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Semana 1 - A produção da identidade corporal

Objetivos da semana: compreender a influência das culturas na produção das identidades


corporais

Situação problema:
- o que nos faz investir tempo e recursos na própria aparência?
- Isso sempre foi assim?
- O que estamos perseguindo?
- Qual corpo queremos ser?
- Por que muitas vezes não estamos satisfeitos com o corpo que somos e desejamos
mudar?

Algumas reflexões das videoaulas:

- concepção de movimento: biomecânica (física-mecânica), biologia (melhora do


condicionamento físico), psicologia do desenvolvimento (qualidade do desenvolvimento
motor influencia no desenvolvimento da inteligência e melhora do comportamento)
- A concepção de corpo das ciências humanas (história, filosofia, política) baseia-se na
afirmação que ​o corpo que somos é concebido como uma produção cultural​ e as
práticas corporais​ (dança, esportes, lutas, etc) ​são produtos da gestualidade que
comunicam o jeito de ser, de pensar, de estar​. Tomado como texto da cultura, em
qualquer corpo é possível reconhecer os marcadores sociais de classe, raça, etnia, gênero
e religião. Nossas gestualidades são frutos de nossas concepções de mundo.

- numa sociedade multicultural, democrática e globalizada, é urgente que defendamos uma


concepção de ensino que inclua e valorize todos os corpos

A Produção Cultural do Corpo

- A convivência social molda nossos corpos e atitudes, seja na escola, no trabalho, na


roda de amigos. Assim sendo, A escola produz determinada identidade que geralmente é o
corpo dócil, que sabe se portar e comportar.

- A produção da identidade corporal - o processo de construção das identidades corporais


de acordo com os estudos culturais e do estruturalismo observam as vivências, conteúdos
dos discursos acessados e experiências estéticas do sujeito.

Como o sujeito é regulado através da cultura?

- ​regulação pela cultura (regulação normativa) ​: o discurso que me fala como devo ser,
atuando na formação da minha identidade. Práticas culturais que estabelecem práticas
corporais.
-​ regulação da cultura (sistemas classificatórios)​: o que determinados grupos dizem o
que é cultura, o que deve ser consumido, hierarquização, estereotipação.
- ​constituição de novos sujeitos​: discursos operam os corpos de determinada maneira. A
cultura produz novas pessoas quando estas tentam se adequar aos padrões impostos /
sugeridos pela Cultura e suas relações de poder.
Saber-poder serve para conduzir condutas. O acesso ao saber influencia nas relações de
poder entre os semelhantes.

Texto: O corpo aprendiz (Roseli Cação)

O texto conta experiência de autora com as aulas de educação física na década de 60. A
autora sentia-se deslocada nas aulas de educação física por conta da construção cultural
que tinha cerca do próprio corpo e dos estereótipos de gênero assumidos à época, que
designavam ao corpo masculino o gosto natural pelas práticas esportivas e da vitalidade
física, o menino que assim não se comportava tinha algum problema. Ao corpo feminino
era esperado ter delicadeza, o instinto de autoproteção, cuidado.

A autora sentia -se mais viva durante a leitura de romances que fazia em sua intimidade e
durante uma experiência de uma aula de leitura com a professora de francês pode ter
sensações físicas que a fizeram repensar o comportamento determinado a cada gênero na
época, os corpos que eram socialmente aceitos e as identidades que a sociedade e, por
consequência a escola, objetivavam formar.

Chartier "Cabe considerar que as práticas e palavras que pretendem mudar os


pensamentos e as condutas, sobretudo as que se definem como educativas, não são
totalmente eficazes e radicalmente aculturantes, uma vez que seus sentidos e significados
são ativamente "aprendidos" - decifrados interpretados - por quem delas participa.

Texto: Juventude e Beleza ao alcance de todos - análise dos discursos midiáticos


sobre o corpo feminino​ ​(Carolina Kondratiuk e Marcos Garcia Neira)

O artigo faz uma análise das concepções de corpo contidas nos discursos midiáticos
endereçados ao público feminino por meio da identificação das relações sociais envolvidas
em sua construção.

Segundo HALL (1997, P. 37) As identidades "são resultado de um processo de identificação


que permite que nos posicionemos no interior das definições que os discursos culturais
(exteriores) fornecem ou que nos subjetivemos (dentro deles).

A ação Da cultura na formação das identidades é acompanhada por instrumentos de


controle externos e, uma vez que os indivíduos são convencidos, tornam-se também
externos.

As prescrições da cultura sobre o corpo feminino garantem um controle exterior para que
aquele que estiver fora dos padrões seja constantemente lembrado disso.

O discurso não apenas nomeia coisas, ele cria coisas, e é esse caráter produtivo do
discurso que possibilita sua estreita relação com o poder.
O saber é condutor do poder.
O indivíduo não é dotado de uma identidade prévia, original. Ele constrói sua identidade a
partir dos aparatos discursivos e institucionais que o definem como tal.

Aquilo que "nós somos" e aquilo que "nós não somos" são construções discursivas que
definem quem o sujeito é ou não é.

"A silhueta exigida corresponde aos discursos do corpo ágil, produtivo e sempre jovem."
(SANT'ANNA 2001)
A questão fundamental é naturalizar uma identidade jovem e bela com apoio de recursos
tecnológicos. Na pós-modernidade, a sociedade de consumo traz em seu bojo padrões que
apontam para uma beleza inatingível. A aparência física assume condição de atestado de
uma conquista o derrota moral.

Texto: Educação Física Cultural - O corpo, a família e a escola.​ ​(Carolina Kondratiuk e


Marcos Garcia Neira)

O corpo é lugar de inscrição da cultura, texto em constante movimento e transformação,


carrega imagens de gestos aprendidos internalizados que revelam partes da história da
sociedade a que pertence. (...) Os corpos são educados por toda realidade que o circunda,
por todas as coisas com as quais convivem, pelas relações que se estabelece em espaços
definidos e delimitados por atos de conhecimento. (SOARES, 2004)

Na família as pessoas aprendem os significados e, a partir deles, entenderão e


identificarão a si mesmas e ao mundo (SOUZA). O corpo caracteriza-se, portanto, como
espaço social de produção de significação cultural.

O corpo é produzido cultural e discursivamente e como objeto de cultura é fabricado


constantemente nas relações e participa intrinsecamente da formação da identidade,
plasmando modos de entender a si e à realidade circundante. O compartilhamento de
significados inicia-se na família e ganha continuidade e novos desdobramentos no espaço
escolar.

Processos de escolarização, historicamente, preocupam-se em tornar os corpos


disciplinados, produtivos e moralizados. Posição para sentar, como portar-se, alinhamento
e distribuição da turma, entre outros, são ações que corrigem, moralizam e urbanizam
corpos, padronizando-os.

Teorias modernas parecem ter esquecido corpos ou os negado.


O corpo, quando silenciado na teoria, finge que este não é importante na construção da
cultura, perpetuando padrões perversos de construções históricas e sociais.

Na escola ensina-se a olhar para o outro e para si mesmo, para classificar, preferir,
conferindo status aos marcadores corporais (estereótipos), é a educação física é o principal
dispositivo empregado para isso. Herdeira de tradição científica e política, procura educar
o corpo como máquina, privilegiando ordem, hierarquia e produtividade, controlando
também o comportamento e o corpo dos docentes.

- imagem da professora donzela e pura, discreta. Fala professoral


- educação física com práticas corporais inspiradas nas práticas tradicionais europeias ou
estadunidenses, processo de individualização e competição;
- divisão de atividades por gênero com base em discurso científico pretensamente neutro
(homem forte, mulher torneada). Privilegiamento de atividade masculinas (patriarcado)
- buscar a superação de preconceitos e ressignificar padrões estéticos na construção das
identidades no espaço escolar.

O tratamento respeitoso à variedade da cultura corporal possibilitará uma educação


democrática e, consequentemente, a elaboração de representações positivas sobre si e
os outros.

Semana 2 - Pedagogias do Corpo

Objetivos da semana: “reconhecer o papel do currículo na produção das identidades


corporais e conhecer as concepções de ensino de Educação Física”.

Situação problema:​ sobre o controle do comportamento das crianças - Érica exige mais
rigidez no cumprimento dos horários, enquanto Cindy reivindica a abolição das filas. A
divergência contamina as demais professoras. Algumas defendem um maior rigor e controle
da instituição, enquanto outras argumentam que tais cobranças são coisas do passado.
O que você pensa sobre isso? Qual o papel da escola? Quais efeitos as medidas
exigidas podem causar nas crianças?

Algumas reflexões das videoaulas:

O currículo escolar - aqui entendido como experiência, como aquilo que nos acontece - é
um dispositivo de produção de identidades corporais (docentes e discentes), que se dá por
meio de pedagogias que se voltam para a regulação dos corpos.

Os argumentos que subsidiam as inferências aqui apresentadas são influenciados pelo


pós-estruturalismo e partem da ideia de que o processo de constituição identitária se dá em
meio à cultura, logo, para além das aulas de Educação Física, muitos outros fatores
intervêm. O importante é não esquecer que cada concepção de ensino da Educação Física
pretende formar uma identidade corporal que se alinhe a um projeto de sociedade em
específico.

Michael Foucault, no Livro Vigiar e Punir ​fala sobre o conceito de poder disciplinar e suas
diversas ferramentas punitivas e a transição da punição repressiva para a punição produtiva
/ positiva. O poder disciplinar é uma relação entre a docilidade e a produtividade / utilidade
corporal. controlar e fabricar a socialização dos indivíduos com suas ideologias políticas,
aumentando a produtividade e a sua dominação. O ‘governamento’ sobre os corpos ou o
“Biopoder” que é o poder que se estabelece sobre o corpo buscando padronizar, atribuir
veridicção e gerir o comportamento da população, normatizando e normalizando
identidades e comportamentos.
A educação física opera como dispositivo de Governamento estatal sobre os corpos,
adequando estes ao mercado - saúde, juventude, higiene, alimentação, persistência,
habilidade e beleza.

Concepções de ensino da educação física

Período Sociedade Concepção Currículo Ed. Física


Pedagógica

Século XVII de castas Tradicional Ginástico

Século XX Ascensão social / Escola Nova Esportivista


sociedade de classes
Tecnicismo Psicomotor
Desenvolvimentista

Teorias Críticas Crítico

Século XXI sociedade em rede Neotecnicismo Educação para a


saúde

Teorias pós críticas Cultural

Currículo Ginástico: ​Europa, conhecimentos anatomo-fisiológicos, leis da física. Produção


de corpos ágeis, fortes, retos, aptos fisicamente para prepará-los para a vida urbana.
Influência de teorias higienistas e militares (eugenia), o objeto é o exercício físico.

Currículo Esportivista:​ Escolanovismo trouxe uma nova concepção da educação física. Os


ideários anteriores ainda apareciam nesta concepção. Prepara o corpo para o mundo do
trabalho e também para a sociedade industrial. Ideias de patriotismo através do esporte são
reforçados durante o período da Ditadura Militar. Exclusão de alunos que não se afinizavam
com esportes

Currículo Psicomotor: ​tem viés funcionalista. Através de o movimento e gestos há


promoção do desenvolvimento físico, social, cognitivo e motor da criança. Psicologia do
desenvolvimento. Objetiva te a noção do próprio corpo.

Currículo Desenvolvimentista​: Aprendizagem das habilidades motoras e desenvolvimento


motor

Currículo da educação para a saúde​: ideia de que a educação física precisa educar
pessoas que possam gerenciar a própria saúde. Estilo de vida ativo, atividades para um
corpo são.
Currículo Cultural:​ trabalha a educação física sob a perspectiva cultural, trazendo a vida
da criança para aula de educação física. As brincadeiras regionais, infantis, danças,
brinquedos, jogos, lutas, esportes e música são vivenciadas e tematizadas na educação
física. Todas as práticas corporais são dignas de serem tematizados na escola com o
objetivo de formar cidadãos conscientes, solidários, sensíveis às diferenças e seus direitos
e tem como objetivo cultura corporal

Texto: Governo dos corpos e escola contemporânea Pedagogia do Fitness​ ​(Maria Rita
de Assis César e André Duarte)

Biopolítica e governo e Michel Foucault recorre ao mapeamento do percurso genealógico


das relações de poder nas instituições modernas. A noção neoliberal do ​capital humano
compreende que o novo sujeito econômico ativo deverá produzir-se a si mesmo por meio
das novas tecnologias informacionais, nutricionais, educativas e físicas, as quais deverão
ampliar suas capacidades corporais e cognitivas​ no sentido de torná-lo o
empreendedor de si mesmo.

Governamento biopolítico neoliberal​ - Pedagogia do controle e os programas


alimentares centrados na Pedagogia do fitness
Homo Oeconomicus​, o homem como agente econômico que responde ao estímulo de
concorrência do mercado

A educação que se produziu como razão de Estado, isto é, enquanto ação de


governamento, se deu por meio de controle arquitetônico das edificações Escolares, do
disciplinamento dos saberes e pelo desenho dos currículos, além da profissionalização da
docência.

No século XX tivemos a saída da escola disciplinar para entrar no universo da pedagogia


do controle que objetiva a produção do novo sujeito moral que é flexível, tolerante e
supostamente autônomo. Um sujeito econômico ativo, diferente do sujeito da sociedade
disciplinar (que era sujeitado), pois produz e governa a si mesmo.

O novo Homo Oeconomicus será resultado de investimentos familiares e educacionais na


Infância e na Juventude, assim também como será resultado de intervenções
governamentais no campo da saúde do corpo, as quais determinarão, além da aquisição de
novas competências necessárias para novos tipos de trabalho, também o prolongamento da
saúde e da Juventude deste novo corpo.

A decisão entre ser magro e ser gordo é uma decisão subjetiva, individual, mas o Estado se
importa com ela e busca incentivar a assim chamada decisão correta, na medida em que
prevê a deterioração da Saúde da população e consequentemente a ampliação dos gastos
com a saúde pública. O novo mau aluno é o aluno obeso. A obesidade é o novo lugar da
indolência e da falta de caráter no interior da escola e todo um dispositivo biopolítico
induzirá a produção de novos governamento para os corpos de crianças e de jovens em
nome da Saúde física e moral da população escolar.
Texto: A Constituição de Corpos guerreiros em um currículo escolar
(Cristina D’Ávila Reis e Marlucy Alves Paraíso)

O currículo é compreendido como um campo cultural em que diferentes discursos circulam


e concorrem para os processos de subjetivação (Silva, 2006) e de materialização dos
corpos.

Nas escolas, meninos são convocados é ocupar a posição de guerreiros, tendo gestos
agressivos ao se cumprimentarem, atos de demonstração de força, ameaça de agressão e
brincadeiras de lutas. O ideal normativo de um corpo masculino Forte, Corajoso e agressivo
também está presente em sites acessados pelas crianças nas aulas de informática.

O mecanismo rankeador descreve a disseminação de um estilo esportivo e empreendedor


de ser que o ultrapassa o mundo do esporte e da empresa e se infiltra em outros setores da
vida social. Os sujeitos são induzidos cada vez mais estabelecer entre si relações de
concorrência. O ranking da força, da agressividade e da coragem que é produzido no
currículo pesquisado, atua, portanto como uma tecnologia do governo que em Associação
com normas de gênero opera de modo a convocar aqueles que são considerados os
meninos alunos a se tornarem cada vez mais guerreiros (meninos medem que é mais forte,
categorizam, excluem os ditos fracos).

Técnicas de ordenação dos corpos: mental, territorial, pela apropriação de recursos,


esportiva, a técnica de abjeção aos fracos e pouco agressivos, a técnica de enaltecimento
do guerreiro Urbano.

Ordenação mental dos corpos:​ modo de pensar, de avaliar a si mesmo e aos outros,
posicionando mentalmente os corpos em ordem de habilidades de maneira a produzir o
desejo por atingir uma posição à frente Constituída.

