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LOCAIS DA MEMÓRIA:

Locais da memória: histórias do esporte moderno


Ensaios
HISTÓRIAS DO ESPORTE
MODERNO.
Silvana Vilodre Goellner1

Resumo: Este texto objetiva destacar a pesquisa histórica como uma possibilidade de narrar e analisar o esporte moder-
no. Para tanto analisa a relação entre memória e história bem como a vinculação deste fenômeno cultural com a tradição
e com o espetáculo. Por fim, elenca uma série de “locais da memória” existentes no Brasil cujos acervos traduzem-se em
importantes fontes de consulta e pesquisa.
Palavras-chaves: Memória/ História/ Esporte

INTRODUÇÃO

Abordar a história como uma possibilidade de mação remete a um primeiro desafio a ser enfren-
analisar e compreender o esporte moderno pare- tado por aqueles/aquelas que pretendem estudar
ce ser redundante visto que, como um fenômeno o esporte a partir da(s) sua(s) história(s) visto que
cultural com grande abrangência e visibilidade no não basta apenas evitar o esquecimento. Ou seja,
cenário mundial, o esporte desde há muito tempo não basta resgatar e preservar a memória (ainda
provoca diferentes rememorações sobre feitos que essa seja tarefa necessária) mas, fundamen-
humanos bastante específicos. São muitas as his- talmente, há que lhe conferir significações,
tórias que sobre ele foram e são construídas em contextualizá-la no seu tempo, analisá-la, permi-
diferentes tempos e culturas. Histórias que se tir que dela originem-se diferentes interpretações.
alicerçam em diferentes fontes: documentos, re-
gistros oficiais de competições e instituições, fo- Nesse sentido se torna fundamental esclarecer
tografias, súmulas, diários, reportagens, depoi- que a história, é aqui entendida como um campo
mentos de quem viu, viveu e sentiu diferentes acadêmico que estuda o ser humano no tempo.
possibilidades do acontecer deste importante ele- Ou, ainda, um campo teórico que, através de di-
mento da cultura corporal. ferentes abordagens, permite reconstruir um tem-
po que já passou e cujos vestígios podem narrar
Recorrer à histórica como um aporte teórico esse tempo. Recorrer, portanto, à pesquisa histó-
para analisar o esporte pressupõe ampliar a com- rica para melhor conhecer o esporte moderno sig-
preensão de que ela se caracteriza como um amon- nifica recorrer a textos, imagens, sons, objetos,
toado de curiosidades sobre algum tema ou ainda monumentos, equipamentos, vestes, ou seja, -
que se limite ao registro de dados da memória, memórias - entendendo-as como possibilidades
seja ela individual, coletiva, de grupos, institui- de compreender que ali estão inscritas sensações,
ções, clubes, comitês olímpicos, nações. Essa afir- ideologias, valores, mensagens e preconceitos que

1. Doutora em Educação e professora da Escola de Educação Física da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Diretora do Centro de
Memória do Esporte da mesma instituição e Coordenadora do GRECCO
Grupo de Estudos sobre Cultura e Corpo. Pesquisadora do CNPq
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

