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coricamente pode ser facil re- lacionar a escola com a comu- nidade, mas quem vive 0 chio da escola sabera que isso é tarefa difi- cil, Dificil, mas nao impossivel. Ainda que a alianga escola-comunidade tenha diferentes perspectivas, quem ousa mu- dangas sempre faz. os maiores esforgos € saber reconhecer que um projeto da escola surge sob uma intencionalidade specifica de determinado contexto, Ha um debate mundial sobre a quem competem os encargos da educagao formal, que apropriado pelo projeto neoliberal, de afastamento do Estado, 2 < exerce um clamor para que a comuni- 4 aaa dade pinte os muros, faga mutiro de Figura 10. Auguste Rodin: Mos de Deus limpeza ou assuma o compromisso pe- dagégico, desresponsabilizando os profissionais da educagao. Qualquer que seja a caréncia detectada, do extremo da intol opedo sexual, passando pelas diversas violéncias agravadas dia apés dia, ou pelos velhos € conhecidos problemas de superlotagio das classes, auséncia de logistica ou baixos sa- lérios, a educagdo formal é responsabilidade do Estado e dos profissionais da educagao, Isso, porém, ndo implica negligenciar o papel da educagao familiar ¢ dos movimentos da sociedade 0 foco, no caso de projetos, didlogos de saberes e cotidianidade, é tomar a educagdo signi- ficativa, isto é, que ela tenha um enredo e faga sentido na vida das pessoas e nao seja alheia, como um mero paréntesis de abrir contetidos e fechar as inteligéncias para outras tessituras possiveis no mosaico de cores e sabores da educagao ambiental Trés iniciativas, ealizadas em contextos diversos (municipal, estadual e nacional), poderio elu- cidar methor nosso sonho chamado Projeto Ambiental Escolar Comunitirio (PABC): 8) Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), de Curvelo, em Minas Gerais; b) O Projeto de Educagdo Ambiental (PrEA), da Secretaria de Estado de Educagao de Mato Grosso; € ©) A Conferéncia Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas, proposta pela Coordena- gio Geral de Educagao Ambiental (CGEA), do Ministério da Educagao (MEC), em todo territério nacional. © primeiro contexto histérico vem do CPCD, que realiza a educacao popular por meio da cultura ¢ de alternativas pedagégicas. Esse projeto iniciou-se na cidade de Curvelo, no interior de Minas Gerais, e a pergunta que nao se cansava, a problemitica inicial era saber se seria possivel realizar um processo de educagdo “fora da escola”. Conhega mais sobre a proposta em http://www.cped.org. br Realizar um projeto fora dos espagos escolarizados nao signi cola, Revela, pelo contrétio, a ousadia de ultrapassar os muros e se inserever em outros es- pagos, muitas vere permanecendo imanente ao fazer pedagdgico da escola, da o movimento de submergir para dentro ¢ em a negagdo do papel da es- da escola para os espagos comunitirios, gir para fora, Dito de outro jeito, implica valorizar a escola e seu talento em sair de si mesma, A esse movimento de transcendéncia e imanéneia chamamos de relagao escola-comunidade. © CPCD, dessa maneira, indagou sobre essa possibilidade de ser um Caracol, que, sem abandonar sua casinha (a escola), resvalava para outras rampas ¢ escorrega- dores que pudessem desenhar uma nova aventura pedagégica. A aventura nasceu da indignago com algumas injustigas que a edueagdo sofia, sem que a esperanga fosse perdida. Teimosamente, CPCD: Entre as altemativas e “fabriquetas” encon- tradas esto o que chamam de quatro peda- gogias: da roda, do brinquedo, do abrago e do sabao. Tais pedagogias representam a base me- todolégica dessa pritica educativa e o resultado da relago escola-comunidade, ja que muitos dos processos realizados envolviam toda a comunidade e pessoas diversas nos didlogos de saberes. As quatro pedagogias apropriadas pelas criangas do CPCD dividem. Pedagogia da Roda - a aprendizagem em circulo visa criar consenso, para que as arestas desaparegam, mas ndo teme os conflitos, ja que, na roda, tudo é visivel para todos; Projeto ambiental escolar comunitario Pedagogia do Brinquedo - trata-se da possibilidade de aprender os diferentes co- nhecimentos de maneira lidica e prazerosa, como se a aprendizagem se desse, conforme a professora Michéle Sato, por Confetos, um espago hibrido entre con- ose