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BAURU
2012
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BAURU
Mantido pela Instituição Toledo de Ensino
CURSO DE DIREITO
BAURU
2012
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BAURU
Mantido pela Instituição Toledo de Ensino
CURSO DE DIREITO
Banca examinadora
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BAURU
2012
Aos meus pais, que há 22 anos financiam
os meus sonhos, compartilhando deles
comigo e alimentando meus potenciais.
AGRADECIMENTOS
Art. - Artigo
BNH - Banco Nacional da Habitação
CEU - Conselho Europeu de Urbanistas
CF - Constituição Federal
CIAM - Congresso Internacional da Arquitetura Moderna
IBDU - Instituto Brasileiro de Direito Urbanístico
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas
MP - Ministério Público
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
SEPLAN/MT - Secretaria do Estado de Planejamento Urbano do Mato Grosso
SERFHAU - Serviço Federal de Habitação e Urbanismo
STF – Supremo Tribunal Federal
STJ – Superior Tribunal de Justiça
MNRU - Movimento Nacional da Reforma Urbana
PL - Projeto de Lei
RESUMO
Este trabalho versa sobre a interação entre o meio urbano, ou meio ambiente
construído, e a qualidade de vida daqueles que o habitam. Para tanto, busca dentre
os ramos jurídicos aquele que se ocupasse dessa importante reflexão, pertinente ao
Direito Público, encontrando no prematuro Direito Urbanístico. Depara com a
precípua discussão entre aqueles primeiros pensadores do tema acerca de sua
autonomia jurídica em relação aos demais ramos, tais como o Direito Civil, e
principalmente o Administrativo, assim como depara com a estreita relação que ele
possui com o Direito Constitucional, Ambiental, e com outras áreas do conhecimento
alheias à jurídica, tais como a Engenharia, Arquitetura, Economia, Sociologia,
sanitarista, etc., concluindo que até hoje, no Brasil, apesar de sua autonomia jurídica
ter sido consagrada constitucionalmente em 1988, ainda está em processo de
popularização, conforme demonstrado pela quantidade minoritária de Cursos de
Direito que o tem em sua grade curricular. Daí em diante, busca apresentar seus
conceitos, princípios, objetos e fontes, conforme doutrinadores pátrios, acentuando
sua relevância constitucional, eis que tem o condão de interferir em direitos
fundamentais do homem. Nesse contexto, descreve a necessidade de organizar o
espaço urbano, e como foram os primeiros tratamentos jurídicos da matéria no
Mundo, destaca as Cartas de Atenas e traça uma comparação entre a experiência
jurídica européia, que foi aquela percebida como a pioneira e atualmente admitida
como a mais desenvolvida, e a jovem experiência jurídica pátria. Logo após, enfatiza
o tratamento jurídico brasileiro pertinente e vigente, aponta especificamente o artigo
182 da CF/88 e a Lei no 10.257/01, o Estatuto da Cidade, que dá as diretrizes gerais
quanto ao tema, demonstra quais instrumentos jurídicos podem abstratamente ser
considerados para este desiderato. Nesta toada, ressalta o Plano Diretor como
aquele instrumento que, através de Lei Orgânica Municipal, estabelecerá as normas
específicas ao meio urbano do Município que o aprovou. Por fim, esclarece como e
por quem se dá a fiscalização do cumprimento dessas normas, destaca a
participação popular e as atribuições do Poder Executivo e Ministério Público, bem
como, cita quais as providências judiciais cabíveis, tais como a Ação Civil Pública.
Dessa forma, conclui como o Direito Urbanístico influi diretamente na dignidade da
pessoa humana, e garante diversos direitos tidos como fundamentais pelo nosso
ordenamento jurídico, objetivando sua habitação, circulação, saneamento, etc.
