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A MEMÓRIA: DA ORALIDADE AO CORPO CIBORG E ÀS NOVAS

TECNOLOGIAS – UM ESTUDO EXPLORATÓRIO

MARGARETH DE OLIVEIRA MICHEL1;


JOÃO FERNANDO IGANSI NUNES – Orientador
1
Universidade Católica de Pelotas UCPel – margareth.michel@gmail.com
Universidade Federal de Pelotas - fernandoigansi@gmail.com

1. INTRODUÇÃO

Este ensaio tem como finalidade realizar um estudo exploratório abordando a memória
desde a oralidade até sua presença e evolução nas novas tecnologias. Meu interesse na
área se deve à minha formação em Comunicação Social (em Jornalismo, Publicidade e
Relações Públicas) e também na área da Psicologia/Psicólogo, além da questão docente
– pois em sala de aula me defronto com jovens que transitam por este contexto.
Caracterizo o estudo como exploratório tendo em vista as inúmeras abordagens
existentes/possíveis. Desta forma, minha proposta é, a partir de algumas conceituações
básicas acerca do que é memória e do que é entendido pelos autores como novas
tecnologias, mapear as posições de autores reconhecidos na área, buscando entender a
trajetória dos estudos acerca da memória a partir da oralidade e da escrita até sua novas
configurações e a discussão de que a tecnologia transforma a cognição e próprio corpo
do homem, num processo que muda sua forma de ação e pensamento.
É preciso lembrar que para falar sobre memória, nesse caso social, necessitamos de um
olhar multidisciplinar, pois, tudo o que fazemos se torna parte da memória de uma
pessoa, de um grupo social ou até mesmo de uma nação. Um dos estudiosos sobre o
tema, PIERRE LÉVY (1993, 1997) coloca que antes da era da informática, existiam dois
tipos de sociedade: a primeira, mais arcaica se estruturava a partir da oralidade primária
relacionada à palavra falada, e a segunda, mais moderna, baseava-se na oralidade
secundária fundamentada na escrita. Com o surgimento das novas tecnologias e um
conhecimento mais amplo do potencial colaborativo da internet e seus usos, também se
torna necessário um novo olhar sobre a memória social. A mudança de uma memória
compartilhada oralmente e sua evolução para um meio ou suporte que é “múltiplo,
instantâneo e cumulativo”, faz com que a memória adquira estas mesmas características,
que são potencializadas na internet graças aos arquivos diariamente colocados on-line
(PALACIOS, 2008). A afirmativa de Palacios1 encontra eco em Canavilhas2: “Este

1
Marcos Palácios é Professor Titular de Jornalismo, Universidade Federal da Bahia (Brasil) e Professor
Visitante na Universidade da Beira Interior (Portugal).
manancial de informação representa uma memória social, dinâmica, organizada e
navegável” (CANAVILHAS, 2004. p. 5).
Tendo em vista essas novas tecnologias e suas inúmeras possibilidades, a
memória social necessita de um estudo mais detalhado e uma análise crítica
acerca das tecnologias computacionais de informação, nas questões referentes à
criação, distribuição, acesso e atualização das informações e comunicações,
cujas implicações levam muitos estudiosos a considerarem o que está
acontecendo com a “interface de humanos e máquinas, com a remodelagem do
corpo humano e a reconfiguração da mente humana e da consciência”
(SANTAELLA, 1997, p. 32) que são evidentes, assim como a “nova ordem
sensorial e cerebral que emerge da hibridização do orgânico com o sintético”.
(SANTAELLA, 1997, p. 33). Reflete-se ainda sobre as novas tecnologias e o uso
dos computadores e dispositivos móveis, no texto de WINFRIED NÖTH3,
“Máquinas Semióticas” em que o autor aponta para a mudança na forma das
pessoas se comunicarem e para a criação de novas formas de comunicação,
trazendo a noção de corpo como cyborg. Esta perspectiva também é apontada
por SHERRY TURKLE4 (1997) que afirma que a tecnologia muda nossa natureza
enquanto pessoas e LENOIR5 (2004) que afirma que a linguagem é uma forma
alternativa de vida em nós, um “parasita externo que co-evolui conosco” (LENOIR,
2004, p 42), e continua afirmando que qualquer mudança na organização da
informação, como a Internet, gera modificações na neuroarquitetura do cérebro
humano, colocando que: “Nós já somos híbridos. Algumas outras pessoas diriam
que nós sempre fomos ciborgues [LENOIR, 2008, entrevista]”
Entre tantas posições e com perspectivas tão amplas, como afirmei inicialmente,
este é um estudo exploratório que visa entender como a memória se consolidará
mediante as novas tecnologias e quais as possibilidades para esse entendimento.

2
João Canavilhas é doutor em Comunicação pela Univ. de Salamanca e professor na Universidade da Beira
Interior na área de jornalismo. Investigador no Labcom - Laboratório de Comunicação Online, coordena ainda
o Centro Multimédia da UBI e é diretor do primeiro jornal online universitário português, o URBI.
3
Winfried Nöth é professor de linguística e semiótica e diretor do Centro Interdisciplinar de Estudos Culturais
da Universidade de Kassel, professor visitante na PUC de São Paulo, membro honorário da Associação
Internacional de Semiótica Visual.
4
Sherry Turkle, psicanalista, é professora titular de Sociologia no Massachussets Instituto of Technology
(MIT) e doutora por Harvard, em Psicologia da personalidade.
5
Timothy Lenoir é professor de História e catedrático do Programa de história e Filosofia da Ciência da Duke
University, nos Estados Unidos. Possui extensa lista de publicações sobre a história da matemática no século
XVII, história da biologia e fisiologia alemã no século XIX, sobre o impacto do uso da informática nas
ciências, o conceito e implicações da tecnociência, e sobre a produção de materiais digitais para a pesquisa
na área de filosofia e história das ciências. Entre seus temas de interesse atual, está a discussão da
necessidade de se repensar um papel para as humanidades à luz dos grandes avanços tecnológicos,
propondo o que chama de tecnohumanismo.
2. METODOLOGIA

Na esteira dos pressupostos metodológicos de MARIA IMMACOLATA VASSALO


LOPES, buscando uma ruptura epistemológica acerca dos meios de escrita e seus
respectivos processos de leitura, o referido trabalho organiza os conceitos de memória e
suas tecnologias, tratadas aqui como máquinas (talvez) partir da identificação conceitual
de autores tais como PIERRE LÉVY (1993; 1999), PALÁCIOS (2008), CANAVILHAS
(2004), SANTAELLA (1997), WINFRIED NÖTH (2001), SHERRY TURKLE (1997), e
LENOIR (2004) respectivamente. Como instrumental de análise, características
específicas de cada meio e seus processos puderam ser estabelecidos em uma
classificação fenomenológica, ou seja: verificação da presença do objeto e suas
configurações de presença, seja qual for a técnica e/ou suporte que a veicula. Dessa
maneira, buscando aplicar as ferramentas conceituais desses autores, subdividimos as
abordagens conceituais a partir da compreensão dos pressupostos de cada linguagem,
escritas e leituras dos códigos fixos e dos códigos executáveis. Assim, mapeando e
classificando os dados levantados, pôde-se encaminhar as análises a partir das
ferramentas conceituais elencadas.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Memória: Conceito, História e a Trajetória

