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sna coo.ne.7 COLECAO IDEIAS EM ACA Ensino de Historia Katia Maria Abud André Chaves de Melo Silva Ronaldo Cardoso Alves Coordenadora da Colegio Anna Maria Pessoa de Carvalho = CENGAGE Learning” ngapura ~ Espanna ~ Reino Uni ~ Estados Unidos ‘Ausrlia» Brasil = Japio ~ Coeela Mésico » CAPITULO 8 Espacos da Histé Questées para reflexso Para introduzir as questies que discutiremos ) pro: pomosa leitura do irecho de um dos contos que narram as aventuras do garoto Nicolau. (0) Nés entiainos no museu em fila, bern comportados, porque a gente gosta da nossa professora e nds percebemos que ela parecia muito nervosa, como a mame, quando 0 papal deixa cair cinza do Cigarto dele no tapete. Entramos numa sala grande com um ron to de quadios pendurados na parede. Aqui voces vo ver quadros executados pelos grandes mestres da escola flamenga’ a professora explicou. Ela ndo pode continuar por muito tempo, porque um guar da chegou correndo e aritando, porque o Alceutinha passado o dedo ‘num quadro para verse a tinta ainda estava fresca... A professora dis- Maria de Oliveira Ribeito, anda pela Faculdade de Educacio da Universidade de $3 (Feusp E 126 node se pata o Alceu ficar calmo e prometeu para o guarca que ia tomar bem conta da gente... Enquanto a professora continuava ex nds comecamos a brincar de escorregar; era legal parque © de ladilno e escorregava bem. Todo mundo estava brincando, menos 2 professors, que estava de costas para nds, explicando um quadro, & © Agnaldo que estava ao lado dela escutando e tomendo nota. 0 A ccou também nao estava brincando. Ele estava parado na frente de urn uadrinho que tinha peixes bifes e uma porcao de futas... Depois de eescorregarnés comegarnos uma partida de pula-sela, mas ai a gente teve que pater Fert: GOScINNY, Ser museu de peta Ir: paguano Necau Si au Para os estudantes, £ uma opor tar um museu tem muitos significados. rente, coisas “antiga”, um to, novas pessoas. F para 05 educadores, qual o signific Por que levam seus alunos a esses espacos? O que esperam que seus alunos aprendam? Se vocé jé acompan em visita a um museu, deve lembrar que esses alunos, possivi mente, eram muito parecidos com © pequeno Nicolau. Fica ravilhtados com o espaco, coma monumentalidade do museu (muitos deles moram em casas ou! apartamentos pequenos), com os objetos diferentes”, com as “cenas hist6ricas”. Contudo, seré que visitar um muscu vale somente pelo encantamento, pela surpresa com o dife- rente? Talvez, No entanto, para nds, educadores, a questéo maior diz respeito as contribuigdes que um museu de Hi para 0 ensino da disciplina de Histéria. Entendemos que seja perti- hente refletir sobre 0 “fendmeno” que é a visita de estudantes aos muscus de Histéria, pois, se vale a pena “ver coisas raras, antigas € das visitas aos museus? um grupo de criangas ¢ adolescent (ria pode oferecer Espagos de Histéia:ensino e museus belas", mais interessante ainda é compreender a produgio desse ma- terial e como chegou até nossos dias. © museu € um espago complexo, no qual convergem diferentes dimensdes € processos da produgao do conhe: quisa, guarda, conservagao ¢ comunicacio. & uma instituicio pe fe, sem finalidade lucrativa, a servigo da sociedade e de si desenvolvimento, Como espago de produgéo de conhecimentos aberto ao priblico, sua fungio é adquirir, conservar, pesquisar, co jais do homem e de seu ambiente para mento: coleta, pes- museus, em especial os de Historia, sdo socialmente considerando-se apenas uma de suas dimensées: a de guarda de o! jetos antigos. Expressdes cotidianas, como “Isso é pega de museu” 0 “Aqui esté parecendo para o entendi em que se guar circulagao e subs do ao aspecto tecnoldgico. Essa visdo, comum entre criangas, jovens ¢ adultos dos dil rentes grupos socioecondmicos, passado, da memséria € da Historia como sindnimos de “antiguidade”, algo distante no “tempo-espaco”, com poucas relacdes com o presente € quase nenhuma