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permitem conhecer parte do tempo onde foram feita no presente bem como também são constru-
produzidos e que podem nos auxiliar a compre- ções do presente as fontes historiográficas, na
ender um tempo pouco conhecemos medida em que elas são sempre forjadas, lidas e
(GOELLNER, 2003). Significa perceber que, ain- exploradas no presente, com os filtros do presen-
da que o esporte tenha adquirido centralidade na te. Por isso as fontes também são construídas pe-
vida moderna, ele não é invenção do presente. los historiadores, da mesma forma que ocorre
Resulta de conceitos e práticas há muito quando são escritas as versões da história
estruturadas no pensamento ocidental cujos sig- (JENKINS, 2004). Por esta razão, pesquisar his-
nificados foram e são alterados não só no tempo tória é, também, lançar-se a um trabalho que exi-
mas também no local onde aconteceram e acon- ge dedicação, rigor, disciplina, domínio teórico,
tecem. riqueza de fontes, habilidade argumentativa, ca-
pacidade de análise e de interpretação, ao mesmo
Pesquisar o esporte a partir do recorte históri- tempo e com a mesma intensidade, que demanda
co é, e por que não pensar assim, construir um paixão, entrega e ousadia. É jogar-se à diversida-
passeio por um tempo que é passado e é presente de das fontes movido por uma atitude que vê ali
pois, apesar de distante na cronologia, carrega algo a ser revirado, remexido, futricado, conheci-
em si proximidades com representações, concei- do, imaginado, interpretado, visto.
tos e preconceitos, formulações teóricas, constru-
ções estéticas, políticas e ideológicas desse tem- Vale lembrar que a história enquanto área de pro-
po que é hoje e que é nosso. É procurar nos frag- dução do conhecimento pode qualificar de forma
mentos do passado, vínculos e persistências com inequívoca os estudos desenvolvidos acerca do es-
o presente e o futuro, não no seu desenrolar con- porte moderno visto que ao rememorar o passado
tínuo e cronológico mas na descontinuidade dos pode colaborar para a compreensão do presente e,
enlaces que entre eles se vão construindo (BEN- quem sabe, ajudar na projeção do futuro. E aqui não
JAMIN, 1994). E que são pelo sujeito-pesquisa- se afirma ser a história algo linear, onde os fenôme-
dor construídos. Afinal, os registros históricos são nos vão se desenvolvendo ou “evoluindo”. Ao con-
sempre construções de determinadas pessoas e trário, a história é entendida como um campo pleno
resultam de escolhas, seleções e modos de ver de de avanços e recuos, contradições, persistências e
quem as produziu. O que significa afirmar que as rupturas. Perceber, esse movimento é conferir ao
fontes históricas nunca são completas ou estão esporte uma multiplicidade de olhares; olhares estes
esgotadas e que as versões historiográficas nunca que não apenas o divulgam e o tornam mais conhe-
são definitivas, pois podem ser lidas de forma cido mas que também ampliam saberes sobre ele,
diferente por diferentes sujeitos, em diferentes seduzem sujeitos a praticá-lo ou observá-lo, edu-
épocas. Razão pela qual a memória esportiva pode cam crianças e jovens. Nesse sentido é possível afir-
se caracterizar como uma rica fonte de investiga- mar que a memória e a história não nos aprisionam
ção para os estudos historiográficos visto que ela ao passado mas nos conduzem à indagar e melhor
possibilita a emergência de muitas histórias! É compreender o presente.
fonte inesgotável de narrativas sobre o esporte e
suas interfaces com a cultura, educação, ética, na-
ESPORTE MODERNO: ENTRE
cionalidade, ritos, simbologias, e poderíamos ci-
A TRADIÇÃO E A
tar vários outros temas.
ESPETACULARIZAÇÃO
Ao fazer essas afirmações acerca da pesquisa
histórica estou referendando a compreensão de Conhecer o esporte moderno a partir do olhar
que a história é uma narrativa. É uma construção historiográfico possibilita, como venho afirman-