This paper discusses the interaction between urban environment and the quality of
life of those who inhabit it. To this end, we sought from the legal branches one that is
seeing this important discussion, pertaining to public law, finding it in the premature
Urban Law. We faced the major discussion between those early thinkers on the
subject of their legal autonomy in relation to other branches, such as the Civil Law,
and specially the Administrative, as we found the close relationship he has with the
Constitutional Law, Environmental, and other areas of knowledge outside the law,
such as Engineering, Architecture, Economics, Sociology, sanitation, etc., concluding
that even today, in Brazil, despite its legal independence constitutionally enshrined in
1988, still is in the process of popularization, as demonstrated by the number of
minority law courses that it has in its curriculum. Thereafter, we attempted to present
their concepts, principles, goals and sources, as patriotic scholars, stressing their
constitutional significance, have the power to interfere with fundamental human
rights. In this context, we describe the need to organize the urban space, and how
were the first treatments of legal matters in the world, especially the Letters of
Athens, drawing a comparison between the European legal experience, which is the
one perceived as a pioneer and currently accepted as the most developed legal
experience, and the young nation of legal experience. Soon after, we emphasize the
current Brazilian law, pointing specifically article 182 of the CF/88 and the Law no.
10.257/01, the City Statute, which gives general guidelines on the subject,
demonstrating the legal instruments that can be abstractly considered for this
intention. In this tune, it is noteworthy that the Master Plan is a tool that, through
Municipal Organic Law, will establish specific standards to the urban municipality that
approved it. Finally, it was clarified how and who enforces these standards,
emphasizing popular participation and the powers of the Executive and the
Prosecutors, as well as Public Civil Action, citing the appropriate judicial action. Thus,
it appears as the Urban Law directly affects the human dignity, guaranteeing various
rights regarded as fundamental for our legal system, aiming to housing, traffic,
sanitation, etc.
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11
4 CONCLUSÃO ............................................................................................... 58
REFERÊNCIAS ............................................................................................. 60
11
1 INTRODUÇÃO
2 PLANEJAMENTO URBANO
Ideia que é reafirmada por Lenza (2010, p. 47), quando diz expressamente
que “[...] modernamente, vem sendo dito que o direito é uno, indivisível,
indecomponível. O direito deve ser definido e estudado como um grande sistema,
em que tudo se harmoniza no conjunto.”, o que logo abaixo denomina de “princípio
da unidade do ordenamento”.
Quanto à alocação do Direito Urbanístico, Lenza (2010, p. 47), também
pronuncia-se no sentido de que, aceitando-se a classificação dicotômica, público e
privado, que atribui a Jean Domat, tal ramo jurídico encontra-se dentro do direito
público.
No entanto, para este autor, há certa reflexão a ser destacada, sendo que,
apesar da utilidade didática da divisão do direito em ramos, propõe ser mais
adequado falar-se em “escalonamento verticalizado e hierárquico das normas,
apresentando-se a Constituição como norma de validade de todo o sistema,
situação essa decorrente do princípio da unidade do ordenamento e da supremacia
da Constituição” (LENZA, 2010, p. 49).
Prosseguindo naquela linha de estudo temos que cada um desses ramos tem
suas peculiaridades, o que os torna autônomos.
14
Nesse sentido, Mello (2002, p. 36) disse que “há uma disciplina jurídica
autônoma quando corresponde a um conjunto sistematizado de princípios e normas
que lhe dão identidade, diferenciando das demais ramificações do direito".
O reconhecimento de um direito urbanístico, dentro da ciência jurídica ainda é
polemico tanto no direito pátrio quanto no estrangeiro, assim como afirma Di Sarno
(2004, p. 31):
A dificuldade de conformar o Direito Urbanístico não é um problema pátrio.
Noutros países onde tal tema sempre foi tratado enfaticamente, também se
percebeu a complexidade de elaborar instrumentos que conseguissem
conciliar vontades tão opostas: de um lado, o poder público, tentando
verificar o bem comum, coletivo e, de outro o particular sentindo-se atingido
em seus direitos e, portanto, não colaborando na perseguição das finalidade
urbanísticas. Em países federativos e de cultura latifundiária, tais problemas
se agravam imensamente, pois as instâncias públicas se dividem,
desconcentrando o poder do Estado e o proprietário é culturalmente
protegido pela sociedade.
