, 2012) e está baseada especialmente na geração de
eletricidade, representando 0,05% da matriz de eletricidade do país (ANEEL, 2015). Deste
modo, considerando que o cumprimento desta política poderá incorrer em altos custos de
implantação, a produção de biometano pode ser uma opção atrativa, no mínimo, para
equiparar os novos custos da gestão de resíduos no país.
Diante do exposto, este artigo objetiva (i) caracterizar o biometano produzido a partir
de gás de aterros como fonte de energia primária; (ii) estimar a potencial disponibilidade
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deste recurso no Brasil; (iii) discutir perspectivas relacionadas à produção e uso do


biometano no país, considerando suas possíveis aplicações e regulamentações recentes.

2. CARACTERIZAÇÃO E MARCO REGULATÓRIO DO BIOMETANO NO BRASIL

O biogás obtido a partir da decomposição anaeróbia da matéria orgânica presente em


efluentes (esgoto sanitário ou vinhaça, por exemplo), resíduos sólidos urbanos, resíduos ou
culturas agrícolas vem sendo historicamente utilizado como fonte primária, para a geração
de eletricidade, calor ou a cogeração. Por suas características físico-químicas, o biogás não
é equivalente, para uso final, ao gás fóssil, restringindo a economicidade de sua aplicação,
frente ao baixo desempenho termodinâmico e ambiental.
Assim, nos últimos anos, processos cada vez mais sofisticados de purificação do
biogás foram maciçamente implantados mundo afora, inclusive no Brasil. Estes processos
equiparam o conteúdo energético do biogás ao do gás natural, resultando no “biometano”,
desta forma definido como um gás que apresenta alta concentração de metano e qualidade
suficiente para viabilizar seu uso em automóveis, ou sua injeção em redes de distribuição de
gás natural (Åhman, 2010; Koornneef et al., 2013) (Figura 1).

Figura 1 – Fontes de produção e aplicações para o biogás (elaboração própria).


O processo de enriquecimento de biogás a biometano tem como objetivo principal o
aumento da concentração de metano através da remoção de CO2 e outros componentes.
Eze e K.E. (2010) argumentam a favor da economicidade da purificação do biogás e
enumeram seus benefícios, dada a fácil compressão: menor necessidade de
armazenamento para uma ampla gama de usos como combustível veicular, geração
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eficiente de eletricidade, matéria-prima para indústria química, células a combustível, e


outros.
As tecnologias para purificação de biogás são as mesmas usadas para o tratamento
do gás natural (Makaruk, Miltner e Harasek, 2010; Rasi, Läntelä e Rintala, 2014), estão em
uso e disponíveis comercialmente há mais de 20 anos. Sua escolha depende de diferentes
fatores, tais como custos, composição e características do fluxo de gás (por exemplo,
pureza, temperatura, pressão) (Koornneef et al., 2013).
A PNRS estabelece que o Plano Nacional de Resíduos Sólidos deve conter metas
para o aproveitamento energético dos gases gerados nas unidades de disposição final de
RSU (Brasil, 2010). Reconhecendo a disponibilidade de biogás de aterros sanitários bem
como sua subutilização, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, elaborado em 2012, afirma
que “o aproveitamento de biogás [....] para produção de energia no Brasil [...] ainda é
incipiente no país.” (MMA, 2012).
A produção de biometano não foi considerada no Plano Nacional, o qual apenas
apresenta metas de geração de eletricidade a partir do gás de aterro. No entanto, à época
de sua aprovação, regulações aprovadas em âmbito estadual criaram a oportunidade de
formação de um mercado para o fornecimento de biometano.
No Estado do Rio de Janeiro, a Lei Nº 6.361/2012, obriga as concessionárias de
distribuição de gás a comprarem biometano (referido como Gás Natural Renovável, GNR),
até o limite de 10% do volume distribuído por cada concessionária, desconsiderando o
volume utilizado para a geração termelétrica (Rio de Janeiro (Estado), 2012). O Estado de
São Paulo lançou o Programa Paulista de Biogás por meio do DECRETO Nº 58.659/2012, o
qual também tem como objetivo estimular a utilização deste recurso determinando um
porcentual mínimo de biogás a ser adicionado no gás canalizado comercializado em São
Paulo (São Paulo (Estado), 2012).
Durante este período, as especificações de propriedades físico-químicas do
biometano, exigidas para sua comercialização, seguiram os ditames da Resolução ANP
16/2008, que regula apenas o gás natural de origem fóssil1 (ANP, 2008). Apenas no início
de 2015, com a aprovação da Resolução ANP N° 8/2015, foram estabelecidas as
especificações para o biometano (ANP, 2015).

1
Ver entendimento da Nota Técnica da EPE (EPE, 2014a), que se refere ao biometano como substituto do gás
natural, já que atenderia às especificações da Resolução ANP 16/2008.
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Segundo esta resolução, o biometano comercializado para uso veicular (GNV) e em


instalações residenciais e comerciais pode ser produzido a partir de resíduos orgânicos
agrossilvopastoris e comerciais, como os RSU. No entanto, o biometano produzido a partir
de gás de aterros é admitido apenas para mistura ao gás natural em usos industriais e
casos caracterizados como Uso Experimental (consumo mensal superior a 10.000Nm3 - a
20°C e 1 atm), eliminando a possibilidade de injeção na rede de distribuição de gás natural.