afetos, Pedagogia do Abrago - essencial para a ecologia interna, pois lida com a autoesti- ma, a solidariedade, os sonhos e os desejos. Pedagogia do Sabao — refere-se & maleabilidade ¢ & flexibilidade em aproveitar as coisas, como se tudo pudesse se tornar uum recurso para a construgdo das ou- (UMASS UNOS NST TT) RCA SSA Criar uma relacdo desigual (ou a dialética do “senhor-es- zavel, bastando lavat: cravo") entre criangas e adultos; fazer da crianga um ob- jeto do interesse dos coordenadores e pais, vista como See md . Dee Teed aes el ae eR REESE criancas, pensar na crianga como “pagina em branco” tomaram possiveis, porque apés a problematica [RPE TA Deere ery Pere como “adulto que nao cresceu’, cortando das criancas A EEERNEME sous somos © cralvidades; acreditar que nossos co- ebbrcste secon rules Accord ct nhecimentos séo dnicos e verdadeiros; criar nas crian- la elaboragio do seu projeto. A segunda ctapa cn- AGATE RnOnean it este ee eee teensy volveu definir a sua intengdo especifica e os seus UPRIPIVEnET meas it Sees objetivos, ou melhor, os integrantes da proposta : Cee Re BW do & dos mais fortes, mais tras mee es Peg Ratio) observador e inquiridor das criangas; fazer das criancas Cee eee eee eet tence Ce CLO TCARUCLML Oe cumpridores de tarefas e repetidores de idéias e con- definiram os seus ndo-objetivos educacionais. que a gente ndo falava de uma escola que a gente gostaria de ter. A gente falava de uma es cola que a ceitos alheios; preservar 0 conceito de escola como um lugar “chato’, onde 0 autoritarismo reina, 0 castigo im- pera, a prepoténcia governa e a desigualdade domina: Uma pedagogia circular Dee eae et Nc) € aquela que projeta uma ee ae ae eo CO RCEUSILSCUme onde se estuda, mas nao se aprende (acessado em por meio do dislogo Pee) entre saberes diversos, abandonando a linearidade da relagao entre alguém poderoso que ensina, de um lado, e 0 mero aprendiz, de outro (Pedagogia da Roda). Uma pedagogia lddica reconhece que estudar é um ato dificil, mas que também pode ser prazeroso. Desenvolve um jeito divertido de construir saberes, por meio de “confetos" (conceitos e afetos), ainda que Processo Formador em Educagéo Ambiental a Distancia ‘mantendo uma postura de muita responsabilidade. & um construir para gue a educagao seja mais gostosa (Pedagogia do Brinquedo). Uma pedagogia da ecologia interna é aquela que trabalha com autoestima, valoriza sentimentos, possibilita que os sonhos permanegam, voando nas asas da imaginac&o. € cuidadosa no trato pessoal, mas cuida do outro, no ato solidario do tomar-se coletivo, de superar o papel de ator e tornar-se elenco! (Pedagogia do Abrago). Uma pedagogia maledvel ¢ aquela que consegue ser moldada pelas necessidades cotidianas das biorregides, mas que também sabe atender as demandas globais, como a mudanca climatica, por exemplo, Flexivel ‘em sua proposta sabe também impor respeito. E como ser mole como 0 corpo do caracol, reconhecendo a rigidez de sua casinha (pedagogia do sabéo) \Vocé consegue pensar em outras pedagogias? Quais? Que apelidos vooé daria a elas? 3.2. Projeto de Educagéio-Ambiental da SEDUC-MT (PrEA) Em outro contexto histérico situa-se o Projeto de Fducagao Ambiental (PrEA), da Secretaria de Estado de Educago (SEDUC) de Mato Grosso. 0 desenho do projeto iniciou-se a partir de um amplo diagnéstico, realizado em 2004, com aproximadamente 15 mil questionérios Aistribuidos em todo o estado, Os resultados desse estudo foram interpretados & luz das prer- rogativas educativas da educagao ambiental conforme as respostas obtidas. Houve retorno de 50% das pesquisas enviadas e, desse montante, um excelente retorno de 90% de respostas das ‘escolas indigenas. Em poucas palavras, 05 resultados foram interpretados a luz dos processos formativos, do interesse pela educagao ambiental, da necessidade de adensamento teérico- pritico, das dificuldades, das abordagens temiticas, dos materiais utilizados, da existéncia de equipe e de logistica (ou de espagos e estruturas educadoras inventadas), e dos processos avaliativos, tanto na avaliagtio dos estudantes como do projeto propriamente dito. 0 PrEA demorou para sair do papel, mas, quando finalmente as ages se conjugaram com. ‘outras demandas e frentes, muit ram os PAEC. Estes se tornaram parte da