Engenharia e Arquitetura.
As instituições de ensino não podem se furtar do tema, pois os técnicos e
profissionais carecem do conhecimento das normas vigentes para desempenhar
suas atividades com qualidade.
Podemos comprovar a afirmativa supra através do resultado de mera colheita
de dados realizada junto aos sites dos nove melhores Cursos de Direito do Brasil,
segundo o Guia do Estudante de 2011 quais sejam, alfabeticamente ordenadas,
PUC-Rio, UEL, UFP, UFRGS, UFSC, UFV, UNB, UNISINOS, USP, assim como
junto ao próprio Centro Universitário de Bauru.
Das Faculdades citadas, 3/9 (três nonos) não continham a disciplina em sua
grade curricular, 3/9 (três nonos) continham em sua grade regular, com as
denominações de “Direito Edilício”, “Direito Ambiental e Urbanístico” e “Direito
Municipal”, 2/9 (dois nonos) continham em sua grade optativa, com as
denominações de “Direito Urbanístico” e “Direito Municipal” e 1/9 (um nono) não
disponibiliza a grade em seu site.
Tal disciplina foi recentemente acrescentada à poucos cursos jurídicos do
país, como por exemplo, a USP, que oferece a disciplina “Direito Municipal”, desde
2008.
No Centro Universitário de Bauru esse ramo jurídico não faz parte da grade
curricular, não sendo oferecido nem mesmo como matéria optativa.
Ademais, o assunto não deveria se restringir aos Congressos e Academias,
mas ser alvo de discussão dos cidadãos, aqueles que diretamente sofrem os efeitos,
benefícios ou prejuízos, decorrentes do planejamento e ordenação urbana ou a falta
desses, daí decorrendo o princípio da obrigatoriedade do planejamento participativo.
Nesta toada, encarando-se o Direito Urbanístico como um ramo autônomo do
Direito, pertencente ao ramo do Direito Público, passemos a apreciar alguns
conceitos e denominações, que modificaram-se com o passar dos anos, conforme
seus objetivos foram sendo traçados, já tendo sido chamado de “direito do
urbanismo” (Georges Henri Noel, Le droit de l‟urbanisme, 1956 apud MEIRELLES,
1964, p. 28) e “direito da cidade” (AGUIAR, 1996).
Há de se destacar, antes de demais colocações, a diferença entre urbanismo
e Direito Urbanístico e entre Urbanização e Urbanificação.
Conforme Bueno (2000, p. 783), o adjetivo “urbanístico” significa “referente ao
urbanismo”, palavra derivada do latim urbs, ou urbis, que, por sua vez, significa
18
cidade.
Ensina Carmona (2010, p. 13) que “o conceito de urbanismo é, portanto,
estreitamente ligado à cidade e, mais do que isso, às necessidades do ser humano
nas cidades”.
De acordo com Mukai (1988), o urbanismo já possuiu diversas concepções. A
primeira restringia-se aos limites da cidade, conforme a obra fundamental do jurista
italiano Leopoldo Mazzaroli, I piani regulatori urbanistici, redigida em 1966. E uma
segunda, abrangendo também o campo, impulsionado pela obra Garden cities of
tomorrow, do inglês Ebenezer Howard, redigida em 1898.
A partir dessas considerações Bidagor apud Mukai (1988, p. 4), distingue um
“conceito antigo” e um “conceito moderno” de urbanismo: “[...] antigamente o
urbanismo se referia à alinhamentos, pavimentações, bancos, fontes etc., elementos
que compões ainda um capitulo importante do urbanismo, mas que hoje não
delimitam o objeto do urbanismo [...]”
Nesse sentido, Mukai (1988, p. 4) conclui:
Com a síntese daquelas duas escolas [escola racionalista ou funcional e
escola sociológica ou organicista], mais recentemente, o urbanismo passa a
ser concebido em termos funcionais e racionais, mas com uma preocupação
básica humana, visando o homem no contexto urbano e a melhoria de suas
condições de vida.
