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Origem e História de Syakuhachi através de:

Vocabulários do Shakuhachi [単語集を通じた尺八の歴史]

Primeiro Capítulo:
[1] Etimologia {Shakuhachi ou Syakuhachi 尺八}
O nome do instrumento é derivado de uma antiga unidade de medida
usada na China e no Japão. (Porém, na prática, as medidas antigas da China eram
mais curtas do que as japonesas, e variavam conforme a determinação da Dinastia
vigente).
As medidas usadas atualmente no Japão correspondem à seguinte
proporção:
A unidade de medida shaku é decimal, ou seja, 1 shaku corresponde a
30,30 cm; e dividido em 10 sun, sendo cada sun equivalente a 3.03 cm. I-chibu (1
分 ) é igual a 0.303 centímetros.
Logo, o Syakuhachi de [Issyaku-Hassun] (1 尺 8 寸, quer dizer 1,8) tem
comprimento de 54,54 centímetros.
Resumindo: 1 shaku [isshaku ou 1 尺]  10 sun 寸

1 sun [issun ou 1 寸]  10 bu [寸 ]

[2] O Syo’ e Do’syo’] ( nome dado para o antepassado do Syakuhachi)


{o berço e a origem de vários modelos de flautas, antes de ser chamado
Syakuhachi}
Na época em que o imperador “Butei-寸 寸 ” (7.06.156 aC - 29.03.87 aC)
dominava a antiga China, existiam várias flautas de bambu vertical, usadas na
Corte Imperial. A flauta chamava-se “Syo’”, existiam duas variedades de
comprimentos.
[Versão “a”]: que era chamava de “Grandes Flautas”, composta por um
grupo de 23 flautas, sendo a mais comprida de 1,4 syaku (I-ssyaku 4
ssun=42,42cm).
[Versão “b”]: chamava-se “Pequenas Flautas”, composta por um grupo de
16 flautas. A mais comprida tinha 1,2 syaku ( 1-syaku 2-ssun=36,36cm).
Acontece que estas flautas chamadas “Syo’”, da China, tinham sua
extremidade “tapada” por cera de abelha. Naquele período, o imperador
conquistou o país vizinho do leste, onde vivia uma tribo nômade chamada

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“Kyo’zoku”, na região atual da província de Quingai, sul da China (que faz fronteira
com o Tibet, onde há flauta tibetana).
Com domínio chinês, esta tribo nômade transmitiu uma flauta para China.
A aparência era similar à chinesa, porém a extremidade da flauta era aberta, cano
aberta, enquanto as da china eram fechadas. Um músico da corte examinou a
flauta dos nômades e descobriu que havia uma nota correspondente à escala
musical chinesa (porém, originariamente vinda da escala tibetana); cujo nome era
ko’syo’[ 寸 寸]. O som base desta nota correspondia a da “grande flauta” chinesa. Do
resultado destas duas culturas, surgiu uma nova versão, com a extremidade da
flauta aberta e comprimento de 1-syaku4-ssun (1,4), possuindo com 4 orifícios.
Isso aconteceu cerca de 2.000 anos. Esta versão é chamada de “Kyo’teki” (flauta
da Tribo Kyo’). Mais tarde, foi agregado mais um furo, e ficou com 5; porém,
novamente ganhou mais um, totalizando 6 . Nesta altura ela ganhava o nome de
“Do’syo’ (寸 寸 寸 )寸. Ainda não era chamada de Suakuhachi, porém, seria antecessora
imediata do futuro Syakuhachi.

[3] Era de To’寸 寸


Bem mais tarde, já na Dinastia de To’寸 (iniciada no ano de 618-dC), com a
mudança do Império, a banda musical da corte também sofreu mudanças. O
grupos de flautas preferido da “Era To’” foi o “ Pequenas Flautas”, referido
anteriormente. Acompanhando a mudança de base e regra de “medidas”
(comprimentos), a banda musical da corte começou a adotar as flautas mais
curtas. Ficou determinado que, o que antes era {1,4-syaku} na escala Ko’syo’( 寸寸),
tornou-se {1,8-syaku}, ou seja, nasceu o termo 1-ssyaku Hassun.
No mesmo período, apareceu o músico chamado {Ryosai-寸 寸}, que
construiu 12 novos grupos de instrumentos e apresentou ao Primeiro Ministro (da
época). O Ministro gostou dos timbres e das escalas da nova flauta, e convidou
Ryosai para trabalhar nos assuntos relacionados à música. Baseado neste fato,
poderia-se resumir a evolução histórica do instrumento como segue:

- “A flauta do povo nômade [Kyo’teki] entrou na China na longínqua Era de “Kam”


(antes de Cristo) e foi chamada de “Do’ syo’” ;
- “Do’syo’“ de {1-syaku4-ssun Kan} transformou-se em { 1-syyaku 8-ssun Kan}
devido a mudança de medidas na “Era To’”;
- De {1-syaku8-ssun Kan} surgiu o nome [Syakuhachi].”

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(Um livro publicado no fim do século 13 refere-se a este fato e descreve
que, a partir daquela época, a expressão “Syakuhachi” tornou-se pública).
Por estes relatos, os estudiosos sugerem que o nome Syakuhachi tenha
surgido na China, neste período histórico.

[4] Syakuhachi existente no Syo’so’ In (寸 寸 寸)


No início de século 8, o rei do país “Kudara-寸 寸”, (chamado {Guiji}寸 寸),
extinto país que existiu na antiga Coreia, ofereceu ao Imperador do Japão, além da
música Kudara, mais 4 Syakuhachi. Os quais estão guardados como relíquia
histórica no Syo’so’in. Mais 6 Syakuhachi foram oferecidos do Império “To”. Todos
eles levam nome de “Gagaku Shakuhachi”. Pelo comprimento que tem, cerca de
40 cm em média, são considerados como parentesco da época da Era To’, citada
no capítulo anterior.

No Japão, a primeira pessoa citada como alguém que toca Syakuhachi,


chama-se “Syoutoku Taishi”, no século 8; mas não há data exata de quando
tornou-se o nome próprio de Syakuhachi no Japão.

[5] Gagaku(寸 寸), e sua composição


A palavra Gagaku é composta por dois Kanji, ie. O primeiro “Ga” significa
“Nobreza”, o segundo significa “Música”. Ganhou este nome próprio, “Gagaku”,
pelo fato de pertencera à banda musical de Corte Imperial, executada pelos
músicos profissionais da época. Gagaku era praticada também entre a classe
feudal e os nobres subordinados.
O Departamento de “Gagaku-Ryo” (o que corresponderia ao Ministério da
Cultura atual) foi criado pelo Imperador japonês Mombu (寸 寸), no ano de 697. Na
época da criação, incluía os seguintes elementos: professores de canto (4 pessoas);
cantores (30 pessoas); cantoras (100 pessoas); professores (as) de dança (4 pessoas);

dançarinos (as) (100 pessoas); mestre de flauta (duas pessoas); flautistas (6


pessoas); construtor de flautas (8 pessoas); professor de música {categoria “To’}
(12 pessoas); executantes e alunos (60 pessoas); professores da música
{“Koma”-“Kudara”-“Shinra”} (os países extintos que existiram na antiga Coreia) (4
pessoas cada); alunos (20 pessoas); professores de Taiko apoiados no colo (duas
pessoas); executor e alunos (20 pessoas).

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(veja a cópia de figurinos dos alguns músicos de Gagaku)

[6] Sinônimo de Syakuhachi


Entre os entendidos de Syakuhachi - Instrumento, costuma-se usar outra
denominação ao lugar de Syakuhachi; por exemplo, nas expressões verbais, usa-se
o termo “Take”, que quer dizer bambu, significando na prática o Syakuhachi.
Também na escrita, frequentemente, usa-se “Kan-寸” como sinônimo de
Syakuhachi. E usando este vocabulário, existe uma famosa frase filosófica do
fundador de “Tozan-Ryú”, Nakao Tozan: [ 寸 寸 寸 寸寸寸寸寸寸
], sendo a leitura “ bansyou
Jinzousu Ikkan no Naka”; traduzindo: “Dentro de um Syakuhachi contêm todos os
fenômenos da vida e da Natureza].
“Kan 寸”, sinônimo de Syakuhachi, também é usado para expressar
comprimentos de instrumento. Seguem abaixo alguns exemplos:

{A} Quando diz Hassun-Kan (寸): significa o Syakuhachi de Issyaku–Hassun (1.8);


{B} Quando diz Rokussun-Kan (寸): quer dizer Syakuhachi de Issyaku –Rokussun
( 1.6);
{C} Quando diz Kyu’ssun-Kan (寸): quer dizer Syakuhachi de Issyaku-Kyu’ssun (1.9);
{D} Quando diz Nisyaku-Kan, (寸): quer dizer Syakuhachi de Nisyaku (2,0), e assim
por diante.

