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1 Artigo Técnico-Científico aceito em 14/06/2022 na Revista Engenharia na Agricultura

2 Avaliação dos impactos ambientais das produções de milho, soja e trigo no Sudoeste
3 Paulista: Cenários alternativos para a substituição da adubação química

4 Gabriela Giustia, Yovana Saaverab Gustavo Fonseca de Almeidab


5
a
6 Research Group on Sustainability Engineering, Federal University of São Carlos, João Leme
7 dos Santos Highway, SP-264, km 110, Itinga, Sorocaba, 18052-780, Brazil
b
8 Center for Nature Sciences, Lagoa do Sino campus, Federal University of São Carlos, Lauri
9 Simões de Barros Highway, SP189, km 12, Aracaçu, Buri, 18290-000, Brazil
10

11 Resumo:

12 Os fertilizantes minerais são altamente impactantes no setor agrícola, e o esterco animal pode
13 ser uma alternativa para a mitigação de seus impactos. O objetivo da pesquisa foi estimar o
14 potencial impacto ambiental na produção de soja, milho e trigo da Fazenda Lagoa do Sino da
15 UFSCar, em Buri-SP, contemplando a safra 2016/2017, e testar a substituição de 100%, 50% e
16 30% da adubação química por esterco de vacas compostado. A metodologia utilizada foi a de
17 Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) usando a unidade funcional de uma tonelada de grãos. As
18 fronteiras dos sistemas foram cradle-to-farm gate. Os impactos foram avaliados pelo método
19 CML 2000 world+, para depleção abiótica, aquecimento global, acidificação e eutrofização. A
20 fertilização química foi o principal hotspot na produção. A produção de soja apresentou um
21 impacto potencial de 1489 MJ, 125 kg CO2eq., 0,6 kg SO2eq., e 0,4 kg PO4eq.; a cultura do
22 milho 1497 MJ, 197 kg CO2eq., 1 kg SO2eq., e 0,8 kg PO4eq., e; a produção de trigo 5863 MJ,
23 632 kg CO2eq., 3,3 kg SO2eq., e 2,4 kg PO4eq. O cenário de 30% de substituição do adubo
24 mineral foi o mais eficiente, já que há aumento no consumo de combustíveis para a distribuição
25 de doses maiores de esterco. Enriquecer o esterco e investir na eficiência dos tratores poderão
26 melhorar o perfil ambiental da produção de grãos em sistemas intensivos no Sudoeste Paulista.

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28 Palavras-chave: Produção de cereais. Visão sistêmica. Impactos ambientais. Adubo


29 compostado.

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31 Introdução

32 A produção agrícola beneficia a sociedade de diversas maneiras, com a produção de


33 alimentos nutritivos, de ingredientes para a elaboração de ração para animais, de
34 biocombustíveis líquidos e sólidos, além de benefícios econômicos para diversas partes
35 envolvidas (Tsalidis, 2022). Diante desses benefícios e de uma demanda relativamente
36 estável por seus produtos, estima-se que entre 2021 e 2030, a produção agrícola mundial
37 aumente cerca de 1,5% ao ano (OECD, 2021). No entanto, estes sistemas intensivos de
38 produção requerem uma alta quantidade de insumos, como maquinários e implementos
39 agrícolas, sementes melhoradas, água, fertilizantes e pesticidas (Muñoz et al., 2008). Com
40 isso, esses insumos também são responsáveis por uma série de efeitos ambientais, sendo
41 altamente contribuintes em termos de emissões de poluentes, impactos nos recursos hídricos
42 devido eutrofização, e de uso do solo (Crenna et al., 2019).

43 De acordo com EPA (2022), o setor agrícola é responsável por, em média, 14% das
44 emissões globais de gases de efeito estufa. A fermentação entérica, o tratamento de esterco
45 animal e o uso de fertilizantes minerais representam 32%, 15% e 7% destas emissões,
46 respectivamente (FAO, 2019). Buscando mitigar os efeitos das mudanças climáticas, líderes
47 mundiais assinaram o Pacto Climático de Glasgow durante a 26° Conferencia das
48 Organizações das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-26), reconhecendo a
49 emergência de limitar o aumento da temperatura média global a menos de 2°C, e visando,
50 entre outros, reduzir em 30% as emissões de metano até 2030, um gás altamente emitido na
51 criação de ruminantes (ONU, 2022a).

52 No cenário agrícola mundial, o milho, o trigo e a soja se encontram entre os cinco


53 alimentos com maior volume de produção, atingindo 1.162.352.997, 760.925.831 e
54 353.463.735 toneladas no ano de 2020, respectivamente (FAO, 2021). Neste cenário, o
55 Brasil é o primeiro produtor e exportador mundial de soja, e se encontra em terceiro lugar
56 no ranking de maiores produtores (atrás dos Estados Unidos e da China) e exportadores
57 (atrás dos Estados Unidos e Argentina) de milho do mundo (FAO, 2021). No caso do trigo,
58 mesmo apresentando um menor volume de produção no país, o grão se destaca como uma
59 importante cultura para cultivo de inverno, principalmente na região sul e sudeste do país.

60 No Brasil, o centro-oeste se destaca como a principal região produtora de soja e de


61 milho, com o estado do Mato Grosso liderando as produções. Depois da região centro-oeste,

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62 o sul do país se destacava como o segundo maior produtor destes grãos, com destaque para
63 os estados do Paraná e Rio Grande do Sul. A região sudeste se destaca como a terceira maior
64 produtora, sendo que o principal estado produtor é Minas Gerais, seguido de São Paulo
65 (Coêlho, 2018). Com relação a produção de trigo, a região sul é a principal produtora do
66 país, com destaque para o estado do Paraná. A segunda região com maior produção é a
67 região sudeste, onde São Paulo tem destaque, seguido de Minas Gerais (CONAB, 2018).

68 No entanto, a agricultura brasileira também se destaca por seus potenciais impactos


69 ambientais associados. Segundo dados da ONU (2021), estima-se que de 1990 à 2018, o
70 agronegócio brasileiro aumentou em 121% o uso de matérias primas agrícolas, contribuindo
71 com 57% da pegada associada ao uso de materiais industrializados, gerando impactos de
72 depleção de combustíveis fósseis e minerais. Nesse mesmo período, o agronegócio
73 brasileiro apresentou um aumento de cerca de 70% nas emissões de gases de efeito estufa,
74 de mais de 140% em termos de poluentes atmosféricos (como material particulado, amônia
75 e dióxido de enxofre) e de aproximadamente 2% nos impactos associados ao uso da terra
76 (ONU, 2021).

77 Diante desse cenário, é urgente a necessidade de se avaliar e buscar formas de mitigar


78 os potenciais impactos ambientais associados ao setor, para que acordos mundiais como a
79 Agenda 2030 dos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ONU, 2022b) e o Pacto
80 de Glasglow (ONU, 2022a) possam ser atingidos. Neste sentido, segundo Preda (2015), a
81 Avaliação do Ciclo de Vida (ACV), padronizada pelas normativas ISO 14040 e 14044 (ISO,
82 2006 a,b), é uma das mais completas técnicas para analisar impactos ambientais associados
83 à produção de alimentos, além de exigir alto nível de transparência do procedimento
84 executado. A técnica já foi empregada por diversas outras pesquisas interessadas na análise
85 ambiental de sistemas agrícolas e pecuários. Por exemplo, Fantin et al. (2017) avaliaram os
86 impactos dos cultivos de milho e trigo em uma cooperativa de agricultores na Itália, Taki et
87 al. (2018) compararam a produção de trigo com e sem irrigação no Irã. Zortea et al. (2018)
88 avaliaram a sustentabilidade do ciclo de vida da produção de soja no estado do Rio Grande
89 do Sul, no Brasil. Apesar das diferenças dos cultivares e locais de produção, no que
90 concerne aos impactos de depleção de recursos, acidificação, eutrofização e aquecimento
91 global, os três estudos supracitados identificaram os impactos da fertilização dos grãos com
92 um dos principais pontos críticos (hotspot) dos sistemas avaliados.

