Você está na página 1de 16

CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun.

, 2012

TOBIAS BARRETO E A
SOCIOLOGIA NO BR ASIL
BRASIL

Ivan Barbosa*

Tobias Barreto A sociedade continua a multiplicar os Spencer e das teorias raciais e deterministas.
e a Sociologia
no Brasil seus liames e a criar os óbices ao Tínhamos uma preponderância de percep-
império fatal das leis naturais. ções que alastravam as dimensões natura-
Ivan Barbosa (Tobias Barreto) listas nas explicações dos fenômenos sociais
No decurso do último quartel do século e do destino da sociedade nacional1. Neste
XIX, as postulações sociológicas que aqui contexto, aparentemente contrário às dissi-
aportaram sofreram significativa influência do dências, emerge uma sublevação que iria
legado francês e do inglês em detrimento do solitariamente advogar contra as sentenças
alemão. O país estava submetido ao que Gil- teóricas condenatórias da nascente sociolo-
berto Freyre (1971) nomeou de imperialis- gia e de seu indiscriminado uso na interpre-
mo intelectual francês. Conforme Nilo Pereira tação do Brasil e de suas intempéries.
(1983, p. 194), naquele momento, no Recife Esse trabalho tem como fito oferecer uma
[...] a nossa sensibilidade era modelada pela percepção do processo de entretecimento
influência francesa [...] tudo vinha da Fran- dos elementos sociais e biográficos e suas
ça: a literatura, a moda, a pedagogia, a ciên- margens substanciais de intervenção na
cia, a botica, o teatro, os navios, os jornais, as edificação da perspectiva sociológica pre-
revistas. sente em parcela dos escritos de, e sobre,
Essa influência, no âmbito das primeiras Tobias Barreto. Almeja fornecer elementos
reflexões sociológicas sobre o Brasil, se fez para pensarmos essa contextura e, com isso,
presente, principalmente, a partir dos evo- situarmos e entendermos de forma mais crí-
lucionismos de Augusto Comte e Herbert vel a contribuição e a especificidade desse

49
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
autor no processo de acolhida e uso das o famigerado regime do pistolão, não conse-
explicações sociológicas no Brasil dos no- guiu ser nomeado3.
vecentos. Muitos autores, tais como Vamireh Cha-
Iniciamos o texto indicando uma breve con (1977), Pinto Ferreira (1969), Carneiro
apreciação de algumas leituras de sua po- Leão (1953), Djacir Menezes (1964) consi-
sição na história da sociologia no Brasil, se- deram-no um precursor da sociologia brasi-
guido de uma abordagem acerca de sua leira. Na nossa perspectiva, o autor que mais
contenda com esta ciência. Nosso objetivo se aproximou da exata compreensão da re-
neste momento é demonstrar a especifi- lação entre Tobias e a sociologia brasileira
cidade de sua abordagem sociológica ante foi Antônio Candido (1960, p. 107), ao per-
o dominante contexto do positivismo e do de- ceber a justa medida, ou o critério negativo,
terminismo de então. Concluímos exploran- que fundamentava essa vinculação:
do algumas dimensões da tessitura entre os [...] o primeiro escrito teórico de certo vul-
aspectos sociais e biográficos que incitaram to sobre a matéria (deixando de lado as
a seleção dos pressupostos teóricos que repetições automáticas dos positivistas)
marcaram sua leitura dos limites e alcances foi possivelmente devido a Tobias Bar-
da sociologia naquele momento. reto e obedeceu, vale mencionar, a um
critério negativista. São as Glosas hete-
O teuto sergipano rodoxas a um dos motes do dia ou va-
Tobias Barreto (1839-1889) foi um acin- riações anti-sociológicas, onde contesta,
toso e temperamental mulato sergipano que com a vivacidade costumeira, a validade
viveu boa parte de seu tempo incrustado e a autonomia de nossa disciplina.
naquilo que ele denominou açucarocracia Acreditamos que os momentos iniciais des-
pernambucana2. Foi portador de substan- te debate precedem as Glosas. Eles podem
cial vigor em suas empreitadas intelectuais. ser encontrados nos discursos pronunciados
Tal robustez possivelmente adveio do furor em 1979 enquanto deputado e na dissertação
de penetrar em uma das poucas brechas elaborada para concurso para lente da FDR
para a mobilidade e reconhecimento social em 1882. Estes certames contribuíram para a
existente àquele tempo, a intelectual. No- Tobias Barreto
demarcação, de maneira ritual e intelectual, da e a Sociologia
tabilizando-se por um apego muitas vezes posição de destaque que Tobias veio a assu- no Brasil
considerado exagerado e chistoso à cultu- mir em algumas das primeiras sendas do pen-
ra germânica, conseguiu, em detrimento de samento social brasileiro. Ivan Barbosa

tantas limitações, edificar uma esquecida, Esses escritos são peças singulares e
porém curiosa e singular crítica à voraci- descuradas da recepção e reelaboração da
dade da razão positivista e de seu ímpeto reflexão sociológica no Brasil do século XIX.
de reduzir o universo da cultura a dimensões Centramos nossa análise neles. São momen-
naturalísticas. tos em que o autor faz referência explícita à
Em 1864, recém-chegado de Sergipe, sociologia, mesmo tentando provar a sua ine-
matricula-se na Faculdade de Direito do Re- xistência e o seu caráter falível. O que des-
cife (FDR) e passa, a partir daí, a dedicar-se perta o interesse é que ao negar e restringir a
aos estudos filosóficos e jurídicos, desenvol- possibilidade da sociologia, ele fez mediante
vendo paralelamente a atividade de poeta, argumentos e preocupações que estavam
jornalista e professor particular. Formou-se em presentes nos neokantianos e, dedutivamen-
1969. Durante esse período submeteu-se a te e isoladamente, encetou um dos debates
três concursos para o magistério, sendo dois mais instigantes desta disciplina no transcurso
de latim e um de filosofia. Apesar de apro- da transição do século XIX para o XX.
vado, por faltar padrinhos, pois conforme Luiz A nossa constatação é a de que o cerne
Nascimento (1966, p. 11) estava em vigência da relação crítica, principalmente com o posi-