Ranking de gênero ​Técnica de si e técnica de dominação que atuam conjuntamente para


ordenação valorativa dos corpos masculinos do mais forte menino aluno Guerreiro ao mais
fraco que aquele considerado uma mulherzinha pelos colegas.

No recreio a técnica empregada é a ​ordenação territorial​ dos corpos meninos alunos. Os


corpos são posicionados territorialmente por sua força agressividade: quanto mais
agressivo mais longe do prédio da escola (quadra coberta); quanto menos agressivo mais
dentro do prédio (corredores do prédio).

Técnica de organização Esportiva​ valorização dos atos de atacar o outro e de oferecer


seu próprio corpo para ser chutado por outra pessoa como no jogo de RANCA, faz parte da
formação de guerreiros Corajosos pela técnica de ordenação e Esportiva.

Técnica de abjeção​ - Hostilizar os diferentes para ser mais guerreiros


Técnica de enaltecimento do guerreiro Urbano​ - músicas e jogos de vídeo game que
atuam pela divulgação de um ideal de guerreiro corajoso que corre o risco de morte, que
luta muito e pratica crimes para conseguir o que deseja

Discurso ético​ constituída a posição de ​sujeito aluno respeitado /​ ​solidário​ onde sugere
trabalhar a solidariedade empatia e o respeito

Discurso sobre direitos humanos​ aluno disciplinado que respeita as regras escolares

O ​menino aluno estudioso​ o que não quer entrar em disputa por se tornar mais guerreiro
pode ser posicionado como o fraco que gosta de estudar e que é inteligente.

Texto O ensino da Educação Física dos métodos ginásticos a perspectiva cultural


(Camila Aguiar e Marcos Neira)

1930 - 1970 - Métodos ginásticos forma influenciado pelo discurso escolanovista,tinha


instrutores ligados às Forças Armadas e sua obrigatoriedade se deu a partir de 1930.
Valorizava o jogo enquanto recurso didático fundamental para educação integral. Segundo
Nunes e Rubio (2008, p. 60), “Importante ressaltar que o movimento da Escola Nova foi o
primeiro a atribuir uma participação importante e sistematizada à Educação Física,
introduzindo o jogo às suas práticas”.

1970 - Tecnicismo concentravam-se em treinamento esportivo, que valorizava a moral,


perseverança, superação, meritocracia.

1970 anos finais - Teorias críticas inspiraram o método psicocinético - psicomotricidade


influenciado pelo discurso cognitivista. Desenvolvimento pleno, aspectos motores,
socioafetivos, cognitivos.

1980 em diante - Psicomotora - a realização de movimentos é o principal meio de atividade


educativa
Desenvolvimentista - preocupa-se com a qualidade de execução dos movimentos

Adoção das ciências humanas como campo teórico, promoveu a inserção da educação
física na área de Linguagens a partir do entendimento da gestualidade como forma de
comunicação. Os movimentos devidamente contextualizados passaram a ser vistos como
recursos que os grupos sociais empregam para veicular intenções e pensamentos.

A cultura corporal tornou-se objeto de estudo da Educação Física o que engloba todos os
discursos, conhecimentos e representações sobre as manifestações da motricidade
humana sistematizada com características lúdicas, historicamente produzidas e
reproduzidas pelos grupos sociais como brincadeiras, danças, lutas, esportes e ginásticas.

Educação para saúde​: concentra a responsabilidade por aquisição e manutenção de


saúde nas mãos do próprio sujeito ensina se práticas saudáveis na escola e o sujeito torna
hábito de vida.
Teorias pós críticas​ todas as práticas corporais são perpassadas por relações de poder
que tem classe, etnia, gênero, religião, geração, nível de habilidade, etc como alguns de
seus marcadores sociais ou textos da cultura. Inspirados pelos estudos culturais e
multiculturalismo crítico, entende-se que as aulas de educação física priorizam
determinados grupos e Construções culturais corporais enquanto marginalizam outras.

Conceber a escola como espaço democrático significa abrir caminho para que a diversidade
de práticas, suas representações e significados possam ser estudados não devendo haver
hierarquias entre práticas de esportes, danças, jogos e brincadeiras pois todos são
importantes.

A educação corporal não ocorre apenas nas aulas de Educação Física, ela se dá em muitas
outras instâncias como a televisão, livros, reportagens, propagandas, etc., onde se encontra
representações de beleza, Corpo, saúde e sexualidade,. mulher e homem, dança, etc.
Deve haver a valorização de todas as culturas no currículo e não só em alguns períodos e
datas específicas por exemplo como o dia do índio (jogos indígenas), etc

Texto A educação corporal


(Luiza Moreira da Costa Marcos Garcia Neira)

Anos 30 Práticas higienistas​ - o ensino de novos hábitos higiênicos a população


comparando corpos A Máquinas delicadas que necessitam de investimento e
procedimentos específicos. Entendimento do corpo sobre ângulo biológico.
A ideologia política higienista visava aperfeiçoamento dos corpos, intelectualidade, hábitos e
gestualidade por meio de um processo de branqueamento do Povo.
Estas práticas higienistas ainda estão presentes nas escolas com viés de prática esportiva,
boa alimentação, etc
Funções psicomotoras, esquema corporal, estruturação espacial e orientação temporal.

A sociedade capitalista universaliza padrões ao tratar o corpo como mercadoria. A ênfase


recai no narcisismo o que gera perda da noção de coletividade e induz uma busca
desenfreada por saúde e beleza. O corpo objeto perde sua capacidade de pertencimento
cultural para submeter-se ao sistema mercadológico. Quando a imagem corporal não condiz
com o modelo, é tida como negativa, fazendo questões físicas adentrarem no campo
emocional, gerando quadros de baixa autoestima e depressão. O estereótipo do ideal de
corpo para ser feliz. As técnicas disciplinares desenvolvidas e aplicadas no contexto escolar
visam a ‘contenção de gestos e atitudes, educando o corpo de acordo com as com os
valores socialmente aceitos’. A educação física consolida a política de corpo.

“A educação tem uma dimensão política [...] ela é um ato político ainda que não destinemos
a devida atenção ao fato de que a política também tem uma dimensão pedagógica.” ( Vaz,
2003, p. 162)

Pedagogia do Fitness​ conjunto de saberes, práticas e discursos que propagam a


padronização dos corpos em Boa Forma, capazes de performances satisfatórias.
Governamento​ para Foucault, governamento é a forma de poder exercida pelo Estado que
tem por objetivo principal a população.
“O corpo e suas vivências incluindo a expressividade são os principais meios pelos quais o
sujeito toma consciência dos outros, de si mesmo e do seu entorno.”

Jean Paul Sartre existencialismo

“O corpo é palco das contradições que refletem as condições concretas da existência e


também uma possibilidade de enfrentamento e luta contra as regras dominantes em nossa
sociedade.” [...]
“O que se pretende, de certo modo, é que a educação possa levar em consideração os
saberes dos vários grupos presentes na sociedade e romper com o eixo política poder
cultura que tem conferido exclusividade a uma noção bastante restrita de Cultura corporal.”

Semana 3 - Currículos da educação física e a produção das


identidades

Objetivos da Semana: “relacionar os currículos da Educação Física às identidades


que pretendem produzir” e “contextualizar a Educação Física cultural”.

Situação problema:​ Você deve ter percebido que as professoras anunciam concepções de
ensino da Educação Física absolutamente distintas. Analise as vertentes anunciadas e
procure identificar a pessoa que cada uma deseja formar. Aproveite para fazer o mesmo
com suas próprias experiências nas aulas de educação física frequentou a Educação
Básica. Em qual concepção se encaixam? Que sujeito pretendiam formar?

Algumas reflexões videoaulas

Currículos da educação física e a produção das identidades

O currículo não é uma definição apenas técnica, mas também pedagógica e política.

Currículo ginástico: identidades saudáveis​ - construção de um corpo reto e apto a


defender o Brasil (homens) e preparar as mulheres para reprodução. Intenção higienista

Currículo esportivista: identidades vencedoras​ - Construir corpos vencedores,


meritocracia, exclusão de determinados corpos e investimento em poucas pessoas.Não tem
a ver com democratização de atividade física. Ideário meritocrático, elitização do Esporte.

Currículo psicomotor e desenvolvimentista: identidades competentes​ - Domínio


comportamental e cognitivo bem desenvolvidos, que conseguiriam resolver problemas,
pessoas aptas.
Currículo de educação para saúde: identidades saudáveis​ - Individualização do
processo, responsabilização do sujeito sobre sua saúde, pois se aposentará tardiamente.
Sujeito autônomo, que tem que se cuidar pois se não é preguiçoso. Empreendedor de si
mesmo, vai zelar e gerenciar a própria rotina.

Currículo cultural : identidades solidárias ​- trabalha com a gestualidade, respeita todos


os indivíduos, corpos e culturas. Ninguém deve ser privilegiado e nem ignorado. Cidadãos
que reconheçam os patrimônios culturais e tenham respeito por todas as culturas de
sujeitos.

Cada proposta trabalha com referenciais diferentes e tem a intenção de formar um tipo de
cidadão. A prática pedagógica tem que condizer com o que o projeto político pedagógico da
escola propõe.

Crise de identidade na educação física:


- Modificação da função social da escola
- Mudança no universo simbólico que constitui a educação física (mudança de
referenciais para pensar a educação física)
- Proliferação dos espaços de atuação do profissional de educação física o que pode
colocar em discussão e desencadear críticas quanto as práticas pedagógicas dentro
das escolas. Educar para disciplinar? Educar para ensinar sobre o corpo?

Educação física e cultural : área, função, objeto e identidade Projetada

Os professores como intelectuais: professores descontentes com as propostas e


referenciais para a Educação física nas escolas começaram a estudar os estudos críticos,
pós-críticos e multiculturais no início do Século 21(2000) para a formação de professores
para trabalhar com educação física cultural, estimulando que cada professor reelabore as
propostas a partir de suas vivências e produza material referente ao seu estudo.

Educação física e cultural: escritas sobre a prática


Inspirando-se nas teorias pós críticas sabemos que:
- A cultura está no centro
- Práticas corporais são textos
- Significados estão em disputa

Você pode praticar esporte por saúde, por lazer, por profissão, para tentar melhorar de vida.
Os significados são socialmente produzidos e os sujeitos se apropriam destes significados.
Ao tratar das​ práticas culturais​ como​ textos da cultura,​ os significados que damos a
estas práticas dizem sobre o tipo de identidades que queremos formar.
O objeto da Educação Física cultural é a cultura corporal e a identidade Projetada para essa
concepção é formar pessoas solidárias.
Cada currículo dialoga com um determinado referencial teórico, emprega atividades de
ensino específicas e adota instrumentos de avaliação distintos. Evidentemente, essas
diferenças refletem no sujeito que cada proposta deseja formar.
Texto base: Os currículos da educação física e a Constituição da identidade de seus
sujeitos​ (Nunes e Rubio)
Para Apple (1982) “As políticas da Educação não se separam das políticas da sociedade”, a
escolarização está diretamente relacionada com o poder. O processo de escolarização se
orienta e acontece por meio do currículo que não pode ser considerado uma área
meramente técnica, neutra e desvinculada da construção social.

O currículo refere-se a tudo o que acontece na escolarização, e enquanto projeto político,


que forma novas gerações, o currículo é pensado para garantir a organização, controle e
eficiência social. Intimamente ligado ao poder, o currículo pode transmitir certos modos de
ser e validar certos conhecimentos e, por regular as ações dos sujeitos da educação, o
currículo forma identidades.

Para Hall (1997) a identidade é um processo discursivo, formada culturalmente mediante as


circunstâncias históricas e experiências pessoais que levam o sujeito assumir determinadas
posições de sujeito temporárias. Ao projetar as identidades adequadas, as políticas
educacionais estabelecem quais posições dos sujeitos da educação deverão assumir
enquanto cidadãos.

Silva (1999) adverte que a escolha de determinados conteúdos do currículo privilegia um


tema em detrimento de outro na inter-relação de saberes, identidade e poder e promove os
conhecimentos e valores tidos como adequados para as pessoas atuarem na sociedade.
A educação física é historicamente definida como a área que trata pedagogicamente do
corpo, constitui-se por diversas abordagens de ensino em meio a variadas tendências
curriculares e expressam visões diferenciadas de homem e sociedade.

Conforme Nunes e Rubio (2008, p. 57-28), “[...] a construção de currículos e a


projeção de identidades surgem em meio à fertilidade proporcionada pelo contexto
histórico, pelas relações sociais e pela produção científica disponível e [...] esta
conjunção de fatores contribui para que ocorram lutas pela significação a fim de que
uma determinada concepção didática se estabeleça e prevaleça sobre as demais”.

O currículo ginástico e as identidades saudáveis

A Educação física é tida como uma prática sistematizada, institucionalizada na forma de


educação escolarizada. Surgiu na Europa no século XVIII como função social pensada para
construir a sociedade crescente capitalista.
- Identidade empreendedoras para liderar (burguesia);
- Identidades fortes e subservientes para força de trabalho (proletariado).

No início do século XX, com influência Iluminista e do militarismo e perspectiva higienista, o


currículo pautava-se na aquisição de hábitos de higiene e saúde, valorizando o
desenvolvimento físico e moral. As identidades projetadas deveriam ser docilizadas nas
atitudes, mas robustas na sua aparência.
Em 1950 a ideologia nacionalista-desenvolvimentista introduziu o Brasil no mundo
industrializado. O currículo tencionava constituir identidades para assumir posições de
sujeito os Patriotas, Corajosos, obedientes e preparados para cumprir com suas
responsabilidades na labuta diária e para a defesa da Pátria.

Funções eugênicas, militares, higiênicas, disciplinares e Morais estavam em conformidade


com o projeto Educacional determinado pelo Estado Novo e os interesses das elites: a
construção do sentimento nacionalista, selecionar os melhores e criar modelos de
identidades - respeitadoras das hierarquias sociais - para servir de exemplo para
Constituição de novas gerações.

O currículo técnico esportivo e as identidades vencedoras


No período de pós guerra 1945, durante as década de 1950 / 1960, o ensino tecnicista tinha
como identidades projetadas os eficientes, tendo o esporte como prática pedagógica ideal
para uma nação em desenvolvimento, Pois era visto como melhor meio de preparar o
homem para os novos tempos.

Durante o período da ditadura militar, a identidade Projetada era a ordeira, pacífica e


acomodada, que era instrumentalizada para o comportamento moral, para o desempenho
técnico e físico.
- O esporte e as competições escolares ganham força
- Professor- técnico, o aluno-atleta e o currículo técnico-esportivo
Nos anos 70, os planos políticos educacionais no binômio educação física e desporto
estudantil, passou a ser interpretado como elemento do processo educativo na forma das
Olimpíadas estudantis.

Houve essencialização das atividades esportivas como masculinas - menino saudável “tem
que ser macho gostar de futebol”; menino que praticava o voleibol poderia ser visto como
afeminado, fazendo com que idade feminina fosse fadada a submissão e a fragilização.
Com a separação entre atividades para meninas e meninos, o currículo reforça estereótipos
de gênero e raça.

O currículo técnico esportivo atravessa identidade de classe e raça e o discurso presente no


esporte afirma como uma das poucas possibilidades lícitas e ascensão social para o negro,
marcado pela eficácia do seu corpo, a aprendizagem esporte torna-se operador de
mudança de classe social.

Por uma nova identidade da educação física

Nos anos 80 vemos uma crise de identidade atingir a educação física escolar, que ocorre
quando as estruturas que fornecem ​referências sólidas​ aos indivíduos, sustentando-os no
mundo social de forma estável, sofrem mudanças, criando uma sensação de deslocamento
dos sujeitos “tanto no seu lugar no mundo social e cultural quanto de si mesmos”.
Como a nova vigente concepção de escola indica que ela deverá oportunizar um ambiente
formador de conhecimento e favorecer o convívio e a ética social, as práticas anteriores da
Educação Física perderam sua legitimidade.