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93 Considerando que a produtividade, a degradação ambiental e as mudanças climáticas
94 são fatores que afetam os sistemas agrícolas, torna-se essencial a busca por estratégias de
95 manejo sustentável para viabilizar o atendimento as demandas futuras de alimentos
96 reduzindo seus impactos associados (Du et al., 2020). Tendo em vista a relevante
97 contribuição das atividades de fertilização química nos impactos do setor agrícola, estudos
98 de ACV têm avaliado a viabilidade ambiental da substituição dos adubos minerais por
99 esterco proveniente de sistemas de produção animal. Por exemplo, Li et al. (2020) avaliaram
100 a substituição de 50% do fertilizante mineral por esterco bovino sólido e liquido, na
101 produção de milho e trigo, na planície norte da China. Os autores observaram potenciais de
102 redução de impactos de 18% e 31% para cada substituição, respectivamente. Além disso,
103 os sistemas com uso de esterco para fertilização mostraram uma ecoeficiência 30% superior
104 ao sistema de fertilização mineral, indicando que os benefícios podem aparecer tanto no
105 pilar ambiental, como na dimensão econômica.

106 Na mesma abordagem, Jiang et al. (2021) avaliaram a substituição de 50% do adubo
107 mineral por esterco compostado de suínos na produção de trigo na China. Os autores
108 observaram que o esterco pode elevar os impactos ambientais para as categorias de
109 aquecimento global, acidificação e eutrofização dependendo da dose aplicada. No entanto,
110 o enriquecimento do esterco com biocarvão se mostrou uma alternativa para redução dos
111 impactos associados ao aquecimento global (Jiang et al., 2021). Du et al. (2020)
112 identificaram que o uso de esterco animal como fertilizante também pode gerar, à longo
113 prazo, aumento na produtividade dos grãos, e benefícios para a vida dos solos, elevando a
114 disponibilidade de nutrientes e melhorando o pH. No entanto, no contexto dos países em
115 desenvolvimento, como é o caso do Brasil, é observado uma baixa “reciclagem” dos dejetos
116 animais (Jiang et al., 2021). Uma vez que o território brasileiro é composto 58% por
117 latossolos e argissolos, que são profundos, intemperizados, ácidos e de baixa fertilidade
118 natural (EMBRAPA, 2022), o uso de esterco animal em produções agrícolas se mostra um
119 oportuno campo de pesquisa para o setor agropecuário.

120 Considerando a importância dos cultivos de soja, milho e trigo no país, e a eficiência da
121 técnica ACV, este trabalho buscou contribuir com o debate sobre os impactos ambientais
122 da produção de grãos, além de buscar alternativas de mitigação dos impactos associados ao
123 processo de fertilização dessas lavouras comerciais. Assim, o objetivo deste estudo foi
124 avaliar o cultivo convencional destes grãos na Fazenda Escola Lagoa do Sino da UFSCar

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125 (Universidade Federal de São Carlos), localizada no município de Buri, Sudeste do Estado
126 de São Paulo, e buscar diagnosticar elementos para mitigação dos impactos dessas lavouras
127 comerciais através da modelagem de cenários alternativos de produção utilizando esterco
128 animal para promover a substituição dos fertilizantes minerais.

129 1. Metodologia

130 Esta pesquisa foi desenvolvida utilizando a técnica ACV normatizada pelas ISOs 14040
131 (ISO, 2006a) e 14044 (ISO, 2006b), contemplando quatro etapas metodológicas: 1)
132 definição de objetivo e escopo; 2) análise de inventário do ciclo de vida (ICV); 3) avaliação
133 de impacto do ciclo de vida (AICV), e; 4) interpretação dos resultados, que contempla uma
134 análise de hotspots e a análise de cenários alternativos com substituição do adubo mineral
135 pelo esterco de vaca produzido em um sistema de produção de leite em compost barn. As
136 seções a seguir detalham cada etapa metodológica com base nas etapas da ACV.

137 1.1. Definição de objetivo e escopo

138 A Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) inaugurou, em 2011, seu quarto
139 campus universitário no estado de São Paulo. O campus Lagoa do Sino, que manteve o
140 nome da Fazenda doada pelo escritor Raduan Nassar, iniciou as atividades acadêmicas em
141 2014, em uma fazenda agrícola altamente produtiva localizada no município de Buri-SP,
142 cerca de 267 km da capital. A Fazenda Escola conta com 643 hectares, dos quais 300 são
143 destinados para a produção agrícola irrigada (pivô central) e outros 100 para produção
144 agrícola em áreas de sequeiro.

145 Para atender aos objetivos desta pesquisa, os dados da safra 2016/2017 foram utilizados.
146 Assim como ocorre na região, a soja foi a cultura de verão, tendo sido semeada em 384
147 hectares (52% irrigados) na primeira quinzena de outubro de 2016, e colhida na segunda
148 quinzena de fevereiro de 2017. O milho foi produzido na safrinha em 127 hectares irrigados,
149 e a semeadura correu na segunda quinzena de fevereiro de 2017, logo após a colheita da
150 soja. A colheita do milho ocorreu na segunda quinzena de agosto de 2017. Para o cultivo
151 de inverno, o trigo ocupou 184 hectares em áreas de sequeiro, sendo que a semeadura
152 ocorreu na segunda quinzena de abril de 2017, e sua colheita ocorreu na primeira quinzena
153 de setembro de 2017. Após a colheita do trigo, um novo ciclo teve início na Fazenda Escola
154 Lagoa do Sino.

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155 Toda a produção agrícola da Fazenda escola ocorreu sob sistema intensivo de produção,
156 com grande consumo de insumos agrícolas e maquinários. Com base nesse contexto,
157 definiu-se, como objetivo da ACV, analisar o potencial de impacto ambiental e os hotspots
158 ambientais das três culturas produzidas na safra 2016/2017. A unidade funcional do trabalho
159 foi de uma tonelada de produto agrícola produzido. A delimitação dos sistemas foi do tipo
160 cradle-to-farm gate, cobrindo desde a produção dos insumos até os produtos colhidos e
161 armazenados, dentro da porteira da fazenda.

162 A Figura 1 ilustra as fronteiras das lavouras avaliadas.

163

Figura 1: Fronteiras dos sistemas de produção de milho, soja e trigo produzidos na safra 2016/17

164 Todos os cultivos contaram com as etapas de produção agrícola de preparação do solo,
165 plantio, manejo agrícola (controle químico, fertilização e irrigação) e colheita. As
166 produções de milho e soja estavam em áreas irrigadas e ainda passaram por processos de
167 secagem dos grãos antes do armazenamento, utilizando água, energia elétrica e lenha. No
168 caso da produção de trigo, não houve irrigação nem foi necessário secar os grãos antes do
169 armazenamento nos silos metálicos localizados na própria Fazenda Escola.