Para falar da trajetória da memória e de sua história, é importante esclarecer o que é


memória uma vez que esta é uma expressão polissêmica e pode referir-se a muitas
coisas diferentes do ponto de vista de vários campos do conhecimento. A primeira coisa
em que pensamos ao falar em memória é uma certa propriedade particular de conservar
informações, e isto nos leva a refletir sobre um conjunto de funções psíquicas remetendo
aos estudos da biologia, da psicologia, da psicofisiologia, da neurofisiologia: a memória é
relacionada aos sistemas de educação – remete à noção de aprendizagem; ela pode ser
vista também como reflexão filosófica, como autobiografia, como história, etc. Memória
interliga-se à informação e ao conhecimento, o que permite entender a relação entre a
memória pessoal e a social: ambas são unidades elementares de transmissão tanto da
informação quanto do conhecimento, permitindo a reprodução, a primeira da espécie e a
outra, da civilização.
Memória, não é somente uma função nata de memorização, é muito mais uma função
social criada pelo homem, um fenômeno inconsciente que se torna útil à necessidade
presente, que assegura a reprodução e a transformação dos comportamentos em
sociedade, articulando-se com a representação simbólica, o que aponta para sua
condição semiológica.
Para NORA (1993), memória diz respeito à identidade, ao pertencimento com o fluir da
vida social, que por meio do processo comunicacional, é um processo dinâmico e
interativo que se desenrola no cotidiano do social em que é preenchido o espaço entre a
realidade objetiva e a subjetividade, e onde ocorre um diálogo entre símbolos que fazem
parte da cultura de muitos sujeitos, e que os leva a expressar como se percebem,
participam da cultura, e da forma que constroem suas identidades. “O estudo da memória
social é um dos meios fundamentais de abordar os problemas do tempo e da história,
relativamente aos quais a memória está ora em retraimento, ora em transbordamento”
(LEGOFF, 1990, p.426).
A história e trajetória da memória ligam-se intrinsecamente à história do homem e da
sociedade. Um dos grandes acontecimentos para a humanidade ocorreu quando o
homem, na tentativa de comunicar-se com seus semelhantes, desenvolveu a linguagem.
Essa permitiu que o homem pudesse transmitir o conhecimento adquirido e fosse
aperfeiçoando a forma de aprendizagem do mundo, compartilhando-a com os grupos
sociais. Ao utilizar sua oralidade, o homem descobriu um modo privilegiado de contar e
registrar sua história: a história oral é um modo privilegiado para pesquisar, produzir e
ensinar a história. JOËLLE ROUCHOU6 (2000) coloca que:

Embora diga respeito – assim como a sociologia e a antropologia – a


padrões culturais, estruturas sociais e processos históricos, visa
aprofundá-los em essência, por meio de conversas com pessoas sobre
a experiência e a memória individuais e ainda por meio do impacto que
estas tiveram na vida de cada uma. (…) A essencialidade do individuo é
salientada pelo fato de a História Oral dizer respeito a versões do
passado, ou seja, à memória.

A história oral é assim designada porque está baseada nas manifestações de fala das
pessoas, na sua oralidade: para poder construí-la, é o ponto de partida. A sociedade da
oralidade primária é a que remete ao papel da palavra falada antes do advento da
escrita, “(…) a palavra tem como função básica a gestão da memória social, e não
apenas a livre expressão das pessoas ou a comunicação prática cotidiana” (LÉVY,1992).
Nela, a inteligência/ sabedoria estaria particularmente relacionada com a memória sobre
o conhecimento que era passado de forma oral através de uma relação mais íntima entre
indivíduos na construção de uma tradição. No entanto o mundo continuou sua trajetória e
mais tarde, a linguagem foi codificada em símbolos e depois em alfabetos, assim, a
oralidade secundária está relacionada à escrita. A sociedade estruturada a partir dela
tinha uma vantagem no armazenamento de informação, que era o fato de terem uma
estrutura física guardando-a por meio de caracteres simbólicos. O que se torna então
importante de se pensar como uma evolução social foi que “ (…) o alfabeto e a

6
Jornalista, bacharel em Comunicação Social pela PUC/RJ, Mestre em Comunicação e Cultura pela
ECO/UFRJ. Doutora em Comunicação e Cultura pela ECA/SP. Diretora editorial da INTERCOM na gestão
2003-2006.
impressão, aperfeiçoamentos da escrita, desempenharam um papel essencial no
estabelecimento da ciência como modo de conhecimento dominante” (LÉVY,1992).
ORLANDI (2002)7, vê esta classificação de forma diferente relacionando a oralidade e a
escrita quando diz:

Mesmo quando pensamos estar na oralidade, estamos na oralização da


escrita. Nossos enunciados já têm a forma material da escrita, no modo
mesmo em que se configura nossa memória discursiva. E, cada vez
mais, as tecnologias da escrita se sofisticam, se naturalizam, deixando
pouco espaço para a irrupção da oralidade [...] A escrita, numa
sociedade de escrita, não é só um instrumento: é estruturante. Isso
significa que ela é lugar de constituição de relações sociais, isto é, de
relações que dão configuração específica à formação social e a seus
membros. A forma da sociedade está assim diretamente relacionada
com a existência ou a ausência da escrita. Isso porque, na perspectiva
discursiva, a escrita especifica a natureza da memória, ou seja, define o
estatuto da memória (o saber discursivo que determina a produção dos
sentidos e a posição dos sujeitos), definindo assim, pelo menos em
parte, os processos de individualização do sujeito. (ORLANDI, 2002:
232, 233)

Com relação à memória, LOWENTAL8 coloca que “Toda a consciência do passado está
fundada na memória. Através das lembranças recuperamos consciência dos
acontecimentos anteriores, distinguimos ontem de hoje, e confirmamos que já vivemos
um passado”. (LOWENTAL, 1981, p.75) O autor encontra posição similar em Pinto9 que
afirma: a memória é este lugar de refúgio, meio história, meio ficção, universo marginal
que permite a manifestação continuamente atualizada do passado”. (PINTO, 1998, p.
307) Na perspectiva desses autores, a memória torna-se infinitamente rica em suas
manifestações, permitindo entre outras coisas, reconstruir a atmosfera de outros tempos,
relembrando hábitos, valores e práticas da vida cotidiana.
Desta forma, a própria escrita pode ser vista como trabalho da memória que estrutura as
relações sociais de maneira específica. A estrutura da língua, a gramática, o dicionário,
são construções histórico-sociais que perpassam a relação com a escrita e ampliam o
significado do seu domínio técnico propriamente dito. O ingresso das sociedades