Já, Direito Urbanístico, para Mukai (1988, p. 7), também citando Fernando
Garrido Falla, las transformaciones del régimen administrativo:
Poder-se-ía-a conceituar o direito do urbanismo como aquele que se
constitui prevalentemente de normas jurídicas de complementariedade, isto
é, de normas que procuram realizar aquilo que não se realiza pelo livre jogo
das forças sociais, e em número reduzido, por normas de paralelismo, que
procuram assegurar e reforçar o que a sociedade faz (direito privado), posto
que esse direito tem como sua característica básica a circunstancia de se
constituir de normas jurídicas destinadas a compor o equilíbrio dos
interesses gerais da comunidade, com o respeito ao direito de propriedade.
Estando mais bem explicadas no art. 39, caput, da lei no 10.257/01, o Estatuto
da Cidade, e nas diretrizes das políticas públicas para organização urbana, previstas
em seu artigo 2o, respectivamente in verbis:
Art. 39. A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às
exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano
diretor, assegurando o atendimento das necessidades dos cidadãos
quanto à qualidade de vida, à justiça social e ao desenvolvimento das
o
atividades econômicas, respeitadas as diretrizes previstas no art. 2 desta
Lei.
o
Art. 2 . A política urbana tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento
das funções sociais da cidade e da propriedade urbana, mediante as
seguintes diretrizes gerais:
em seu art. 5º, XXII, a restringe a fim de que cumpra com sua função social, no
inciso XXIII, e também o inclui como princípio da ordem econômica (art. 170, III) .
Nesse sentido, falar de função social da propriedade é falar de Direito
Urbanístico, pois ele a tem como núcleo central (CARMONA, 2010), uma vez que ela
abre imensas possibilidades de uma atuação urbanística eficiente por parte do
Poder Público, de certo que a detenção da terra urbana com propósitos puramente
especulativos, não tem e não pode ter amparo legal (DALLARI apud CARMONA,
2010).
Sendo assim, através do Plano Diretor, que é o principal instrumento de
ordenação urbana a disposição do Poder Público Municipal, é que se define o que,
como, quando e onde se pode construir, delimitando, no caso em concreto, a função
social da propriedade abarcada por aquele Município.
Uma vez descumprida a função social da propriedade, assim delimitada pelo
Plano Diretor do Município em que se encontra, o seu proprietário estará sujeito a
penalidades sucessivas, conforme art. 182, §4º, da CF e arts. 5º e 6º, da Lei no
10.257/02, o Estatuto da Cidade, respectivamente dispostos abaixo:
Art. 182, §4º, CF/88. É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei
específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei
federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou
não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena,
sucessivamente, de:
I - parcelamento ou edificação compulsórios;
II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no
tempo;
III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de
emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate
de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o
valor real da indenização e os juros legais. (grifo nosso)
o
Art. 5 . Estatuto da Cidade: Lei municipal específica para área incluída
no plano diretor poderá determinar o parcelamento, a edificação ou a
utilização compulsórios do solo urbano não edificado, subutilizado ou
não utilizado, devendo fixar as condições e os prazos para implementação
da referida obrigação.
o
§ 1 Considera-se subutilizado o imóvel:
I – cujo aproveitamento seja inferior ao mínimo definido no plano diretor ou
em legislação dele decorrente;
o
§ 2 O proprietário será notificado pelo Poder Executivo municipal para o
cumprimento da obrigação, devendo a notificação ser averbada no cartório
de registro de imóveis.
o
§ 3 A notificação far-se-á:
I – por funcionário do órgão competente do Poder Público municipal, ao
proprietário do imóvel ou, no caso de este ser pessoa jurídica, a quem tenha
poderes de gerência geral ou administração;
II – por edital quando frustrada, por três vezes, a tentativa de notificação na
forma prevista pelo inciso I.