170 1.2. Análise de inventário do ciclo de vida

171 Os ICVs de foreground (primeiro plano) dos sistemas de produção de milho, soja e trigo
172 foram elaborados a partir de entrevistas com o técnico agrícola responsável pela produção
173 na Fazenda Escola. A cada atividade executada em campo, o técnico comunicava a equipe

6
174 de pesquisa, que ia até a administração da fazenda e coletava informações sobre: tipo e
175 quantidade de insumo consumido, transporte dos insumos para a fazenda, maquinário
176 utilizado (tratores e implementos agrícolas), além de dados sobre suas especificações e
177 consumo de combustível (óleo diesel).

178 A aplicação de fertilizantes minerais ocorreu nas etapas de plantio e de cultivo


179 (adubação de cobertura), gerando emissões de poluentes para o ar e para corpos hídricos
180 (IPCC, 2006; Nemecek, 2013). No processo de colheita, os resíduos da produção foram
181 deixados no campo da fazenda para reduzir a necessidade do uso de fertilizante e para a
182 proteção dos solos (palhada). Dessa forma, não foi necessário alocar parte dos impactos
183 para os resíduos (Boone et al., 2016). Porém, a manutenção dos resíduos no solo promovem
184 emissões de dióxido de carbono (CO2) para o ar (Djomo et al., 2015), que foram
185 contabilizadas. Além das emissões geradas pela fertilização e pelos resíduos deixados no
186 campo, a queima de lenha para secagem dos grãos de milho e soja geraram emissões de
187 gases de efeito estufa para a atmosfera (IPCC, 2006). Assim, como aspectos ambientais de
188 saída dos sistemas de produção considerou-se:

189 (1) Emissões de óxido nitroso para o ar, devido a aplicação de fertilizante mineral,
190 modeladas considerando-se que 2,75% do nitrogênio aplicado é emitido na forma
191 de óxido nitroso ao ar, conforme o fator de emissão sugerido pelo Programa GHG
192 Protocol (2020);
193 (2) Emissões de CO2 devido aos resíduos agrícolas mantidos no solo, modeladas com a
194 equação de Djomo et al. (2015), e utilizando os parâmetros padrões fornecidos pelo
195 IPCC (2006);
196 (3) Emissões de fosfato para o lençol freático, fósforo e fosfato para o rio, devido a
197 aplicação de fertilizantes minerais no solo, seguindo Nemecek (2013). Para estas
198 emissões, considerou-se que em média 0,37% do fósforo mineral aplicado foi
199 emitido na forma de fosfato para lençol freático, 3,6×10-11% na forma de fósforo
200 para o rio e 0,14% na forma de fosfato para o rio.
201 (4) Emissões de óxido nitroso para lençóis freáticos, devido a aplicação de fertilizantes
202 minerais no solo, considerando-se que 30% do nitrogênio mineral aplicado é emitido
203 como óxido nitroso para lençóis freáticos, segundo sugestões de Müller (2012);

7
204 (5) emissões de dióxido de carbono, óxido nitroso e metano ao ar, devido a combustão
205 de lenha para as atividades de secagem dos grãos de milho e de soja, modeladas na
206 ferramenta de cálculo GHG Protocol versão 2021.01.

207 A partir dos dados coletados e modelados, foram consolidados os ICVs para as
208 produções de milho, soja e trigo da safra 2016/2017 da Fazenda Escola (Tabela 1). O
209 inventário detalhado por processos agrícolas pode ser acessado no material suplementar.

210 Tabela 1: Inventário de produção de um hectare de milho, soja e trigo na fazenda Lagoa do Sino para safra
211 agrícola de 2016/2017

Dados de entrada
Milho Soja Trigo
Insumos Unidade Quant. Quant. Quant.

Agroquímicos¹ kg 10,71 1,82 0,93


Semente kg 120,00 120,00 110,00
Grafite (trat. Semente) kg 0,07 - -
Lubrificantes kg 0,10 - -
Fertilizante – N kg 83,45 6,00 16,56
Fertilizante – P kg 53,11 60,00 49,68
Fertilizante – K kg 53,11 60,00 16,56
Boro kg - - 5,40
Zinco kg - - 9,00
Ureia, como fertilizante nitrogenado kg - - 85,00
Lenha m³ 0,18 0,006 -
Maquinário (implementos) kg 4,82 6,64 5,55
Maquinário (tratores) kg 1,93 0,78 0,47
Diesel kg 35,48 31,60 23,57
Transporte na fazenda t.km 2.136,80 2.635,20 780,26
Energia kWh 334,94 143,13 9,75
Transporte para fazenda t.km 0,72 0,26 0,15
Dados de saída
Milho Soja Trigo
Composto de saída Unidade Quant. Quant. Quant.
Produto principal2 kg 8,68 4,40 2,20
Óxido Nitroso para o ar (fertilizantes) kg 2,29 0,16 1,48
Dióxido de Carbono para o ar (Resíduos) kg 20,23 39,87 151,01
Fosfato para lençol freático kg 0,20 0,20 0,20
Fosforo para rio kg 1,97×10-11 1,97×10-11 1,97×10-11
Fosfato para rio kg 0,07 0,07 0,07
Nitrato para lençol freático kg 25,04 1,80 16,19
Dióxido de Carbono para o ar (secagem) kg 167,18 5,45 0,00
Metano para o ar (secagem) kg 0,50 0,02 0,00
Óxido nitroso para o ar (secagem) kg 0,01 2,17×10-4 0,00
¹ Considera herbicidas, inseticidas, fungicidas e pesticidas
2
Considera milho com 13,5% de umidade; soja com 13% de umidade; trigo com 13% de umidade
212

213 Os ICVs foram modelados no software SimaPro versão 8.5, utilizando a base de dados
214 ecoinvent v.3 atribucional para acessar os processos de background (segundo plano),
215 responsáveis pelo fornecimento dos dados de inventário a montante da etapa de cultivo

8
216 agrícola na cadeia de produção do milho, da soja e do trigo. Após a colheita dos grãos e
217 secagem do milho e da soja, as produções da Fazenda Escola seguiram para as etapas de
218 transporte, distribuição, consumo e fim de vida, que não foram englobadas no escopo desta
219 pesquisa.

220 1.3. Avaliação de impacto do ciclo de vida

221 A etapa de AICV foi executada no software SimaPro versão 8.5. Foram avaliadas as
222 categorias de impacto de aquecimento global (kg CO2 eq.), depleção abiótica de
223 combustíveis fósseis (MJ), acidificação (kg SO2 eq.) e eutrofização (kg PO4 eq). O método
224 de AICV utilizado foi CML 2000 world+. Mendes et al. (2015) discutem que há uma
225 escassez de métodos de AICV disponíveis para o contexto brasileiro, e o CML 2000 foi
226 desenvolvido considerando uma abrangência global, sendo assim, aplicável para o contexto
227 do Brasil.

228 1.4. Interpretação

229 Na etapa de interpretação foram desenvolvidas análises de hotsposts e de sensibilidade,


230 ambas previstas na norma ISO 14044 (ISO, 2006b). As análises de hotspots consistiram na
231 identificação dos pontos críticos dos sistemas analisados, i.e., os processos e aspectos
232 ambientais mais impactantes para cada sistema produtivo.

