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O curriculo em acéo na Instituigao de Educagao Infantil Nos capftulos precedentes discutimos sobre 0 curriculo como um dos elementos que se articula com os demais aspec- tos da Proposta Pedagégica. Elencamos e tratamos separa- damente cada um desses aspectos. Entretanto, na prética de cuidar das criangas e de educé-las em Instituigdes de Educa- Go Infantil, esses aspectos nao se dissociam. Mas como esses diversos elementos se articulam no fazer cotidiano dos professores que trabalham com criangas de 0 até 6 anos de idade numa IEI? Acreditamos que essa articulagaio se coneretiza no traba- ho cotidiano por meio das opgdes metodologicas que fazemos. Essas opgdes partem de nossas erengas e concepcoes, ¢ envol- vom posturas, atitudes, procedimentos, estratégias © ages, Assim, uma opcao metodoligica pode levar o(a) profes- sor(a) a assumir o papel de transmissor de conhecimentos. Nessa perspectiva, 0 trabalho se torna cada vez mais adulto- -centrado, como se ele(a}, professorta), fosse 0 centro do pro- crianga. Por outro lado, ele(a) pode se ver como aquele(a) que ajuda as criangas a se inserirem na cultura, assumindo 0 pa- pel de mediador(a) da aprendizagem, ajudando-as a refletir ;obre 0 seu préprio processo de desenvolvimento/aprendi zagem e sobre 0 mundo que as cerca. Essa opgao pode levar ofa) professor(a) a ouvir cada vez mais as criangas, a estar atentofa) a todas as suas formas de manifestagdo, em todos os momentos de seu cotidiano, procurando melhor conhecé-las. Pode, além disso, levé-lo(a) a possibilitar que suas aprendiza- gens se fagam entre seus pares, propiciando interagses di sas ¢ fortalecendo a emergéncia de uma cultura infantil, No que se refere as atitudes que podem ser desenvol- vidas nas criangas em fungio de nossas escolhas metodolégi- cas, 6 importante refletir sobre se queremos que os meninos @ meninas que estamos formando sejam consumidores pas- sivos de conhecimentos prontos que transmitimos, ou, por cesso, endo 100 outro lado, se desejamos que se tornem pessoas criticas © produtoras de conhecimentos novos. E preciso também nos perguntarmos se «ueremos contribuir para a submissio ou para a autonomia, para a inibig&o do imaginario e da criativi- dade, ou para a invencao ¢ a criagao de novos modelos de relacionar com a cultura e com a natureza. Na definigdo de estratégias @ procedimentos, podemos nos limitar ao trabalho apenas nos espagos internos ¢ a ma- teriais restritos, ou podemos ampliar 0 uso dos espagos @ materiais, propiciando 0 contato com a natureza e com dife- rentes aspectos da cultura. Essas opgdes podem nos levar também & compartimen- tagio do tempo e a proposigao de atividades esvaziadas de sentido, som considerar os ri de das ages. Ou, ao contra nduzir a flexibilizacdo dos tempos, ao respeito ao ritmo das criangas, a0 encadea~ mento das ages & proposigao de atividades significativas. Podom, ainda, nos levar 4 improvisagao do trabalho, ow a um planejamento apoiado na observacao dos interesses e ne~ cossidades das criancas ¢ na avaliacdo cotidiana do trabalho. E fundamental, dessa maneira, que as formas de traba- Ihar sejam coerentes com as nossas concepgdes de socieda- de, de homem, de crianga, de educagao, de desenvolvimento/ aprendizagem que foram definidas na Proposta Pedagégica da instituigdo e que nos levem, continuamente, a buscar es- tratégias ¢ a assumir posturas mais condizentes com esas concepgdes, promovendo o desenvolvimento de atitudes soli- dérias ¢ cooperativas por parte das criangas. Quando falamos em opgGes metodoldgicas de trabalho na Educagio Infantil, isso nao diz respeito a método, uma vez que nao nos referimos a um caminho preestabelecido, ‘com passos delimitados para se chegar a determinado lugar. Estamos, sim, tratando de formas de trabalhar que vao sendo construfdas pelostas) professorestas) na prética cotidiana com um grupo de criangas na IEI, ¢ que vao sendo modificadas nas diferentes situagdes com as quais professor(a) © crianca se defrontam 101 E quais seriam as metodologias mais adequadas para trabalhar com criangas de 0 até 6 anos? Em ceria situagdo, a metodologia mais adequada pode ser esta, em outra, aquela. Para ofa) professor(a), é importan- te conhecer diferentes maneiras de trabalhar para que possa selecionar aquelas que so mais apropriadas & faixa etiria das eriangas ¢ que provoquem sua curiosidade sobre 0 mun- doe seu desejo de agir. Essas metodologias devem promover a interagao entre as criangas ¢ possibilitar a exploracio dos espagos ¢ dos ob- jetos, e, ao mesmo tempo, devem levar em consideracdo as necessidades de brincar, de conhecer 0 mundo e de se expres- sar por meio de diferentes linguagens. Podemos trabalhar com projetos de trabalho, com ofi- cinas ou ateliés, com sequéncias de atividades ou até mes- mo com atividades isoladas, desde que sejam significativas para as criangas. E possivel, também, que no trabalho coti- diano da Educac&o Infantil todas essas formas estejam pre- sentes. Com isso, o(a) professorta) escolhe as metodologias de acordo com a