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CANAIS DE ADUÇÃO PARA GERAR ENERGIA:


UMA EXPERIÊNCIA COM O USO DA GEOMEMBRANA

PCHNotícias&SHPNews
Publisher: Acta Editora/CERPCH CANAIS DE ADUÇÃO PARA GERAR ENERGIA:
DOI:10.14268/pchn.2017.00069
ISSN: 1676-0220 UMA EXPERIÊNCIA COM O USODA GEOMEMBRANA
Subject Collection: Engineering
Subject: Engineering, measurement

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Bruno Alexandre de Oliveira;

RESUMO

O corrente artigo traz conhecimentos práticos hidráulico, geotécnico e estudo econômico aplicados ao uso da geomembrana concatenado
com canais de adução para gerar energia. Um estudo teórico é proposto fundamentado na comparação de alternativa de uso de material
concorrente à geomembrana quando analisadas as propriedades dos respectivos coeficientes de rugosidade e condutividade hidráulica.
Quanto a análise do coeficiente de rugosidade, é feita por Standard Step Method via modelo de Manning-Strickler. Alusiva a condutividade
hidráulica, examinados e aplicados foram os resultados ad hoc de ensaio denominado Razão de Transmissão de Vapor d’água via pesquisa
bibliográfica. Os elementos embasam um estudo econômico que, após análises dos resultados, leva ao projetista em se inclinar ou declinar
na decisão de revestir o canal de adução para gerar energia. É apresentada uma experiência com uso da geomembrana utilizada como
alternativa para o revestimento de um canal componente do circuito hidráulico de uma PCH no interior de Santa Catarina, sul do Brasil.

PALAVRA-CHAVE: Centrais hidrelétricas. Canal de adução. Revestimento com geomembrana.

ADDUCTION CHANNELS TO GENERATE ENERGY:


AN EXPERIENCE WITH THE USE OF THE GEOMEMBRANE

ABSTRACT
Abstract – The current paper brings practical knowledge of hydraulic, geotechnical and economic study applied to the use of
geomembrane concatenated with adduction channels to generate energy. A theoretical study is proposed based on the comparison of
alternative use of competing material to the geomembrane when analyzing the properties of the respective coefficients of roughness
and hydraulic conductivity. As for the analysis of the roughness coefficient, it is made by Standard Step Method via Manning-Strickler
model. Allusive to hydraulic conductivity, examined and applied were the ad hoc test results called Water vapor transmission ratio via
bibliographic research. The elements are based on an economic study that, after analysis of the results, leads the designer to lean or
decline in the decision of coating the adduction channel to generate energy. Is presented an experiment using the geomembrane used as
an alternative for the coating of a component channel of the hydraulic circuit of a SHP in the interior of Santa Catarina, southern Brazil.

Keywords: Hydroelectric plants. Adduction channel. Coating with geomembrane.

1. INTRODUÇÃO Canal de adução é um típico componente hidráulico corrente


em sistemas de adução em baixa pressão de arranjos em usinas
hidrelétricas dos tipos de desvio e o de derivação. Em MME (2007)
menciona que esta estrutura é utilizada para aproveitamentos
com baixa depleção do reservatório combinada com suave
topografia; é dimensionada para vazão turbinada total máxima de
projeto associada ao nível mínimo normal do reservatório. MME
(2000) informa que o canal de adução comumente apresenta
seção transversal trapezoidal peculiares em rocha, em solo, sem
revestimentos, exemplificado na FIGURA 1, ou com, conforme
apresentado na FIGURA 2.
Em particular para o caso de ocorrência em solo, as surpresas
Fig. 1: Trecho de canal em solo sem revestimento. - Fonte: Acervo pessoal. geológicas podem acarretar, combinadas ou não, erosões e
percolações. Para evitar estes fenômenos, conforme MME (2007),
utiliza o artifício de revestir canais, assim preenche as necessidades,
que são suas funções básicas: reduzir fugas de água e efeitos
erosivos, embutido permite aumento da velocidade de escoamento,
isto possibilita o encolhimento da área de seção transversal do canal.
Relativamente às mitigações das percolações de canais em
solo, habitualmente são revestidos por geomembranas de PEAD
(Polietileno de Alta Densidade), a ser tratada neste artigo, prática
recorrente devido aos benefícios agregados para a geração de
energia, ou seja, revestir canais com geomembranas pode trazer
benefícios importantes. Isto implica reduzir a: perda de carga por
Fig. 2: Trecho de canal em solo com revestimento. - Fonte: Acervo pessoal. atrito e a permeabilidade.