7
Eni Pulcinelli Orlandi, possui graduação em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
de Araraquara (1964),mestrado em Linguística pela USP (1970), doutorado em Linguística pela USP e
pela Universidade de Paris/ Vincennes (1976). Tem experiência na área de Linguística, com
ênfase em Teoria e Análise Linguística. É autora de diversas obras literárias.
8
David Lowenthal - Professor convidado de arquitetura paisagística em Harvard, de ciência política no MIT,
de psicologia ambiental na University of New York, entre outras universidades. Autor de renome
internacional, prolífico sobre o patrimônio, paisagens, a memória, a história e os usos do passado,
compartilha as memórias de sua própria investigação sobre o patrimônio e dá a sua opinião sobre direções
futuras em antecipação da nova edição do passado com o Grupo de Investigação do Patrimônio Cambridge:
Marie-Louise Sorensen e Britt Baillie. Grupo de Investigação do Patrimônio Cambridge:
http://www.arch.cam.ac.uk/heritage/
9
Júlio Pimentel Pinto nasceu em São Paulo, em 1964. Atualmente é professor do Departamento de História
da USP (onde também fez graduação, mestrado e doutorado na área de História Social) e pesquisador do
Departamento de Espanhol do Birkbeck College da Universidade de Londres. Durante muitos anos deu aulas
na Escola Logos e no Departamento de História da PUC-SP.
ocidentais na cultura escrita constitui uma das principais transformações da época
moderna.
Foi a escrita que permitiu ao conhecimento a ultrapassagem da barreira do tempo, e por
seu intermédio desenvolveram-se a organização do pensamento, a inteligência e a
cultura das sociedades, o conhecimento científico tomou forma e a ciência permitiu que
as civilizações avançassem rumo ao futuro. A troca de conhecimentos e da cultura levou
ao crescimento da vida social e das sociedades. A escrita possibilita conhecer a história
das representações ou do próprio imaginário social, na medida em que une o poder dos
escritos à leitura, e à visualização dos mesmos, como categorias mentais e socialmente
diferenciadas, inscritas na memória.
.
O conceito de memória é crucial porque na memória se cruzam
passado, presente e futuro; temporalidades e espacialidades;
monumentalização e documentação; dimensões materiais e simbólicas;
identidades e projetos. É crucial porque na memória se entrecruzam a
lembrança e o esquecimento; o pessoal e o coletivo; o indivíduo e a
sociedade; o público e o privado; o sagrado e o profano. Crucial porque
na memória se entrelaçam registro e invenção; fidelidade e mobilidade;
10
dado e construção; história e ficção; revelação e ocultação. (NEVES ,
1998: 218)

A história revela que a diversidade cultural humana é rica e está em constante mutação.
Quando aparecem elementos novos, que uma maioria reconhece e considera válidos,
adequados ao contexto (que possui uma natureza transitória e maleável e que pode ser
alterado em função desses novos elementos convertendo-se em um novo contexto),
surgem as mudanças. Por elementos novos, entende-se a produção de conhecimento, de
novas informações que desencadeiam novas idéias, novos conceitos e novas
tecnologias. Para DYENS (2001), toda produção humana, seja ela teórica ou material, é
considerada tecnologia.
Com o surgimento da sociedade da informação ocorrem profundas mudanças nas
práticas sociais e são percebidas alterações nos sentidos da memória e na sua
constituição que são muito significativas, oriundas de um período novo da cultura, que
está em andamento, cujas transformações incidem sobre alterações na forma de pensar
os processos informacionais, tornando importante repensar o papel que a memória social
vem adquirindo em nossa vida cotidiana.

As novas tecnologias

10
É graduada em História (1967), pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Tem Doutorado
em História pela Universidad Complutense de Madrid (1975). Atualmente é professora emérita do
Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de
História, com ênfase em História Social da Cultura, e trabalha principalmente nos seguintes temas: memória
e história, literatura e história, história cultural, cidade e história e pensamento social brasileiro. Atualmente
coordena o Núcleo de Memória da PUC-Rio.
A partir de 1950, uma verdadeira revolução acontece e uma nova configuração social se
coloca em andamento junto com a Sociedade Contemporânea, que é designada por
diferentes nomes - Sociedade da Informação, Sociedade do Conhecimento, Sociedade
em Rede, oriundos do mesmo contexto mas propiciados por olhares de diferentes
campos do conhecimento. Esse contexto resultou da convergência de uma base
tecnológica e da representação da informação em forma digital e trouxe consigo as
transformações tecnológicas (como o crescimento da Internet), organizacionais,
geopolíticas, comerciais e financeiras, institucionais, culturais, sociais e nos processos
comunicacionais, ligados às questões da memória e da cultura.
A microeletrônica, a computação e as telecomunicações impulsionam as tecnologias da
informação e da comunicação – TICs – por meio das quais foram aplicados
conhecimentos para geração de novos conhecimentos e criados dispositivos de
processamento da comunicação/informação, em um ciclo cumulativo entre a inovação e
seu uso (CASTELLS, 1999).
As tecnologias contemporâneas trazem mudanças aceleradas em quase todos os
campos da existência, revolucionando a vida das pessoas, onde o conhecimento é
rapidamente difundido e compartilhado. As novas tecnologias, seja sob a forma de
dispositivos físicos e/ou outros, permitem que novos limites de conhecimento sejam
alcançados e que novas idéias sejam concebidas, construindo novos conceitos e
tecnologias mais recentes e adequadas, num processo que nunca acaba, pois o homem
contemporâneo pela herança aprendida e pela estrutura de conhecimentos edificada
sobre todos os âmbitos da ação humana, está sempre em constante movimento.
Se por um lado os avanços tecnológicos trouxeram grandes contribuições ao
desenvolvimento social e aos processos de comunicação permitindo acelerar o fluxo das
informações e possibilitando sua simultaneidade, por outro, ao constituir-se em uma
sociedade que rompe com a continuidade dos vínculos de espaço e tempo modifica, de
forma radical, sua configuração social. São grandes as modificações na esfera da cultura,
isto porque os novos processos comunicacionais aceleram o acesso às informações e
permitem novas trocas de experiências e relacionamentos na sociedade como um todo.
PIERRE LÉVY, em seu livro Tecnologias da Inteligência, tenta mostrar um campo de
novas tecnologias, aberto, conflituoso e parcialmente indeterminado. Na introdução (Face
à técnica) o autor coloca:

Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no


mundo das telecomunicações e da informática. As relações entre os
homens, o trabalho, a própria inteligência dependem, na verdade, da
metamorfose incessante de dispositivos informacionais de todos os
tipos. Escrita, leitura, visão, audição, criação, aprendizagem são
capturados por uma informática cada vez mais avançada. Não se pode
mais conceber a pesquisa científica sem uma aparelhagem complexa
que redistribui as antigas divisões entre experiência e teoria. Emerge,
neste final do século XX, um conhecimento por simulação que os
epistemologistas ainda não inventaram. (LÉVY, 1993, p.4).

Acontece a passagem de uma cultura analógica para a digital, possibilitada pela seriação
eletrônica, cujas alterações sociais provocam revoluções em todas as dimensões da
existência, surgindo um novo momento que ele chama de Cibercultura. (LÉVY, 1999)
Outros autores se posicionam sobre a mudança social causada pelo avanço da
tecnologia, onde o computador como aparato tecnológico tornou-se o meio pelo qual não
só percebemos o mundo, mas os seres vivos e o processo cognitvo e as próprias
relações sociais. Um vasto leque de anseios humanos bem como as necessidades
relacionadas com o funcionamento das sociedades, são alcançados pela tecnologia, que
as torna mais produtivas e eficientes. A evolução tecnológica tem vindo a acompanhar o
desenvolvimento da espécie humana, conduzindo-a e sendo conduzida por ela: no
cumprimento de tarefas específicas nos diferentes âmbitos da atividade do homem - do
profissional ao lúdico, dos cuidados com a saúde ao relacionamento em sociedade. Para
TURKLE (1997) e DYENS (2001), a relação entre o tecnológico e o humano pode, então,
ser descrita como uma interação que acarreta influencias que se correspondem umas às
outras, desenvolvendo-se um processo de interdependência. Proveniente desta interação
constante, resulta hoje, a mudança dos paradigmas tecnológico e humano.
Este ensaio apresenta a seguir, num mundo em que tudo é rápido, as relações entre as
novas tecnologias e a memória social a partir de pensadores de vários campos da ciência
que investigam como ocorre o processo do pensamento e de sua conservação num
mundo cheio de novidades e mudanças.