[Tyo’kan] (寸 寸): quer dizer Syakuhachi Comprido.


[Som agudo e Grave]:
Quando se refere ao som agudo, o Kan-On, utiliza-se a característica que é
寸 寸 , o som grave é Otsu-on (寸 寸 ) no Tozan e Ryo (寸), no caso de Kinko.

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[7] Significado original dos kanji e curiosidades de fatos históricos
Significado do Kanji “ Ryo”(寸):
De acordo com o dicionário dos Kanji, o “ryo”(寸), originariamente, significa
“Homem”, e a característica representa a cabeça e o corpo ligado pela coluna
vertebral. Também significa os Sons Graves das notas musicais. Existem duas
diferentes pronúncias para ele:
{A} pronúncia “Ryo”(寸): provém da prática adotada na Dinastia (Reinado) “Kan 寸”;
(pronúncia da região do norte da China e transmitida para Japão entre os séculos
10 e 11);
{B} pronúncia “Ro” (寸): provém da Dinastia (Reinado) “Go 寸”; (pronúncia da região
sul da China).
Estas duas pronúncias diferentes sobre um Kanji só, de duas Dinastias
antigas da China, foram adotadas, conforme a época, pelos japoneses que tiveram
intercâmbio cultural com esses períodos, e é mantida até a presente data.
(Os japoneses continuam adotando duas pronúncias em todas as
características obrigatoriamente).

[8] História e o nascimento das Letras


A característica que representa sons agudos e graves originariamente
eram nomes dados para “dias” do mês, na antiga China. Os primeiros Kanji
primitivos foram inventados cerca de 4000 anos atrás e eram utilizados para
adivinhar/prever as safras agrícolas. Na arqueologia, estas primeiras
características são classificadas de “Ko’kotsu-Moji (寸 寸 寸 )寸”. Eram escritas sobre as
carcaças das tartarugas e ossos de animais, depois assados no fogo, para analisar a
reação das letras e tirar uma conclusão do que seria uma boa safra ou ruim, etc.
Era nascimento do Kanji primitivo.
É interessante observar que, na primeira característica deste topônimo,
aparece a letra “Kan/Ko’ (寸)”, que, 4000 anos depois de sua invenção, é adotada
para representar o som agudo; fora outros significados. A letra “Otsu (寸)”, que era
o nome atribuído ao segundo dia do mês, hoje representa o símbolo de som
grave, além de outros significados.
Paralelamente, ainda continuando com a leitura do futuro das safras,
ancestrais faziam também a previsão da sorte de cada “dia”, para isso atribuíram
características para cada um, que contemplavam de 1 a 10. Foram as seguintes

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características: primeiro dia do mês= Ko’/Kan (寸); segundo dia= Otsu (寸); terceiro
dia= Hei (寸); e assim por diante.

[9] Conhecimento sobre o comprimento real das diferentes medidas do


Syakuhachi
São chamados de Seiritsukan (寸 寸 寸) aqueles Syakuhachi que reproduzem
os sons conforme escalas estabelecidas. São mais compridos do que literalmente.
Vejamos:
Desde a mais curta até 1,8, os comprimentos de Syakuhachi
correspondem ao nominal. No entanto, a partir de 1,9 (1,9 寸 寸 寸), os comprimentos
reais do instrumento se alteram, e devem ter mais alguns centímetros do que
nominal, a fim de se obter o timbre correto. Caso contrário, as notas ficariam fora
da escala/timbre. É o caso dos Syakuhachi chamados [Seissunkan 寸寸寸], os quais
priorizam somente o comprimento do instrumento, respeitando ter 7 nozes.

