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POTENCIAL ENERGÉTICO DA BIOMASSA DA CASCA DE ARROZ NO

BRASIL

Silva, Otavio Henrique da(1); Ardenghi, Tábata Cristine (2); Ritter, Cíntia Maria(3);
Santos, Francielle da Rocha(4); Halmeman, Maria Cristina Rodrigues (5)

Resumo
A geração de energia através da biomassa vem tendo vez mais representatividade na matriz energética
nacional, pois se trata de uma alternativa interessante dos pontos de vista tecnológico, econômico e
ambiental. O trabalho tem o objetivo de analisar o potencial energético da biomassa da casca orizícola
no Brasil, realizando uma pesquisa exploratória e descritiva. Na safra de arroz 2012/11, houve
produção de 12.628,2 mil toneladas no país, o que acarreta em grande volume de casca, já que esta
represanta 20% do peso do grão. Do total de oito usinas dessa biomassa l geram 32,61 MW, todavia, se
fosse aproveitado todo arroz disponível, utilizando-se de tecnologia padrão de geração termelétrica, a
produção seria de 268,69 MW, passando de uma representatividade de 0,03% para 0,21% na produção
energética brasileira.

Palavras chave: Biomassa, Casca de arroz, Potencial energético.

Introdução
De acordo com Ribas (2008), a alta do preço dos combustíveis fósseis no mercado
internacional, bem como limitações de cunho sazonal da energia hidroelétrica e pressão da
sociedade para desenvolvimento de modelos energéticos alternativos, deram à biomassa um
papel de destaque no suprimento de parte da demanda energética nacional. De acordo com
Foletto (2005), a utilização de fontes dispersas de energia, em particular a biomassa,
aparece como importante fonte, por colaborar na oferta de energia do sistema interligado do
país e diversificar a matriz energética, além de tratar do resíduo produzido pela
agroindústria.
Conforme Aneel (2012), dentre as fontes renováveis de energia, a biomassa é
responsável por 7,17% da energia elétrica, com 431 empreendimentos em operação. Ainda
conforme banco de dados sobre geração elétrica, há oito usinas de biomassa da casca de
arroz, que juntas geram 32608 kW, representando 0,03% do total da produção energética
nacional. Os principais processos termoquímicos, que utilizam biomassa em suas
conversões, são a combustão direta, a gaseificação, a liquefação e a pirólise. Em função da
problemática ligada ao descarte do resíduo gerado pela beneficiação do arroz e da atual
utilização de combustíveis fósseis em larga escala, existem razões para o desenvolvimento
de tecnologias mais limpas.
1 - Acadêmico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - câmpus Campo Mourão / curso de Engenharia Ambiental /
henrique_s17@hotmail.com
2 - Acadêmico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - câmpus Campo Mourão / curso de Engenharia Ambiental/
ardenghi.tabata@gmail.com
3 - Acadêmico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - câmpus Campo Mourão / curso de Engenharia Ambiental/
cintiaritter@hotmail.com
4 - Acadêmico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - câmpus Campo Mourão / curso de Engenharia Ambiental/
francielleroch@hotmail.com
5 - Professor da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - câmpus Campo Mourão / departamento de Engenharia Civil/
cristhalmeman@gmail.com
Segundo Chungsangunsit (2004), a casca de arroz representa 20% do peso do arroz
total. Desta forma, uma grande quantidade de casca, que descartada maneira incorreta em
um local, pode proporcionar dificuldades quanto à eliminação desses resíduos, emissão de
metano e à respiração das pessoas. Nesse contexto, a casca de arroz tem sido utilizada em
locais de incubação de frango, como aditivo na indústria de cimento e como fertilizante.
Mesmo assim, estas ações não são suficientes para reduzir significativamente o problema de
descarte, sendo então proposta a alternativa de se utilizar a casca de arroz para produção de
energia.
Conforme CONAB (2011), a produção de arroz no safra 2010/2011 no Brasil foi de
12831,40 mil toneladas, sendo o estado do Rio Grande do Sul o maior produtor, responsável
por 64,35% da produção nacional, seguido por Santa Catarina (8,25%), Mato Grosso (5,36%) e
Maranhão (4,42%). A produção prevista para a safra 2020/2021 é de 13,7 milhões de
toneladas, o que aponta o grande potencial energético dessa biomassa.
Desta maneira, o objetivo do trabalho é analisar o potencial energético da biomassa
da casca orizícola no Brasil.