Os pensadores e sua posição acerca das tecnologias contemporâneas, relações


maquínicas e memória social

Até aqui foram expostas questões teóricas referentes à memória, sua história
desde a oralidade até sua presença e evolução nas novas tecnologias e as
revoluções que estas trouxeram para o contexto humano e social, da máquina
que pensa ao homem cujo corpo é biocibernético em função de sua fusão com a
tecnologia. Busco a partir de pensadores como PIERRE LÉVY (1993; 1999),
PALÁCIOS (2008), CANAVILHAS (2004), SANTAELLA (1997), WINFRIED NÖTH
(2001), SHERRY TURKLE (1997), e LENOIR (2004), entre outros, em tantas
posições e perspectivas tão amplas, entender como a memória se consolidará
mediante as novas tecnologias e quais as possibilidades para esse entendimento,
indicando as reelaborações da memória e da história e apontando para as
relações entre temas que a princípio podem parecer muito distintos.
PIERRE LÉVY constitui uma das referências mais importantes no conhecimento e a
preocupação maior do filósofo francês é entender de que modo os computadores, e todo
o arsenal a eles conectado, compõem uma nova interface social, representando a adoção
de uma nova tecnologia da inteligência. Ele, reconhecidamente é um dos mais influentes
filósofos da atualidade que trabalha a questão da cibercultura e da inteligência coletiva,
apresenta seu pensamento em diversos livros e artigos, mostrando-se otimista com
relação à utilização das novas tecnologias de comunicação e acredita que a humanidade,
pelo fenômeno da popularização da Internet, caminha para a construção de um novo
espaço antropológico, o espaço do saber, no qual todos os seres humanos estarão
interligados em tempo real pela Internet. Esta configura a nova escrita que possibilita uma
interligação dos seres humanos e de seus conhecimentos.

Esse novo meio tem vocação para colaborar em sinergia e interfacear


todos os dispositivos de criação de informação, de gravação, de
comunicação e de simulação. A perspectiva da digitalização geral das
informações provavelmente tornará o ciberespaço o principal canal de
comunicação e suporte de memória da humanidade a partir do próximo
século (LÉVY, 2000, p.93)

A Internet, substituta das antigas mídias baseadas na edição em papel, no cinema, no


rádio e na televisão, caracterizada pela possibilidade de uma interconexão sem fronteiras
e com acesso enorme a todo tipo de informações, configura-se como a mídia digital do
século XXI. Essa mídia digital atua sobre a liberdade de expressão e a democratiza em
função de três razões: econômica (pode-se publicar quase todo tipo de conteúdo a custo
zero para uma audiência planetária), técnica (o uso de ferramentas digitais de
comunicação já não requer habilidades específicas), e institucional (a publicação não
precisa mais ser submetida à revisão por conselhos editoriais, e outros canais que
controlavam as velhas mídias, resultando numa perda gradual do monopólio dos
mediadores tradicionais de informações e cultura).
No livro “As Tecnologias da Inteligência”, LÉVY aborda diversos conceitos como o
surgimento do Hipertexto, um “novo” formato textual (definição e os modos como
está sendo empregado em nossa sociedade; como o computador e suas
tecnologias inteligentes vêem afetando a vida da sociedade). Trata, ainda, de
questões como a oralidade e a memória, a nova oralidade na rede digital e a
definição e desconstrução do individual. Entende a inteligência como uma
dimensão que constitui o ser humano, que vai ocupar o centro das relações neste
espaço, lugar em que nasce seu pensamento acerca da inteligência coletiva, a
qual se fundamenta no reconhecimento de que, cada ser humano sabe alguma
coisa, mas ninguém sabe de tudo, e ao mesmo tempo, todo o conhecimento está
presente na humanidade. O autor monta um cenário teórico sobre a construção
de tecnologias de convergência midiáticas e também da construção de uma rede
de coletivo inteligente. Sobre a questão da memória social Levy coloca:

De acordo com a psicologia cognitiva contemporânea, não há apenas uma, mas


diversas memórias, funcionalmente distintas. A faculdade de construir
automatismos sensório motores parece colocar em jogo recursos nervosos e
psíquicos diferentes da aptidão de reter proposições ou imagens. Mesmo no
interior desta última faculdade, que chamamos de memória declarativa,
podemos ainda fazer a distinção entre memória de curto prazo e memória de
longo prazo. [...] As elaborações são acréscimos à informação alvo. Conectam
entre si itens a serem lembrados, ou então conectam estes itens a idéias já
adquiridas ou anteriormente formadas. (...) Quanto mais conexões o item a ser
lembrado possuir com os outros nós da rede, maior será o número de caminhos
associativos possíveis para a propagação da ativação no momento em que a
lembrança for procurada. (LÉVY, 1993, p.78-80)

Em sua obra “A Inteligência possível no século XXI” LEVY (2007), afirma que a
digitalização de documento, a sua interconexão em um espaço virtual e a
possibilidade de tratamento dos documentos em questão anunciam uma mutação
cultural de grande amplitude. Ao referir-se à memória pontua que “a memória
comum em rede se apresenta como um canal de difusão de grande eficácia”, pois
as novas tecnologias permitem que qualquer momento possa ser registrado,
qualquer história escrita, e a informação que se encontra na rede, está
virtualmente em qualquer lugar, seu acesso é livre a qualquer pessoa, em
qualquer lugar do mundo.

[...] o ciberespaço é fundamentalmente uma tecnologia da memória,


correto? Ou seja, as coisas são registradas digitalmente, em vez de
serem impressas - digamos - ou gravadas em fitas magnéticas, e ficam
acessíveis online. Desse modo, para mim, a grande novidade é que -
concretamente, é o que está para acontecer - toda a memória da
humanidade está em vias de ser digitalizada e disponibilizada online. E
isso é completamente novo, porque em geral havia a memória de uma
comunidade. Ou seja, havia memórias fragmentadas, umas ao lado das
outras, elas não estavam reunidas em conjunto. Agora é como se nós
tivéssemos uma única biblioteca reunindo todas as bibliotecas, todos os
centros de documentação, todos os jornais etc. - tudo reunido
exatamente no mesmo espaço e automaticamente manipulável por
meio de programas. Essa é uma situação para a qual não temos
referências no passado cultural: não há instituições ou mesmo conceitos
que se refiram a isso. Do meu ponto de vista, vamos aprender a
domesticar essa situação progressivamente, através de muitas
gerações provavelmente. Quanto à importância da tradição e da
memória na cibercultura, está claro, para mim, que a cibercultura é uma
11
tecnologia da memória.(Entrevista )

