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1. INTRODUÇÃO
Este ensaio tem como finalidade realizar um estudo exploratório abordando a memória
desde a oralidade até sua presença e evolução nas novas tecnologias. Meu interesse na
área se deve à minha formação em Comunicação Social (em Jornalismo, Publicidade e
Relações Públicas) e também na área da Psicologia/Psicólogo, além da questão docente
– pois em sala de aula me defronto com jovens que transitam por este contexto.
Caracterizo o estudo como exploratório tendo em vista as inúmeras abordagens
existentes/possíveis. Desta forma, minha proposta é, a partir de algumas conceituações
básicas acerca do que é memória e do que é entendido pelos autores como novas
tecnologias, mapear as posições de autores reconhecidos na área, buscando entender a
trajetória dos estudos acerca da memória a partir da oralidade e da escrita até sua novas
configurações e a discussão de que a tecnologia transforma a cognição e próprio corpo
do homem, num processo que muda sua forma de ação e pensamento.
É preciso lembrar que para falar sobre memória, nesse caso social, necessitamos de um
olhar multidisciplinar, pois, tudo o que fazemos se torna parte da memória de uma
pessoa, de um grupo social ou até mesmo de uma nação. Um dos estudiosos sobre o
tema, PIERRE LÉVY (1993, 1997) coloca que antes da era da informática, existiam dois
tipos de sociedade: a primeira, mais arcaica se estruturava a partir da oralidade primária
relacionada à palavra falada, e a segunda, mais moderna, baseava-se na oralidade
secundária fundamentada na escrita. Com o surgimento das novas tecnologias e um
conhecimento mais amplo do potencial colaborativo da internet e seus usos, também se
torna necessário um novo olhar sobre a memória social. A mudança de uma memória
compartilhada oralmente e sua evolução para um meio ou suporte que é “múltiplo,
instantâneo e cumulativo”, faz com que a memória adquira estas mesmas características,
que são potencializadas na internet graças aos arquivos diariamente colocados on-line
(PALACIOS, 2008). A afirmativa de Palacios1 encontra eco em Canavilhas2: “Este
1
Marcos Palácios é Professor Titular de Jornalismo, Universidade Federal da Bahia (Brasil) e Professor
Visitante na Universidade da Beira Interior (Portugal).
manancial de informação representa uma memória social, dinâmica, organizada e
navegável” (CANAVILHAS, 2004. p. 5).
Tendo em vista essas novas tecnologias e suas inúmeras possibilidades, a
memória social necessita de um estudo mais detalhado e uma análise crítica
acerca das tecnologias computacionais de informação, nas questões referentes à
criação, distribuição, acesso e atualização das informações e comunicações,
cujas implicações levam muitos estudiosos a considerarem o que está
acontecendo com a “interface de humanos e máquinas, com a remodelagem do
corpo humano e a reconfiguração da mente humana e da consciência”
(SANTAELLA, 1997, p. 32) que são evidentes, assim como a “nova ordem
sensorial e cerebral que emerge da hibridização do orgânico com o sintético”.
(SANTAELLA, 1997, p. 33). Reflete-se ainda sobre as novas tecnologias e o uso
dos computadores e dispositivos móveis, no texto de WINFRIED NÖTH3,
“Máquinas Semióticas” em que o autor aponta para a mudança na forma das
pessoas se comunicarem e para a criação de novas formas de comunicação,
trazendo a noção de corpo como cyborg. Esta perspectiva também é apontada
por SHERRY TURKLE4 (1997) que afirma que a tecnologia muda nossa natureza
enquanto pessoas e LENOIR5 (2004) que afirma que a linguagem é uma forma
alternativa de vida em nós, um “parasita externo que co-evolui conosco” (LENOIR,
2004, p 42), e continua afirmando que qualquer mudança na organização da
informação, como a Internet, gera modificações na neuroarquitetura do cérebro
humano, colocando que: “Nós já somos híbridos. Algumas outras pessoas diriam
que nós sempre fomos ciborgues [LENOIR, 2008, entrevista]”
Entre tantas posições e com perspectivas tão amplas, como afirmei inicialmente,
este é um estudo exploratório que visa entender como a memória se consolidará
mediante as novas tecnologias e quais as possibilidades para esse entendimento.
