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Na Alemanha formou-se uma insólita aliança entre algumas empresas e o movimento ecológico
daquele país. O antagonismo inicial entre o movimento ecológico popular e o mundo
empresarial transformou-se, em muitos casos, em uma cooperação altamente produtiva. Esta
cooperação teve entre seus impulsionadores o processo de globalização que iniciou-se nos
anos 70, época em que ocorreram o primeiro e o segundo choque do petróleo, o aumento da
taxa de juros em 1979 e às crises de regulações nacionais que deles resultaram.
Na década de 80, a globalização se acelera devido à queda dos preços do petróleo e das
commodities e a concomitante ascensão do capital como motor do crescimento econômico
(Maimon, 1995). Nesta época possuir insumos baratos deixa de ser o bastante para ser
competitivo, o ideal é usá-los produtivamente. Neste ambiente, as organizações são obrigadas
a reavaliar suas estratégias, é introduzida gradualmente na gestão dos negócios a dimensão
ecológica.
De início, isto ocorreu de forma esporádica quando gerentes e empresários começaram a
desenvolver programas de reciclagem, de economia de energia, de aproveitamento de
resíduos, entre outros, em suas empresas. Estas práticas disseminaram-se rapidamente e logo
muitas organizações passaram a desenvolver sistemas administrativos em consonância com a
causa ambiental.
Segundo Donaire (1995), o mais bem sucedido desses programas, desenvolvido por Georg
Winter em 1989, foi o Sistema Integrado de Gestão Ambiental, conhecido hoje simplesmente
com o Modelo Winter. Posteriormente, diversas empresas juntaram-se para formar a
Associação Federal de Administração Ecologicamente Consciente (BAUM) com o propósito de
promover e melhorar o modelo Winter.
Já nos Estados Unidos, o movimento ambiental foi além da criação da Agência de Proteção
Ambiental (EPA -Environmental Protection Agency) e da aprovação das leis a partir da década
de 60: o Clean Air Act (Lei do Ar Limpo), o Clean Water Act (Lei da Água Limpa), o Toxic
Substance Control Act (Lei de Controle de Substâncias Tóxicas), entre outros. Nos anos 70 foi
dado início às negociações com defensores do meio ambiente e empresas para encontrar
formas mais eficientes de tratar os conflitos legislativos.
Ainda nos anos 60, nos Estados Unidos, uma profunda mudança na atitude do povo americano
com relação à necessidade de normas ambientais federais, suscitada em parte por Silent
Spring (Primavera Silenciosa), de Rachel Carson, resultou em pressão para que os políticos
agissem. "Com o surgimento de normas nacionais e de outras semelhantes em âmbito estatal,
tornaram-se comuns as avaliações quantitativas de impacto na atmosfera e na água, de níveis
de toxidade e de normas de saúde. Esses desdobramentos combinados levaram ao que
denominamos hoje de ‘auditoria ambiental’ " (Callenbach et al., 1993, pg. 41).
Iniciou também nos anos 80 o ativismo ambiental. Grupos ambientalistas, como o Earth First!
nos Estados Unidos, começaram a pressionar as empresas no sentido de influenciar política
destas.
No segundo Dia da Terra em 1990, de acordo com Callenbach et al., (1993), já se podia
perceber que as preocupações ambientais influenciavam grandemente as escolhas dos
consumidores nos Estados Unidos. Assim, já era possível esperar que, cada vez mais, os
empresários percebessem os sinais dos tempos e adotassem os princípios da administração
com consciência ecológica.
No dia 03 de junho de 1992 começava a maior reunião planetária sobre o meio ambiente e
desenvolvimento econômico já realizada pela humanidade: a ECO-92. A conferência mundial
convocada pela Organização das Nações Unidas foi preparada nos quatro anos anteriores -
todas as suas convenções, cartas e a célebre Agenda 21 já estavam previamente alinhavadas
por conferências preparatórias. O Rio de Janeiro serviu como centro de encontro de 114 chefes
de Estado, 10.000 jornalistas e uma população visitantes avaliada em 500 mil pessoas. Pela
primeira vez, estadistas e representantes de organizações não-governamentais, a voz da
sociedade civil, reuniam-se para discutir o futuro do planeta.