O currículo globalizante e saudável e a identidade competente

A educação física escolar nas dimensões motora, cognitiva e afetivo- social,


Biopsicologizante. O movimento é o principal meio e fim da Educação Física. O currículo
globalizante Século XXI e a formação de identidades competentes.

Diante do​ princípio de igualdade​, os currículos globalizante e saudável, ao enfatizarem em


este princípio na prática, afirmam a hegemonia de um modo de ser entendido como
Universal (necessário).

A Homogeneização cultural,​ integra práticas culturais ​como capoeira, hip hop, danças
folclóricas, orientais ao currículo ​falando de seus benefícios para saúde​ apagando seu
processo de significação, privilegiando apenas o​ racionalismo científico​ das mesmas.

A identidade do professor de Educação Física


A identidade está ligada a estrutura sociocultural, Ou seja, é discursiva e linguisticamente
constituída. Como Educação Física não consegue definir seu papel na escola, o professor
assume diferentes identidades em diferentes momentos. A formação da pessoa influencia a
formação do professor e vice-versa, ou seja, um processo não exclui o outro.

Atualmente, diante dos discursos da preparação para o trabalho competente e da promoção


da Saúde, nasce outra identidade do professor de educação física: além de descobrir
talentos, ele tem que garantir a eficiência para os demais em outros Campos sociais,
validando alguns currículos e negando outros, incidindo esses currículos da identidade
deste Professor. As diversas teorias, currículos e práticas tornam o docente cada vez mais
inseguro e descontente com seu trabalho.

O currículo crítico e a identidade emancipada

O currículo de educação física influenciado pelas teorias críticas do currículo, que visam
denunciar os modelos reprodutores do sistema que mantém a estrutura social de forma
injusta e que reforça as relações de dominação de um grupo sobre o outro, defendendo
uma proposta de conteúdos do ponto de vista da classe trabalhadora.

A escola é influenciada pela sociedade e a sociedade pode ser influenciada pela escola
(relação dialética). Nessa perspectiva, a tarefa dos educadores críticos não é a
transformação social via escolarização, mas oferecer a democratização dos saberes
universais e fazer compreender o papel que as escolas representam dentro de uma
sociedade marcada por relações de poder.

A concepção de uma pedagogia crítica pressupõe que o ser humano é o sujeito construtor
de sua própria existência, devendo, portanto, atear frente às possibilidades históricas de
transformação das suas condições de vida desde que possa refletir criticamente sobre a
realidade, combatendo as relações de exploração e opressão que compõem a sua
geografia social. O currículo é um percurso em que a ideologia dominante transmite Seu
poder a classes desfavorecidas.

Na pedagogia crítica, os sujeitos deverão assumir identidades emancipados das condições


de pressão em que a sociedade está mergulhada.

O currículo pós crítico e a identidade solidária

Embasada nos ideais do pós-estruturalismo, o poder refere-se às formas de regular a


conduta dos outros. Onde há relação, existe disputa pela validação dos significados.

O poder Sempre existirá. O que deve ser discutido são as formas de democratizá-lo. A
emancipação Nunca será possível, portanto é necessário ouvir todas as vozes e abraçar
todas as culturas (multiculturalismo). No currículo pós crítico todas as práticas culturais são
válidas.

Hall (2003), define que o ​multiculturalismo​ é resultante da contestação dos grupos


dominados em relação ao modo como eles são representados pelos grupos dominantes. A
cultura diferente é marcada pela representação, Isto é, pela marca visível em que a
realidade ou seu objeto real é tornado presente para o social, representada pela identidade
dominante (padrão, Norma, normal, normativo), que confere atributos válidos e, para marcar
as diferenças, estabelece negativo para o ​outro cultural.

Não realizar certas habilidades motoras, não praticar certas atividades físicas como dançar,
jogar, correr, etc, de determinados modos, não ter certos corpos, é considerado ​a
diferença​.

Texto: A Educação física na área de códigos e linguagens​ (Ferreira e Nunes)

Hall (1997) compreende a linguagem como “um sistema que possibilita a comunicação das
nossas formas de perceber as coisas do mundo, o que implica a representação da realidade
e por isso, produz sentido de modo limitado. Desse modo, a linguagem é prática política e
cultural de produção e negociação de significados. A linguagem é o que permite a
construção de sentidos compartilhados e, portanto, construir um mundo social em que
possamos viver em conjunto, uma cultura” (HALL, 1997, citado por NUNES, 2016, p. 52).

Todos os sistemas da Cultura como o mito, a religião, a literatura, as práticas corporais, etc,
apresentam seus próprios sistemas de representação e, apesar de serem construídos sobre
o modelo da linguagem verbal, não se remetem a ele, mas constroem seu próprio modelo.

O objeto da educação física é a cultura corporal. Fala-se da educação física na área de


códigos e linguagens mas o modo como a intervenção pedagógica e formulada (na BNCC /
nos PCNs) a mantém em área nenhuma.
Cultura corporal e linguagem

O termo cultura corporal é pouco compreendido na prática da Educação Física, por isso
mistura-se aos aspectos desenvolvimentista e saudáveis das propostas curriculares,
fazendo crer que tudo é a mesma coisa ou que se pode abordar um pouco de cada ponto.

A construção teórica nos estudos culturais na Perspectiva pós-estruturalista, com base em


pesquisa e intervenção política, busca por uma definição histórica das práticas culturais que
ocorrem através de conceitos de Formação social, poder cultural, Dominação e regulação,
resistência e luta (Hall, 2003)
Cultura são práticas que expressam significados que permite os grupos humanos regularem
e organizarem todas as relações sociais, assim como subjetivarem seus sujeitos. Assim
sendo, toda e qualquer ação expressa ou comunica significado e, nesse sentido, é uma
prática de significação. As práticas corporais são práticas sociais ou formas culturais de
cada grupo.

A cultura corporal é identificada como um campo de luta pelo controle de significado,


expresso na intencionalidade comunicativa da gestualidade humana e são comumente
classificados por esportes, danças, lutas e brincadeiras e suas infinitas e constantes
transformações e recriações.

Escola, educação física e a leitura e escritura dos significados das práticas corporais
e de seus representantes

A escola deve ser simultaneamente um lugar de transmissão e de produção cultural,


rompendo com os aspectos reprodutivistas da cultura hegemônica que a instituição
promove durante décadas.
A escola deve empreender ações que habilitem os seus sujeitos a operar o mundo a fim de
que compreendam sua história, possam analisá-la e atuar sobre ela de forma crítica e
participativa nas tomadas de decisão para o bem comum; fazendo com que os sujeitos
sejam capazes de ler e escrever o mundo em toda sua complexidade, conhecendo sua
própria história e os processos que o amarraram nas identidades que carrega.

Sobre aspecto legal, a educação física é componente curricular obrigatório e tem que estar
integrada à proposta pedagógica da escola, contribuindo para que os alunos sejam leitores
no mundo e produtores de Cultura, dando insumos para que estes compreendam as coisas
do mundo e seus significados se conectem às representações de como o significado das
práticas corporais foram produzidos, partilhados,silenciados, hibridizados.

Códigos e linguagens e representações e significados


Para Ivan Bystrina, a classificação que procura facilitar a leitura e escritura do diversos
códigos de comunicação e se inscreve no corpo e se potencializam nas produções culturais
no âmbito da educação física escolar.
(​Semiótica​) Para Bystrina, a comunicação humana pode se dividir em três níveis:
- o código hipolinguístico, que são códigos do corpo biológico e são anteriores a
cultura;
- O código linguístico, que são códigos sociais e envolvem toda a comunicação
pragmática;
- o código hiperlinguístico que expressam os valores específicos de uma dada cultura.

Estes são os códigos que permitem os sujeitos de cada grupo se identificar e se integrar
construindo cultura e construindo o sentimento de pertença.

O aumento da frequência cardíaca é um código biológico, mas sua compreensão


dependerá da ação em que o sujeito se encontra, uma relação pessoal em determinado
lugar - o código social é diferente, e do efeito que essa situação produz, como vergonha
cujo significado é diferente de Cultura para Cultura.

Códigos de biológicos, sociais, cinéticos e culturais

Em uma partida de futebol é possível decodificar vários códigos como: o cansaço dos
atletas (biológico), a sinalização do auxiliar (social), o lançamento do meio-campista
(cinético). O horário dos jogos em horários insalubres decorre de imposições das
federações e das relações comerciais que estabelecem com seus patrocinadores
(culturais). No mesmo evento, certo jogadores podem não se esforçar como de costume,
mesmo estando aptos para tal (biológico).Trata-se de um meio de resistir aos processos de
dominação (cultural).
O sujeito é, na perspectiva de Foucault, fruto da linguagem.
Se o gesto é compreendido como uma forma de linguagem, portanto, ele é um signo, que
apresenta dois lados indissociáveis e complementares: o significado que é e o conceito
dado ao signo, e o significante - a imagem que fazemos dele ou da sua materialidade
propriamente dita.

Gabaritos da Atividade Avaliativa da Semana 3

A resposta correta da questão está identificada com a cor Vermelha.


1) Nunes e Rubio (2008) sugerem que a conjunção de determinados fatores
contribui para que ocorram lutas pela significação de determinada concepção
didática que prevalecerá sobre as demais. Assinale a alternativa que apresenta os
fatores mencionados pelos autores.

O contexto histórico, as abordagens de ensino e as relações sociais.


As relações sociais, as teorias curriculares e a produção científica.
A produção científica, as abordagens de ensino e o contexto histórico.
A produção científica, o contexto histórico e as relações sociais.
O contexto histórico, as relações sociais e as teorias curriculares.

JUSTIFICATIVA:​ Conforme Nunes e Rubio (2008, p. 57-28), “[...] a construção de currículos


e a projeção de identidades surgem em meio à fertilidade proporcionada pelo contexto
histórico, pelas relações sociais e pela produção científica disponível e [...] esta
conjunção de fatores contribui para que ocorram lutas pela significação a fim de que
uma determinada concepção didática se estabeleça e prevaleça sobre as demais”.
2) À época da sua consolidação como elemento do currículo escolar da escola
capitalista, a Educação Física foi incumbida de formar identidades:

Subservientes.
Democráticas.
Críticas.
Competentes.
Solidárias.

JUSTIFICATIVA: ​Conforme Nunes e Rubio (2008, p. 58), “Consolidada no século XIX, a


função social da Educação Física foi pensada para ‘construir’ a sociedade crescente
capitalista. Nela, precisava-se de identidades empreendedoras para liderá-la, e de
identidades fortes e subservientes para aqueles que deveriam vender sua força-trabalho
para a produção das riquezas.”

3) Dentre as principais influências do movimento escolanovista para a Educação


Física, é possível destacar:

A preocupação com a higiene da população.


O estabelecimento do currículo técnico-esportivo.
A introdução do jogo nas aulas.
O privilégio concedido aos mais habilidosos.
A realização de eventos esportivos.

JUSTIFICATIVA: ​Segundo Nunes e Rubio (2008, p. 60), “Importante ressaltar que o


movimento da Escola Nova foi o primeiro a atribuir uma participação importante e
sistematizada à Educação Física, introduzindo o jogo às suas práticas”.

4) “A linguagem é o que permite a construção de sentidos compartilhados e, portanto, a


construção de um mundo social em que possamos viver em conjunto.” (HALL, 1997). Com
base nessa assertiva, é possível tomar a linguagem como:

Meio de desenvolvimento psicológico.


Prática política e cultural.
Forma de construir conhecimentos.
Código que estimula a cognição.
Critério para definir as coisas do mundo.

JUSTIFICATIVA: ​Hall (1997) compreende a linguagem como “um sistema que possibilita a
comunicação das nossas formas de perceber as coisas do mundo, o que implica a
representação da realidade e por isso, produz sentido de modo limitado. Desse modo, a
linguagem é prática política e cultural de produção e negociação de significados. A
linguagem é o que permite a construção de sentidos compartilhados e, portanto, construir
um mundo social em que possamos viver em conjunto, uma cultura” (HALL, 1997, citado
por NUNES, 2016, p. 52).
5) No entender de Nunes (2016, p. 53), “todos os sistemas da cultura como o mito, a
religião, a literatura, as práticas corporais etc. apresentam seus próprios sistemas de
representação e, apesar de serem construídos sobre o modelo da linguagem verbal, não se
remetem a ele, mas constroem seu próprio modelo”. Aceita essa premissa, é correto afirmar
que:

A mesma lógica do sistema verbal pode ser aplicada aos demais.


O sistema verbal possui uma lógica de funcionamento aplicável aos demais.
Os sistemas culturais não podem ser tomados como formas de linguagem.
Cada sistema cultural pode empregar uma linguagem específica.
Os sistemas culturais se constituem em modelos adaptados da linguagem verbal.

JUSTIFICATIVA​ : ​Segundo Nunes (2016, p. 53), a estrutura da linguagem verbal pode ser
tomada como referência para explicar todas as formas de comunicação humana, que
possuem suas especificidades.

Semana 4 - Campos de inspiração da Educação Física cultural

Objetivos da semana reconhecer os campos de respiração da Educação Física


cultural

A educação física e cultural se orienta pelas teorias críticas, pós-críticas e multiculturalistas


do currículo, o que aponta para uma mudança epistemológica da Educação Física.

A função social da Educação Física deixou de ser desempenho corporal, foram


abandonadas antigas bases teóricas da biologia, anatomia, fisiologia e psicologia e está
com foco na cultura, diversidade, diferença e significado, questões étnico-raciais e de
gênero.

Algumas reflexões sobre as videoaulas

Multiculturalismo crítico
Teve sua origem nos Estados Unidos através de políticas que buscavam reverter a
segregação racial quando as pessoas negras começaram a chegar nas Universidades
frequentadas pelos brancos. Para o multiculturalismo crítico não basta garantir a inclusão,
tem que se mudar as estruturas. Foi onde começou o movimento para se mudar os
currículos escolares.
Concepções do multiculturalismo: conservador, assimilacionista e crítico

Multiculturalismo conservador​ : forma de organização social que acredita que a


sociedade é composta por diferentes e que cada um deve ficar em seu espaço. Reconhece
mas continua segregando. Exemplo: quem mora em comunidade / periferia não tem que
frequentar Shopping longe do seu bairro.
Multiculturalismo assimilacionista: ​acredita que os grupos são diferentes, mas há
práticas melhores e devem ser incorporadas à sociedade.

Multiculturalismo crítico:​ os grupos são diferentes e produzem culturas diferentes, porém


todos têm direito de fazer parte da sociedade, do currículo. Questiona a hegemonia de uma
cultura em detrimento de outras, reflete sobre essas diferenças e trabalha para que todas
sejam valorizadas igualmente. Questiona a assimetria de poder.

Implicações curriculares do multiculturalismo crítico

Tematizar práticas corporais que representam os grupos minoritários, analisando os


significado das pejorativos dados a estas práticas. Exemplo: jogos de cartas na escola (PIF,
UNO, etc)
Não se faz educação física e cultural reproduzido culturas hegemônicas como o futebol de
campo, balé clássico e ginásticas artísticas, por exemplo, mas incluindo culturas dos grupos
minoritários como o funk por exemplo. Questiono e reflito sobre o porquê da dança estar em
determinados espaços e ser produzido de determinada a forma, estudo a origem,
compreendo o significado e busco valorizar a cultura e seus produtores.

Contribuições dos estudos culturais e do pós-estruturalismo para educação física


cultural
Os Estudos culturais na sua vertente pós-estruturalista tiveram origem no Centro de
Estudos culturais em Birmingham, na Inglaterra pós-guerra, tendo como principais atores os
Professores oriundo das colônias inglesas e componentes das classes trabalhadoras.
Este movimento foi também conhecido como ​Virada Cultural​ pois colocou a cultura no
centro dos estudos da sociedade.