2
João Canavilhas é doutor em Comunicação pela Univ. de Salamanca e professor na Universidade da Beira
Interior na área de jornalismo. Investigador no Labcom - Laboratório de Comunicação Online, coordena ainda
o Centro Multimédia da UBI e é diretor do primeiro jornal online universitário português, o URBI.
3
Winfried Nöth é professor de linguística e semiótica e diretor do Centro Interdisciplinar de Estudos Culturais
da Universidade de Kassel, professor visitante na PUC de São Paulo, membro honorário da Associação
Internacional de Semiótica Visual.
4
Sherry Turkle, psicanalista, é professora titular de Sociologia no Massachussets Instituto of Technology
(MIT) e doutora por Harvard, em Psicologia da personalidade.
5
Timothy Lenoir é professor de História e catedrático do Programa de história e Filosofia da Ciência da Duke
University, nos Estados Unidos. Possui extensa lista de publicações sobre a história da matemática no século
XVII, história da biologia e fisiologia alemã no século XIX, sobre o impacto do uso da informática nas
ciências, o conceito e implicações da tecnociência, e sobre a produção de materiais digitais para a pesquisa
na área de filosofia e história das ciências. Entre seus temas de interesse atual, está a discussão da
necessidade de se repensar um papel para as humanidades à luz dos grandes avanços tecnológicos,
propondo o que chama de tecnohumanismo.
2. METODOLOGIA
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A história oral é assim designada porque está baseada nas manifestações de fala das
pessoas, na sua oralidade: para poder construí-la, é o ponto de partida. A sociedade da
oralidade primária é a que remete ao papel da palavra falada antes do advento da
escrita, “(…) a palavra tem como função básica a gestão da memória social, e não
apenas a livre expressão das pessoas ou a comunicação prática cotidiana” (LÉVY,1992).
Nela, a inteligência/ sabedoria estaria particularmente relacionada com a memória sobre
o conhecimento que era passado de forma oral através de uma relação mais íntima entre
indivíduos na construção de uma tradição. No entanto o mundo continuou sua trajetória e
mais tarde, a linguagem foi codificada em símbolos e depois em alfabetos, assim, a
oralidade secundária está relacionada à escrita. A sociedade estruturada a partir dela
tinha uma vantagem no armazenamento de informação, que era o fato de terem uma
estrutura física guardando-a por meio de caracteres simbólicos. O que se torna então
importante de se pensar como uma evolução social foi que “ (…) o alfabeto e a
6
Jornalista, bacharel em Comunicação Social pela PUC/RJ, Mestre em Comunicação e Cultura pela
ECO/UFRJ. Doutora em Comunicação e Cultura pela ECA/SP. Diretora editorial da INTERCOM na gestão
2003-2006.
impressão, aperfeiçoamentos da escrita, desempenharam um papel essencial no
estabelecimento da ciência como modo de conhecimento dominante” (LÉVY,1992).
ORLANDI (2002)7, vê esta classificação de forma diferente relacionando a oralidade e a
escrita quando diz:
Com relação à memória, LOWENTAL8 coloca que “Toda a consciência do passado está
fundada na memória. Através das lembranças recuperamos consciência dos
acontecimentos anteriores, distinguimos ontem de hoje, e confirmamos que já vivemos
um passado”. (LOWENTAL, 1981, p.75) O autor encontra posição similar em Pinto9 que
afirma: a memória é este lugar de refúgio, meio história, meio ficção, universo marginal
que permite a manifestação continuamente atualizada do passado”. (PINTO, 1998, p.
307) Na perspectiva desses autores, a memória torna-se infinitamente rica em suas
manifestações, permitindo entre outras coisas, reconstruir a atmosfera de outros tempos,
relembrando hábitos, valores e práticas da vida cotidiana.
Desta forma, a própria escrita pode ser vista como trabalho da memória que estrutura as
relações sociais de maneira específica. A estrutura da língua, a gramática, o dicionário,
são construções histórico-sociais que perpassam a relação com a escrita e ampliam o
significado do seu domínio técnico propriamente dito. O ingresso das sociedades
7
Eni Pulcinelli Orlandi, possui graduação em Letras pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
de Araraquara (1964),mestrado em Linguística pela USP (1970), doutorado em Linguística pela USP e
pela Universidade de Paris/ Vincennes (1976). Tem experiência na área de Linguística, com
ênfase em Teoria e Análise Linguística. É autora de diversas obras literárias.