Além dos fatos acima citados, há ainda outros que marcaram o caminho evolutivo da
preocupação com o meio ambiente. Para efeito de melhor compreensão, os dois quadros a
seguir apresentam e resumem os principais fatos históricos ligados à esta evolução em todo o
planeta. No primeiro (quadro 2.2) pode-se observar alguns dos principais e mais graves
acidentes ambientais ocorridos, a época, o local e os respectivos impactos. Já no segundo
(quadro 2.3), é apresentado um resumo que inclui alguns fatos históricos que marcaram a
evolução do despertar da consciência ecológica, a época em que ocorreram e os resultados de
cada um destes.
Atualmente, o gerenciamento da qualidade ambiental pode ser entendido como uma expansão
do conceito de TQM - Total Quality Management (Gerenciamento da Qualidade Total) uma vez
que zela por uma produção com qualidade dos produtos e dos processos, sem desperdícios,
com um melhor aproveitamento dos recursos e consciência da finitude destes, entre outros, ou
seja, uma percepção ampliada do antigo conceito de qualidade. É o que se discute a seguir.
"Movimentos predominantes" - Resposta dos anos 50 "Movimentos predominantes" - Resposta dos anos
aos temas de qualidade 90 aos temas ambientais
"Produção sem preocupação com qualidade" "Produção sem preocupação com impacto
demanda excede a produção, os consumidores ambiental"
compravam tudo e qualquer coisa que se produzia. · capacidade da natureza de acomodar os
"Movimento de zero-defeito" resíduos da manufatura excede
qualidade perfeita sem preocupação com extremamente a capacidade dos
custos. (conformidade 100%) manufatureiros de gerar resíduos;
"Abordagem de minimização de custos" · falta de interesse da sociedade.
deve-se otimizar os custos da qualidade "O movimento verde"
através do equilíbrio entre prevenção e
custos de falha com inspeção de custos.
· proteção ambiental sem preocupação
com custos.
"Abordagem do Gerenciamento da Qualidade Total - "A abordagem do uso inteligente"
TQM" · otimização dos custos de produção por
foco na satisfação das necessidades do cliente por meio do equilíbrio entre perdas ambientais
todo o processo com a promessa de oferecer devido às operações.
melhoria na qualidade e melhoria na produtividade. "Gerenciamento da Qualidade Total Expandido -
TQEM"
· expandindo a definição de satisfação do
cliente incluindo temas ambientais e
tratando o ambiente como cliente; quando
acompanhado com um foco na satisfação
das necessidades dos clientes, oferece a
promessa de soluções sustentáveis com
redução do estrago ambiental e melhoria
da produtividade.
Elaboração baseada em Hanna e Newman (1995)
Quanto ao primeiro ponto produção sem preocupação com impacto ambiental, é fato que ainda
existem muitas empresas as quais estão operando sob a suposição de que o ambiente natural
é grande o suficiente para prover os recursos adequados para as necessidades de produção e
para ser depositário de tudo o que for descartado. Realizam pressões por uma legislação mais
amena, na suposição de que o custo de conformidade com a legislação ambiental vá
inevitavelmente tornar os produtos menos competitivos. Além disso, deve ser notado que se
estas indústrias respondem com êxito à regulação em redução ou prevenção de impactos
ambientais, isto resulta somente em uma solução local ao ambiente subjacente e aos temas
operacionais.
Isto porque regulamentos variam de local para local, mas os limites políticos raramente
competem com os limites naturais dos sistemas ecológicos os quais devem processar a
poluição industrial. Um exemplo são as emissões tóxicas da Europa que estão afetando os
ursos polares e grande parte da vida marinha no Ártico. Uma solução global, se disponível,
poderia claramente ser preferida, de ambas perspectivas tanto operacional como ambiental.
O movimento verde foi uma segunda resposta às tendências de preservação ambiental, é a
perseguição por uma preservação ecológica completa através de uma legislação adicional
embasada, inclusive, em muitas das iniciativas dos movimentos verdes. Apesar de o impacto
de tal legislação ser perseguido a nível local, regional e nacional, a conferência do Rio de
Janeiro, a ECO 92, pretendeu passar para uma percepção de desafio global. Este caminho
foca apenas em mudanças no output industrial, através das especificações na legislação
ambiental, invés de atuar diretamente sobre a alteração dos processos de manufatura.
