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\FRANIO COUTINHO Direcao EDUARDO DE FARIA COUTINHO Co-diregao LITERATURA NO BRASIL VOLUME 6 PARTE III / RELACGOES E PERSPECTIVAS CONCLUSAO Biobibliografia dos colaboradores Indice de nomes, titulos e assuntos _O quadro atual i Sie; ‘ Daib-ee ae sa brasileira Para alguns parece tumultuado. i Se nstatar que nao € verdade. Apés os poetas que se fa Beracdo de 45”, a poesia brasileira 4 tomou rumos ntes ¢ def inidos. O home que serviria de elo, para ligar o passado Be Hovas experiéncias, € o de Jodo Cabral de Melo Neto on vi maior. De fato, a Vanguarda poética brasileira parte de Joao Cabral 10 a referéncia mais positiva de uma “tradicéo”’ poética do ‘fazer no- Bs Assim, Joao Cabral de Melo Neto estaria ligado ao ano de 1956 — ano amento da Poesia Concreta — como um, © que Os poetas concretos foram m assinalar a presenga dos grandes Poetas inventores, que formariam Jastro cultural, um paideuma, onde eles poderiam assentar, mais amente em casa, as suas teorias. E se lembraram de Murilo Mendes ald de Andrade, e “‘desenterraram’”’ Sousandrade. Mas antes do irrompimento da Poesia Concreta, alguns poetas jovens, § poetas — que nao aderiram ao movimento mas se beneficiaram dele @ ndo estavam mais ligados a 45 e faziam uma poesia de interesse for- na linha dos imagistas Pound, Eliot e outros. Estes jovens, que conti- hoje impassiveis em sua linha criadora, sem ser perturbados pelas ntes mais experimentais, devem ser citados aqui, pois sua obra me- certo destaque. Sao eles: Walmir Ayala, Lélia Coelho Frota, Foed tro Chamma, o falecido Mario Faustino e Marli de Oliveira. c ia espécie de precursor. ais ao passado da poesia brasileira, ‘Lélia Coelho Frota: Quinze poemas (s.4.), Alados idilios (1958), Caprichoso desacerto Marli de Oliveira: Cerco da primavera (1957), Explicagdo de Narciso (1960), A suave era (1962), A vida natural | O sangue na veia oe aS fo ane ee e sua a (1955) (Reedicao postuma com poemas recolhidos, 1966); Walmir Ayala: Face dispersa : cure morte 1957), 0 edifcio eo verbo (1961), Cantata (1966), Foed Castro 0 poder da palavra (1959), Labirinto (1967); Décio Pignataris O carrossel (1950), em Noigandres (1952/1956), em Invencao (1962/1967), Informacdo, linguayem, acio (1968); Haroldo de Campos: O auto do possesso (199), tabalbos em Noigan- (1952/1956), em Invencdo (1962/1967), Revisdo de Sousdndrande, de parceria ree u- sto de Campos (1964), Panorama do Finnegans Wake, eens ca ee : oe ; Campos: O rei menos o reino (1951), trabalh Noigandres 21880 Poivenste (1962/1967), Balanco da bossa (1968); Vlademir Dias Pino: Os or (1954), maquina (1955), A ave (1956), Poema espacional (1987), Solida (962), Jose Grunewald: Um e dois (1958), trabalhos em Invencao (1962/1967), Ferreira Gullar: Um 0 acima do chao (1949), A luta corporal (1954), Poemas she atte onto eto Jodo BousMorte, cabra marcado pra morrer (1962) Mario Chamie: Expaco inaugural 5), O lugar (1957), Os rodizios ae aan one sp ve eee i justi 5 ie a (1963); Armando Freitas Filho: Palavra (1963); Dual ‘Anténio Carlos Cabral: Diadidrio cotidiano (1964), Texto praxis (1967); Camargo er: Cartilha (1964). 287 POESIA CONCRETA Com o langamento da Poesia Concreta, em 1956, o nome de alguns poetas, que estrearam com bons livros filiados 4 corrente dos imagistas, vieram a tona, como Décio Pignatari, Haroldo de Campos, Augusto de Campos e Ferreira Gullar. Este ultimo, com seu livro A luta corporal (1954), fazia algumas experiéncias mais radicais ¢ que se identificariam com 0 movimento de Poesia Concreta que se esbogava. Alguns novos po- etas, inconformados ja dentro de suas experiéncias isoladas, aderiram ao movimento, como Reinaldo Jardim, Ronaldo Azeredo ¢ José Lino Grune- wald. Reinaldo Jardim e Ferreira Gullar encabegariam, posteriormente, um grupo dissidente, 0 Neoconcretismo, por razdes de ordem estética, por nao se conformarem com o pragmatismo da poesia concreta, diziam cles. Em abril de 1957, dois meses antes da cisao publica do movimento, Haroldo de Campos escrevia: A fungao da poesia concreta nfio € — como se poderia imagi- nar — desprover a palayra de sua carga de contetidos: mas sim utilizar essa carga como material de trabalho em pé de igualdade com os demais materiais a seu dispor. O elemento palavra € empregado na sua integridade ¢ nao mutilado atra- vés de uma unilateral redugdo a musica descritiva (letrismo) ou a pictografia decorativa (caligrama ou qualquer outro ar: ranjo grifico-hedonista). O simples fato de langar