proposta de educagao ambiental do Plano Decenal de Educagao de Mato Grosso, que ‘raza marca revolucionaria de incorporar os principios do Tratado, transformados em lei estadual. © PrEA pautou seus principios, assim, em algumas premissas: escolas concreti 8) Combate & exelusdo social, por meio do estimulo a participagao democratica, com inclusdo de diversos sujeitos ao protagonismo da educagao ambiental (escola entome), Projeto ambiental escolar comunitario b) Superago da dicotomia sociedade-natureza, por intermédio de debates, constru- eo de conceitos, féruns escolares e demais atividades que promoveram a alianga dos diversos saberes, rompendo com a ingenuidade da “natureza intocada” (equi- librio), bem como com a tirania da “sociedade desenvolvimentista” (mercantilis- ta). ) Abandono das atividades pontuais, promovendo um processo educative que con- templasse a incorporagdo da educagdo ambiental nos curriculos escolares de forma transversal, de multireferéncias, além de reforgar 0 Projeto Politico-Pedagégico (PPP) por meio dos Projetos Ambientais Escolares Comunitirios (PAEC). 4) Orientagao para o abandono do uso excessivo de livros diditicos, mediante a busca de alternativas pedagégicas alicergadas nas realidades biorregionais, en« volvendo interpretagdo critica da realidade, avaliagao de materiais e produgao do proprio material didético local ©) Mobilizagao contra a passividade metodolégica, na busca de centros, grupos, re- des, nitcleos ¢ outras estruturas edt -adoras capazes de contribuir com o proceso formativo dos professores da rede piiblica e que enfocassem a importancia dessas insténcias para o fortalecimento da educagdo ambiental 1) Reflex critica sobre a avaliagdo tradicional, repensando a escola como espago politico de manifestagao e de produgao cultural. A orienta liar 05 processos ao invés de somente produtos, e com coragem para incorporar 4 autoavaliagdo como mecanismo colaborador da avaliagdo somatica e formativa dos aprendizes. Ho adotada foi a de avae -omevivéncias” mituas, 2) Ruptura do isolamento, pela construgio de parcerias implicadas e cooperativas, que despertem valores de solidariedade, respeito e di- logos com demais setores sociais. Isso envolve também a participagao ativa em redes de educagao ambiental hh) Superagio da alienagdo na formulagio de politicas piblicas, por meio da militan- cia e da participagao cidada da escola a construgao e a implementagdo de projetos € programas capazes de fortalecer as politic piblicas. i) Saindo da invisibilidade, incentivando a divulgagao, a exposicao e didlogos com os foruns locais, regionais e brasileiros, inclusive com o fomento & mostra de trax balhos e & publicagao de resumos em congressos cientificos. Critique a frase, em seus limites e potencialidades: “O valor do texto esta na dependéncia dos professores, do que eles Y aceitam como objetivos da vida, de suas experiéncias, da sua formagdo € do olhar politico. Um texto mediocre podera ser base para uma excelente aula, por meio de reflexes e interpretacées criticas. Da mesma maneira, um excelente texto jamais representaré uma boa aula por si. O mais criminoso, portanto, sera permitir que o livro didatico oriente os objetivos educacionais, retirando o talento dos professores.” Michele Sato Sé existe histévia para umsujcito que a vive —€ $6 existe Sujcilo quando situacdo historicamente A en ee ree r caer een mi) Magritte: EYE Figura 11, René Magritte: Otho (Os ndo-objetivos educacionais e a superagdo dos pressupostos basicos so alguns exem- plos de como podemos objetivar as propostas de nossos projetos. Os contextos histéricos relatados acima serve como exemplos de como podemos objetivar as propostas de nossos projetos, colocando em pritica uma perspectiva de educagdo participativa. No ambito na- cional, diversos projetos agdes destacam-se no intuito de se fazer uma educagao ambien- Projeto ambiental escolar comunitario tal escolarizada. Este ¢ 0 caso do projeto Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas, realizado pelo Ministério da Bducagao (MEC) bienalmente desde 2003. Um dos objetivos principais do projeto é promover Conferéncias Infanto-Juvenis de Meio Ambiente em cada escola, resgatando toda a riqueza de sua realidade local por meio de debates e disc 364 10 meio