Estratégia Projetos e Gerenciamento de Obras – bruolive@gmail.com


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A análise da perda de carga nos canais de adução, orienta 2007 como o ano base, válidos para engolimento máximo e total de
Eletrobrás (2003), é feita pelo método das diferenças finitas turbinamento das vazões na casa de força no seguinte intervalo: 50
“Standard Step Method” via modelo de Manning-Strickler, ≤ Qt ≤ 1000. A seguir são reproduzidos estes modelos:
conforme segue: Para canal escavado em solo com revestimento em concreto:
hf = L . [(n.V/R2/3)]2 (1) CCESRC = -0,0096 . Qt2 + 37,091 . Qt + 10076 (2)
Em que: Em que:
hf Perda de carga no canal, em m CCESRC Custo do canal escavado em solo com revestimento em
L Comprimento do canal, em m concreto, em R$ (1000 R$/m)
n Coeficiente de rugosidade, consultado via QUADRO 1 Qt Engolimento máximo e total de turbinamento das
V Velocidade média na seção de interesse, em m/s vazões na casa de força, em m3/s
R Raio hidráulico, razão entre a área molhada, em m2 e o Para canal escavado em rocha sem revestimento:
perímetro molhado, em m
CCERSR = 26,33 . Qt + 1263,8 (3)
[Quadro 1]: Coeficiente de rugosidade de Manning, “n” Em que:
CCERSR Custo do canal escavado em rocha sem revestimento,
Tipo de Superfície n em R$ (1000 R$/m)
Qt Engolimento máximo e total de turbinamento das
Plástico, vidro ou lucite 0,010
vazões na casa de força, em m3/s
Madeira ou concreto acabado 0,013 Para canal escavado em solo e rocha sem revestimento:
Concreto não-acabado, tijolo, concreto ou ferro 0,015
CCESRSR = 20,141 . Qt - 300,62 (4)
Tubo de aço rebitado ou espiral 0,017
Em que:
Canal em solo liso e uniforme 0,022 CCESRSR Custo do canal escavado em solo e rocha sem
Canais e rios sem pedras grandes e sem muita vegetação 0,025 revestimento, em R$ (1000 R$/m)
Qt Engolimento máximo e total de turbinamento das
Canais e rios com muitas pedras e vegetação 0,035
vazões na casa de força, em m3/s
Fonte: KOERNER (1999).
Para canal escavado em solo sem revestimento:
Relativamente ao exame da permeabilidade, avalição é
feita mediante conhecimento do coeficiente de condutividade CCESSR = 10,698 . Qt + 513,5 (5)
hidráulica (conhecido também por coeficiente de migração ou Em que:
permeabilidade) proveniente de resultados de ensaios utilizando CCESSR Custo do canal escavado em solo sem revestimento,
métodos baseados na lei da difusão. O ensaio é denominado Razão em R$ (1000 R$/m)
de Transmissão de Vapor d`água (WVT – sigla internacional) e Qt Engolimento máximo e total de turbinamento das
realizado de acordo com a ASTM E96. Este coeficiente pode ser vazões na casa de força, em m3/s