[10] Diferença de comprimento do Syakuhachi


Vejam a diferença de comprimentos entre “Seissunkan” e “Seritsukan”:
Comprimento nominal Comprimento real/física/notas
(Seissunkan 寸寸寸) (Seiritsukan 寸寸寸)
1,6 (1 寸 6 寸) = 48,48cm ( E ) Costuma-se expressar [E-Kan]
1,8 (1 寸 8 寸) = 54,54cm ( D ) Costuma-se expressar [D-Kan]
( até 1.8 não há diferença de comprimentos)
1,9 (1 寸 9 寸)=57,57cm 1,91(1 寸 9 寸 1 寸)=58cm
2.0(2 寸)= 60,60cm 2,04(2 寸 4 寸)=61,5cm
2,1 (2 寸 1 寸)= 63,63cm 2,16(2 寸 1 寸 6 寸)=65,54cm( B )
2,2 (2 寸 2 寸) = 66,66 2,3(2 寸 3 寸)=70cm
2,3 (2 寸 3 寸)= 69,69cm 2,43(2 寸 4 寸 3 寸)=73,6cm
2,4 (2 寸 4 寸)= 72,72cm 2,55(2 寸 5 寸 5 寸)=77,25cm

[11] Vocabulários ligados ao “soprar” ou tocar


Suizen [寸 寸 : a primeira letra significa “soprar/tocar”, a segunda letra Zen
( 寸), é Zen do Zen Budismo-Meditação. Nas épocas remotas dos monges, o ato de
soprar shakuhachi era tido como mesmo sentido de Meditar, não era soprar
música. Dentro deste conceito, nasceu a palavra { Ition-Jóbutsu=寸 寸 寸 寸 , que

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quer dizer, “Ition”= Uma nota/som; e Joubutsu = tornar-se Buda. ( Pode ser
interpretado para quem sopra e/ou para quem ouve).
[Suisso’ suru 寸 寸 寸 ]寸= Sui 寸, e/ou Fuku 寸 寸, significa ‘’soprar instrumento de
sopro’’, e So’(寸) significa “execução da música”. No entanto, em caso de
instrumento de cordas, utiliza-se o termo ‘’Hiku 寸 寸’’, que quer dizer ‘’tocar
cordas’’.
[Suisso’-Gakki 寸 寸 寸 ]寸= Instrumento de Sopro. (Syakuhachi, clarinete, etc ).
[Guen-Gakki 寸 寸 寸]= Instrumento de Cordas. (Koto e Syamissen, violão,
violino, etc ).
[Enso’-kai 寸 寸 寸]= Performance. Recital de...
[Gassou 寸 寸] =Tocar em conjunto. Logo, [Nibu-Gassou2 寸 寸 寸]= dueto.
[Sambu-Gassou 寸 寸 寸 ]寸= trio.
[Dokusso’ 寸 寸]= solo.
[Syakuhachi Dokusso’ 寸 寸 寸 ]寸= solo de Syakuhachi.
[So’kyoku 寸 寸]= música/composição para Koto.
Com relação ao Koto/Sou, convém saber que existiram e existem dois
tipos de Koto. Um lado se chama [koto], sendo atribuído ao Kanji 寸 (também se
pronuncia kin). Normalmente a superfície deste instrumento é plana e não se
utiliza a peça chamada “Ji”, que serve para afinação e apoio das cordas. Para
alterar um som, aperta-se a corda usando o dedo. Acredita-se que este é mais
antigo do que outro, por isso a pronúncia mantém-se até a presente data.
O outro se chama [So’], sendo o Kanji atribuído 寸; mais corretamente Shin-
So’ 寸 寸. É aquele instrumento que estamos acostumados a ver aqui no Brasil. Shin-
So’ significa [Koto de Shin/Chin], porque diz a lenda/história que o instrumento foi
inventado no Império [Shin/(Chin)], sendo esse o primeiro império que se formou
na antiga China, 221 anos antes de Cristo. O imperador foi chamado de [Shin no
Shiko’tei], que quer dizer [o fundador do império - Shin]. Atualmente, nome da
China é derivado deste império “Shin”.
Quando foi introduzido o “Shin-So’ 寸寸” no Japão, no século oitavo,
provavelmente já existia o [Koto 寸 (aquele que é sem Ji)], e foi classificado como
[Shin-So’] para distingui-lo. No entanto, para confundir a cabeça da gente, mesmo
para este So’寸(Shin-So’寸寸), frequentemente é atribuída a leitura/pronúncia {koto},
ao invés de {So’}. Muito provavelmente, a memória dos ancestrais não queria
apagar a leitura mais antiga, convivendo com os dois instrumentos, por esta razão