ambiente. sobre questées relacionadas Politicas piblicas somente conseguem contribuir para os enormes desafios das questies sociombientais da contemporaneidade quando apoiadas no didlogo permanente com a so- ciedade (TRAJBER & SORRENTINO, 2007, p.16). Nos cadernos da Ill Conferéncia pode-se ver um pouco deste histérico dos temas jé trabalhados, Na nossa plataforma moodle ha os cademos ‘em paf para download. Para consulté-los acesse o site: http:/www.mec. gov.briconferenciainfanto2008 Mais detalhes no site da Rede Juventude pelo Meio Ambiente: wwww.rejuma.org.br Com formato de pré-conferéneias, esses eventos elegem representantes dos s estudantes, membros da comunidade € professores para que estes discutam defendam as idéias emanadas de suas bases. Dessa forma, eriam-se mee: ismos representatives de todas as instincias de construgdo da Conferéncia, sejam de abrangéncia municipal, esta- dual, nacional ¢ internacional. Busca-se, dessa forma, garantir a participago da sociedade na construgao de politicas piblicas que atendam as demandas surgidas desses espagos de didlogos. A ciagdo de Comissbes de Meio Ambiente € Qualidade de Vida nas Escolas (Com-Vida) representa uma continuidade dessas a s. As Com-Vidas possuem 0 objetivo de “contri- buir para um dia-a-dia participativo, democritico, animado e saudavel na escola” (BRA- SIL, 2004, p.9) como forma de envolvimento da comunidade escolar na construgio de sociedades sustentaveis. 0 fortalecimento ¢ a divulgagio dos Coletivos Jovens (CJ) ¢ de Com-Vidas, dentro das escolas sto ages que precisam ser fomentadas. Essas instancias trazem a temética am- biental, tratada de forma transversal, para a realidade da comunidade escolar (alunos, pais, professores, comunidade em geral, dirigentes e demais funcionérios), relacionando-a nao apenas com o contetido pedagégico, mas também com os contextos sociais, culturais ¢ politicos de cada comunidade. Trajber & Sorrentino (2007, p.16), a0 divulgarem os dados do Orgao Gestor da Politica Nacional de Educagao Ambiental (composto pelos ministétios do Meio Ambiente ¢ da Educago), revelam que “mais de 4.000 escolas jé iniciaram sua ‘Com-Vida” Texto sobre as percepgdes dos estudantes durante as pré-conferéncias F nas escolas de Mato Grosso, interpretando os diversos desenhos que foram enviados para as conferéncias (estadual e nacional). FD to:1wautm br/gpeaipubjovernpt-manaus pat Um biog muito interessante, de um jomnalista de Goids, Wagner de Oliveira: http://wagneroliveiragoias. blogspot.com’ ia Pa ea See pecan ye tert Leela a cord seer Cyrene eee mundo, mas é lornar-se eh aah ere or oe eco Cerca ey enon Fivi tae NV eo] % a Figura 12. René Magritte: Ua TY ‘as, afinal, © que sto projetos escolares? Partindo do significado de Projeto ou “Projec- eM CISNOMM Um projeto na verdade é, a prin- 1992), podemos descrever algumas concepgdes distintas e UIC ON MEMS sch CIE eens mando teal conforme comesa . “di . eee ee Jjetos estio no cotidiano escolar, no nosso dia-a-dia, no pla- Tees Seo nnejamento em sala de aula, no planejamento politico-peda- [ene NPR en tet eran ner) 6gico da escola, nos sonhos e desejos pessoais e coletivos. (MEU =I 7 TR Ny) “A idéia de projeto envolve a antecipagdo de algo desejavel que ainda nao foi realizado, traz a idéia de pensar uma realidade que ainda nao aconteceu” (ALMEIDA & PRADO, 2003). A seguir apresentamos dois trechos de textos para a com- preensio dessa discussio sobre projetos. ‘Qual das afirmagées a seguir vocé acha mais correta? + Projeto é intengao, pretenséo, sonho: “Meu projeto & comprar uma casa’ + Projeto é doutrina, flosofia, diretriz: “Meu projeto de pais & muito diferente’. + Projeto é idéia ou concepgao de produto ou servigo: “Esses dois carros s&o projetos muito semelhantes’ + Projeto € esbogo ou proposta: "Todos tém o dieito de apresentar um projeto de lei ao Congreso" + Projeto é desenho para orientar construg&o: “Jé aprovei e pedi ao arquiteto que detaihasse o projeto’. + Projeto é empreendimento com investimento: “A Prefeitura vai onstruir novo projeto habitacional’. + Projeto é atividade organizada com o objetivo de resolver um problema: “Precisamos iniciar o projeto de desenvolvimento de um novo motor, menos poluente’. + Projeto é um tipo de organizagao temporaria, criada para