compulsado no QUADRO 2. (PINTO, 2002), (MARÇAL, 2012). Adicionalmente ao assunto custo da estrutura, para um
orçamento ainda mais próximo, sugerido o QUADRO 3 para
[Quadro 2]: Coeficiente de condutividade hidráulica associado
preenchimento dos itens vinculados ao canal de adução,
ao tipo de superfície
devendo, a cada alternativa projetada, elaborada uma versão
associada a ela. Este quadro se trata de um extrato similar do
Coeficiente de Condutividade OPE (Orçamento Padrão Eletrobrás). Quanto ao valor presente
Tipo de Superfície
Hidráulica da energia perdida combinada com a proposta de alternativa
Geomembrana de PEAD 10-12 cm/s projetada, e servindo exclusivamente para efeito de análises
preliminares das alternativas propostas, pode ser utilizado o
Argila 10-9 cm/s
seguinte modelo, baseado em MME (2007):
Silte 10-6 - 10-9 cm/s
Ep = (Q . hf . 0,0088) . TME . VE . h (6)
Areia argilosa 10-7 cm/s
Em que:
Areia fina 10-5 cm/s
Ep Valor presente da energia perdida, em R$
Areia média 10-4 cm/s Q Descarga líquida média turbinada, em m3/s
Areia grossa 10-2 cm/s hf Perda de carga no canal, em m
Fonte: PINTO (2002).
TME Tarifa média anual de energia, em R$/MWh
Estas análises podem significar em reduzir volumes de VE Vida econômica da usina, em anos
escavações, tratamentos e serviços correlatos combinado com h Número de horas no ano, em geral assumido 8.760 horas
aumento da geração de energia, quando decidido em revestir Como exemplo típico para realizar análises de alternativas,
o canal com geomembrana de PEAD. Desta forma, chega-se é desenvolvido um sistema cartesiano ortogonal em que a
ao princípio fundamental do dimensionamento de um canal de abscissa é considerada pelas alternativas projetadas e a ordenada
adução para gerar energia, conforme Eletrobrás (2003): corresponde a soma dos custos associados a cada alternativa. O
gráfico apresentado na FIGURA 3 mostra típicos resultados de “N”
“O dimensionamento do canal de adução será alternativas de canais de adução propostas para às análises. A partir
feito com base em um estudo econômico objetivando das combinações dos custos da estrutura e dos valores presentes
a minimização da soma do custo da estrutura e do da energia perdida é que se pode tirar conclusões para definir a
valor presente da energia perdida.” alternativa a ser selecionada para o projeto: que para o exemplo é
Em relação ao custo da estrutura, Oliveira (2015) apresenta a alternativa “N”, pois a soma dos custos da estrutura combinada
modelos para estas estimativas, adaptados de MME (2007), tomado com a da energia perdida é a menor dentre as demais alternativas.