adequacéo delas a idade ou ds possibilidade das criangas, & natureza do trabalho, ao tipo de tematica ou aos contetidos que pretende desenvolver, ou, ainda, aos tem- pos e espacos dispontvels a sua realizagao. Projetos de trabalho Nessa forma de trabalho, todas as agies sfio organi- adas de maneira conjunta e cooperativa, envolvendo ola) professor(a) ¢ as eriangas, na perspectiva de responder a algu- ma questo ou necessidade que tenha sido suscitada pela sua curiosidade, pelo desejo de fazer ou de resolver algum pro- blema da realidade fisica e social. Nessa busca, ao lidar com a complexidade da realidade, emergem contetidos das mai diversas naturezas, necessérios & compreensao, a resolugao de um problema ou a realizagao de algum empreendimento 102 Assim, varios conhecimentas e aspectos da formagio humana sao trabalhados, ndo se podendo delimitar previa~ mente os contetidos que irdo surgir. 0 importante 6 que as criangas sejam instigadas em sua curiosidade e em seu desejo de agir sobre 0 mundo, que perguntem, explorem, argumen tem, decidam coletivamente, aprendam que as fontes de in- formagdo so diversas, estabelecam relagdes entre os varios conhecimentos acessados ¢ possam, assim, construir uma re- lagao prazerosa com 0 conhecimento, que passa a ter sentido e significado para elas. Para ilustrar e analisar de forma mais viva e dinamica essa forma de trabalhar na Edueagao Infantil, apresentamos 0 relat adaptado de uma situagao ocorrida em uma institui- ¢&o com um grupo de eriangas de 4 ¢ 5 anos. A proposta, A professora, como fazia todos os dias, estava sen- tada no cho com 0 grupo de criangas, lendo para elas. Neste dia, ela lia a historia de uma festa no céu para a qual o sapo nao tinka sido convidado. Apos a leitura, algumas criancas passaram a fazer comentarios sobre a istéria contada, relacionando-a comoutras narrativas que tinham sapos como personagens; outras sairam da roda pulando e cantando como sapos. Uma menina, que permaneceu calada durante a leitura da historia € que parecia um pouco desligada, no momento em que os demais faziam comentarios, perguntou: por que 0 sapo no mora na dgua salgada? Essa pergunta, que poderia ter sido ignorada ou respondida imediatamente pela professora, foi objeto de discussdo e de grande interesse de todas as demais criancas, em funcao da forma como a professora pro- blematizou 0 assunto, devolvendo a pergunta para o grupo e pedindo que desenhassem o que achavam que aconteceria se 0 sapo morasse no mar. 103 Foram feitos vdrios desenhos, por meio dos quais as criancas explicitaram suas hipéteses: desenharam 0 sapo sendo arrastado pelas ondas do mar, sendo comido por wm tubardo, todo coberto de areia, entre outras. Essa estratégia contribuiuparaagucaracuriosidade das criangas e deu origem a uma grande polémica enire elas. A partir dai, foi proposto 0 desenvolvimento de um projeto, posteriormente planejado em conjunto com as criangas. O projeto durou cerca de um més 86 foi concluido quando conseguiram uma resposta satisfatoria para @ pergunta inicial. A organizagao Todas as atividades propostas tinham como meta res- ponder & questo em tela: por que o sapo néo mora na agua salgada? De forma intencional, a professora possibilitou que as criangas argumentassem sobre suas hipéteses, levantassem fontes de pesquisa, materiais e atividades que de desenvolvidos para se encontrar resposta para aquele pro- blema. Discutiram também sobro os tempos e os espacos ne- cossarios ao desenvolvimento de todas as aces, bem como organizaram grupos de trabalho ou criancas que seriam res- ponséveis por cada uma das aces propostas, Decidiram, assim, que primeiro precisariam saber como eram os animais que viviam no mar, e, em seguida, os que ha- bitavam rios e lagos, pois as diferengas entre esses animais poderiam se constituir em informagées fundamentais para compreenderem o porqué de o sapo n&o viver no mar. Nesse momento, jé haviam debatido muito sobre a diferenga entre mares, rios ¢ lagos, ¢ algumas criancas comecaram a fala sobre alguns animais que viviam na beira dos rios e de pas- saros que gostavam de morar perto de 4gua doce ou mesmo do agua salgada. Para saber ma iam ser sobre 0 assunto, combinaram que iriam 104 consultar enciclopédias, livros ¢ revistas, buscariam na inter- net, iriam ao zooldgico e fariam um convite ao professor de Biologia, que trabalhava na escola no perfodo da manha, para ele vir conversar com a turma. No momento da organizagao, foi discutido também 0 tempo necessario ao desenvolvimento do projeto, consideran- do as atividades que deveriam ser realizadas para responder & questo central que conduziu & busca de conhecimentos pelas criangas, com a orientagao da professora. 