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Rodrigues 109167
Introdução
O presente trabalho pretende analisar a maneira como ocorria a escravidão entre os
africanos e como ocorreu a introdução dos europeus no continente, em específico os
portugueses, analisando os motivos que os levaram a ter interesse na África e como foi se
desenvolvendo a relação com os líderes africanos.
É de extrema relevância aprofundar os conhecimentos sobre o continente africano no período
anterior a presença europeia, como também a forma como os europeus, principalmente os
portugueses, na qual como os ingleses, utilizaram fortemente a mão de obra africana para
trabalho escravo em suas colônias americanas, pois especificamente no caso do Brasil, não há
um estudo sobre o início da utilização da mão de obra escrava pelos portugueses e também não
há conhecimento sobre como era a África antes da presença europeia, visto que a África só é
estudada na escola quando se retrata o Egito Antigo e a escravidão nas colônias americanas, e
ainda assim a abordagem sobre a escravidão é bastante precária, sendo que está aquém de um
estudo aprofundado sobre o assunto. Essa falta de conhecimento gera consequentemente
distorções sobre a realidade e também sobre o passado dos ancestrais, como por exemplo, a
reprodução da fala de que os africanos se escravizavam, como se a escravidão praticada entre
eles fosse pelo mesmo motivo que era praticada na América pelos europeus ou também a fala,
desprovida totalmente de conhecimento, de que a África era um continente tribal, quando os
europeus chegaram, sendo assim incivilizado ou como também a fala do atual presidente da
república, Jair Bolsonaro, no programa Roda Viva, exibido pela emissora de televisão Tv
Cultura, na qual o mesmo relatava que os “portugueses nunca pisaram” na África,
demonstrando uma total falta de conhecimento sobre o assunto.
Escravidão africana
Era uma sociedade marcada pela oralidade, algo característico da maioria das sociedades
africanas, pois era relevante a preservação da memória dos antepassados, da reverência e
privilégios destinados aos mais velhos e também do compartilhamento da mesma crença
religiosa, desses fatores citados anteriormente que a harmonia social dependia, ligando-se
sempre ao chefe familiar, aos mais velhos.
A expansão territorial dos reinos, a migração desses grupos nômades, o trânsito de caravanas
de mercadores, a disputa pelo acesso aos rios, controle sobre estradas ou rotas implicaram em
guerras e dominação sobre um povo a outro, dando início a escravidão por guerra, pois os
povos vencedores escravizavam os vencidos, como acontecia no continente europeu na
antiguidade e também nas sociedades pré-colombianas, sendo chamado esse tipo de escravidão,
de escravidão doméstica, porque os vencidos eram usados como escravos em trabalhos
domésticos, de pequena escala, como a agricultura familiar.
Com o tempo, ao longo das gerações, os indivíduos escravizados iam perdendo a condição de
escravo, incorporando-se a linhagem do seu senhor, dessa forma ia aumentando os
subordinados ao patriarca da família, pelo fato de os descendentes dos aprisionados serem
assimilados a genealogia do seu senhor. Havia também o fato de que a pessoa poderia ser
escravizada por parte de uma punição por roubo, homicídio, praticar magia, como também
poderia ser escravizado como forma de penhora por uma dívida, semelhante ao que acontecia
nas sociedades astecas, alguns séculos atrás, no continente americano. A pessoa ser raptada e
ser vendida como escrava, era também uma forma de se tornar cativo, naquele período na
África.
Pode-se notar que a forma como ocorria a escravidão no continente africano, era semelhante a
outros continentes, como na Europa antiga e na América pré-colombiana. Pois com a expansão
dos reinos, transformando assim em impérios, há como consequência a escravização dos povos
dominados, como o Império Romano havia feito em quase todo o continente europeu, na qual
os povos vencedores utilizavam a mão de obra dos habitantes do território vencido como
trabalho escravo, sendo que a África se diferenciava pelo fato de os descendentes serem
assimilados a linhagem. Também havia a forma de escravidão como forma de pagamento de
dívida, algo igualmente comum em outros continentes. Entende-se então, visto como era a
escravidão no continente africano, que não era somente os africanos que se escravizavam dessa
forma, sendo que era algo comum no continente americano e inclusive no europeu, que
acontecia essa forma de escravização há séculos atrás em contextos diferentes do século XV.