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[Quadro 3]: Coeficiente de condutividade hidráulica associado 2.1 Seleção da Alternativa de Canal Sem o Revestimento
ao tipo de superfície Com Geomembrana de PEAD

Com as alternativas de projeto de um determinado canal de


adução sem o revestimento com geomembrana de PEAD plotadas
em gráfico similar ao apresentado na FIGURA 3, seleciona-se a
que tiver a menor soma de custos combinados da estrutura com
a energia perdida. O item 1.Introdução mostra em detalhe como
são obtidos estes custos.

2.2 Custo do Canal Sem o Revestimento Com Geomembrana


de PEAD

Mencionado anteriormente, obtêm-se o custo da estrutura


sem o revestimento com a geomembrana de PEAD, plotando em
gráfico conforme ao apresentado na FIGURA 3.

2.3 Custo da Energia Perdida do Canal Sem o Revestimento


Com a Geomembrana de PEAD

Nesta etapa é anotado o custo da energia perdida do canal


Fonte: Adaptado de Orçamento Padrão Eletrobrás. sem o revestimento com a geomembrana de PEAD e combinada
com a respectiva alternativa selecionada, incluída esta informação
no mesmo gráfico mencionado na etapa anterior.

2.4 Soma dos Custos Para o Canal Sem o Revestimento


Com Geomembrana de PEAD

Nesta etapa é visualizado no gráfico o custo da estrutura


combinada com o custo da energia perdida para o canal sem o
revestimento com a geomembrana de PEAD.

2.5 Custo do Canal Revestido Com Geomembrana de PEAD

Para a mesma alternativa selecionada, gera uma nova versão


desta e inclui, no custo da alternativa, os custos referente a
geomembrana de PEAD necessária para revestir o canal e plota
Fig. 3: Gráfico das alternativas associadas com a soma dos custos da
estrutura e da energia perdida. Fonte: O autor (2017). no gráfico. O que será obtido é um custo superior a alternativa
selecionada inicialmente.
2. MATERIAL E MÉTODOS 2.6 Custo da Energia Perdida Com o Canal Revestido Com
O estudo teórico proposto é abordado neste item, o qual será Geomembrana de PEAD
mostrado a sistemática utilizada para às análises, e apresentado Nesta etapa é calculada o custo da energia perdida com o canal
via FIGURA 4. Os dados são para uso exclusivamente didático revestido com a geomembrana de PEAD, conforme orientações
visando comprovar a aplicabilidade do método. Para uma melhor no item 1. Introdução. Combina este custo obtido com o custo
compreensão do processo de decisão de revestir ou não um da estrutura resultado do canal revestido com a geomembrana
canal de adução para gerar energia com geomembrana de PEAD, de PEAD e plota no gráfico similar ao apresentado na FIGURA 3.
divide-se a metodologia em um conjunto de 16 etapas, conforme
2.7 Comparar a Soma dos Custos Para o Canal Sem e Com
detalhado a seguir.
Revestimento Com Geomembrana de PEAD

Finalmente, após os cálculos feitos dos custos da estrutura


combinada com a da energia perdida, compara a soma para
cada alternativa, a sem e com o revestimento de geomembrana
de PEAD. Caso a alternativa com o revestimento tiver a soma
superior a alternativa sem ele, segue para a etapa 8, executa
ela sem o revestimento e o método é concluído na etapa
9. Caso contrário seguir, tomando por referencia que estão
concluídas as especificações, desenhos básicos e executivos,
sem aqui se limitar, inicia-se a obra para a instalação conforme
as etapas executivas apresentadas, em paralelo, 10, 11 e 12,
respectivamente denominadas por cotação e definição dos
possíveis fornecedores, preparação das superfícies e execuções
das ancoragens. Em seguida passa-se para as etapas 13 e 14,
feitas a recepção e armazenagem além da instalação, esta
etapa realizada simultaneamente com a etapa 15, que se trata
dos ensaios não-destrutivos e destrutivos necessários para a
verificação da estanqueidade global da obra que devem ser feitos
Fig. 4: Fluxograma da metodologia proposta neste artigo. Fonte: O autor em conjunto. Por fim passa-se para a etapa 16 marcada pela
(2017). conclusão da obra.

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2.8 Executar a Alternativa de Canal Sem o Revestimento 30cm conforme apresentado. Importante é manter o material
Com Geomembrana de PEAD, se a Soma dos Custos da escavado da canaleta ao lado para facilitar o posterior reaterros
Estrutura e da Energia Perdida Resultar Menor Quando dela quando concluída a obra. A ancoragem a ser feita no concreto
Comparada no Caso do Canal ser Revestido é comentada na etapa 15.