0 calendario © 0 planejamento das atividades do projeto, fixados em uma das paredes da sala, ajudaram na previsio desse tempo Depois de muita discussao, concluiram que as ativida- des do projeto seriam desenvolvidas nas segundas e quintas- -feiras, logo apés o lanche, durante um més, podendo haver flexibilizagao desse tempo, caso fosse preciso. Durante essa discussio, a professora lembrou que era necessério organizar hem o tempo, pois o Projeto Fabrica de Brinquedos estava em andamento, havia ainda as oficinas de jogos e de literatura is, que eram realizadas com a participagao de todas as turmas, além de outras aividades da rotina se- manal da TEL Essa organizagao ¢ fundamental para as criangas apren- derem a fazer previsdes e para construirem a nogao de tem- po, uma vez que a discussio sobre essa questo envolve os conceitos de més, semana, dia e hora que, gradativamente, sao construidos no cotidiano da Educagéo Infantil. 0 desenvolvimento A partir desse momento, trilharam 0 caminho da pes- quisa. Em primeiro lugar, como haviam decidido no momento de organizagao do projeto, procuraram conhecer sobre os ani- mais que viviam no mar (tubardo, baleia, siri, camarao, lula, polvo e varias outros), pesquisando em livros e enciclopédias. Cada dia era uma novidade, trazida pela professora, pelas criangas ¢ até mesmo por alguns pais que comecgaram a se envolver no projeto. 105 Assim, foram aparecendo novas questées: Onde mo- ram? 0 que comem? Como respiram? Como se reproduzem’ Como 6 0 seu corpo? Depois, descobriram diversos animai que vivem em rios e lagoas, como os varios tipos de sapos, ras, girinos e peixes de diferentes espécies. 0 maior interesse recaitt sobre o peixe-boi, a respeito do qual uma das criangas realizou um estudo mais aprofundado © depois apresentou aos demais. Conheceram também alguns bichos que vivem nas margens de rios, como macacos, capivaras, pacas e aves tipicas desses locais. As posquisas foram realizadas em diversos livros, prin- cipalmente encielop es, a professora as- sumia seu papel de leitora, mostrando as ilustragies e lendo para as criangas, que a ouviam atentamente. Ela também fa- zia algumas pausas, atendendo a solicitacdo de esclarecimen- tos por algum participante do grupo. Alguns pais ¢ também a professora, juntamente com as criangas, buscaram informagdes na internet. Além disso, fi- zeram um passeio ao jardim zooldgico para verem diferentes tipos de sapo, e alguns pais foram chamados para conversar com. as criangas @ esclarecer questdes geradas por grande curiosidade sobre tema. Para pedir autorizagio aos pais e explicar o que iam fazer no zool6gico, redigiram coletivamente um bilhete. Para © professor de Biologia, mandaram um convite, elaborado também em conjunto, e prepararam uma entrevista para ser foita no dia de sua visita. Alguns pais, entendidos no assunto, também receberam bilhetes personalizados, para ir convel sar com as criangas e esclarecer algumas diividas. Em um deles, dirigido a um pai que morava em um sitio, foi pedido que, caso encontrasse um sapo, trouxesse para a escola, pois eles tinham 0 d a cuidar bem do sapo ¢ depois a devolvé-lo para que voltasse ao lugar onde morava. ‘Tanto os bilhetes aos pais quanto 0 convite ¢ a entre- vista foram elaborados coletivamente, tendo a professora como escriba. Para a produgdo do texto, ela ia desafianda as 106 criangas por meio de perguntas, tanto em relagio ao contett- do, quanto ao que se refere a forma e caracterfsticas daquele tipo de texto ¢ om relagao & prdpria estrutura das frases. Ela chamava também a atencdo para a coeréncia do texto e para os elementos coesivos, sobretudo os relacionados a tempo, espago ¢ ao uso de pronomes. Destaque-se que isso era feito de acordo com a capacidade de compreensao das criang: Por exemplo, ao escreveram o bilhete para o pai que morava no sitio, as criangas ditaram o que deveria ser es to, como se a pessoa, para a qual o bilhete seria enviado, es- tivesse presente © conhecosse 0 contexto. Assim, propuseram que a professora eserevesse: “Seu Jodo. Traz um sapo pra nds!”. Diante disso, ela questionou: “Seré que 0 seu Jodo vai compreender? Vai saber para que queremos o sapo? Nao seria importante, antes de pedir 0 sapo, escrever sobre 0 que esta mos pesquisando para que ele compreenda 0 nosso pedido?”. Como as criangas se dispersam do foco do trabalho com grande facilidade, passando de um assunto a outro, fot necessario, ao longo de todo o projeto, que a professora cons- tantemente lembrasse a elas a questo para a qual buscavam respostas e fosse fazendo a ligagao entre o que iam pesqui- sando com a pergunta orientadora do projeto. Depois de certo tempo em que estavam estudando a questo, uma das criangas props que as coisas aprendidas pelo grupo fossem apresentadas as outras turmas da escola. Passa- ram entdo a desenhar os diversos tipos de peixes, sapos e outros animais da Agua doce @ da agua salgada, a modelar os animais © passaros que viviam na beira dos rios ¢ lagos @ os diversos passaros que sobrevoavam o mar, Tudo isso para mostrar as outras criangas, no momento da apresentago co projeto. Adescoberta Ao final do projeto, as eriangas conclufram que 0 sapo ndo consegue sobreviver na agua salgada porque ele respira pela pele, diferentemente da maioria dos animais que vivem no mar, cuja respirag&o é branquial. 