50
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
tivismo, está na admiração assumida e incon- vitória da Alemanha sobre a França em 1870,
teste da cultura alemã, e que esta opção só levando-o a apaixonar-se pela cultura alemã.
pode ser compreendida dentro da sutura en- Para Nelson Saldanha (1985, p. 15) e Vamireh
tre as dimensões sociais e biográficas. Além Chacon (1978, p. 12) a paixão pelo germanis-
do mais, a contribuição de suas elaborações mo ocorreu quando foi ser promotor em Es-
para a história da sociologia no Brasil só pode cada. Segundo os relatos destes autores, antes
ser entendida a partir da dinâmica dos gru- de ir, passou à Rua do Imperador, comprou ao
pos que sustentaram e utilizaram seletivamen- acaso um dicionário e uma gramática alemães,
te as sendas oferecidas por este autor para e que a partir daí, dessa visita histórica, iniciou
pensar as pautas delimitadas e construídas as suas núpcias com o germanismo.
nos contextos subsequentes, o que não nos Consoante Tobias Barreto [1880] (1990,
interessa nesta ocasião. Queremos apenas p. 66):
concorrer para atestar a verificabilidade das Aqui importa notar – e para destruir uma
premissas sociológicas que situam a emer- certa ideia, geralmente aceita, de que eu
gência de determinados estilos de pensamen- me dedicara à Alemanha, por ocasião ou
to a partir de fatores não teóricos. depois da guerra desta com a França –
A relação com os alemães é um capítulo que já no ano de 69, ainda acadêmico,
da biografia de Tobias um tanto quanto curio- eu começará a fazer estudo de gramá-
sa. Escrevia e publicava artigos e jornais nes- tica alemã, não podendo, porém, ir muito
avante, por causa das ocupações acadê-
sa língua no município de Escada, interior de
micas [...] no ano seguinte (1872) vim para
Pernambuco, e julgava ser um fiel defensor de Escada, e entregando-me a profissão de
suas ideias. Para Tobias Barreto [1872] (1962a, advogado, entreguei-me também ao es-
p. 283), a Alemanha ensina a pensar e a Fran- tudo da língua alemã, na qual nunca tive
ça a escrever4. Em outro momento Tobias Bar- mestre; sou completamente um autodi-
reto [1887] (1962b, p. 245-246) afirmava dever data, ou mestre de mim mesmo.
aos [...] alemães um pouco de gratidão, por Esse ponto de partida marca a crítica que
haverem eles indiretamente, com maior robus- Tobias Barreto de Menezes – o combatente
Tobias Barreto tez dos seus argumentos e a maior profunde- Outsider, como denominou Paulo Mercadan-
e a Sociologia za de suas indagações, melhor assentado a te (2006), ou o Sócrates da Escola do Re-
no Brasil
insustentabilidade do positivismo e, sobretudo, cife como designara Nelson Saldanha (1985)
Ivan Barbosa
a inanidade da sociologia. – faz entre 1879 e 1887 ao determinismo e
[...] a minha germanomania não é de todo ao positivismo, ao refutar a possibilidade da
um fenômeno psiquiátrico, pois que se ba- sociologia ser considerada uma ciência.
seia em muito boas razões [...] os pen- As suas sentenças, pouco gráceis – in-
sadores alemães, em quase todos os terpretadas equivocadamente por Alcântara
domínios da inteligência, andam dez Nogueira (1980, p. 19) como uma das con-
anos, pelo menos, adiante dos franceses.
tradições mais sérias de sua produção e
Não sei se deva excetuar o domínio polí-
tico. A política alemã não me é totalmente
pouco comum a uma época, vislumbrada
simpática. Olhada por este lado, a minha com a ideia de evolução social – afirmam às
cara Alemanha assemelha-se a uma lin- impossibilidades de se pensar uma sociolo-
da mulher, em que aliais a enormidade gia nos moldes deterministas e positivistas.
das mamas diminuí a beleza das outras Gilberto Amado (1934, p. 37) asseverou que
formas. Por isso limito-me a contemplá-la a sociologia era o seu abantesma.
só pelo rosto (BARRETO, 1962b, p. 201). Na dissertação apresentada no concur-
Segundo a sugestão de Sylvio Rabello so para professor da FDR assiná-la Tobias
(1967, p. 16), Nilo Pereira (1983, p. 194) e Barreto [1882] (1977, p. 284-285) que
Mauro Mota (1978, p. 165) um dos fatores de- [...] a concepção de sociologia, e espe-
cisivos para adoção desse germanismo foi à cialmente a concepção de direito, ainda

51
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
hoje correntes entre nós, são um peda- seleção que culminou numa crítica à sociolo-
ço de metafísica, um resto de mitologia gia positivista, partindo da apropriação de uma
[...] em estado embrionário [...] Verdade perspectiva teórica que se coadunava com a
é que a sociedade, na qualidade de um necessidade de atendimento das demandas
organismo de ordem superior, na quali-
que se impunham a afirmação de seus inte-
dade, não de uma antítese, mas de uma
continuação da natureza, deve ter a sua resses. Isso implica compreendermos que na
mecânica, mas essa mecânica [...] ainda busca aleatória e assistemática de autores e
não encontrou seu Kepler. ideias, as afinidades afetivas e existenciais são
Nas Glosas, cinco anos mais tarde, Tobias critérios legítimos para serem levados em con-
Barreto [1887] (1962b, p.191-192) continua a sideração enquanto balizas para o entendimen-
insistir que não acreditava na existência dessa to da recepção e rejeição de determinadas
Ciência: pressuposições por parte deste autor.
A sociologia é apenas o nome de uma as- Glosas Sociológicas
piração tão elevada, quão pouco realizá- O início desta ventura deu-se com o dis-
vel. O estudo dos fenômenos sociais, curso intitulado A Educação da Mulher, profe-
considerados em sua totalidade e reduzi- rido em 22 de março de 1879 na assembleia
dos à unidade lógica de um sistema cien- provincial enquanto deputado estadual pelo
tífico daria em resultado uma estupenda
Partido Liberal. Versava sobre a defesa do
pantosofia [...] Uma ciência, que é realmen-
te tal, não tem necessidade de fazer de projeto 61/79 que propunha um auxílio, a ser
sua própria existência a primeira questão, dado pelo governo da província, para que
que lhe cumpre resolver [...] em geral os uma jovem pudesse estudar medicina nos
sociólogos pertencem à ordem dos cren- Estados Unidos ou na Suíça. No polo diame-
tes; e crenças não se refutam. Deixemo- tralmente oposto ao de Tobias Barreto estava
nos de cerimônias e digamos toda a o médico e também deputado Malaquias An-
verdade. Em geral os sociólogos não são tônio Gonçalves.
homens com quem se possa falar sério; O contorno desta contenda tem início com
são espíritos incompletos ou doentes. Não
fala de Tobias Barreto [1879] (1962, p. 60-61)
é em vão que esta nova raça de filosofas- Tobias Barreto
tros tem tido maior incremento nos países que indica o reconhecimento da dimensão e a Sociologia
atrasados como o Brasil, Portugal e outros, social da relação desigual entre homens e no Brasil

diminuindo o seu número na razão inver- mulheres, ao criticar a posição do Deputado


Malaquias que advogava que a mulher esta- Ivan Barbosa
sa da cultura dos povos, entre os quais eles
aparecem.Os discípulos e subdiscípulos da ria condenada por natureza a incapacidade e
celebre seita (positivismo) pertencem pela ao atraso mental. Conforme Tobias:
mor parte à ordem dos malucoides (mat- [...] seria um pecado imperdoável contra
toidi), de que fala Lombroso (BARRETO, o santo espírito do progresso, de um cri-
1962, p. 244-245).
me da lesa-civilização, da lesa-ciência [...]
Autores como Miguel Reale (1973, 1990), o de ficar aqui decidido, barbaramente
Antônio Paim (1966, 1967), Vamireh Chacon decidido e assentado, que a mulher não
(1959, 1969, 2008), Pinto Ferreira (1969) con- tem capacidade para os misteres cientí-
sideram que a contribuição fundamental de ficos, para os misteres que demanda uma
Tobias foi a de ter trazido para o cenário filosó- alta cultura intelectual.
fico brasileiro, o debate inaugurado por Imma- Tendo como referência as premissas da
nuel Kant. Tobias indicou as debilidades e fisiologia humana em voga, o Deputado Mala-
fragilidade das doutrinas e perspectivas que quias pretendia demonstrar a inferioridade da
estavam assentadas na suposição que a natu- mulher e atestar a sua dependência perpétua
reza cultural dos fenômenos estivesse sujeita em relação ao homem, sobretudo, imputando
a certos tipos de determinismos e aprisionada às mulheres a condição de inaptas os estudos
a dimensões involuntárias. Ele operou uma sérios. Tudo isso inscrito, como supunha, no