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coexistem duas letras distintas /duas pronúncias distintas. Atualmente, para este
Koto também se utiliza o {Ji}.
[Sanguem 寸 寸]= três cordas, indiretamente sinônimo de Syamissem, que
possui 3 cordas.
[Sankyoku 寸寸]= três músicas. Este termo Sankyoku nasceu no século 18
para 19, quando começaram reunir e tocar os três instrumentos conjuntos, ou
seja, começaram a tocar com Koto, Syamissen e Syakuhachi; classificando assim
como categoria musical peculiar do Japão. (Antes deste encontro, cada
instrumento era utilizado independentemente. Koto era exclusividade dos
Músicos-Cegos, e Syakuhachi exclusivo dos Monges–Komuso’s, ambos protegidos
pelo Governo Militar dos Samurais, o Shogunato).
[Sankyoku-Kyoukai 寸 寸 寸 ]寸= associação das três músicas. (Indiretamente diz
asss. de três instrumentos). O termo representa uma entidade oficial das
associações de Koto, Syamissen e Syakuhachi.

[12] Honkyoku 寸 寸
A palavra Honkyoku é dada para as músicas/composições que foram
compostas especificamente para determinado instrumento. Por exemplo, quando
se diz ‘’Honkyoku de Syakuhachi”, significa que originariamente a composição foi
feita só para Syakuhachi e não para outros instrumentos. Neste sentido, todas as
composições de antiga músicas dos Komussó (ou Fukesyu’) são classificadas como
“Komuso’Honkyoku (e/ou “Fekesyu’-Honkyoku”).
Ao contrário disso, se uma composição foi feita originariamente para
Koto/Sou (寸), e/ou Syamissen, e posteriormente arranjada para Syakuhachi,
chama-se “Gaikyoku”.
Por esta razão, todas as músicas de {Sankyoku 寸寸 e de Jiuta 寸 寸} ficam
classificadas na categoria de “Gaikyoku” e não Honkyoku de Syakuhachi (ponto de
vista entre entidade do Syakuhachi). A palavra Gai (寸) significa {fora de...}.

[13] Origem de Fukesyu’寸 寸 寸 e Meiam 寸 寸


Topônimo atribuído para entidade de uma seita de ‘’Zen-Budismo’’, tendo
seu próprio templo, sede que abriga os monges adeptos. No entanto, é bom
esclarecer que, apesar de nome original de “Fuke”, pertenceu ao monge chinês
que viveu em meados do século 9, na China. Ele não foi fundador da seita Fuke,