8
David Lowenthal - Professor convidado de arquitetura paisagística em Harvard, de ciência política no MIT,
de psicologia ambiental na University of New York, entre outras universidades. Autor de renome
internacional, prolífico sobre o patrimônio, paisagens, a memória, a história e os usos do passado,
compartilha as memórias de sua própria investigação sobre o patrimônio e dá a sua opinião sobre direções
futuras em antecipação da nova edição do passado com o Grupo de Investigação do Patrimônio Cambridge:
Marie-Louise Sorensen e Britt Baillie. Grupo de Investigação do Patrimônio Cambridge:
http://www.arch.cam.ac.uk/heritage/
9
Júlio Pimentel Pinto nasceu em São Paulo, em 1964. Atualmente é professor do Departamento de História
da USP (onde também fez graduação, mestrado e doutorado na área de História Social) e pesquisador do
Departamento de Espanhol do Birkbeck College da Universidade de Londres. Durante muitos anos deu aulas
na Escola Logos e no Departamento de História da PUC-SP.
ocidentais na cultura escrita constitui uma das principais transformações da época
moderna.
Foi a escrita que permitiu ao conhecimento a ultrapassagem da barreira do tempo, e por
seu intermédio desenvolveram-se a organização do pensamento, a inteligência e a
cultura das sociedades, o conhecimento científico tomou forma e a ciência permitiu que
as civilizações avançassem rumo ao futuro. A troca de conhecimentos e da cultura levou
ao crescimento da vida social e das sociedades. A escrita possibilita conhecer a história
das representações ou do próprio imaginário social, na medida em que une o poder dos
escritos à leitura, e à visualização dos mesmos, como categorias mentais e socialmente
diferenciadas, inscritas na memória.
.
O conceito de memória é crucial porque na memória se cruzam
passado, presente e futuro; temporalidades e espacialidades;
monumentalização e documentação; dimensões materiais e simbólicas;
identidades e projetos. É crucial porque na memória se entrecruzam a
lembrança e o esquecimento; o pessoal e o coletivo; o indivíduo e a
sociedade; o público e o privado; o sagrado e o profano. Crucial porque
na memória se entrelaçam registro e invenção; fidelidade e mobilidade;
10
dado e construção; história e ficção; revelação e ocultação. (NEVES ,
1998: 218)
A história revela que a diversidade cultural humana é rica e está em constante mutação.
Quando aparecem elementos novos, que uma maioria reconhece e considera válidos,
adequados ao contexto (que possui uma natureza transitória e maleável e que pode ser
alterado em função desses novos elementos convertendo-se em um novo contexto),
surgem as mudanças. Por elementos novos, entende-se a produção de conhecimento, de
novas informações que desencadeiam novas idéias, novos conceitos e novas
tecnologias. Para DYENS (2001), toda produção humana, seja ela teórica ou material, é
considerada tecnologia.
Com o surgimento da sociedade da informação ocorrem profundas mudanças nas
práticas sociais e são percebidas alterações nos sentidos da memória e na sua
constituição que são muito significativas, oriundas de um período novo da cultura, que
está em andamento, cujas transformações incidem sobre alterações na forma de pensar
os processos informacionais, tornando importante repensar o papel que a memória social
vem adquirindo em nossa vida cotidiana.
As novas tecnologias
10
É graduada em História (1967), pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Tem Doutorado
em História pela Universidad Complutense de Madrid (1975). Atualmente é professora emérita do
Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de
História, com ênfase em História Social da Cultura, e trabalha principalmente nos seguintes temas: memória
e história, literatura e história, história cultural, cidade e história e pensamento social brasileiro. Atualmente
coordena o Núcleo de Memória da PUC-Rio.
A partir de 1950, uma verdadeira revolução acontece e uma nova configuração social se
coloca em andamento junto com a Sociedade Contemporânea, que é designada por
diferentes nomes - Sociedade da Informação, Sociedade do Conhecimento, Sociedade
em Rede, oriundos do mesmo contexto mas propiciados por olhares de diferentes
campos do conhecimento. Esse contexto resultou da convergência de uma base
tecnológica e da representação da informação em forma digital e trouxe consigo as
transformações tecnológicas (como o crescimento da Internet), organizacionais,
geopolíticas, comerciais e financeiras, institucionais, culturais, sociais e nos processos
comunicacionais, ligados às questões da memória e da cultura.