52
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
próprio cérebro feminino5. Para contrariar es- maneira, que não pudesse aparecer nem
ses argumentos Tobias Barreto cita autori- a anarquia nem o despotismo.
dades em medicina, principalmente alemãs, O Sr. Clodoaldo: e é o que temos.
atestando a plena aptidão da mulher para o
Perdão, diz Tobias, nós temos o despo-
aprendizado e para o ofício. Invoca como
tismo na família.
exemplo a russa Nadeschda Suslowa, a pri-
meira mulher a ser consagrada médica na uni- Sr. Clodoaldo: não apoiado. [ Malaquias
versidade de Zurich em 1867 (BARRETO, retruca – perdão: estou nos braços da
1962, p. 66/71). ciência].
Para Tobias, numa ambivalência típica dos Tobias exclama – engana-se; está com
intelectuais de então, não havia exagero al- o catolicismo, está com São Paulo, está
gum em pensar a emancipação da mulher. com os santos padres, que tinham dú-
Essa é uma das questões do nosso tempo, vida sobre a alma racional da mulher,
ressaltava. É um dos mais sérios assuntos como hoje se dúvida do seu cérebro [...]
da época, em toda a sua complexidade, e O deputado Gervásio Campelo interpela
pode ser tratado sob três pontos de vistas dis- – então está salvo [1879] (BARRETO,
tintos: o político, o civil e o social. 1962b, p. 75-78).
Quanto ao primeiro, a emancipação po- Afirmar que a mulher não tem competên-
lítica da mulher, confesso que ainda não cia para os altos estudos científicos é além
julgo precisa, eu não a quero por ora. de um erro histórico, um atentado contra a
Sou relativista: atendo muito às con- verdade dos fatos, assevera Tobias. Ocorre
dições de tempo e de lugar. Não have- que a partir do momento que a noção de cul-
mos mister, ao menos em nosso estado tura passou a ser percebida por Tobias como
atual, de fazer deputadas ou presiden-
uma construção artificial utilizada no combate
tas da província. [exclama um depu-
tado: o Sr é oportunista] (BARRETO, das intempéries impostas à condição huma-
1962b, p. 75). na, emerge a possibilidade de identificação
no universo das relações sociais, a chave para
Do ponto de vista civil argumenta ser
Tobias Barreto compreensão dessa desigualdade. Para To-
e a Sociologia necessário emancipar a mulher do jugo de
bias Barreto a mulher não teve no transcurso
no Brasil velhos prejuízos, legalmente consagrados.
histórico, uma educação suficiente e dessa
O diagnóstico era de que as relações da fa-
Ivan Barbosa
mília ainda eram dominadas e modeladas
mesma falta de educação tem resultado para
pelo influxo direto dos princípios bíblicos da
o sexo um tal ou qual acanhamento, chegan-
sujeição feminina. do ao ponto de supor que ela não é suscetível
de cultivar-se e ilustrar-se da mesma forma que
Tobias: A mulher ainda vive sob o poder
o homem (BARRETO, 1962b, p. 81).
absoluto do homem. Ela não tem, como
devera ter, um direito igual ao do marido, A procura de um maior ou menor grau de
por exemplo, na educação dos filhos; cur- desenvolvimento entre os sexos deve le-
va-se como escrava à soberania da von- var em consideração a educação incom-
tade marital. Essas relações deveriam ser pleta, a cultura escassa da mulher. Até hoje
reguladas por um modo mais suave, mais educação só e só para a vida intima, para
adequado à civilização. a vida da família, ela chegou ao estado de
parecer que é esta a única missão, que
O Sr. Clodoaldo: com igualdade absoluta
nasceu exclusivamente para isto. E tal é a
dos direitos é impossível família. Não
ilusão, em que laboramos: tomando por
compreendo a sociedade conjugal sem
efeito da natureza o que é simplesmente
uma autoridade.
um efeito da sociedade, negamos ao belo
Tobias retruca: esta autoridade estaria na sexo a posse de predicados que alias, ele
lei. O que eu desejava, pois, era que a lei tem de comum com o sexo masculino6
regulasse as relações de família de tal (BARRETO, 1962b, p.82).

53
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
Já existe, nesse momento, um creditável A Arte, a Ciência, a Religião e o Direito,
argumento que notadamente foi de encon- assim como outras instituições humanas,
tro a algumas das pressuposições vigentes eram produtos da cultura humana. Os direi-
que legitimavam e explicavam as questões tos considerados como naturais e inalienáveis,
de gênero a partir de prismas naturalísticos. tais como a vida, a propriedade, à liberdade
A ossatura dessas pressuposições, que cul- nunca existiram fora da sociedade; foi esta
minará na crítica à sociologia, será edificada que os instituiu e os consagrou (BARRETO,
e depurada em seus escritos subsequentes. 1977, p. 286). O direito, incorporando a refle-
Segundo a delimitação de Antônio Paim xão de Rudolph Von Jhering (2001), é definido
(1966) e Paulo Mercadante (1990, 2006), o como um complexo de condições existenciais
ano de 1882 marca, na trajetória das inquie- da sociedade, asseguradas por um poder pú-
tações teóricas de Tobias Barreto, o início do blico. Como esse poder público que garante
ciclo de adesão ao Neokantismo. Embora a os direitos não é natural, pois é criado pelo ho-
relação com o pensamento Alemão tenha vin- mem, nenhum direito pode preexistir a ele.
do de antes, foi somente a partir do concurso Conclui Tobias Barreto (1977, p. 287) que:
realizado neste ano que Tobias manifestou A teoria de semelhantes direitos não é
abertamente sua posição antissociológica. No somente inarmonizável com os referidos
pronunciamento analisado anteriormente, já pressupostos, mas até sucede que a sua
existia uma busca em desmistificar a argu- permanência é um obstáculo à sociolo-
mentação de fundo determinista e de base gia. Platão disse: não a ciência do que
biológica sob a qual estava assentada a dis- passa; a moderna teoria da evolução in-
verteu a proposição e redarguiu ousada:
simetria entre os gêneros. Mas é apenas nes-
só a ciência do que passa, por que a his-
sa prova escrita para o provimento do cargo tória só se ocupa do que passa, e todas
de professor da congregação da FDR, que as ciências caminham para tornar-se pre-
Tobias sustenta com mais veemência a influ- ponderantemente históricas.
ência alemã e estende tímida e disfarça- Serpente que não devora serpente não
damente o uso desse debate para o universo vira dragão, eis a essência do fenômeno
das questões raciais. jurídico conforme Tobias Barreto. O direito Tobias Barreto
A indagação apresentada pela congre- e a Sociologia
tem sua origem na transformação da força no Brasil
gação da FDR fora a seguinte: conforma-se
[...] que limitou-se, e continua a limitar-
com os princípios da ciência social a doutri- se no interesse da sociedade. Desta for- Ivan Barbosa
na dos direitos naturais e originários do ho- ça conservada e desenvolvida, é que
mem? Essa pergunta foi respondida tendo tudo tem-se produzido, inclusive o pró-
como referência a pressuposição teórica que prio direito, que em última análise não
acenava para o fato de que o fenômeno ju- é um produto natural, mas um produto
rídico deveria ser compreendido como cons- cultural, uma obra do homem mesmo
trução cultural humana. Conforme Tobias (BARRETO, 1977, p. 287).
Barreto [1882] (1977, p. 285) a concepção de Essa intuição e percepção que identifica
um direito superior e anterior à sociedade é o determinismo e o idealismo como óbices à
uma extravagância da razão humana, que não possibilidade da sociologia foram, inevitavel-
pode se justificar. O homem é um ser histó- mente, incorporadas em função de seu co-
rico. Acreditava que um direito natural e não nhecido germanismo. Consoante Mercadante
relativizado seria impensável. O direito oscila (1972, p. 154), este discernimento foi fruto da
e varia no espaço e no tempo. A etnologia nos dupla inspiração e confusão entre [...] o natu-
mostra que as diferenciações que produzem ralismo científico e o movimento neokantia-
raças, trazem diferenças nos costumes, nas no. Corroborando essa assertiva José Silvério
leis, nas instituições das mesmas raças, e his- Leite Fontes (2003) e Miguel Reale (1973,
tória confirma essa asserção. 1990) atestam que, por intermédio de Kant,