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simplesmente o nome dele foi adotado para seita pelos japoneses quando a
fundaram no Japão, posteriormente.
A seita “Fukesyu’” teve início no Japão, pelos japoneses. Fuke era um
monge chinês que viveu em cerca do ano 850, no período da “Dinastia To’ ’’.
Porém, ele não tocava Syakuhachi, mas sim andava ‘’orando’’ um verso que
contêm a palavra ‘’Meiam’’. Outro monge que se chamava ‘’Tyo’haku 寸 寸’’, que
sabia tocar Syakuhachi, ficou profundamente impressionado pelo verso e atitude
do Fuke e começou a tocar o tal verso; transformando-os para notas de
Syakuhachi, como se fosse uma melodia.
Esta melodia-oração, soprada pelo Syakuhachi, ganhou o nome de
‘’Kyotaku 寸 寸’’, e foi transmitida por gerações; chegou até 16 gerações, e teve o
nome de ‘’ Tyósan 寸 寸’’. Veja a seguir o verso que o monge “Fuke” orava e que deu
origem à expressão “Meiam”:
寸寸 寸 寸 寸 寸寸
寸寸 寸 寸 寸 寸寸寸寸寸寸寸寸寸寸寸寸寸寸寸寸寸
(Observe a letra sinalizada de vermelho, a primeira lê-se “Mei” e a
segunda vermelha lê-se “Am”; juntando as duas letras iniciais, nasceu o vocábulo
composto de “Mei-am”).
Coincidindo com aquela época, o monge japonês chamado ‘’Kakushin’’
(nascido no ano de 1207), foi estudar Zen Budismo e acabou conhecendo
‘’Tyósan’’, da 16ª geração do Tyó haku. Com ele aprendeu o Syakuhachi e também
a música ‘’Kyotaku’’, que era tratada com o maior segredo, como ‘’Hikyoku’’
(música secreta). Há algumas pessoas que acreditam que esta originou a música
“Kyorei 寸 寸”, que conhecemos atualmente. A música (se é que se pode chamá-la de
música) era tida como um culto para praticar a espiritualidade do Zen-Budismo,
usando o sopro de Syakuhachi, aplicando a “respiração equivalente de Yoga” no
lugar de oração e meditação.
Quando o monge japonês “Kakushin” regressou para o Japão, no ano de
1254, ele ganhou um novo nome, o então imperador condecorou-o como ‘’Hó-tó-
kokushi’’寸 寸 寸 寸 .
Mais tarde, os monges aprendiam Zen Budismo juntamente com o
Syakuhachi; já no Japão, a entidade adotou o nome de ‘’Fukesyú’’ (Seita-Fuke), em
homenagem ao monge Fuke, que orava o verso o qual influenciou diretamente
(sem querer) o ato de “soprar” Syakuhachi. Já os monges eram chamados
individualmente de “monges de Fukesyu” (Komusó de Fukesyú).

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Na época do início da fundação, os monges usavam Kimono simples; mais
tarde, com os adeptos dos Samurais que aderiram ao estatuto de monges,
começaram a usar um traje misto de monges e dos Samurais, (eram permitidos
usar uma espada mais curta) usando ainda uma pequena cobertura na cabeça.
Com o decorrer da história e do tempo, tornou-se o traje típico de komuso’ que
conhecemos hoje. Eles andavam pelas ruas da cidade, aldeias e longínquas
províncias. Com eles nasceu o termo ‘’Fukesyú Syakuhachi ‘’ e ao mesmo tempo,
foi berço da música-primitiva da ‘’Meian-ryu’Syakuhachi ‘’, atribuindo as duas
letras extraídas do verso do Fuke. Foi assim que nasceram os termos sinônimos de
Fuke (nome do monge) e Meian (vocábulo extraído do verso).
A tradução da palavra Mei(寸) é clareza/luz do dia; Am (寸) é escuridão/a
noite.

[14] Fuke Syakuhachi (寸寸寸寸) e Guendai Syakuhachi (寸 寸 寸 )寸


O instrumento Syakuhachi que temos atualmente, também é tratado
como continuação de Fuke-Syakuhachi, porque é derivado de toda a trajetória dos
adeptos ligados ao único monge Fuke. Por estes aspectos, o Hótó-kokushi’’ é
chamado de pai do Syakuhachi no Japão. A estatueta dele encontra-se no atual
Meian-ji, Kyoto. O Syakuhachi que a estatueta retém (sopra), aparentemente é
feito de 3 noses, o Miyo-Guiri.
[Suizen寸寸寸]= culto de Zen-Budismo, praticantes de Zen-Budismo através
do sopro do Syakuhachi. Culto e ato atribuído para a ação e a história dos monges
- Fukesyú, citados no parágrafo 13.

