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ARQUÉTIPOS DA UMBANDA

Desenvolvido e Ministrado por Rodrigo Queiroz

Aula Digitada 04 Parte 04


Obs.: este documento é a transcrição fiel do discurso das vídeo-aulas, portanto poderá conter erros
gramaticais mantendo a originalidade da origem.

Muito bem. Voltando com o Preto Velho que é humildade e humildade é um estado de
espírito dos sábios e dos simples, simples de coração, mas não simplório, é isso, vamos distanciar
as coisas. Há muitas pessoas dentro da Umbanda que começou a criar uma ideia de que humildade
e simplicidade é algo meio Franciscano, é o desapego total, é dar tudo que tem para os pobres,
desculpa se é o seu caso. Mas, eu gosto de comer bem, gosto de me vestir bem e isso me dá
disposição, me dá motivação pra fazer as coisas que eu acho importante, cuidar da minha família,
cuidar das pessoas que eu amo, cuidar da minha religião, então assim o que eu sinto com
tranquilidade, com serenidade que não é o que eu visto, o que eu como que fato retrata o que eu
sou, o que eu sinto no meu espírito, na minha alma. Então, pode retratar algumas coisas, pode
retratar um pouco da minha personalidade, pode retratar um pouco de alguns apegos porque eu
sou humano, mas acima de tudo pode esconder o que eu tenho no coração. Então, Preto Velho é
um espírito que está na forma ali dentro do Terreiro do velho, do ex-escravo, do catequizado, do
sincretizado, mas na hora que ele fala ele está mostrando para nós o caminho da evolução. Então,
porque ele é um emissário do Orixá específico, mas acima de tudo de pai Obaluayê e o pai
Obaluayê é irradiação de Deus, é a luz divina, é a manifestação de Deus que estimula na sua
criação, que impulsiona na criação a se transformar, o tempo todo se transformar, é transcender.
Então, Preto Velho estimula muito em nós um cuidado, um olhar para dentro, não como os
mestres do Oriente que vai falar de autoconhecimento, de autoiluminação. Mas, Preto Velho faz
um olhar pra dentro para cuidar de uma estrutura que todos nós temos que é nociva a nós
mesmos, que são os instintos, que são os apegos, que é a vaidade, a arrogância, o orgulho. Então,
Preto Velho, ele tende a despertar em nós se não dizendo claramente pra nós, só na sua presença,
só na observação que é apaixonante, que é cativante ser simples, ser do bem, falar coisas bonitas,
falar coisas da luz, de Deus, rezar, benzer, é muito cativante sorrir a todos, acolher a todos, não
julgar. Vou contar uma experiência que eu tive no começo do meu trabalho mediúnico: estava lá
na corrente, estava incorporado com Pai João e sentou uma moça na frente dele e disse “Meu
velho, meu paizinho, eu vim aqui pedir a vossa benção e vim pedir para que me proteja no meu
trabalho”, ele então fez a cruz, pediu licença aos Orixás e falou “Minha filha, qual é o seu
trabalho?”, ela falou “Oh Pai, eu sou garota de programa” - eu ali, terceira pessoa naquele
diálogo, quase cai pra trás porque eu era um jovem preconceituoso, é moleque mesmo de 17
anos, 16 anos/ 17 anos e eu fiquei horrorizado como que uma prostituta vai pedir a benção para
um Preto Velho, como que pode um negócio desse – e então, ele rezou ela, deu a benção e
conversou com ela, deu conselhos, conversou, conversou, ela colocou outras coisas, em nenhum
momento, nenhum momento, ele falou pra ela “Minha filha, mude a sua vida”, em nenhum
momento falou “Minha filha, você está no caminho errado”, “Minha filha, você vai pra o inferno”,
“Minha filha, os Orixás vão se vingar de você”, nenhum momento e eu senti um profundo amor
neste Preto Velho para aquela mulher, um amor, não é compaixão, não é dó, não. Ele sentiu
amor, ele deu amor a ela. Essa é uma lição que eu nunca vou esquecer, é muito vivo toda vez que
eu conto eu volto no tempo, é muito viva essa lembrança que é proposital mesmo, ele deixou isso
muito latente na minha memória, tomara que eu não esqueça. Ali me ensinou, me ensinou na
carne, no choque o que é não julgar o outro que é muito difícil não julgar o outro, é muito difícil
não julgar o outro. Nós temos um padrão de comportamento de o tempo todo estar julgando o
outro, ali na hora que ela falou “Meu velho, sou prostituta eu peço a vossa proteção porque não é
fácil essa vida” e nenhum momento ele falou: “Então, mude a sua vida”, na hora que ela falou
isso, eu me choquei, quase cai pra trás e deixei ele ali, e eu senti amor no meu coração, não meu,
dele. É muito rico essa experiência mediúnica, mediunidade traz essas coisas incríveis pra nós. E
conversou com ela, falou da vida, falou de Deus, falou de coisas que ela precisava ouvir, que ela
queria conversar e nenhum momento ela foi julgada, eu acho isso incrível, em nenhum momento
ela foi reprimida, achei isso fenomenal porque se fosse eu, eu teria esculachado aquela mulher,
hoje não, é porque hoje eu tenho o entendimento de muitas coisas, mas naquele momento eu era
um adolescente imaturo, preconceituoso, tonto.
Então, o que eu quero dizer com tudo isso, estou contando isso por quê? Porque é aí então
que eu entro no mérito da particularidade do que Preto Velho traz pra nós, a sua ação, o nosso
convívio com Preto Velho é de ensinar a nós a importância a nós de ser simples de coração é, por
exemplo, aprender a não julgar o outro, não se é simples, nem humilde, tão pouco sábio quando
você tem o hábito de julgar o outro pelas escolhas, pelas ações. A gente não está falando de