Pós-estruturalismo
Origem: estudos sobre como a cultura segrega a sociedade / grupos sociais de um território
/ país. Tem a cultura como território de disputas, pois a cultura é o espaço em que os
grupos / pessoas lutam pelo direito de apresentar os seus reais significados para o mundo.
Centralidade da cultura as coisas só têm significado porque nós (homens) atribuímos
valores / significados para essas coisas.
Exemplo: Como usamos o ônibus em determinado local? Quem é o sujeito daquela cultura
pode ler o que está acontecendo; quem nunca viu viveu aquele processo cultural talvez
signifique as práticas culturais a partir de suas referências.

O homem é regulado pela cultura, as instituições (Estado, escola, famílias) regulam a


Cultura.

Teóricos: Sausarre, Foucault, Derrida reconhecem as contribuições do estruturalismo, os


signos são constituídos de significados e significantes. Questionam as maneiras de
entender as relações do significado, significante e signos do estruturalismo
Virada linguística​ entende que a realidade é uma produção discursiva e as maneiras
Como regulamos e somos regulados ocorrem a partir da linguagem. A linguagem tem a
função de conduzir condutas.

A linguagem deixa de ser uma forma de representar a realidade e passa a ser uma
produtora da realidade​, produzir pessoas e coisas do mundo de uma certa maneira. Se
uma cultura é vista como marginal, automaticamente, quem a pratica vira marginal. Desta
forma práticas culturais foram estigmatizadas, como a capoeira no início do século XX.

Significado e relação de poder​: a produção da capoeira passou a ser positiva no século


XXI pois passou a ser valorizada pelas elites.
Quando colocamos uma concepção de educação física, eu faço uma escolha ​política​.
Quando ela aparece em um currículo (Municipal, Estadual, Federal) ela torna-se “A
Educação Física”. Os estudos culturais da educação são contra-hegemônicas, questiona,
Analisa e reflete suas práticas pedagógicas criticamente.

Contribuições do pós-colonialismo e do pós-modernismo para educação física


cultural
Origem do pós-colonialismo deu-se com autores do Hemisfério Sul que passaram a produzir
estudos sobre o colonizado / colonizador ou metrópoles / colônia no fim da era colonialista.
É um movimento cultural, acadêmico, teórico que trazem ideias do fim da exploração
material dos colonizadores porém a influência destes na cultura dos colonizados continua
latente.
Combate a cultura hegemônica que traz uma ideia de que o civilizador faz bem ao
colonizado. Valoriza a resistência, repertório e os valores do colonizado diante do
colonizador, questiona o modo de produção do ​outro ​e tenta romper com o processo de
colonização e combater esse processo de colonização que está nas escolas.

Pós-modernismo

O estudos pós-modernistas tiveram origem com um movimento teórico que ganha


visibilidade na pós-modernidade, meados do século XX que questiona as promessas da
modernidade como a emancipação e a autonomia, conscientização, Progresso e melhoria
das condições de vida para todos, pois estas não se concretizaram.

Valoriza outras formas de conhecimento para além do conhecimento científico. Não aceita
explicações estapafúrdias para as desigualdades, por exemplo.
Questiona a forma de conhecimento da modernidade no hemisfério norte que gerou o
epistemicídio de diversas culturas do Hemisfério Sul. Principal autor Boaventura de Souza
Santos.

A descolonização dos saberes.


Exemplo: O estudo do Maracatu na aula de Educação Física. Alguns alunos tinham formas
negativas de conhecer a cultura afro-brasileira. O professor desenvolveu práticas
pedagógicas que fizeram com que os alunos acessem outros significados daquela prática
corporal no sentido de ​descolonizar​ suas concepções.
Texto o multiculturalismo e o ensino da Educação Física​ ​(Carvalho e Neira)

As teorias pós-críticas evidenciam que a problemática desencadeada pelas transformações


sociais que caracterizam a sociedade globalizada requer uma política voltada para a
“reivindicação de reconhecimento da identidade de grupos considerados subordinados
relativamente às identidades hegemônicas.” (Silva, 2000, p. 92). Além de identificar as
diversidades de culturas é importante considerar a resistência e as diferenças que povoam
o mesmo grupo cultural.

Uma pedagogia influenciada pelas teorias pós críticas (pós-modernismo, pós colonialismo,
estudos culturais, pós-estruturalismo e multiculturalismo) aborda temas e desenvolve
identidade entre escola e sociedade pós-moderna e fundamenta a visão da pedagogia
como cultura e da Cultura como pedagogia.

Em uma perspectiva pós-crítica, sintetizada Na expressão de ​pedagogia cultural,​ a


experiência escolar é um terreno aberto ao debate, ao encontro de culturas e a confluência
da diversidade de manifestações corporais dos variados grupos sociais.

"A pedagogia cultural valoriza a diversidade e questiona a própria construção das diferenças
e, Por conseguinte, dos estereótipos e preconceitos contra aqueles percebidos como
diferentes no seio das sociedades desiguais e excludentes.” (Canen e Oliveira, 2002, p. 61)

A pedagogia cultural não acredita nas “supostas” autonomia e emancipação do sujeito e da


subjetividade e considere o sujeito o efeito da linguagem, dos textos, dos discursos, das
relações de poder, da história, dos processos de subjetivação. Quando o grupo Oprimido é
tensionado pela tentativa de homogeneização do opressor, Ou ele sucumbe ou reivindica
por voz e representatividade pelo rompimento da assimetria.

"Na escola democrática desses tempos, uma educação multiculturalmente orientada implica
a assunção de uma postura clara em favor da luta contra a opressão, o preconceito, a
discriminação aos quais foram submetidos alguns grupos historicamente desprovidos de
poder, sem que se perca de vista a perene composição de novos grupos culturais. (Nunes e
Neira)

Nos Estados unidos, o multiculturalismo ganhou visibilidade como movimento de


reivindicação dos grupos sociais subordinados (negros, hispânicos, homossexuais e
mulheres) contra o ​currículo oficial e a política de segregação nas escolas​, uma vez que
os filhos dos Imigrantes não tinham acesso às mesmas instituições do chamados
estadunidenses e legítimos (brancos e descendentes de europeus). Naquele contexto, a
cultura comum que era transmitida consistia a entre domínio da cultura branca, europeia,
heterossexual, masculina e patriarcal.” (Neira, 2011)

O termo multiculturalismo tem sido submetido a ressignificações, pois o termo pode


significar tudo e ao mesmo tempo nada. Pode abranger a luta de diversos grupos culturais
por reconhecimento na sociedade e até dar a sensação de apagamento da diferença em
função do prefixo “multi”. Para Candau (2010), há 2 aspectos centrais nas questões
suscitadas pelo multiculturalismo:

A concepção descritiva​ que compreende a configuração da sociedade dependente de seu


contexto contexto histórico, político e sociocultural cultural que tem por objetivo reconhecer
diferentes regiões, grupos, comunidades e instituições gerando elementos para análise e
compreensão de cada contexto específico.
A concepção propositiva​ onde o multiculturalismo deixa de ser apenas uma análise da
realidade construída para tornar-se um modelo de atuação dinâmica social. Trata-se de um
projeto político cultural que se reflete na maneira de trabalhar as relações culturais em
determinada sociedade, de conceber políticas culturais na perspectiva da radicalização da
democracia e de construir estratégias pedagógicas para sua efetivação.

Multiculturalismo: três projetos projetos políticos de atuação

Conservador:​ guarda forte conotação segregacionista, reforça as diferenças e afirma a


necessidade de uma identidade pura. Os grupos devem manter sua matriz cultural e possuir
espaços próprios para garantir a liberdade de expressão e continuidade de suas tradições.
“Na prática, consolida-se uma segregação social, pois alguns grupos dispõem de poder
para alocar os outros em espaços desfavoráveis, reiterando posturas de preconceito e
superioridade.” (Neira e Nunes).
Nas aulas de educação física, proposição de atividades para grupos diferentes organizados
conforme habilidades ou preferências, separação de gêneros a fim de evitar conflitos, etc

Assimilacionista:​ reconhece a falta de oportunidades dos grupos desprivilegiados, tenta


promover uma convivência amistosa entre os diferentes e busca incorporar todos à cultura
hegemônica. Olha apenas para os ‘sintomas’ na tentativa de combater o desequilíbrio social
com ações homogeneizantes, como por exemplo olha apenas para o racismo e não para as
estruturas que o impulsiona. Integra o que “há de melhor” de todas as culturas e com o
discurso da diversidade e da inclusão é muitas vezes predicado em afirmações
dissimuladas de assimilações e consenso, que servem como Apoio aos modelos
Democráticos neoliberais de identidade

Intercultural ou crítico​: concebe a cultura como campo de conflito em permanente


construção e negociação de sentidos. A diferença não fica isolada na sua raiz nem se
pretende afirmar uma identidade homogênea baseada no princípio da universalidade, pois
não existe cultura pura, nem melhor que a outra.Sendo a pedagogia uma prática social que
tenciona a construção de identidade, Isto é,o modo com que os sujeitos aprendem a se
enxergar em relação ao mundo, sobre a influência do multiculturalismo crítico, ela se torna
uma empreitada política voltada para a luta por justiça social. Trata-se da gestão da
diversidade. O professor assume-se como sujeito e agente no processo educativo.

A Pedagogia do dissenso​ promove a negociação cultural em frente a relações


hierárquicas e explícita o modo pelo qual o poder foi construído e quais estratégias utiliza
para manter a assimetria.
“Enfatiza os processos de construção política e social da supremacia de certos grupos,
identifica as suas formas hegemônicas de convencimento e continuidade no poder.
(McLaren, 2000, p. 215)
Quando o professor não vê suas representações acerca de determinada prática cultural,
corre o risco de abordar superficialmente questões problemáticas ou deixar transparecer de
preconceitos.

Fundamentar-se no ​multiculturalismo crítico​ requer entender que as práticas corporais


foram produzidas em dado o contexto sócio-histórico, com determinadas intenções,
sentidos e significados, mas que também, com o passar do tempo foram se ressignificando
pelas relações travadas com a macroestrutura social.

A educação física cultural não pretende trocar o centralismo da cultura corporal dominante
por um centralismo da cultura dos Estudantes e nem demonizar as práticas elitizadas, mas
abrir espaço para os saberes que historicamente foram vilipendiados. A ed. física cultural
articula suas ações com as relações interpessoais experimentadas na escola e fora dela
com intuito de promover situações de ensino que assegurem a democracia e colaborem
para a construção de uma sociedade menos desigual.

Texto: Os estudos culturais e o ensino da Educação Física​ (Nunes e Neira)

Os estudos culturais nutrem-se do debate pós-moderno e da crítica pós-estruturalista,são


compostos de muitas tradições intelectuais e políticas e constituídos de três pressupostos
inseparáveis e interdependentes: um projeto político, uma inserção pós-moderna e uma
perspectiva interdisciplinar, que são constantemente alimentados e ressignificados pelo
diálogo que estabelecem com novos autores, objetos e pontos de vistas.

A centralidade da cultura nos estudos culturais não opera com binarismos como ‘centro
versus Periferia’, escapa da lógica que o ‘centro é o lugar mais importante’, barra qualquer
fronteiras, corrói hierarquia, descentraliza tudo.

A centralidade da cultura na sociedade (virada cultural), trouxe a Revolução cultural que nos
mostra como a expansão da indústria cultural, por intermédio das tecnologias de
informação, e a revolução constante das formas de comunicação influem no domínio social
da cultura. Não há privacidade, nem cotidiano, nem singularidades que não sejam
marcados pela revolução cultural.

A formação de identidades se dá culturalmente, passa por uma escolha pessoal


(subjetividade), porém, passa também pela relação que estabelece com os aspectos
objetivos presentes em normas, instituições, atividades, estruturas sociais, enfim, diversos
sistemas de significação situado em determinados tempos e lugares.

Dispositivos de regulação

“A cultura regula nossas condutas, ações sociais e práticas, e, assim, a maneira como
Agimos no âmbito das instituições e na sociedade mais Ampla.” (Hall, 1997. p. 39)
O Estado é pluricentrado e multidimensional e mesmo apresentando tendências
dominantes, seu caráter não é o único do ponto de vista da classe, pois condensa uma
série de práticas distintas em uma ação sistematizada de regulação e normatização social.

O Mercado é regulado por técnicas e dispositivos de controle indivisíveis por meio das quais
os interesses e a vontade de cada sujeito se confrontam e se harmonizam
espontaneamente com a vontade e os interesses dos outros. (Foucault, 2008)

Tipos de regulação da cultura

- Normativa​: tudo o que é feito tem um sentido dado pelas regras e Convenções
culturais.
- Sistemas Classificatórios​: Nos quais as ações são classificadas e as condutas e
práticas comprar comparadas com base em uma série de categorias que definem
padrões aceitáveis ou não.
- Constituição de novas identidades ou de novas subjetividades​: são definidas
por meio de alterações do sistema organizacional da Sociedade. Conclui-se que
qualquer proposta de educação implica em todos em modos de regulação das
atividades que envolvem o ensino e as identidades dos sujeitos, discentes e
docentes.

Os estudos culturais não concebem a realidade como algo natural; trata-se de uma
construção da ação de humanos, fruto dos significados construídos nas relações sociais,
nas relações de poder. Quem pode classificar e organizar o que há de melhor? As
sociedades e culturas atuais são dirigidas por Poderosas ordens discursivas que regem o
que deve ser dito e o que deve ser omitido. As linguagens, as narrativas, os textos não
apenas descrevem ou falam sobre coisas, ao fazer isso eles instituem as coisas, inventando
sua identidade. Ao afirmar que a diferença é o outro afirma que existe uma Norma a seguir,
alguém a ser corrigido ou negligenciado.

As identidades ​projetadas​ como as ​ideais​ para compor o ​quadro social​, ao mesmo tempo
que enunciam as diferenças para aqueles que precisam ser corrigidos, transformados ou,
caso existam ou não consigam adaptar-se, marginalizados. É por meio de suas formas de
inscrição que o outro é representado como diferença, não pela diferenciação de todas as
coisas mas pela diferenciação daquilo que é considerado o padrão, a norma, a identidade.

Política de identidade é a luta em torno do Poder de representar e uma revolta contra a


representação Universal da cultura.
O viés pós-estruturalista dos estudos culturais ensina que:
- as identidades são fragmentadas; não existe identidade mulher, mas mulheres.
- Todo conhecimento, na medida em que se constitui o sistema de significação, é
cultura.

Uma prática pedagógica de educação física ancorada nos ​Estudos Culturais​ potencializa
todos os participantes a vivenciar uma Pedagogia da diferença.
Texto: Contribuições foucaultianas para o debate curricular de educação física

Os estudos de Foucault podem ser usados como “pequenas caixas de ferramentas” para se
pensar a educação ou ato educativo.

O currículo de Educação Física não possui um atributo essencial originário; Só existe como
resultado de um processo de produção histórico, cultural e social (Silva, 2007).

Nenhum currículo é dotado de identidade prévia. Sua identidade é constituída a partir de


aparatos discursivos e institucionais que o definem Como tal.

Um dispositivo enrenda complexos de saberes que fundamentam regimes discursivos,


relações de poder, que amparam e são amparados por esses regimes, bem como
processos de subjetivação, de fabricação de sujeitos.

O saber é compreendido como um conjunto de elementos (objetos, tipos de formulação,


conceitos e escolhas teóricas), formados a partir de uma única e mesma positividade, no
campo de uma formação discursiva unitária. “Os saberes sustentam arranjos discursivos
que circunscrevem e definem objetivos a partir de regimes da Verdade. [...] O discurso cria
as coisas e não apenas as nomeia.” FOUCAULT
Liberdade e resistência, ao invés de ser interpretada como o oposto de poder, equivalem à
sua condição de existência. Resistir é existir.

Experiências curriculares na Perspectiva curricular cultural

“Sob a influência das teorias pós-críticas, organizam-se situações didáticas para questionar
os marcadores sociais presentes nas brincadeiras, danças, lutas,,esportes e ginásticas, a
fim de empreender uma ação política a favor das diferenças, por meio da valorização das
linguagens corporais dos grupos minoritários.” (Neira, 2018)

As práticas inspiradas na perspectiva do currículo cultural buscam evitar o daltonismo


cultural, reconhecer a cultura corporal da comunidade, promover Justiça curricular,
articular-se ao projeto pedagógico da escola, descolonizar o currículo e ancorar socialmente
os conhecimentos abordados. O currículo cultural é um currículo heterotópico, pois faz
aposta e não decreta sentenças.

