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Revista da SBEnBio - Número 7 - Outubro de 2014 V Enebio e II Erebio Regional 1

CONCEPÇÕES SOBRE A SELEÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO DE BIOLOGIA


EM UMA ESCOLA ESTADUAL DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL DO
CEARÁ: O QUE PENSAM OS PROFESSORES

Raquel Sales Miranda (Bolsista de Iniciação Científica em Ensino de Ciências-


CNPq/UFC)

Raquel Crosara Maia Leite (Professora do Departamento de Teoria e Prática de Ensino-


FACED/UFC)

Resumo

A escolha do livro didático adotado pelas escolas públicas é feita em várias etapas,
sendo que uma das últimas fases é realizada pelos professores. Com base nisso, buscou-
se neste trabalho investigar o que pensam os professores de uma Escola Estadual de
Educação Profissional do Ceará, sobre a escolha do livro didático de Biologia. Para
isso, foi aplicado um questionário objetivo e a partir das questões abordadas constatou-
se que não há consenso sobre os critérios de escolha do LD de Biologia na escola e não
há preparação dos professores para a realização desta função. Isso torna claro que é
preciso que os professores se apropriem de algum referencial teórico ao analisar os
livros e se faz necessária uma preparação prévia dos professores.
Palavras-chave: Escolha do Livro Didático, PNLD, Ensino de Biologia

Introdução

O Livro Didático (LD) é reconhecidamente um instrumento didático


bastante presente nas escolas e constitui-se como um elemento importante no cenário do
ensino formal que abrange professores, conhecimentos e estudantes, como evidencia
Guimarães (2011). Os livros didáticos não se restringem apenas a transmitir
conhecimentos, para Lorenz (2010) eles representam e inculcam valores culturais e
ideologias da época de sua publicação.

Uma das melhores definições sobre o Livro Didático e suas funções foi dada
em um texto de Renato Fleury que data de 1961, mas que ainda se mostra bastante
atual: “O livro didático é uma sugestão e não uma receita”, desta forma, não pode
substituir o professor, mas deve ser mais uma ferramenta utilizada pelo professor em
sua prática.

O LD exerce grande influência na metodologia de ensino e nas formas de


avaliações empregadas pelo professor, além de nortear a rotina presente em sala de aula.
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Segundo Silva (1988 apud MOLINA, 1988), são várias as circunstâncias que podem
levar os professores ao uso “inocente” do livro didático. São elas: carência de outros
recursos didáticos e outros livros na escola, tempo reduzido de planejamento, grande
número de turmas diferentes, obrigatoriedade de seguir os Programas Oficiais e as
estratégias de marketing das editoras, que muitas vezes criam a ilusão de que por
seguirem algumas leis e parâmetros curriculares nacionais, podem ser aplicadas sem
qualquer avaliação crítica por parte do professor.

Nacionalmente é possível perceber a importância dada ao livro didático a


partir da criação de várias entidades durante o século XX. Como citado por Lorenz
(2010), essas entidades foram o Instituto Nacional do Livro (INL), Comissão Nacional
do Livro Didático (CNLD), Comissão do Livro Técnico e Livro Didático (COLTED) e
o lançamento do Programa do Livro Didático para o Ensino Fundamental (PLIDEF) e
do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).

Seguindo os moldes atuais, o PNLD foi adotado no edital publicado em


1997 e atendia somente aos alunos do ensino fundamental, o que ocorreu até o ano de
2003. Sendo que apenas em 2004 foi implementado o Programa Nacional do Livro
Didático do Ensino Médio (PNLEM), visando dar acesso ao livro didático para os
alunos de Ensino Médio. Esse programa aos poucos foi sendo ampliado para atender a
todas as séries de ensino médio e a todas as disciplinas. Já em janeiro de 2010, o
presidente Luis Inácio Lula da Silva assinou o Decreto nº 7.804/2010, que unificou o
PNLEM e o PNLD em um único programa que hoje atende aos alunos de Ensino
Fundamental e Médio.

Hoje, o PNLD é responsável por fornecer aos alunos de escolas públicas os


livros didáticos, paradidáticos, dicionários e periódicos de forma gratuita. Para atender
esta demanda o governo federal faz investimentos altos visando a aquisição dos livros,
armazenagem e distribuição dos livros e periódicos em cada estado.