Trabalhando-se baseados na filosofia do movimento verde, se pode vir a forçar o
empreendimento humano a continuar por obrigação sem uma completa consideração pelo
impacto econômico.
A perspectiva do uso inteligente prima por uma tomada de decisão economicamente racional
por meio de uma pesagem dos custos e benefícios envolvidos. Esta perspectiva enfoca um
compromisso entre metas econômicas e ecológicas e a abordagem multi-critérios de
"obediência otimizada" de muitas empresas. Esta abordagem é análoga a um foco definido no
balanceamento da prevenção e uma avaliação dos custos com custos de falha de maneira a
minimizar localmente uma função "custo de qualidade". O foco primário desta perspectiva é
também em sistemas de output, se bom ou mal; e, como é geralmente o caso com abordagens
as quais não consideram o processo inteiro, soluções locais e sub-otimizadas são prováveis
como resultado. Objetivando uma abordagem mais ampla, a expansão do conceito do TQM
surge como uma solução potencial.
Explicitando a ligação de sensatez ambiental à definição de qualidade, TQEM - Total Quality
Environmental Management – (Gerenciamento Ambiental da Qualidade Total), responde à crise
permitindo uma produção ecologicamente correta através da utilização de ferramentas e
conceitos de TQM. Entre os resultados, o TQEM ajuda os manufatureiros a entender os
produtos que estão criando, desde o design, através de toda a cadeia de valor até o último uso
e disposição final.
O "controle da qualidade total" de Feigenbaum ofereceu a expectativa de prover produtividade
através da melhoria da qualidade; hoje o TQM também pode oferecer expectativas de melhorar
a produtividade através da melhoria da qualidade ambiental. Como as considerações de
qualidade no passado, expandir o TQM para considerar os temas ambientais poderia ter um
grande impacto no gerenciamento operacional. Assim como o TQM propõem soluções globais
para outros problemas de qualidade, ele oferece mecanismos para achar soluções globais para
a perplexidade ambiental dos manufatureiros de hoje (Hanna e Newman, 1995).
Além da definição da GEMI, existem outras definições para este movimento como observado
em Romm (1996) que denomina o TQEM como "Administração enxuta e limpa". Diz o autor:
"no caso da produção enxuta e da qualidade total, o desperdício é tempo perdido, e as
medidas de ineficiência são grandes estoques, defeitos e reclamações de clientes. Na
produção limpa, a medida de eficiência é a poluição - do ar, da água e de refugos sólidos. Se
uma empresa melhorou sua qualidade e reduziu o desperdício de tempo com sucesso, a
administração enxuta e limpa é a próxima etapa no processo contínuo de aumento dos lucros e
da produtividade"(pg. 22).
De acordo com o autor, a administração enxuta e limpa é a abordagem mais completa para
minimizar todos os tipos de desperdícios da empresa. Portanto, é possível que se torne a
administração e o sistema de produção dominantes no século XXI. Previsão semelhante é feita
por Lutz (in Callenbach et al, 1993): "administrar com consciência ecológica" passou a ser o
lema dos empresários voltados para o futuro.
Não existe garantia de que o TQEM, ou a "administração enxuta e limpa", vão trazer benefícios
nos próximos 30 anos comparáveis com aqueles que TQM traz hoje e trouxe no passado. No
entanto, o que está ilustrado no quadro 2.2 sugere que muitos benefícios poderiam surgir da
aplicação do que nós já aprendemos sobre TQM com os temas ambientais encarados no
mundo dos negócios hoje.
Conforme destacou Maurice Strong, secretário-geral da United Nations Conference on
Environmental and Development (1992, Earth Summit) (Kinlaw, 1997):
"O gerenciamento da qualidade total é uma forma total de
gerenciamento. Implica a obtenção de qualidade em tudo aquilo que a
empresa faz. Mais e mais organizações estão percebendo que não
podem atingir a qualidade total se lançarem efluentes tóxicos no
sistema de abastecimento de água ou elementos químicos ácidos no
ar - como também não podem atingir a qualidade total se não
tratarem adequadamente as pessoas e se não responderem às
necessidades específicas de uma força de trabalho multicultural".
(p.xix)
Para os líderes empresariais, torna-se cada vez mais evidente que as responsabilidade
ambiental é o passo seguinte à qualidade total, e é um passo imprescindível para que
permaneçam competitivas e lucrativas. Assim, a gestão ambiental pode ser encarada como um
novo paradigma empresarial.
