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Em segundo lugar, cabe destacar também que, em que pese ser comum a
veiculação dessa situação como trabalho escravo, é preciso lembrar que o ordenamento
pátrio não acolheu como modalidade de trabalho individual o trabalho escravo, sendo, ao
contrário, tipificado em nosso Código Penal no capítulo que trata dos Crimes contra a
liberdade individual da seguinte forma:
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a
jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer
meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto: (Redação dada pela
Lei nº 10.803, de 11.12.2003)
Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
Dessa forma, o termo correto a ser aplicado a essa situação degradante de trabalho
é trabalho em condição análoga à escravidão, utilizando-se, como foi visto nas aulas de
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Teoria do Direito, a analogia como forma de suprir a ausência de norma regulamentadora,
em virtude de o sistema jurídico não admitir a existência de trabalho escravo no Brasil.
Por fim, é mister apontar também que a proposição da PEC citada acima teria como
objetivo modificar a redação do texto do artigo 243, caput e seu parágrafo único da
Constituição Federal de 1988, os quais determinam o seguinte, in verbis:
Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas
culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão
expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização
ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no
art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014)
Parágrafo único. Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico
ilícito de entorpecentes e drogas afins e da exploração de trabalho escravo será confiscado e reverterá a
fundo especial com destinação específica, na forma da lei. (Redação dada pela Emenda Constitucional
nº 81, de 2014)
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1. Deputada Delmira. Visão política de esquerda. Foco do argumento:
estatística dos casos ocorridos no Brasil e a função social do Direito.
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Dessa forma, em face de do acima exposto, afirmo que minha posição é que se
endureçam severamente as penalidades cominadas aos agentes dessa pratica delituosa de
redução de indivíduos a condições análogas à escravidão.
Com efeito, cumpre destacar que vivemos em República Federativa assentada sobre
o inalienável direito de propriedade, conforme preceitua o caput do artigo 5º da Carta
Magna brasileira.
Além disso, cumpre relembrar aos presentes que a segurança do indivíduo relativa
aos seus bens é o que garante o liame do corpo social, como bem assinalou o famoso
filósofo inglês Thomas Hobbes, em sua obra o Leviatã. De acordo com esse autor, no
Leviatã são traçadas as características principais da relação existente entre os homens em
um estado anterior à sociedade, qual seja, o estado de natureza. Essas características
seriam a competição, a desconfiança e a glória. Essas três características condicionariam
a vida vivida pelos indivíduos como uma situação de guerra de todos contra todos. Tese
esta que sintetizada pela famosa frase hobbesiana “O homem é o lobo do homem”, por
meio da qual o filósofo inglês expõe a situação humana antes do surgimento de um
ordenamento comum que regulamentasse a vida e as atividades realizadas pelos
indivíduos. Ocorre que toda a evolução humana buscou a segurança, seja do indivíduo,
seja dos seus bens, e a única forma de assegurar a segurança e, por conseguinte a paz
social, foi mediante a institucionalização do contrato social, o qual é base de toda a teoria
política moderna.
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Entretanto, com esta nova PEC, querem novamente colocar a propriedade em risco,
vitimando os grandes geradores de riquezas desse país, a saber: o grande proprietário de
terras.
O Brasil deverá colher 237,3 milhões de toneladas de grãos em 15 culturas diferentes na safra
2018/2019. Conforme estimativa da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o volume representa
crescimento de 9,5 milhões de toneladas em relação à safra anterior (4,2% a mais em termos proporcionais).
Segundo a empresa, vinculada ao Ministério da Agricultura, a produtividade será 3% maior na
comparação com a safra 2017/2018. O crescimento da safra de grãos ocorre com aumento de 1,2% da área
plantada (62,5 milhões de hectares no total).
Metade do volume da produção de grãos estimada é do plantio de soja (118,8 milhões de toneladas)
e 38,4% advêm das colheitas de milho, colhido em duas safras por ano.
http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2019-01/brasil-aumenta-
(fonte:
produtividade-de-graos-na-safra-20182019)
Ou seja, pelo verificado acima, mostra-se uma vez mais que o agronegócio
continua sendo o carro-chefe da economia desse país, alavancando os índices da balança
comercial brasileira seja relacionada ao abastecimento interno como o abastecimento
externo.
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Além disso, é o único setor econômico brasileiro capaz de gerar empregos diretos
e, sobretudo, indiretos, uma vez que, após da colheita de produtos, múltiplos setores são
mobilizados para levar o produto fornecido à mesa do cidadão comum, como logística,
abastecimento, rede de supermercados, propaganda, tecnologia da informação, etc.
Com efeito, cumpre destacar que represento a fração do corpo social que destoa
de todo o debate apresentado até o momento, na medida em que sustento que a alteração
constitucional não alterará a vida do cidadão comum do campo. Afirmo isso a partir das
condições históricas da sociedade brasileira. Pois, observando o Brasil a partir de uma
perspectiva histórica, observa-se ano após ano, década após década, a produção de regras
jurídicas incapazes de atender plenamente aos anseios apresentados pelos trabalhadores
rurais. E ressalta-se: digo isso sem tocar no fato de que a legislação especifica sobre o
trabalhador rural e suas especificidades só foi publicada após 30 anos1 da promulgação
da Consolidação das Leis do Trabalho –CLT direcionadas ao trabalhador urbano.
E, em que pese ter sido publicada esta Lei e o Brasil não reconhecer como
modalidade de trabalho individual o trabalho escravo, ainda sim, como bem ressaltou a
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Com efeito, entre a aprovação do DECRETO-LEI Nº 5.452, DE 1º DE MAIO DE 1943, que aprova a
Consolidação das Leis do Trabalho e a LEI Nº 5.889, DE 8 DE JUNHO DE 1973, que estatui normas
reguladoras do trabalho rural, passaram-se 30 anos sem que o Estado reconhecesse como trabalho o labor
desenvolvido nos campos, fazendas e sertões do Brasil.
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Senhora Deputada Delmira, no espaço de tempo de 23 anos, 53.607 trabalhadores foram
retirados da situação de trabalho análogo à escravidão.