A microeletrônica, a computação e as telecomunicações impulsionam as tecnologias da
informação e da comunicação – TICs – por meio das quais foram aplicados
conhecimentos para geração de novos conhecimentos e criados dispositivos de
processamento da comunicação/informação, em um ciclo cumulativo entre a inovação e
seu uso (CASTELLS, 1999).
As tecnologias contemporâneas trazem mudanças aceleradas em quase todos os
campos da existência, revolucionando a vida das pessoas, onde o conhecimento é
rapidamente difundido e compartilhado. As novas tecnologias, seja sob a forma de
dispositivos físicos e/ou outros, permitem que novos limites de conhecimento sejam
alcançados e que novas idéias sejam concebidas, construindo novos conceitos e
tecnologias mais recentes e adequadas, num processo que nunca acaba, pois o homem
contemporâneo pela herança aprendida e pela estrutura de conhecimentos edificada
sobre todos os âmbitos da ação humana, está sempre em constante movimento.
Se por um lado os avanços tecnológicos trouxeram grandes contribuições ao
desenvolvimento social e aos processos de comunicação permitindo acelerar o fluxo das
informações e possibilitando sua simultaneidade, por outro, ao constituir-se em uma
sociedade que rompe com a continuidade dos vínculos de espaço e tempo modifica, de
forma radical, sua configuração social. São grandes as modificações na esfera da cultura,
isto porque os novos processos comunicacionais aceleram o acesso às informações e
permitem novas trocas de experiências e relacionamentos na sociedade como um todo.
PIERRE LÉVY, em seu livro Tecnologias da Inteligência, tenta mostrar um campo de
novas tecnologias, aberto, conflituoso e parcialmente indeterminado. Na introdução (Face
à técnica) o autor coloca:
Acontece a passagem de uma cultura analógica para a digital, possibilitada pela seriação
eletrônica, cujas alterações sociais provocam revoluções em todas as dimensões da
existência, surgindo um novo momento que ele chama de Cibercultura. (LÉVY, 1999)
Outros autores se posicionam sobre a mudança social causada pelo avanço da
tecnologia, onde o computador como aparato tecnológico tornou-se o meio pelo qual não
só percebemos o mundo, mas os seres vivos e o processo cognitvo e as próprias
relações sociais. Um vasto leque de anseios humanos bem como as necessidades
relacionadas com o funcionamento das sociedades, são alcançados pela tecnologia, que
as torna mais produtivas e eficientes. A evolução tecnológica tem vindo a acompanhar o
desenvolvimento da espécie humana, conduzindo-a e sendo conduzida por ela: no
cumprimento de tarefas específicas nos diferentes âmbitos da atividade do homem - do
profissional ao lúdico, dos cuidados com a saúde ao relacionamento em sociedade. Para
TURKLE (1997) e DYENS (2001), a relação entre o tecnológico e o humano pode, então,
ser descrita como uma interação que acarreta influencias que se correspondem umas às
outras, desenvolvendo-se um processo de interdependência. Proveniente desta interação
constante, resulta hoje, a mudança dos paradigmas tecnológico e humano.
Este ensaio apresenta a seguir, num mundo em que tudo é rápido, as relações entre as
novas tecnologias e a memória social a partir de pensadores de vários campos da ciência
que investigam como ocorre o processo do pensamento e de sua conservação num
mundo cheio de novidades e mudanças.
Até aqui foram expostas questões teóricas referentes à memória, sua história
desde a oralidade até sua presença e evolução nas novas tecnologias e as
revoluções que estas trouxeram para o contexto humano e social, da máquina
que pensa ao homem cujo corpo é biocibernético em função de sua fusão com a
tecnologia. Busco a partir de pensadores como PIERRE LÉVY (1993; 1999),
PALÁCIOS (2008), CANAVILHAS (2004), SANTAELLA (1997), WINFRIED NÖTH
(2001), SHERRY TURKLE (1997), e LENOIR (2004), entre outros, em tantas
posições e perspectivas tão amplas, entender como a memória se consolidará
mediante as novas tecnologias e quais as possibilidades para esse entendimento,
indicando as reelaborações da memória e da história e apontando para as
relações entre temas que a princípio podem parecer muito distintos.