54
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
pôs-se à mostra a debilidade epistemológica veria tantas sociologias quantos grupos
de doutrinas pretensamente assentes em sociais. (5) A admiração pelas ciências na-
dados irretorquíveis das ciências naturais, turais é que trouxe a mania da sociologia
inquietando os espíritos para problemas que como ciência. Quando vamos até as for-
pareciam superados. Especialmente os re- mações superiores (família, estado, homem
lativos à reconhecida necessidade de se etc.) não podemos lançar mão de explica-
distinguir o físico e o psíquico, o mundo da ções mecânicas. (6) A sociologia nasceu da
matéria e o mundo do espírito. Nesse sen- ideia errônea de considerar o Estado e a
tido, Paim (1990, p. 50) endossa que Tobias, Sociedade como dois seres diferentes, dis-
com sua hipótese culturalista, acabou anteci- tinta da política, que é a ciência do Estado.
pando uma das linhas mais fecundas de de- (7) A sociologia tem mania de lei e procura
senvolvimento do neokantismo. aplicar essa ideia a tudo. Os sociólogos
As Glosas heterodoxas a um dos motes costumam pôr a estatística a seu serviço e
do dia ou variações anti-sociológicas [1881] alegar que tal ou qual regularidade com que
é um texto mais denso que a dissertação para os números funcionam em certas ordens
o concurso e mais significativo para o debate de fenômenos da vida social, é uma prova
que gravitava em torno dos limites do conhe- em favor da existência das leis sociológicas.
cimento sociológico nos termos darwinistas e (8) A sociologia tem a pretensão de ser in-
positivistas. Ele tece críticas à ideia de trans- corporada pelas ciências naturais e medi-
posição dos modelos de explicação e enten- ante o uso do mesmo método, busca iguais
dimento das ciências naturais para a o resultados. Esquece que não existe uma
entendimento dos fenômenos sociais. A sua ciência da natureza, como ela pretende ser
reflexão estava endereçada a dois pilares do uma ciência da sociedade?
organicismo em voga. No primeiro instante Para Tobias Barreto (1962, p. 196) as leis
refuta o determinismo que advogava a lei da da liberdade são, também, as leis da natu-
causalidade e desprezava a volição nos as- reza. Mas isso não reduz o processo da vida
suntos sociais humanos, e em um segundo moral à pura mecânica dos átomos e a ações
Tobias Barreto momento, vai de encontro às suposições de e reações químicas. O determinismo tenta
e a Sociologia que os fenômenos sociais pudessem ser re- negar a liberdade a partir do argumento de
no Brasil
gidos pelo império inescapável das leis. que as ações são todas motivadas. A lei da
Ivan Barbosa
Os juízos que Tobias Barreto (1962) motivação seria uma das formas da lei geral
emitiu da sociologia e de sua viabilidade en- da causalidade. Os motivos por possuírem
quanto ciência foram, resumidamente, os causas mecânicas, seriam efeitos de neces-
seguintes: (1) O estudo dos fenômenos so- sidades, de maneira similar aos eventos do
ciais, em sua totalidade, resultaria numa es- mundo natural. A discussão se dá em torno
tupenda pantosofia, e isso é incompatível da volição como elemento fundamental para
com as forças do espírito humano. (2) vi- pensarmos o ser humano social. O debate
vemos num período sociolátrico, e a socio- acerca da liberdade acontece para contra-
latria é inconciliável com uma ciência social. por-se a uma ideia de que os sujeitos obe-
(3) o conceito de liberdade torna impossível decem a regulamentações que extrapolam
a existência de uma sociologia nos moldes o universo da cultura. Ao tornarem o caos e
deterministas uma vez que não há como a desordem na vida individual e social o es-
provar que a vontade humana é uma força tereótipo da liberdade, os deterministas, im-
natural, como o calor ou a eletricidade. (4) põe fatalismo e necessidade, em qualquer
se a sociologia trata da humanidade em regular encadeamento dos atos humanos.
geral, seu objeto é apenas uma grande abs- Assim, e de conformidade, por exemplo,
tração, e se tratar de sociedades humanas com os princípios da sociologia nacio-
geográfica e historicamente situadas, ha- nal brasileira, como, ela é cultivada por

55
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
vadios e vagabundos, é um despotismo rer para o depuramento da sociedade, se
clamoroso, quando a autoridade, inva- isto é seleção, seria mil vezes mais bár-
dindo a terra santa da liberdade, quebra bara do que a velha seleção espartana; e
a viola do ocioso cantor popular e põe como precisa de um nome, que a carac-
um limite aos excessos de bebedeira terize, - pois que Esparta já não existe,
(BARRETO, 1962b, p. 197). bem pudera qualificar-se de seleção in-
O elemento da volição e da singularidade glesa (BARRETO, 1962, p. 214).
está presente ao afirmar que, se a liberdade De acordo com Tobias Barreto, a socie-
é alguma coisa, ela consiste na capacidade, dade é um sistema de forças combatentes
que tem o homem, de realizar um plano por contra o próprio combate pela vida, ela ex-
ele mesmo traçado, de atingir um alvo, que trapola o universo da condição animal. A so-
ele mesmo se propõe. A causalidade da na- ciedade, que é o grande aparato da cultura
tureza e a causalidade da vontade não pos- humana, apresenta-se como uma teia imen-
suem o mesmo caráter. Assim, ao passo que sa de relações sinérgicas e antagônicas; é
as causas naturais se traduzem num por que, um sistema de regras, é uma rede de nor-
a causa voluntária se exprime num para quê mas, que não se limitam ao mundo da ação,
(BARRETO, 1962b, p. 211-212). chegam até os domínios do pensamento
A partir daí, a crítica ao positivismo ocorre (BARRETO, 1962a, p. 218). Ela é uma série
em torno do conceito de sociedade e de cul- de combates contra o geral combate pela
tura. Era impossível explicar a sociedade a existência, é um conjunto de seleções artís-
partir da analogia a organismos vivos ou acre- ticas, que melhoram, modificam, alteram a
ditar que sua dinâmica fosse alimentada por grande lei da seleção natural (BARRETO,
mecanismos involuntários inscritos institi- 1962a, p. 227).
vamente nos sujeitos. As anomalias da vida A abordagem desse autor, entendida
social, que são a verdadeira vida do homem, como culturalista por muitos que exploram o
são transgredidas a partir de formas de sele- conjunto de seus escritos, está inserida den-
ção que purificam os homens. A seleção jurí- tro de um marco, ou de um repertório, que
dica e as outras formas de seleção (estética, permite que pensemos a cultura e suas insti-
Tobias Barreto
moral etc.) constituem um processo geral de tuições como criações sujeitas não ao inexo- e a Sociologia
depuração que caracteriza o grande progres- rável domínio da evolução, mas às diversas no Brasil

so da cultura humana. A sociedade, como pro- e peculiares formas de organização ligadas


duto da cultura é um sistema de forças que às volições de natureza social. O Direito e a Ivan Barbosa

lutam contra a própria luta pela vida. Ela de- Filosofia foram os alvos prediletos de Tobias.
pura e retira o homem de sua condição ani- Seus interesses pelo Direito partiam de uma
mal. Logo, a seleção dos aptos e dos normais, dimensão de que as regras jurídicas deve-
não poderia ser feita a partir de algumas ins- riam ser encaradas como criações humanas,
tituições sociais, como asilos para mentecap- não necessariamente fundamentadas na na-
tos, doentes e leis de socorro aos indígenas, tureza, e que teriam como função, a qualquer
como sugeria Gustave Le Bon. Advogava To- custo, minimizar os dispêndios inevitáveis à
bias que a teoria que postula a normalidade sobrevivência gregária dos homens. A crítica
da eliminação natural dos fracos diante dos feita ao determinismo se torna mais contun-
fortes e dos enfermos frente aos sadios, aca- dente, ao salientar que tal empreitada no fun-
taria tranquilamente a ação do homem robusto do é uma tentativa ideológica de naturalizar
e vigoroso, que em luta com o raquítico e in- determinadas relações cujos fundamentos
válido, chega a matá-lo. não eram naturais como queriam algumas das
Entregar os míseros à sua própria misé- principais teorias que aportaram aquele mo-
ria, deixar que morram de fome os que mento aqui.
não podem conquistar pelo trabalho os Outro aspecto relevante desenvolvido por
meios de subsistência, e deste modo cor- Tobias no que concerne a crítica a sociolo-