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do, múltiplas abordagens visto que essa matriz quando é representado como promessa de felici-
teórica permite análises específicas capazes de evi- dade, ascensão social, marketing pessoal, domí-
denciar as rupturas e continuidades que integra- nio tecnológico, reconhecimento nacional e afir-
ram o movimento esportivo desde a sua criação. mação política de determinado país ou ideologia.
Ou seja, possibilita, por exemplo, compreender
que em torno do esporte moderno há ênfases tan- Essa ambigüidade presente no esporte resulta,
to da tradição como do espetáculo e estas ênfases em parte, da sua própria história. Vale ressaltar
colocam em ação diferentes paixões, sentimen- que o esporte que hoje vivenciamos é aquele que
tos, atitudes, desejos e vontades (LOVISOLO, se consolida no fim do século XIX e início do
2004). XX e que se traduz como signo de uma sociedade
que enaltece os desafios, as conquistas, as vitóri-
É inegável o potencial de mobilização que o as, o esforço individual. É o “esporte moderno”,
esporte apresenta na contemporaneidade. Não que se origina no século XVIII e expressa-se nas
precisamos de muito esforço para identificar que public schools inglesas, espaço de construção dos
na sociedade atual, esta prática corporal se cons- corpos e dos valores burgueses. O esporte que
titui como um espaço social a mobilizar pessoas passa a ser ensinado consoante as regras sociais e
de diferentes etnias, gêneros, idades, classes so- morais daquele tempo e que, ao modificar alguns
ciais, credos religiosos, seja como participantes/ dos antigos jogos populares, impõe a necessida-
praticantes seja como espectadores. Os eventos de de uma educação do corpo e do espírito dos
esportivos são exemplares dessa afirmação pois jovens de forma a despertar lideranças e a perso-
neles podemos visualizar uma espécie de expres- nificar, em carne e osso, os ideais representativos
são pública de emoções socialmente consentidas: de um grupo social específico (GUTTEMANN
o frenesi, o congraçamento, a rivalidade, o êxta- apud BRACHT 1997).
se, a violência, a frustração, a explosão em aplau-
sos e lágrimas de sentimentos que fazem vibrar a Signo de distinção social, o esporte passa a ser
alma dos sujeitos e das cidades no exato momen- um estilo de vida cujos elementos constitutivos
to em que vivificam a tensão entre a liberação e o são expressos na comparação das performances
controle de emoções individuais. atléticas e dos resultados, no estabelecimento e
submissão às regras fixas, na especialização e na
Esse demarcado interesse que o esporte des- hierarquização de papéis e funções, entre outros
perta nos indivíduos parece cumprir com o que tendo no olimpismo um campo de reafirmação
Norbert Elias e Eric Dunning (1992; 1995) defi- de sua expressão, institucionalização e consoli-
niram de “destruição da rotina” na medida em que dação. Entendido aqui como um movimento que
possibilita uma espécie de excitação agradável nasce no final do século XIX cuja intervenção se
promovendo, em certa medida, um sentimento de dá na organização e promoção de valores agrega-
identificação coletiva. Para além destas possibili- dos à prática esportiva e que tem nos Jogos Olím-
dades poderíamos pensar na própria promoção do picos sua expressão máxima, o olimpismo, hoje,
espaço esportivo como um terreno de virtuosas é um terreno pleno de ambigüidades pois ao mes-
visibilidades visto que em torno do esporte, em mo tempo em que procura assegurar uma certa
especial de alto rendimento, há a construção de tradição oriunda da Grécia Clássica, convive com
representações que associam seus protagonistas a a espetacularização do esporte que, em diferentes
figuras heróicas que, mediante intenso esforço situações, distancia-se radicalmente dos valores
pessoal, conquistaram um lugar ao sol num mun- agregados às competições de outrora. (Bracht,
do pleno de adversidades. O esporte opera tam- 1997; DaCosta, 2000; TAVARES, 2001)
bém, ao nível do imaginário individual e coletivo Ainda que possamos falar em um certo “espí-

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rito olímpico” identificando-o com amadorismo, È necessário lembrar que a complexidade do
o fair-play, a confraternização entre povos, a mundo contemporâneo, o crescente e rápido pro-
exaltação à identidade nacional, à promoção da cesso de individualização do sujeito urbano, o
paz, na atualidade é necessário ressignificar esses acelerado ritmo das modificações tecnológicas, a
termos visto que, não é mais possível entendê-los profusão de informações a interpelar homens e
nem como foram idealizados na Grécia Clássica, mulheres cotidianamente e mesmo a superficiali-
nem como foram recriados no contexto europeu dade com que, muitas vezes, essas informações
do século XIX. Há aí um tempo decorrido e, nes- são veiculadas tem diminuído o poder seletivo da
te tempo, outros sentidos e outros significados memória, ou seja, a capacidade de eleição do que
foram se agregando ao esporte alterando, por con- é ou não importante armazenar. Tal perda tem sido
seqüência, muitos de seus valores e, talvez, de seus apontada, por profissionais que atuam no campo
princípios éticos pois o esporte não é algo em si! da informação, como um elemento a colaborar
Isto é, não existe uma essência esportiva na estruturação de sociedades do esquecimento
revitalizada a cada competição ou a cada edição (SIMSON, 2001).
dos Jogos Olímpicos. O esporte é plural e mani-
festa-se de diferentes maneiras em diferentes cul- Por essa razão tornam-se fundamentais, para a pre-
turas e tempos e a essas manifestações agregam- servação da memória e a construção de histórias, os
se múltiplos valores. Solidariedade, consagração, museus, centros de informação e documentação, bem
celebração, são palavras por demais positivas se como os acervos e as coleções particulares, identifica-
pensarmos nas zonas de sombra que também re- dos, neste aqui como “locais da memória”.
sidem no interior do mundo esportivo. Naciona-
lismos exacerbados, exploração comercial e eco-
nômica, corrupção, especialização precoce,
MEMÓRIA ESPORTIVA NO
doping, violência, discriminação sexual também BRASIL: INICIATIVAS
tem sido temas a fazer parte do cotidiano espor- PIONEIRAS2
tivo mesmo que, por vezes, os minimizemos e
busquemos, a todo custo, recuperar a tradição e No Brasil, desde há algum tempo podemos
com ela fazer valer o que do esporte pode ser iden- identificar iniciativas no que respeita a recupera-
tificado como promotor de uma humanidade ção, preservação e socialização de dados referen-
imanente a cada um de nós. tes à memória esportiva brasileira, inclusive a
memória olímpica. Em uma primeira fase estas
Enfim, compreender o esporte não como “algo iniciativas se estruturam a partir de interesses in-
em si” mas como um produto histórico e cultural dividuais de colecionadores e aficionados pelo
sobre o qual são atribuídas diferentes significações esporte cujos acervos, em sua maioria, encontram-
é pensar que não existe a “História do Esporte” mas se ainda sem acesso público. Destaco, aqui, algu-
que muitas histórias são possíveis de serem narradas mas dessas iniciativas:
e que estas dependem não apenas do referencial teó-
rico que orienta o olhar de quem narra mas, funda- 1) o acervo de Gerson Sabino, jornalista de
mentalmente, da qualidade das fontes acessadas. Belo Horizonte, que desde a década de 30 coleci-
Razão pela qual se tornam fundamentais para os es- onou artefatos relacionados ao futebol visto ter
tudos históricos aquilo que alguns autores têm de- participado de todas as Copas do Mundo até o
nominado de “locais da memória” (BOSI, 1988). ano de sua morte, em 1998. Gerson reuniu um