233 A análise de sensibilidade, por sua vez, foi baseada na criação e avaliação de cenários
234 de produção alternativos, servindo para melhor compreensão dos resultados da ACV e para
235 buscar direcionamentos para melhoria ambiental dos sistemas agrícolas. Assim, os cenários
236 alternativos consideraram a substituição do fertilizante mineral por esterco de vacas
237 compostado gerado em um sistema de produção de leite com manejo do tipo compost barn,
238 localizado à 15 km da fazenda Lagoa do Sino. Para tanto, foi desenvolvida uma ACV
239 simplificada da produção do adubo alternativo, conforme descrito nas seções a seguir.

240 1.4.1. Objetivo e escopo da ACV do esterco compostado

241 O sistema de produção leiteiro em compost barn foi avaliado no escopo temporal de
242 2018, quando 160 vacas holandesas, sendo 147 em lactação, permaneciam em um espaço
243 confinado com 2500 m². A cama dos animais era formada por resíduos de serrarias (pó de
244 serra), que uma vez ao dia eram revolvidos com auxílio de um trator e um incorporador,
245 incorporando os dejetos animais e promovendo uma compostagem aeróbica do material. O

9
246 pó de serra era inserido semanalmente como cama para os animais e ao final de um ano o
247 material compostado saiu do sistema como um nobre resíduo da produção leiteria, servindo
248 como um adubo de origem biológica para cultivos agrícolas. Os animais eram divididos em
249 três lotes conforme a produção diária de leite: (1) vacas primíparas em início de lactação –
250 produção média de 38 litros/animal/dia; (2) vacas multíparas em início de lactação –
251 produção média de 47 litros/animal/dia, e; (3) vacas em final de lactação – produção média
252 de 30 litros/animal/dia. O sistema compost barn foi avaliado exclusivamente em relação ao
253 manejo dos dejetos animais, considerando uma abordagem cradle-to-farm gate. Assim, o
254 escopo da produção considerou a produção da matéria prima para a composição e manejo
255 da cama (pó de serra, esterco bovino, urina, diesel e maquinário), o transporte dos insumos
256 para o sistema leiteiro, e as emissões de gases de efeito estufa representativas ao manejo de
257 resíduos e da compostagem aeróbica.

258 A substituição do adubo mineral nos sistemas produtivos da Fazenda Escola foi avaliada
259 em três cenários, considerando a substituição de 100% (cenários 1), 50% (cenário 2) e 30%
260 (cenário 3) da quantidade de adubo mineral pelo alternativo (com base nos valores
261 corrigidos para NPK). Assim, o objetivo da análise de cenários foi verificar a viabilidade
262 ambiental de tais substituições para a produção de uma tonelada de milho, soja e trigo com
263 o mesmo manejo, substituindo apenas os valores de N, P e K fornecidos pelo esterco.

264 1.4.2. Inventário do ciclo de vida do esterco compostado

265 O inventário de foreground do manejo dos dejetos das vacas, que tem como saída o
266 adubo alternativo, foi elaborado a partir de entrevistas com o proprietário da fazenda
267 leiteira. As emissões de metano e óxido nitroso resultantes do manejo de dejetos e do
268 processo de compostagem aeróbia foram modeladas de acordo com o IPCC (2006), tier 1.
269 A Tabela 2 apresenta o inventário para produção de uma tonelada do adubo alternativo.

270 Tabela 2: Inventário do manejo de dejetos do sistema leiteiro manejado em compost barn referente ao ano
271 de 2018 para a produção de uma tonelada de adubo alternativo.

Insumo Unidade Quantidade


Entrada
Pó de serra (resíduo da indústria madeireira) m³ 1,15
Esterco bovino (42,54% de umidade) t 0,39
Diesel kg 1,05
Maquinário¹ kg 0,15
Transporte dos insumos para a fazenda t.km 196,59
Saídas
Adubo alternativo com 42,5% de umidade* t 1
Metano kg 0,105

10
Óxido Nitroso kg 0,964
*Produto principal do manejo de dejetos

272 O sistema de produção do adubo alternativo é denominado como multifuncional, tendo


273 o leite como produto principal e o esterco compostado como produto secundário. Com base
274 nisso, parte dos impactos associados ao manejo de dejetos foram alocados para a produção
275 do leite, seguindo um procedimento de alocação econômica baseado na renda bruta do
276 produtor. De acordo com o proprietário da fazenda leiteira, a produção anual de adubo
277 alternativo contribuía em aproximadamente 20% de sua renda bruta anual, e a produção de
278 leite compunha os outros 80%. Assim, 20% do impacto total do manejo de dejetos foi
279 alocado para a produção do adubo alternativo.

280 É importante destacar que os demais aspectos ambientais do sistema de produção de


281 leite (como alimentação animal e ingredientes usados, fermentação entérica, uso de tratores
282 para manejo animal, entre outros) foram desconsiderados do escopo deste trabalho. Essa
283 consideração se justifica pelo fato de muitos estudos de ACV de leite desconsiderarem o
284 esterco na alocação dos impactos do sistema, uma vez que geralmente ele é tido como um
285 resíduo da produção e não um subproduto (Baldini et al., 2017). Assim, neste trabalho,
286 considerou-se que apenas os 20% dos impactos gerados pelo manejo dos dejetos são
287 devidos à produção do esterco compostado.

288 1.4.3 Substituição do adubo mineral pelo adubo alternativo na produção agrícola
289 da Fazenda Escola Lagoa do Sino

290 A substituição dos nutrientes minerais pelo adubo alternativo foi modelada
291 considerando as proporções de 1:2 para a demanda de nitrogênio, 1:2 para o fósforo e 1:1
292 para o potássio, seguindo Ribeiro et al. (1999). Para saber a disponibilidade de nitrogênio,
293 fósforo e potássio orgânico na composição do adubo alternativo, uma amostra do adubo foi
294 coletada na fazenda leiteira e enviada para o laboratório de fertilidade do solo da
295 Universidade Federal de São Carlos campus Araras, onde a composição do adubo foi obtida
296 (Tabela 3).

297 Tabela 3: Composição do adubo alternativo composto por esterco bovino e pó de serra

Amostra
Parâmetro Unidade Esterco bovino Esterco bovino
(1 ano) (2 a 5 meses)
pH - 8,4 8,6
Carbono (C) % 26,6 42,0

11
Nitrogênio (N) % 1,6 1,9
Fósforo (P2O5) % 1,4 1,5
Potássio (K) % 1,7 1,6
Óxido de cálculo (CaO) % 3,4 1,8
Óxido de magnésio (MgO) % 1,5 1,0
Sulfato (SO4) % 1,3 0,8
Umidade % 42,5 45,8
Cobre (Cu) ppm 64 47
Ferro (Fe) ppm 23472 13865
Manganês (Mn) ppm 395 237
Zinco (Zn) ppm 178 103

298 Com base na composição do adubo alternativo e nas proporções de substituição dos
299 nutrientes minerais pelos orgânicos, foi obtido que para substituição de 1 kg de nitrogênio
300 mineral seriam necessários 105 kg do adubo alternativo; para 1 kg de fósforo mineral, 138
301 kg do adubo alternativo; e para 1 kg de potássio mineral, 63 kg de adubo alternativo.

302 Para o cenário 1 (100% de substituição do adubo mineral), foram consideradas duas
303 aplicações do adubo alternativo em cobertura, antes do plantio. Assim, o cenário foi
304 modelado considerando uma aplicação inicial de metade da quantidade do adubo
305 alternativo, utilizando uma calcareadeira com regulagem adaptada acoplada a um trator. Em
306 seguida, considerou-se um processo de gradagem do solo para incorporação do adubo e por
307 fim uma segunda aplicação do adubo alternativo em cobertura utilizando a mesma
308 calcareadeira. Todas as demais atividades de cultivo foram mantidas do inventário de
309 produção convencional.