56
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
gia diz respeito ao fato da crença em uma é um disparate, que repugna à obser-
disciplina denominada sociologia proceder vação e o bom senso (BARRETO, 1962,
do reconhecimento que as ciências naturais p. 270).
detinham. Afirma que os sociólogos, que em Demonstrando uma estratégica sensibili-
regra são espíritos tomados de admiração dade para contrariar o critério empírico natu-
pelos progressos e conquistas das ciências ralista presente nos estudos de Lilienfield,
naturais, entendem que nada há de mais fácil apresenta a dimensão cultural e social como
do que construir a sua sociologia, aplicando- relevante para pensarmos os homens em
lhe unicamente o método naturalístico, isto é, sociedade. Encerra o texto convidando-o para
observando e induzindo. A ilusão é compre- visitar o Brasil para constatar que o determi-
ensível, mas não desculpável. nismo racial não vinga e que este país é um
Além destas e outras aberrações, os so- sintoma de que os preceitos inexoráveis da
ciólogos ainda são vítimas de uma ilusão, sociologia de então, que advogava o malogro
característica do tempo, quero dizer, a ilu- das raças inferiores em seus climas tropicais,
são, a mania de lei – de cujo conceito se encontra seus limites nas evidências aqui for-
pode afirmar o que Brinz disse do de pes- necidas. Segundo Tobias Barreto:
soa jurídica, isto é, ser apenas um espan- Quanto ao ponto relativo às raças, isso é
talho, uma figura de palha para afugentar apenas o efeito de uma outra mania do
as aves, respectivé, confundir os tolos nosso tempo: a mania etnológica. Eu qui-
(BARRETO, 1962, p. 261). sera que Lilienfeld viesse ao Brasil, para
A crítica de Tobias neste momento do ver-se atrapalhado com a aplicação de
texto é dirigida a Paul Von Lilinfield (1828- sua teoria ao que se observa entre nós.
1903), famoso sociólogo russo partidário e As chamadas raças inferiores nem sem-
defensor do organicismo. Partindo do pres- pre ficam atrás. O filhinho do negro, ou
suposto, diz Tobias, de uma analogia real e do mulato, muitas vezes leva de vencida
o seu coevo de puríssimo sangue ariano
positiva da sociedade com a natureza, como
[1877] (BARRETO, 1962b, p. 270-271).
opina o sociólogo, a primeira confrontação
a estabelecer entre os dois ramos da embrio- A Aristocratização de Tobias Barreto
Tobias Barreto
e a Sociologia logia, deve ser nestes termos: pelo pensamento
no Brasil
[...] assim como, nos estádios superiores Se o positivismo e o determinismo são a
da evolução embrionária do individuo, tônica do momento, como situar à opção pe-
Ivan Barbosa desaparece a cauda do primeiro perío- culiar e crítica à sociologia perfilada por To-
do, assim também, nos estádios superio- bias? De uma maneira geral a geração de
res da vida do embrião social, desaparece 70 da FDR e a subsequente e percussora
[...] o que? [...] Hic haeret aqua. O que, geração, foram partidárias do evolucionismo
com efeito, corresponde à pequena cau- naturalista e quiçá do positivismo. Partilha-
da, ao rabinho do homem, e que em se- vam um conjunto de experiências forjadas
guida acaba-se de todo? Ninguém sabe
ante um clima de mudanças paulatinas que
(BARRETO, 1962a, p. 269).
incorporavam a justaposição de modernida-
Conforme Tobias: de a formas de controles consuetudinários
A teoria é bonita demais, para ser ver- das instituições políticas, econômicas e jurí-
dadeira. Efetivamente: um menino de dicas, e isso deixavam entrever nas teorias
cinco anos, nascido em uma das nos- selecionadas para traçarem o retrato do Bra-
sas grandes cidades, que brinca sobre
sil. Grosso modo, consoante a atenta cons-
o tapete de nossos salões, não pode
apresentar os mesmos sinais de rudeza tatação de Oracy Nogueira (1978, p. 185),
mental, que apresenta a pobre criança, os intelectuais do Império eram ambivalen-
da mesma idade, filha do alto sertão, tes e marcados pela rubrica da perplexidade
ainda meio “alali”, que mal começa a co- que experimentavam ao observar o contexto
nhecer e distinguir seus pais. Iguala-los em que estavam inseridos. Vendo-o com os

57
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
olhos das perspectivas europeias, exacer- facilitou a incorporação da ideia de superio-
bavam seus aspectos negativos, sem con- ridade racial como elemento para entender
seguir romper com os laços afetivos que a o domínio dos europeus sobre os demais
ele os prendiam. povos e a construção ideológica da nação
José Murilo de Carvalho (1980) cunhou brasileira. Junto a este elemento foi associa-
situação semelhante de dialética da ambigui- do o determinismo geográfico que consolidou
dade, pois denotava o fato de que emprego a dúvida sobre a viabilidade da sociedade
público indicado e nomeado constituía a prin- nacional. Ou seja, seria possível desenvolver
cipal alternativa para os enjeitados do latifún- nos trópicos uma civilização que se equipa-
dio escravista, ao tempo que tolhia e limitava rasse à europeia?
a crítica e o protesto contra este mesmo lati- Acreditamos que é no interior dos inte-
fúndio. Logo, ao passo que olhavam com as resses, inseguranças e incertezas que abar-
lentes do mundo moderno a monarquia es- cavam o horizonte das sensibilidades
cravista, eram cabreiros quanto à viabilidade intelectuais destes contendedores que po-
de sua falência. demos explorar as razões para a emergên-
Costa (1999, p. 262-263) assiná-la que os cia da crítica de Tobias Barreto à sociologia
intelectuais estavam presos a uma ambígua a partir de seu excessivo apego à cultura ale-
rede de relações de dependência para com o mã. Ele reage, imerso numa atmosfera te-
estamento. merária e inquietante, a sentença teórica
[...] a ambiguidade em que se debate condenatória que via o mulato como elemen-
esse tipo de intelectual fica evidente to social congenitamente inferior. Combate
numa atitude de Tobias Barreto que, às teorias que advogam a dimensão natural
numa cidadezinha perdida no interior do das desigualdades sociais. A sua feição vis-
Brasil, publicava em alemão um jornal tosamente marcada por sua filiação africana
que certamente não encontrava leitores, não poderia sacrificar a validade de seus ar-
e fazia discursos [...] atacando as oligar- gumentos e ideias. O próprio estamento, ru-
quias rurais numa área controlada es- indo, já as havia acatado quando o aprovara
sencialmente por elas, diante de um no concurso. As rejeições parciais de percep-
público perplexo, senão atônito. Tobias Barreto
ções evolucionistas e raciais denotavam uma e a Sociologia
Moraes Filho (1985, p. 80) revela que forma de ação que, ao buscar se afirmar en- no Brasil

parte significativa do arsenal de ideias e no- quanto igual – e, além de tudo, ímpar, singu-
ções sociais de Tobias buscava a constru- Ivan Barbosa
lar, distinto – era capaz de envergar as rudes
ção de uma ciência política ou sociológica dimensões ideológicas e sociais que o con-
compreensiva, tímida na ação, antirrevo- denaria, necessariamente, a um reconhe-
lucionária, idealista e intelectualista, a despeito cimento precário. Entendemos que essas
de uma ou outra intuição pessoal espontâ- impressões procedem da condição de mes-
nea, heterodoxa, rebelde, mais logo contida, tiço, o impulso ímpar e gerador daquilo que
com medo de suas consequências. Sempre Randall Collins (1987, 2005) chama de emo-
conservadora. tional energy, ingrediente fundamental à cria-
Uma breve avaliação do conjunto da obra tividade cultural e ou intelectual7.
desta geração atesta que ela está prenhe A miscigenação neste sentido atuou como
de vestígios que indicam o âmbito destas vetor para que alguns segmentos participas-
ambiguidades. Parece-nos que a naturaliza- sem da parca mobilidade social existente na-
ção da premissa da evolução incutiu nesses quele período. Esta questão implicava, na
jovens um fatalismo otimista, criando a ex- sociedade brasileira, uma realidade que já era
pectativa da transição, cedo ou tarde, de um notada pela existência de alguns mestiços
estado social inferior para outro mais evo- ocupando posições de prestígio e destaque.
luído e desenvolveu uma sistemática indife- Tratava-se de um fenômeno definido por
rença ante a escravidão. Esse evolucionismo Sylvio Rabelo (1967, p. 14) como um pro-