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Essas informações foram colhidas para compor o Atlas do Esporte no Brasil: Atlas do esporte, educação física, atividades físicas de saúde
e lazer no Brasil, organizado por Lamartine Pereira da Costa e publicado em 2004 pela Editora Shape. Encontram-se, portanto, registradas
no Atlas.

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vasto material referente a essa modalidade espor- do professor Lamartine Pereira da Costa, com-
tiva organizando uma coleção particular que está posta por obras bastante preciosas no que respei-
sob responsabilidade de sua família; ta à memória e a história do esporte moderno.

2) a coleção de livros de Mario Cantarino, lo- Para além dos acervos particulares, os clubes
calizada em sua residência na cidade de Brasília. esportivos desempenham, desde os anos 80 do
O professor Mário começou a reunir diferentes século XX, um importante papel na preservação
obras desde o final dos anos 40, reunindo um acer- da memória esportiva e olímpica do Brasil. Des-
vo bibliográfico que se constitui, hoje, na maior tacam-se, por exemplo, Arquivo Histórico do Clu-
biblioteca particular do Brasil sobre Educação be Espéria, de São Paulo (1989) http://
Física e esportes. Com aproximadamente 4000 www.esperia.com.br/; o Museu do Grêmio
livros, grande parte deles editados entre 1930- Football Porto Alegrense (1988) http://
1950, possui ainda algumas obras raras tanto na- www.gremio.net/; o Centro de Memória Centro
cionais como internacionais; de Memória Hans Nobiling, ligado ao Esporte
Club Pinheiros, em São Paulo (1991) - http://
3) Nos anos 60, é importante registrar a w w w. p i n h e i r o s . o r g . b r / a r e a _ m e m o r i a /
estruturação de outro acervo esportivo particular: atendimento.asp; o “Memorial Sogipa” pertencen-
o “Museu de Educação Física”, organizado pelo te à Sociedade de Ginástica Porto Alegre que se
professor Jair Jordão Ramos de modo informal e identifica pela sigla SOGIPA (1992) - http://
particular, na sua própria residência, no Rio de www.sogipa.esp.br/; o Flu-Memória, vinculado ao
Janeiro. Fluminense Football Club, no Rio de Janeiro
(1995) - http://www.flu.com.br/; Centro de Do-
4) Neste mesmo período, na cidade de Porto cumentação do Comitê Olímpico Brasileiro
Alegre, o médico Henrique Licht, iniciou uma (1996) - http://www.cob.org.br/ e o Acervo His-
importante coleção sobre esportes organizando um tórico do Minas Tênis Clube (1997) - http://
acervo de aproximadamente 8000 referentes à www.minastenis.com.br/. Estes clubes apresentam
história dos esportes olímpicos e não olímpicos os acervos organizados e disponibilizados para
tanto mundiais como nacionais e regionais. Esse consulta pública. Por certo vários outros clubes
acervo foi doado, em novembro de 2002, ao Cen- poderiam ser citados mas talvez ainda não o fo-
tro de Memória do Esporte da Escola de Educa- ram porque a sistematização, catalogação e recu-
ção Física da Universidade Federal do Rio Gran- peração dos acervos não estejam em condições
de do Sul e está disponível para consulta e pes- suficientes para a garantir o acesso e a consulta
quisa. aos materiais que abrigam.