relagio com o futuro, Essa representagao indica a existéncia de uma “consciéncia histérica” em que, aparentemente, nao ha conexdes e1 lades, o passado & com preendido considerand. de objetos € conhecimentos. Ensinar Histéria com base no que uma oferece & sociedade comega com o reconhecimento dessas represen- fo € um espago “embolo- tiveis", que foram tirados de € mais eficientes em rela ra tuidos i jostra representacoes it, da carén tituigao museolégica 2 Adaptagio do artigo 6 dos Estatutos do Comité Nacional Br de Museus (ICOM). Rio de Janeiro, [54 ito do Cons Colocao Idelas em Ago | & a tages acerca dos museus, da meméria e da Histéria. Reconhece 0 hecer, auestionar ¢ reconstruir signifcados e representagdes do senso tum sao procedimentos pedagégicos coerentes com os objetivos ¢ sha mi (0s no ambito da teoria € da metodologia a la n ino de Historia Com relagio a finalidades, proceso de aprendiza; ‘gens significativas para 0 desenvolvimen oF parte de criangas e jovens. Assi balho pedag metas, objetivos e procedimentos do \)a-se propiciar aprendiza. do pensamento histérico ® aie enolvemineus& guten eine nn am como base a pe ‘do cone deseny 8 pessoas do passado; do estudo dad ida coletiva, das permanéncias e ‘ca de diferentes narrativas e visdes sobre os fatos, nena i occa a i mr coma ag seman ocr. es a aprendi hi @ consciéncia Drofessor deve se preparar ao plancjat racdo dos objetos musealizados? Quais Oui cles tet! SF Feconstrukdos em um museu de Histéria? clk Gs @ cultura material propieia a prética cotidians 'a? Que atividades podem ser desenvolvidas antes da visita a um muset '4 exposicao de Histéria, durante e ap ‘useUi ou a uma exposigo de Hi i ia, 1s wt rn oe ws te i igi eg 'al ¢ para a aprendizagem de Histéria, tratara das especificidades dos n de Cie ist6ricos” ou de Historia, e refletiré an construgdo deste capitulo « 4 sobre as relacSes entre museus 28 Eepagos da Hiséra:ensino e muscus € educagio, bem como sobre as possibilidades ¢ limites desse espago para o ensino de Hist6ria; por fim, apresentaremos sugestdes ¢ indi- cagdes didaticas e jograficas. Teoria e aspectos metodologicos Colecionar objetos € uma agdo to antiga quanto a propria humani- dade. As descobertas arqueolégicas nos mostram essa antiguidade a0 revelarem que os homens tém, ao longo da histéria, criado suas cole- Ges por motivos diversos: meméria, ludicidade, prazer € poder. Assim, diferentes significados tém sido atribufdos as colegies, de acordo com 0 contexto no qual foram criadas, com as necessidades que buscaram atender € com os objetivos que intentaram atingir. smo afirmam que as diversas moti- -m comum a necessi- s pesquisadores do colei vagies, formas ¢ objetivos das colegies tet dade humana de coletar € guardar “coisas”, imagens e objetos que servem a um processo de reorganizagio de pedagos de um mundo cer, fragmentos do que se quer tomar parte 01 -86). Assim, cole- que se deseja con entao, que se 4 cionar representa organizar 0 cotidiano, categorizar objetos, of © caos da realidade e reescrever a histéria do grupo ou da sociedade que a formou e, de igual modo, daqueles que coletaram e transfor- maram 0 conjunto de objetos em colegio’. Ao guardar um objeto, os individuos buscam também evocar algo perdido. 0 objeto faz 0 con- tato com o invisivel, cria um elo entre o presente ¢ um acontecimento, Por exemplo, ao fazermos uma viagem, te da passagem, compramos uma “lem sitamos ou registramos tudo em fotogra- 1ossas, er dominar (Pomian, 1985, p. uma experiéncia marcant por que guardamos o bi brancinha” da cidade que fias? Porque queremos que esses “objetos” fagam parte de Colecso teins em Reso |7UL2S Espagas da Histéra: ensino © museus “colesies pessoais” © sirv Provar qué estivemos naquele focal em q em Delfos, geralmente capelas devocionais em agradecimento a vi- numa batalha ou guerra. Aos objets € monumentos em Delfos atributa-se veneragio, gracas recebidas, oferendas e artefatos de de- vogio. Em