58
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
cesso de aristocratização pela inteligência. de contra aqueles outros brasileiros que,
Para este autor, a miscigenação atuou di- sendo brancos, o eram apenas pela sua
retamente na formação dos paradoxos de condição étnica de neolatinos, de neome-
Tobias. diterrâneos, de neo-hispanos, faltando-
lhes a perfeita arianidade que era a
É possível ainda que seu problema so- nórdica, particularmente a germânica; e
cial – a sua inferioridade de origem – ti-
com esta é que ele, Tobias, estava identi-
vesse perturbado a espontaneidade do
ficado pelo espirito; pela cultura; pelo in-
artista; que a ascensão do homem hu-
telecto; e de tal maneira que sua condição
milde de Campos a condição de profes-
étnica afro-brasileiro ele talvez a consi-
sor da FDR tivesse absorvido o que de
derasse superada pela intelectual ou cul-
melhor existia nele como personalidade
tural, de homem impregnado, da cabeça
– a sua força nativa [...] conquistou o tí-
até quase aos pés, de alemanismo jurí-
tulo de doutor, o casamento em família
dico, filosófico, literário. Sob essa con-
burguesa, a cadeira de professor, a fama
de gênio (RABELO, 1967, p. 14). vicção, não poderia nunca tornar-se um
abolicionista, semelhante ao neolatino
Conforme Freyre (2000, p. 601) o [...] Ba- Joaquim Nabuco8.
charel e o Mulato (muitas vezes reunidos na
Freyre (1971, p. 143) observou ainda que
mesma pessoa) foram as duas grandes for-
havia condições pessoais que favoreciam em
ças novas e triunfantes no Brasil do século
Tobias a adesão em termos ostensivos e
XIX. Foram eles os elementos dinâmicos da
absolutos à cultura alemã e, simbolicamen-
sociedade brasileira dos novecentos.
te – talvez – à própria etnia germânica. Que
Entre esses duros antagonismos é que
os Nabuco, Taunay, padres latinistas e aris-
agiu sempre de maneira poderosa, no
sentido de amolecê-los, o elemento soci-
tocráticos do maranhão, se conformassem
almente mais plástico e em certo sentido em ser latinos e tratados como brancos de
mais dinâmico, da nossa formação: o segunda classe. Ele, pela sua anuência ab-
mulato. Principalmente o mulato valori- soluta à cultura germânica, transferia-se para
zado pela cultura intelectual ou técnica. aquela cultura e, simbolicamente, para aque-
Eram momentos situados no contexto la raça de europeus superiores que eram os
Tobias Barreto
e a Sociologia do declínio e esmorecimento do patriarca- europeus germânicos.
no Brasil
do rural no Brasil, conforme aduzi Freyre Para Gláucio Veiga (1889, p. 18)
(2000, p. 126) em Sobrados e Mocambos. No fundo, os artigos de Tobias Barreto
Ivan Barbosa
Houve uma paulatina e gradual transferên- eram espetaculares legítimas defesas do
cia de poder, ou de soma considerável de mulato – mulato e pobre – mulato pela
poder, da aristocracia rural, quase sempre primeira vez se apresentando para in-
branca, não só para o burguês intelectual vadir o espaço da branca congregação
– o bacharel ou doutor às vezes mulato – da faculdade, hospedando o barão ca-
maragibe, o visconde de Bom Conselho
como para o militar – o bacharel da escola
e uma serie de conselheiros.
militar e da escola politécnica, em vários
casos negróides. A questão da relação entre a pulsão in-
Tobias Barreto era sintoma desse proces- telectual do mulato e seu reconhecimento é
so de declínio da sociedade patriarcal e emer- algo presente no século XIX. Freyre (2000a),
gência dos modos de vida modernos. Freyre simpático, assim como Silvio Romero9, a
(2000a, p. 444), a respeito deste autor, indica percepção da importância do papel do mu-
que o lato ou do elemento mestiço em nossa for-
[...] seu próprio alemanismo talvez tenha mação, sugeriram que o mulato valorizado
sido, conforme antiga sugestão nossa ao pela cultura intelectual ou técnica, represen-
professor Roger Bastide, que a vem con- tou o elemento socialmente mais plástico e
siderando sociologicamente válida, como em certo sentido mais dinâmico da nossa
vingança ou desforço do brasileiro negrói- formação.

59
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
Logo, dentro de uma sociedade escra- Gilberto Amado (1934, p. 29) também as-
vocrata que reconhecia o mestiço e possibi- socia o empenho intelectual de Tobias às suas
litava a sua mobilidade por intermédio de condições sociais. A origem humilíssima, aca-
credenciais intelectuais, muitos eram os que so sentindo em torno de si a persistência de
enveredavam pela via intelectual como for- preconceitos mal dissimulados, pobre até a
ma de negociar certas formas de reconhe- miséria, em que viveu e morreu. Sua suscepti-
cimento. Segundo Gilberto Freyre (2000a, p. bilidade o levava as manifestações de violên-
335), o mulato que vinha desabrochando em cia em que explodiam os seus ressentimentos.
padre, em doutor, em bacharel, possuidor do Segundo Hermes Lima (1963, p. 12), a
diploma acadêmico ou o título de capitão de sua primeira dolorosa humilhação foi ter sido
milícias (que acabava servindo-lhe de carta rejeitado pela família de
de branquidade) iria dinamizar a sociedade [...] seu primeiro grande amor por ser ele
brasileira no século XIX. Seria a meia-raça pobre e mestiço. Destas distinções sociais
a fazer de classe média, tão débil dentro do (preconceito de classe e de cor) sempre
nosso sistema patriarcal. tivera o pressentimento e elas, desde
Desde o últimos tempos coloniais que o cedo, concorreram para marcar-lhe a per-
bacharel e o mulato vinham se constitu- sonalidade com azedume, o pessimismo
indo elemento de diferenciação dentro de e a agressividade que o caracterizam [...]
uma sociedade rural e patriarcal que pro- amava o ruído das discussões, o fulgor e
curava integrar-se pelo equilíbrio, e mais a atmosfera incandescente dos grandes
do que isso, pelos que os sociólogos mo- auditórios. Inflamara os corações. A ida
dernos chamam de acomodação, entre para Escada deveu-se ao casamento com
dois grandes antagonismos: o senhor e o filha do coronel João Felix, proprietário de
escravo. A casa grande, completada pela engenhos nesse município. Tudo indica
senzala, representou, entre nós, verda- que ele pusera a esperança de grandes
deira maravilha de acomodação que o an- vantagens sociais neste casamento [...]
tagonismo entre o sobrado e o mocambo viver em Escada passou a significar viver
veio quebrar ou perturbar (FREYRE, em domínios de família, onde, com o pres-
2000a, p. 601). tígio social e as relações políticas desta,
Tobias Barreto
A leitura de Freyre é endossada pelo con- ele poderia incorporar-se suavemente a e a Sociologia
terrâneo Nelson Saldanha (1997, p. 8), ao elite dominante. Entraria na combinação no Brasil
com a parte bela: o talento, a cultura, a
afirmar que:
capacidade. Ivan Barbosa
O padrão mestiço existente na socieda-
de permitiu-lhe subir na hierarquia social, Pensamos que é no bojo destas situações
vindo a ser professor da Faculdade, con- que estão alojadas as certezas e plausibili-
dição que no tempo correspondia a um dade da proposta sociológica que parte da
status de enorme prestígio. Mas teve-se natureza social das construções teóricas e so-
que haver com um mundo de antipatias e ciológicas. A chave para a compreensão dos
reações por conta de seus caracteres estilos de pensamento, como assevera Karl
somáticos. Mannheim (1963, 1986), estão situadas nas
Thomas Skidmore (1976, p. 60) conclui disputas políticas e no conjunto de interesses
que os homens livres de cor tiveram impor- que perpassam a formatação de tais estilos.
tante papel no Brasil muito antes da abolição. A seleção operada por Tobias, que culminou
Haviam conseguido atingir considerável mo- numa contundente reflexão sobre a natureza
bilidade ocupacional enquanto a escravidão da cultura e da sua compreensão, pode e deve
era dominante no país. Tais oportunidades ser rastreada a partir do universo externo ao
econômicas e sociais – abertas a homens debate puramente intelectual e teórico.
livres de cor dão prova de que o padrão mul- De um lado estava a restrita possibilidade
tirracial da categorização racial estava firme- fornecida ao mestiço de galgar um precário,
mente estabelecido muito antes de 1888. porém inclusivo status. De outro se encon-