A escolha do livro didático adotado pelas escolas de Ensino Médio é feita


em várias etapas: lançamento do edital no site do FNDE, inscrição das editoras, triagem
das obras, avaliação pedagógica, publicação do guia do livro didático, divulgação das
obras pré-selecionadas, escolha do livro realizada por escola, negociação com as

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editoras e aquisição das obras. Dessa forma, há várias instituições envolvidas na escolha
do Livro Didático das Escolas Públicas (SAMPAIO & CARVALHO, 2010).

Uma das últimas etapas da escolha do LD é feita pelos professores e cada


escola tem autonomia para escolher seus livros, sendo que ela deve escolher livros de
apenas uma coleção por componente curricular. Ou seja, a escola deve adotar o livro de
Biologia de uma mesma coleção para todas as séries de Ensino Médio.

Apesar de ser dada ao professor a função de escolher o livro didático dentre


uma lista de obras pré-selecionadas, trata-se de uma falsa liberdade dada ao
professorado, pois apesar de ter certo poder de decisão, os professores em geral não são
preparados para fazer essas escolhas. De fato, como evidencia Molina (1988): “De
pouco adianta poder escolher, quando não se sabe como escolher”.

Já em 1982, Fracalanza (apud Krasilchik, 2004) apontava características dos


livros didáticos de Biologia de Ensino Médio que se mostram bastante semelhantes e
apresentam certas tendências ainda hoje:

a. Apresentam-se com o mesmo título geral: Biologia;


b. Compreendem uma coleção de três livros;
c. Abrangem os conteúdos tradicionalmente desenvolvidos ou previstos
para a disciplina Biologia no 2º grau;
d. Subdividem o conteúdo em unidades relacionáveis às usuais
disciplinas do currículo das escolas de 3º grau (FRACALANZA, 1982 apud
KRASILCHIK, 2004).

Justamente devido a essa aparente semelhança estrutural dos livros de


Biologia, a adoção de um livro didático de Biologia deve ser algo extremamente
pensado, pois uma escolha mal feita pode causar prejuízos por até três anos letivos.

Em meio à problemática que envolve o Livro Didático, é relevante o


desenvolvimento de pesquisas que contribuam para que os professores sejam formados
para a escolha adequada do livro didático de Biologia. Desta forma, busca-se neste
trabalho investigar o que pensam os professores de uma Escola Estadual de Educação
Profissional do Ceará, sobre o processo de escolha do livro didático de Biologia.
Buscando assim responder a algumas perguntas: Como ocorre o processo de escolha
do LD de Biologia na escola pesquisada? Quais critérios devem ser considerados ao
escolher o livro didático? Os professores tem recebido alguma capacitação para escolher
o LD?
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Metodologia

A pesquisa foi realizada em uma Escola Estadual de Educação Profissional


do Ceará devido ao fato de no mesmo período estar realizando os estágios das
disciplinas: Estágio Supervisionado de Ensino Médio I, no qual foram acompanhadas
três turmas de 2º ano (Segurança do Trabalho, Hospedagem e Libras) e Estágio
Supervisionado de Ensino Médio II, no qual foram acompanhadas duas turmas de 3º ano
(Enfermagem e Informática). Assim, o estudo foi desenvolvido com as duas professoras
de Biologia da Escola Estadual de Educação Profissional.

O questionário utilizado neste artigo foi baseado na dissertação: ‘Como os


Professores do 6º ano ao 9º ano usam o Livro Didático de Ciências’ de Guimarães
(2011) e faz parte de um questionário maior que foi aplicado no Trabalho de Conclusão
de Curso de minha autoria em 2014.1. O questionário continha questões objetivas e
subjetivas sobre a escolha e utilização do livro didático. No entanto neste trabalho só
será analisada as questões relativas à escolha do LD de Biologia (APÊNDICE A).

Resultados e Discussão

Livro Didático de Biologia: o que pensam os professores


Perfil dos Professores

Obteve-se como resposta que ambas as professoras tinham 33 anos, atuavam


em sala de aula no período de 4 a 7 anos e eram formadas em Ciências Biológicas-
licenciatura, sendo que uma deles estava realizando especialização em Gestão
Ambiental Urbana. É interessante notar que as professoras são bastante jovens e
apresentam um período curto de atuação em sala de aula, o que já nos leva a concluir
que as mesmas devem ter participado de poucas escolhas de livro didático, já que as
escolhas são feitas a cada três anos.