Importante observar que nenhuma pressão existe independente de outras, e todas elas têm um
impacto na capacidade de competir
A ampliação do conceito da qualidade a ponto de incluir a qualidade ambiental, a mudança de
paradigma representada pela gestão ambiental e as pressões para mudança levaram ao
questionamento do atual paradigma de crescimento econômico. Surge então o conceito de
desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento do conceito de sustentabilidade e os conflitos
gerados frente à filosofia de crescimento econômico ilimitado é o que se discute a seguir.
2.5 Desenvolvimento sustentável e crescimento econômico
O movimento ambiental e muitas das regulações ambientais têm sido tradicionalmente vistos
como um dispendioso impedimento à produtividade. De acordo com Porter (1995), a visão que
prevalece ainda é: ecologia versus economia, ou seja, de um lado estão os benefícios sociais
que se originam de rigorosos padrões ambientais, e de outro lado, estão os custos da indústria
com prevenção e limpeza - custos estes que, neste enfoque, conduzem à altos preços e baixa
competitividade.
Nesta visão há um conflito entre crescimento econômico e proteção ambiental. Rattner (1991,
p.7) acrescenta: "desde a publicação do relatório ao Clube de Roma, em 1972, os debates
sobre políticas de meio ambiente têm se travado em termos da dicotomia crescimento
econômico, entendido como aumento da renda per capita, versus melhoria da qualidade de
vida, sendo que ganhos de um lado trariam, inevitavelmente, perdas de outro. Estudos e
análises mais recentes procuram superar esta contradição, ao deslocar - sem invalidar - a
ênfase de crescimento econômico para o conceito de desenvolvimento sustentável baseado
em uma relação de complementaridade, na qual uma melhora da qualidade de vida seria uma
conseqüência do próprio processo de expansão e crescimento econômico".
Ambos os autores concordam que corretamente planejados, padrões ambientais podem
desencadear inovações que venham a diminuir o custo total de um produto ou mesmo
aumentar o seu valor. Tais inovações permitem às empresas utilizar seus inputs de forma mais
produtiva - de matérias-primas à fontes de energia - assim compensando os custos de
diminuição dos impactos ambientais e acabando com o impasse entre economia e proteção
ambiental.
O conceito de desenvolvimento sustentável foi cunhado em 1987 pelo relatório da Comissão
Mundial das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (World Commission on
Environment and Development), também conhecida como Comissão Brudtland (Brundtland
Commission) devido à sua presidente Gro Harlen Brundtland. O relatório foi entitulado "Our
Common Future" (Nosso Futuro Comum). Os termos de referência da Assembléia Geral das
Nações Unidas (que fez a requisição para o desenvolvimento do relatório) eram:
Propor uma estratégia ambiental de longo prazo para o alcance do desenvolvimento
sustentável por volta do ano 2000 e além; e
Identificar como as relações entre as pessoas, recursos, ambiente e desenvolvimento
poderiam ser incorporadas em políticas nacionais e internacionais.
Acrescenta Mitchell (1996) que, neste relatório, a Comissão deixou explícito que não havia
desenvolvido um manual detalhado de ações, mas sim um "caminho" através do qual pessoas
de diferentes países pudessem criar políticas e práticas apropriadas para alcançar o
desenvolvimento sustentável.
A Comissão se concentrou no desenvolvimento sustentável como uma abordagem que utiliza
os recursos da terra sem comprometer a capacidade de futuras gerações atenderem às suas
necessidades. Ou seja, significa o equilíbrio do crescimento econômico com a proteção
ambiental. Isso pode envolver a implementação da prevenção à poluição, a redução do uso de
substâncias tóxicas e do desperdício e a desaceleração da destruição de recursos não
renováveis. Em resumo, segundo Donaire (1995), "o desenvolvimento sustentável é a busca
simultânea de eficiência econômica, justiça social e harmonia ecológica".
"O conceito de desenvolvimento sustentável implica em limites – não
limites absolutos mas limitações impostas pelo estado presente da
organização tecnológica e social dos recursos naturais e pela
capacidade da atmosfera de absorver os efeitos das atividades
humanas". (World Commission on Environment and Development,
1987, pg. 08)
A idéia de desenvolvimento sustentável emergiu em um sentido mais amplo como resultado de
acordos firmados na Conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente, no Rio de Janeiro,
em 1992. Nesta Conferência, a busca do Desenvolvimento Sustentável consta de todas as
Convenções assinadas na ocasião.