Etapa marcada caso a alternativa com o revestimento com a 2.13 Recepção e Armazenagem
geomembrana de PEAD tiver a soma superior a alternativa sem
Nesta etapa é feita a checagem dos produtos e se
ele. Executa a alternativa sem o revestimento.
estão conforme o estabelecido no pedido, além de estarem
2.9 Fim Deste Método Quando a Alternativa Selecionada acompanhados de seus certificados de qualidade. Ainda no
Sem o Revestimento com Geomembrana de PEAD meio de transporte dos materiais, são realizadas as inspeções
Apresentar a Soma dos Custos da Estrutura e da Energia visuais externa aos produtos e suas verificações concomitante de
Perdida For Menor Quando Comparada Com a Alternativa ausências de perfurações, bolhas, cortes e rachaduras.
Revestida Descarregamentos destes materiais devem ser feitos via
equipamentos adequados e tipicamente são utilizados o caminhão
O método é concluído nesta etapa quando executada a
“munck”, empilhadeiras e até pá-carregadeira.
alternativa sem o revestimento com geomembrana de PEAD.
Para movimentações das geomembranas vedado os usos de
2.10 Cotação e Definição dos Possíveis Fornecedores cabos e cintas metálicas, isolados ou simultâneos. Importante
também ressaltar é quanto a superfície de armazenagem: deve
Nesta etapa, para uma precisa cotação e definição dos possíveis
ser plana, lisa, livre de pedras e materiais pontiagudos, afastados
fornecedores, necessário é levantar as informações disponíveis da
de agentes químicos e fontes de calor. Quanto ao empilhamento
alternativa de projeto do canal a ser revestido com geomembrana
seguir recomendações do fabricante, caso não as tenha, a IGS
de PEAD, dentre as informações relevantes se destacam as
(Associação Internacional de Geossintéticos) recomenda em no
especificações, desenhos, croquis e principalmente condições de
máximo três linhas de bobinas.
campo via imagens e visitas em campo feito por estes possíveis
fornecedores, para validação das condições apresentadas. 2.14 Instalação

2.11 Preparação das Superfícies Esta etapa é iniciada com a abertura das bobinas, recortes
dos painéis e respectivos posicionamentos na obra, de acordo
Esta etapa requer que a superfície que servirá de apoio
com sua numeração e sequencia prevista no projeto executivo.
da geomembrana deva estar isenta de quaisquer tipos de
Devem ser previstas ancoragens temporárias para que os painéis
interferências que venha a contribuir com uma possível ruptura
não levantarem devido a possível ocorrência do vento. Para as
por puncionamento que normalmente ocorre devido a dois
emendas entre os painéis, necessário é realizar traspasse de no
mecanismos: puncionamento das zonas 1 e 2 mostrados no
mínimo 10cm além de estarem limpos e isentos de umidade.
croqui apresentado na FIGURA 5.
Basicamente há os tipos de solda por termo-fusão (traspasse de
no mínimo de 10cm) via cunha quente dupla e os de extrusão
(traspasse de no mínimo de 7,5cm) por aporte do mesmo material
da geomembrana de PEAD precedida pelo tipo de solda por ar
quente. Estes tipos pode ser observado pelo croqui apresentado
na FIGURA 7.

Fig. 5: Mecanismos de deformação - Fonte: SPARGUE & FROBEL (1990).

2.12 Execução das Ancoragens

Fig. 7: Diferentes técnicas de emendas dos painéis - Fonte: KOERNER


Fig. 6: A ancoragem no topo do talude executada - Fonte: Acervo pessoal. (1998).

A etapa 12 se trata da execução das ancoragens, que são Antes de iniciar as soldas, deve-se calibrar a máquina: esta
canaletas feitas, conforme apresentado na FIGURA 6, distância calibragem deve ser feita quando iniciar os trabalhos, na manhã
de 60cm da borda do talude e de geometria quadrada de lado e à tarde, também quando houver mudanças climáticas.