Para Tardif & Raymond (2000 apud Guimarães, 2011), a carreira inicial
docente é dividida em duas fases: na primeira fase, que são os primeiros três anos da
carreira de um professor, ele trabalha mais por tentativa e erro, além disso, essa é uma
fase onde muitos professores desistem da carreira. Já a segunda fase da carreira inicial
está entre 3 e 7 anos de exercício profissional, e é marcada pela maior confiança do
professor, já que ele já se encontra mais integrado com a equipe profissional. É nessa

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segunda fase que estão as professoras que responderam ao questionário, então elas já se
encontram numa fase de maior estabilidade e confiança, mas ainda de pouca experiência
docente.

Obteve-se ainda como resultado que as entrevistadas trabalhavam na escola


num período compreendido entre 1 a 4 anos, com uma jornada de trabalho semanal de
40 horas, exclusivamente desempenhada na Escola em que a pesquisa foi realizada, o
que é bastante interessante porque possibilita que as professoras conheçam mais os
alunos e se dediquem mais as atividades da Escola. Essa também é uma característica
encontrada nas Escolas de Educação Profissional do Ceará, que só contratam
professores com dedicação de 40 horas por semana, de acordo com determinação da
Secretaria de Educação do Ceará (SEDUC-CE).

4.1.2 Seleção do Livro Didático

A primeira pergunta deste tópico foi se a escola adotava algum livro


didático, como já era de se esperar a resposta foi afirmativa em ambos os questionários.
Ainda foi perguntado qual livro era adotado pela escola. Obtendo-se como resposta que
o livro utilizado era o Livro Didático: BIO, volumes 1, 2 e 3 de autoria de Sônia Lopes e
Sérgio Rosso, da editora Saraiva.

Em seguida, foi perguntado às professoras se elas haviam participado do


processo de escolha do livro didático adotado pela escola. A resposta das professoras foi
não. Quando perguntado o motivo de não terem participado, uma informou que ainda
não trabalhava na escola e a outra que ainda era nova na escola e por isso não
participou.

O fato das professoras não terem participado do processo de escolha do LD


adotado infelizmente dificulta o uso do LD em sala de aula e diminui a participação das
docentes em uma decisão tão importante e inerente a função de professor, como
evidencia Nuñez et al (2002):

Embora se observe uma melhor qualidade nos últimos livros recomendados


pelo MEC para o ensino de Ciências, a seleção deste é uma tarefa dos
professores como profissionais. Essa tarefa não pode ser limitada a um grupo
de especialistas responsáveis por analisar os livros e recomendá-los aos
professores. Esta tem sido uma prática constante não obstante, seja divulgada
nos meios oficiais de comunicação ( jornais, rádios,TVs), um chamamento ao
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professorado para assumir essa tarefa, o tipo de participação docente nesta


política pouco tem sido estimulada (NUÑEZ et al, 2002, p.1-2).

Também foi questionado como é feita a escolha do LD na escola e as


professoras responderam que o Livro Didático é escolhido em uma reunião de
professores com o guia do livro didático. Esta situação é esperada, já que:

O objetivo do MEC e da equipe de avaliação é que o Guia possa cumprir sua


função- guiar, orientar, nortear a escolha do livro didático-, o que em última
instância, tem em vocês, professores e professoras, os parceiros e principais
responsáveis pela escolha dos livros que serão adquiridos pela escola para
todos os seus alunos e alunas (PNLD, 2008, p.9 apud Guimarães, 2011,
p.59).

Porém, Amaral e Megid Neto (1997 apud Silva; Souza; Duarte, 2009)
mencionam que o Guia do livro didático muitas vezes influencia diretamente a escolha
do professor, diminuindo sua autonomia e servindo como forma de tutelar os
educadores.

As questões 5 e 6 do questionário (Apêndice A), só foram respondidas por


uma das professoras, que confirmou a existência de contato com as editoras durante o
processo e que não foi dada nenhuma capacitação para que os professores escolhessem
o livro didático.

Quanto ao contato com as editoras, infelizmente ainda vem sendo


descumprida a Portaria nº 2.963/2005, que estabelece que as editoras não podem estar
presentes durante o processo de escolha de livros didático. Para Nuñez et al (2002), o
processo de avaliação do livro didático muitas vezes é confrontado com os interesses
editoriais que nada tem a ver com as orientações para se trabalhar ciências.

Já a inexistência da capacitação dos professores para a escolha do livro


didático se constitui, como uma grande falha no processo de escolha do livro didático, já
que apesar da grande quantidade de leis, portarias e decretos, nenhuma medida foi
criada no intuito de preparar os professores que estão em sala de aula, para uma escolha
mais consciente do livro didático.