A comunidade internacional dos negócios adotou os princípios de desenvolvimento sustentável
na forma do Business Charter for Sustainable Development (Contrato Empresarial para
Desenvolvimento Sustentável). As 16 propostas e exigências constantes desse documento
incluem os elementos básicos de sistemas de gestão ambiental.
De acordo com Maimon (1996), o desenvolvimento sustentável é mais do que um novo
conceito, é um processo de mudança, onde a exploração de recursos, a orientação dos
investimentos, os rumos do desenvolvimento ecológico e a mudança institucional devem levar
em conta as necessidades das gerações futuras. A ênfase na ecologia está na origem do termo
sustentável, quando da procura do equilíbrio entre os ritmos de extração que assegurem um
mínimo de renovabilidade para o recurso. A ênfase no econômico acarreta a busca de
estratégias que visem à sustentabilidade do sistema econômico. E, a ênfase no social visa criar
as condições sócio-econômicas da sustentabilidade, ou seja, o atendimento às necessidades
básicas, melhoria do nível de instrução, etc..
Semelhante à Maimon, diz Brüseke (1994) que o desenvolvimento sustentável possui três
dimensões principais: a dimensão bio-física, a dimensão econômica e a dimensão sócio-
política. O objetivo é, então, caminhar na direção de um desenvolvimento que integra os
interesses sociais, econômicos e as possibilidades e os limites que a natureza define.
Além disso, o desenvolvimento sustentável não questiona a ideologia do crescimento
econômico, que é a principal força motriz das atuais políticas econômicas e, tragicamente, da
destruição do ambiente global. O que se rejeita sim é a busca cega do crescimento econômico
irrestrito, entendido em termos puramente quantitativos como maximização dos lucros ou do
PNB. A auditoria ecológica, de acordo com Callenbach et al. (1993), implica o reconhecimento
de que o crescimento econômico ilimitado em um planeta finito só pode levar ao desastre.
Dessa forma, faz-se uma restrição ao conceito de crescimento, introduzindo-se a
sustentabilidade ecológica como critério fundamental de todas as atividades de negócios.
Segundo Maimon (1996), todo este movimento de convergência da Economia e da Ecologia
nas empresas, denominada de estratégia ECO-ECO, está intimamente ligada com a
consolidação de uma bio-ética em nível global e à discriminação política e econômica dos
vilões ambientais sejam eles regiões, países ou empresas.
A nova maneira de fazer negócios para a qual as empresas estão convergindo é o
"desempenho sustentável" (Kinlaw, 1997). Este movimento está ocorrendo devido às pressões
que estão criando a necessidade de mudança para um desempenho coerente com o
desenvolvimento sustentável. A variável ecológica se faz presente nas organizações
empresariais modernas.
Na visão da empresa apenas como uma instituição econômica, suas preocupações são
voltadas quase que exclusivamente para a maximização dos lucros e minimização dos custos.
Baumol & Oates (1979, in Maimon, 1996) denominam este comportamento como reativo, onde
a empresa responde à sinalização do mercado de insumos e produtos/serviços e à
regulamentação dos órgãos de controle ambiental. A empresa vivencia uma contradição entre
a responsabilidade ambiental e o lucro. O que já é diferente na visão da empresa como
instituição sócio-política:
Na visão moderna da empresa, o contexto é muito mais complexo e amplo. De acordo com
Donaire (1995), a linha de demarcação entre empresa e seu ambiente é vaga e ambígua.
Assim, muitas das decisões internas da organização requerem considerações explícitas das
influências do ambiente externo, e isso inclui considerações de caráter social e político que se
somam às tradicionais considerações econômicas. Maimon (1996) denomina este
comportamento como "comportamento ético ambiental". Nestas empresas o planejamento é
feito por uma equipe interdisciplinar constituída por várias especializações de profissionais.
Leva-se em conta os diferentes atores internos e externos da empresa e os respectivos
interesses. Assim, de acordo com autora, a cooperação se dá não somente entre empresas, ou
entre empresas e o setor público, mas com o designado Terceiro Ator, as Organizações Não-
Governamentais (ONGs) Ambientalistas.