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Os testes devem ser feitos em dois corpos de provas de 1,00m Ensaio também não-destrutivo é o do tipo “Spark test”, que serve
de comprimento por 0,30m de largura. Devem ser ensaiados para para verificar descontinuidades em painéis. Via fonte de energia
verificar suas resistências ao cisalhamento e ao descolamento via de baixa amperagem e alta tensão (de 20 a 100 kV) vinculados
tensiômetros. Para aferir se a resistência da solda permanece por um fio e uma haste acoplada na ponta a uma escova ou barra
intacta é feito um teste é denominado FTB (Film Tear Bond), em metálica, o painel da geomembrana é examinado paulatinamente,
que a geomembrana rompe antes da solda. e como a geomembrana funciona como um isolante, quaisquer
A FIGURA 8 mostra a execução de solda entre painéis, solda descontinuidades é detectada por uma faísca acompanhada de
esta do tipo termo-fusão por cunha quente dupla. No croqui sinal sonoro, indicando o local onde deve haver o reparo. Ensaios
apresentado na FIGURA 9 é apresentada a ancoragem da destrutivos avalia (estatisticamente 5 corpos de prova de 2,54cm
geomembrana no concreto. Neste existe um inserto embutido feito de largura por 15,00cm de comprimento) a qualidade da solda
do mesmo material da geomembrana, o PEAD, e soldados entre si quanto as resistências ao cisalhamento e ao descolamento.
via solda do tipo extrusão precedida de solda por ar quente. Como pode ser observado na FIGURA 11, para o cisalhamento,
uma força se desloca para o lado esquerdo, tenciona a parte
superior da solda, uma outra força inversa tenciona a parte inferior.
Para o descolamento, uma força puxa para cima a parte superior
e, inverso, uma outra força puxa para baixo a parte inferior, no
sentido de induzir literalmente o descolamento da solda.
Para o ensaio de cisalhamento, o critério aceito é que 4
corpos de prova tenham resultados iguais ou superiores a 95%
da tensão de escoamento da geomembrana; e 1 corpo de prova
deve apresentar no mínimo 80% do valor de cada um daqueles
4 corpos de provas.
Analogamente é feita análise para o ensaio de descolamento,
porém, os 4 corpos de provas devem apresentar 62% da tensão
de escoamento da geomembrana.

[Quadro 4]: Parâmetros do ensaio não-destrutivo de


pressurização

PEAD lisas e texturizadas Espessura (mm)

Fig. 8: Execução da solda - Fonte: Acervo pessoal. Pressão (kPa) 1,00 1,50 2,00 2,50
Mínima 165 185 205 205
Máxima 205 205 205 205
Queda Máxima durante 5 minutos 28 21 14 14
Fonte: IGS BRASIL (2003).

Fig. 9: Detalhe típico de ancoragem em concreto - Fonte: IGS BRASIL


(2003).

2.15 Ensaios Não-destrutivos e Destrutivos

Nesta etapa visa verificar a estanqueidade global mediante


realização de ensaios nãodestrutivos e destrutivos. Para os
ensaios não-destrutivos, existe o do tipo vácuo, que avalia as
Fig. 10: Ensaio do tipo pressurização - Fonte: Maccaferri do Brasil.
soldas feitas por extrusão. Com a solda previamente molhada
por água e sabão, é colocada uma caixa transparente vedada e
submetida a pressão de sucção de 20 kPa durante 10s.
Reparos serão necessários na solda se houver formação
de bolhas. Outro ensaio nãodestrutivo feito para avaliar a
estanqueidade da solda é o do tipo pressurização, este feito nas
soldas por cunha quente dupla. No espaço livre entre as soldas
com as extremidades seladas, pressuriza, conforme pode ser
visto na FIGURA 10, A 205 kPa e aguarda 2 minutos. A pressão
é estabilizada. Faz-se a leitura e aguarda 5 minutos. Lê-se e
compara o resultado no QUADRO 4. A solda é aceita quando a Fig. 11: Corpos de provas submetidos a ensaios de Cisalhamento e
queda de pressão durante os 5 minutos estiver dentro do limite. Descolamento - Fonte: O autor (2017).

