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Português – 8.º ano – 2.

º Semestre

Vais fazer uma REPORTAGEM — na rua, em casa e na aula

 Deves trazer os teus materiais para trabalhar em três aulas que serão oportunamente marcadas pelo teu
professor e que te permitirão fazer, aperfeiçoar e concluir o trabalho:
— ___/___/___ — prepara as perguntas
— ___/___/___ — traz os materiais que recolheste e elabora o teu trabalho (em texto, primeiro)
— ___/___/___ — mostra ao teu professor e aos teus colegas para obteres sugestões

 Podes apresentar a tua reportagem em diferentes formatos:


— texto (acompanhado de fotografias)
— vídeo
— podcast
— tens outra proposta? ____________

 Em qualquer dos casos, é essencial “ires para o campo”, fazeres perguntas e fazeres registo das respostas, por
escrito ou gravando o som, ou o som e a imagem (nestes casos, deves pedir autorização previamente).

 Deves entregar em formato digital, por correio eletrónico, até ao dia 20 de dezembro. Envia para
luis.lucas@efcastro.pt
 No corpo da mensagem, não te esqueças de saudar e dizer ao que vens;
 O texto deve ter uma página e meia (mínimo) a duas páginas (cerca de 700 a 1400 palavras), com
espaçamento 1,5 e tamanho de letra 12, não contando as imagens; o vídeo ou áudio deve ter 5 a 10
minutos;
 Deves ter um título e fazer espaço de parágrafo (ou deixar uma linha entre parágrafos).

 Qual deve ser o assunto da reportagem?

— Deves fazer uma reportagem com pessoas da tua família ou amigos sobre mudanças entre o século XX e o
século XXI, a todos os níveis que consideres interessantes (podem ser grandes mudanças ou pequenas mudanças).

— O teu trabalho pode debruçar-se sobre vários tópicos de mudança entre o século XX e o século XXI, mas uma
parte deste trabalho deve ser sobre a relação das pessoas com os contos tradicionais ou contos de fadas e com os
hábitos de leitura. Continuam a contar-se, agora, como antes, ou alguma coisa mudou neste aspeto?

— É importante que definas um tema que seja interessante para ti, sobre o qual vais fazer as perguntas:
uma linha condutora para a reportagem.

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 O trabalho será avaliado de acordo com os seguintes parâmetros:
 Interesse, criatividade e adequação ao estilo (da reportagem)
 Adequação às instruções do trabalho e estrutura do trabalho apresentado
(parte introdutória, desenvolvimento, reflexões finais)
 Desenvolvimento do(s) tema(s)
 Correção do texto (sintática e, dependendo do formato de apresentação,
expressiva ou ortográfica)
 Qualidade, variedade e adequação do vocabulário

Recomendações a ter em conta:


-- Procura outras reportagens (em texto, áudio e vídeo) para descobrires diferentes estilos, temas a abordagens
-- Mesmo que escolhas uma reportagem em áudio ou vídeo, escreve antes (em tópicos ou em texto corrido) aquilo
que vais dizer
______________

Além da reportagem que o teu manual te apresenta, vamos também ler e interpretar outra reportagem, a qual se
apresenta em seguida. Oportunamente, verás também uma reportagem televisiva e ouvirás uma reportagem
radiofónica.

Crise Climática

“Era tão bonito. Tinha o areal atrás e íamos brincar para as dunas. E o mar estava muito longe”

Reportagem
Patrícia Carvalho (texto)
Adriano Miranda (fotos)
Teresa Pacheco Miranda (vídeo — disponível em linha)