Delfos, havia, ainda, teatro para representagoes p dicas © praca de competigées esportivas. A unido de diferentes elementos culturais das cidades mediterrineas em Delfos produzi 0 ue chamamos de “unidade grega”. A {ruicdo desse conjunto era se te sacerdotes, guer- 80 a0s templos € as col tas ¢ a contemplacao, Anualmente, reis, farads e nperadoresformavam coe OS € objetos extrao ae narios que mostravam sua gloria em ibolos de poder e pre rviam como “reserva de re tu SOS” para os pe- A, pois apenas alguimas pessoas ~ geralme iodo cujas origens remon- ~alaliai 3 islmente consagrados is co ‘iedades. Tais colegies Cer spade, de ooonda em apaecinens ge Vocavam os momentos das batalhas, semos, da mesma forma q é € as colegGes, os m longo do tempo diferentes caracte néncias em algumas de do retine pegas retiradas de ruinas ~ colunas, relevos, i gens € objetos. Essas pecas nao foram restauradas, mostrar as faltas, os embates ¢ c: nos, além da aco do tempo sobre os monumentos, A Acrépole grega constituia-se de duas reas principais, as quais a populagao tinha acesso livre. O propileu era a rea em que se co locava a opera prima ~ as primeiras (e melhores) obras eram ¢: postas na entrada do templo, a fim de garantic sua contemplaga iselyShilgoarn Fone 8 forma e as eta um espago democrético que todos, incluindo as mulheres, po- hesaurus, a Acripote diam visitar (0 restante do te cerdotes). Do propileu avistava-se 0 Paiernon e demais templos di cidade. A esquerda da entrada da Acrépole ficava a Pinakotheke acontecimentos notdveis encomendadas pelos sacer- is 0 obj acrescidas outras, de acordo com a necessidade de grega, tres des deram ori lo estava restrito aos cidadaos ¢ sa- “ as eo (Liga lemplos destinados & guarda de ofe- Cada cidade c tendas aos deuses ¢ deusas! eta 0 sacerdote quem decidia quais pecas seriam ex nstrufa um monumento postas no propileu, ou seja, era ele o responsavel pela “narrativa histérica” ali const 8 drea das exposig6es foi amplinga e reorganizada, obra | mi [ ‘ooo taeas mag Ensino de Historia © Mouseion, ou Casa das Musas foi consteuido como pal em Alexandria por Ptolomeu Filadelf €m 641, O templo das musas Calfope, Ci mene, Poli real 10 século Ill a.C. € destruido Erato, Euterpe, Melpo- Terpsicore © Urania, as filhas de Zeus com ‘Mnemosine (a deusa da meméria), cuja responsabilidade era lembrar todas as coisas que ja aconteceram, “inspirow” a criagio do Mouseion de Alexandria, cujo objetivo era salvaguardar todas as obras humanas de forma a garantie um saber encielopeédico sobre artes, etnias ¢ fh, iso de templo, esse espaco funcionava como a restrita a notiveis ~ fildsofos, artistas, ientistas. Seu papel era despertar ¢ mobilizar para a leitura, inves gasho, observacdo astroné logica etc. Havia no local anfiteatros e salas de fruigio. Ambicionava a completucle em sue Fepresentacdo. Como templo, todas as musas eram representadas Como centro de pesquisa, ambicionava-se obter para seu acervo exemplar de cada texto, livro, obra de grandes artistas e ciemtistas, A Ideia de representar, colecionar, preservar o todo foi reto- dda na concepcao dos museus entre os séculos XVIe XIX. Os mtn seus modernos sio herdeiros de uma visio mitol6gica -a necessidade de colecionar, invemtariar e contemplar tudo o que as mos Inemanas roduziram, Entre os romanos, encontram-se os grandes colecionadores da Antiguidade, Diferentemente do caréter devocional atribuide pelos 8regos, nas colecdes romanas os objetos tinham lo significado dle poder ~ politico, econémico ¢ artistico. Levavam para Roma os bo. tins das guerras no Orie piiblicas e privadas; 10 Norte da Africa; colegies pe coe tas expostas em termas, féruns, ‘Ses expostas em templos para visitagio piiblica, Tra. tava-se de io entre as mais belas ¢ raras co- Jesdes privadas dos romanos mais abastados. Tanto que, em rarho da falta de originais, encomendavam-se cépias das obras mais famosys, No perfodo medieval, o colecionismo adquitiu “ares sagrados”. O