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2.16 Conclusão da Obra imprevistos encontrados, mencionados anteriormente, ao longo


do canal, foi adotada como alternativa o uso da geomembrana de
Por fim, caso o controle de qualidade aceitável quando
PEAD, desta forma, estava utilizando a função primária deste tipo
realizados os ensaios nãodestrutivos e destrutivos para verificação
de material: que é de conter fluidos devido a baixa permeabilidade
da estanqueidade global, é concluída a obra como apresentado
dele, atuando como barreira relativamente impermeável. A
na FIGURA 12.
FIGURA 14 mostra a obra concluída apresentando a transição
entre o canal revestido e a estrutura de concreto.

Fig. 12: Revestimento concluído - Fonte: Acervo pessoal. Fig. 14: Trecho do canal em solo revestido mostrando a transição em
concreto - Fonte: Acervo pessoal.

3. ESTUDO DE CASO As características das geomembranas de PEAD são: trata-se


de um produto bidimensional, são mantas contínuas e flexíveis,
A usina hidrelétrica Rio Tigre, arranjo do tipo de desvio, composto por asfaltos, elastômeros, plastômeros que lhes
implantada no oeste catarinense, sul do Brasil, foi construída confere o efeito da baixa permeabilidade e de conter também
em 1965 para atender à demanda energética de Chapecó-SC e em sua composição o negro de fumo para aumentar o valor
adjacências. Foi desativada no início dos anos 2000 para que o da densidade total assim elevando sua resistência à radiação
antigo sistema de baixa pressão, formada por uma tubulação de ultravioleta. O negro de fumo é um material produzido pela
madeira, fosse substituído, inicialmente, em sua composição, por combustão incompleta de derivados de petróleo.
canal em solo não revestido. Concluída a obra, com o canal cheio, Possuem aplicações geotécnicas e em construções em contato
inspeções feitas paralelas ao longo dele, revelaram aumento direto com o solo e demais materiais, por exemplo, fluidos, gases
de percolações. Essas revelações levaram a decidir na ação de ou vapores. Apresenta boas resistências mecânicas, químicas,
esvaziá-lo para exame visual interno superficial. ao intemperismo e possui soldabilidade. Apesar de possui boas
O canal em solo é do tipo seção trapezoidal mista corte na resistências mecânicas, que dependendo da espessura, chega a
margem esquerda e aterro na margem direita e na seção de cerca de 30 kN/m a resistência à tração no escoamento deste
corte foram descobertos orifícios aleatório imprevistos de 0,20m material, não pode ser projetado como elemento estrutural.
a 0,40m de diâmetro, similares aos mostrados na FIGURA 13. A Apresenta também baixo custo, facilidade e rapidez na
teoria mais aceita para este imprevisto é de que estes orifícios instalação quando comparado com materiais concorrentes.
são resultados da decomposição de raízes profundas da floresta Produzidos nas espessuras de 0,5mm a 2,5mm por extrusão e
nativa local, suprimida para dar lugar a pasto inicialmente, e são apresentadas por bobinas, de 5,90m de largura e de 50,00m
posteriormente a área serviu para cultivo de grãos, que por sua a 200,00m de comprimento.
vez foi destinada para a construção deste canal. São empregadas para contenção de fluidos e gases além de
também possuir a função na separação de camadas de solo,
simultaneamente ou não; em barragens, reservatórios e canais,
túneis e estruturas subterrâneas, em áreas de disposição de
resíduos líquidos e sólidos além da infraestrutura de transportes.
As aplicações mais usuais das geomembranas, durante sua vida
útil, são cobertas, e não cobertas. Quando não estão cobertas,
ou seja, expostas, as geomembranas estão susceptíveis às
intempéries, em especial à radiação ultravioleta, isto acarreta
degradação fotoquímica e oxidação térmica, ou combinação
destes fatores, o que leva a reduzir o seu tempo de vida útil,
embora os reparos, quando necessários, são feitos facilmente
quando comparados em aplicações cobertas. Já as cobertas
possui a desvantagem de estarem sujeitas a danos causados
pelos materiais sobrejacentes durante sua instalação.
Fig. 13: Orifícios encontrados e a seção típica transversal do canal - Fonte:
Acervo pessoal. Para efeito de comparação, caso viesse a optar por tamponar
os orifícios com camada de argila ao longo do canal em substituição
ao uso da geomembrana de PEAD com a espessura de 1,00mm,
3.1 A Tomada de Decisão em Revestir o Canal Com a
seria necessário, conforme aponta os cálculos a seguir, 1,0m
Geomembrana de PEAD
de espessura. Tempo de permeabilidade da Geomembrana de
Evidente que o fator prejudicado na geração da energia é 1,00mm = (0,1cm . 1s)/10-12cm = 1011s. Espessura necessária
a vazão, assim haveria receita da usina inferior ao previsto. de argila equivalente ao tempo de 1011s=1011s . 10-9cm =
Para prevenir ou reduzir o fluxo através dos orifícios aleatórios 100cm.