[15] Honkyoku de Kinko-Ryu 寸 寸 寸e de Tozam-Ryu 寸 寸 寸


Quanto ao Honkyoku, deve-se destacar a diferença de Honkyoku, entre
Kinko-Ryu e de Tozam-Ryu: como é conhecido amplamente, o fundador de Kinko-
Ryu Kurossawa Kinko, apaixonado pelo instrumento Syakuhachi, inicialmente foi se
adquirindo das músicas do Komuso’ ainda em estatuto de Samurai, na província
de Fukuoka.
(Estatuto de Samurai: No período do Shogunato e governo Militar dos
Samurais, dentro da história do Japão, a sociedade e os cidadãos estavam
divididos em 4 categorias de povo/cidadãos: sendo a primeira categoria a de
estatuto de todos os Samurais; a segunda categoria a de estatuto de todos
agricultores; a terceira categoria a de estatuto dos Artistas em geral; e a última era

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a dos comerciantes, incluindo moradores da cidade. Os templos e monges eram
subordinados ao Ministério dos Templos.)
Obs.: O Syakuhachi era exclusividade dos monges Budistas durante todo o
período dos Samurais, com exceção dos Samurais que podiam tocar.
O Kurossawa Ko’hachi (寸 寸 寸 )寸(verdadeiro nome de Kinko antes de tornar-
se Kurossawa Kinko), desejando aprofundar a técnica e mais músicas, rumou para
Nagassaki onde havia um templo dos Fukesyú, o “Syoujukem 寸 寸 寸”
(posteriormente reconstruído com o nome de Kuki-ji) onde vivia o monge
chamado “I-kkeishi 寸 寸 寸”; lá aprendeu com ele 7 músicas, sendo:
Koden Sankyoku [Kyorei 寸 寸, Mukaiji 寸 寸 寸, Koku’寸寸’] e shikano To’ne 寸 寸 寸 ,寸Sanya
Sugagaki 寸 寸 寸 ,寸Namima Sugagaki 寸 寸 寸 ,寸Sayama Sugagaki 寸 寸 寸 .寸
(Segundo relato histórico, dentro do templo Kiku-ji, não se ouviam “as
orações” budistas dos monges habituais, mas ouviam-se sempre os sons do
instrumento chamado Suakuhachi, feito de bambú. Por esta razão podemos
considerar que o templo era mantido como sendo típico de “Fukesyu’”).
Tudo indica que ele aprendeu com facilidade, em pouco tempo. Depois
seguiu para Edo, antiga capital e atual Tokyo, e no subúrbio ele ocupou o lugar de
“Honssoku”, o Mestre de Syakuhachi dos Templos, chamado “Itiguetsu-Ji e de
Reihó-Ji”, que eram Templo-Matrizes de Meian-Ji da região Leste.
Abandonou o estatuto de Samurai e tornou-se estatuto de Komussó, para
poder viajar pelo país inteiro, (precisava de um tipo de Passaporte com anuência
do Ministério dos Templos para cruzar a fronteira de cada província) na tentativa
de conhecer/coletar músicas de Komussó, que estavam conservadas nos Templos-
Fukesyu. Estes templos de Komussó estavam localizados em várias províncias,
espalhados desde “Tsugaru” (atual província de Aomori, no nordeste do país,
localidade conhecida como terra de origem de “Tsugaru Nezassa Shirabe“), até
“Nagassaki”, na região de Kyu-Syu, sul do Japão.
Após sua viagem de pesquisa e de coleta, o mestre Kinko fez algumas
alterações e/ou arranjos em algumas músicas que coletou, conforme gosto dos
povos da região do Kantou, principalmente de “Edo” (atual Tokyo), que foram
chamadas de {Edo-kko 寸 寸 寸 寸 }. Como resultado deste trabalho, nasceu o
“Kinko-Ryu Honkyoku”.
No entanto, cabe salientar que, antes de tornar-se Honkyoku de Kinko-
Ryu, as músicas já eram “Honkyoku” dos monges, pertencentes a cada templo.
Portanto, mesmo que tenha ganhado o nome de “Kinko-Ryu Honkyoku”

