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INTOLERÂNCIA À
LACTOSE NA
CRIANÇA
Luciano Amedee Peret Filho
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 2
2. MÁ ABSORÇÃO E INTOLERÂNCIA À LACTOSE .............................................................. 2
3. FORMAS DE MÁ ABSORÇÃO ........................................................................................ 3
3.1. Primária ................................................................................................................. 3
3.2. Secundária............................................................................................................. 4
4. DIAGNÓSTICO .............................................................................................................. 5
4.1. Clínico .................................................................................................................... 5
4.2. Laboratorial ........................................................................................................... 5
4.2.1. Determinação do pH fecal e de substâncias redutoras nas fezes.................. 6
4.2.2. Teste de sobrecarga ....................................................................................... 6
4.2.3. Teste do Hidrogênio Expirado ........................................................................ 7
4.2.4. Teste genético ................................................................................................ 7
5. TRAMENTO .................................................................................................................. 8
6. RECOMENDAÇÕES ....................................................................................................... 9
REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 10
Intolerância à Lactose na Criança 2
1. INTRODUÇÃO1,2,3
Os hidratos de carbono são importantes na dieta do ser humano, correspondendo a
cerca de 40%-50% do valor energético das refeições diárias.
O indivíduo adulto ocidental ingere, em média, 400 g de carboidratos por dia, dos quais
55% sob a forma de amido, 35% de sacarose, 5% de lactose e 3% de frutose. Nos
primeiros anos de vida, ao contrário, a dieta predominantemente láctea, faz da lactose
o carboidrato de maior importância nutricional. O leite materno contém
aproximadamente 7% de lactose, dissacarídeo produzido pela união de uma molécula
de β-d-galactose com a α- d-glicose.
Com a deficiência da lactase, a lactose não digerida acumula-se na luz intestinal, com
aumento das partículas osmoticamente ativas, carreando água e aumentando o
peristaltismo. No íleo terminal e no cólon, os carboidratos não digeridos sofrem ação de
bactérias intestinais com consequente fermentação e produção de ácidos orgânicos
(ácidos acético, lático, butírico, fórmico e propiônico) e também de gases (hidrogênio,
dióxido de carbono e metano). Os ácidos formados são absorvidos por difusão no ceco
e no cólon ascendente, o que diminui a osmolaridade intralumial, aumentando a
reabsorção de água e do sódio e recuperando parte das calorias ingeridas e não
absorvidas. Essa capacidade de maior absorção pode estar relacionada às características
da microbiota intestinal, o que determina o padrão da fermentação dos açúcares nos
diferentes indivíduos.
Os ácidos formados que passam para o restante do cólon provocam irritação na mucosa,
levando à diarreia, flatulência e distensão abdominal. Dependendo da intensidade desse
processo fisiopatológico e da recuperação absortiva do cólon, poderá não haver
sintomatologia clínica, sendo o indivíduo mau absorvedor, porém, assintomático, ou
seja, sem intolerância à lactose.
3. FORMAS DE MÁ ABSORÇÃO
3.1. Primária
A forma congênita6 da deficiência é muito rara, de herança autossômica recessiva,
existindo em poucos países do mundo(por exemplo, na Finlândia). Manifesta-se desde
Intolerância à Lactose na Criança 4
3.2. Secundária9
A diminuição da atividade da lactase pode ser secundária a uma agressão à mucosa
intestinal, com lesão da orla em escova localizada na superfície dos enterócitos, o que
ocasiona a diminuição transitória da liberação enzimática.Ocorre em casos de diarreia
aguda infecciosa, principalmente produzida por vírus como o rotavírus e também pela
E. coli enteropatogênica clássica.
Outras doenças que levam à atrofia da mucosa, como a doença celíaca, giardíase,
enteropatia alérgica à proteína alimentar e a própria desnutrição podem levar à má
absorção secundária da lactose. As ressecções intestinais, dependendo de sua extensão,
produzem diminuição da superfície de absorção desse açúcar.
4. DIAGNÓSTICO10
4.1.Clínico
A história alimentar é fundamental. Sinais e/ou sintomas de intolerância, mesmo não
havendo má absorção, podem resultar da ingestão excessiva do leite de vaca e,
portanto, de lactose.
A suspeita clínica dá-se pela evidência de manifestações clínicas minutos a horas após a
ingestão da lactose. Os sinais clínicos mais frequentes são distensão abdominal,
borborismo, flatulência, desconforto e/ou dor abdominal e diarreia.
A intolerância à lactose deve ser lembrada, também, nos casos de diarreia aguda que se
prolonga, principalmente se houver distensão abdominal, fezes “explosivas” e
dermatite na área de fraldas.
O paciente pode, ainda, apresentar-se com dor abdominal crônica,11 não localizada,
acompanhada de distensão do abdômen e eliminação excessiva de “flatus”,com ou sem
períodos de eliminação de fezes amolecidas. Nesses casos, a história alimentar de
excesso de ingestão de leite de vaca e a melhora do quadro com a redução do volume
ingerido podem confirmar a suspeita clínica.