encanto dos objetos era sua intocal iduos deve- ‘lam despojar-se dos bens materiais em favor da Ire. Esta passou a 1 Espacos da Histriensino e muscus ser a grande receptora de doacbes de verdadeiros tesouros mantidos a distancia do “olhar piiblico” com o propésito de serem usados para negociat, formalizar pactos politicos, eleger ¢ derrubar papas, prin- cipes e reis inimigos da Santa Sé. Ao final da Idade Média, nas reptiblicas italianas, foram os prin- cipes © mercadores abastados que formaram as primeiras colecies privadas do periodo: pedras preciosas, manuscritos, r livros, mapas, instrumentos dpticos e musicais, moedas, vasos, peles e especiarias, Entre os séculos XV e XVI, 0 reencontro com texto dudes de textos filosdficos feitas pelos arabes ¢ achados ar despertou a atengao para a Antiguidade, o Rena: tigos, tra- sicos em escavagdes na Ia sua atte e seus objetos. Esse fol também o periodo anciamento de grandes obras da pintura, arquitetura e ica chegavam mento, d ira. Das terras distantes da Africa e da Ami jetos, vestimentas, armas, animais € plantas exdticas. C ram-se, ainda, as colecdes de estudiosos da natureza, utilizadas indi almente ou em aulas nas universidades europeias. Tais colegdes primavam pela diversidade de objetos e espécimes: bustos, imagens iosas, objetos de arte ¢ artefatos indigenas. Os chamados closet de raridades eram espagos de reuniao dos homens, mundo dos eruditos em que se apreciavam “objetos”, debatiam-se descobertas, recitavam- -se textos antigos. As colegées de principes € reis desse perfodo deram or museus modernos. As mudangas sociais, politicas ¢ econdmicas ocor ridas entre os séculos XVI ¢ XIX provocaram nesses espacos, entre otras coisas, a lenta abertura das calegies ao grande entanto, somente no século XX os museus tornaram-se a servigo do piiblico. Nesse perfodo, os museus caracterizavam-se pela diversidade de concepgoes ¢ entendimentos: eram locais de con- templacdo de raridades, templos do saber, representantes das origens € catéter nacionai No final do século XIX e durante o século XX, as mudangas so- © 05 paradigmas das ciéncias do origem aos museus espe 0 Kelas em Ago <0 |, Cobstotdlasem a Ensino de Historia zados. Agrega-se a ideia de especializacio de cada tipo de instituigso mento histérico de fortalecimento dos estados nacionais. jem os museus dedicados a Histéria, Botanica, Zoologia, Arqueologia, Artes, dentre outras especializagbes ¢ particularidades de cada povo € nagio “civilizada’. Na segunda metade do século XX, o movimento de renovacio igrafica, que amplia os objetos ¢ as jentos sociais de luta pela ampliagao de direitos, coloca em cena a reivindicagao da reconstruggo das memérias das chamadas m s0s singulares, nos q nalidade dos objetos seria trazer a cena a meméria ¢ a k tupos *o Emergem, entio, os museus te- miéticos: da , da eri scendentes etc. A ampliagio da nogao de pa. ros centros de jos ins- ais. Estes so apropriados como “objetos” de conservacio, Preservagao, pesq re", museus com lazer ¢ educagio. Os ecomuseus, os muscus a0 miusens dio novos significados aos conceitos de “tempo e espaco” igico, possibilitando ao piiblico o estabelecimento de relagoes diferenciadas com o qu ‘como “museu” A diversidade de formas ¢ propostas dos museus na atualidade amp significado para a educagao histérica & medida que se apresentam como instituigées de cardter cducativo ¢, principalmente, ela forma como o fazem. Quando visitamos ui museu, temos con {ato com seu acervo, suas colegdes de objetos ¢ outros documentos, or meio da exposigao. Toda exposigdo é construida para narrar, para dizer algo sobre 0 tema em questo. Os objetos expostos foram ad- Quiridos pelo museu ao longo do tempo seguindo diferentes crité- tlos: politicos, técnicos, artisticos, hist6ricos, cientificos, entre outros, Sua conservacio, restauro, pesquisa e exposicdo foram pautadas por Critérios artisticos, politicos, sociais. Assim, nao basta “olhar” os ob- itétios e, ma ‘guntar: “o qu Espacos da Histia ens jetos expostos para que haja um processo educativo, £ preciso per- isso significa?”