Como iniciativa individual de preservação da Como locais da memória esportiva são impor-
memória esportiva brasileira cabe ainda ressaltar tantes, ainda, as diferentes iniciativas
o acervo de Roberto Gesta de Melo, atual Presi- institucionais que despontaram no Brasil a partir
dente da Confederação Brasileira de Atletismo, dos anos 80. Iniciativas estas vinculadas a órgãos
cuja coleção particular reúne, em sua residência, públicos como, por exemplo, o Centro de Me-
na cidade de Manaus, documentos e objetos olím- mória Esportiva “De Vaney” vinculada a Secre-
picos com ênfase no atletismo destacando-se vá- taria Municipal de Esportes de Santos (1993),
rios itens do acervo pessoal de Ademar Ferreira cujo acervo engloba material a partir de 1938 -
da Silva - grande atleta brasileiro e bi-campeão http://www.urbo.com.br/cmedevaney/. E, mais re-
olímpico no salto triplo. Além desses acervos centemente, os centros de documentação e me-
particulares figura como importante a biblioteca mória vinculadas às Universidades como, por

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exemplo, o Centro de Memória do Esporte da CONCLUSÕES
Escola de Educação Física da Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Sul – CEME - http://
Se pensarmos na potencialidade que esses
www6.ufrgs.br/esef/ceme/index.html; o Centro
acervos têm no sentido de se constituírem tanto
de Memória da Escola de Educação Física e Des-
como locais da memória como locais para o de-
portos, vinculado à Escola de Educação Física da
senvolvimento de projetos educativos relaciona-
Universidade Federal do Rio de Janeiro (2001) -
dos ao esporte podemos perceber que os inúme-
http://www.ceme.eefd.ufrj.br/. O Centro de Me-
ros desafios colocados à memória e a história do
mória da Educação Física – Universidade Fede-
esporte moderno no Brasil e América Latina.
ral de Minas Gerais – CEMEF- UFMG (2001) -
Nesse sentido torna-se ser urgente efetivar algu-
http://www.eef.ufmg.br/; e o Arquivo Maria Lenk
mas ações como, por exemplo:
que opera sob responsabilidade da Biblioteca da
Pós Graduação em Educação Física da Universi-
1) o mapeamento dos acervos particulares e
dade Gama Filho.
públicos;

Cabe ainda ressaltar o projeto do Museu Olím-


2) a identificação de acervos particulares e a
pico do Comitê Olímpico Brasileiro além de ini-
tentativa de que sejam cedidos/vendidos para ins-
ciativas do setor de informações esportiva, as
tituições cujo acesso seja público, não só aos pes-
quais tem convergido para congregar a memória
quisadores mas a todos que se interessam pela
com a informação compartilhada. Exemplos atu-
memória esportiva;
ais desta intervenção no Brasil são: Sistema Bra-
sileiro de Documentação e Informação Desportiva
3) a implementação de projetos
- SIBRADID, sediado a Escola de Educação Fí-
interinstitucionais e entre grupos de estudos cuja
sica da UFMG - http://www.sibradid.eef.ufmg.br/
temática relaciona-se à Memória e a História Es-
; o Núcleo Brasileiro de Dissertações e Teses -
portivas, estabelecendo uma rede de informações
NUTESES, o acesso às informações referentes à
a ser partilhada não só aos grupos mas a quem
produção científica, dissertações e teses, da área
delas desejar acessar via recursos computacionais;
de Educação Física, Esportes, Educação e Edu-
cação Especial - http://www.nuteses.ufu.br/
4) a ampliação de ações dos grupos de pes-
index3.html; o Centro Esportivo Virtual – CEV -
quisa em história do esporte e das diferentes prá-
http://www.cev.org.br/; o REFELNET, Revistas
ticas corporais hoje existentes no Brasil e na
de Educação Física, Esporte e Lazer On-line –
América Latina objetivando, para além da ativi-
vinculado à Escola Superior de Educação Física
dade de pesquisa, a realização de ações como:
de Muzambinho-MG - http://
exposições e oficinas temáticas a serem desen-
www.efmuzambinho.org.br/ref.asp; e o CEDIME
volvidas em escolas, clubes, parques, praças, etc
Centro de Documentação e Informação Esporti-
sensibilizando crianças e jovens para a preserva-
va do Ministério do Esporte que foi criado em
ção da memória esportiva local bem como a cons-
2003 e encontra-se em fase de estruturação. Este
trução de histórias a ela relacionadas;
Centro constitui-se em um sistema virtual que
busca aglutinar informações relacionadas ao es-
5) a organização de bancos de dados acerca da
porte nacional objetivando potencializar ações
história esportiva nacional sua disponibilização
direcionadas para a gestão esportiva - http://
através de recursos computacionais. Criação de
www.esporte.gov.br .
home-pages, publicações on-line, CDRoms, etc;