310 Para o cenário 2 (substituição de 50% do adubo mineral), considerou-se a quantidade


311 total de adubo alternativo sendo aplicado antes do plantio, com uma calcareadeira acoplada
312 ao trator à lanço seguido de incorporação por gradagem. Após essa adubação prévia à
313 semeadura, considerou-se as atividades posteriores iguais ao inventário convencional,
314 sendo os 50% da adubação mineral aplicado no processo de fertilização, durante o manejo
315 agrícola.

316 Por fim, o cenário 3 (substituição de 30% do adubo mineral) foi modelado de forma
317 semelhante ao cenário 2, considerando a aplicação total do adubo alternativo antes do
318 plantio seguida de uma gradagem para incorporação e as atividades posteriores iguais às do
319 cultivo convencional. A adubação mineral novamente foi considerada no processo de
320 fertilização, durante o manejo agrícola. A Tabela 4 apresenta o consumo de adubo mineral
321 e alternativo para cada um dos cenários propostos.

12
322 Tabela 4: Consumo de fertilizante mineral e esterco compostado em cada cenário alternativo

Cultivo - % de Adubo alternativo – esterco


substituição compostado (kg) Nitrogênio (kg) Fósforo (kg) Potássio (kg)
Milho (100%) 8784,72 0,00 0,00 0,00
Milho (50%) 4392,36 41,73 26,55 26,55
Milho (30%) 2635,41 58,42 37,18 37,18
Soja (100%) 8275,86 0,00 0,00 0,00
Soja (50%) 4137,93 3,00 30,00 30,00
Soja (30%) 2482,76 4,20 42,00 42,00
Trigo (100%) 6852,41 0,00 0,00 0,00
Trigo (50%) 3426,21 26,98 24,84 8,28
Trigo (30%) 2055,72 37,77 34,78 11,59
323

324 A produtividade dos cultivos foi alterada de acordo com informações fornecidas pelo
325 produtor de leite, que observou e registrou 30% de aumento na produtividade de milho,
326 13% na soja e 10% no trigo, quando realizou a substituição de 30% do adubo químico pelo
327 adubo alternativo em sua propriedade. Considerou-se ainda a mesma proporção de aumento
328 de produtividade para os três cenários de substituição realizados neste trabalho a partir do
329 conhecimento empírico do produtor.

330 Os cenários alternativos foram modelados no software SimaPro e a etapa de AICV foi
331 desenvolvida utilizando o método CML 2000 world+, seguindo o mesmo procedimento do
332 cenário base (produção convencional com fertilizante mineral).

333 2. Resultados e discussão

334 Os resultados dessa pesquisa são apresentados em duas seções. Inicialmente são
335 discutidos os resultados do potencial de impacto ambiental dos sistemas de produção
336 agrícola da fazenda Lagoa do Sino, com a análise dos hotspots de cada cultivo avaliado. Em
337 seguida, são apresentados e discutidos os resultados da análise de cenários.

338 2.1. Potencial de impacto ambiental da produção de milho, soja e trigo

339 O potencial de impacto ambiental para as produções de milho, soja e trigo da Fazenda
340 Escola estão apresentados na Tabela 5.

341 Tabela 5: Potencial de impacto do ciclo de vida para a produção de uma tonelada de milho, soja e trigo da
342 safra 2016/2017 da fazenda Lagoa do Sino

Categoria de impacto Unidade Milho Soja Trigo


Depleção abiótica MJ 1497,26 1489,26 5863,74
Aquecimento global kg CO2 eq. 196,77 124,64 631,72
Acidificação kg SO2 eq. 0,98 0,63 3,30

13
Eutrofização kg PO4 - - - eq. 0,78 0,43 2,40
343

344 Para melhor compreensão dos impactos ambientais desses sistemas agrícolas, a Figura
345 2 apresenta uma análise de contribuição dos processos de produção no impacto ambiental
346 total para cada categoria avaliada, e evidencia a fertilização como principal hotspot para os
347 três cultivares.

100%
90%
80%
% de contribuição

70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Eutrofização

Aquecimento global
Acidificação

Acidificação

Acidificação
Depleção abiótica
Depleção abiótica

Aquecimento global

Eutrofização

Depleção abiótica

Aquecimento global

Eutrofização
MILHO SOJA TRIGO
Transporte dos insumos Preparação do solo Plantio
Cultivo - Fertilização Cultivo - Controle quimico Cultivo - Irrigação
Colheita Secagem/Armazenamento
348
349 Figura 2: Análise de contribuição dos processos de produção no potencial de impacto ambiental para a
350 produção de milho, soja, e trigo da fazenda Lagoa do Sino

351 As seções a seguir detalham os resultados para cada cultivo agrícola, separadamente.

352 2.1.1. Potencial de impacto ambiental associado a produção de milho

353 A produção do milho da Fazenda Escola para a safra 2016/17 apresentou uma elevada
354 demanda de insumos, tendo recebido o maior volume de fertilizantes minerais por hectare
355 de produção (189,7 kg) entre os três sistemas produtivos avaliados. Além disso, o milho foi
356 colhido com 24% de umidade, demandando lenha e energia elétrica para secagem dos grãos
357 até atingir 13% de umidade, ideal para armazenamento dos grãos. Esse sistema também
358 apresentou o maior uso de tratores, combustível (óleo diesel) e energia elétrica (sendo 78%
359 devido ao funcionamento do pivô central de irrigação). No entanto, o milho apresentou a

14
360 maior produtividade dentre as três culturas agrícolas estudadas, gerando maior diluição dos
361 impactos ambientais por unidade de produção.

362 A análise de hotspots mostrou que a etapa de fertilização foi a principal contribuinte nos
363 impactos de três das quatro categorias avaliadas: depleção abiótica (28%), aquecimento
364 global (45%) e eutrofização (49%). Além disso, a fertilização foi a segunda maior
365 contribuinte nos impactos de acidificação (23%), ficando atrás apenas da etapa de plantio
366 (38%).

367 Para depleção abiótica os maiores impactos da fertilização foram observados nos
368 sistemas de background, sendo as produções do fosfato e do sulfato de amônia os principais
369 destaques, contribuindo em 10% e 11% dos impactos totais do sistema, respectivamente.
370 Na sequência, as maiores contribuições foram observadas nas atividades de transporte dos
371 insumos para a fazenda (21% dos impactos de depleção abiótica) e na secagem dos grãos
372 (17%). Em relação a secagem dos grãos, os impactos foram associados principalmente a
373 produção da lenha utilizada para geração de calor.

374 Já para as categorias de aquecimento global e eutrofização, as emissões diretas da


375 fertilização apresentaram o maior percentual de impacto de todo o sistema, 31% e 38%,
376 respectivamente. A atividade de secagem dos grãos também apresentou impactos relevantes
377 para a categoria de aquecimento global (25%), sendo que 14% foram observados nos
378 processos de background (principalmente produção de lenha e eletricidade) e 11% nas
379 emissões de gases do processo de combustão da lenha. Para eutrofização, o segundo
380 processo mais impactante foi o plantio, que contabilizou 29% dos impactos, advindos
381 principalmente dos impactos associados à produção das sementes.