. (Quem consiruiu Tebas das sete portas? ‘Nos ivros constam os names dos ces, (s ris arastaram os blocos de pedra? Ea BabiiOnia tantas vezes destruida (Quem a ergueu outras tantas? Em que casas da Lima radiante dz ouro Morava os construtores? Para onde foram os pedreiros Na noite em que ficou pronta a Muratha da China? vabathador que a SelagSoetadusao: Paulo César de Souza. Sto Paulo 34, 2 Fonte: BRECHT, Bertold, Perguntas de wr As perguntas proferidas pelo trabalhador brechtiano poderiam ser feitas por visitantes, turistas e estudantes em um museu de His- t6ria, Mais do que “ver a Histéria”, os museus nos convidam a pro blematiza-la Ao adentrar © prédio que abriga um mus jetos que compéiem seu acervo, inevitavelmente surgirso questiona- mentos que talvez nao serao verbalizados com a veeméncia ou a ironia sugerida pelo poerne, mas serao reveladores clo estranhamento causado por uma experiéncia tinica de contato com vestigios do pas- sado. No museu de Histéria, esses vestigios sio organizados ¢ ex- postos para promoverem uma “viagem no tempo”. 0 veiculo dessa viagem € a exposigdo museolégica que, ao construit uma narrativa por meio de diferentes formas, perspectivas e teméticas, possibilita 205 visitantes a oportunidade de observar, pensar, descobrir, explotar, investigar, questionar e elaborar novas narrativas. Nesse percurso, a volta a0 ponto de partida deve trazer na “bagagem” elementos que € conhecer os ob- BI coacotdlacamasio Ensino de Histon ajudem a mudar nossa viso sobre a “vell de todos os dias, © aprendizado com objetos € obras expostas nos museus co- mega com um olhar ativo que, aliado a problematizacao proposta, ajuda a conhecer ¢ reconhecer, recortar, caracterizar, interpretar pensar... Nesse sentido, a visita ao museu pode ser organizada prag maticamente pelo professor: podk espago de contemplacdo, ou a visita py fundamento pedagégico ao entendé-lo como forum, espaco da per- gunta, dos debates, dos questionamento: Ao nos deparamos com evidéncias materiais de © conhecida” paisagem, TOs tempos, 1as deixados pelas pessoas do pasado, 1? Para qué? Como imaginar: quem os prod addos? Por quem foram usados? Pergun em outros espagos. se entei ar muse lita 0 contato com temas r artes, religido. Leva a con \ecer espagos € tempos, prox € a relletir sobre eles; cepcao por meio da linguagem dos objetos e da iconografia, desafia 0 Pensamento histérico com base na visualizagao das mudang: ricas, permitindo rep: Os museu -se ndo pelo acervo de ob- jetos ¢ iconografias que adquirem “significados histéricos” diferentes dos que possuiam quando eram objetos sociais, mas pela organizagao desses objetos considerando-se os problemas histéricos e a cons- le uma narrativa que possibilite a apreensio de outras refe~ éncias de tempo e espaco. Para tanto, constréi-se uma apresentagio ‘ormal dos objetos ~ aspectos morfolégicos, tecno! ~ numa abordagem documental em que sdo consideradas duas di- CAPITULO Espacos da Histriasensino e museus mensdes fundamentals: a de que sdo, a0 mesmo tempo, resultados ¢ vetores de relagdes sociais de determinado grupo, lugar e tempo. Meneses (1995) questiona o limitado e perigoso papel da expo- sigdo nos museus de Histéria organizada como “teatro da meméria”, lade seria evocar e celebrar 0 pasado como um idético, a exemplo de como se constituiu © Museu grande manual Paulista sob a direcdo de Affonso d'Escragnolle Taunay. O autor flete sobre as possibilidades de o muscu participar da produgio do conhecimento histérico argumentando que a dimensio educactonal da exposigio precisa ter como referencia o conhecimento, para que a 40 cumpra efetivamente seu papel. Assim, o museu deve ser um laboratério, um centro de pesquisas voltado para a discussie andlise de problemas hist6ricos com base nos objetos de seu acervo. Apesar de nao discutir problemas estritamente relativos 