107 Aavaliacio Ao longo do projeto, ocorreram varios momentos de ayaliagdo com o grupo, ora motivados pela dispersio das criangas, que algumas vezes perdiam 0 foco do trabalho, sendo necessério que a professora revisse com eles 0 objeti vo e relembrasse os combinados; ora para redimensionarem © tempo previsto inicialmento; ora para decidirem 0 quo so- ria registrado no livro da vida da turma.' Juntos, reviram o planejamento inicial, retomando todo © proceso, com as intervengdes da professora, destacando as aprendizagens realizadas no processo. Finalmente, avaliaram 0 0 objetivo do grupo havia sido alcangado, ou seja, se ha- viam descoberto por que o sapo nao mora na agua salgada. Por sua vez, a professora, ao registrar em seu “diario de bordo” 0 trabalho desenvolvido a cada dia, fazia a sua avalia- ‘0 processual, com vistas ao replanejamento das agdes que iam sendo desenvolvidas. Nesse momento, também registra- va no “caderno de avaliacao” tudo 0 que ia percehendo em relagdo ao desenvolvimento/aprendizagem das criangas ao longo do trabalho. 1 Caderno que contim a histéria do grupo » seu percurso de apron dizagem durante determinado periodo, suas realizacies e produces, vangos, entre outros. Os registros sao feitos coletivamente. em geral tendo o professar come eseriba, 2 Fsse caderno, também denominado Caderno de Planejamento © Avallagdo, ousimplesmente Diario, 6umespaco no qual ofa) professorta) rogistra seus planejamentos, suas avallagios, roflexdes © duvidas, Nesse caderno, o(a) professor(a) registra. também tos cotidianos, revendo o reformulando o trabalho, rfletindo criticamonte sobre os acontecimentos ¢ sobre suas atitudes com as criancas, rolacionande sua prétiea com as taorias que sustentam suas agies © tworizando sobre a prépria pritica 3 Caderno erganizado no inicio do ano e que dove acompanhar as ‘observagies dota) professorta) av longo do periodo letivo. Nele sio dostinadas algumas péginas para cada erianea, nas quais deve sor ‘rogistrado tudo que ola) professorta) observar ¢ considerar importante em relago a cada crianca, cot base em eritérios discutidos no mo: ‘mento da elaboragdo da Proposta Pedagégica. 108 Os pais, além de acompanharem o processo par meio do mural colocado na entrada da escola — no qual constantemen- te eram fixadas noticias diversas, como avangos, dificuldades ¢ solicitagdes sobre o projeto —, tiveram a oportunidade de, entre outras coisas, na reuniao bimestral da escola, avaliarem com a professora 0 projeto desenvolvido pela turma. Acontinuidade Com as criangas, um assunto sempre puxa outro € as a proposta de apresentar as descobertas outras turmas da escola deu origem a um projeto de empre- endimento, que foi a preparacZo ¢ a realizagdo de uma expo- si¢do, na qual apresentaram os resultados de sua pesquisa as coisas produzidas durante 0 projeto Aanilise do trabalho Por suas caracteristicas, tratava-se de um projeto de investigacdo, ou seja, este foi um projeto que surgiu da curio- sidade intelectual de uma crianga, transformou-se em uma per- gunta instigante para o grupo, sendo o fio condutor de todo 0 trabalho, A professora, apés a organizacao do projeto junto com as criangas, no momento de seu planejamento, pesquisou so- re o assunto para se informar, uma vez que nao tinha respos- ta pronta para a indagagio das criangas. A partir dessa busea, ocorreram novas ideias para manter viva a curiosidade do gru- po e enriquecer o trabalho, abrindo 0 leque de possibilidades jd apontadas na Proposta Pedagégica da instituicao. Os objetivos que poderiam ser desenvelvidos ao longo do projeto, relativos & ampliagao do conhecimento, & forma cio de atitudes e valores ¢ & aprendizagem de procedimentos necessdrios & construgaio de conhecimentos, também foram buscados nessa proposta, permitindo & professora registré- -los em seit caderno, Sao eles 109 igar a curiosidade da crianga sobre os seres e fond- menos do mundo natural e construir um conhecimento novo a partir dessa curiosidade; * criar situagées significativas de leitura ¢ de escrita de textos reais e contextualizados, tendo a professora como escriba e leitora; + trabalhar com diferentes estruturas textuais: bilhete, convite, entrevista, textos informativos; + propiciar o uso de diferentes linguagens: oral, eserita, virtual, plastica ‘+ desenvolver atitudes de respeito e cuidados com a na- tureza; + criar situagdes para as criangas desenvolverem a sua capacidade de escuta, aprendendo a ouvir 0 outro ea conviver com as diferencas; © possibilitar as interagdes das criancas com seus pares ¢ com adultos mais experientes; * propiciar que as eriangas busquem 0 conhecimento em diversas fontes, selecionem e estabelecam relacao entre as informagGes a que tém acesso. ‘Ao longo do desenvolvimento do projeto, alguns desses objetivos foram sendo detalhados nos planejamentos didrios, outros foram ampliados e novos objetivos foram criados. Para atingi-los, a professora propiciou 0 uso de for- mas privilegiadas de as criangas desta faixa aprenderem e se desenvolverem, tais como as diferentes formas de repr. tagdo, a imaginagdo, experimentagao ea exploracdo, especial- mente por meio de perguntas, levantamento de hipéteses, pes- quisa