sobre um papel a palavra terra pode conotar toda uma gedrgica. O que um leitor de um poema concreto precisa saber € que uma dada conotagao ¢ licita (como até certo ponto inevitavel) num plano exclusivamente material, na medida que ela reforme & corrobore os demais elementos manipulados; na medida em que ela participe, com seus efeitos peculiares — uma relacao de sentidos qualitativa e quantitativamente determinada — na estrutura-contetido que é 0 poema. Qualquer outra “démar rage catartica”’, qualquer outro desvio subjetivista, é alheio a0 poema e corre por conta da tendéncia 4 nomenclatura — a troca de objetos artisticos por vagas etiquetas nominativas (Suplemento Dominical do JB, 28/4/57). No seu manifesto de cisio do movimento, os poetas residentes no Rio, Ferreira Gullar, Reinaldo Jardim e o critico Oliveira Bastos, disseram A poesia concreta, tal como a concebemos e a defendemos, nao € superior nem mais eficiente meio de expresso que 2s formas poéticas que a precederam: talvez mesmo seja, nesta fase de formagao, menos rica e satisfatéria que o verso me- dido € 0 verso livre em seus methores momentos. Essas ¢s- tratégias verbais dio testemunho dos interesses de um tempo 258 8 Passaram a publicar suas nova : ‘ ; f ‘as expe- em O Correio Paulistano, sob o titulo geral de Invengao. Blasio ay oa. © Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, porque ) “*vendia’ antincios, foi extinto pela direcao da empresa. Os poetas do Rio se dispersaram, continuando Ferreira Gullar ¢ Reinaldo im a fazer uma poesia tradicional, comprometida politicamente, Gullar da “cantiga”’ de feira popular nordestina a um longo poema sobre a a do Vietna. Jardim retine alguns poemas liricos anteriores a fase ncreta ¢ os publica em livro, Joana em flor. 0 grupo de Sao Paulo continuava coerente com a vanguarda e a expe- cia nova. Em 1962, a pagina de O Correio Paulistano se transforma na ta Invencdo. No niimero 2 da revista, os poetas concretos dariam, 0 eles mesmos intitularam, 0 “pulo da onga’’, “intentando uma poesia € conteudisticamente reyolucionaria”. E veio um poema de Décio ari sobre Cuba. Novos poetas concretos foram incorporados ao gru- Edgar Braga e Pedro Xisto, os melhores. Nesta altura do segundo nii- 9 de Invencdo, em 1962, os poetas concretos trazem a si o grupo mi- 9 de Tendéncia que, segundo eles, “vem procurando inserir sua rei- por uma literatura nacional na linha das pesquisas de van- No nimero 3 de Invencdo (1963), os poetas repudiam nao so 0 mundo “promocdo-de-vendas’” do capitalismo, como o “mercado oficial do ideolégico” ara uma poes internacional”, para © ideolégico’’, e partem para uma poesia, ue ‘ poesia de equipe. Os poemas continuam na rea da palavra, mas a dos nimeros 4 ¢ 5 de Invencao (1964 € 1967, respectivamente), ou- recursos graficos comecaram a ser usados, como desenhos, grificos e em ee joataeem Esta ‘fuga’ do sistema lingiiistico iria caracte- Fizar0 Giltimo movimento (1967) poético brasileiro, o do Poema.Processo : éti Is S a al "Ao final desta apreciacdo sintética da Poesia tery cae a a nalar a sua importancia também no exterior, pois OS P* 259 seu movimento € Fas. Inven- 0 en, € a mais ido 0 ciclo hists- 2, para restabelecer da poesia tradicio- no naquilo em que o a a objetividade atra- lider do grupo, a e monta, esteti- s de acdo: a) 0 ato ; €) 0 ato de consu- oe rizagao do exterior ¢ a € mais importante do que o as se realizar no “‘es- Mo “-espaco em preto”’, se- imie € exatamente 0 que traz 0 yaa das teorias praxistas, s poetas que surgiram e se filiaram a Tone Giannetti Fonseca, Armando Camargo Meyer. O poeta veterano, o re € nova em relacao a tudo ni chesa ase constituir’ em eet ir Dias Pino vei io de movime i ‘ nt 4 oes: ee varcey e © anterior & Poesia Concreta, se ais visual do que ee oe Proprias experiéncias, ja num BG). Abscdoroan a seria a linha do grupo que iria te- ‘SSO nao andaram realmente identi- Fa, izacio de seus poetas Vlademir Dias Pino, M ea » Moaci Cirne, Sanderson Ne; me greiros e Sparentemente se insurgem contra todas as correntes posti- riores, mas quer queiram ou nao os seus idealizadoi res, 0 poema- stinguir, anto, 08 alvos propostos pelos dois lentos — sem diivida alguma importantes para a literatura brasileira. | ideal da poesia concreta é a Forma — um conjunto de relac ttura — este mesmo conjunto de relagdes e tensdes do objeto artistico, iS CUija Organiza¢do ou procura de unidade nao interessa ao poeta. O que @ interessa € manter esta estrutura em constante processo, ou seja, em ante relacionamento de suas partes, para que 0 objeto artistico seja jostrado “por dentro”, em seu processo. Como toda forma “encerra”” ma estrutura dindmica e tensa, 0 que os poetas de processo querem é nao ir nunca esta forma, mas apenas criar estruturas que se relacionem, ma espécie de ““objetos em série”, como se saissem de uma maquina. Eles querem a “‘visualizacao da funcionalidade”’ do processo criador, espécie de experiencia nuclear, onde o atomo é desfeito em sua estru- , advindo a explosao e a formacao de novas estruturas. 