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basicamente elas são derivadas do estilo musical “Honkyoku dos Monges”.
Ademais, os que aderiram a estas músicas/escola Kinko Ryu continuavam sendo
majoritariamente monges Komussó da região de Kanto’, no Leste do Japão.
A diferença de música entre os dois era: um lado mais voltado à “meditação –
templo - religiosidade - Zen Budismo”; e o outro, ”menos religiosidade - voltado
mais para a música” do Kinko Ryu; apesar de os apreciadores continuarem sendo
monges.
Desde aquele momento, nascia a era de coexistência de ‘’Meianryu Nato’’
dos monges tradicionais baseado no templo Meian-Ji de Kyoto, e os monges
progressistas de ‘’Kinko Ryu ‘’, da região Leste.
(Na época do fundador de Kinkoryu’, ainda tocava-se músicas baseadas no
Fukesyu’. No decorrer do segundo e terceiro Kinko, começaram a aparecer
arranjos com Koto e Syamissem).
Já o Honkyoku, de Tozan-Ryu, não teve a mesma história. Veja onde está a
diferença entre os dois.
O Kurossawa Kinko nasceu em 1710 e faleceu em 1771; portanto, ainda na
era medieval. Enquanto o fundador de Tozan-Ryu’ nasceu em 1876, 166 anos mais
tarde do que o mestre Kinko. Quando nasceu, já havia terminado era medieval
japonesa há 8 anos. Apesar de ele também ter se tornado monge com a mesma
finalidade, foi apenas por um ano e pouco.
Mas, para falar sobre Tozan Ryu’, deve se referir uma vez mais à província
de Nagassaki, onde o KinkoRyu’ havia buscado as bases da músicas. O Kondo’
So’etsu(寸 寸 寸 )寸nasceu em Nagassaki, em 1821. Já era conhecido no mundo do
Syakuhachi. Com 40 anos, ele seguiu para Kyoto, e no templo Meianji aprendeu,
com o mestre Ozaki Jinryu’, a escola que levava o nome de “Jinpo’ryu’. O Kondo’
tornou-se famoso por sua maneira de soprar, com o tremendo volume de som que
sobressaia. Além de Meianryu’, dedicou-se para aperfeiçoar com “Gaikyoku”, e
fundou a escola “So’etsu Ryu’”, que ficou muito popular na região de Kansai
(oeste). Ele teve um aluno-monge chamado “Komori Ryu’kichi”. O mestre Tozam,
ainda novo e desconhecido, foi aprender com este monge Komori Ryu’kichi, e
mais tarde, fundou a escola Tozanryu’.
Quando fundou a escola Tozam-Ryu em 1896, não havia mais
organização/seitas “Fukesyu”, pois ela havia sido extinta em 1871, pelo novo
governo de Era Meiji. A seita Fukesyu existira na época de Governo “ditadura
militar dos samurais”, e mesmo depois de ter deposto o último Shougun,

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elementos radicais do regime anterior resistiam e tentavam se esconder
principalmente nos templos Fukesyu’. Como consequência, causavam distúrbios
sociais, motivo esse que levou o novo governo a extinguir a seita.
O mestre Tozan, apesar de ter adquirido as técnicas de Jinporyu’ via
monge Komori Ryu’kichi, e através da vida de monge que ele quis fazer, não seguiu
caminho semelhante ao dos monges nem do Kinko-Ryu, ou seja, não seguiu o
estilo da música Honkyoku dos monges para suas composições. Deve-se
considerar que, com a chegada de Era Meiji, teve conhecimento da música
ocidental (mestre Tozan chegou a conhecer o violino), e fez composições
completamente diferentes, músicas próprias, sem ter laços musicais com os
monges. Intencional ou não, a composição dele não inspirou os sons do monge e
do templo, nem respiração.
Por esta razão, o {Honkyoku de Tozan-Ryu} não teria mesmo o significado
para os monges. A revolução estrutural e social japonesa sofrida nas décadas de
1860 – 70, que balançou o país inteiro, fez a mudança radical na vida e na cultura
social. Deve-se lembrar que o Miyagui Michio, que foi inovador histórico da
música de Koto, nasceu no ano de 1894 (dois anos depois da fundação da escola
Tozan-Ryu). O Tozanryu cresceu imensamente com a colaboração de {Sankyoku},
com a escola Miyagui de Koto, além de Honkyoku de Tozan. Abriu caminho para as
músicas serem apresentadas no palco, e não voltadas ao templo. Tornou-se o
maior grupo musical de Syakuhachi que continua até a presente data.
Naquela época, começou a ter a coexistência de três comunidades de
Syakuhachi, ie, Meian Ryu e seus derivados (incluiu-se Fukesyú), Kinko- Ryu e
Tozan Ryu.
Fim do primeiro capítulo.

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Pesquisa: por Akio Yamaoka
Revisão: Luciana Moraes

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