4.2. Laboratorial
O diagnóstico pode ser exclusivamente clínico, dado pelo desaparecimento dos
sintomas com a retirada da lactose da dieta e o reaparecimento após a reintrodução do
carboidrato, sem necessidade de exames laboratoriais.
Intolerância à Lactose na Criança 6
A presença de açúcares não digeridos pode, ainda, ser verificada pela pesquisa de
substâncias redutoras em fezes líquidas. O teste positivo indica má absorção de
carboidratos.
A criança deverá ficar em jejum por um período de seis horas, quando é dosada a
glicemia, sendo considerado esse valor como basal. A lactose é administrada por via oral
na dose de 2g/kg de peso (máximo 25g). A criança deverá ingerir a solução em tempo
curto, cerca de 10 a 15 minutos. Após ingestão completa, dosa-se a glicemia em 30, 60,
90 e 120 minutos.
Os pacientes deverão ser observados nas primeiras 24 horas após a sua realização,
observando sinais de intolerância, como vômitos, distensão abdominal, cólica, aumento
da eliminação de gases e diarreia.
O exame anormal, ou seja, aumento nas glicemias inferiores a 20mg/dl e sem presença
de sintomas indica que o paciente é mal absorvedor, porém, não apresenta intolerância.
Este exame para realização em crianças tem como inconveniente a coleta de várias
amostras de sangue.
A quantidade expelida pelos pulmões pode ser dosada na expiração, constituindo ótimo
método para identificar má absorção de carboidratos, incluindo a lactose. A dosagem
de H2 é realizada em intervalos de 30 minutos durante 3 horas e a sua elevação em valor
superior a 20ppm em relação ao valor de jejum é indicativo de má absorção do
carboidrato testado. A dose administrada de lactose é de 2g/kg, atingindo o máximo de
25g em solução a 10%. Elevação dos íons hidrogênio nos primeiros 30 minutos sugere
supercrescimento bacteriano nos segmentos superiores do intestino delgado.
mutações investigadas são LCT-13907 > G, LCT-13910 C > G e LCT – 14010 G > C no gene
MCM6 que estão associadas à hipogalactia. Na prática, tem indicação restrita.
5. TRAMENTO
O tratamento consiste na retirada total ou parcial da lactose da dieta. Em muitos
pacientes, a deficiência é parcial, podendo ser toleradas pequenas quantidades da
lactase –por exemplo, os derivados fermentados do leite de vaca, como os iogurtes, que
têm cerca de 50% menos lactose, quando comparados ao leite de vaca
integral.Inicialmente, a lactose pode ser totalmente excluída da dieta. Após o
desaparecimento dos sintomas, pode ser tentada a reintrodução gradativa, a fim de
verificar a quantidade tolerada.
A enzima dever ser ingerida minutos antes, ou misturada ao alimento. Pode também ser
diluída em água ou suco e consumida na bebida como acompanhamento das refeições.
Cada apresentação possui concentrações variadas da enzima (lactase). A concentração
de 9.000 a 10.000 FCC ou ALU é suficiente para digerir 50g de lactose. Dependendo do
volume do alimento a ser ingerido, a dose da enzima pode variar. O uso dessas
formulações não se configura em alternativa muito prática para uso diário na faixa
pediátrica.14
6. RECOMENDAÇÕES
1.Má absorção de lactose com intolerância e alergia à proteína do leite de vaca são
condições distintas etiológica e fisiopatologicamente. Na alergia, está envolvida uma
reação imunológica com participação da proteína da dieta. A intolerância resulta de
deficiência da enzima, no caso, a lactase. Não existe, portanto,alergia à lactose.
2.No nosso meio, não há intolerância genética à lactose. Portanto, antes dos 18 meses
de idade e, principalmente no primeiro ano de vida, intolerância à lactose é secundária
a alguma agressão ao trato digestório, como por exemplo, diarreia prolongada.
3.O diagnóstico pode ser exclusivamente clínico, com a retirada da lactose da dieta e o
desaparecimento dos sintomas, e o reaparecimento, com a sua ingestão, sem
necessidade de exames laboratoriais.
Intolerância à Lactose na Criança 10
5.A história alimentar é importante, pois algumas crianças apresentam sinais e/ou
sintomas de intolerância pela ingestão excessiva do leite de vaca e, portanto, de lactose.
6.A intolerância poderá ser total ou parcial. Às vezes, com a diminuição da ingesta,
melhoram os sintomas.
7.O tratamento dos casos de intolerância secundária é por tempo limitado. Nos casos
de intolerância ontogênica ou do “tipo adulto”, que surge geralmente após os 4 anos de
idade, é para sempre.
8.Em situações especiais, quando se deseja ingerir algum alimento que contenha
lactose, existe a enzima (lactase) em apresentação de comprimidos ou sachês, que
deverá ser ingerida antes ou com o alimento.
REFERÊNCIAS
1. BOULESES, T. M.;ROSENSWEIG, N. S. A racial diference in incidence of lactose
deficiency. JAMA,v. 197,p. 968-972, 1966.
11. GRENCE, D. A.et al. Abdominal pain associated dwith lactose ingestion in children
with lactose intolerance. Clin Pediatr (Phila),v. 942, p. 341-345, 2003.