PIERRE LÉVY constitui uma das referências mais importantes no conhecimento e a
preocupação maior do filósofo francês é entender de que modo os computadores, e todo
o arsenal a eles conectado, compõem uma nova interface social, representando a adoção
de uma nova tecnologia da inteligência. Ele, reconhecidamente é um dos mais influentes
filósofos da atualidade que trabalha a questão da cibercultura e da inteligência coletiva,
apresenta seu pensamento em diversos livros e artigos, mostrando-se otimista com
relação à utilização das novas tecnologias de comunicação e acredita que a humanidade,
pelo fenômeno da popularização da Internet, caminha para a construção de um novo
espaço antropológico, o espaço do saber, no qual todos os seres humanos estarão
interligados em tempo real pela Internet. Esta configura a nova escrita que possibilita uma
interligação dos seres humanos e de seus conhecimentos.
Em sua obra “A Inteligência possível no século XXI” LEVY (2007), afirma que a
digitalização de documento, a sua interconexão em um espaço virtual e a
possibilidade de tratamento dos documentos em questão anunciam uma mutação
cultural de grande amplitude. Ao referir-se à memória pontua que “a memória
comum em rede se apresenta como um canal de difusão de grande eficácia”, pois
as novas tecnologias permitem que qualquer momento possa ser registrado,
qualquer história escrita, e a informação que se encontra na rede, está
virtualmente em qualquer lugar, seu acesso é livre a qualquer pessoa, em
qualquer lugar do mundo.
11
Memória e cibercultura - Entrevista com Pierre Lévy. Por Lynnda Proulx e Maria Antonieta Pereira.
Tradução de Anderson Fabian Ferreira Higino. Ottawa, jun./2008. Disponível em
http://www.letras.ufmg.br/atelaeotexto/entrevista_levy.html Acesso em 10/07/2014.
LÉVY afirma que para ele não há qualquer contradição entre a cibercultura e a
memória, pensa exatamente o contrário. A memória contida no ciberespaço pode
ser de curta duração (acumulada por um grupo em interação), ou de longa
duração (como a memória das gerações passadas que nos foi legada), colocando
que existe a oportunidade de reapropriação dessa memória, colocando ainda que
hoje nossa memória é global. Em matéria publicada na Revista Gestão
Educacional12, em 2013, o autor coloca que “A própria internet é uma memória de
produção coletiva. De certa forma, isso sempre existiu, porque o que conhecemos
hoje é uma herança do que já foi feito.” Referindo-se à escola e à aprendizagem
que no seu entender será colaborativa, fala que:
Logo, temos que educar visando esse novo comportamento, através de uma
pedagogia de aprendizagem coletiva permanente devem ensinar sobre
responsabilidade social para a memória coletiva. Tudo o que você posta na
internet contribui para a memória coletiva (Revista Gestão Educacional, 2013)
12
“Pierre Lévy fala dos benefícios das ferramentas virtuais para o ensino” Matéria publicada na edição de
fevereiro de 2013 da revista Gestão Educacional Disponível em
http://www.webaula.com.br/index.php/pt/acontece/noticias/2874-pierre-levy-fala-dos-beneficios-das-
ferramentas-virtuais-para-a-educacao#sthash.t0H80A0b.dpuf Acesso em 10/07/2014.
Referindo-se ao lugar de memória no jornalismo, PALÁCIOS (2004) afirma que esta é de
tal forma potencializada na Web em função da sua conjugação com a Instantaneidade,
Hipertextualidade e Interatividade, bem como pela inexistência de limitações de
armazenamento de informação, e mostra que em consequência destas características
ocorre uma ruptura em relação aos suportes mediáticos anteriores.