Metodologia
A metodologia desse trabalho caracteriza-se em uma pesquisa exploratória e
descritiva, pois pretende-se realizar análise do potencial energético da biomassa da casca
orizícola no país, através de pesquisas bibliográficas a fontes diversas, tais como:
publicações em trabalhos científicos, órgãos governamentais (ministérios, secretarias
estaduais e municipais) e institutos de pesquisa, e utilizando-se metodologia de Coelho et
al. (2002) para cálculo da energia gerada e potência instalada.

Resultados e Discussão

Produção de arroz no Brasil


O Brasil durante muitos anos foi exportador de arroz. Na década de 80 passou a
importar pequenas quantidades (5% da demanda total) e, a partir de 1989/90, se tornou um
dos principais importadores deste cereal, chegando a 2 milhões de toneladas, em 1997/98,
quando atingiu, uma média superior a 10% da demanda interna. A lacuna entre a produção e
o consumo anual de arroz irrigado, à partir da década de 90, passou a ser suprida,
principalmente pelo Uruguai e Argentina, que responderam por cerca de 85 a 90% das
importações brasileiras (EMBRAPA, 2012).
A Tabela 1 mostra, conforme CONAB (2011), um comparativo da produção orizícola, em
mil toneladas, nas regiões do Brasil para as safras de 09/10 e 10/11.

Tabela 1: Comparativo da produção de arroz nas regiões brasileiras nas safras de 09/10
e 10/11.

Região Produção (mil t)

Safra 09/10 Safra 10/11 VAR. %


Norte 1.017,6 1.025,6 0,8

Nordeste 821,6 1.096,1 33,4

Centro-Oeste 1.084,5 868,8 19,9

Sudeste 190,2 186,4 2,0

Sul 8.547,0 9.451,3 10,6

Brasil 11.660,9 12.628,2 8,3

Fonte: CONAB (2011)

É visto um aumento da produção em todas as regiões brasileiras, com destaque de


crescimento para a região Nordeste de 33,4%. A região Sul destaca-se como sendo a maior
produtora, com um crescimento de 10,6% entre as safras.

Perspectivas para os próximos anos


Conforme Mapa (2011), as estimativas para a projeção de área plantada de arroz
mostram que deverá ocorrer redução de área nos próximos anos. A área deve passar de 2,6
milhões de hectares em 2010/2011 para 1,6 milhão de hectares em 2020/2021, uma
redução, portanto, de 1,0 milhão de hectares de arroz. Todavia, no estado do Rio Grande do
Sul, principal produtor nacional desse produto, essa redução não deverá ocorrer, com uma
variação de 1143 mil ha na safra 2010/2011 para 1321 mil ha em 2020/2021.
Segundo Mapa (2011), é esperado um aumento da produção orizícola brasileira de
12503,1 mil toneladas em 2010/2011 para 13738,2 mil toneladas de arroz em 2021/21,
sendo que, somente o estado do Rio Grande do Sul, cuja produção em 2010/2011, (64,5%
da produção nacional de arroz), deve aumentar a produção nos próximos anos em 23,6%.
Isso representa até 2020/2021 aumentos médios anuais de 2,1% da produção e de 1,42% da
área de arroz no estado.

Cenário Brasileiro
O Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica - PROINFA, criado
pelo Governo Federal em 26 de abril de 2004 pela Lei 10.438, e coordenado pelo Ministério
de Minas e Energia (MME), visa aumentar a produção de energia elétrica renovável, as fontes
de energia contempladas por esse programa são: eólica, pequenas centrais hidrelétricas
(PCHs) e biomassa.
De acordo com MME (2012), o programa prevê a implantação de 27 usinas à base de
biomassa, entre outras fontes de energia renovável que o programa contempla.
Dentro de uma perspectiva de longo prazo, a biomassa para fins energéticos em geral,
e como fonte para geração de energia elétrica em particular, está entre as fontes renováveis
com maiores possibilidades, seja em termos de natureza e origem, seja em termos de
tecnologia de conversão em produtos energéticos (EPE, 2007).
Conforme Aneel (2012), no brasil há 8 usinas de biomassa da casa de arroz, 5 delas no
estado maior produtor, Rio Grande do Sul, e outras 3 nos estados de Mato Grosso, Rondônia
e Santa Catarina. Todas geram 32608 kW, o que representa 0,03% do total da produção
energética nacional.