Com as cáfilas, eram trazidos muitos escravos pelo fato de que as caravanas saiam do Norte da
África com destino as savanas sudanesas com espadas, cavalos, tecidos e várias especiarias, ao
retornar após longos meses, traziam consigo ouro, peles, marfim e escravos, que iam
aumentando, sendo vitimadas milhões de pessoas nesse processo de escravização ao longo dos
séculos.
Para os seguidores do profeta Maomé, a escravização era uma espécie de missão religiosa. O
infiel, ao ser escravizado, “ganhava” a oportunidade da conversão e, depois de devidamente
instruído nos preceitos islâmicos, tinha direito de voltar a ser livre. (Albuquerque; Filho,2006)
Porém, não era somente o indivíduo se converter ao islamismo que logo ganhava a liberdade,
pois na condição de escravo, raramente havia tempo para ser educado nos preceitos islâmicos
e havia, principalmente interesses comerciais na obtenção de escravos, pelo fato de o escravo
ser produto de troca, o que gerava muito lucro e também era os cativos que carregavam os
produtos nas longas e exaustivas viagens pelo deserto. Os escravizados também eram
indispensáveis por serem principalmente usados como soldados, nas conquistas territoriais
como também para controlar os líderes inclinados a interpretar o islamismo à sua própria
maneira.
De uma África que predominava a escravidão doméstica, a expansão islâmica no continente,
no século VIII, foi dando lugar a escravidão em larga escala, na qual os islâmicos foram os
primeiros a disseminar sua cultura ao continente, usando a escravização como um meio de
missão religiosa, como pretexto para o aumento dos lucros em seus negócios, pois como já foi
dito anteriormente, os escravos eram usados como produto de troca e também como soldados,
fora ainda de serem carregadores dos produtos nas caravanas.
Ascendia-se na Europa a ideia de que a África era um lugar que havia ouro em abundância,
com largas cidades de ouro e rios que exuberavam pedras preciosas. A busca por ouro e
especiarias levaram os portugueses à África, na qual os lusitanos já tinham conhecimento
dessas riquezas em solo africano, quando conquistaram Ceuta, no extremo norte da África.
Porém, os africanos ficaram curiosos do destino dos escravos que foram levados pelos
portugueses, isso os ficou inquietando-os, pois a escravidão existente, acontecia dentro do
continente africano e nunca aconteceu de os cativos serem levados mar afora, como havia
acontecido recentemente. Essa desconfiança levou os africanos a crer que os europeus, no caso
especifico dos portugueses, prejudicariam seus negócios, por conta disso nenhum chefe lhes
facilitou o acesso ao interior do continente, como também os portugueses tiveram dificuldades
para entrar no comércio, através das rotas transaarianas.
Pelo fato de que certas mercadorias, obtivessem altos lucros, fazia-se preciso percorrer
extensos caminhos, na qual havia uma série de intermediários entre o produtor e o consumidor
final que tornava os produtos caros.
Os portugueses se deram conta do funcionamento dessa rede e do valor do escravo como moeda
de troca. Passaram então a comprar africanos para vender a outros africanos, beneficiando-se
da velocidade das caravelas no transporte ao longo da costa. (Albuquerque; Filho,2006)
Para entender o tráfico de escravos, é preciso compreender a participação dos africanos nesse
processo, pois muitos reinos viam a escravidão como uma forma de enriquecimento, era um
interesse mútuo entre africanos e europeus. Como já foi dito, era comum na África a escravidão
doméstica, só que em pequena escala, com a islamização do continente, a escravização
começou a ser usada em larga escala através do comércio, pois os islâmicos utilizaram a
escravidão com o pretexto de missão religiosa, que era somente um disfarce para fins
comerciais. Do século XV em diante, com a presença portuguesa no continente africano, foi
estimulada a guerra entre os reinos, para que pudessem ser usado os vencidos como escravos e
serem vendidos, sendo assim consequentemente, os reinos iam enriquecendo, sendo que outros
iam sendo dizimados e escravizados.