4 edu- es (1995) aponta para lades a serem considerados durante a visi um muscu de Histéria. Organizar os alunos para um evento como esse deve ter como objetivo a construgéo do conhecimento hist6rico (mas nao apenas esse) num proceso interativo, reflexivo e critico, As possibilidades e limites da relagdo entre museus de Histéria ¢ a educagio hist6rica envolvem também os aspectos relativos & me- méria, ao patriménio € a cultura material, Se encarado como templo, o museu perde a aura de monumento® ¢ o objetivo de tomnar-se do- cumento, ou seja, além de perder o sentido de sinal do passado, deixa de ser objeto de andiise de um conjunto de concepgies © contextos sociais, politicos, técnicos e culturais. No museu, imagens € objetos so organizados para “evocar” 0 invisivel, algo que nao esté presente (0 passado). Esses elementos so mensageiros de um discurso histérico, de uma construgao que sla, das sociedades histreas (..J”. LE GOFE, Jacq In: HisaSria e memsria, Campinas: Unicamp, 1992. p.536. | coteto ts me envolve valores ¢ interesses. Assim, para serem compreendidos, é necessario conhecer 0s processos de sua producio, circulagio e apro- priacdo. Sobre isso, Le Goff (1992, p. $35) alerta: (2) © que sobrevive nio € 0 conjunto daquila que existiv no passado, mas © museu ~ prédio, objeto forcas tizada, construida pela reflexdo, motivada nos visitantes sidade e surpresa, por questionamentos surgidos do contato com rncias de temporalidades diferentes. Ao conhecer um museu, 0 ¢ entra em contato com es- pagos ¢ exposigdes de imagens e objetos de diversos sentidos, 0 que gera uma experiéncia tinica com o passado. No museu, os alunos tomar conhecimenta de aspectos da comunidade/sociedade em diversas Epocas ¢ dimensées dos mundos piiblico ¢ privado. Espaco, lin- guagem da exposigio, objetos ¢ imagens narram historias, cristalizam mem@rias que podem originar outras hist6rias, novas narrativas Sugestéo de atividade Ensinar Hist6ria tomando como base objetos expostos em museus € n outros espacos € um trabalho que deve ser realizado pelos profes- que privilegie a acdo ¢ a reflexdo dos cstudantes em relagéo a sua visio de mundo e suas relagdes nas nas diversas dimensdes € nos variados es- 22905 sociais. Por meio de um objeto ou conjunto de objetos em ex- "osigao exercita-se a observagio, descoberta, andlise ¢ transformacéo ERPITULOS Espagos da Histia ensino e muscus de conceitos espontineos sobre 0 cotidiano e conceites histéricos apresentados na escola de forma a possibilitar o redimensionamento da relagio de ctiangas e adolescentes com 0 mundo da “cultura ma- terial” do passado e do presente. Para tanto, 0 professor que organiza ¢ coordena a visita de seus alunos ao museu precisa, antes de tudo, conhecer a instituigio, sua localizacio, histéria, recursos humanos € materiais oferecidos , almente, a exposigéo que faré parte do trabalho pedagégico, A visita pode ser um momento singular de aprendizagem conjunta de professor e alunos. Mais do que traca de informagoes, ela pode propiciar 0 compartilhamento de interpretagées, valores, conceitos, significados, Estamos afirmando que 0 “sucesso” da visita € de res- jonsabilidade do professor. Mesmo que a instituigdo possua moni- ores ou guias, estes ndo substituem opapel do dacente na organizagao ¢ mediagéo dos momentos de descoberta, estranhamento, compa- ragao, ani ida, encanto € reinvengao Gam durante a visita Vimos que os museus ofere: dades para o ensino de Histéria, ¢ o professor, conhecendo o mus seus alunos, & quem esié mais bem preparado para coordenar a vi- sita e mediar o trabatho nesse espago. A presenca de monitores nos museus enriquece a visita se o trabalho for feito em conjunto com 0 professor. E possfvel que a visita seja coortenada pelos monitores, ¢ o trabalho de sintese e aprot 10 sefa realizado pelo professor no retorno a escola Diante do exposto, propomos, a seguir, algumas agies para a realizagio de uma visita a um museu de Hist6ria. uma