Texto: Contribuições do pós-colonialismo para o currículo de educação física

O pós-colonialismo tem relacionamento próximo ao pós-modernismo e o pós-estruturalismo.


Questões de cunho cultural, problemas com dependência, subdesenvolvimento continuaram
após o colonialismo. A crítica pós-colonial combate ferozmente as narrativas ideológicas da
modernidade que buscam construir uma normalidade hegemônica e naturalizar diferentes
histórias a respeito das Nações, raças, comunidades e povos, denunciando que o discurso
Colonial opera como um verdadeiro aparato de poder, como um instrumento que se âncora
no reconhecimento e repúdio das Diferenças, aqui inseridas em questões sociais, sexuais,
culturais, de gênero e classe.

Bhabha (2013) assinala que o discurso do colonizador tem como propósito apresentar o
colonizado como uma pessoa ou grupo de situação degenerada e degradante, o que, em
certa medida, consolida estereótipos que, na visão dos colonizadores, justificam a conquista
e o domínio, estabelecendo e perpetuando um sistema de administração, instrução,
exploração e expropriação.

A promoção da descolonização do currículo busca valorizar a epistemologia do Sul, saberes


propositadamente esquecidos ou apagados ao longo da história. Os conceitos lançado por
Bhabha (2013), quando conectados ao currículo Cultural de educação física contribui
substancialmente para uma prática Educacional a favor de quem historicamente sofreu, e
ainda sofre, com a mão Pesada do Poder Colonial.

Desconstruir não é destruir mas sim analisar como atuaram as relações de poder para
construir e divulgar uma certa representação sobre as práticas corporais e seus sujeitos.

Gabarito da Atividade Avaliativa da semana 4

A resposta correta da questão está identificada com a cor Vermelha.

1) A partir da contribuição das teorias pós-críticas, a pedagogia cultural adquire


certas características, exceto:

Opta por explicações e narrativas parciais.


Prefere a invenção, a criação, o artefato e a produção.
-> Acredita nas supostas autonomia e emancipação do sujeito.
Considera o sujeito um efeito da linguagem.
O sujeito é tomado como efeito das relações de poder.

JUSTIFICATIVA: ​Quem “acredita” na emancipação do sujeito é a pedagogia crítica,


consequentemente inspirada pelas teorias críticas. “Com a contribuição das teorias
pós-críticas, a pedagogia cultural sinaliza diferença, abertura, transgressão, subversão e
multiplicação de sentidos. Opta voluntariamente por explicações e narrativas parciais, pelo
local e pelo particular; ela prefere a invenção, a criação, o artefato e a produção. Não
acredita nas “supostas” autonomia e emancipação do sujeito ou da subjetividade e, em vez
disso, considera o sujeito um efeito da linguagem, dos textos, dos discursos, das relações
de poder, da história, dos processos de subjetivação”. (CARVALHO; NEIRA, 2016, p. 129)

2) Leia o fragmento a seguir e, a partir dele, assinale a alternativa correta:

“Os pesquisadores dos Estudos Culturais situam suas formas de trabalho no cruzamento
entre as representações simbólicas, a vida cotidiana e as relações materiais de poder”
(NUNES; NEIRA, 2016, p. 107)
Essas análises procuram contribuir para o/a:

-> Desenvolvimento de uma cultura pública e uma sociedade mais justa.


Estabelecimento de referenciais culturais para a população.
Construção de discursos que favoreçam a formação de identidades.
Confronto com visões antagônicas, com vistas à estruturação social.
Compreensão dos modos como atuam os diferentes grupos sociais.

JUSTIFICATIVA: ​Segundo os autores (NUNES; NEIRA, 2016), as análises dos


pesquisadores dos Estudos Culturais procuram contribuir para o desenvolvimento de uma
cultura pública e de uma sociedade mais justa, tanto no que se refere à distribuição de
renda como no reconhecimento da alteridade.

3) Na ótica dos Estudos Culturais, atribuir centralidade à cultura implica em:

Desconstruir a noção antropológica da cultura.


Corroborar as noções evolucionistas de cultura.
Reforçar as explicações baseadas na ciência moderna.
-> Afirmar a cultura como instância determinante dos processos sociais.
Tomar a cultura como fenômeno isolado e baseado na economia.

JUSTIFICATIVA: ​“Atribuir centralidade à cultura implica em abalar as explicações


acadêmicas fundamentadas na razão da ciência moderna (o antropocentrismo), afirmar a
cultura como instância determinante nos processos sociais e não um fenômeno isolado e
ampliar o eixo de análise das políticas de desenvolvimento baseadas tão somente na
economia” (NUNES; NEIRA, 2016, p. 109)

4) Oliveira e Neira (2019, p. 8) recorrem a Michel Foucault para compreender como atua o
poder: “não se trata de uma relação de repressão ou de violência, nem de consentimento –
embora possa fazer uso desses instrumentos –, mas de uma ação de controle mais sutil,
que impele, separa, facilita, dificulta, permite, impede, estende, limita, a fim de estruturar o
campo das ações alheias e induzir comportamentos”. Com esse sentido, uma relação de
poder consiste em:

Impor vontades.
Sugerir comportamentos.
Convencer e conquistar.
Angariar adesões.
-> Conduzir condutas.

JUSTIFICATIVA: ​“Não se trata de uma relação de repressão ou de violência, nem de


consentimento – embora possa fazer uso desses instrumentos –, mas de uma ação de
controle mais sutil, que impele, separa, facilita, dificulta, permite, impede, estende, limita, a
fim de estruturar o campo das ações alheias e induzir comportamentos. O poder é da ordem
do governo e governar consiste em conduzir condutas” (OLIVEIRA; NEIRA, 2019)
5) Numa visão pós-colonialista, o discurso do colonizador tem por objetivo apresentar o
colonizado como uma pessoa ou grupo de situação degenerada e degradante, o que, em
certa medida, consolida estereótipos que, no entendimento dos colonizadores:

Precisam ser compreendidos.


-> Justificam a conquista e o domínio.
Devem ser tomados como verdadeiros.
Implicam na desconstrução do Primeiro Mundo.
Apoiam as ações humanitárias.

JUSTIFICATIVA: ​Segundo Nunes e Neira (2019, 01), “Bhabha (2013) assinala que o
discurso do colonizador tem como propósito apresentar o colonizado como uma pessoa ou
grupo de situação degenerada e degradante, o que, em certa medida, consolida
estereótipos que, na visão dos colonizadores, justificam a conquista e o domínio,
estabelecendo e perpetuando um sistema de administração, instrução, exploração e
expropriação.”

Semana 5 - Tematização, problematização e desconstrução na


Educação Física cultural

Objetivos da semana: compreender as noções de tematização e problematização e


desconstrução adotadas Pela Educação Física Cultural

Algumas reflexões sobre as videoaulas

A educação física deixou de ser atividade e tornou-se componente curricular obrigatório a


partir das leis de diretrizes e bases da Educação Nacional nº 9394/96 inserindo-a na área
das linguagens.

Na perspectiva cultural as práticas corporais não são ensinadas mas tematizadas. Danças,
lutas, esportes foram transformados em tema exigindo problematização na sua ocorrência
social e desconstrução dos discursos a seu respeito.

Tematização do desafio da garrafa nas aulas de educação física

Para fazer uma tematização de prática corporal o professor faz as pesquisas, elabora
vivências, ajuda as crianças a fazerem uma leitura dos vídeos e das gestualidades,
organiza uma atividade para os alunos aprenderem como os vídeos são produzidos. Todos
os procedimentos são sempre feitos coletivamente, ajudando as Crianças a entenderem as
práticas culturais.
Ao experimentar o desafio (vivência), os alunos perceberam que para um vídeo perfeito da
execução do desafio da garrafa são necessárias muitas tentativas e fazer também uma
edição de vídeo, Os alunos aprenderam que devem questionar o que veem na internet, pois
pelos vídeos viralizados o desafio parecia fácil e na vivência viram que não era.
A problematização na educação física cultural

A Problematização freireana busca exercer uma análise crítica da realidade-problema. O


desafio é lançado aos educandos para que estes possam refletir sobre aspectos da
realidade ainda não percebidos de maneira crítica, problematizando objetivos de ensino e
aspirando uma tomada de consciência.
Para Paulo Freire o conteúdo de ensino é situado pelo professor na realidade concreta do
Estudante e há um trabalho de problematização daquela realidade com vistas a fazer
aparecer elementos, questões, que lá estavam, mas que estavam encobertos em um
Primeiro Olhar.
A problematização na educação física cultural é um processo de negociação de sentidos,
de destrinchar, escrutinar, familiarizar as práticas corporais e enfrentar as representações
dominantes e seus participantes. Problematizaram é oferecer referências, materiais,
conversar com as pessoas que pensam diferente. As práticas são construções sociais e
podem ser construídas, colocada em dúvidas as representações que temos constituídas.

Territorializar e desterritorializar - desconstruções

Problematizar na Perspectiva cultural é lançar dúvida sobre as ideias que temos das coisas.
Problematizar na Perspectiva freireana é fazer uma análise crítica daquela realidade onde
aquele conhecimento pode ser aplicado.

A desconstrução na educação física cultural

Problematizar é tirar do Estado de naturalização.


Os conceitos freireanos foram desterritorializados para serem reterritorializados no Pós
estruturalismo para que possamos compreender a noção de desconstrução da Educação
Física cultural.
Desconstruir na educação física cultural não significa destruir. É compreender o processo
de construção de uma certa representação que é feita através da linguagem, identificar as
forças (poderes) que atuaram na produção da representação. Todos temos nossas
representações de práticas culturais, nem sempre corretas, mas sempre influenciadas por
forças que atuaram na produção dessa representação. Desconstruir é saber como foi
construída aquela representação e propor formas de rever os valores que lhe foram
atribuídos fazendo uma ressignificação de seus sentidos.

Texto: A tematização no ensino de educação física​ (Ivan Luiz dos Santos e Marcos
Neira)

“O que se quer com a tematização é a uma compreensão profunda da realidade em Foco. É


o desenvolvimento da capacidade crítica dos alunos - sujeitos de conhecimento, desafiados
pelo objeto a ser conhecido.” (Neira e Nunes)
Os conteúdos geradores são extraídos de questões percebidas pela comunidade, que deve
amparar-se em atividades de ensino fundamental no ato dialógico.
O conteúdo é originado na subjetividade das culturas populares (cotidiano), minimiza o risco
do Oprimido absorver conhecimentos elaborados sob a ótica dominante, o que o tornaria o
opressor.
A Crítica da educação bancária de Paulo Freire alinha-se com as reflexões pos-coloniais ao
denunciar a produção monocultural da mente e a violência epistêmica.

A pedagogia cultural da educação física temáticas práticas corporais a partir do património


cultural socialmente disponível.

A tematização emaranha as experiências dos professores e dos alunos com outro saberes -
acadêmicos, do senso comum, populares ou pertencentes ao grupos minoritários, obtendo,
desta forma, a produção de novo sentidos para a prática corporal que e objetivo do estudo.
(Neira, 2011)

O posso estruturalismo define o sujeito como fruto da linguagem e, como tal, despossuídos
de uma propriedade essencial originária. O sujeito só existe como resultado de um processo
de produção histórica, cultural e social, ou seja, constrói sua identidade com base nos
aparatos discursivos, regulado socialmente por relações de poder.

-> Reterritorialização dos sistemas geradores de paulo freire, produzindo os temas culturais
(Corazza).

Temas culturais são uma forma de planejar o ensino de seu tempo, uma forma que está
sempre a em tensão, que nunca está apaziguada e jamais ficará acima de qualquer
suspeita. Injeta o conhecimento do subjugados no cenário escolar, os saberes da gente
(FOUCAULT). O trabalho pedagógico, a partir dos temas culturais incorpora radicalmente o
saberes da gente, transformando-os em conteúdo.

Deleuze e Guatarri

Territorializar é codificar, submetendo a regras e controles, setor e c elementos da vida


social como a família, o trabalho, o corpo.

-> Desterritorialização é a forma como o capitalismo age, isto é, desterritorializa,


descodifica, afrouxa regras e controles tradicionais para reterritorializar, isto é instituir novos
e renovados controles e regras.

Uma vez selecionada prática cultural a ser estudada, a tematização requer planejamento de
atividades de leitura e significação dos discursos que se emitem a seu respeito.

A tematização combate a universalização e naturalização dos conceitos, fecundando o


questionamento dos discursos, desnudando de forma a tornar explícitos os jogos de
poder-saber em que foram produzidos e dos dotados de estatuto social.

A educação física cultural não recorre a qualquer organização sistemática nem faz
gradações para a distribuição dos conhecimentos, muito menos distingue hierarquicamente
os saberes acadêmicos e populares. Ela tess o tempo todo uma rede de significados com
base na ação e na interação dos seus participantes.

-> Desconstrução significa levar o sujeito a novos contextos, novas leituras, novos olhares
sobre o outro e sobre ele mesmo, o que significa propor a possibilidade da coexistência com
o paradoxo; a permanência na fronteira, nos entre lugares, que podem gerar estruturas
fecundas para se repensar as diferenças e inverter as hierarquias. (Derrida)

O conhecimento não tenho um formato arborescente (árvore), no qual os galhos podem se


comunicar somente com o tronco, o caule. O conhecimento não nasce apenas de um
núcleo, de um centro.

O trabalho pedagógico da perspectiva rizomática (raiz, emaranhado) requer, sobretudo, a


compreensão de que existem diversas formas de conhecimento que dialogam entre si no
interior de contextos históricos-sociais e apartir de múltiplas conexões estabelecidas entre
saberes científicos, míticos, artísticos.

Ao tematizar o esporte, o docente não pode ocultar os acontecimentos negativos que


rodeiam o mundo esportivo (como fraudes, corrupção, exploração de trabalho, de valores,
entre outros). Cruzar os braços diante da realidade instaurada e acomodar-se em um
discurso mesquinho, coberto de uma falsa neutralidade, apenas enfraquece a luta por uma
educação comprometida com a formação de uma sociedade capaz de lidar com as
diferenças sociais, étnicas, raciais. É preciso que os docentes busquem reinventar sua ação
didática, a fim de promover práticas que ensinem os benefícios da justiça social.

Texto: A problematização ensino da educação física ​ (Ivan Luís Santos e Marcos Garcia
Neira)

Problematizar implica em uma atitude filosófica, que vê como problema aquilo que em geral
é aceito com naturalidade, com tranquilidade. Abre-se espaço para que as representações
atribuídas as práticas corporais sejam desconstruídas e os mecanismos de dominação,
regulação e resistência nelas incutidos sejam analisados, bem como os sentidos que
recebem ou receberam em variados contextos.

O teórico Paulo Freire é a principal referência da educação problematizadora que


recomenda uma ação pedagógica, que parta da realidade concreta do educando com o
objetivo de problematizar o mundo por meio do diálogo.

“O que se pretende com o diálogo é a problematização do próprio conhecimento em sua


indiscutível relação com a realidade concreta na qual se gera e sobre a qual incide, para
melhor compreendê-la, explicá-la e transformá-la. ( Freire, 1983,p. 52)

O diálogo é uma possibilidade de intercambiar conhecimentos sustentados na interação


radical entre a ação e a reflexão, de maneira a fomentar problematizações sobre o universo
existencial concreto dos educandos. Problematizar significa exercer uma análise crítica da
realidade problema.
Na prática problematizadora, os educandos desenvolvem o seu poder de captação e de
compreensão do mundo, em suas relações com ele, não mais como uma realidade estática,
mas como uma realidade em transformação, em processo.