etc. Ela propos trabalhos em grupo que deveriam ser desenvolvidos de forma cooperativa. Pesquisou, discutiu e observou junto com as criancas animais marinhos, fhuviais @ terrestres. Propds atividades nas quais puderam estabele- cer relagées entre esses animais ¢ 0 seu habitat: a terra e as guas do mar, dos rios e dos lagos. Ampliou seus conhecimen- tos sobre o uso de diferentes fontes, ensinando-Ihes a utilizar 110 enci lopédias, mapas ¢ consultar sites na internet. Todo 0 trabalho foi permeado por valores ¢ atitudes em relagéo ao meio ambiente, sobretudo aos cuidados necessarios a preser- 0 da vida. Nesse proceso, as criangas produziram e partilharam ideias, eédigos préprios, formas especificas de compreensio da realidade, permitindo-lhes nao apenas se apropriar de sa- heres ja existentes, mas construir conhecimentos novos. papel da professora © papel da professora foi fundamental no desenvolvi- mento do projeto. Ao tornar observavel a todas as demais criangas um problema intelectual que era inicialmente ape- nas de uma delas, desafiou o grupo, agucando a curiosidade de todos, convidando-os, de certa forma, a construir um co- nhecimento novo. Destaque-se que esse 6 um contetido (por que o sapo nao vive na Agua salgada?) que nao se encontra sistematizado em nenhum manual e que, portanto, necessitou que 0 grupo, selecionasse alguns conhecimentos historicamente construdos — animais que vivem na Agua (em mares, em rios ¢ lagos) e animais que vivem na terra (como sao, como vivem, de qu alimentam, como é seu corpo, seu sistema respiratério etc.) — para a produgéo de um conhecimento original A professora teve também importante papel na busca de articulagao entre as formas como as eriangas se apropriam do mundo, a curiosidade infantil e 0s conhecimentos constru- dos coletivamente ‘A mediagio da professora entre 0 grupo de criancas, aquilo que queriam conhecer e os conhecimentos sistematiza- dos historicamente possibilitou que elas dialogassem com 0 co- nhecimento ¢ dessem significado ao que estavam aprendendo. Por estar atenta aos contetidos que emergem da cul- tura infantil — por meio da fala, dos desenhos ¢ de outras manoiras de as criangas se expressarem —, a professora deu ut forma e significado a esses conteitdos, potencializando as si tuagdes e dinamizando 0 trabalho. Outras metodologias utilizadas na Educacéio Infantil Partindo do trabalho relatado ¢ analisado acima, pen- semos em outras metodologias jd anunciadas no inicio deste capitulo. Atividades significativas Essas atividades, emhora nao tenham uma relagao te- matica ou sequencial com outras atividades, t8m sentido e significado, om si mesmas, para o grupo de criangas, pois elas tém prazer em realizé-las ou mesmo porque compreen- dem o “para que” de sua realizagio. Aqui, incluem-se ativi- dades como brincar, passear na praca ou no parque, ouvir ou contar hist6rias, dangar, realizar experiéncias “cientt cas”, bem como atividades ligadas aos cuidados corporais, a0 aprendizado do autocuidado, dos valores e regras de con- vivencia social. Na descri¢ao do projeto sobre 0 sapo, referimo-nos ao fato de que a professora, como fazia todos os dias, lia para as criangas. As leituras realizadas nao tinham obrigatoria~ mente uma sequéncia ¢ tampouco relaco uma com a outra. Na realidade, ela fazia leituras diversas que nao estavam ne- cossariamonte ligadas a outros assuntos quo estavam sondo iratados: hist6rias, noticias interessantes, receitas para fazer uma atividade de culindria ete. Estas eram em si atividades significativas para as criangas, uma vez que sempre tinham um objetivo ¢ um sen- tido real para elas. Liam para se divertir, para buscar infor- maces, para aprender, para saber o qu corresponden- tes haviam escrito ete. 112 Sequéncia de atividades Refore-se ao desdobramento de uma atividade signifi- cativa em varias outras Como vimos, as atividades significativas podem se esgo- tar nelas mesmas, ou seja, nao terem continuidade posterior & sua realiza¢do. Podem também ter desdobramentos, originan- do outras atividades. Essas atividades podem envolver expe- riéncias diversas ¢ conhecimentos de diferentes areas. No trabalho relatado, vimos que a atividade de contar his- t6ria, que era uma atividade isolada ¢ podria ter se encerrado a0 t6rmino da leitura pela professora, deu origem a um projeto de trabalho, Poderia também ser desdobrada em uma sequén- cia de atividades, como por exemplo: depois de ler a histéria, a professora ou as criancas poderiam ter proposto fazer dese- hos, pinturas ou imitar 0 sapo e os demais bichos da histéria, Outro exemplo 6 uma atividade de culinaria (como as- sar milho, realizada pola mesma turma), que nao precisa ne- cossariamente ser tum projeto, A professora e as criangas ha- viam, no infcio do ano, feito um canteiro de milhos e todos os dias regavam, acompanhavam seu crescimento, limpavam 0s matinhos em volta dos pés. Na época da festa junina, quando eles j4 estavam maduros, a professora ¢ a turma resolveram fazer uma fogueira para assé-los e sabored-los. Oficina ou atelié E uma metodologia que prevé um trabalho diversifica- do com atividades significativas, em que os grupos escolhem com o que ou onde irdo trabalhar, prevendo-se ou ndo um produto coletivo. Retomando o projeto descrito acima, a mesma ativida- de significativa de leitura de historia poderia ter se desdobra- do em ateliés ou em oficinas, com uma proposta de trabalho diversificado. A professora, por exemplo, podria ter combinado com 6 grupo que, apés a leitura, preparariam uma dramatizacao. 