As chamadas Tecnologias Limpas e o conceito de Excelência Ambiental sugerem uma
avaliação da organização não somente pelo seu desempenho produtivo e econômico mas por
seus valores éticos e pela performance ambiental. Callenbach et al. (1993) comenta que é
possível que os investidores e acionistas usem cada vez mais a sustentabilidade ecológica, no
lugar da estrita rentabilidade, como critério para avaliar o posicionamento estratégico de longo
prazo das empresas.
As preocupações relativas às questões de proteção ambiental vem dando resultados, mudando
o comportamento das empresas e promovendo um novo modelo de comportamento em âmbito
mundial.
As respostas da indústria ao desafio da produção ecologicamente correta ocorrem em três
fases, muitas vezes sobrepostas, dependendo do grau de conscientização da questão
ambiental dentro da empresa, conforme observado na figura a seguir:
Atualmente, como visto nas organizações modernas, algumas estão na primeira fase, enquanto
a maioria se encontra na segunda fase e apenas uma minoria na já amadurecida terceira fase.
As empresas que trabalham com o conceito moderno de gerenciamento ambiental integram os
três níveis de resposta de conscientização ambiental e projetam a sociedade para o futuro,
pois, como mencionado por Jean Charles Rouher, secretário geral da câmara do Comércio
Internacional, o status e a liberdade das empresas para o próximo século dependerão de sua
aceitação em assumir e bem conduzir suas responsabilidades ambientais.
A empresa que aceita e bem conduz suas responsabilidades ambientais preservando seu lucro
tem um desempenho sustentável, ou seja, traduz o conceito de desenvolvimento sustentável
em práticas empresariais. Este conceito cunhado por Kinlaw (1997) tem como características
principais o lucro e o desempenho. Destaca o lucro como propulsor do movimento rumo ao
desempenho sustentável e tem como principal qualitativo de desempenho a melhoria de
qualidade.
Sustenta o autor (pg. 89):
"A meta primeira das empresas não é descobrir meios de crescer e
expandir. A meta primeira não é desenvolver. A meta primeira é a
qualidade total e a contínua melhoria dos processos, serviços e
produtos, exigidas pela era ambiental. Somente atingindo primeiro
essa meta é que se poderá atingir e manter as metas de melhoria do
meio ambiente, de lucratividade a longo prazo e de posição
competitiva. A verdadeira chave da sustentabilidade é a qualidade -
não o desenvolvimento".
O TQEM (Total Quality Environmental System) trabalhado no item 2.3.1 enfatiza a ampliação
do conceito de Qualidade. Segundo esta tendência, o gerenciamento da qualidade envolve o
meio ambiente e as organizações em um mesmo sistema, exigindo que as empresas
aprendam a operar em um ambiente de melhoria contínua de cada aspecto do negócio.
O pensamento sistêmico é destacado por Kinlaw (1997) como uma tendência para as
empresas do futuro. O autor propõe um modelo de sistemas para o desempenho sustentável e
diz que cada elemento do desempenho de uma empresa interage com o meio ambiente. Isto
significa que o desenvolvimento deve ocorrer com a plena consciência das inter-relações entre
todos os ecossistemas naturais e toda a atividade humana.
Donaire (1995) fala ainda do alargamento dos mercados internacionais: união dos países
europeus, mercado comum entre Estados Unidos, Canadá e México, integração latino-
americana e outros nomes que evidenciam o surgimento de um mercado mundial, segundo o
autor, todas as empresas, mesmo aquelas que atuam no mercado doméstico, acabam sendo
afetadas, quer pela competição existente com as multinacionais domiciliadas, quer pela
importação de bens dos países que possuem vantagens comparativas.
Desta forma, em concordância com Senge (1990), pode-se dizer que a lucratividade e a
rentabilidade das empresas é agora e será cada vez mais fortemente influenciada pela sua
capacidade de antecipar e reagir frente às mudanças sociais e políticas que ocorrem em seu
ambiente de negócios.
Essas mudanças no ambiente dos negócios têm influenciado na forma pela qual os
administradores geram seus negócios e provocado uma reflexão sobre qual é o papel que as
organizações devem desempenhar frente à sociedade. Assim, pode-se citar Robert O.