É necessária a participação ativa do professor no processo de escolha do LD


de Biologia, mas para isso, como evidencia Nuñez et al (2002), o professor deve possuir
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determinados saberes, critérios e competências para poder realizar uma escolha


consciente em conjunto com seus colegas de trabalho.

A questão 7 que dizia respeito ao órgão responsável pela capacitação dos


professores para a escolha do livro didático, como esperado, foi deixada em branco.

Com relação à questão 8, foi questionado quais os critérios utilizados pelos


professores para escolher o livro didático de ciências, questão em que os professores
deveriam estabelecer uma ordem de prioridade dentre as opções previamente
fornecidas. Como era de se esperar, as respostas das professoras foram bem diferentes,
havendo consenso apenas ao estabelecer a opção: ‘sugestão de atividades práticas ou de
laboratório’ na posição 6 na ordem de prioridades(Quadro 3).

Quadro 1 – Prioridade de critérios para a escolha do LD de Biologia estabelecida pelos


professores

Ordem de prioridade estabelecida Ordem de prioridade estabelecida pelo


pelo Professor 1 Professor 2

1. Qualidade dos textos 1. Exercícios com questões como


ENEM e vestibulares

2. Valorização do conteúdo teórico 2. Quantidade de atividades

3. Textos que trazem curiosidades 3. Qualidade dos textos

4. Qualidade das imagens 4. Textos que trazem curiosidades

5. Presença da História da Ciência 5. Valorização do conteúdo teórico

6. Sugestão de atividades práticas 6. Sugestão de atividades práticas


ou de laboratório ou de laboratório

7. Quantidade de atividades 7. Qualidade das imagens

8. Exercícios com questões como 8. Presença da História da Ciência


ENEM e vestibulares

Fonte: A autora

Assim, uma das professores justificou que prioriza o ensino de Biologia e


não o preparatório para o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM). A outra
professora justificou que ao estabelecer os critérios de escolha do livro didático de
Ciências, prioriza a presença de atividades e exercícios para serem utilizados em sala de
aula.

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Portanto, podemos notar que uma professora valoriza bastante o conteúdo


teórico e as curiosidades presentes no LD, dando indícios que costuma usar o LD no
planejamento de suas aulas, mas não o utiliza em sala de aula. Já a outra docente
demonstra valorizar bastante a presença de livros didáticos, o que leva a crer que a
professora se utiliza mais do LD em sala de aula, para propor exercícios para os alunos.

Essas diferenças acentuadas na forma de escolher o livro didático refletem a


falta de formação dos professores para a escolha do LD, o que torna bastante difícil o
processo de escolha do mesmo. Portento, alguns autores procuram definir critérios que
devem ser considerados ao escolher um livro didático de Ciências (VIDAL & PORTO,
2012; SILVA et al, 2009; FRACALANZA & MEGID NETO, 2006).

Segundo Vidal e Porto (2012), dentre os estudos realizados sobre o livro


didático destaca-se a importância da elaboração de novos critérios para análise de livros
didáticos, de forma a aprimorar a escolha consciente em relação aos conteúdos e sua
finalidade. É preciso superar a ‘metodologia da superficialidade’ citada por Nuñez et al
(2002), onde o processo de escolha do LD é feita de forma espontaneísta e com base em
poucas referências teóricas.

Para Silva, Souza, Duarte (2009) é necessário que os professores


desenvolvam critérios para a escolha dos recursos didáticos que possam auxiliá-los no
desenvolvimento da prática pedagógica, caso contrário há um risco do professor colocar
em uso um instrumento dissociado do modo de pensar e agir criticamente, o que
dificulta a aprendizagem significativa.

Para Fracalanza e Megid Neto (2006 apud Silva et al, 2009), ao analisar os
livros didáticos de Ciências, as questões mais significativas a serem consideradas são:
as concepções de ciência, educação e ambiente presentes nos manuais, já que essas
noções influenciam diretamente no olhar dos alunos sobre o conhecimento científico.

A partir dos dados obtidos nos questionários, é possível notar que a História
da Ciência não é considerada um dos principais critérios de escolha do LD de Biologia.
Isso é bastante ruim para a aprendizagem de Ciências, porque impede que os estudantes
compreendam o papel da ciência e sua importância para a sociedade.