Com isso, boa parte dos escravos vendidos nas Américas eram vítimas de guerras entre os
próprios povos africanos. Já eram escravos no continente africano, não se tornaram ao
atravessar o oceano Atlântico. O que aconteceu foi o estímulo dessas guerras por parte do
europeu, para que pudessem ter lucros nos seus negócios. Essa escravização desenfreada,
levaram alguns reinos a se ascenderem nos séculos XVII e XVIII, como por exemplo, os reinos
Oió, Daomé, Sadra e Achanti. Na qual iam conquistando-se entre si, como o reino Iorubá, que
enriqueceu com as guerras de conquista, mas em meados do século XVIII foi conquistado pelo
reino Daomé, tendo seus habitantes escravizados e seus territórios saqueados. Aliás, o próprio
reino Daomé se desenvolveu com o tráfico atlântico, no início do século XVIII.
O comércio rendia-lhes um lucro mais seguro e ainda era facilitado o trabalho, pois os
habitantes de Luanda que iam em busca de obter escravos.
O que foi, de certa forma, “irônico” é que os lusitanos foram para a África em busca de ouro e
prata, como não encontraram o que procuravam, investiram no comércio de escravos,
fomentando a escravização dentro do continente africano, ocasionando a diáspora africana, na
qual vários africanos foram levados a força para trabalharem como escravos nas colônias
americanas, principalmente nos Estados Unidos e Brasil. A “ironia” está que o ouro que
procuravam estava no outro lado do oceano, em sua colônia americana, o Brasil.
Pode-se dizer que eles estavam procurando explorar o lugar errado, mesmo tendo ouro na parte
sul da África, era difícil o acesso e seria mais fácil para os portugueses explorarem a colônia
que estava inteira a seu dispor, que foi o que aconteceu no século XVIII, com o início do Ciclo
do Ouro em Minas Gerais. Os escravos levados do continente africano foram os que
trabalharam na exploração de ouro no Brasil.
Considerações finais
Visto o que foi abordado nesse trabalho, foi feito um parâmetro do contexto relativo à
escravidão no continente africano, desde a escravidão doméstica, passando pelo processo de
islamização e por fim retratando a presença europeia no continente e a forma de escravização
fomentada pelos portugueses. Tendo sua estrutura baseada no livro História do negro no Brasil
de Walter Fraga Filho.
De início, como visto, havia a escravidão doméstica, na qual no processo de expansão dos
reinos, os vencidos tornavam-se escravos dos vencedores, sendo utilizada sua força de trabalho
para serviços domésticos, como na agricultura. Nesse contexto, os descendentes dos escravos
eram assimilados a linhagem do patriarca. Com a islamização do continente africano, a
escravidão começou a ser usada pelo meio comercial, com a escravização de indivíduos que se
recusassem a professar a fé em Alá. Porém, os cativos começaram a ser usados como produto
de troca, nas cáfilas e também como soldados.
Essa rivalidade custou muito caro ao continente africano, pois enquanto alguns reinos
enriqueciam a custa disso, outros vários foram destruídos, dizimados pela ambição dos
lusitanos em obter lucro no comércio dentro da África. As consequências foram o esvaziamento
demográfico do continente, sem esquecer é claro, do sofrimento da separação de indivíduos de
suas famílias e comunidades, causada pela diáspora africana.
Referências bibliográficas
Filho, Walter Fraga; Albuquerque, Wlamyra R. de. História do negro no Brasil. Salvador:
Fundação Cultural Palmares, 2006.
D. T. Niane. História geral da África IV, África do século XII ao XVI. Londres: Heinemann
Educational Publishers Ltd., 1984.
Figueiredo, Fábio Baqueiro. História da África: módulo 1. Brasília: CEAO-UFBA, 2011