Anderson (1982, in Donaire, 1995, pg. 18):
"A principal alteração que se verifica atualmente é a percepção das
corporações sobre o papel que desempenham na sociedade. A
corporação não é mais vista como uma instituição com propósitos
simplesmente econômicos, voltada apenas para o desenvolvimento e
venda de seus produtos e serviços. Em face de seu tamanho,
recursos e impacto na sociedade, a empresa tem grande
envolvimento no acompanhamento e na participação de muitas
tarefas sociais, desde a limpeza das águas até o aprimoramento
cultural e espera-se que ocorra um alargamento de seu envolvimento
com esses conceitos ‘não econômicos’ no futuro, entre eles proteção
dos consumidores e dos recursos naturais, saúde, segurança e
qualidade de vida nas comunidades em que estão localizadas e onde
fazem seus negócios."
Romm (1996) diz que a tendência para a prevenção da poluição é uma das mudanças
fundamentais que estão ganhando espaço nas empresas de todo o mundo.
Cita o autor os cenários futuros que a seção de Meio Ambiente da Empresa de Planejamento
de Grupo da Shell International publicou em um relatório entitulado Global scenarios for the
energy industry: challenge and response (Cenários globais da indústria energética: desafios e
resposta). Na figura 2.5 pode-se observar "duas possíveis direções - duas interpretações
alternativas dos atuais sinais de mudança" traçadas pelos planejadores:
Figura 2.5 - Duas Interpretações alternativas dos atuais sinais de mudança
Fonte: Baseado em: A. Kahane, "Cenários globais da indústria energética: desafio e resposta", Shell
International Companhia de Petróleo Ltda, Inglaterra, 1991, p. 4, in Romm (1996).
Resumo do capítulo
Muitos motivos podem levar uma empresa ao desaparecimento, entre eles: o surgimento de
uma nova tecnologia, uma nova lei, uma superioridade do concorrente e uma mudança no
estilo de vida. Além disso, as forças modernas pressionam as organizações, como por
exemplo: competição global, mudanças tecnológicas e as forças sociais. O Gerenciamento da
Qualidade pode auxiliar as organizações a lidarem com os riscos e com as forças modernas
através da melhoria contínua, fluxo constante de informações e conhecimento e funcionando
como catalisador da motivação das pessoas, além de proporcionar um clima de Qualidade
Total.
O conceito de qualidade relacionado ao produto pode ser: "conjunto de elementos básicos que,
ao atuarem sobre o produto, permitem que a ele seja atribuída uma ‘boa qualidade’" (Paladini,
1994).
O movimento da qualidade evoluiu seguindo: controle final do produto (inspeção); controle
estatístico do processo; gestão estratégica da qualidade; gerenciamento da qualidade total e,
mais recentemente, gerenciamento ambiental da qualidade total (TQEM).
A preocupação com a questão ambiental vem crescendo desde a década de 60 quando a
noção de mercados e recursos ilimitados revelou-se equivocada. O marco inicial foi a
publicação de "Silent Spring" de Rachel Carson.
O movimento ambiental passou pelas seguintes fases: produção sem preocupação com
impacto ambiental; o movimento verde; a abordagem do uso inteligente e, por vim, o
gerenciamento da qualidade total expandido (TQEM). Este último tem entre suas principais
características a inclusão dos temas ambientais nos planos e objetivos da empresa e o
tratamento deste também como um cliente, oferecendo a promessa de soluções sustentáveis.
A gestão ambiental surge como uma resposta do setor produtivo diante desta evolução e de
diversas pressões sobre as organizações como: investidores ambientalmente conscientes,
observância da lei, possibilidade de culpabilidade pessoal e prisão, entre outros.
O conceito de desenvolvimento sustentável é mais um dos frutos da maior conscientização
ambiental. Pode ser conceituado como a busca simultânea de eficiência econômica, justiça
social e harmonia ecológica (Donaire, 1995).
As preocupações relativas às questões de proteção ambiental vem dando resultados, mudando
o comportamento das empresas e promovendo um novo modelo de comportamento em âmbito
mundial. As empresas passam a ser vistas como instituições sócio –políticas.
O futuro das organizações em um mundo preocupado com o meio ambiente vai basear-se em
dois pressupostos essenciais: um incremento das pressões e restrições ambientais em todas
as decisões organizacionais, e uma maior conscientização por parte dos consumidores que
também irão adquirir muito mais funcionalidade e não material.