A Construção de sínteses coletivas (Paulo Freire) ​“Ninguém educa ninguém, ninguém


educa a si mesmo, os homens se educam entre si mediatizados pelo mundo.” (1983b, p.79)

No caso da Educação Física, a problematização demanda organização de atividades


pedagógicas que proporcionem uma reflexão crítica sobre a realidade.

“As aulas, portanto, não podem resistir restringir-se a execução Mecânica dos movimentos.
A práxis da Educação Física exige a vivência das manifestações corporais, o debate e o
estudo dos diferentes aspectos que as cercam e a proposição de novas vivências, sempre
tematizadas e modificadas de acordo com as reflexões do grupo.” Françoso, Neira, 2014, P
534)

Segundo Derrida, “a desconstrução não ‘destrói’ o texto, o alvo de sua reflexão, mas
questiona o significado conferido, sendo uma atividade infindável que Visa desmascarar
passo-a-passo a construção dessas malhas de significados.” (RAGAJOPALAN, 1992, p.27)

A concepção derridiana de problematização a partir da diferença favorece a inclusão de


todos os significados, de todas as vozes, de todas as culturas.

É uma proposta de colocar em Patamares equivalentes os saberes legitimadas pela ciência


e os saberes do senso comum, que não aceita de forma alguma um único modo de
enxergar as coisas.

Texto: Tematização e problematização: pressupostos freirianos no currículo cultural


da Educação Física​ (Neira e Santos)

O texto procura analisar as influências de Paulo Freire no currículo cultural da Educação


Física especialmente no que se trata da tematização e da problematização.

Para lembrar:

Teorias não críticas:​ currículos ginástico, esportivo, psicomotor, desenvolvimentista e


saudável
Teorias críticas:​ currículo crítico-superador e crítico-emancipatório
Teorias pós-críticas​: currículo multicultural (inspirado por estudos culturais -
multiculturalidade, pós-modernismo, Pós estruturalismo e pós colonialismo)

As aulas baseadas no currículo cultural da Educação Física deixam de ser entendidas como
um espaço exclusivo para crianças e jovens se movimentarem, para serem tematizadas
brincadeiras, danças, esportes, de forma a problematizar suas ocorrências na sociedade
mais Ampla, assim como os discursos proferidos sobre elas e seus seus praticantes.
O currículo cultura confere possibilidades para estabelecer um diálogo entre a escola e a
expressão da cultura corporal socialmente disponível, bem como para a valorização da
produção dos diferentes grupos, por meio da descolonização e desconstrução das
representações hegemônicas.

No currículo cultural, a experiência dos educandos é fonte de inspiração para buscar temas
significativos para as aulas o diálogo de todos é a ferramenta para o ato pedagógico, que é
um ato dialógico e não apenas comunica o mundo, mas cria dialogicamente um
conhecimento do mundo.

O conhecimento escolar converte-se num processo resultante da mediação entre saberes


escolares e saberes populares, por meio da problematização das situações vividas, de
forma a instrumentalizar os educandos a intervirem no mundo.

Mapear conhecimentos

“Oprimido é hospedeiro do opressor.” (Paulo Freire)

O currículo cultural, quando entra em ação na educação física, afasta-se do modus


Operandi tecnicista para envolver outros princípios e procedimentos didáticos que
desestabilizam a lógica colonial e bancária outrora preconizada.

“Conhecer é mais do que deter conhecimentos necessários; É reconhecer-se no


conhecimento necessário para atuar solidariamente na sociedade” (Paulo Freire)

As concepções que os alunos têm de práticas corporais não devem ser apagadas, mas
problematizadas e refletidas para que os próprios alunos cheguem às conclusões de como
foram construídas aquelas percepções e possam ressignificá-las. O diálogo é um caminho
para ressignificar o conhecimento sustentado na intencionalidade, cuja ação e reflexão
aparecem em interação radical, de maneira a fomentar as problematizações sobre o
universo existencial dos educandos.

“Problematizar significa exercer uma análise crítica sobre a realidade-problema na


na prática problematizadora, os educandos desenvolvem o seu poder de captação e de
compreensão do mundo, em suas relações com ele, não mais como realidade estática, mas
como uma realidade em transformação, em processo.” (Freire, 1983 a, p82)

Na prática problematizadora, educando e educador trocam constantemente de papéis ao se


lançarem no desafio de compreender cada vez mais o mundo a partir das diferentes
percepções que têm sobre estes fenômenos. A conscientização não pode existir fora da
Práxis, sem o ato de ação-reflexão.

“Desconstruir a oposição significa inverter a hierarquia.” Derrida


A polarização das práticas corporais operam de forma binária (de menino - de menina,
infantis - adultas, boas - ruins, etc), mas o que são determinadas práticas corporais para os
grupos sociais que a realizam? O que é o funk para quem vive na peri

A desconstrução trata-se de problematizar os textos canônicos com os quais lidamos e


encarar a multiplicidade dos textos abertos à leitura e à diferença. No currículo cultural da
Educação Física, a pedagogia, enquanto política cultural, atua no questionamento do
sistema de representação que organizam e ordenam brincadeiras, lutas, esportes,
ginásticas e danças sobre determinada lógica de poder.
No currículo cultural da educação física a problematização favorece ​a inclusão de todos
os significados e de todas as vozes​, fertilizando o terreno da tematização para o
surgimento de múltiplas linguagens e leituras da realidade. A proposta coloca em patamar
de equivalência os saberes legitimados pela ciência e os saberes do senso comum,
recusando a imposição de uma única a maneira de enxergar as coisas.

As propostas tradicionais de ensino de Educação Física não são capazes de promover a


construção de uma sociedade mais democrática e menos desiguais, pois muitos grupos não
se encontram representados nestas.

Gabarito da Atividade Avaliativa da Semana 5

A resposta correta da questão está identificada com a cor Vermelha


.
1) Na visão de Santos e Neira (2016, p. 153), as propostas de Educação Física
“colonizadas pelas práticas corporais euro-estadunidenses só ajudam a reiterar a
hegemonia dos significados brancos, masculinos e cristãos”. Conforme os autores, isso se
deve:

-> À desconsideração de outras possibilidades de significação.


À hibridização das práticas de significação.
Ao processo de tematização e problematização.
À descolonização promovida pelas práticas corporais.
Ao fortalecimento das identidades culturais contra-hegemônicas.

JUSTIFICATIVA: ​“No tocante à Educação Física, as propostas de ensino colonizadas pelas


práticas corporais euro-estadunidenses só ajudam a reiterar a hegemonia dos significados
brancos, masculinos e cristãos. Não bastassem essas manifestações disseminadas nas
escolas, seu viés performativo desconsidera outras possibilidades de significação pelos
grupos culturais que com elas deparam. Sob o jugo da perspectiva convencional, as aulas
de Educação Física apenas edificam o quadro de monoculturalização da mente e de
violência epistêmica.” (SANTOS; NEIRA, 2016, p. 153)

2) A ideia de tematização adotada pela Educação Física cultural se fundamenta no:

Pós-modernismo e pós-colonialismo.
-> Pós-colonialismo e pós-estruturalismo.
Pós-estruturalismo e pós-modernismo.
Pós-modernismo e multiculturalismo crítico.
Multiculturalismo crítico e pós-colonialismo.

JUSTIFICATIVA: ​“Para além do pós-colonialismo, o pós-estruturalismo é outro campo


teórico que fundamenta a noção de tematização adotada pela Educação Física cultural.”
(SANTOS; NEIRA, 2016, p. 155)

3) A respeito do diálogo na ótica freiriana, assinale a alternativa falsa:

O diálogo não pode ser confundido com mera “conversa apaziguada”.


O diálogo não pode ficar restrito à exposição de ideias.
O diálogo significa uma tensão permanente entre a autoridade e a liberdade.
O diálogo tem como meta que todas as pessoas da classe digam alguma coisa.
O diálogo se sustenta na interação radical entre ação e reflexão.

JUSTIFICATIVA: ​Essa alternativa é falsa, conforme Shor e Freire (1986, p. 67, citados por
SANTOS; NEIRA, 2016, p. 171): “O diálogo não tem como meta ou exigência que todas as
pessoas da classe devam dizer alguma coisa, ainda que não tenham nada a dizer”

4) A proposta educativa de Paulo Freire enfatiza o sujeito da práxis. Isso implica dizer que:

I. A problematização acontece a partir da realidade circundante.


II. O esforço para explicar e solucionar a realidade pretende transformá-la.
III. O sujeito se transforma na ação de problematizar.

Assinale a alternativa correta:

Apenas as sentenças I e II são verdadeiras.


Apenas as sentenças I e III são verdadeiras.
Apenas as sentenças II e III são verdadeiras.
Nenhuma sentença é verdadeira.
-> Todas as sentenças são verdadeiras.

JUSTIFICATIVA: ​“Em síntese, a proposta educativa de Freire enfatiza o sujeito da práxis.


Isso implica dizer que a ação de problematizar acontece a partir da realidade que o cerca; a
busca de explicação e solução visa transformar aquela realidade pela ação do próprio
sujeito, isto é, por meio da práxis.” (SANTOS; NEIRA, 2016, p. 174)

5) Leia os fragmentos a seguir:

I. Os professores têm um papel secundário na pedagogia freireana.


II. Na pedagogia freiriana, os professores organizam e sistematizam atividades de ensino.
III. Na pedagogia freiriana, as atividades de ensino possibilitam aos educandos a ampliação
dos olhares a respeito do conhecido.
Agora, assinale a alternativa correta:

Apenas as sentenças I e II são verdadeiras.


Apenas as sentenças I e III são verdadeiras.
-> Apenas as sentenças II e III são verdadeiras.
Nenhuma sentença é verdadeira.
Todas as sentenças são verdadeiras.

JUSTIFICATIVA: ​“[...] a pedagogia freiriana concede importância central ao papel dos


professores, aos quais cabe organizar e sistematizar atividades de ensino que possibilitem
aos educandos ampliar seus olhares a respeito daquilo que conhecem inicialmente de
forma fragmentada.” (SANTOS; NEIRA, 2019, p. 4)

Semana 6 - Princípios ético-políticos da educação física cultural

Objetivos da semana: justificar a importância dos princípios ético-políticas na


educação física cultural

Algumas reflexões sobre as videoaulas

Intencionalidade pedagógica na organização das atividades na educação física cultural

Os princípios éticos políticos na educação física cultural

Articulação do projeto político-pedagógico:​ os professores que abordam o currículo


cultural sempre buscam referências nos documentos oficiais e projeto político-pedagógico
da escola para definir as práticas a serem tematizadas

Reconhecer a cultura corporal da Comunidade:​ busca conhecer os saberes e culturas


corporais da comunidade e ancorar estes conhecimentos e os significados atribuídos pela
comunidade as práticas para ressignificá-las ou reelaborar este significados

Promoção da Justiça curricular​: procurar definir as práticas curriculares que serão


tematizadas buscando reconhecer culturas, grupos culturais e suas representações dentro
da Comunidade. Todos os grupos culturais têm representações que são dignas de serem
representadas no currículo escolar

Ancoragem social dos conhecimentos​: Quando os professores organizam atividades


com a intenção de proporcionar aos alunos o conhecimento do processo de construção
daquela manifestação cultural, como ocorre na sociedade e quem dela participa.

Rejeição do daltonismo cultural:​ importância do desenvolvimento de atividades de ensino


que contemplem a participação de todos os atores de formas diferentes, potencializando
saberes diferentes. Evitar pensar que todos aprendem a mesma coisa, da mesma forma e
tendo os mesmos resultados.
Descolonização do currículo: ​os currículos estão colonizados por certas ideias e
princípios, promovendo o apagamento, negligenciamento de determinadas culturas e
saberes. Promover práticas sociais e culturais que insiram outros elementos, povos, culturas
no currículo objetivando o equilíbrio.

Texto definição do tema e planejamento das situações didáticas​ (Marcos Neira)

“O agenciamento é o encontro entre os denunciados, as coisas e as pessoas. O


agenciamento é uma ocasião, especificamente produzida em uma mistura de forças o
choque de vetores, em um emaranhado de intensidades que pode, por exemplo, serem que
uma pessoa e um livro, uma pessoa e um acontecimento e entre duas ou mais pessoas.”
(Bonetto, Neira, 2019, p06)

Dispositivo são ‘estratégias de relações de força sustentando tipos de saber e sendo


sustentados por ele’ (Foucault, 1992, p. 46), um princípio de organização.

Territorializar significa codificar submetendo a novas regras e controles.

“As tematizações acontecem no sentido de provocar desestabilização nas significações e


representações do aluno. Estimula análises críticas da prática corporal a fim de que as
representações venham à tona e sejam problematizadas e desconstruídas.” (Neves, 2018)

Ao tematizar uma prática corporal, o docente deve reconhecer o repertório cultural e


corporal da comunidade e incorporá-lo às práticas pedagógicas, tendo o cuidado para não
desqualificar essas culturas, impedindo que eles compreendam as condições que vivem e
sobre a cultura que estão inseridos.

Ao tematizar uma prática corporal pertencente ao universo vivencial dos Estudantes, não
significa que se permanecerá naquela cultura, mas que será possível se ratificar os saberes
dela proveniente, favorecendo a sua análise, aprofundamento e ampliação mediante o
entrecruzamento com os outros repertórios culturais. O tema cultural tem que coadunar com
o projeto político pedagógico da escola.

Definir uma tematização é um posicionamento político pedagógico pois a escolha de uma


prática corporal e não outra, implica a disseminação de certos significados a respeito dela
própria e dos grupos que a cultivam. O princípio da ​Justiça curricular​ na seleção do tema
estudado Visa romper com a exclusividade de valores que intensificam noções de
superioridade ou inferioridade e que atribuam conotações discriminatórias aos setores
sociais em desvantagem nas relações de poder. (Connell, 1995). Desestabiliza o viés
colonialista, valoriza a diversidade da população.

Ao propor uma tematização sobre a capoeira, o docente tem contato com os saberes dos
alunos acerca do tema. Ao sugerir situações didáticas que visam descolonizar o currículo
escolar, o docente amplia o leque de oportunidades de acesso a vários significados e
proporcionam uma participação mais equitativa, aspecto central de uma escola
comprometida com o exame crítico da cultura corporal.
* Mas os alunos podem ter internalizado representações hegemônicas e rejeitem a prática
da descolonização do currículo.
A educação física cultural assume uma posição em favor dos mais fracos, enfrenta o
dissenso e rejeita o ​daltonismo cultura​l, pois a existência de diferentes culturas no espaço
escolar é uma riqueza que não pode ser desprezada nem apagada pela homogeneização
ou uniformização.

O currículo cultural reivindica atividades que permitam lidar com a heterogeneidade, sem
almejar a padronização dos efeitos formativos.

Diversificar atividades e práticas pedagógicas

Ancoragem social dos conhecimentos:​ o professor propicia análise sócio-histórica e


política da prática corporal utilizando as representações iniciais ou informações obtidas de
outras fontes.

Um currículo baseado nos estudos culturais e teorias pós-críticas deseja viabilizar situações
de leitura e análise do modo como as práticas corporais são produzidas e reproduzidas na
sociedade, ou seja, das representações sobre elas e seus participantes postas em
circulação pelos discursos, desconstruir marcadores sociais da diferença que lhes foram
atribuídos e, por meio do Diálogo, fomentar a sua reconstrução crítica na escola e fora dela.

Texto: A escrita-currículo na Perspectiva cultural ​(Neira e Bonetto)

Quais forças atravessam um docente quando este pensa as atividades de ensino? Por que
fazem deste modo?

Baseado na teorização pós-crítica e inspirada em conceitos e orientações


teórico-metodológicas dos estudos culturais, multiculturalismo crítico, pós-colonialismo,
pós-estruturalismo, teoria queer, estudos feministas e étnico-raciais, o ​currículo Cultural
de educação física​, também chamado de ​pós-crítico ou culturalmente orientado
emergiu no século XXI, a partir de experiências realizadas no seio de grupo do grupo de
pesquisa em educação física escolar da FEUSP.