113 Para tanto, as criancas poderiam se organizar nos cantinhos, de acordo com seus interesses. Assim, um dos grupos poderia ocupar 0 cantinho de fantasia, escolhendo e preparando roupas, adornos e demais complementos que constituiriam o figurino dos personagens; outro grupo, 0 cantinho de artes plasticas, fazendo ativida- des de desenho, pintura, recorte @ colagem para montar 0 cenario; um terceiro grupo poderia escolher o canto de m ca, selecionando um repertério jé conhecido de musicas que envolvessem a temética da festa no céu, para abrir ¢ fechar a dramatizagao; o Ultimo grupo, 0 dos atores, estaria se pre- parando para sua atuagio como personagens do teatrinho. Para isso, teriam & disposicao o livro que a professora havia lido, escolhendo qual personagem cada um iria representar e selecionando contetido da fala de cada erianga. E com as criangas pequenas, seriam selecionadas as mesmas metodologias de trabalho? Embora as metodologias de trabalho sejam as mesmas, temos que ter em mente que cada grupo é um grupo diferen- te, constituido por criangas diferentes, oriundas de culturas diversas, nas quais interferem valores, atitudes, procedimen- tos, maneiras de viver @ de conviver. A primeira tarefa dota) professorta), a cada ano que se inicia, é conhecer 0 grupo de criangas com as quais iré balhar. Nesse sentido, a nossa capacidade de escuta, de ob- servagdo e de registro é fundamental, pois as criangas, nas conversas entre elas, nas suas brincadeiras, nas relagdes que vao estabelecendo com os objetos ¢ os seres que as rodeiam, acabam indicando suas necessidades, seus interesses @ suas formas de aprender. 0 importante é ter claro que quanto menor a idade do grupo, maior serd a interveng&o do(a) professor(a). Nesse sentido, ele(a) precisard estar mais atento(a) aos sous gostos © proferéneias, aos seus gestos, expressties, choros ¢ mani 4 festagdes de alegria, prestando atengio nas interagdes das criangas com seus pares, tentando entender os contetidos dessas diversas linguagens. Pensando no elemento detonador dos projetos de tra- balho, constatamos que as criangas menores, pelas préprias caracteristicas da fase de desenvolvimento em que se encon- tram, ainda nao conseguem comunicar, por meio de palavras, 6s seus questionamentos intelectuais sobre 0 mundo que as corca @ nem propor que se fagam coisas coletivamente. Mas elas nos mostram, nas suas agdes ou na receptividade que ma- nifestam em relacio &s propostas que fazemos, seus interesses @ suas pos professor(a) pode propor o desenvolvimento de projetos que envolvam ages que sejam significativas para as criangas. Um exemplo é 0 projeto de criagéo do “mascote da tur- ma”, ou seja, criar e confeccionar um boneco com caracte- risticas semelhantes as das criangas do grupo. Dia apés dia, com a ajuda delas, poderiam ser feitas as partes do corpo, com papel maché, definindo o tipo @ a cor dos cabelos ¢ dos olhos, confeccionando as roupas € os sapatos e propondo a pintura ¢ o enfeite com colagens de gravuras tiradas de revis- tas. Depois, 6 possivel organizar, com o auxilio dos pais, a ida do mascote a cada uma das casas das criangas, pedindo aos pais que relatem, por escrito, a passagem do boneco por sua casa, possibilitando que, no dia seguinte, ofa) professor(a) te nha elementos para instigar a fala das criangas sobre a visita do mascot No que se refere as atividades isoladas, todas podem: ¢ dovem sor significativas para as criancas ¢, quanto menor sua faixa etéria, mais se evidencia a indissociabilidade entre 05 cuidados basicos e o educar. Em una atividade de pintura na parede azulejada da Grea externa de uma creche, as criangas de um ano e meio escolhiam 0 que e com que cores pintar e se queriam usar rolinhos, pincéis ou as préprias méos 115 para o seu trabalho. Essa foi uma atividade muito significativa e prazerosa para as criangas, que pude- ram experimentar, de forma quase magica, instrumen- tos e materiais diferentes, deixando suas marcas na parede branca, mostrando e falando 0 que fizeram para 4a professora e para as demais eriangas. Além do aspecto educativo relativo ao desenvolvimen- to da linguagem plistica, a atividade deserita foi carregada de cuidados hisicos que a professora teve que dispensar as criangas e de aprendizagens sobre 0 autocutdado. Um euidado essencial, nessa atividade, refere-se a rou- pa adequada a ser usada durante o trabalho, pois as criangas, nas suas primeiras experiéncias com pinturas, sujam 0 corpo inteiro com as tintas. Outro se refere ao tipo de tinta a ser usa- da, considerando que algumas so t6xicas © que as criangas menores utilizam-se da boca