Maria Joaquina Oliveira tem 77 anos, Sónia Costa, 41, mas ambas, sem se ouvirem uma à outra, acabam a citar a
mesma frase: “Ele ainda tem de ir a Santa Maria da Feira buscar as conchinhas.” Ele é o mar, que se ouve mas não
se vê da casa de Sónia Costa, no Conjunto Habitacional da Praia de Esmoriz, em Ovar, para onde se mudou há quase
quatro anos. Antes morava numa das casas abarracadas construídas na primeira linha de costa, ali mesmo colada ao
5 mar, com a areia a servir de cenário e de chão. Depois, ela e os vizinhos foram informados que viver ali já não era
seguro, que o mar, que década após década se fora aproximando, podia agora reclamar o espaço a que chamavam
casa. Ela já o sabia, sentia-o a cada inverno. Saiu. Saíram 30 famílias. O ditado antigo que ela e a outra moradora da
zona citam revela que há muito se esperava a subida das águas e que ela não deverá ficar por aqui.
Na Universidade de Aveiro também há muito que se estuda o avanço do mar na costa portuguesa. E sabe-se que o
10 cenário não é animador. Já há sete anos que o investigador Carlos Coelho apresentou uma previsão da erosão da
linha de costa na zona de Aveiro, com base num algoritmo muito assente em balanços sedimentares, que indicava
que em 2040 praticamente não haverá praias na região. A cumprirem-se as previsões, entre Cortegaça e o Furadouro
quase todo o areal está condenado a desaparecer. Salva-se apenas uma pequena zona de areia entre a Torreira e São
Jacinto. Junte-se ao problema crónico da erosão costeira portuguesa a subida do nível das águas do mar, provocada
15 pelas alterações climáticas, e o futuro pode tornar-se bem mais complicado. O engenheiro civil sintetiza:
“Atualmente, eu diria que [a subida do nível do mar] pesa 10% no nosso problema. A tendência é que quando não
houver areia nenhuma e a linha de costa atingir um equilíbrio, esse peso seja mais significativo.”
O problema da erosão costeira pode ser difícil de resolver, mas explica-se com alguma facilidade, nesta zona a sul
do Douro. A costa, simplesmente, não está a receber a quantidade de areia que deveria. O problema começou com a
20 construção de barragens no rio, que fazem com que este não transporte tantos sedimentos ao longo do seu curso

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como fazia no passado. Sem barragens, chegava ao litoral “um milhão, um milhão e meio de metros cúbicos por ano
de sedimentos”, que as ondas distribuíam ao longo da costa, mas hoje isso já não acontece. Junte-se a construção de
estruturas de defesa da linha costeira (como pontões ou molhes) e atingimos a situação que se vive hoje. “O balanço
sedimentar é negativo. Quando intervimos com uma obra de defesa costeira, não estamos a colocar areia no sistema,
25 o balanço continua a ser negativo no global. Podemos é transferir o problema de um sítio para o outro, e o que
fizemos foi isso”, explica o engenheiro civil da Universidade de Aveiro.
Uma hora a pé para chegar ao mar
Em Esmoriz, não são necessários algoritmos para constatar as mudanças. Basta perguntar a Maria Joaquina de
Oliveira, que repousa à sombra de um guarda-sol, depois de uma vida inteira de trabalho ligado à pesca. Olhando na
30 direção do paredão de pedra construído ao longo da marginal, para tentar travar o avanço desenfreado do mar, ela
recorda: “Era uma hora a pé para chegar ao mar, a partir dali das rochas. Tínhamos os nossos barcos lá ao fundo. E
esteios, tudo ali. Depois, o mar cresceu, cresceu, cresceu.”
David Ferrão, 88 anos, que se autointitula o mais antigo pescador da zona, diz o mesmo por outras palavras. “O mar
estava distanciado daqui, para não mentir, mais de dois quilómetros. Nem tinham feito os paredões nem nada.
35 Quando vim para aqui, não havia sequer um palheiro, nem uma casa.”
Com os pés inchados descalços e o corpo pesado encostado à parede, o velho pescador continua a morar no mesmo
local que ocupou há décadas, quando à volta eram só caminhos de areia. Quando foi contactado pela Câmara de
Ovar para abandonar o local e se mudar para as casas novas construídas poucas centenas de metros mais para o
interior, recusou-se. Há demasiada história à volta daquela casa encostada às dunas que mandou construir,
40 transformando-a de um barraco de madeira numa habitação de pedra sólida. Foi ali que lhe nasceram os quatro
filhos e viveu com as duas mulheres, ambas já falecidas. E, além disso, garante: “O mar aqui nunca chegou. Invadiu
tudo por aí fora, mas aqui nunca chegou.”
A necessidade de demolir casas e outros edifícios junto à linha de costa, por uma questão de segurança, é uma
realidade que atravessa todo o território. O Plano de Ação Litoral XXI, da Agência Portuguesa do Ambiente (APA),
45 lista todas as operações previstas até 2030. Algumas, como a retirada de construções da ilha da Culatra, em Faro, já
são dadas como “concluídas”. A demolição das casas do Bairro dos Pescadores, em Ovar, apresenta-se como
estando em “desenvolvimento”, com conclusão prevista para 2019.
E o mesmo se pode dizer em relação ao futuro da costa portuguesa. No essencial, “há três abordagens principais para
fazer face ao problema da erosão costeira e da falta de sedimentos no litoral”, explica Carlos Coelho. Uma é a
50 construção de estruturas de defesa ao longo da costa, a outra a alimentação artificial das praias com areia e a outra a
relocalização de infraestruturas que se encontrem em locais ameaçados pelo mar. “Nenhuma é ideal, têm todas
aspetos melhores e menos bons e a intervenção a fazer passa muito pelo balanço entre custo e benefício, numa
perspetiva que deve ser pensada a médio, longo prazo. Vamos supor, daqui a 20 nos, quanto custa manter a frente
urbana de Cortegaça? Quanta pedra temos de colocar e qual é o retorno que temos?”, exemplifica.
55 As linhas de ação para “o aumento da resiliência e proteção costeira em zonas de risco elevado de erosão e do
galgamento e inundação”, previstas no Programa de Ação para a Adaptação às Alterações Climáticas (P-3AC),
aprovado em Agosto no Conselho de Ministros, contam com uma disponibilidade financeira de 46,7 milhões de
euros, até 2020.
Ao nível das alterações climáticas, estas linhas de ação pretendem responder ao aumento da frequência de
60 intensidade de eventos de precipitação extrema, que provoquem galgamento e erosão costeira e à subida do nível das
águas do mar. Porque, refere o investigador Carlos Coelho, embora se associe muito este último parâmetro às
alterações climáticas, quando falamos do mar, ele está longe de ser o único a ter em conta. “Pode haver uma
alteração da frequência de tempestades ou uma alteração dos rumos de proveniência das ondas. A agitação pode
passar a incidir numa orientação rodada ligeiramente mais a norte, que pode levar a que a linha de costa tenda para
65 um equilíbrio diferente do que é hoje”, refere.
Possibilidades que constam do mais recente relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas
(entidade científico-política criada no âmbito das Nações Unidas), e que indicam também que as projeções mais
gravosas para Portugal apontam para um aumento de temperatura de mais 5ºC até 2100. Dias mais quentes, aumento
do número de noites tropicais, ondas de calor mais longas e frequentes, menos precipitação, mas com aumento de