Para PALÁCIOS por não ter limitações de espaço, e pela situação de extrema rapidez de
acesso e alimentação (Instantaneidade e Interatividade) que conta com uma grande
flexibilidade combinatória (Hipertextualidade), o “Jornalismo tem na Web a sua primeira
forma de Memória Múltipla, Instantânea e Cumulativa”, que se contata ser cada vez mais
utilizada (PALACIOS, 2008, p. 10) Esta afirmativa encontra ressonância em
CANAVILHAS (2004), pesquisador do jornalismo aplicada às novas tecnologias quando
ele coloca que:
SANTAELLA E NÖTH (2009) chamam a atenção para o fato de que junto com o
surgimento da revolução digital e a cibercultura surgiu também o conceito de pós-
humano, que coloca em a cena as questões relativas aos dilemas que as
interfaces entre seres humanos e máquinas inteligentes tem trazido para a
fisiologia, ontologia e epistemologia do humano. Apoiados em autores como
FEATHERSTONE e BURROWS (1996, p. 2), os autores refletem que,
principalmente, está em questão, além das reconstituições da vida social, ”o
impacto das atuais transformações tecnológicas sobre a psique e o corpo dos
seres humanos”
As novas tecnologias trazem junto consigo, segundo esses autores, a discussão
sobre as alterações do humano e seu corpo, a relação e a fusão da técnica
através de variados dispositivos e conexões. O que anteriormente era sugerido
como o surgimento do ciborg13 (CLYNES, 1960; HARAWAY,1991), para
SANTAELLA transformou-se no que ela chama de “corpo biocibernético” e são
estas mudanças que apontam para formas de existência pós humanas14, em que
“a remodelagem do corpo humano e a reconfiguração da mente humana e da
consciência não podem mais ser negadas” (SANTAELLA, 2003)
13
O termo “ciborg” foi cunhado pelo cientista Manfred Clynes, em 1960, ao perceber que a impermeabilidade
entre organismo e máquina estava sendo rompida, escoando os inventos trazidos pelo avanço da engenharia
genética, com seus marcapassos recarregáveis, suas articulações artificiais e os demais dispositivos e
artefatos tecnológicos que passavam a fazer parte do corpo humano. O ciborgue está fisicamente
incorporado nos portadores de todas as formas de próteses eletrônicas, de eletrodos de estímulo muscular,
em usuários de drogas sintéticas, etc. Mas este ser híbrido está também nos olhos distendidos (não se trata
de uma extensão, o olho distendido se torna funcionalmente outro olho) dos cirurgiões que realizam
operações através de microscópios de fibras óticas, na clonagem humana, na reprodução in vitro, nos
jogadores de videogame, nos usuários de computador, e mesmo naqueles que apenas utilizam os serviços
tecnológicos para acessar a sua conta bancária. Estas informações modificam ambos, o usuário e o aparato.
Haraway (1991) concebe CYBORG como um organismo artificial cibernético, híbrido, que está entre a
máquina e o organismo.
14
Onde se desenvolvem manipulações e simulações baseadas em pesquisas de níveis moleculares da
genética celular.
LENOIR acredita que o ser humano deseja ser máquina e está reconstruindo o
corpo por meio das novas tecnologias e faz esta afirmativa apoiando-se no
conhecimento construído pela tecnociência.
A partir desta perspectiva, LENOIR se refere a uma das questões mais polêmicas
surgida com o advento da tecnologia moderna e de todos os seus dispositivos
que estão ao redor do homem. Esta questão se refere à constituição deste ‘novo’
sujeito, colocando que ocorre a dissolução do “eu” e ela também está presente na
forma com que cada vez mais o homem se integra em ambientes inteligentes, em
que máquinas interagem com ele. Ele descreve esse processo de transformação
da seguinte forma:
Existem muitas discussões, hoje, sobre como os jovens, pessoas da
nova geração, podem escrever mensagens com 10 janelas de texto
abertas e escutar a uma reprodução de áudio no Google, e todas essas
coisas ocorrendo ao mesmo tempo. Estamos ou não sendo
reprogramados? Estão ou não nossos cérebros se tornando diferentes
15
Entrevista realizada por WOLFART, Graziela e JUNGES, Márcia. LENOIR, Timothy. “Nós sempre fomos
ciborgues. Isso é da natureza da sociedade humana” realizada em 15/06/2008. Disponível em:
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1906&secao=262
16
Idem.
de forma muito significativa? Uma das coisas que observo é que
chegamos a um ponto em que todo novo regime midiático constrói um
novo sujeito. Você pode endossar evidências disso nas sociedades não
alfabetizadas, pessoas que não lêem nem escrevem. Seus cérebros
são equipados de outra forma, têm neuroestruturas diferentes daquelas
que lêem e escrevem. Então, escrever instala no cérebro seu próprio
sistema, e a questão é se a nova mídia instala um novo tipo de sistema
e o que acontece com o “eu”. Muitas pessoas celebram isso, de que
estamos nos tornando múltiplos, “eu sou o eu que ‘googleia’”. Todas
essas novas mídias estão nos construindo de novas maneiras.