para conhecer e explorar 0 mun- do. Além disso, o cuidado da professora em valorizar o que as criangas faziam, de incentivé-las a se arriscarem no uso dos materiais, contribuiu para o desenvolvimento da autoestima © autoconfianga delas Quanto as sequéncias de atividades, utilizaremos um exemplo que ilustra bem essa modalidade de trabalho: Uma professora de criangas de 1 @ 2 anos, apos ter ido para elas a historia de Chapeuzinho Vermetho, Tevou para a sala objetos que lembravam os personagens da historia: méscaras de lobo, chapéus de cagador, xa- les e chapéus vermelhos, éculos, aventais ¢ outras row- pas que lembravam as da wows da historia. Esses mate- riais foram dispostos no cantinho da fantasia. A professora entéo perguntou a eles quem queria ser lobo, cagador, Chapeuzinho e vor. As criangas que i sabiam falar gritavam juntas: eununn.... @ as me- nores acompankavam com gritinhos e manifestagoes de calegria. 116 Em sequida, como havia roupas e adornos suficientes para muitos lobos, vovds, cagadores e Chapeuzinhos, a professora propés as criancas que vestissem as roupas e ficou observando o que faziam. O melhor da atividade para as criangas foi por ¢ tirar as roupas. O melhor para « professora foi a possibilidade de observar as eriancas indo ao espelho, olharem espantadas para 0 colega que estava com a méscara de lobo e tentar tird-la, deitar no colchdo e fazer de conta que era a vows dormindo, entre lantas outras agdes desenvolvidas. Claro que nem todos os meninos e meninas compreenderam a proposta ou se sentiram seduzidos por ela. A professora, além de ir recontando a historia, can- tava a miisica do lobo e da Chapeuzinho, e, nesses mo- mentos, algumas criancas que pareciam dispersas ou que brincavam com outros objetos e brinquedos, entra- vam no jogo dramdtico, ou simplesmente paravam para ouvir a misica ¢ tentar cantar junto Eladesenvolveu, assim, umasequénciade atividades, que comecou coma leitura da historia, teve continuidade com a escalha dos personagens, a identificagao das roupas, prosseguindo com as atividades de imitacdo de representagdo das criangas. No que se refere as metodologias que envolvem traba- Ihos diversificados, como as ofieinas ¢ ateliés, desde muito cedo 6 possivel trabalhar com as criangas, Nesse sentido, a organizagao de cantos cria condigdes para que se tenha uma diversidade de materiais ¢ de possibilidades para a sua livre escolha. 0 papel dota) professor(a), nessas situagdes, seria organizar os espagos ¢ 0s materiais, observar e desafiar as criangas, fazendo intervencées adequadas. Observamos um exemplo do desenvolvimento dessa modalidade de atividade em uma agio relacionada aos cui- dados com a satide das criangas, que é 0 banho de sol. 17 Era o momento previsto na rotina para essa ativida- de. A professora de criancas entre 1 ¢ 2 anos, logo que chegou 4 IEI, 15 minutos antes do inicio das atividades do dia, organizou na drea externa alguns cantinhos: em un deles, alguns triciclos e caminhes grandes; em outro, bolas de diferentes tamankos; em outro, ainda, distribuiu pequenos brinquedos perto do teatro de arena, onde existe alguns obstdculos @ degraus para as criancas desenvolverem seus movimentos de subir e descer ¢ de locomogdo em geral. Havia também uma banheira de bebe com aqua e algumas bonecas, sem roupa, como que pedindo para serem banhadas com as esponjas € sabonetes que se encontravam ao lado. Todos os cantinhos estavam dispostos a uma certa disténcia wm do outro. Quando chegoucom as criancas, pediu que sentassem em roda e, apontando para cada canto, disse 0 que havia em cada um, sugerindo algo que podia ser feito, mas deixando possibilidades abertas para a invengiio das criancas. Alguns meninos e meninas, ao sairem da roda, se dirigiram ao canto escothido, ali brincaram um pouco, disputaram algum brinquedo e mudaram para outro canto. Outras permaneceram o tempo tado no mesmo canto, como foi o caso de uma das criangas que néo abandonou a bola um minuto sequer, ou das duas meninas que ficaram 0 tempo todo dando banko nas bonecas e conversando entre elas, sob 0 olhar atento da professora que as observava a uma certa distancia. Coneluindo. Ao enfrentarmos 0 desafio de explicitar as formas a serem utilizadas nas IEI para articular os diversos elemen- tos da Proposta Pedagégica e concretizar as possibilidades de as criangas descobrirem, se apropriarem e transformarem 0 mundo, com base nos contetidos organizados no currieulo, optamos por algumas metodologias de trabalho que podem zadas no planejamento cotidiano das professoras. Como vimos, 0 uso dessas diferentes metodologias na Educagao Infantil determina a utilizagéo de espagos e mate- riais diversos para 0 desenvolvimento do trabalho, bem como possibilita ricas interagdes entre as criangas e os varios su- jeitos envolvidos na pratica de cuidar e educar, incluindo os pais e a comunidade, Favorece a otimizagao e a flexibiliza~ cdo dos tempos para a realizacao do trabalho e abre muitas possibilidades para uma ago planejada e intencional dota) professor(a), ao mesmo tempo que deixa espaco para o