382 A identificação do plantio como principal impactante da categoria de acidificação


383 também ocorreu devido a produção das sementes, que representou cerca de 37% dos
384 impactos totais para a categoria. No que concerne a etapa de fertilização, os impactos foram
385 provenientes da produção dos fertilizantes minerais, principalmente do fósforo (13% dos
386 impactos totais).

387 A identificação dos processos de fertilização como principal hotspot da produção de


388 milho é recorrente na literatura. Por exemplo, Noya et al. (2015) observaram que a produção
389 dos fertilizantes minerais, destacadamente do fósforo, apresentou a maior contribuição nos
390 impactos de depleção abiótica para a produção de milho na Itália. Os achados dos autores

15
391 condizem com os deste artigo e de Fantin et al. (2017), que também identificaram a
392 produção do fertilizante fosfatado como hotpost da categoria.

393 Fantin et al. (2017) avaliaram ainda a produção de milho na Itália em uma abordagem
394 cradle-to-gate, incluindo: a produção agrícola, o transporte para o barracão de secagem, a
395 limpeza e armazenamento dos grãos, tratamento dos resíduos de limpeza, e carregamento
396 dos caminhões. Os autores utilizaram o software GaBi 6, a base de dados ecoinvent 2.2, e
397 o método de AICV ILCD, o que faz com que os potencias de impactos totais do sistema
398 para depleção abiótica, acidificação e eutrofização não sejam comparáveis aos deste estudo,
399 devido as diferenças nos indicadores de impacto dos cálculos. Vale ressaltar que Fantin et
400 al. (2017) indicam o processo de fertilização como hotspot para estas categorias, em acordo
401 com achados desta pesquisa. Para aquecimento global, os autores identificaram um impacto
402 de 450 kg CO2 eq./ t de grão, valor 2,3 vezes superior ao encontrado neste artigo. A variação
403 dos resultados pode ser explicada pelos diferentes softwares utilizados (Silva et al., 2019),
404 e por diferenças nas fronteiras dos sistemas produtivos, uma vez que Fantin et al. (2017)
405 incluíram as atividades de processamento dos grãos no nível da cooperativa. Além disso, os
406 dados de inventário indicaram um maior consumo de nitrogênio (2 vezes), de fósforo (1,7
407 vezes), e de diesel (8,5 vezes).

408 Li et al. (2020) avaliaram a produção de um sistema agrícola milho-trigo na planície


409 norte da China. Os autores utilizaram o software SimaPro v. 8.3.0.0, a base de dado
410 ecoinvent v.3 e o método de AICV ReCiPe 2016 para modelagem no potencial de impacto
411 ambiental. No que concerne a produção de milho, os resultados indicaram um potencial de
412 impacto de 595,2 kg CO2 eq./t para aquecimento global; 30,7 kg SO2 eq./t para acidificação;
413 0,034 kg P eq./t para eutrofização; e; 96,5 kg óleo eq./t para depleção de recursos fósseis.
414 Novamente, nota-se que o potencial de impacto ambiental obtido tende a ser superior aos
415 resultados deste trabalho. A variação do método de AICV utilizado pode justificar as
416 diferenças observadas (Cherubini et al., 2018), além de tornar inviável a comparação
417 quando o indicador de impacto é distinto. Diferenças nos inventários de produção também
418 foram observadas, uma vez que Li et al. (2020) indicou cerca de 3,5 vezes mais consumo
419 de eletricidade, fertilizantes minerais, diesel e custos energéticos associados aos
420 maquinários agrícolas. Como alternativa para um sistema de produção mais sustentável, Li
421 et al. (2020) modelaram a produção de milho com substituição parcial (50%) do fertilizante

16
422 mineral por esterco sólido e liquido, e observaram reduções médias de 18% e 31% dos
423 impactos analisados, respectivamente para cada substituição.

424 2.1.2. Potencial de impacto ambiental associado a produção de soja

425 A soja, por ser uma leguminosa com capacidade de fixar o nitrogênio atmosférico no
426 solo em processos de simbiose (Jones, 2019), demandou de menor aplicação de fertilizante
427 nitrogenado. Os grãos foram colhidos com umidade de 16,5%, sendo próxima à de
428 armazenamento (13%), de forma que o processo de secagem apresentou menor demanda de
429 lenha e energia elétrica em comparação a secagem do milho. Consequentemente, menores
430 impactos ambientais foram contabilizados neste processo para os grãos de soja.

431 O processo de fertilização da lavoura de soja, principal hotspot, contribuiu em mais de


432 37% dos impactos para as quatro categorias avaliadas, sendo esses atribuídos
433 principalmente ao processo de background de produção do fertilizante fosfatado, que
434 contabilizou acima de 17% dos impactos de todas as categorias. Para aquecimento global e
435 eutrofização as emissões diretas devido a aplicação dos fertilizantes também se mostraram
436 relevantes, com 13,5% e 22,3% de contribuição para cada categoria, respectivamente.

437 O transporte dos insumos para a Fazenda Escola foi o segundo principal contribuinte
438 nos impactos de depleção abiótica (26,6% dos impactos), aquecimento global (21,7%) e
439 acidificação (14%), devido ao consumo de óleo diesel e emissões de poluentes geradas pela
440 queima do combustível. Enquanto para eutrofização, o segundo maior contribuinte foi o
441 processo de plantio dos grãos, principalmente devido aos impactos associados à produção
442 das sementes (23,7% dos impactos).

443 Matsuura et al. (2017) avaliaram os impactos atribuídos à produção do consórcio soja-
444 girassol no cerrado brasileiro e modelaram os impactos da produção em monocultura da
445 soja e do girassol isoladamente. O estudo usou o software SimaPro v. 8.0.5.12, a base de
446 dados ecoinvent 2.2 e o método de AICV ReCiPe H midpoint. Os impactos totais do sistema
447 foram superiores aos deste trabalho, 9510 kg CO2 eq./t para aquecimento global, 5,44 kg
448 SO2 eq./t para acidificação terrestre, 0,434 kg P eq./t para eutrofização, e 176 kg óleo eq./t
449 para depleção de metal. Os impactos mais elevados podem ser justificados pelas diferenças
450 nos métodos de AICV utilizados, e principalmente devido ao cálculo das emissões de
451 mudança do uso da terra realizados por Matsuura et al. (2017), não contabilizadas na
452 presente pesquisa. No entanto, excluindo tais contribuições, os autores ressaltam a

17
453 fertilização como principal contribuinte dos impactos ambientais calculados. O consórcio
454 da produção de soja com girassol no cerrado brasileiro se mostrou benéfico e os impactos
455 obtidos para a produção em sistema de rotação de culturas foi inferior aos impactos obtidos
456 para os sistemas de uma única lavoura, em monocultura.

457 Altas variações em impactos potenciais totais para sistemas de produção agrícola em
458 estudos de ACV são recorrentes, uma vez que os resultados são influenciados pelas
459 características dos sistemas investigados, dos locais de estudo, e das decisões metodológicas
460 dos pesquisadores. Neste sentido, Romeiko et al. (2020) avaliaram os impactos da produção
461 de soja nos Estados Unidos considerando a variabilidade espaço temporal dos sistemas de
462 produção. Os autores utilizaram o método TRACI para quantificar os impactos das
463 categorias de aquecimento global, eutrofização e acidificação, e encontraram variação nos
464 impactos de 3%, 300% e 43%, respectivamente, conforme os diferentes condados (regiões)
465 cobertos pelo estudo. Os autores ainda identificaram que as atividades de fertilização são
466 uma das principais influenciadoras dos impactos para as três categorias investigadas, devido
467 variações em termos de quantidade de aplicação, lixiviação e escoamento de minerais.