11
Memória e cibercultura - Entrevista com Pierre Lévy. Por Lynnda Proulx e Maria Antonieta Pereira.
Tradução de Anderson Fabian Ferreira Higino. Ottawa, jun./2008. Disponível em
http://www.letras.ufmg.br/atelaeotexto/entrevista_levy.html Acesso em 10/07/2014.
LÉVY afirma que para ele não há qualquer contradição entre a cibercultura e a
memória, pensa exatamente o contrário. A memória contida no ciberespaço pode
ser de curta duração (acumulada por um grupo em interação), ou de longa
duração (como a memória das gerações passadas que nos foi legada), colocando
que existe a oportunidade de reapropriação dessa memória, colocando ainda que
hoje nossa memória é global. Em matéria publicada na Revista Gestão
Educacional12, em 2013, o autor coloca que “A própria internet é uma memória de
produção coletiva. De certa forma, isso sempre existiu, porque o que conhecemos
hoje é uma herança do que já foi feito.” Referindo-se à escola e à aprendizagem
que no seu entender será colaborativa, fala que:

Logo, temos que educar visando esse novo comportamento, através de uma
pedagogia de aprendizagem coletiva permanente devem ensinar sobre
responsabilidade social para a memória coletiva. Tudo o que você posta na
internet contribui para a memória coletiva (Revista Gestão Educacional, 2013)

Chamando a atenção para o fato de que os alunos deverão saber separar as


fontes boas das ruins pelo fato de que um mesmo evento pode ser contado de
diversas formas, destaca que há necessidade da gestão da atenção, do espírito
crítico, da necessidade de produzir para assimilar e de transformar a informação
em conhecimento.
Estudando o Ciberjornalismo PALÁCIOS (2004, 2008) analisa a memória colocando que
esta, potencializada pelas tecnologias, é um exemplo claro de uma característica (dentre
várias) que marca suas especificidades na prática do jornalismo como memória social.
Esse autor divide o estudo na memória construída pelo jornalismo antes e depois da
Web, quando constata que:

Os jornais impressos, desde longa data, mantêm arquivos físicos das


suas edições passadas, abertos à consulta do público e utilizados por
seus editores e jornalistas no processo de produção de informação
noticiosa. (Palacios, 2004). [...]Como enfatizamos em nosso trabalho de
2004, no jornalismo praticado na Internet: Da mesma forma que a
“quebra dos limites físicos” na Web possibilita a utilização de um espaço
praticamente ilimitado para disponibilização de material noticioso, sob
os mais variados formatos (multi)mediáticos, abre-se a possibilidade de
disponibilização online de toda informação anteriormente produzida e
armazenada, através da criação de arquivos digitais, com sistemas
sofisticados de indexação e recuperação da informação (PALACIOS,
2004).

12
“Pierre Lévy fala dos benefícios das ferramentas virtuais para o ensino” Matéria publicada na edição de
fevereiro de 2013 da revista Gestão Educacional Disponível em
http://www.webaula.com.br/index.php/pt/acontece/noticias/2874-pierre-levy-fala-dos-beneficios-das-
ferramentas-virtuais-para-a-educacao#sthash.t0H80A0b.dpuf Acesso em 10/07/2014.
Referindo-se ao lugar de memória no jornalismo, PALÁCIOS (2004) afirma que esta é de
tal forma potencializada na Web em função da sua conjugação com a Instantaneidade,
Hipertextualidade e Interatividade, bem como pela inexistência de limitações de
armazenamento de informação, e mostra que em consequência destas características
ocorre uma ruptura em relação aos suportes mediáticos anteriores.

A Memória no Jornalismo na Web pode ser recuperada tanto pelo


Produtor da informação, quanto pelo Usuário, através de arquivos online
providos com motores de busca (search engines) que permitem
múltiplos cruzamentos de palavras-chaves e datas (indexação). Além
disso, “como resultado da proliferação das redes, cada uma das
publicações digitais pode extender suas atividades para utilizar as
capacidades de memória de todo o sistema” (Machado 2002:54). [...]
Cada vez mais a produção jornalística se vale de recursos de Memória
que não se circunscrevem a arquivos locais, mas estão dispersos na
Web, sob a forma das mais variadas bases de dados, sejam elas
jornalísticas ou não (Koch, 1991, apud Machado, 2002:55).

Para PALÁCIOS por não ter limitações de espaço, e pela situação de extrema rapidez de
acesso e alimentação (Instantaneidade e Interatividade) que conta com uma grande
flexibilidade combinatória (Hipertextualidade), o “Jornalismo tem na Web a sua primeira
forma de Memória Múltipla, Instantânea e Cumulativa”, que se contata ser cada vez mais
utilizada (PALACIOS, 2008, p. 10) Esta afirmativa encontra ressonância em
CANAVILHAS (2004), pesquisador do jornalismo aplicada às novas tecnologias quando
ele coloca que:

As novas tecnologias, e a internet em particular, expandiram os nossos


sentidos, a nossa capacidade para comunicar a larga escala com mais
rapidez, eficiência e flexibilidade. Um dos grandes desafios do futuro é
compreender a internet e a forma como se pode tirar partido das suas
características de uma forma eficiente. [...]O desafio que se coloca à
internet é aperfeiçoar as suas capacidades como memória,
desenvolvendo bases de dados e interfaces de pesquisa que se
aproximem dos modelos já utilizados pelo homem no seu contacto
diário com a realidade. Mantendo uma sintaxe de utilização semelhante
à que é utilizada noutras estruturas presentes no dia a dia, a absorção
da tecnologia será mais natural. É verdade que as interfaces nunca são
próteses neutras mas o sucesso da utilização da internet como memória
dependerá em muito da capacidade de integrar como uma extensão
mais congénita do que adquirida.(CANAVILHAS, BOCC, 2004)

Abordando um outro aspecto desta temática, em relação à tecnologia, a interface


humanos/máquinas, remodelagem e reconfiguração do corpo e mente humanos,
recorremos às análises feitas por LUCIA SANTAELLA (SANTAELLA, 2009, 2010),
que demonstra que o homem produziu, ao longo da história, diferentes
dispositivos, com o objetivo de para preservar sua memória e seu potencial
sensível. Os primeiros tempos desta relação entre o cérebro e a produção de
signos foram marcados pelo mundo das artes manuais, na seqüência o potencial
sensível do cérebro humano foi expandido pelas máquinas do mundo industrial e
mecânico. De acordo com os estudos realizados por SANTAELLA (1997),
enquanto as máquinas do século XIX serviam e ainda são utilizadas para
estender o potencial dos músculos humanos, as máquinas sensórias são
extensões dos sentidos humanos, tomando-se como exemplo a máquina
fotográfica, que em estudos vinculados à ciência, ao ampliar a visão humana, esta
vincula-se tanto ao funcionamento do corpo, quanto aos seus sentidos e ao
desenvolvimento tecnológico. Construídas a partir do século XX, as máquinas
cerebrais imitam o potencial do cérebro humano, e oferecem possibilidades nunca
antes pensadas, estendendo este potencial, com a internet, à uma rede
interconectada.