A educação física culturalmente orientado tem como função o desejo de ampliar e


aprofundar o repertório que os estudantes possuem em relação às práticas corporais,
ressignificando o que é produzido no âmbito da cultura, ​reconhecendo e desconstruindo
as relações de poder​ que se engendram e produzem as danças, lutas, esportes,
brincadeiras e ginástica tal como as conhecemos.

Enquanto ​artefatos culturais​, as práticas corporais veiculam significados e representações


de mundo e sociedade.

Aspectos didáticos metodológicos


Procedimentos de ensino:​ mapeamento, leitura, vivência, ressignificação,
aprofundamento, ampliação, registro e avaliação.
Princípios curriculares:​ reconhecimento da cultura corporal dos Estudantes, articulação
com o projeto da escola, Justiça curricular, descolonização do currículo, evitamento do
daltonismo cultural e ancoragem social dos conhecimentos.

Abarcando estes elementos, a ação didática característica pode ser entendida a partir do
conceito de escrita-currículo.

O agenciamento é o conjunto de sentimentos simpáticos, de ideologias que influenciam e


orientam a prática docente. Um agenciamento pode ser tanto imprevisível, disruptivo e
absolutamente revolucionário, quanto duro, autoritário, fixador de códigos, estruturas e
classificações.

LINHAS MOLARES​, são linhas duras, rígidas culturalmente. São as leis educacionais, as
normas e os regimentos escolares, algo fixo, como o projeto político pedagógico.

LINHAS MOLECULARES​, SÃO MOLES, FLEXÍVEIS. É a cultura dos alunos, os desejos,


atitudes, falas, disposições espaciais, temporais e princípios pedagógicos.

LINHAS DE FUGA​, É o que produz revolução. Passam pela escrita-currículo como


acontecimentos e agenciamentos inesperados, disruptivos e criadores.

A escrita-currículo é a produção de experiências curriculares menos rígidas, inspiradas na


participação ativa e crítica de professores e alunos que assumem a condição de ‘escritores’
da experiência curricular. É uma relação de reciprocidade, de constante construção-
reconstrução. O novo, o Criativo, o imprevisto é desejado e não evitado

No âmbito da educação física escolar, o conceito escrita-currículo, se coloca como


alternativa à homogeneização, a representações e fixação de signos de Cultura dominante.
A escrita currículo não deve ser entendida como um currículo Marginal, anárquico, que não
segue regras. A ​escrita-currículo​ encontra-se em fluxo constante. Todo conhecimento é
interpretativo também.

A “escrita-currículo” se singulariza quando os docentes se permitem influenciar pelos


enunciados inesperados emitidos pelos estudantes. Ou seja, ela se torna diferente, distinta,
especial, rara e única. Mas, essa unicidade só existe se a escrita-currículo for tomada como
um rizoma, ou seja, aberta para conexões (não tem início nem fim, mas meio), heterogênea,
múltipla (sem unidades e definições territorializantes), sem eixos estruturais, pois promove
uma ruptura a-significante, cartográfica (pois funciona como um mapa) aberta, conectável,
desmontável, reversível e, por isso, impossível de ser decalcada ou copiada.” (BONETTO;
NEIRA, 2019, p. 20)

PDF do power point com resumos da semana 6 apresentado pela tutora Maria
https://drive.google.com/open?id=1SN6c_U9CtshCYKHmX5diIsrC67EStIHP
Gabarito das Atividades da Semana 6

A resposta correta da questão está identificada com a cor Vermelha.

1) Os fragmentos a seguir foram extraídos do artigo A escrita-currículo da perspectiva


cultural da Educação Física: por que professores fazem o que fazem?

Considere-os nas respostas às questões 1, 2 e 3:

“No campo educacional, a noção de agenciamento é potencialmente importante para


pensar, por exemplo, porque que professores que estudaram na mesma instituição, leram
as mesmas coisas, se baseiam no mesmo referencial teórico, enunciam interpretações e
práticas pedagógicas absolutamente diferentes entre si. É um conceito que, de certo modo,
nos tira do protagonismo da ação e mostra o quão, muitas vezes, somos apenas
passageiros nestes encontros (...) Por conta da complexidade de forças e das suas
diferentes intensidades no centro desse encontro, um agenciamento pode tanto ser
imprevisível, disruptivo e absolutamente revolucionário, quanto duro, autoritário, fixador de
códigos, estruturas e classificações. Estamos aqui, tratando das forças, ou linhas, que
compõem os agenciamentos.” (BONETTO; NEIRA, 2019, p. 6-7)

Essas forças ou linhas de segmentaridade que agenciam os professores correspondem às


seguintes tipologias:

Abertas, fechadas e nulas.


-> Duras, flexíveis e de fuga.
Fortes, médias e fracas.
Potentes, frágeis e de estímulo.
Amplas, reduzidas e canalizadas.

JUSTIFICATIVA: ​Conforme Bonetto e Neira (2019, p. 7), “as linhas de segmentaridade são
duras ou molares, flexíveis ou moleculares e linhas de fuga”.

2) Se tomarmos as linhas de segmentaridade como ferramentas para análise do currículo


cultural da Educação Física em ação, é correto dizer que os procedimentos didáticos
operam como linhas:

Abertas ou amplas.
Fortes ou potentes.
-> Duras ou molares.
Flexíveis ou moleculares.
Frágeis ou canalizadas.

JUSTIFICATIVA: ​“No quesito linhas de força, vimos que a “escrita-currículo” não pode ser
apenas constituída de linhas de fuga, pois, por possuir linhas duras, perde-se em
intensidade e objetividade. Mapeamos que neste entrecruzar de linhas, a escrita curricular
é, sim, repleta de linhas molares, tais como as leis educacionais, as regras e normas do
regimento escolar, o Projeto Político Pedagógico, a concepção cultural e seus
procedimentos didáticos. Mas, também se abre a agenciamentos moleculares: a cultura dos
alunos, seus desejos, atitudes, falas, as disposições espaciais, temporais e os princípios
curriculares.” (BONETTO; NEIRA, 2019, p. 19-20)

3) Se tomarmos as linhas de segmentaridade como ferramentas para análise do currículo


cultural da Educação Física em ação, é correto dizer que os princípios ético-políticos
operam como linhas:

Abertas ou amplas.
Fortes ou potentes.
Duras ou molares.
-> Flexíveis ou moleculares.
Frágeis ou canalizadas.

JUSTIFICATIVA: ​No quesito linhas de força, vimos que a “escrita-currículo” não pode ser
apenas constituída de linhas de fuga, pois, por possuir linhas duras, perde-se em
intensidade e objetividade. Mapeamos que neste entrecruzar de linhas, a escrita curricular
é, sim, repleta de linhas molares, tais como as leis educacionais, as regras e normas do
regimento escolar, o Projeto Político Pedagógico, a concepção cultural e seus
procedimentos didáticos. Mas, também se abre a agenciamentos moleculares: a cultura dos
alunos, seus desejos, atitudes, falas, as disposições espaciais, temporais e os princípios
curriculares. (BONETTO; NEIRA, 2019, p. 19-20)

4) Leia o fragmento e as sentenças abaixo. Em seguida, assinale a alternativa correta:

“A ‘escrita-currículo’, tal qual a ‘escrita-artista’, encontra-se em fluxo constante. Nela não há


distinção entre teoria e prática. A teoria é tecida sobre a prática educacional. Todo
conhecimento delineado é interpretativo, parcial e processual. Vive um devir duradouro
continuamente modificado. O que se apresenta, portanto, longe de ser uma norma, é um
convite, como bem diz Corazza, para que os professores e professoras deem
prosseguimento à escrita-currículo que se anuncia.” (Neira e Nunes, 2009, p. 227, citados
por BONETTO; NEIRA, 2019, p. 12-13)

I. O conceito escrita-currículo se coloca como alternativa à homogeneização, às


representações e à fixação de signos da cultura dominante.
II. O conceito procura abalar as práticas pedagógicas prescritas, fixas, rígidas, tradicionais,
tecnicistas e procedimentais.
III. O conceito procura abalar as práticas pedagógicas acríticas, moralizantes, deterministas
e sequenciais.

Apenas as sentenças I e II são verdadeiras.


Apenas as sentenças I e III são verdadeiras.
Apenas as sentenças II e III são verdadeiras.
-> Todas as sentenças são verdadeiras.
Nenhuma sentença é verdadeira.
JUSTIFICATIVA: ​No âmbito da Educação Física escolar, o conceito “escrita-currículo”, “se
coloca como alternativa à homogeneização, às representações e a fixação de signos da
cultura dominante (...) o conceito procura abalar as práticas pedagógicas prescritas, fixas,
rígidas, tradicionais, tecnicistas, procedimentais, acríticas, homogeneizantes, moralizantes,
deterministas, sequenciais.” (BONETTO; NEIRA, 2019, p. 12-13)

5) Leia o fragmento e as sentenças abaixo. Em seguida, assinale a alternativa correta:

“A produção da ‘escrita-currículo’ depende dos questionamentos e interesses surgidos a


partir da tematização das práticas corporais e problematização das representações sobre
elas e seus sujeitos, que circulam na sociedade.” (BONETTO; NEIRA, 2019, p. 20)

I. Os professores e professoras sensíveis às linhas de força flexíveis fazem da


escrita-currículo um acontecimento sempre traduzido.

II. A escrita-currículo se singulariza quando os docentes se permitem influenciar pelos


enunciados inesperados emitidos pelos estudantes.

III. A escrita-currículo se torna diferente, distinta, especial, rara e única. Mas, essa unicidade
só existe se ela for tomada como um rizoma, ou seja, aberta para conexões (não tem início
nem fim, mas meio).

Apenas as sentenças I e II são verdadeiras.


-> Apenas as sentenças I e III são verdadeiras.
Apenas as sentenças II e III são verdadeiras.
Todas as sentenças são verdadeiras.
Nenhuma sentença é verdadeira.

JUSTIFICATIVA: ​“A produção da ‘escrita-currículo’ depende dos questionamentos e


interesses surgidos a partir da tematização das práticas corporais e problematização das
representações sobre elas e seus sujeitos, que circulam na sociedade. Atentos e desejando
tais agenciamentos, os professores e professoras sensíveis às linhas de força flexíveis,
fazem da ‘escrita-currículo’ um acontecimento sempre traduzido, continuamente
atravessado por vetores e diferentes sentidos que atribuem aos enunciados pedagógicos.
A ‘escrita-currículo’ se singulariza quando os docentes se permitem influenciar pelos
enunciados inesperados emitidos pelos estudantes. Ou seja, ela se torna diferente, distinta,
especial, rara e única. Mas, essa unicidade só existe se a escrita-currículo for tomada como
um rizoma, ou seja, aberta para conexões (não tem início nem fim, mas meio), heterogênea,
múltipla (sem unidades e definições territorializantes), sem eixos estruturais, pois promove
uma ruptura a-significante, cartográfica (pois funciona como um mapa) aberta, conectável,
desmontável, reversível e, por isso, impossível de ser decalcada ou copiada.” (BONETO;
NEIRA, 2019, p. 20)
Semana 7 - Situações didáticas na educação física cultural

Objetivos da semana: Quais os objetivos das situações didáticas desenvolvidas na


tematização das práticas corporais e como elas se relacionam com a prática corporal em si?

Algumas reflexões sobre as videoaulas

As situações didáticas na educação física cultural são: mapeamento, leitura das práticas
corporais, ressignificação, aprofundamento, ampliação, registro e avaliação.Todas essas
ações acontecem a qualquer momento e não necessariamente na sequência descrita e se
repetem durante o processo.

Mapeamento​: Mapear significa reconhecer o universo cultural corporal presentes naquela


comunidade, o que elas acessam, suas experiências, vivências. É um procedimento
detalhado, longo, delicado e é um passo importante para as definições das práticas
corporais que serão abordadas no período letivo.

Vivências​ são as propostas de práticas corporais definidas através dos mapeamentos feitos
nas aulas. Brincar uma brincadeira, demonstrar um esporte, dançar uma dança, etc. As
vivências podem ser iniciadas com vídeo, práticas exploratórias, vivências corporais das
brincadeiras, danças, esportes, etc

Leitura das práticas corporais​ é feita ao observar o que ocorre durante as aulas, assistir um
vídeo, fazer uma visita, atribuir sentidos e significados das práticas corporais e de como
elas acontecem.

Ressignificação​ é a reelaboração das práticas, sentidos e significados durante a produção


das práticas e manifestações sociais e culturais. É recriar, reelaborar.

Aprofundamento​ qualifica as Produções das práticas corporais é pode ser obtido por meio
de pesquisas, trocas de saberes, conhecer melhor a cultura e a prática corporal.
Ampliação​ é feita ao proporcionar fontes de informação que ofereçam outros significados
que até então as crianças não tinham acessado. Levar uma pessoa da comunidade escolar,
família que vivencia aquela prática corporal em seu dia a dia, para partilhar sua visão e
vivência. Ampliar as fontes de informações e significados ou seja qualificar convidando o
aluno a ter um outro olhar para aquela prática.

Avaliação ​é feita sobre o processo educativo e não sobre habilidades do aluno e suas
competências físicas. A avaliação é constante e durante todo o processo e a respeito do
trabalho realizado.

Registro​ é feito das mais variadas formas pelo professor e pelos alunos, reunindo
anotações, registrando os acontecimentos. É o que ajuda o professor a reorientar a rota,
decidir se vai continuar fazendo da mesma maneira ou se vai repensar suas ações e
procedimentos.
É necessário planejar para avaliar​. O registro e a avaliação caminham juntos e um não
existe sem o outro. A avaliação é a respeito do trabalho realizado e não aferição da
quantidade do que os alunos aprenderam durante o processo.

Texto: Desenvolvimento das situações didáticas

Ações didáticas inerentes aos currículos orientados culturalmente: mapeamento, leitura,


vivências, ressignificação, aprofundamento, ampliação, registro e avaliação.

Na Perspectiva cultural docentes e discentes assumem a autoria curricular. O ​docente


relaciona o tema de estudo, organiza as atividades de ensino, conduz o processo e
interpela os estudantes. Os ​discentes​ em posse de certas representações, negociam e
traduzem os conhecimentos veiculados conferindo os novos significados, sugerindo,
alterando, propondo e enriquecendo as aulas com participação.

O docente define a tematização da prática corporal Com base no patrimônio cultural


corporal da comunidade reconhecido por meio de um ​Mapeamento​.

Mapear é identificar quais práticas corporais estão disponíveis aos alunos e alunas, o que
se encontra no universo cultural destes. Tem o sentido de ​reconhecer saberes​ que os
Estudantes têm sobre determinadas práticas corporais. O mapeamento pode ser feito
através de conversas com a turma, observação do entorno da escola, pesquisas.Nesta
etapa deve-se sempre considerar os discursos dos Estudantes.

Mapear não é levantar conhecimentos prévios, mas identificar quais representações da


prática corporal selecionada para tematização que o alunado tem internalizado, tanto
características físicas, sociais, profissionais.

Fazer a ​leitura das práticas corporais​ é analisar, reconhecer e aceitar que o patrimônio
cultural corporal se encontra ​imerso ​em um emaranhado de ​relações e significados​ e sua
promoção como ação didática precede a ​crítica cultural. ​O docente deve organizar
atividades de leitura contextualizadas para explicitar olhares divergentes e por da
observação, análise, do contato com a prática corporal através de vídeos, textos e
reflexões, os alunos analisam e problematizam as práticas corporais.

Vivências​ são as expressões da gestualidade a partir das referências que os alunos


possuem. Fazer como já fez ou como se acha que deve fazer. Não há jeito certo ou errado
de se dançar uma dança, ou jogar um jogo. O currículo cultural da Educação Física não
preocupa-se com a performance motora estabelecida segundo padrões externos. O
importante é vivenciar a prática corporal.