o
§ 4 Os prazos a que se refere o caput não poderão ser inferiores a:
I - um ano, a partir da notificação, para que seja protocolado o projeto no
25
Este documento estabelece, não quatro, mas dez funções sociais da cidade,
que são tratadas como conceitos, quais sejam, garantir uma cidade para todos,
promover a participação efetiva, valorizar o contato humano como forma de evitar a
erosão das estruturas sociais, garantir a continuidade das vocações da cidade,
destacar os benefícios das novas tecnologias, estimular a sustentabilidade do meio
ambiente, combinar os aspectos físicos com os sociais e econômicos, contemplar
uma gestão do trafego de forma a garantir a mobilidade e acessibilidade, promover
variedade e diversidade com o abandono das grandes zonas de uso mono
funcionais e tutelar as questões envolvendo saúde e segurança, incorporando
medidas de proteção contra as catástrofes naturais, criminalidade e conflitos sociais.
Esta nova Carta é mais adequada à geração atual e às futuras, colocando o
cidadão em destaque no momento de tomar decisões de planejamento (CARMONA,
2010, p. 21) daí decorrendo o princípio da obrigatoriedade do planejamento
participativo, que também se encontra explícito na Carta Magna, quando, em seu art.
174 enuncia que o planejamento é obrigatório para o Estado e indicativo para o setor
privado.
A finalidade do planejamento local é o adequado ordenamento do território
municipal com o objetivo de disciplinar o uso, o parcelamento e a ocupação do solo
urbano, conforme art. 30, VIII, CF, devendo este ser obrigatoriamente confeccionado
a partir da cooperação das associações representativas dos vários segmentos da
sociedade, conforme art. 29, XII, CF e art. 2º, II e 40, §4º, Estatuto da Cidade.
[...] embora os princípios do urbanismo sejam de fácil compreensão, a sua
aplicação concreta exige conhecimento técnico. Por essa razão os planos e
projetos têm que ser elaborados por profissionais qualificados.
Isto não significa que os projetos urbanísticos não devam ser amplamente
discutidos por toda a sociedade. Pelo contrario, é preciso que a legislação
garanta a possibilidade de participação da comunidade, já que é sua
qualidade de vida que será diretamente afetada.
Entretanto, não é possível uma discussão séria dos projetos urbanísticos
pela sociedade na ausência de estudos técnicos a respeito de seus
possíveis impactos. (PINTO, 1999, p. 155)
utilização de diversos instrumentos para esse fim, quais sejam, órgãos colegiados de
política urbana, debates, audiências, consultas públicas, conferências de assuntos
de interesse urbano, iniciativa de popular de projetos de lei e de planos, programas e
projetos de desenvolvimento urbano. Prevê, ainda, o art. 44, a institucionalização da
gestão orçamentária participativa, com a realização de debates, audiências e
consultas públicas sobre as propostas do plano plurianual, da lei de diretrizes
orçamentárias e do orçamento anual, como condição obrigatória para sua aprovação
pela Câmara Municipal.
Outro importante princípio do urbanismo é o da justa distribuição dos
benefícios e dos ônus decorrentes do processo de urbanização, que também está
presente no Estatuto da Cidade, onde “busca-se a garantia de que todos os
cidadãos tenham acesso aos serviços, aos equipamentos urbanos e a toda e
qualquer melhoria realizada pelo poder público” (MARINS, 2009, p. 5).
Em geral, como se verifica em mera observação pela cidade, o “homem
médio” percebe que as áreas que precisam ser equilibradas são locais onde já não
se realizavam investimentos, coincidindo com os setores urbanos ocupados pela
população pobre, que permanecem, muitas vezes, “abandonadas” pelo poder
público. Conforme dados do IBGE abaixo:
Desta feita, Silva (2008, p. 63) afirmou que coesão dinâmica designa uma
particularidade do Direito Urbanístico, de onde “denota-se que sua eficácia somente,
ou especialmente, decorre de grupos complexos e coerentes de normas e tem seu
sentido transformacionista da realidade”.