realizar uma atividade finita: “Aquele pessoal & a equipe do projeto do novo motor’ ‘Todas as definigdes so corretas e abrangem significados do termo projeto. Neste texto, interessam os dois tltimos, que definem projeto do onto de vista do gerenciamento e administrago. Projeto é atividade ‘organizada, que tem por objetivo resolver um problema, (SIGNORELLI, 2002) Atualmente o termo "projetos” tem aparecido com grande frequéncia na literatura académica e predomina nas discuss6es no interior das escolas, sobretudo naquelas organizadas por ciclos (Ensino Fundamental). Mas apesar dos esforgos de educadores e pesquisadores empenhados numa Pedagogia mais adequada a aprendizagem significativa, os projetos néo tem encontrado seguidores com muita persisténcia. O que predomina no interior das escolas ainda é a pedagogia tradicional com curriculo fragmentado, retoricoe livresco, embora muitos professores admitam a necessidade de uma postura mais adequada a realidade da escola na sociedade da informagao, A Pedagogia de Projetos tem sido abordada na perspectiva de um curriculo integrado, que venha ensinar os alunos a pesquisarem a partir dos problemas relacionados com situagSes da vida real, dando uma nova abordagem aos contetidos. A flexibilidade dos docentes, 0 trabalho cooperativo, o intercdmbio entre as varias disciplinas sdo necessérios em busca de um curriculo integrado. A Pedagogia de Projetos poderd ser aplicada a todas as disciplinas do programa, podendo realizar-se sistemética ou ocasionalmente. Os Pardmetros Curricu- ares Nacionais (MEC,1997) apregoam um curriculo voltado para a transdisciplinaridade, que poderd ser contemplado na metodologia de projetos, que se relacionam com as novas tecnologias, buscando 0 acesso a informagao para resolver problemas, selecionar informa ‘¢Ges, colocar questdes, procurar explicagdes e acessar novos dados a partir de necessidades reais, 0 termo projeto tem sido interpretado de varias formas, hé dividas no entendimento do que seja projeto de ensino e projeto de trabalho, no que diz respeito a elaboragao e apli- MOURA & VENTURA, 2004, p. 14) io dos mesmos (FONSE As escolas, de alguma maneira, jé trabalham com projetos, muitas vezes apresentados como atividades extraclasse. Quando se trata de projetos em educagdo ambiental, estes representam, geralmente, o esforgo individu. al de alguns professores (de biologia ou geo- grafia), como se a sua realizagio dependesse somente da competéncia e da habilidade des- tes. Entretanto, os relatos sobre a forma como esses projetos se realizam na escola revelam uma certa confusdo dos professores quanto aos seus objetivos, fungdes, embasamentos tedrico-priticos, metodologias, concepcde: Projeto ambiental escolar comunitario: Se ha dificuldades e dissensos sobre os conceitos relacionados a projetos, podemos ini- cialmente fazer uma distingao entre: Pedagogia de Projetos, Projetos na Escola (Projetos de Trabalho) e Projetos Ambientais Escolares Comunitérios (PAEC). Lembrando que essa distingao & apenas uma forma diditica e ilustrativa de desvelar conceitos e que a inter- referencialidade e os hibridismos conceituais nao sto descartados no processo da educagao ambiental Um educador é um fundador de mundos, mediador de esperancas, pastor de projetos (ALVES, 1985, p.26). Quaisquer que sejam as concepgdes acerca dos projetos, haverd influéncia nos aspectos pedagégicos e também nos aspectos politicos do processo educacional. Por se basear em uma concepgao de educagao ambiental critica, que no vé dicotomia entre as dimensées politicas e pedagégicas na educagao, & que pretendemos nomear o campo de agdo desses tipos de projetos e desses aspectos, 4.1, Pedagogia de creditamos que a Pedagogia de Projetos surgiu sob inf ia da Escola Nova. A idéia era e ainda € trabathar com projetos que valorizem a pesquisa e o cotidiano do aluno” (FREITAS, 2003, p. 20). A Escola Nova concebe a escola como uma representagdo da vida presente, tentando transformé-la em um espago vivo de interagai. Tem como proposta re- significar o espago escolar, favorecendo a cooperagdo ¢ a participagdo ativa dos alunos. Por meio de situagdes-problema, pretende que estes cheguem a um efetivo processo de ensino- aprendizagem, mediante a valorizagao da experimentagao ¢ da pesquisa. A “educagdo & um processo de vida endo uma preparay a vida presente tao real e vital para o aluno como a que ele vive em casa, no baitto ou no patio” (DEWEY, 1897) para a vida futura, ¢ a escola deve representar debate sobre a fungdo social da escola ¢ sobre o significado das experiéncias escolares para os que dela participam foi e continua a ser um dos assuntos mais poléi nds, educadores. A Pedagogia de Projetos surge como uma nova forma de intervengao do professor e se refer parte do discurso da Pedagogia de Projetos a formagdo de alunos auténomos, conscientes, reflexivos, participativos e cidad 208 entre e mais a uma postura pedagdgica do que a uma técnica de ensino. Faz Para se formar sujeitos ativos faz-se necessério ressignificar 0 processo de formago ¢ 0 espago escolar. F a Pedagogia de Projetos busca e tenta dar essa re-significagdo ao espago escolar, propiciando um ensino-aprendizagem em que educandos ¢ educadores aprendem participando, vivenciam sentimentos, posicionam-se diante dos fatos, escolhendo procedi- mentos para atingir determinados objetivos. Abrantes (1995, p.62) aponta caracteristicas fundamentais dessa pratica: 0s projetos podem se situar como uma pro- posta de intervengao pedagégica na tenta- tiva de resolver situagdes problematicas, onde o aprender possui um sentido novo. A Pedagogia de Projetos traz & tona a reflexdo sobre a aprendizagem de edu candos © educadores os contetidos das diferentes disciplinas. Entende-se que 0 processo no pode ser fragmentado. Os contetidos deveriam, portanto, ser frutos da interagao dos grupos sociais com sua realidade cultural, A Pedagogia de Proje- tos tem uma concepsao globalizante, pois 4 sua construgio assentaese na pritica pe- dagégica. Essa concepedo globalizante pode ser compreendida pelos médulos de aprendizagem. A organizagio da Pedagogia de Projetos nao se coloca em detrimento dos conteiidos e, sim, caracteriza-se pela construgdo de uma pritica pedagégica centrada na formagao global dos educandos. Eles irdo se defrontar com as diversas disciplinas, percebendo-as como instru- ‘mentos culturais de compreensao da realidade, Com os projetos, os educandos ndo entram em contato com os conteiidos a partir de con- ceitos abstratos © de modo teérico. Nessa perspectiva, os contetidos dei ‘mesmos ¢ tornam-se meios para ampliar a formago dos envolvidos. Ha também o ym de ser um fim, rompimento com a concepsao de “neutralidade” dos contetidos, que ganham significados diversos a partir das experiéncias sociais dos envolvidos nos projetos. Essa mudanga traz conseqiiéncias para a forma de selecionar e sequenciar os contetidos. A nova concepgdo funda-se na experiéneia cultural nos conhecimentos prévios dos educan- dos, Embora a organizagio de projetos gere necessidades de aprendizagem, isso nao quer Projeto ambiental escolar comunitario: dizer que essa aprendizagem esteja garantida. E. preciso que os educandos se apropriem dos novos contetidos e, pata isso, a intervengao do educador, a partir da organizagao de médulos de aprendizagem, reveste-se de fundamental importincia, A aprendizagem na escola a partir dos projetos de trabalho iré responder a necessidades, dividas, curiosidades, detectando as lacunas de aprendizagem. Os médulos de aprendiza- ‘gem ito aprofundar e/ou sistematizar os contetidos disciplinares apontados como necessé- tio para o desenvolvimento do projeto. ‘A Pedagogia de Projetos surge com Dewey ¢ visa & escola como espago vivo de interagoes € como representante da vida presente, buscando re-significar 0 espago escolar. Ndo se trata de uma simples técnica para aprimorar as questées de ensino-aprendizagem, mas sim de uma postura pedagégica, uma concepso, em que o contetido nao mais seré alienado da realidade dos educandos. Assim, o aprender deixa de ser um simples ato de memorizacao, € o ensinar nio significa mais repassar conteiidos prontos. Podemos caracterizar a Pedagogia de Projetos basicamente por uma agao intencional, Todo conhecimento & construido em intima relagdo com um contexto; trata-se de um trabalho que envolve uma equipe; possui um objetivo que da unidade e sentido as varias atividades; € 0 problema a ser resolvido se desenvolve mediante problematizagao, desenvolvimento € sintese. Lembrando que o desenvolvimento do