Problematização - aprofundamento ​é a tomada de consciência enquanto os alunos agem,


trabalham, vivenciam a prática corporal. Os questionamentos das representações como
naturais ou inevitáveis,
“As naturalizações podem tornar as relações conflituosas entre as pessoas, provocando não
reconhecimento da multiplicidade de sujeitos e grupos presentes na sociedade.” (Santos
Junior, 2017)

Ressignificação​ é atribuir novos significados a uma manifestação produzida em outro


contexto com base na própria experiência cultural, posicionando os alunos como sujeitos
históricos e produtores de Cultura. A reconstrução coletiva da prática corporal
proporcionada aos estudantes é uma experiência concreta na dinâmica cultural. Não há
controle sobre a ressignificação que pode ocorrer a qualquer momento da tematização das
práticas corporais.

Ampliação​ implica recorrer a outros recursos, discursos, fontes de informação,


preferivelmente àqueles que oferecem olhares distintos dos que foram disponibilizados até
então. Ampliação elabora uma rede de conhecimento sobre o tema que é o principal
objetivo desta situação didática. Confrontação de repertório cultural, estímulo ao contato
com discursos divergentes para enriquecer as leituras realizadas. Participar de eventos,
visitas, explicações de convidados, contatos com artefatos, etc.

Ancoragem social dos conhecimentos​ ​(aprofundamento e ampliação)​ é a


compreensão do contexto social, histórico e político de produção e reprodução da prática
corporal em Foco, bem como a gestualidade empregada, as características e outras
nuances que possam interessar.
Ancoragem proporciona outros lugares e ajuda a desconstruir representações pejorativas,
distorcidas ou fantasiosas, eventualmente postas em circulação. ​Desconstruir não é
destruir​; desconstruir requer procedimentos de análise de discurso, tidas como universais e
inquestionáveis, põe a nú as ​relações entre discurso e poder​.

Registro ​facilita ao professor a retomada do processo de socialização dos saberes,


discussão em sala de aula e a reorientação dos encaminhamentos pedagógicos. Anotar
observações e reflexões sobre o que acontece nas aulas,especialmente as falas e posturas
dos Estudantes, possibilitam a reunião das informações necessárias para a avaliação do
trabalho realizado.
Avaliação​ apoia-se nos registros elaborados pelo docente ou discentes como anotações,
fotografias, vídeos e produções dos alunos que devem ser analisados cuidadosamente para
que a avaliação da prática educativa seja feita. O registro facilita a identificação das
insuficiências e dos alcances das situações didáticas propostas.

Na Perspectiva da pedagogia cultural da Educação Física não existe avaliação sem registro
e o docente deve organizar as atividades avaliativas finais (coreografias, vídeos,
apresentações, etc) para que se possa identificar os efeitos do processo vivido e a
participação e envolvimento dos Estudantes de forma não alienada.

Tal qual como o capoeirista, que elabora seus passos de acordo com as respostas e
leituras que faz do seu parceiro no jogo, na educação física culturalmente orientada, o
professor faz do planejamento um espaço vivo, ativo e imanente. As respostas vão surgindo
como reações, compreensões, leituras daqueles posicionamentos, e não são previamente
planejados.

Qualquer prática corporal pode ser tematizada e não há uma sequência apropriada para os
encaminhamentos pedagógicos. Realizado o mapeamento, o professor desenvolve
situações didáticas em que os estudantes possam vivenciar, ler e ressignificar a
manifestação, além de aprofundar e ampliar os conhecimentos a respeito. A docência
culturalmente orientada dá vazão ao pensamento e a ação, concebe cada situação didática
como um encontro, um acontecimento em que se cultivam a liberdade e a expressão.

Texto: Avaliação e Registro no currículo Cultural de educação física (Muller e Neira)

A avaliação pode assumir um caráter classificatório e excludente e até mesmo um caráter


investigativo e analítico. Na Perspectiva do currículo culturalmente orientado, o caráter
investigativo e analítico implica desprendimento da quantificação, da atribuição de valores
para aprendizagens ditas bem-sucedidas e classificação dos Estudantes.

A rota docente no currículo cultural, abarca todas as identidades e culturas, não buscando
tolerar, mas a valorizar verdadeiramente suas práticas e sujeitos. No currículo Cultural de
educação física as aulas passam a ter como objetivo contribuir para a leitura dos signos
presentes nas práticas corporais, bem como na produção de novas manifestações
corporais, ampliando o repertório cultural dos sujeitos do processo ao acessarem alguns
códigos de comunicação de outras culturas.

O professor que aplica o currículo culturalmente orientado é influenciado pelos princípios


éticos políticos que ganham materialidade em atividades de ensino específicas:

1) Reconhecimento das identidades culturais dos estudantes;


2) Justiça curricular - esforça-se para equilibrar as práticas sem que se privilegie
determinados conhecimentos em detrimento de outros;
3) descolonização do currículo que ocorre através da tematização de práticas corporais dos
grupos subalternizados que estão ausentes nos currículos;
4) evitar daltonismo cultural ou seja, enxergar a heterogeneidade presente nas salas de
aula;
5) ancoragem social dos conhecimentos que analisa o lastro político e histórico das práticas
corporais na sociedade.

As práticas pedagógicas do currículo Cultural São:

1) mapeamento​ do universo cultural e corporal da comunidade; na


2) leitura das práticas corporais​ - ocorrência da manifestação tematizada é
submetida a análise;
3) vivências / ressignificações​ - experimentações das práticas corporais
sistematizadas e reconstrução das mesmas;
4) aprofundamento​ - conhecimento mais detalhado das práticas corporais;
5) ampliação​ - acesso a outros pontos de vista sobre o tema;
6) registro e avaliação​ - documentação da trajetória percorrida que permitirá o exame
detalhado do processo e as considerações sobre seus efeitos no alunado.

Formas de registro na educação física culturalmente orientada: ​caderno de registro


(material empírico de documentação e consulta exclusivo do docente), ​gravações de voz,
vídeos, fotos e anotações em aplicativos​ (feitas pelo docente e pelos alunos), ​portfólios
(feitos pelo docente e pelos alunos). Os portfólios favorecem a formação de sujeitos
autônomos e conscientes de seus processos de aprendizagem, já que possibilitam ao aluno
reconhecer e controlar controlar a própria aprendizagem.

Nas práticas tradicionais de ensino, os registros têm caráter fiscalizatório para a avaliação,
codificando notas para a produção de sentido, atribuindo valor na participação.

A avaliação na perspectiva cultural da Educação Física distancia-se do viés classificatório e


excludente presentes nas práticas tradicionais e, como recurso para avaliação, ​o registro é
atento​ aos desenvolvimentos das atividades de ensino (vivências, significações,
pesquisas, registros dos alunos, etc) permite ao docente identificar a insuficiência, limites,
acertos e ganhos conquistados por meio das atividades de ensino além de fornecer
informações que subsidiam possíveis modificações na prática pedagógica. (escuder, 2011,
p. 101). Leva-se em conta todo o percurso e não somente o resultado.

Análise da Rota docente

Pesquisar com as crianças​ é uma forma de ampliar os conhecimentos acerca da prática


corporal tematizada, pois fornece argumentos necessários a uma análise crítica sobre os
fatores que impulsionam diferentes práticas nos diferentes espaços. Possibilitam a leitura,
interpretação e ação.

Promoção da Justiça curricular​ cumprindo a função de incluir outras formas de


representação das práticas corporais a fim de desestabilizar a hegemonia pelas práticas
euro-centradas, euro-estadunidenses em detrimento das produzidas e reproduzidas por
outros povos.
As​ Vivências​ assumem um papel fundamental para que os estudantes percebam que as
diferentes práticas corporais assumem significados distintos de acordo com o seu contexto
de ocorrência. Trata-se de levar em conta a ​ancoragem social dos conhecimentos​.

Um ​artefato​ constituído em uma cultura passou por todo o processo de significação dentro
do grupo que o formulou e outros grupos podem não entender esses significados ou
tratá-los de forma pejorativa sem ao menos conhecê-los.

A análise do material produzido ajuda a evitar o ​daltonismo cultura​l, trazendo outro outros
Olhares Sobre as práticas culturais.

O caderno de registros oferece orientação sobre o caminho a seguir na rota percorrida pelo
professor e seus alunos oferecem insumos para refletir a avaliação. Planejar é estabelecer
caminhos que norteiem mais apropriadamente a execução da ação Educativa. Não se pode
pensar em uma prática docente enrijecida.

Semana 8 - Conteúdos da Educação Física Cultural

Objetivos da semana: “reconhecer a singularidade dos conteúdos na Educação Física


cultural”.

Algumas reflexões sobre as videoaulas

O que vem a ser conhecimento (conteúdo) na perspectiva cultural da Educação Física?

A trajetória que você percorreu possibilitou conhecer os vários aspectos que caracterizam
um ensino de Educação Física sintonizado com a sociedade contemporânea, multicultural,
globalizada, democrática e profundamente desigual. Nesse contexto, a escola tem
reconfigurado a sua função social e buscado formar as pessoas para compreender a
sociedade, identificar e combater suas injustiças e, principalmente, afirmar as diferenças.
Após estudar a constituição das identidades corporais, as pedagogias do corpo e as
concepções de ensino da Educação Física, o curso assumiu um posicionamento
teórico-metodológico culturalmente orientado. A partir daí, você estudou os campos de
inspiração da proposta, as noções de tematização, problematização e desconstrução que
ela adota, seus princípios ético-políticos e as situações didáticas que a caracterizam.

Os conhecimentos (conteúdos) acessados pelas crianças durante a experiência pedagógica


com o currículo cultural da Educação Física ​extrapolam o simples saber fazer​, que
caracterizou outras concepções de ensino. Os saberes acessados na Educação Física
cultural ​advêm de fontes variadas​, ​sem conceder privilégio a nenhuma​. Tão importante
quanto a informação extraída de um livro que aborda a história de uma brincadeira, dança,
luta, esporte ou ginástica, é a “técnica” empregada por uma criança para realizar quaisquer
dessas manifestações, ou rituais, formatos, mudanças, bem como tudo o que se diz sobre a
prática corporal e seus participantes.

Nessa proposta, não existe um conhecimento (conteúdo) que deva ser obrigatoriamente
ensinado, tampouco um conhecimento (conteúdo) melhor que outro. Justamente por isso
muitas pessoas apresentam ressalvas ao currículo cultural. Entretanto, não é tarde para
lembrar que se trata de uma proposta inspirada nas teorias pós-críticas, que colocam em
xeque as certezas, os conhecimentos científicos, o positivismo e toda a herança moderna
que marcou a história da educação escolar.

Avaliações educacionais priorizam a produção de ‘seres-máquinas’, com uma educação


voltada só pensamento lógico e científico. Maria Sylvia di Pietro e o mito da Verdade
homogeneizante: cada pessoa singular e uma prova acaba por tratar todos, ou melhor,
avaliar todos por um mesmo critério, sem conhecer o modo particular de cada um.

Segundo Sacristán, ‘​conteúdo é tudo o que ocupa o tempo escolar​’.


Construção social​ o que é determinado por saberes valorizados em determinado tempo e
por grupos sociais.

Cultura corporal​ surge com viés crítico com base e influência e estudos das teorias
críticas, empodera professores para repensar as práticas nas aulas de Educação Física.
Não há suavidade. Cultura corporal é toda a produção discursiva, verbal e não-verbal,
acerca de práticas culturais; gestos, regras, locais.

Conhecimento ​- Os conteúdos acessados na educação física Cultural são resultados dos


encontros e de significações diferentes (Culturas das gentes - FOUCAULT). São saberes
múltiplos, variados e tensionados constantemente. Não há conteúdos pré-estabelecidos e o
conteúdo é tudo que ocupa o tempo escolar. Os conteúdos emergem a partir dos estudos
das práticas corporais que são inspiradas pelo projeto político pedagógico da escola e no
repertório cultural e corporal da comunidade escolar e seu entorno.

As​ ações didáticas têm objetivos democratizantes​, pois busca respeitar e reconhecer
todos os corpos e identidades, culturas e práticas corporais.

Tematização do Samba com os alunos da Escola Nelson Mandela


- Situada na zona norte de São Paulo, a escolas fica próxima a 3 quadras de escola de
samba e este é um universo cultural acessado por boa parte dos alunos da turma.

- PPP da escola - promoção da igualdade racial e de gênero - agenciamentos ético-políticos


(debate sobre a origem do samba, escravização dos africanos no Brasil, racismo, papel da
mulher nos desfiles de carnaval)

Texto Educação física e cultural - Emergência dos conteúdos

Os conhecimentos emergem à medida que se desenvolve a tematização das práticas


corporais. Segundo Gimeno Sacristán, “​conteúdo é tudo aquilo que ocupa o tempo escolar”​ .
Enquanto ​construção social​, o que se ensina, se sugere ou se obriga a aprender,
expressa aos valores e funções que a escola​ difunde em um contexto histórico concreto.
A educação física cultural potencializa o contato com diversos saberes, e não apenas com
os hegemônicos e legitimado, combate o fascismo cultural evitando privilegiar apenas
alguns valores e conhecimentos.

As situações didáticas culturalmente orientadas não abrem mão de descrever examinar


pontos de vistas a favor e contra buscando trazer para o debate diversos ​textos culturais
como TV, revistas, saberes e viveres.

Os conhecimentos legitimados - hegemônicos, universais, reconhecidos - aquele


conhecimento que tradicionalmente preenche os currículos convencionais, o conhecimento
científico podem ajudar a promover o “fascismo social que faz alusão a um regime social de
relações de poder extremamente desiguais que concedem à parte mais forte o privilégio de
vetar a vida e o modo de viver da parte mais fraca.” (Santos Souza, 2007)
Na condição de ​artefato cultural​ qualquer prática corporal veicula concepções que, sem
devida atenção, insuflam tendências segregacionistas ou integracionistas, que tanto podem
reforçar o preconceito e a injustiça social quanto valorizar o direito à diferença (Nunes,
2018)

Ao fazer a desnaturalização de significados pré-estabelecidos como questões de gênero,


raça e etnia, religiosas, etc, através das problematizações, é possível identificar e analisar
aspectos das práticas corporais e nas suas construções, a afirmação e a exclusão de
determinadas identidades.

Uma pedagogia que ajuda a entender a produção das diferenças e apreciar os princípios da
Equidade não constrói consensos, pois prefere a noção de solidariedade, conceito bem
mais inclusivo e transformador.

O esforço de compreender os esquemas sociais daqueles que pensam e agem de forma


distinta, possibilita o conhecimento mais profundo dos próprios sistemas de crenças
conceitos e preconceitos, promovendo o combate à guetização dos conhecimentos,
constatado no tratamento exótico ou folclórico das práticas corporais e culturais de certos
grupos.

O pensamento ​pós-abissal ou o aprender do Sul (utiliza a epistemologia do SUL, dos


países colonizados)​ confronta a monocultura da ciência moderna como uma ecologia de
saberes que privilegia a heterogeneidade dos conhecimentos, as interações sustentáveis e
dinâmicas entre saberes populares, urbanos, camponeses, indígenas, etc.

A​ pedagogia culturalmente orientada​ é tecida ​rizomaticamente​, não estabelece começo


nem fim para o processo de conhecer, podendo se conectar a qualquer assunto, se
relacionando com múltiplos elementos e em diversos aspectos. Inspira-se nas teorias
pós-críticas e requer entender que as práticas corporais foram produzidas em um dado
contexto sócio-histórico, com determinadas intenções, ressignificando se com o passar do
tempo e pelas micro-relações travadas no seio da macro-estrutura social.
Não poderá existir justiça social se não houver justiça cognitiva, não podendo esta
basear-se na mera distribuição do conhecimento dominante. “Intercambiar discursos que
cercam as práticas corporais não é uma tarefa das mais fáceis, requer atitude política e
engajamento social, requer um certo gosto pelo conflito, uma vontade de desestruturar uma
condição posta como normal”. (Nunes, 2018, p.139)

Texto: Embates em torno do conceito de cultura corporal: gênese e transformações​ -


(Marcos Garcia Neira e Lilian Cristina Gramorelli)

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