Por fim, o princípio da subsidiariedade “completa a ideia de que o urbanismo
é uma função pública e importa na abstenção da intervenção estatal” (CARMONA,
2010, p. 47):
A iniciativa privada é suficiente para atender adequadamente as
necessidades públicas, observando a proporcionalidade dessa intervenção,
principalmente quando o particular toma a iniciativa de propor ao Poder
Público ações urbanísticas a assume a responsabilização pelos custos da
operação, de acordo com os parâmetros legais.
29
das ruas, cais e praças, os cuidados com o meio ambiente urbano, como
estabelecimento de cemitérios fora dos recintos dos templos e esgotamento de
pântanos, as vozerias nas ruas em horas de silêncio (poluição sonora), o tratamento
das edificações em ruínas etc.
Silva (2000, p. 53) explica que “foi, porém, através das leis de desapropriação
que se delinearam as primeiras normas jurídicas urbanísticas, como, aliás,
aconteceu na generalidade dos países”, destacando-se as leis de 1826 e 1855 que
estabeleceram as bases para as disciplinas da utilidade pública, no qual se
fundamentava as desapropriações.
Da 1ª Constituição da República, em 1891, até a Emenda Constitucional nº
01/69 destaca-se o Plano Nacional de Viação Férrea e de Estradas de Rodagem, e
diversas tentativas de reverter o quadro de “precariedade urbana generalizada” que
se instalou devido a evolução da urbanização, tais como as arroladas por Dantas
(2012, p. 5):
[...] dos anos trinta em diante (Rio de Janeiro – com o primeiro Plano Diretor
do Brasil, o Plano do notório arquiteto francês Alfred Donat Hubert Agache:
1930; Salvador – com a Semana de Urbanismo de 35 e o Escritório do
Plano de Urbanismo da Cidade do Salvador – EPUCS, sob a liderança do
engenheiro baiano Mário Leal Ferreira, instalado em 1943; e São Paulo –
com as administrações Anhaia Mello e Prestes Maia (membros da
sociedade Amigos da Cidade), nas década de 30 e 40; finalizando com a
utopia modernista concretizada com a construção de Brasília, por obra de
Oscar Niemeyer e Lúcio Costa, no governo de Juscelino Kubistchek, nas
décadas de 50 e 60).
Resta claro que os fenômenos sociais têm reflexos espaciais, portanto são
carentes de planejamento e organização, para que não se aprofunde cada vez mais
a segregação periférica em relação aos centros, a falta de qualidade de vida da
população e a prestação de serviço público insuficiente ou inadequada.
[...] amadureceu no Brasil, nas últimas décadas, uma visão específica no
campo do urbanismo e do direito urbanístico, que vem propondo soluções
jurídicas inovadoras, e refletindo profundamente sobre os papéis que o
direito desempenha em sua interface com os processos de urbanização
(CYMBALISTA apud FERNANDES, 1998, p.67)
Assim como explica Araujo e Nunes (2008, p. 271) por reunir em seu interior
quatro entidades federativas dotadas de autonomia surge, no federalismo, questão
concernente ao seu equacionamento. Dessa forma, a CF/88 opta por um sistema
complexo de definição de competência, que em matéria de planejamento urbano se
apresenta da seguinte forma.
Quanto à União, competem-lhe, privativamente, elaborar e executar planos
nacionais e regionais de ordenação do território (art. 21, IX), instituir diretrizes para o
desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes
urbanos (art. 21, XX) e legislar sobre desapropriações (art. 22, II), além das
competências comum e concorrente abaixo discriminadas.
Quanto aos Estados Federados, competem-lhes instituir, mediante lei
complementar, regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões,
constituídas por agrupamentos de Municípios limítrofes, para integrar a organização,
o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum (25, §3º),
fenômeno conhecido como conurbação (DECICINO, 2009).