468 2.1.3. Potencial de impacto ambiental associado a produção de trigo

469 O inventário do ciclo de vida dos cultivos agrícolas (Tabela 1), mostrou que a produção
470 do trigo teve a menor demanda de insumos por hectare de produção, além de não ter
471 ocorrido em área irrigada e não ter passado pelo processo de secagem, uma vez que os grãos
472 foram colhidos com umidade adequada para armazenamento (13%), após secagem natural
473 ainda no campo. No entanto, a produtividade do trigo foi cerca de 50% inferior à da soja, e
474 76% inferior à do milho, sendo uma das principais influencias para o alto potencial de
475 impacto identificado devido a não diluição dos impactos associados à produtividade como
476 ocorrido nos casos das lavouras irrigadas de soja e milho.

477 A etapa da fertilização contribuiu em mais de 67% dos impactos para todas as categorias
478 avaliadas. Para as categorias de aquecimento global e eutrofização, as emissões diretas do
479 sistema causaram a maior parte dos impactos potenciais, contabilizando cerca de 43% dos
480 impactos em ambas as categorias. Já para depleção abiótica e acidificação, os principais
481 impactos da fertilização foram observados na produção e uso da ureia, utilizada como fonte
482 de fertilizante nitrogenado na adubação de cobertura do trigo.

18
483 Para as categorias de acidificação e eutrofização, o segundo principal processo
484 impactante foi a etapa de semeadura, devido aos custos associados à produção das sementes,
485 que contribuiu em mais de 20% dos impactos. O transporte dos insumos para a fazenda foi
486 o segundo principal hotspot para as outras duas categorias de impacto.

487 Fantin et al. (2017), além das emissões dos impactos da produção de milho da
488 cooperativa italiana de agricultores (veja novamente seção 3.1.1), também avaliaram os
489 impactos associados a produção de trigo. Assim como neste artigo, o sistema foi manejado
490 em área de sequeiro. Os autores estimaram que acima de 70% dos impactos totais do sistema
491 eram atribuídos a fertilização dos grãos, principalmente por emissões diretas. Os impactos
492 totais de acidificação (11 mol H+/t), eutrofização (0,061 kg P eq./t) e depleção abiótica
493 (0,0034 kg Sb eq./t) não puderam ser comparados a este trabalho pelos diferentes
494 indicadores de impacto utilizados. Para a categoria de aquecimento global, Fantin et al.
495 (2017) calcularam um impacto de 450 kg CO2 eq./ t, cerca de 40% inferior ao apresentado
496 nos resultados deste trabalho, o que pode ser justificado pela maior produtividade do sistema
497 italiano (5,8 t/ha), e as diferenças metodológicas, como procedimentos de alocação e o
498 método de AICV selecionado.

499 Taki et al. (2018) avaliaram comparativamente o ciclo de vida da produção de trigo
500 irrigado e em sequeiro na planície de Mahyar (Irã). Os autores concluírem que o sistema
501 irrigado é menos impactante ao meio ambiente devido a maior produtividade em
502 comparação ao sistema em sequeiro. A modelagem do estudo foi realizada no software
503 SimaPro v. 8.0, utilizando as bases de dados ecoinvent 3 e agri-footprint e o método de
504 AICV CML IA v.3.0.1/EU 25. Para o sistema de produção em sequeiro, mais similar à esta
505 pesquisa, os autores calcularam 0,003 kg Sb eq./t para depleção abiótica, o que não foi
506 passível de comparação devido a diferença no indicador de impacto selecionado. Para os
507 impactos de eutrofização e acidificação foram estimados, respectivamente, em 3,18 kg
508 PO43- eq./t e 11,86 kg SO2 eq./t, sendo ambos superiores aos encontrados para o trigo da
509 Fazenda Escola. Por outro lado, para a categoria de aquecimento global (380,16 kg CO2
510 eq./t), os impactos foram 66% inferiores aos encontrados nesta pesquisa. É importante
511 destacar que Taki et al. (2018) obtiveram o inventário de sistema em unidades energéticas
512 e em uma abordagem “da lavoura à colheita”, o que pode ter influenciado nos resultados de
513 impacto obtidos. Em concordância com este trabalho, os autores destacaram a fertilização

19
514 como hotspot em todas as categorias avaliadas. A produção de semente também teve os
515 impactos destacados para acidificação e eutrofização.

516 Li et al. (2020) concluíram, através de uma ACV comparativa, que uma alternativa
517 viável para a redução dos impactos da produção de trigo, assim como para produção do
518 milho (ver seção 3.1.1), é o uso de esterco animal compostado. Tais achados foram
519 avaliados para a produção da Fazenda Escola nos cenários alternativos desta pesquisa.

520 2.2. Análise de cenários: substituição do uso do adubo mineral pelo adubo alternativo

521 Uma vez que a etapa da fertilização se mostrou como o principal processo impactante
522 dos sistemas produtivos investigados, a análise de cenários foi desenvolvida para verificar
523 a viabilidade ambiental da substituição do fertilizante mineral por uma fonte alternativa
524 disponível localmente, o adubo compostado. A Figura 3 apresenta a comparação entre os
525 cenários modelados e o cenário base de adubação mineral, tradicionalmente utilizado na
526 fazenda Lagoa do Sino.

180
160
140
Comparação %

120
100
80
60
40
20
0
Aquecimento Global

Aquecimento Global

Aquecimento Global
Acidificação

Eutrofização
Acidificação

Acidificação
Depleção abiótica

Eutrofização

Depleção abiótica

Eutrofização

Depleção abiótica

MILHO SOJA TRIGO


Adubo mineral Esterco compostado (100%)
Esterco compostado (50%) Esterco compostado (30%)
527
528 Figura 3: Análise comparativa dos cenários alternativos com o cenário de adubação mineral considerando
529 30%, 50% e 100% de substituição do adubo mineral

530 Os resultados ilustram que a substituição total do adubo de fonte mineral pelo de fonte
531 alternativa (cenários de 100% de substituição) tem o potencial de elevar os impactos dos

20
532 três cultivos para a categoria de aquecimento global, não sendo o mais eficiente do ponto
533 de vista ambiental.

534 Para a produção do milho, os cenários de 50% e 30% de substituição se mostraram mais
535 eficientes que o cenário base, tendo capacidade de reduzir mais de 9% e 14% dos impactos
536 em todas as categorias, respectivamente. Já para a produção da soja, nenhum cenário
537 alternativo se mostrou eficiente para as categorias de depleção abiótica e de aquecimento
538 global, elevando em média 14% dos impactos. No entanto, para os impactos de acidificação
539 e eutrofização os três cenários alternativos mostraram capacidade de reduzir os impactos do
540 sistema. Para a produção de trigo, o cenário de 50% de substituição não mostrou alteração
541 no potencial de impacto gerado para aquecimento global, mas reduziu em média 14% os
542 impactos para as demais categorias avaliadas. Já o cenário de 30% foi mais eficiente que o
543 cenário base para todas as categorias. Com isso, o cenário de 30% de substituição foi
544 identificado como o mais eficiente, em termos ambientais, para os sistemas de produção de
545 grãos da Fazenda Escola. Mais especificamente, parece mais relevante o uso do esterco na
546 safrinha (milho irrigado) com cenários de 50 e 30% de substituição assim como para a
547 produção de trigo, com 30 e 50% da substituição apresentando potencial de redução dos
548 impactos ambientais para a maior parte das categorias de impacto avaliadas.