projeto deve estar estritamente ligado ao seu surgimento ea quem o propde. Nessas circunstincias, o projeto tende a gerar aprendizagem real ¢ diversificada, ‘Trabalhar com essa concepedo pedagégica implica mudangas na parte politico-pedagégica. © curriculo estruturado de acordo com essa pedagogia diferencia-se de um curriculo de cardter disciplinar ¢ que realiza projetos somente como ages pontuais ¢ de forma isolada da concepeio pedagéxica da instituicao. Quando o curriculo escolar embasa-se na Pedagogia de Projetos, toda a metodologia uti- lizada volta-se para o desenvolvimento de projetos. O Projeto Politico Pedagégico (PPP) da escola transforma-se em um grande projeto, conseguindo integrar disciplinas isoladas ¢ sem nexo com a realidade vivida. A aprendizagem significativa contextualiza-se no cotidia- no da escola, na realidade de cada biorregido, como se fosse um curriculo fenomenolégico (PASSOS & SANTOS, 2002). A Pedagogia de Projetos tem a capacidade de se inscre+ ‘ver nas “situagdes da vida real, dando uma nova abordagem aos contetidos” (FONSECA, MOURA, VENTURA, 2004, p.14). Adotando essa concepsao, toda a escola trabalharia com projetos em comum. Os contet- dos pedagégicos surgiriam de acordo com as necessidades levantadas, sendo construidos € reformulados a todo momento, Ao invés de disciplinas trabalhando com 0 tema do projeto, terfamos projetos/temas trabalhan- do com conteiidos das disciplinas. A cefetivagio de ages pedagégicas de acor- do com a Pedagogia de Projetos permite & escola trabalhar a educagdo ambiental na sua ‘ransversalidade, Abre-se, com isso, uma ferramenta de didlogos, iniciativas e envol- vimento da comunidade escolar, buscando- se desempenhar o papel social da escola na formagdo de cidadaos e cidadas criticos e parti- cipativos Na pedagogia de projetos ha uma tendéncia a resolver problemas? Ao invés de "problemas", como poderiamos abordar a pedagogia de projetos no campo da educacao ambiental? De que maneira a escola poderia propor um curriculo contextualizado & realidade cotidiana (fenomenclégico) e local (biorregional)? Figura 13. Paul Cezanne: Saint Victoire a, O pintor Paul Cézanne buscou reinventar a paisagem, pintando-a de acordo com o seu olhar. Maurice Merleau-Ponty, um dos maiores fenomendlogos, teve forte influéncia do impressionismo de Cézanne para elaborar a teoria da fenomenologia da percep. htlp:www.abcgallery.com/C/cezanne/cezanne. html s A sociedade muda e transforma diversos valores, ¢ a educagio busca adequar seus métodos conforme ‘05 movimentos das sociedades. Vygotsky (1994, p-115) considera que “o aprendizado humano pre supde uma natureza social especifica”, 0 que nos faz perceber que a discussio de Projetos deveria ser mais sobre uma postura pedagégica do que so- bre uma técnica de ensino mais atrativa. Aparentemente, os projetos de trabalho também se inscrevem na perspectiva de resolugao de problemas. Entretanto, a énfase dada por muitos esta na abordagem interdisciplinar, que em que o grau de liberdade ¢ com a responsabilidade de construir um conhecimento significative, de forma envolve toda a escola, Uma outra caracteristica & a autonomi encontrar integrada e contextualizada e com ressonincia na escola e na regio, Ha, no entanto, certos equivocos quanto a essa orienta, compreende a efetivagao da proposta como a realizagao de ages pontuais ¢ que pouco contribuem para uma ago pedagégica conjunta entre diversas disciplinas. As campanhas realizadas pontualmente, como as celebragdes em datas comemorativas, por exemplo, po- dem ser importantes no calendario escolar, mas pouco agregam em termos da construgdo de io. Uma parcela dos professores novos conhecimentos. Ao invés do processo pedagégico, ao longo das etapas de um projeto de trabalho, as agGes pontuais pecam por buscar o produto de apenas um dia. ‘Tais Projetos de Trabalho caracterizam-se por se voltarem para uma ago concreta, Todos 6s alunos so envolvidos, pressupondo um trabalho em equipe, por meio de uma atitude intencional, ou seja, de alcangar 0 objetivo do projeto. Podemos simplificar que para se tra- balhar com Projetos, segundo as concepgdes abordadas, devemos considerar a problemati- zago, 0 desenvolvimento e a sintese. No caso dessa abordagem, os projetos deverdo estar voltados para