3. POTENCIAL PRESENTE E FUTURO

A estimativa do potencial de gás de aterro no Brasil, de 2015 a 2030, foi realizada


utilizando o modelo descrito pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC2). O período de dados utilizados vai de 1970 a 2030 e o período projetado para a
produção, de 2015 a 2030. Este modelo oferece valores padronizados para algumas
variáveis, os quais foram empregados quando não se dispunha de informação específica
para o Brasil (Tabela 1).
Tabela 1 – Valores padrão utilizados nos cálculos (IPCC, 2006).
Parâmetro Valor
Fração de carbono orgânico degradável (DOC(x))* Matéria orgânica 0,15
Papel 0,4
Fração de metano (F) 0,5
Fator de conversão do metano (MCF) Vazadouros a céu aberto 0,6
Aterros Controlados 0,8
Aterros sanitários 1
Fração de carbono orgânico dissimilado (DOC(f)) 0,5
-1
Constante de geração de metano (k)** Matéria orgânica 0,4 ano
-1
Papel 0,07 ano
Fator de oxidação (OX)*** 0,1
* Composição gravimétrica média do resíduo coletado no Brasil ** Os valores adotados para k típicos de zonas
climáticas tropicais (temperatura > 20°C) e úmidas (precipitação > 1000 mm), aplicados a todo o território
nacional. Esta generalização levou em conta valores médios predominantes de precipitação e temperatura na
3
maior parte do país, embora não represente a variedade climática do Brasil . *** Valor padrão para aterros
sanitários e controlados, categorias mais relevantes no período analisado.
Os dados de 1970 e 1972 mostram que o lixo coletado por empresas de limpeza
pública, tanto das vias públicas quanto das residências, era destinado a vazadouros a céu
aberto (IBGE, 2006). Apenas a partir da publicação da segunda Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico (PNSB), as categorias aterro sanitário e controlado foram incluídas
(IBGE, 1989). Assim, considerou-se que a destinação do lixo coletado no país dava-se

2
Do inglês Intergovernmental Panel on Climate Change.
3
Para informações mais detalhadas consultar INMET, 2009; IPCC, 2006.
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integralmente em vazadouros a céu aberto, em 1970. De 1971 até 1988 foi adotado um
crescimento linear para a disposição final em aterros controlados e sanitários, considerando
uma base inicial de 0%. Entre 1989 e 2008, foram adotados os dados das PNSB, para 1989,
2000 e 2008 (Tabela 2). Nos anos entre pesquisas, foi considerado um crescimento linear.
Tabela 2 – Destino final de RSU no Brasil de 1989 a 2008 (IBGE, 2010).
Aterro Controlado Aterro Sanitário
Ano
(%) (%)
1989 9,6 1,1
2000 22,3 17,3
2008 22,5 27,7
Segundo a PNRS, até 2015 todos os resíduos sólidos urbanos deveriam ser dispostos
em aterros sanitários. No entanto, até recentemente, em 2008, 50,8% dos resíduos ainda
eram encaminhados para vazadouros a céu aberto (IBGE, 2010). Assim, para estimar a
produção de gás de aterro até 2030, foram elaborados dois cenários de disposição final a
partir de 2010 – ano da promulgação da PNRS (Tabela 3).
Tabela 3 – Cenários para destinação final de RSU no Brasil (elaboração própria).
Cenário Descrição
Cenário A Objetivo de disposição final de RSU da PNRS completamente satisfeito a partir de
2015; assumindo a mesma proporção entre o envio para aterros controlados e
sanitários da PNSB 2010, mantida até 2030.
Cenário B Objetivo de disposição final de RSU da PNRS não satisfeito em 2015 (situação atual).
Assume-se 100% RSU em aterros sanitários ou controlados até 2030; crescimento
linear a partir dos dados da PNSB 2010; assumida a mesma proporção entre o envio
para aterros controlados e sanitários mantida até 2030.
A geração anual de resíduos sólidos urbanos é estimada considerando a população do
país e a geração per capita de resíduos. A população total para os anos inicial (1970) e final
(2030) da base de dados foi obtida dos censos demográficos (IBGE, 2008a) e da Projeção
da População de 1980 até 2030 (IBGE, 2008b). A população do país entre 1971 e 1979 foi
estimada por interpolação linear.
A geração de resíduos per capita para 1970, 1977, 1980 e 1990 foi obtida em CHESF
(1987). Para o período de 2002 a 2009, foram utilizados os dados de Campos (2012). Para
completar o hiato entre os dados, foi utilizada a interpolação linear. De 2010 a 2014,
usaram-se os dados da ABRELPE (ABRELPE, 2011, 2012, 2013, 2014, 2015). A partir de
2015 a geração per capita foi mantida constante.
A composição média dos resíduos coletados no Brasil em 1972 foi obtida em CHESF
(1987) e para o período de 2000 a 2008 foram considerados os dados de IPEA (2012). Para
os anos faltantes foi feita uma projeção linear e, a partir de 2008, a composição gravimétrica
dos resíduos foi mantida constante.
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As Séries Históricas IBGE foram utilizadas para determinar a fração do lixo gerado que
é coletado para os períodos de 1981 a 1990, 1992 a 1999, e 2001 a 2009. Para 1991 e 2000
foram feitas médias aritméticas entre as informações imediatamente anteriores e posteriores
ao dado desejado. Anteriormente a 1981 e a partir de 2010 foi feita uma interpolação linear,
considerando que em 2030, 99,9% dos resíduos gerados no país serão coletados.
A produção potencial de biometano de 2015 até 2030 foi calculada considerando que
a eficiência de captura do gás de aterro é de 50% e que o rendimento do processo de
purificação é de 70% (EPE, 2014a). O resultado é apresentado na Figura 2.