Quanto aos Municípios competem-lhes legislar sobre assuntos de interesse local
(art. 30, I), suplementar a legislação federal e a estadual no que couber (art. 30, II),
criar, organizar e suprimir distritos, observada a legislação estadual, organizar e
prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos
de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial (art.
30, IV e V), promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante
planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano (art.
30, VIII), além de ser o responsável pela elaboração do Plano Diretor de
37
Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e
cinqüenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o
domínio, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
Dessa forma, Mattoso (2005, p. 15) também opina que “sem dúvida, estamos
diante de uma lei admiravelmente progressista, inovadora, com vocação
democrática, autenticamente voltada para a construção de cidades, onde será
sempre preservado o bem-estar coletivo da população”.
O Estatuto abarca um conjunto de princípios – no qual está expressa uma
concepção de cidade e de planejamento e gestão urbanos – e uma série de
instrumentos que, como a própria denominação define, são meios para
atingir as finalidades desejadas. Entretanto, delega – como não podia deixar
de ser – para cada um dos municípios, a partir de um processo público e
democrático, a explicitação clara dessa finalidades. Nesse sentido, o
Estatuto funciona como uma espécie de “caixa de ferramentas” para uma
política urbana local. (ESTATUTO DA CIDADE: GUIA PARA
IMPLEMENTAÇÃO PELOS MUNICÍPIOS E CIDADÃOS, 2005, p. 21).
2.4.2.1 Conceito
Fig. 06 – Cartografia do Município de Bauru conforme seu plano diretor, lei orgânica 5.631 de
22 de agosto de 2008. Mapa 07: zona especial de interesse social - ZEIS.
Art. 42-A. Além do conteúdo previsto no art. 42, o plano diretor dos
Municípios incluídos no cadastro nacional de municípios com áreas
suscetíveis à ocorrência de deslizamentos de grande impacto, inundações
bruscas ou processos geológicos ou hidrológicos correlatos deverá conter:
I - parâmetros de parcelamento, uso e ocupação do solo, de modo a
promover a diversidade de usos e a contribuir para a geração de emprego e
renda;
II - mapeamento contendo as áreas suscetíveis à ocorrência de
deslizamentos de grande impacto, inundações bruscas ou processos
geológicos ou hidrológicos correlatos;
III - planejamento de ações de intervenção preventiva e realocação de
população de áreas de risco de desastre;
IV - medidas de drenagem urbana necessárias à prevenção e à mitigação
de impactos de desastres; e
V - diretrizes para a regularização fundiária de assentamentos urbanos
o
irregulares, se houver, observadas a Lei n 11.977, de 7 de julho de 2009, e
demais normas federais e estaduais pertinentes, e previsão de áreas para
habitação de interesse social por meio da demarcação de zonas especiais
de interesse social e de outros instrumentos de política urbana, onde o uso
habitacional for permitido.
o
§ 1 A identificação e o mapeamento de áreas de risco levarão em conta as
cartas geotécnicas.
o
§ 2 O conteúdo do plano diretor deverá ser compatível com as disposições
insertas nos planos de recursos hídricos, formulados consoante a Lei
o
n 9.433, de 8 de janeiro de 1997.
o
§ 3 Os Municípios adequarão o plano diretor às disposições deste artigo,
por ocasião de sua revisão, observados os prazos legais.
o
§ 4 Os Municípios enquadrados no inciso VI do art. 41 desta Lei e que não
tenham plano diretor aprovado terão o prazo de 5 (cinco) anos para o seu
encaminhamento para aprovação pela Câmara Municipal.
2.4.2.2 Procedimento
o
§ 1 No caso da realização de empreendimentos ou atividades enquadrados
no inciso V do caput, os recursos técnicos e financeiros para a elaboração
do plano diretor estarão inseridos entre as medidas de compensação
adotadas.
o
§ 2 No caso de cidades com mais de quinhentos mil habitantes, deverá
ser elaborado um plano de transporte urbano integrado, compatível com
o plano diretor ou nele inserido.