im- previsivel, a invengdo e as escolhas das criangas. Contribuem, assim, por meio de aprendizagens signi ficativas, para a construgdo de conhecimentos informais ¢ formais sobre as linguagens, a natureza e a sociedade, atuan- do simultaneamente sobre o desenvolvimento da crianga em todos os seus aspectos: cognitivo, linguistico, social, afetivo, corporal, ético e estético. Além dis contribuem de forma decisiva para sua formagao como cidada, incidindo na cons- trugao de sua identidade, de sua autonomia e de sua capaci- dade de participagio ¢ cooperagao, Essa agdo intencional do(a) professor(a) se evidencia no cumprimento de seu papel como organizador(a) dos v- rios elementos necessarios ao desenvolvimento do trabalho @ como articulador(a) entre as formas como as criangas se apropriam do mundo, a curiosidade infantil e os conhecimen- tos a serem construfdos coletivamente. O(a) professor(a) ird fazer a mediagao entre o grupo de criangas @ aquilo que elas querem conhecer, possibilitando que elas dialoguem com 0 conhecimento e deem significa~ do ao que aprendem. Portanto, 6 necessério escutar 0 grupo, isto 6, ouvir as demandas de suas conversas, das perguntas que fazem, dos gestos ¢ movimentos que empreendem, seja no contetido de suas brincadeiras, seja nos grupos de pares, estando sempre aberto ao imprevisivel. f preciso estar atento aos contetidos que emergem da fala e das ages das criangas, dando forma e significado a eles, potencializando as situagdes ¢ dinamizando 0 trabalho. Sua intencionalidade educativa evidencia-se, ainda, em 119 atitudes que permeiam a sua pratica, as quais podem favore~ cer as interagies das criangas com o outro e com 0 mundo, sem- pre em busca do conhecimento. Assim, o(a) professor(a): * instiga a curiosidade das criangas sobre 0 mundo e seu desejo de agir; + amplia suas possibilidades de exploracao do mundo; * desafia as criancas a estabelecerem relagdes entre os varios conhecimentos a que tém acesso; * interage com as criangas e favorece as interagdes com as outras criangas e com outros adultos; * possibilita que nessas interagdes elas se utilizem de suas formas privilegiadas de compreensao do mundo; * favorece a sua expressiio por meio de miiltiplas lingua- gens: * valoriza as criancas e possibilita que construam sua au- tonomia: * incentiva atitudes de respeito, cooperagao ¢ solidarie- dade; + estimula a sua participagao e favorecea sua compreensio sobre o porqué de estar realizando as atividades. Ao finalizar este livro, consideramos importante des- tacar que forma ¢ contetido na Educagéo Infantil se entrela- cam na busca de um ser humano que, inserido na natureza ena cultura, se constréi e se transforma cotidianamente, nas goes, nas vivéncias, no conhecimento que produz ¢ nas rela- coes que estabelece. Nesse sentido, o grande desafio das Instituigdes de Edu- cago Infantil, no momento de organizar seu curriculo ¢ de articulé-lo aos demais elementos da Proposta Pedaggica, 6 ter presente o tipo de ser humano que pretende formar e as contribuigdes que a Educagio Infantil pode dar na tarefa de construir uma sociedade sustentével, mais humana, mais jus- 1a e mais democrética, na qual todos possam ter acesso aos bens culturais produzidos pela humanidade e se reconhecer como produtores de novos conhecimentos e, portanto, capa- zes de transformar 0 mundo. 120 Referéncias bibliograficas ARROYO, Miguel, Os educandos, sous direitos ¢ o Curricula, In- dagagées sobre o Curriculo. Brastlia: DPF/MEC, 2006. (ver- sao preliminar) BELO HORIZONTE, Jardim Municipal Maria Sales Ferreira, Re- vista Tempo 10. (6.n.), 1988. BRASIL. Ministério da Educagio. Secretaria de Educacao Basica. Publicagées do Programa de Formacto Inicial para Profes- sores em Exercicio na Educagdo Infantil — PROINFANTIL. 3 vols. Brasilia: MEC/SEB, 2006, BRASIL. Ministério da Educagao, Secretaria de Educagao Basica, Politica nacional de educagéo infantil: pelo direito das erian- as de zero a seis anos a educacdo. Brasilia: MEC/SEB, 2006, BRASIL. Ministério da Educagio. Secretaria de Educacao Funda- mental, Departamento da Politica de Educagao Fundamental. Coordenagao Geral de Educagao Infantil. Proposta pedagégi- cae curriculo em educacdo infantil: um diagndstico e a cons- truciio de uma metodologia de andlise. Brasilia: MEC/S DPEF/COEDI, 1996. BRASIL. Ministério da Educagao, Seeretaria de Educagao Fun- damental. Referencial curricular nacional para a educagdo infantil. 3 vols. Brasilia: MEC/SEF, 1998. CARVALHO, Alysson C; GUIMARAES, Marflia; SALES, Fétima (orgs). Desenvolvimento e aprendizagem. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003. CARVALHO, Alysson C.; DEBORTOLI, José Alfredo; GUIMARAES, Marilia; SALLES, Fatima (orgs). Brincarfes). Belo Horizonte: ditora URMG, 2005. CONSTITUIGAO da Republica Federativa do Brasil. 1988. COOPEN-BH — COOPERATIVA DE ENSINO DE BELO HORIZON- TE. Documento de Proposta Pedagogica. Belo Horizonte: [sn], 2002/2003. CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gladis B. Fducagdo infantil: para 121

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