549 Um dos principais motivos da elevação do impacto ambiental para aquecimento global
550 e depleção abiótica (no caso da soja), é a alta quantidade de adubo alternativo necessário
551 para a substituição do adubo mineral, devido à baixa presença de nutrientes fundamentais
552 no composto, destacadamente P e K para o caso da soja (ver Tabela 4). Dada necessidade
553 de maior volume de composto a ser aplicado, outro motivo que merece destaque é o
554 aumento de uso de maquinário e consumo de óleo diesel para a aplicação do adubo
555 alternativo. Vale mencionar que para os três cultivares e os três cenários alternativos
556 avaliados, a fertilização se manteve como o principal hotspot ambiental. O uso de máquinas
557 movidas a eletricidade poderia mudar esse cenário beneficiando o aumento no uso desses
558 insumos alternativos.

559 Damasceno (2012) descobriu, em entrevista com produtores de 42 sistemas leiteiros em


560 compost barn dos Estados Unidos, que os principais benefícios desse tipo de manejo não
561 são cobertos pelo escopo da ACV ambiental abordada neste trabalho, que são: o conforto
562 animal; a melhoria do escore de higiene das vacas; a baixa demanda de manutenção do
563 sistema; a posição de descanso adequada para os animais, e; a melhoria da condição de

21
564 cascos e de pernas e menor uso de antibióticos. Contudo, algumas limitações também são
565 apontadas na literatura, como alta necessidade de manejo da cama no barracão de
566 compostagem, com revolvimento diário e reposição constante da serragem de madeira, e
567 influência do clima no processo, sendo os períodos mais frios e úmidos menos favoráveis à
568 digestão aeróbica (Brito, 2016). No que concerne ao uso da cama como adubo, Du et al.
569 (2020) fizeram uma revisão de literatura buscando elencar os principais efeitos causados
570 pelo uso de esterco como adubo em solos agrícolas. Os autores identificaram que, em uma
571 perspectiva de longo prazo, o uso do adubo alternativo pode melhorar as condições do solo
572 (pH, nitrogênio total, nitrogênio disponível, fósforo disponível e potássio disponível) e no
573 rendimento das culturas. Registraram, ainda, aumentos da ordem de 17,1%, 14,4% e 7,9%
574 para a produtividade de milho, soja e trigo, respectivamente.

575 No entanto, a substituição da fonte de fertilização deve ser feita com cautela e avaliada
576 para as peculiaridades de cada sistema e lavoura. Nesse sentido, vale mencionar a pesquisa
577 de Jiang et al. (2021), que avaliaram o ciclo de vida da produção de trigo utilizando quatro
578 estratégias diferentes de fertilização: (1) fertilização mineral, (2) substituição de 50% do
579 adubo mineral por esterco suíno compostado, (3) substituição de 50% do adubo mineral
580 pelo esterco compostado com adição de 5% de biocarvão e (4) com adição de 10% de
581 biocarvão. Os autores observaram aumento nos impactos de aquecimento global,
582 eutrofização de água doce, e acidificação terrestre no cenário de substituição pelo adubo
583 compostado sem adição de biocarvão. O aumento dos impactos foi justificado por uma
584 maior demanda de energia para obtenção da palha de trigo (utilizada no processo de
585 compostagem), de óleo diesel, e pelas emissões do processo de compostagem. Ao inserir o
586 biocarvão como aditivo no adubo alternativo, os autores observaram melhor desempenho
587 ambiental para aquecimento global, mas os impactos continuaram superiores para as demais
588 categorias.

589 Li et al. (2020) também avaliaram a substituição do adubo mineral por adubos
590 provenientes de esterco animal. Os autores estudaram o ciclo de vida da produção do
591 consórcio milho-trigo na planície norte da China, considerando três estratégias de adubação:
592 uso de fertilizante mineral, 50% de substituição do fertilizante mineral por esterco bovino
593 sólido, e 50% de substituição por esterco bovino liquido. Os autores não consideram
594 impactos na produção do esterco (justificando ser um resíduo da produção leiteira), e
595 concluíram que os sistemas com adubação alternativa são mais eficientes em termos

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596 ambientais, tendo reduzido em média 25% dos impactos para as categorias avaliadas (entre
597 elas as trabalhadas neste trabalho). No entanto, é importante mencionar que Li et al. (2020)
598 identificam a fertilização como principal hotspot dos sistemas de produção para os três
599 cenários avaliados, o que está de acordo com os achados desta pesquisa.

600 3. Conclusão

601 Este estudo avaliou impactos ambientais associados a um ano agrícola da Fazenda
602 Escola Lagoa do Sino com produção em rotação de cultivos de soja (cultura de verão),
603 milho (safrinha) e trigo (cultura de inverno). A metodologia ACV foi eficiente na
604 identificação dos hotspots ambientais das respectivas produções agrícolas, além de ter
605 viabilizado a análise de cenários alternativos de produção visando a redução dos impactos
606 ambientais na produção das três culturas agrícolas mais importantes para o agronegócio do
607 Sudoeste Paulista.

608 Nesta pesquisa, ficou evidente que a fertilização é o processo com maior potencial de
609 geração de impactos em termos de depleção abiótica, aquecimento global, acidificação e
610 eutrofização para as três culturas agrícolas investigadas. A análise de cenários mostrou que
611 a substituição do fertilizante mineral por um fertilizante alternativo deve ser feita com
612 cautela, visto que, dependendo das alterações necessárias no sistema produtivo, pode
613 ocorrer o aumento das emissões como observado no caso de uma substituição total do adubo
614 mineral para as três culturas.

615 Um dos principais motivos da elevação do impacto ambiental é a alta quantidade de


616 adubo alternativo necessário para a substituição do adubo mineral, consequentemente,
617 aumentando o uso de maquinário e o consumo de óleo diesel para a aplicação do adubo
618 alternativo. Porém, em um cenário de substituição de 30%, as emissões reduziram em quase
619 todas as categorias de impacto analisadas, sendo possível concluir que este seria um cenário
620 viável para a substituição do adubo e de possível aplicabilidade pela disponibilidade
621 regional de fontes alternativas de adubação nas três culturas de interesse econômico. A
622 substituição de insumos promove um destino mais nobre e apropriado para os resíduos da
623 indústria de madeira e da produção animal; incentiva o manejo em compost barn que tem
624 benefícios para sistemas de produção de leite, e; apresenta potencial de reduzir os impactos
625 ambientais dos sistemas agrícolas. Um cenário em que agricultores possam dispor de

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626 tratores movidos a energia elétrica (baterias) pode mudar o cenário em favor de volumes
627 maiores de substituição pela eliminação do uso de combustíveis fósseis.

628 Para trabalhos futuros, sugere-se testar cenários com outros resíduos da produção
629 agropecuária disponíveis regionalmente, como é o caso do esterco de aves. A busca por um
630 aditivo ao adubo alternativo, capaz de elevar sua disponibilidade de nutrientes para o solo
631 agrícola, como o biocarvão (carvão ativado), também pode ser um oportuno campo de
632 pesquisas para o setor agropecuário brasileiro que deverá contribuir com a produção de
633 alimentos com consistentes reduções de elementos contaminantes.

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