(grifo nosso)
Dessa forma, o Plano Diretor está representado por meio de lei orgânica
municipal, devendo ser aprovado pela Câmara Municipal nos termos do art. 29,
CF/88 e 40, Estatuto da Cidade, respectivamente:
O Município reger-se-á por lei orgânica, votada em dois turnos, com o
interstício mínimo de dez dias, e aprovada por dois terços dos membros
da Câmara Municipal, que a promulgará, atendidos os princípios
estabelecidos nesta Constituição, na Constituição do respectivo Estado e os
seguintes preceitos: [...]
2.4.2.3 Execução
Pinto (2011, p. 104) observa que “de modo geral, esses planos não têm tido
grande influencia sobre o quotidiano da política urbana, que continua sendo
realizada sem planejamento”.
Fonte: QUINO. Toda Mafalda: da primeira à última. São Paulo: Martins Fontes, 2006, p.219
Ementa
PROCESSUAL CIVIL, ADMINISTRATIVO, AMBIENTAL E URBANÍSTICO.
LOTEAMENTO CITY LAPA. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AÇÃO DE
NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA. RESTRIÇÕES URBANÍSTICO-
AMBIENTAIS CONVENCIONAIS ESTABELECIDAS PELO LOTEADOR.
ESTIPULAÇÃO CONTRATUAL EM FAVOR DE TERCEIRO, DE
NATUREZA PROPTER REM. DESCUMPRIMENTO. PRÉDIO DE NOVE
51
l - ao meio-ambiente;
ll - ao consumidor;
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico;
IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo.
V - por infração da ordem econômica;
VI - à ordem urbanística. (grifo nosso)
3 DIREITOS FUNDAMENTAIS
Araujo e Nunes (2008, p. 118) e Lenza (2010, p. 742) afirmam que, por serem
uma categoria jurídica, denominar um direito como fundamental traz consigo um rol
de características, forjando um traço unificador entre eles. São 6 as suas
características intrínsecas, historicidade, autogeneratividade, universalidade,
limitabilidade, irrenunciabilidade e concorrência.
Ainda, Araujo e Nunes (2008, p. 126) também ensinam que o regime jurídico
peculiar de proteção que a CF/88 confere a esses direitos os distingue de quaisquer
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Assim como ensinado por Lenza (2010, p. 739), o Supremo Tribunal Federal
(STF) corroborou com a doutrina mais atualizada, onde os direitos e deveres
individuais e coletivos não se restringem ao art. 5 o da CF/88, podendo ser
encontrados ao longo do texto constitucional, expressos ou decorrentes do regime e
dos princípios adotados por ela, ou, ainda, decorrentes dos tratados e convenções
internacionais de que o Brasil seja parte, conforme art. 5o, §2o, CF/88:
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos
desta Constituição;
II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei; [...]
XXII - é garantido o direito de propriedade;
XXIII - a propriedade atenderá a sua função social;
XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante
justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos
nesta Constituição; [...]
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que
vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o
Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-
fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; [...]
então, Ação Popular em caso de lesividade ao meio urbano, eis que, seu conceito
também foi englobado pelo conceito de meio ambiente.
No entanto, o Direito Urbanístico não se limita aos direitos fundamentais tidos
como individuais e coletivos, podendo também ser encontrado no rol dos chamados
direitos sociais, nos termos do art. 6o da CF/88.
Conforme Lenza (2010, p. 838) o capítulo quanto aos direitos sociais “trata-se
de desdobramento da perspectiva de um Estado Social de Direito [...]”, dessa forma,
estes Direitos Sociais são tidos como de 2a geração/dimensão, tendentes a
“concretizar a perspectiva de uma isonomia substancial e social na busca de
melhores e adequadas condições de vida, estando, ainda, consagrados como
fundamentos da República Federativa do Brasil (art. 1o, IV, da CF/88)”.
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.
4 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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de Direito Constitucional. 12. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008.
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jul. 2001. Disponível em:
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