Enquanto dispositivos acústicos e visuais como fotografia, cinema,


gravador ou televisão estenderam nossa inteligência sensorial e
inundaram o mundo com imagens e sons, as máquinas telemáticas
inteligentes atuais são processadores do hipercérebro, capazes de
transformar todas as formas de escritas, sons, vozes e vídeos em
impulsos eletrônicos e processá-los em sintaxes hipermidiáticas
complexas. Na verdade, o cérebro humano cresceu a tal ponto fora do
crânio que nossa espécie teve que desenvolver processadores do
hipercérebro para desempenhar tarefas de armazenagem, recuperação
e transformação de dados, tarefas que vão muito além da habilidade
dos indivíduos (SANTAELLA IN: DOMINGUES, 2009, p. 506)

As capacidades humanas ampliadas influenciam das mais simples tarefas


cotidianas até as mais complexas, e tais dispositivos são incorporados ao corpo
do indivíduo de forma permanente, como as próteses, ou como os dispositivos
móveis com suas interfaces cada vez mais invisíveis, geram relações tão íntimas
com as máquinas, que afetam a própria relação inter-humana.
WINFRIED NÖTH, aponta em seu artigo “Máquinas Semióticas”(2001), para a
mudança na forma das pessoas se comunicarem e para a criação de novas
formas de comunicação, trazendo a noção de corpo como ciborg. O autor parte
dos conceitos do semioticista americano CHARLES SANDERS PEIRCE sobre os
conceitos de signos (símbolos, índices e ícones) e semiose. E procura
estabelecer reflexões sobre as características do computador como uma máquina
semiótica, que define como “uma máquina não restrita ao processamento de
símbolos, mas também envolvida em outros processos sígnicos” (NÖTH, 2001, p.
54). O computador não é uma máquina mecânica, mas pertence à segunda
geração de máquinas inteligentes, as “máquinas cerebrais”, fazendo com que a
relação simbiótica entre o humano e a máquina torne-se mais acentuada, não são
mais somente extensões dos sentidos, pois ao chamar a estes aparatos de
máquinas semióticas, SANTAELLA (2009) se refere ao fato de que ao
internalizaram no seu modus operandi um certo nível de inteligência:

quero dizer que esses aparatos internalizaram no seu modus operandi


um certo nível de inteligência, mesmo que seja, nesse estágio, um tipo
de inteligência que não vai além da imitação do funcionamento dos
órgãos sensórios humanos. Entretanto, não se pode negar que tenham
pelo menos alguma inteligência, pois, como simuladores dos órgãos
sensórios, são capazes de produzir e reproduzir novas entidades que,
nos últimos dois séculos, vêm provocando profundas mudanças na face
do planeta. Essas novas entidades são signos tecnologicamente
produzidos, imagens e sons com que o mundo passou a ser habitado e
com os quais convivemos em cada campo, canto e esquina do nosso
cotidiano. As consequências dessas máquinas ou aparatos para o
problema do estilo não podem ser subestimadas. As máquinas
semióticas sensórias automatizam o gesto humano da criação.
Consequentemente, essas máquinas passam a funcionar como
parceiras no ato de criar. (SANTAELLA, 2009, p. 105)

Reconhecendo que essas entidades constituem signos produzidos


tecnologicamente NÖTH chama a atenção para o conceito de

[...]quase-semiose encontradas nas máquinas, levando em


consideração que essas máquinas processam quase-signos” [...] Daqui
para frente chamaremos o computador não como máquina simbólica,
mas sim como máquina semiótica (Nake 1997:32), uma máquina não
restrita ao processamento de símbolos, mas também envolvida em
outros processos sígnicos. (NÖTH, 2001. p. 53)

SANTAELLA E NÖTH (2009) chamam a atenção para o fato de que junto com o
surgimento da revolução digital e a cibercultura surgiu também o conceito de pós-
humano, que coloca em a cena as questões relativas aos dilemas que as
interfaces entre seres humanos e máquinas inteligentes tem trazido para a
fisiologia, ontologia e epistemologia do humano. Apoiados em autores como
FEATHERSTONE e BURROWS (1996, p. 2), os autores refletem que,
principalmente, está em questão, além das reconstituições da vida social, ”o
impacto das atuais transformações tecnológicas sobre a psique e o corpo dos
seres humanos”
As novas tecnologias trazem junto consigo, segundo esses autores, a discussão
sobre as alterações do humano e seu corpo, a relação e a fusão da técnica
através de variados dispositivos e conexões. O que anteriormente era sugerido
como o surgimento do ciborg13 (CLYNES, 1960; HARAWAY,1991), para
SANTAELLA transformou-se no que ela chama de “corpo biocibernético” e são
estas mudanças que apontam para formas de existência pós humanas14, em que
“a remodelagem do corpo humano e a reconfiguração da mente humana e da
consciência não podem mais ser negadas” (SANTAELLA, 2003)

A esse corpo sob interrogação estou aqui chamando de corpo


biocibernético. Quero com isso indicar a consciência que foi
gradativamente emergindo de um novo estatuto do corpo humano como
fruto de sua crescente ramificação em variados sistemas de extensões
tecnológicas… (p. 181) [...] Ao transgredir as fronteiras que separavam
o natural do artificial, o orgânico do inorgânico, o Ciborg, por sua própria
natureza, questiona os dualismos, evidenciando que não há mais nem
natureza nem corpo, pelo menos no sentido que o iluminismo lhes
deu.(p. 187) [...] Esse limiar mais recente do ciborg tem apontado para a
direção de formas de existência pós-corporais. É esse limiar que vem
recebendo a denominação de PÓS-HUMANO… (p.191). (SANTAELLA,
2003)

Essas novas configurações do corpo estão ligadas à telepresença (por exemplo


ver com os olhos de uma máquina), à protética (partes artificiais do corpo), à
nanotecnologia (criação de máquinas a partir de moléculas para operar no corpo
humano), à redes neurais (sistemas computacionais com habilidade para
aprender com a experiência, baseadas no funcionamento do cérebro), e à
manipulação genética (projeto Genoma). Para tratar da temática do pós humano e
sua relação com a tecnologia, em que termos como mente, representação,
símbolo, inteligência, memória, são comuns tanto nas Ciências Cognitivas como
nas Ciências da Computação, busco também referências interdisciplinares,
pautadas na comunicação, neurociência e filosofia, por meio de uma discussão
sobre o corpo e as tecnologias oriundos de diferentes áreas do conhecimento,
que não a comunicação em si.

13
O termo “ciborg” foi cunhado pelo cientista Manfred Clynes, em 1960, ao perceber que a impermeabilidade
entre organismo e máquina estava sendo rompida, escoando os inventos trazidos pelo avanço da engenharia
genética, com seus marcapassos recarregáveis, suas articulações artificiais e os demais dispositivos e
artefatos tecnológicos que passavam a fazer parte do corpo humano. O ciborgue está fisicamente
incorporado nos portadores de todas as formas de próteses eletrônicas, de eletrodos de estímulo muscular,
em usuários de drogas sintéticas, etc. Mas este ser híbrido está também nos olhos distendidos (não se trata
de uma extensão, o olho distendido se torna funcionalmente outro olho) dos cirurgiões que realizam
operações através de microscópios de fibras óticas, na clonagem humana, na reprodução in vitro, nos
jogadores de videogame, nos usuários de computador, e mesmo naqueles que apenas utilizam os serviços
tecnológicos para acessar a sua conta bancária. Estas informações modificam ambos, o usuário e o aparato.
Haraway (1991) concebe CYBORG como um organismo artificial cibernético, híbrido, que está entre a
máquina e o organismo.
14
Onde se desenvolvem manipulações e simulações baseadas em pesquisas de níveis moleculares da
genética celular.
LENOIR acredita que o ser humano deseja ser máquina e está reconstruindo o
corpo por meio das novas tecnologias e faz esta afirmativa apoiando-se no
conhecimento construído pela tecnociência.