gama Tematizacdo e problematizagao Decidir quais habilidades, conceitos € conhecimentos sevao trabi Thados na visita ao museu é fundamental para definir o tipo de ativi- dade a ser desenvolvida. E importamte ressaltar que, para os alunos, visitar museus, espagos histéricos ou monumentos € um momento 80 Melasem Agho 38 Ea E | hoeteiasemagte Ensino de Historia Ihidico, aspecto que no pode ser desprezado pelo educador. A visita deve, preferencialmente, estar inserida no contexto de um projeto de ensino em desenvolvimento na escola. Assim, ela tanto pode ser © ponto de partida como o aprofundamento ou até mesmo o encer- ramento do projeto. ‘Chamamos essa etapa de tematizagao e problemautizagao, Nela, pro- fessores ¢ alunos fazem 0 *recorte” da visita ¢ discutem 0 tema que irdo explorar, considerando-se os objetos em exposigéo. Para tanto, © professor deve levantar as expectativas ¢ hipéteses dos sobre o muscu e a exposicio, Dessa forma, descobrita se jf vi cla instituigdo em outra oportunidade e po exemplo, a respeito das caracteristicas do mus masGo do acervo, Outra ago importante € planejar o que sera fcito com as informagées adquiridas no museu bem como as pos dades de aprofundamento desse conhecimento (por meio de pes- quisa posterior) ea divulgagao dos saberes construidos para os demais junos da escola, Exploracdo do espaco e dos objetos A visita € 0 auge do projeto. Essa etapa pode comesar com o percurso enire a escola ¢ 0 museu, com 0 conhecimento ou reconhe- imento do espaco da cidade, das ruas e dos prédios histéricos, mo- humentos, entre outros aspectos da paisagem urbana. 0 entomo do museu € outro espaco importante em que se pode observar onde 0 Prédio esta localizado e, dat, levantar impressdes ¢ sensaqdes dos alunos a respeito do ambiente externa e interno do local. A exposigdo pode ser explorada de varias maneiras. Os museus € as escolas tém acumulado experiencias diversas. A visita a exposigao pode ser mais “dirigida” ou mais “livre”, dependendo da idade, do tema, da familiatidade dos estudantes com o espago etc. Uma possibi- lade € 0 professor optar por um tema e organizar a visita com base que foi proposto. Pode-se também fazer um “recorte” de parte da exposigdo ou centrar a visita na exploracao de alguns objetos. 0 Espacos da Histéra:ensino e museus Os projetos de Educagio em ambientes de museus sistemati- zaram uma metodologia cujas etapas podem ser sintetizadas em: observagio, registro, exploragio e apropriagao, conforme descritas no ‘Quadro 1. Essas etapas nao precisam ser trabelhadas separadamen E possivel realizar uma abordagem simultanea ou entati aspectos, o que dependerd dos objetivos defini alunos e do tempo € dos recursos dispontveis para a atividade. Quadro 1 Etapas da execugdo do projeto ETAPAS RECURSO EATIVIDADES oBseTivos Observagio Brerciciosde -Identificar 0 objeto Momentoda descoberta, | percepgio visual/ =fungao_e significado, do evantamento sensorial pormeiode _|-Desenvolvera percepgio dehipsteses ede perguntas, manipulagéo, | visual e simbalica identificacao. ‘comparacies. deduséo, | [jogos de adivinhagioe | investigagao. _| Registro [Desenhos, descrigao | Fixar aspectos Momento de investigacéo | verbal ou escrita, grafcos, | considerados relevantes da funcao do objeto, de |fotografias, maquetes, | -Aprofundara observacao| buscararelacaoentre | mapase plantas baixas. ‘0 mundo das coisas eas pessoas que as, =Desenvolvera meméris, o pensamentolagico, intuitivo eoperacional produzirarn. Exploragao fAnalise do problema, |-Desenvolvera Momento de a levantamento de capacidade de anslise ede julgamento a Interpretacao de evidénciase significado interpreta ereinterpretar |hipéteses,discussso, ico, icurso da exposicao" | questionamento, oualinguegem dos [avaliagio, pesquisa objetos. ‘em outras fontes ~bibliotecas, jornais, arquivos, internet ete ‘etna! 00 Melasem Agi a g § 8 2 van Ensina de Hi ome) ETAPAS RECURSOS E ATIVIDADES ‘oBseTIvOS, Promover oenvalvimento iv