uma agdo concreta; ndo devem estar prontos ¢ acabados € nem serem uma metodologia didatica, pois o projeto engloba todos os participantes e pressupée trabalho em equipe, além de representar uma atitude intencional Outra questo percebida dentro do trabalho com projetos é a questo do surgimento do Projeto e quem propde o tema para ele, Alguns autores acreditam que o importante nao & a origem do tema, mas sim o tratamento dado a ele. Entretanto, devemos lembrar que, de acordo com 0 método Paulo ire, o tema s6 set significativo ou gerador se estiver em consonancia com a leitura de mundo dos sujeitos envolvidos na aprendizagem. e E possivel criar um Projeto de Trabalho que ligue todas as datas ‘comemorativas em um mosaico diversificado, evitando que as datas, ‘comemorativas sejam pontuais, mas se inscrevam em uma proposta interligada? Como vocé relacionaria o Dia Internacional do Meio Ambiente (5 de junho) com o Dia do Folclore, por exemplo? Lembre-se do Curupiral Nas proximidades do dia 7 de setembro, é possivel associar como poderia ser o rio Ipiranga daquela época, quais mudangas se M sucederam, que impactos ocorreram e de que maneira a paisagem se transformou? E 0 bairro da escola, quais mudangas sdo visiveis? Ha fotografias antigas? Como os moradores mais antigos podem auxiliar na recuperago histérica e, ao mesmo tempo, colaborar na compreensao do ambiente transformado? Infelizmente, na maioria das escolas a educagao ambiental esti reduzida as celebragdes entes areas do conhecimento, bem como entre a pontuais. Hé pouca interagio entre as di escola ¢ a comunidade, Além disso, perman sm relagdo ‘com projetos de caréter pro- ccessual, que integram proje- tos politico-pedagégicos e cestruturas curriculares Por isso, a proposta do PAEC vai muito além das simples atividades pontuais, Ha uma orientagdo contra o discurso individualista, ousando pro- por uma alternativa pedagé- gica, em consonancia com 0 Projeto Politico-Pedagdgico (PPP) de cada escola e cada biorregidio. O PAEC busca tam- bbém fomentar 0 sentido eritico da escola, para além de seus muros, atentando-se a0 dislogo comunitério para, s6 assim, efetivar-se como um proceso continuo e permanente de refle- xo e de luta socioambiental, OPAEC deve guir a dinmica de cada realidade, respeitando os va- er elaborado de forma auténoma e s lores ¢ saberes da escola-comunidade. Surge, porta to, ndo como uma “receita” ou pacote de imposigdes de politicas autoritérias, Tem, sobretudo, o cuidado de valorizar 0 processo e niio somente 0 produto, © PAEC pressupde que vivemos numa casa, situa- da numa rua, em algum bairro, em alguma comunidade, vila, localizada num municipio. Na localidade préxima da escola ha outras casas, padarias, jornaleitos, farmacias ou terrenos baldios... E nos arredores encontraremos gatos, cachorros, talvez um sapo, e talvez um pato, Possivelmente haverd alguma érea protegida que tenha flores, atraindo passaros can- tantes ou abelhas zombeteiras, O eéu poder tar nuvens de chuva, ofertando o max 4 apres ravilhoso ciclo da égua, que também cozinharé nossa comida, O fogio representa também © calor energético, a boa comida que possibilitara a mobilidade e & possivel que o passeio seja premiado com uma boa brisa, complementando o ciclo dos quatro elementos, Cotidianamente 1 izamos muitos movimentos, passamos muitas vezes pelas mesmas ‘uas, lojas ou sinais. Cumprimentamos as mesmas pessoas ¢ realizamos rituais rotineiros parecidos. Mas quando 0 cotidiano conside sr que no ha mais nada de novo nesses nossos labirintos, talvez seja a hora de caminhar com novos sentidos, forjando significados, como semos outros cheiros, vissemos outras cores, tocdssemos novas texturas, ouvis mos novos rtmos e sons. & provavel que com os alhos agugados e novos sentimentos, 0 mesmo ¢ velho local se revista de novidades! © PAEC convida, assim, a que os novos hé- bitos sejam experimentados por novos mon- ges (figura 14), largando a atmosfera vieiada © insistente nos velhos padrdes de que a luta & drdua, que nao adianta insistir, que 0 cole- ‘ga ndo muda, que a comunidade s6 atrapalha ‘ou que projetos nao trazem aumento salarial! E também o convite a Pedagogia do Abrago do Tio Rocha, do examinar nossa ecologia

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