60
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
trava as inúmeras possibilidades de seleção rio positivista, apenas no início de sua jorna-
de autores e pressuposições teóricas num da na FDR, pois essa vereda inevitavelmente
momento marcado pelo autodidatismo. A condenaria as conquistas que a sua singular
mobilidade não se dava de forma tranquila. A biografia colheu no transcurso de um período
afirmação de certas ideias era um embate a marcado pelo silencioso orbe da escravidão.
estas resistências. Era uma tensão intermi- Assim, nos autores alemães encontrou
tente entre o consagrado e o verossímil. A res- a resposta paliativa para acalentar suas an-
posta a toda a esta sorte de questões se deu gústias ante um sistema social iníquo. Ne-
em torno da opção mais contundente, do pon- les, a cultura havia se libertado da natureza,
to de vista lógico e de acordo com os interes- e quando isso aconteceu, o metro que me-
ses de uma demanda que rondava aquele dia as pessoas e legitimava suas posições
contexto: a de entender o mestiço brasileiro e dentro de determinadas configurações soci-
legitimar seu recorrente destaque no âmbito ais, começou a tornar-se obsoleto.
da nossa vida cultural. Talvez possamos auferir uma dose repre-
Considerações Finais sentativa de sua percepção sociológica e dos
O apego à cultura germânica, cujas raí- fatores que delimitaram e impulsionaram seu
zes remontam a uma índole social, ou seja, a esforço intelectual, se observamos essa afir-
possibilidade que emergia do espaço forne- mação de Tobias Barreto (1926, p. 286): não
cido ao mestiço na sociedade brasileira, con- sou bastante forte para fazer à minha ima-
correu para que Tobias buscasse reflexões gem e semelhança a sociedade em que vivo;
sobre a natureza dessa sociedade e da pos- mas esta, por sua vez, não é também bas-
sibilidade de pensar o seu reconhecimento tante forte para me levar em sua corrente.
naquele contexto. Não incorporou o repertó- Daí uma eterna irredutibilidade entre nós.

Tobias Barreto
e a Sociologia
no Brasil

Ivan Barbosa

61
Notas

CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012


* Ivan Barbosa, Prof. do DCS/UFPB. E-mail: ifb@bol.com.br. em favor de Maria Amélia Florentina, para o mesmo estudo
1
Cf. SCHWARCZ, 1993; LEITE, 2002; SKIDMORE, 1976. no exterior.
7
2
[...] a qual se julga com direito á posse de todos aqueles A Criatividade intelectual é resultado da participação nas
que vieram tarde e não encontraram um pouco de terra para “Cadeias interações ritualizadas”. Logo, no campo intelec-
chamarem sua, e dentro desse domínio manejaram sem tual: (1) cada indivíduo traz o seu capital cultural particular,
piedade o bastão da prepotência (BARRETO, 1962, p. 110). que pode ser entendido como o conjunto de ideias e concei-
3
tos adquiridos em encontros prévios. (2) cada indivíduo traz
O primeiro concurso pleiteado por Tobias Barreto foi quan- o custo deles/delas de energia emocional, adquirido do su-
do ainda cursava a Faculdade em 1865, e destinava-se a cesso deles/delas ou fracasso em encontros prévios. Isto varia
ocupar a cadeira de Latim do Colégio de Artes (anexo da de confiança, entusiasmo e positividade ao extremo, para
FDR). Segundo Carlos Sussekind de Mendonça (1938, p. passividade, depressão, e retirada ao outro. (3) o indivíduo
123) as provas de Tobias são brilhantes. Consegue ser clas- traz um senso das oportunidades de mercado pessoais de-
sificado em primeiro lugar. Mas anulam o prélio. No ano les/delas mais adiante. Esta é uma percepção, fundada em
seguinte renova-se a disputa. Tobias se sai do mesmo modo. grande parte em experiências no recente passado deles/de-
Obtêm ainda uma vez, a primeira classificação. Mas uma las, sobre que tipos de outras pessoas eles poderiam inte-
vez, porém, o atraiçoam, nomeando o padre. ragir com, e como a pessoa corresponde em poder relativo e
4
Conforme o testemunho de Clovis Beviláqua (1990, p. 44) vis-à-vis de atratividade de estado estes outros.
Tobias era poliglota. Entendia bem latim uma vez que havia 8
Em outro momento, transcrito por Wilson Martins, Gil-
sido professor de Latim na adolescência. Escrevia alemão berto Freire reitera esse comentário: [...] chamei há anos
com elegância, segundo afirmavam competentes, e deixou a atenção do professor Roger Bastide, quando esse soció-
livros na língua de Goethe. O francês lhe era familiar, e às logo francês deu-me a honra de visitar-me em Apipucos,
vezes recorria a esse idioma para as suas críticas ligeiras. para o fato de parecer-me o germanismo fanático de Tobias
Conhecia o inglês, o russo e o grego. Barreto uma espécie de vingança do mulato contra os bran-
5
A questão da inferioridade da mulher era medida, por cos brasileiros em particular, e latinos, em geral, que eram
Malaquias, pelo peso do cérebro: O maior peso do cérebro aqueles cujo contato direto teria trazido ao sergipano maior
é por si só uma prova de maior desenvolvimento? [...] como número de ressentimentos: exaltando os brancos, a seu ver
explicar o fenômeno: o cérebro de Byron, por exemplo, pe- branquíssimos, completos, perfeitos da Alemanha, e con-
sou 2.238g, e o de Dupuytren 1436g, um peso tal que ofe- siderando, junto deles, inferiores brancos a seu ver, imper-
rece para com o primeiro uma diferença de 802g. ora, uma feitos, da Europa latina e do Brasil, Tobias como que se
diferença tamanha no peso do cérebro deveria correspon- compensava do fato de não ser branco simplesmente la-
der uma notável diferença intelectual entre os dois espí- tino ou brasileiro. Mais ainda: pelo conhecimento da língua
ritos [...] mas isto não diz tudo [...] na pergunta que vou e letras germânicas incorporava-se de algum modo aos dó-
fazer, está a morte da teoria que combato: eis aqui o que licos-louros – estes sim, brancos perfeitos Cf. Martins, 1977,
vai mata-la: qual o peso normal do cérebro humano? Res- p. 70. Tobias Barreto
e a Sociologia
ponde Malaquias: Há uma média. Uma média não é um 9
Segundo Romero (2001, p.57) na história política, civil, no Brasil
peso normal. Peço ao nobre deputado que me dê o peso literária, artística, sua colaboração foi de todos os tempos,
certo e determinado (BARRETO, 1962, p. 72). por intermédio principalmente de seus parentes mestiços,
6
Segundo Luiz Antônio Barreto (1994) Tobias não só defen- com seus jornalistas, seus oradores, seus jurisconsultos, Ivan Barbosa
deu a concessão do auxílio, como apresentou uma emenda seus poetas, seus artistas.