Figura 2 – Produção de biometano no Brasil entre 2015 e 2030 (elaboração própria).


Durante o período analisado, o país atingiria, em 2030, uma capacidade de produção
de biometano equivalente a 157.563 m3/h e 152.836 m3/h, nos cenários A e B,
respectivamente. Nos dois cenários, esta vazão é equivalente ao consumo de Gás Natural
dos setores residencial e comercial/público/agropecuário do país projetado pela EPE para
2020 e corresponde a mais da metade das projeções de consumo de gás natural destes
setores juntos em 2030 (Tabela 4).
Tabela 4 – Relevância do biometano frente ao GN (elaboração própria; EPE (2014b)).
Projeção EPE Participação biometano em relação às
Consumo Final GN projeções de gás natural
3
(Mm /dia) (%)
2020 2030
2020 2030
A B A B
a) Consumo Final 109,1 147,2 - - - -
b) Residencial 1,9 4,3 168% 155% 74% 35%
c) Comercial, Público, Agropecuário 1,2 2 315% 306% 189% 183%
b) + c) 3,1 6,3 103% 95% 60,0% 58,2%
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4. PERSPECTIVAS FUTURAS PARA O BIOMETANO NO BRASIL

A produção de biogás é relevante na Europa e corresponde a 60% da produção


mundial (Raboni e Urbini, 2014). Experiências de sucesso no uso do biometano se
multiplicam na região (Ferreira, Marques e Malico, 2012), impulsionadas em grande parte
por tarifas feed-in (praticadas, por exemplo, na Alemanha) e Certificados de Obrigação
Renováveis (Reino Unido), que geraram um mercado para a produção de eletricidade a
partir de gás de aterro e para plantas rurais de metanização (Åhman, 2010), tributação do
CO2 dos combustíveis fósseis e incentivos governamentais para construção de plantas e
infraestrutura na Suécia (Ferreira, Marques e Malico, 2012).
Contudo, pela recente Resolução da ANP sobre as especificações do biometano, as
alternativas de comercialização do biometano produzido a partir de gás de aterro atualmente
possíveis não incluem a possibilidade de injeção na rede de distribuição, dado que não é
permitida sua mistura com o gás natural.
Em uma primeira análise, estas restrições poderiam indicar um impedimento no uso de
biometano produzido a partir de gás de aterros. No entanto, o setor que mais deverá
consumir gás natural é o industrial (MME, 2007). Assim, projetos como a iniciativa
observada no Aterro Metropolitano Jardim Gramacho (AMJG), no Rio de Janeiro, poderiam
ser replicados. A partir do encerramento das atividades do aterro, em 2012, foi implantada
uma planta de purificação de biogás que fornece, via gasoduto dedicado, biometano
diretamente para a refinaria Duque de Caxias, da Petrobras, localizada próxima ao aterro.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A experiência observada em outros países revela que a produção de biometano é


viável quando promovida por meio de instrumentos políticos (Manninen et al., 2013). O
contexto regulatório atual é favorável ao uso de biometano. Assim, esta passa a ser uma
alternativa possível e pode contribuir, em última análise, para a melhoria das condições
sanitárias no Brasil, através da adequação dos locais de disposição final de resíduos.
Adicionalmente, o biometano produzido a partir de gás de aterros pode diversificar
parcialmente a matriz energética brasileira, já que, apresenta potencial interessante de
substituição do gás natural em alguns setores de consumo. Independentemente das
características de produção e consumo a serem adotadas, é importante evitar a mera
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transposição de modelos e políticas internacionais, e, sobretudo, construir políticas e


regulações compatíveis entre os setores de saneamento e energia do país.
Apesar das metas de diminuição da geração de RSU, os aterros sanitários e
controlados ainda figurarão como os locais de disposição final de resíduos no país. Uma vez
que a injeção do biometano de aterro em gasodutos foi dificultada pela ANP, a promoção de
outras aplicações (por exemplo, combustível veicular) e outras alternativas para seu
transporte e distribuição (por exemplo, gasodutos virtuais, distribuição por cilindros,
gasodutos dedicados) serão necessárias.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Editora e Comunicaçã. Disponível em: <http://www.abrelpe.org.br/panorama_edicoes.cfm>.
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