Acredito que seja importante-talvez essencial para um estudante compreender


o papel da ciência em nosso mundo- e acredito que a melhor maneira de se
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fazer isso é através da história. Este é um recurso precioso para os estudantes


entenderem os fatores que afetam a mudança de visão do homem a respeito
da natureza [...]( DEBUS,1971, p.804 apud VIDAL; PORTO, 2012, p. 295).

Ao contrário do que se observa nos referenciais teóricos (NUÑEZ et al,


2002), os professores não consideraram como um dos critérios principais, a qualidade
das imagens. Para Nuñez et al (2002), na seleção do LD muitas vezes o que prevalece é
a qualidade gráfica em detrimento do conteúdo e os professores geralmente tendem a
supervalorizar a qualidade das figuras no momento da seleção do livro didático de
Ciências.

Quando questionadas sobre a qualidade do livro didático adotado pela


escola, uma professora classificou o livro como regular e a outra classificou o livro
como ótimo. Já quando indagadas se elas adotam algum outro livro de Biologia, uma
respondeu que sim, informando que costuma usar o livro ‘Biologia’ de autoria de
Amabis & Martho, da editora Moderna. Já a outra professora, não adota outro livro de
Biologia. Quando indagadas sobre o recebimento do manual do professor, as duas
professoras afirmaram não ter recebido o manual.

Considerações Finais

Apesar de todos os problemas relacionados ao livro didático é praticamente


unânime que ele é elemento indispensável em sala de aula. Como já dizia Freitag, Costa
e Mota, ainda em 1993, “se com o livro didático o ensino no Brasil é sofrível, sem ele
será incontestavelmente pior”. Portanto é extremamente necessário escolher livros de
Biologia que realmente acrescentem ao processo educativo.

Mas de nada adianta melhorar a qualidade do livro didático, se o professor


não for preparado para explorá-lo da melhor forma possível. Pois o elo principal para
melhorar o uso que se faz do livro didático é de fato o professor. Dessa forma, para que
o livro seja melhor utilizado, é preciso que muita coisa se modifique dentro e fora de
sala de aula.O professor deve ter a consciência da responsabilidade que lhe é conferida,
pois ao exercer o seu poder de escolha, ele pode evitar que alguns livros de má
qualidade ou que não se encaixam na realidade dos alunos cheguem até as escolas em
que trabalham.

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Outro aspecto importante que deve ser ressaltado é a falta de preparação do


professor para escolher o livro didático. Assim, é preciso que os professores tenham
formação (seja inicial ou continuada) apropriada para tal função. Porém, mais
importante é o professor se apropriar de referenciais teóricos e de suas concepções
metodológicas para que possa de fato, escolher um LD de Biologia adequado.

Referências Bibliográficas

GUIMARÃES, Fernanda Malta. Como os professores de 6º ao 9º anos usam o Livro


Didático de Ciências. Campinas: Ed. UNICAMP, 2011. 109 p.
KRASILCHIK, Myriam. Prática de Ensino de Biologia. 4.ed. São Paulo: Editora da
Universidade de São Paulo, 2004.198 p.
LORENZ, Karl. Ciência, Educação e Livros Didáticos do Século XIX. Os
compêndios das Ciências Naturais do Colégio de Pedro II. Uberlândia: Editora da
Universidade Federal de Uberlândia, 2010. 366 p.
MOLINA, Olga. Quem engana quem? Professor X Livro Didático. 2. ed. Campinas:
Papirus, 1988, 133 p.
NUÑEZ, Isauro Beltrán et al. A seleção dos livros didáticos: um saber necessário ao
professor. O caso do ensino de Ciências. OEI- Revista Iberoamericana de Educación.
[S.l.: s.n.], p.1-11, [2002].
SAMPAIO, Francisco Azevedo de Arruda; CARVALHO, Aloma Fernandes de. Com a
palavra, o autor: Em nossa defesa: um elogio à importância e uma crítica às
limitações do Programa Nacional do Livro Didático. São Paulo: Sarandi, 2010. 432p.
SILVA, Silvana do Nascimento; SOUZA, Marcos Lopes de; DUARTE, Ana Cristina
Santos. O professor de Ciências e sua relação com o livro didático. In: Teixeira e,
Razera(org.). Ensino de Ciências: pesquisas e pontos em discussão. Campinas:
Komedi, 2009.147-166p.
VIDAL, Paulo Henrique Oliveira; PORTO, Paulo Alves. A história da Ciência nos
livros didáticos de química do PNLEM 2007. Ciência e Educação, v.18, n.2, p.291-
308, 2012.