62
Referências bibliográficas

CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, no. 1, p. 049-064, jan./jun., 2012


AMADO, Gilberto. Tobias Barreto. Rio de Janeiro: COLLINS, Randall. A micro-macro theory of in-
Ariel, 1934. tellectual creativity: the case of german idealist
philosophy. Sociological Theory, Vol. 5, 1987.
BARRETO, Luis Antonio. Tobias Barreto. Ser-
gipe: Sociedade Editorial de Sergipe, 1994. ______. Sociologia de las filosofias: uma teoria
global del cambio intelectual. Barcelona: Edito-
______. Tobias Barreto: uma bio-bibliografia. In:
rial Hacer, 2005.
Tobias Barreto (1839-1889); Bibliografia e es-
tudos críticos. Centro de Documentação do Pen- COSTA, Emilia Viotti. Da Monarquia a República:
samento Brasileiro. Salvador, 1990. momentos decisivos. São Paulo: Fundação Edi-
tora da UNESP, 1999.
BARRETO, Tobias. Vários Escritos. Sergipe:
Editora do Estado, 1962a. FERREIRA, Pinto. A sociologia no Brasil. In:
Sociologia. Recife: Companhia Editora de Per-
______. Estudos de sociologia. Rio de Janeiro: nambuco, 1969.
Instituto Nacional do Livro, 1962b.
FONTES, José Silvério Leite. O pensamento ju-
______. Estudos de Filosofia. São Paulo, Gri- rídico sergipano: o ciclo de Recife. São Cristóvão;
jalbo/Brasília, Rio de Janeiro/Instituto Nacional Editora UFS; Aracaju: Fundação Oviêdo Teixeira,
do Livro, 1977. 2003.
______. Tobias Barreto (1839-1889); Bibliografia FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala: for-
e estudos críticos. Centro de Documentação do mação da família brasileira sob o regime da eco-
Pensamento Brasileiro. Salvador, 1990. nomia patriarcal. Interpretes do Brasil. São
BEVILAQUA, Clovis. Tobias Barreto e a renova- Paulo/Rio de Janeiro: Record, v. 2., 2000.
ção dos estudos jurídicos no país. In: “Tobias ______. Sobrados e Mocambos: decadência do
Barreto (1839-1889)”; Bibliografia e estudos crí- patriarcado rural e desenvolvimento do urbano.
ticos. Centro de Documentação do Pensamento Interpretes do Brasil. São Paulo/Rio de Janeiro:
Brasileiro. Salvador, 1990. Record, v. 2, 2000a.
Tobias Barreto CANDIDO, Antonio. A Sociologia no Brasil. In: ______. Nós e a Europa Germânica: em torno
e a Sociologia Enciclopédia Delata Larousse, Rio de Janeiro: de alguns aspectos das relações do Brasil com
no Brasil
Delta S.A, 1960. a cultura germânica no decorrer do século XIX.
Rio de Janeiro: Grifo Edições, 1971.
Ivan Barbosa CARVALHO, José Murilo. A construção da Ordem:
a elite política imperial. Rio de Janeiro; Campus, IHERING, Rudolf. A luta pelo Direito. São Paulo:
1980. Martin Claret, 2001.
CHACON, Vamireh. A sociologia e o germanis- LEÃO, A. Carneiro. Panorama Sociologique du Bré-
mo segundo Tobias Barreto e Silvio Romero. In: sil. Paris: Presses Univertitaires de France, 1953.
Revista Doxa, Recife, Ano 5, No.08, 1959. LEITE, Dante Moreira. O caráter nacional brasi-
______. Da Escola de Recife ao código civil: leiro: história de uma ideologia. São Paulo: Edi-
Artur Orlando e sua geração. Rio de Janeiro: tora UNESP, 2002.
Organizações Simões editora, 1969. LIMA, Hermes. Tobias Barreto (a época e o ho-
______. História das Ideias Sociológicas no mem). Rio de Janeiro: Instituo nacional do livro.
Brasil. São Paulo: Edusp/Grijalbo, 1977. MEC, 1963.

______. O germanismo da Escola do Recife. In: MANNHEIM, Karl. Ensayos sobre sociología e
BARRETO, Tobias. “Monografias em Alemão”. psicología social. México/Buenos Aires: Fondo
Brasília: Editora Gráfica Alvorada, 1978. de Cultura Econômica, 1963.

______. Formação das Ciências Sociais no Brasil ______. Ideologia e Utopia. Rio de Janeiro: Gua-
(Da Escola do Recife ao código civil). Brasília: Pa- nabara, 1986.
ralelo 15; Brasília: LGE Editora; São Paulo: Fun- MARTINS, Wilson. História da inteligência brasi-
dação Editora da Unesp. 2008. leira. São Paulo: Cultrix, 1977. Vol. IV (1877-1896)

63
CADERNOS DE ESTUDOS SOCIAIS - Recife, v. 27, n . 1, p. 049-064, jan./jun., 2012
MENDONÇA, Carlos Sussekind. Silvio Romero: ______. História das ideias filosóficas no Brasil.
Sua formação intelectual (1851-1880). Rio de São Paulo: Grijalbo, 1967.
Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1938.
______. A trajetória filosófica de Tobias Barreto.
MENEZES, Djacir. La sociologie en el Brasil. In: “Tobias Barreto (1839-1889)”: Bibliografia e
GURVITCH, Georges e MOORE, Wilbert E. estudos críticos. Centro de Documentação do
(orgs) Sociologia del Siglo XX. Buenos Aires- Pensamento Brasileiro. Salvador, 1990.

o
Mexico: El Ateneo, 1964.
PEREIRA, Nilo. Pernambucanidade. Recife:
MERCADANTE, Paulo. A Consciência Conser- Secretária do Turismo, Cultura e Esportes, 1983.
vadora no Brasil: Contribuição ao estudo da for-
mação brasileira. Rio de Janeiro: Civilização RABELLO, Sylvio. Itinerário de Silvio Romero.
Brasileira, 1972. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1967.

______. O germanismo de Tobias Barreto. In: ROMERO, Silvio. O Brasil e outros estudos socio-
“Tobias Barreto (1839-1889)”; Bibliografia e es- lógicos. Brasília: Senado Federal, 2001.
tudos críticos. Centro de Documentação do Pen- REALE, Miguel. 100 anos de Ciência do Direito
samento Brasileiro. Salvador, 1990. no Brasil. São Paulo: Saraiva, 1973.
______. Tobias Barreto: o feiticeiro da tribo. Rio ______. Significado e importância do cultura-
de Janeiro: UniverCidade Editora, 2006. lismo de Tobias Barreto. In: “Tobias Barreto
MORAES FILHO, Evaristo. Medo à utopia: o (1839-1889)”; Bibliografia e estudos críticos.
pensamento social de Tobias Barreto e Silvio Centro de Documentação do Pensamento Bra-
Romero. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. sileiro. Salvador, 1990.

MOTA, Mauro. O Recife no tempo de Tobias e SALDANHA, Nelson. Romantismo, evolucionismo


Castro Alves. Recife: Arquivo Público Estadual, e sociologia: figuras do pensamento social do sé-
1978. culo XIX. Recife: FUNDAJ, Ed. Massangana, 1997.
NASCIMENTO, Luís do. História da imprensa de ______. A Escola do Recife. São Paulo: Convívio,
Pernambuco. Recife: Imprensa Universitária. 1995.
Volumes I, II, III, IV e V. 1966. SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das Ra-
NOGUEIRA, Alcântara. Conceito ideológico de ças: Cientistas, instituições e questão racial no
Brasil – 1870 - 1930. São Paulo: Cia das Letras: Tobias Barreto
Direito na Escola do Recife. Fortaleza: BNB, e a Sociologia
1980. 1993. no Brasil

NOGUEIRA, Oracy. A sociologia no Brasil. In: SKIDMORE, Thomas E. O preto no branco: raça
FERRI, G. M. & MOTOYAMA, S. (org.). História e nacionalidade no pensamento brasileiro. Rio Ivan Barbosa

das Ciências no Brasil. vol. 3, São Paulo: de Janeiro: Paz e Terra, 1976.
EDUSP/EPU-CNPq, 1978.
VEIGA, Gláucio. História das Ideias da Facul-
PAIM, Antônio. A filosofia da Escola do Recife. dade de Direito do Recife. Recife: Artegraf. Vol.
Rio de Janeiro: Editora Saga, 1966. VI, 1989.

64

Você também pode gostar