Quando me refiro ao termo tecnohumanismo, parto da concepção de


que tudo hoje é tecnociência. Antigamente, quando as pessoas faziam
ciência, ela tinha alguma relação com a tecnologia. Hoje, contudo, a
ciência é a tecnologia, ou seja, não existe distinção entre as duas. O
objetivo dos cientistas é compreender as máquinas para que possamos
fazer melhor. Isso mudou toda a noção de natureza de várias formas.
Não há uma natureza independente lá fora: a natureza é
fundamentalmente uma máquina. Para que pudéssemos entendê-la
melhor, basicamente tivemos de transformar a natureza em uma
15
máquina. (LENOIR , 2008)

De acordo com o autor, qualquer mudança na organização da informação, como por


exemplo a causada pela Internet, gera mudanças também na neuroarquiteura do cérebro,
na psique e na consciência das pessoas. Para fazer esta afirmativa, LENOIR (2008)
acredita que o homem já passou por essas mudanças, ‘já cruzou esta ponte’, já é híbrido,
mesclado com a tecnologia.

Algumas outras pessoas diriam que nós sempre fomos ciborgues, ou


seja, sempre fomos híbridos de uma certa forma. Essa é simplesmente
a natureza da sociedade humana. A sociedade humana criou e
desenvolveu o humano, numa estreita combinação e diálogo com a
tecnologia. [...]Parece uma coisa muito poderosa e controversa, mas o
que estamos fazendo, nesse meio tempo, é criar uma nova ideologia,
que afirma que sempre fomos ciborgues, sempre fomos máquinas, e
isso facilita. Lembro aqui do que Deleuze chama de “máquina de
desejo”. Basicamente, o que estamos fazendo é criar máquinas de
desejo: desejamos ser máquinas e estamos transformando a natureza
em máquinas, utilizando processos naturais, agora compreendidos
16
como máquinas, para reconstruir e reformar o corpo. .(LENOIR , 2008)

A partir desta perspectiva, LENOIR se refere a uma das questões mais polêmicas
surgida com o advento da tecnologia moderna e de todos os seus dispositivos
que estão ao redor do homem. Esta questão se refere à constituição deste ‘novo’
sujeito, colocando que ocorre a dissolução do “eu” e ela também está presente na
forma com que cada vez mais o homem se integra em ambientes inteligentes, em
que máquinas interagem com ele. Ele descreve esse processo de transformação
da seguinte forma:
Existem muitas discussões, hoje, sobre como os jovens, pessoas da
nova geração, podem escrever mensagens com 10 janelas de texto
abertas e escutar a uma reprodução de áudio no Google, e todas essas
coisas ocorrendo ao mesmo tempo. Estamos ou não sendo
reprogramados? Estão ou não nossos cérebros se tornando diferentes

15
Entrevista realizada por WOLFART, Graziela e JUNGES, Márcia. LENOIR, Timothy. “Nós sempre fomos
ciborgues. Isso é da natureza da sociedade humana” realizada em 15/06/2008. Disponível em:
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1906&secao=262
16
Idem.
de forma muito significativa? Uma das coisas que observo é que
chegamos a um ponto em que todo novo regime midiático constrói um
novo sujeito. Você pode endossar evidências disso nas sociedades não
alfabetizadas, pessoas que não lêem nem escrevem. Seus cérebros
são equipados de outra forma, têm neuroestruturas diferentes daquelas
que lêem e escrevem. Então, escrever instala no cérebro seu próprio
sistema, e a questão é se a nova mídia instala um novo tipo de sistema
e o que acontece com o “eu”. Muitas pessoas celebram isso, de que
estamos nos tornando múltiplos, “eu sou o eu que ‘googleia’”. Todas
essas novas mídias estão nos construindo de novas maneiras.
17
LENOIR , 2008)

Outra pesquisadora que recorrentemente trabalha com esta temática é


psicanalista SHERRY TURKLE que afirma que a crescente intimidade do homem
com a tecnologia, especialmente os computadores e a expansão da internet

lincando milhões de pessoas em novos espaços de interação, estão


mudando nossa maneira de pensar, a natureza da nossa sexualidade,
as nossas relações interpessoais, a forma das nossas comunidades e
nossas muitas identidades. Nós estamos aprendendo a viver em
mundos virtuais, afirma (TURKLE,1989, p. 09).

O homem ao estar sempre acompanhado e utilizando dispositivos eletrônicos


adquire uma certa dependência dos mesmos porque transfere muito de sua vida
para o mundo virtual por meio das tecnologias, e assim, os novos médias
tornaram-se extensões do corpo, afirma TURKLE. A psicanalista defende esta
idéia afirmando também que, por isso, essas tecnologias não são apenas
ferramentas, mas objetos evocativos, que alteram a percepção que as pessoas
tem de si e do mundo (TURKLE, 2004). Ela é mais uma das pessoas que defende
a idéia de que a Internet é uma poderosa ferramenta que leva as pessoas a
repensarem a idéia que possuem de si mesmas, com a criação de diversas
“personas”, brincando com diversas identidades. Ela afirma que:

os dispositivos tecnológicos são agora também objetos evocativos do


indivíduo, visto que a sua importância aumentou de tal forma que
ultrapassou a fronteira emocional. São os aparelhos eletrônicos que nos
permitem comunicar com quem precisamos/gostamos, que nos
acordam, que nos lembram de um aniversário/compromisso, que nos
dão acesso a uma quantidade de informação inacreditável, com a qual
nos identificamos, nos distraímos, nos expressamos, nos rimos e até
choramos. Tornam-se assim extensões psíquicas e emocionais do ser
humano. (TURKLE, 2004).

Como vimos no decorrer desta investigação, as tecnologias modificaram


fisicamente os dois corpos, o da tecnologia e o do ser humano. Entre tantas
posições dos autores e com perspectivas tão amplas, como afirmei inicialmente,
este é um estudo exploratório que visa entender esse processo complexo que é a
17
Idem.
relação do homem com a tecnologia. Esse processo compreende, além da
informação virtualizada, uma relação do homem com as máquinas tecnológicas
com que interage, e ao interagir mescla-se com elas, trazendo mudanças que
são cada vez mais profundas e irreversíveis. As tecnologias e o ciberespaço

[...] permitem que os membros de um grupo humano (que podem ser tantos
quantos se quiser) se coordenem, cooperem, alimentem e consultem uma
memória comum, e isto quase em tempo real, apesar da distribuição geográfica
e da diferença de horários. (LÉVY, 1999, p. 49)