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70 episódios de precipitação extrema, a propagação de novas doenças transmitidas por vetores associados a outras
regiões do globo são outras realidades para as quais temos de estar preparados e que, em muitas situações, já se
manifestam, alerta o documento.
Em Esmoriz não é preciso ter a memória de um velho para saber que tudo é já muito diferente do que era há poucos
anos. Sónia Costa exibe um sorriso quando recorda como era a marginal na sua infância. “Era tão bonito. Tinha o
75 areal atrás e íamos brincar para as dunas. E o mar estava muito longe”, diz. Depois, nos anos antes de mudar de casa,
tudo mudou. “Era muito perigoso”, refere. “No Verão era muito bonito. No Inverno era assustador, porque
acordávamos com os bombeiros a baterem-nos à porta, quando a maré estava muito alta e a galgar para a rua.”
David Ferrão não tem medo. Garante que dali não sai e que o único sítio para onde iria, se os joelhos deixassem, era
de volta para o mar. Como as pernas não deixam, limita-se a permanecer na sua casa, que devia ser demolida, a
80 ouvir o som das ondas, para lá das dunas que têm mantido a água ao largo, mas que também não o deixam ver
aquele que foi a presença mais constante ao longo de toda a sua vida.

Disponível em https://www.publico.pt/2019/09/16/sociedade/reportagem/tao-bonito-areal-atras-iamos-brincar-
dunas-mar-longe-1886599 [consultado em 2019-10-28], adaptado
Esta reportagem integra o projecto Covering Climate Now, uma colaboração global de mais de 250 organizações
de media para fortalecer e dar profundidade à cobertura da crise climática.

Responde às perguntas sobre o texto:

1. Explicita o tema da reportagem.

2. Diz que aspetos, relacionados com o tema da reportagem. é que as duas entrevistadas mencionadas no primeiro
parágrafo têm em comum.

3. Indica quais são os perigos para a zona costeira portuguesa referidos nos dois primeiros parágrafos.

4. Explica a referência a Santa Maria da Feira (se for necessário, faz uma pesquisa sobre esta localidade).

5. Ao longo do texto, apresentam-se dados factuais para sustentar a história da reportagem. Apresenta dois exemplos
desses dados.

Em pares, prepara mais 3 perguntas sobre o resto do texto, para fazeres depois aos teus colegas:

6.

7.

8.

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