aintemalzacBo, lodesenvolvimento Apropriagao Momento da reinvencio, de dar significado as Recriagéo, rel Informactes crticas diferentes meiosde | dacapacidade de econhecimentos ‘expressio, como pintura, | autoexpressio, construides durante apropriagso, partcipacio balho. criatva, valorizagio do bem no Quadro 2, Quadro 2 sSintese das questées para andlise de objetas ASPECTOS FisICOS 'RSPECTOS SIMBOLICOS Dimensio:tamanho (Quem o construlu/produziu? ipo de mat lzado [Quando foi co Para qua? Qual asua fungéo? Por que esse objeto foi praduzico dessa forma? Técnicas de construcio, omamentos etc | O que estérepresentado? Quais os elementos usados nessa representagso? (Condioes de preservacéo Qusis aspecto ajuda aconhecer? 0s esse objeto |Quantidade de elementos usadosna | Que tipo de pessoas utlzaram representasao esse objeto? Relagio do objeto com outros objetos | Quais as semelhancas ediferengas em [do acervo relagdo a outros objetos pesquisados? ipo de andlise, ver Ca TUL Espagos dat Aprofundamento 1a para a escola nao precisa por fim 8 experiéncia da visita poderd ser co- ados, nessa etapa, recursos tura, fotografia ou Construsdo do conhecimento ago do trabalho deve ocorrer, necessariamente, com e imagens. A segu zadas em grupos & 5 de revistas e papel colorido, além de dese- iar uma imagem a respeita da visita da turma S exposicao. Elaboragio de uma hi sus com 0s abjetos da exposigao qt Em grupo: Se pudessem criar um museu, come ele ‘bre qual tema? Que elementos ~ objetos e imagens ~ escolheriam 1a exposigao? q § A Ensino de Histria Enfatizamos que essas atividades sdo sugestdes originadas na prética de educadores em museus ¢ escolas. Sua fungio, neste texto, € oferecer parémetros do que pode ser realizado com base na pro- posta de visita a uma exposigéo ou museu de Hist6ria. Cada pro- fessor tem condigGes, de acordo com a sua realidade, de criar atividades tio ou mais interessantes do que as sugeridas. Cada museu, colegio € exposigio € organizado de acordo com determinada linha de pesquisa € tem narrativa especifica que inspira certo tipo de abor- dagem. Os museus oferecem uma oportunidade singular que no se restringe a narrativa dos fatos do passado; antes, mobilizam um tra- balho com conceitos histéricos mediante investigagao dos objetos. disso, oferecem uma experiéncia com o pasado por meio de diferentes fontes cujo papel har sobre a reali- dade © nossas experiéncias de vida pelo estabelecimento de novas relagSes entre o homem, a Histéria, a natureza, a cultura, as artes... reinventar nosso Sinopse O capitulo apresentou as principais referéneias historicas dos museus como instituigées produtoras e divulgadoras de conhecimentos. Foram abortiados aspectos tedricos ¢ metodolégicas para o planeja- wento de visitas a 1s de Histéria como forma de dar novos significados 20 conhecimento 0 trabalhado em sala de aula, GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Q\ Lourdes Parreiras. Guia Basico de Bi seu | i i 144 cAPITULOS Expagos da rl: ensino e museus presenta artigos que discuter Material, seu histérico de criagdo e formacZo, especificidades de seu acervo, de objetos e pinturas histéricas, a de Salles. Museu Paulista: novas | {a/USP, 1992. Caderno que apres jsta como monumento; traz experiéncias de realizadas em exposigdes temporatias e permanentes, tras, Sio 12 artigos sobre 0 8 oriemtadas SME/Centro de Ki Pedasos do tempo, Belo Horizont lagem litdica dos te lecionismo ¢ ao papel das mi As obras a se ntagdes para museus de Histéria: iio hisdrica e museus, Braga: Universidade do = MENESES, Ulpiano Toledo Bezerra de, Do teatro da meméria a0 labora ‘a € 0 conhecimento histérico. 2. 1995, S30 v. 2, jan ALMEIDA, Adriana Mortara ¢ VASCONCELOS, Camilo de Mello e. Por que visitar museus, In: BETTENCOURT, C. (Org.). 0 saber histérico na sala de aula. So Paulo: Contexto, 1997. vIdetas em Agso Coleco Reins em Ago Ensino de Histria Histrica. 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