0 movimento quer popular — e foi langado nas ruas com aparato promocional — mas 10 parece que 0 acesso a sua comunicacdo e compreensio seja facil, “como ja acontecera com a poesia concreta. ee | 0s movimentos de vanguarda, nesta “crise da velocidade” dos meios “comunicacao, procuram a massa, 0 popular, mas sem deixar de lado leorias"* e “intelectualismos” que podem confundir esta mesma gabe ‘exemplo: a substituicéo de Forma por Processo, aa te que entendem por Estrutura, a mistura entre Forma e acne ete, ice Estamos em pleno reino da especulacdo estética, ¢ a “popularizac: i 5 ae da pelos “'significados” do poema, no caso, como Rippers s08¢ PP é hoje acontece com outras artes, a onteceu com a poesia concreta € até hoje ean n idéia central do poema-processo é “con per exemplo. Se a i * +, mexendo em seus objetos, um maior niimero, fazer 0 “poo” participar, 261 ele proprio construindo novas estruturas — como Ligia Clark ja 0 fez ¢ outros — esta participacdo é apenas de epiderme, imediatista, como quem Jé um livro apenas interessado em sua trama. Se 0 poema-processo almeja o “consumo” da massa, quer se integrar na corrida industrial de producdo e consumo em série, seria melhor abolir @s teorias, as explicagdes ‘‘estéticas”’ e partir diretamente para a Propa- ganda, onde o apelo dos significados nao tem mistério. Moaci Cirne, em depoimento, diz que “a poesia sempre esteve mais proxima das artes plas- ticas do que da literatura’. E cita Hegel, Pound e Sartre. O certo € que Plato, ao classificar as artes, inclui a poesia entre as artes plasticas. Mas Hegel disse, como um profeta, que com o adyento da industrializagao nao seria mais necessario a arte, pois a industria supriria 0 ideal do homem de eriar, de construir. Talvez a criagéo de uma arte paralela a criagao indus- trial seja o caminho certo hoje. Quem sabe? Os poetas deste movimento editam a revista Ponto, j4 em seu segundo miimero, com poemas e teorias, e j4 receberam a adesao de poetas de ou- tros estados. Sem divida alguma, entre o romance, a poesia e 0 conto bra- sileiros, € a poesia que esta mais em efervescéncia e seus postulados mais em discussao, 0 que sem diivida é benéfico para a nova literatura nacional Il. O Conto* Quando Samuel Rawet lancou seu livro de contos em 1956, a critica andou meio desarvorada em relagao a ele, como ja andara em relacao ao Grande sertao: veredas, de Guimaraes Rosa. E que a critica nao via, em Contos do imigrante, as costumeiras indicagées do fazer tradicional, que tinha caracterizado o género até entao no pais. Samuel Rawet quebrava a tradigao machadiana entre nés — embora Machado de Assis tenha um trunfo “‘moderno” a seu favor: foi o inventor do conto de flagrante, que Tchecov exploraria paralelamente ao escritor brasileiro — acabou com 0 Prosaismo narrativo e deu aos personagens uma autonomia maior como criagées. Seus livros posteriores, Didlogo (1963) e Os sete sonhos (1967) * Ea seguinte a bibliografia dos contistas referidos nesta segio Samuel Rawet: Contos do imigrante (1956), Didlogo (1963), Abama (1964), Os sete so nhos (1967), Dalton Trevisan: Novelas nada exemplares (1958), A velha querida (1959), Mi nha cidade (1960), Cemitério de elefantes (1962) (Reedigo 1964), O vampiro de Curitiba (1964) (Reedicao 1965), Morte na praca (s.d.), Desastres de amor (1968); José J. Veiga: Os cavalinhos de Platiplanto (1959), A hora dos ruminantes (1966), A maquina extraviada (1968); José Louzeiro: Depois da Iuta (1938), Acusado de homicidio (1960), Judas arrepen dido (1968); Jorge Medauar: Agua preta (1958), A procissao ¢ os porcos (1960), Historias de menino (1961), O incéndio (1963); Rubem Fonseca: Os prisioneiros (1963), A coleira do cao (1965); José Edson Gomes: As sementes de Deus (1965), Os ossos rotulados (1966), 0 0¥0 no teto (1967); Maura Lopes Cancado: Hospicio é Deus (1965), O sofredor do ver (1968); Luis Vilela: Tremor de terra (1967) (Reedigao 1968). 262

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