4. CONCLUSÕES

Desenhando um quadro referencial

Desde o início desta reflexão, a proposta busca um melhor entendimento sobre a


relação entre a memória social, olhando sua relação com o homem, a história e o
desenvolvimento da tecnologia. Como busquei explicitar, é uma reflexão
exploratória porque o campo de estudos é amplo e diversificado. Após a leitura
dos autores, fica claro para mim que desde o surgimento do homem até o mundo
contemporâneo, independente do desenvolvimento tecnológico, há um viés
condutor que mostra que o ser humano carrega consigo uma necessidade de
preservar a sua própria história e cultura e mostrando seus feitos, precisando
também expô-los e dá-los a conhecer para as gerações futuras.
É interessante observar que este pensamento,de certa forma, está presente na
fala de LÉVY (2013) quando ele aborda as memórias de longa duração (como
aquela que as gerações passadas nos legaram – memórias que eram
fragmentadas e que não estavam reunidas em conjunto) ou de curta duração
(grupos em interação) que podem estar contidas no ciberespaço (não, não há
contradição entre a cibercultura e a memória), espaço em que existe a
possibilidade de reapropriação dessa memória que hoje se torna global. As
memórias orais passadas de grupo para grupo hoje são instantaneamente
disponibilizadas para todos ao mesmo tempo. “A própria internet é uma memória
de produção coletiva”. O autor se apóia na psicologia cognitiva contemporânea
para afirmar que existem diversas memórias, que são funcionalmente distintas,
mas este é um conhecimento anterior à todo este desenvolvimento tecnológico de
forma que podemos pensar que neste aspecto a memória como a conhecíamos
foi incorporada ao mundo da cibercultura assim como o próprio homem, o que
ocorre com maior ênfase é que a cibercultura pode ser considerada uma
tecnologia da memória.
Este pensamento está em consonância com o de SANTAELLA que destaca que
que o homem produziu, ao longo da história, diferentes dispositivos, com o
objetivo de para preservar sua memória e seu potencial sensível. Para ela a
tecnologia (a primeira tecnologia está instalada em nosso próprio corpo, o
aparelho fonador) não prejudicou este processo, porque as principais tecnologias
são as da linguagem, algo que é constitutivo do humano. Mesmo ao reconhecer a
fusão entre o homem e a tecnologia e ao reconhecer a existência de um corpo
“biocibernético”, SANTAELLA afirma que “não há divórcio entre a evolução
biológica humana e a revolução tecnológica” e que no mundo contemporâneo as
tecnologias digitais estão expandindo as nossas capacidades cerebrais. Sem
dúvida estas perspectivas trazem muitas transformações que passam por temas
polêmicos como a nova economia da atenção, o design cognitivo, a mente
distribuída, o cérebro coletivo, a inteligência planetária, as questões de autoria e
muitas outras.
Este pensamento encontra eco em LENOIR, que vindo de outro campo do conhecimento,
quando ele afirma que o homem já é hibrido (mesclado com a tecnologia) e qualquer
mudança na organização da informação , gera mudanças também na neuroarquiteura do
cérebro, na psique e na consciência das pessoas. Mas esta é uma realidade que no seu
entendimento só vai avançar, deixando-nos por enquanto o questionamento sobre as
possibilidades futuras porque essas novas mídias estão nos construindo de novas
maneiras uma vez que ocorre o que chama de dissolução do “eu”, que está presente na
forma como o homem se integra em ambientes inteligentes, em que máquinas interagem
com ele.
Já TURKLE que inicialmente viu de forma muito otimista estas transformações
tecnológicas, hoje é um pouco mais reticente com relação à elas. Pensando inicialmente
na tecnologia como uma forma de aproximação dos homens e do mundo, a psicóloga e
pesquisadora do Massachusetts Institute of Technology, nos anos 1990 relatava a vida
em rede para que o homem se adaptasse a novas maneiras de pensar relacionamentos,
já em 2011 ela aponta para a confusão sobre identidade, intimidade e solidão que se
instalaram em função das mesmas tecnologias. Em suas últimas pesquisa TURKLE
descreve por meio de um mapa temporal a forma como o homem e os grupos sociais tem
se relacionado com os computadores e a tecnologia, como o próprio homem está sendo
pensado e como está sendo pensada sua relação com a máquina seja no domínio da
filosofia, na investigação científica, ou mesmo na literatura e no cinema. Ela mostra como
nas últimas décadas, a reflexão em torno da “oposição” humano/máquina, suscitada pelo
rápido desenvolvimento da tecnologia, criou um efeito inverso, o pensamento do homem
na sua própria humanidade através do computador, definido-a através dele. A posição de
TURKLE se aproxima da de HARAWAY (1991) para quem, antes
de sermos humanos, nos tornamos humanos nas relações com outros, mas o
computador é para estas autoras, o objeto que condensa o núcleo da “natureza” humana
que tem vindo a se “constituir” de humanos em cyborgs. Ao contrário de LÉVY,
SANTAELLA e LENOIR, entre outros, TURKLE vê o envolvimento do homem com a
tecnologia de forma menos positiva. Aponta para a dependência que o homem cria com
relação à tecnologia, principalmente porque no mundo contemporâneo ele está sempre
acompanhado de / e utilizando dispositivos eletrônicos (smarts, tablets e outos), por meio
dos quais transfere muito de sua vida para o mundo virtual, por isso os novos médias
tornaram-se extensões do corpo. Ao defender esta idéia, a autora destaca o fato de que
essas tecnologias não são apenas ferramentas, mas se tornam objetos evocativos, que
alteram a percepção que as pessoas tem de si e do mundo, tornando-se extensões
psíquicas e emocionais do ser humano, relacionando-se com sua forma de pensar e com
a forma como lidam com suas memórias.
Por fim , PALACIOS e CANAVILHAS analisam a perspectiva da utilização da tecnologia
na área profissional do jornalismo e ambos vêem grandes avanços na área. Partindo da
perspectiva de que o material jornalístico sempre serviu de registro para os
acontecimentos, e portanto de memória, pensam que o lugar de memória no jornalismo é
potencializado na Web, permitindo uma construção coletiva entre leitores e jornalistas,
onde as informações ficam registradas e disponíveis pela possibilidade ampla de
armazenamento e conexões.
O fato é que são muitas as proposições acerca do tema, todas bem fundamentadas,
concebidas em diferentes lugares, algumas com extrema abertura e entusiasmo, outras
nem tanto. Observando a exposição acerca das tecnologias e sua expansão, constato a
verdade dos conceitos sobre a relação homem/máquina, no entanto também encontro
presentes as práticas do velho homem que se sentava à volta da mesa e contava
repetidamente suas histórias para memorizá-las, para passá-las para as novas gerações
por meio das ferramentas tecnológicas. Hoje o homem híbrido e biocibernético, registra o
mesmo tipo de informações no meio virtual mostrando que quer ser lembrado, mesclando
as velhas e novas práticas. Há muitas coisas que nos são desconhecidas porque a
mudança ainda está ocorrendo e numa velocidade cada vez maior.
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Entrevista realizada por WOLFART, Graziela e JUNGES, Márcia. LENOIR, Timothy. “Nós
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http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1906&s
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Pierre Lévy fala dos benefícios das ferramentas virtuais para o ensino” Matéria publicada
na edição de fevereiro de 2013 da revista Gestão Educacional Disponível em
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beneficios-das-ferramentas-virtuais-para-a-educacao#sthash.t0H80A0b.dpuf Acesso em
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