aberrações, a gente não está falando de um assassino, talvez se fosse um assassínio ali na frente
“Meu velho, eu gosto de matar pessoas”, seria outra conversa. Mas, a questão é que nesse ponto o
que pra mim parecia muito cruel, muito ruim, muito inaceitável numa mulher e com certeza nada
é por acaso nesse sentido, ele me ensinou que olha: há muito mais o que se refletir do que julgar
uma pessoa que teve que ter uma escolha dessa e quis essa escolha pra ela, quis essa vida, uma
vivência que vai trazer lições porque a pessoa tem a eternidade pra aprender, ela não tem dez,
quinze anos pra aprender, ela tem só: a eternidade. E aí isso é paciência, não é? Noção de tempo.
Preto Velho ele não está mais preso a carne, ele não está mais preso a essa ansiedade
cronológica, ele tem plena clareza do que é ser eterno. E que se hoje a pessoa está presa num
comportamento, ela está presa numa escolha, ela está ali cristalizada esse indivíduo tem a
eternidade pra sair disso, eternidade não tem tempo. Mas, enquanto ele puder ajudar, ele vai
ajudar, enquanto a pessoa quiser ajuda, ele vai tentar ajudar e no momento certo a pessoa olha
pra vida, a pessoa reflete sobre si porque essa é uma condição da nossa natureza humana, nós
somos um ser inteligente, nós somos dotado de raciocínio, de reflexão, é natural da nossa, da
nossa natureza – com toda essa redundância – é natural que em algum momento comecemos a
questionar a nossa condição, comecemos a questionar as nossas escolhas, a questionar os nossos
caminhos e é aí que começa a vir também algumas respostas, alguns entendimentos, então, cada
um tem seu tempo. Então, não julgue o outro, é o que Preto Velho ensina porque ele não deve ser
julgado, o Preto Velho não deve ser julgado como foi há muito tempo como é por muitos ainda.
Preto Velho para muitos outros segmentos é sinônimo de ignorância, é sinônimo de apego - e
quanto a isto tem um texto aí de uma sessão espírita que é incrível pra você ler junto, que já da
uma lição mesmo, um tapa na cara, eu não vou falar aqui porque já está por escrito. Então, Preto
Velho dentro do Terreiro de Umbanda com todo um símbolo, com todo um rótulo é a essência que
manifesta a força de pai Obaluayê, do Orixá associado aquela falange, mas num olhar, num
convívio em que provoca em nós o melhor de nós. Enquanto Caboclo quer dirigir, quer direcionar,
vai exigir, vai administrar a mediunidade, o Terreiro, as coisas práticas, Preto Velho vai cuidar,
vai acolher, vai inspirar, é muito diferente do que Caboclo nesse particular, Preto Velho é pelo
convívio, ele tem a intenção de inspirar porque nada mais forte na nossa vida do que inspiração,
nada mais resultante do que sentir-se inspirado sobre algo e você passa a ser melhor, a por em
prática algumas coisas, a se olhar, se criticar, quando você tem uma inspiração. Quando você
começa a ficar inspirado, começa a conviver com Preto Velho e se sente inspirado a ser próximo
daquilo, se admira a humildade, a simplicidade, a sabedoria do Preto Velho, você tem admiração
por aquilo, você começa ser inspirado a buscar isso também porque você tem uma admiração
naquilo, então, você também quer buscar aquilo pra você e se isso ocorre com você, acredite:
Preto Velho conseguiu o que ele mais queria. A força de Preto Velho manifestado no Terreiro, na
sua mediunidade onde você vai, era a intenção realizada ali. Então, Preto Velho não é reza, não é
benzedura, isso são formas, são vírgulas, aqui, estamos falando aqui é de essência da linha
independente das particularidades, tem Preto Velho que é rezador, benzedor, tem Preto Velho
que não, tem Preto Velho que é mais conversador, tem Preto Velho que é mais meditador, então,
isso não tem uma regra. Não é todo Preto Velho que tem que pegar galinho de arruda e ficar
benzendo os outros, não é. Você vai numa gira de Preto Velho vê dez médiuns ali incorporado
cada um trabalha de um jeito e todos trabalham, todos realizam e todos atuam na vida das
pessoas, então, não tem uma regra de como deve ser e todos neste particular, regras colocadas
como deve ser as coisas é o que atrapalha o progresso da Umbanda, o que atravanca a
naturalidade das coisas porque a Umbanda ela é muito natural, ela é muito livre. Então, pra
fechar esse momento, Preto Velho é a inspiração da transcendência do ser humano, é você lidar
com todas as dificuldades, com todas as suas dores, com todos os seus traumas porque ao pensar
que Preto Velho é aquele que simboliza aquele que foi açoitado num país e por um povo e hoje
ele vem e abençoa, ele beija, ele dá a mão pra ser beijado, ele beija a testa da pessoa é perdão,
perdão é transcender, é se livrar, é liberdade, é arrebentar as correntes: Preto Velho Yaô meu
pai. Eu agradeço Pai João de Angola, agradeço Vovô Benedito, Tio Jerônimo são Pretos Velhos que
nos inspiram nesse momento. Agradeço o Preto Velho que te ampara, que te ilumina, que te guia
por permitir você estar aqui, guiar você até aqui e que eu sendo nesse momento alguém que pode
levar luz nesse assunto que eu seja abençoado, você seja abençoado para o nossos próximos
encontros, que a plataforma seja abençoada, todos envolvidos a isso, nesse trabalho sejam
abençoados por essa força.
No próximo bloco encerrando essa aula nós teremos a atividade prática dessa linha de
trabalho. Vamos lá então.

DIGITAÇÃO – Equipe Umbanda EAD

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