APÊNDICE A – INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS- PROFESSORES

Universidade Federal do Ceará

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Prezado Professor, eu, Raquel Sales Miranda, aluna de graduação em Ciências


Biológicas, estou realizando o meu Trabalho de Conclusão de Curso, intitulado:
“Concepções sobre o livro didático de Biologia na Escola Estadual de Educação
Profissional XXXXX: o que pensam os professores e alunos”, sob orientação da
profª Drª Raquel Crosara Maia Leite. Garanto que todas as informações fornecidas
nesse questionário serão confidenciais e os dados coletados serão para uso exclusivo
desta pesquisa e publicações derivadas dela (artigo científico e apresentações em
eventos científicos). Caso seja de seu interesse, após a conclusão deste trabalho, os
resultados da pesquisa serão enviados por e-mail.

Agradeço pela atenção e colaboração.

Identificação

Nome:____________________________________________________Idade:_______

E-mail:------------------------------------------------------------------------------------------

Formação

1.Qual o seu nível de escolaridade?

( ) Graduação ( ) Graduação em andamento Curso: ___________________________

( ) Especialização ( ) Especialização em andamento Área: _____________________

( ) Mestrado ( ) Mestrado em andamento Área: ________________________

( ) Doutorado ( ) Doutorado em andamento Área: _______________________

2.Qual o seu tempo de atuação em sala de aula?

( ) menos de 1 ano ( ) 1 a 3 anos ( ) 4 a 7 anos ( ) 8-10 anos ( ) Acima de 10 anos

3.Qual a sua jornada de trabalho semanal na Escola Estadual de Educação


Profissional Joaquim Nogueira(horas/aula)?

( ) 0-4 ( ) 4-10 ( ) 10-12 ( ) 12-20 ( )20-30( ) 30-40 ( ) 41 ou mais

4.Há quanto tempo trabalha na Escola Estadual de Educação Profissional Joaquim


Nogueira?
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( ) Há menos de um ano ( ) Entre 1 e 4 anos ( ) Entre 5 e 9 anos ( ) Entre


10 e 14 anos ( ) Entre 15 e 19 anos ( ) Há mais de 20 anos

Seleção do livro didático

1. A escola adota um livro didático?


( ) Sim ( )Não
Se não, por que a escola decidiu não adotar livro?_________________________
2. Se sim, Qual o titulo e os autores do livro adotado?
__________________________________________________________
3. Você participou da escolha do livro didático adotado pela escola?
( ) Sim ( )Não
Se não, porque?___________________________________________________
4. Como foi o processo de escolha do livro didático(LD) de Biologia adotado na
escola?
( ) O LD foi escolhido por um professor coordenador da área de ciências com o
guia do livro didático
( ) O LD foi escolhido inicialmente pelos professores de biologia separadamente
e depois foi feita uma reunião entre os analisadores.
( ) O LD foi escolhido em uma reunião de professores com o guia do livro
didático.
( ) O LD foi escolhido por outros professores que não são da área de ciências.
( ) O LD foi escolhido pela coordenação/direção da escola.
( )Outra:_______________________________________________
5. Durante o processo de escolha do livro didático você teve contato com alguma
editora?
( )sim ( )não
6. Você recebeu alguma capacitação para escolher o livro didático da escola?
( ) Sim ( )Não
7. Se sim, qual foi o órgão responsável?
( )SEDUC ( )Escola ( )Universidade ( ) Meios próprios ( )outro: _____
8. Enumere as opções (1 a 8) de acordo com a ordem de prioridade,que você
utilizaria ao escolher o livro didático de Biologia:
( ) qualidade dos textos ( )qualidade das imagens
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( ) presença da história da ciência ( )quantidade de atividades


( )textos que trazem curiosidades ( ) valorização do conteúdo teórico
( ) sugestão de atividades práticas ou de laboratório
( ) exercícios com questões como ENEM e vestibulares
Justifique a ordem escolhida por você: ____________________________
9. Em sua opinião, qual a qualidade do livro didático adotado?
( ) ruim ( ) péssimo ( ) regular ( ) bom ( )ótimo ( ) excelente

10. Além do livro didático de Biologia adotado pela escola, você adota algum em
especial?
( ) Sim ( )Não Se sim, qual?________________________________________
11. Você recebeu o ‘manual do professor’ do livro didático adotado?
( ) Sim ( )Não

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