17
LENOIR , 2008)
[...] permitem que os membros de um grupo humano (que podem ser tantos
quantos se quiser) se coordenem, cooperem, alimentem e consultem uma
memória comum, e isto quase em tempo real, apesar da distribuição geográfica
e da diferença de horários. (LÉVY, 1999, p. 49)
4. CONCLUSÕES
Livro
CLYNES, M. E. & KLINE, N.S. Cyborgs and space”, em Astronautics. Setembro de 1960,
páginas 26-27 e 74-75. Re-impresso por Gray, Mentor and Figueroa-Sarriera, eds., The
cyborg handbook. Nova York: Routledge, 1995, páginas 29-34
DYENS, O. Metal & Flesh: The evolutionnof man – technology takes over. Cambridge:
MIT Press, 2001.
HARAWAY, D. A Cyborg Manifesto: Science, Technology, and ... Cyborgs and Women:
The Reinvention of Nature.. pp.149-181. New York; Routledge, 1991.
LÉVY, P. Cibercultura 1ª ed. 1999. 2ª ed. São Paulo: Editora 34, 2000
LÉVY, P. A Inteligência Coletiva; por uma antropologia do Ciberespaço. São Paulo:
Loyola, 1998.
ORLANDI, E. P. Análise de Discurso. 4.a ed. Editora Pontes. Campinas, SP, 2002
PINTO, P. J. Uma memória do mundo: ficção, memória e história em Jorge Luís Borges.
São Paulo: Estação Liberdade, 1998
ORLANDI, E.P. I. Língua e Conhecimento Lingüístico. Para uma história das idéias no
Brasil. São Paulo: Cortez, 2002.
SANTAELLA, L. Redes sociais digitais: a cognição do Twitter. São Paulo: Paulus, 2010.
Capítulo de livro
NEVES, Margarida. História e memória. In: MATTOS, Ilmar R. (org). Ler e Escrever para
Contar: documentação, historiografia e formação do historiador. Rio de Janeiro: Access
Editora, 1998.
SANTAELLA, L. O homem e as máquinas. In: _______. Cultura das mídias. 4. ed. São
Paulo: Experimento, 2005 [1996].
Artigo
Documentos eletrônicos
SANTAELLA, L.Arte & Ciência: o campo contorvesso da bioarte, 2003. Acesso em 14/06/
2014. Disponível: http://www.itaucultural.org.br/interatividades2003/paper/santaella.doc
TURKLE, Sherry. "How Computers Change the Way We Think." The Chronicle of Higher
Education: Information Technology, January 30, 2004.Disponível em
http://web.mit.edu/sturkle/www/publications.html
Entrevistas:
Memória e cibercultura - Entrevista com Pierre Lévy. Por Lynnda Proulx e Maria Antonieta
Pereira. Tradução de Anderson Fabian Ferreira Higino. Ottawa, jun./2008. Disponível em
http://www.letras.ufmg.br/atelaeotexto/entrevista_levy.html Acesso em 10/07/2014.
Entrevista realizada por WOLFART, Graziela e JUNGES, Márcia. LENOIR, Timothy. “Nós
sempre fomos ciborgues. Isso é da natureza da sociedade humana” realizada em
15/06/2008. Disponível em:
http://www.ihuonline.unisinos.br/index.php?option=com_content&view=article&id=1906&s
ecao=262
Pierre Lévy fala dos benefícios das ferramentas virtuais para o ensino” Matéria publicada
na edição de fevereiro de 2013 da revista Gestão Educacional Disponível em
http://www.webaula.com.br/index.php/pt/acontece/noticias/2874-pierre-levy-fala-dos-
beneficios-das-ferramentas-virtuais-para-a-educacao#sthash.t0H80A0b.dpuf Acesso em
10/07/2014.