Produção de energia da biomassa da casca de arroz


De acordo com Foletto (2005), a geração de energia através da queima da casca de
arroz é uma alternativa praticável do ponto de vista tecnológico, viável do ponto de vista
econômico e ético do ponto de vista ecológico, já que a tecnologia para a conversão é
disponível, a matéria prima é abundante na região e todo CO2 produzido na queima volta
para o ciclo de carbono da biosfera terrestre.
Conforme Rocha, Pérez e Cortez (2004), fazer a conversão da casca, próximo ao local
onde ocorre o beneficiamento do arroz torna-se extremamente importante, uma vez que o
transporte da casca de arroz representa uma etapa altamente problemática, pois sua baixa
densidade torna o volume muito grande e transportá-la não é economicamente vantajoso.
Segundo IRGA (2006), o arroz, de acordo com o plantio e a época do ano, vem da
lavoura com 25-30% de umidade, sendo que, para o beneficiamento, deve ser reduzida para
12-15%. De acordo dom Preto e Mortoza (2010) a secagem é realizada com queima de parte
das cascas e os gases de combustão são empregados como meio de aquecimento. Usinas
produtoras de arroz parborizado também utilizam vapor nos processos de beneficiamento.
Conforme Mayer, Hoffmann e Ruppenthal (2006), o calor de processo empregado em
um engenho de arroz pode ser obtido a partir de diferentes equipamentos, o que possibilita
a geração simultânea com a eletricidade. Como exemplo de equipamentos, pode-se citar
gerador de vapor, motor Stirling, fornalhas, etc.
De acordo com Hoffmann (1999), além desta utilização, o vapor gerado pode ser
empregado na geração de eletricidade, com tecnologia padrão de geração termelétrica, a
partir e um ciclo Rankine (técnica e economicamente mais viável que outras formas de
aproveitamento térmico da combustão), que é resumida pelo fluxograma expresso na Figura
1.

Figura 1: Geração de eletricidade através da combustão da casca de arroz


Fonte: Adaptado de Hoffmann (2009)

Cálculo do potencial energético da biomassa da casca orizícola no Brasil para


geração de energia elétrica
Os dados da CONAB para produção orizícola no Brasil na safra 2010/2011 expressa,
em toneladas, a quantidade de arroz em casca produzido, sendo assim, é necessário
considerar apenas a casca como resíduo agrícola aproveitável que, nesse caso, representa
30% do peso total do arroz com casca, de acordo com Coelho (2008). O Poder Calorífico
Inferior (PCI) da casca é de 3384 kcal/kg (COELHO et al., 2002), e considerou-se o uso de
ciclos a vapor de pequeno porte com rendimento de 15%. A conversão de kcal/kg para
kWh/kg é dada pela divisão por 860. O cálculo do potencial a partir da casca de arroz é
realizado pela equação:

Potencial (MW/ano) = [(t Arroz*0,3)*PCI (kcal/kg)*0,15]/860*8322

Em que:
PCI = Poder Calorífico Inferior;
t Arroz = Quantidade de Arroz produzido em toneladas.

Considera-se que o sistema opere o ano todo com os resíduos gerados e que a
operação ocorra em 95% das horas anuais, o que resulta em 8.322 horas de operação/ano.
A Tabela 2, de acordo com CONAB (2011) e Coelho (2008), mostra o atual potencial
da casca de arroz utilizada como combustível para geração de energia elétrica nas Regiões
do Brasil.

Tabela 2: Potencial para geração de energia utilizando a casca de arroz como combustível
nas regiões do Brasil.

Região Produção (t) Safra 10/11 Potencial (MW/ano)

Norte 1025600 21,82

Nordeste 1096100 23,32

Centro-Oeste 868800 18,49

Sudeste 186400 3,97

Sul 9451300 201,10

Brasil 12628200 268,69

Fonte: CONAB (2011) e Coelho (2008)

Os dados apresentados na tabela 2 representam valores de referência máximos para a


geração de eletricidade, todavia, segundo Mayer, Hoffmann e Ruppenthal (2006), espera-se
uma queda na quantidade de casca disponível devido a utilização desta na secagem de arroz
e parborização.
O potencial para geração de energia utilizando esse resíduo é alto, sendo oito vezes
maior que a atual capacidade para geração de energia de 32,61 MW. Esse potencial, caso
fosse todo utilizado, teria uma representatividade de 0,21% na produção energética
nacional, que, atualmente, é de 0,03%.

Conclusão
Com os resultados obtidos pode-se concluir que a geração de energia renovável está
cada vez mais em alta, sendo também incentivada pelo Governo Federal através do PROINFA.
Dentre as fontes contempladas pelo Programa, a biomassa é a que tem maior potencial.
Nem tudo o que se produz hoje no Brasil, em termos de casca de arroz, é aproveitado
para a geração de energia. Com oito usinas, o Brasil gera 32,61 MW, o que representa 0,03%
do total da produção energética nacional. A produção orizícola no Brasil, atualmente, é de
12.628,2 toneladas, e tem apresentado crescimento em algumas regiões, como a Nordeste e
a Sul. Se utilizada toda produção, seria possível gerar cerca de 268,69 MW, representando
0,21% na produção energética total do Brasil.

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