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BRACHT, Valter. Sociologia crítica do Esporte: uma

Locais da memória: histórias do esporte moderno


Ensaios
6) a organização de acervos de depoimentos
introdução. UFES: Centro de Educação Física e
com pessoas que tiveram e tem significativa im-
Desportos, 1997.
portância na construção/consolidação da história
esportiva (atletas, dirigentes, entusiastas, jornalis- BOSI, Eclea. Memória e sociedade: lembranças de
velhos. São Paulo EDUSP, 1988.
tas, colecionadores, etc);

7) o fomento à pesquisa sobre a memória es- DACOSTA, Lamartine P. O historiador e o geógrafo


Pierre de Coubertin: a América do sul no contexto da
portiva de uma região, comunidade, cidade e in-
globalização do Movimento Olímpico. In: Turini,
centivo a reconstrução de histórias particulares e Márcio e DaCosta, Lamartine P. Coletânea de Textos
específicas; em Estudos Olímpicos. Volume I. Rio de Janeiro:
Editora Gama filho, 2002.
8) o incentivo, por parte dos Comitês Olímpi-
cos, de instituições de fomento e empresas priva- DACOSTA, Lamartine P. Atlas do Esporte no Brasil:
Atlas do esporte, educação física, atividades físicas de
das aos grupos de Pesquisa em Memória e Histó-
saúde e lazer no Brasil. Rio de Janeiro: Shape, 2005.
ria bem como aos centros de memória, documen-
tação e informação esportivas, objetivando qua- ELIAS, Norbert e DUNNING, Eric. A busca da
excitação. Lisboa: Difel, 1992.
lificar suas intervenções.

Enfim, se muito já foi feito ao pensarmos na _____. Deporte y ócio em el processo de la


civilización. México: Fondo de Cultura Economica,
memória e na história dos esportes gostaria de
1995.
finalizar esse texto afirmando que há, ainda, um
mundo a se fazer. E este depende da paixão pelo GOELLNER, Silvana V. Bela, maternal e feminina:
imagens da mulher na Revista Educação Physica. Ijuí:
tema, da ousadia teórica, do rigor metodológico,
Editora Unijuí, 2003.
da sensibilidade histórica e, sobretudo, da vonta-
de de que da memória esportiva floresçam histó- JENKINS, Keith. A História repensada. São Paulo:
Contexto, 2004.
rias a nos contar sobre esse elemento da cultura
que, cotidianamente, nos seduz, encanta e desa-
fia. LOVISOLO, Hugo. O enigma do Olimpismo. In:
FÓRUM OLÍMPICO, IV, 2004, USP (São Paulo).
Anais... São Paulo: USP, 2004.pp.03-09.
Memory places: histories of modern
sport. SIMSON, Olga Rodrigues de M. von. Imagem e
Abstract: This text aims to highlight the historical memória. In: SAMAIN, Etienne. O Fotográfico: São
research as a possibility of narrating and analyzing Paulo: Hucitec, 1998.
modern sport. For that, it analyzes the relation
between memory and history, as well as the link of TAVARES, Otávio. As atitudes dos atletas olímpicos
this cultural phenomenom with tradition and with brasileiros frente ao Olimpismo. In: DaCosta,
spectacle. In the end, it casts a series of “memory Lamartine P. e Hatzidakis, Georgios (org.). Estudos
places” existing in Brazil, which collections are Olímpicos 2001: Coletânea de Textos. São
important sources of investigation and research. Paulo:UniBAN, 2001
Key-words: Memory/ History/ Sport 12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121
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Recebido em: 31/05/2005
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Reformulado em: 03/08/2005
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REFERÊNCIAS 12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121
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Aprovado em: 10/08/2005
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Silvana Vilodre Goellner
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BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. 12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121
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Cep: 90.035-052
Ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: 12345678901234567890123456789012123456789012345678901234567890121
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Brasiliense, 1994. E-mail: goellner@terra.com.br
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Arquivos em Movimento, Rio de Janeiro, v.1, n.2, p. 79-86, julho/dezembro, 2005


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