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Ou seja, 1,0m de espessura de argila compactada corresponde 5. REFERÊNCIAS


a geomembrana de PEAD com espessura de 1,0mm. Por Standard
• ELETROBRÁS. (2003). Critérios de Projeto Civil de Usinas
Step Method, via Manning-Strickler, a razão entre a perda de
Hidrelétricas.
carga contínua por atrito para canais escavados em argila não
• IGS BRASIL, (2003). Recomendações da Associação Brasileira
revestidos e revestidos é de: hf = L . (n.V/R2/3)2 = 0,0222 / 0,0102
de Geossintéticos.
= 4,84. Em outras palavras, utilizando o método das diferenças
• KOURNER, R.M. (1999). Designing With Geosynthetics.
finitas via equação de Manning-Strickler resulta em perda relativa
Prentice Hall.
de 4,84 para 1.
• MARÇAL, R. (2012). Avaliação da Permeabilidade em
Geomembranas de Polietileno de Alta Densidade (PEAD).
4. CONCLUSÃO Dissertação de Mestrado Apresentada à Faculdade de
Este artigo propôs um estudo teórico mediante a apresentação Engenharia -
de uma metodologia para indicar na decisão em se inclinar ou • UNESP – Campus de Ilha Solteira.
declinar na alternativa de revestir com geomembrana de PEAD • MME (2000). Diretrizes Para Estudos e Projetos de Pequenas
um canal de adução para gerar energia, em particular os canais Centrais Hidrelétricas.
em solo. O resultado encontrado no estudo de caso aponta que • MME (2007). Manual de Inventário Hidroelétrico de Bacias
a metodologia pode fornecer melhores alternativas, pois o ato Hidrográficas.
de revestir o canal propiciou as melhorias das condições de • OLIVEIRA, B. A. (2015). Metodologia de Avaliação de Cenários
permeabilidade do canal. de Investimentos em Obras de Ampliações e Implantações de
Pode-se concluir que às análises e a tomada de decisão em Centrais Hidrelétricas. Dissertação de Mestrado. Instituto de
revestir com geomembrana de PEAD um canal de adução pode Tecnologia para o Desenvolvimento.
trazer benefícios importantes para a geração de energia: redução • PINTO, C.S. (2002). Curso Básico de Mecânica dos Solos.
da perda de carga, melhoria nas condições de permeabilidade, Editora Oficina de Textos.
redução de volumes de escavações, melhora a geração da • SPARGUE, R.T., & FROBEL, R.K. (1990). Performance Test
energia e evita erosão das margens. O custo do investimento Methods for Geomembranes and Geocomposites Used in the
é facilmente convertido pelos custos renunciados provenientes Design of Waste Containment Facilities.
dos efeitos contrários dos argumentos listados anteriormente • VILAR, O.M. (2003). Geossintéticos em Aplicações Ambientais
consequências da adoção de não revestir o canal. – IV Simpósio Brasileiro de Geossintéticos.

PCH NOTÍCIAS & SHP NEWS, 77, (2), ABR-JUN/2018, DA PÁG. 13-19 19

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