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Guião da disciplina Cálculo I (2010-2011)

(até cálculo integral)


Vasile Staicu (Coordenador da disciplina)
Departamento de Matemática da Universidade de Aveiro

1 Introdução
A Analise Matemática representa uma componente essencial da cultura ci-
enti…ca de qualquer investigador da natureza, porque para alem do papel
informativo, essa desenvolve habilidades de cálculo, educa e organiza o pen-
samento, canaliza a intuição, oferecendo inúmeros exemplos de modelação
matemática de fenómenos …sicos, químicos, económicos, etc.
Excepto nos casos mais triviais, a formulação e aplicação dos princípios
básicos de muitos domínios do conhecimento são simplesmente incompreen-
síveis para quem hão conhece o Cálculo Diferencial e Integral. Em larga
medida a Ciência Moderna só se tornou possível com as descobertas de New-
ton, Leibnitz e outros pioneiros dos séculos XVII e XVIII sobre os temas que
envolvem as noções de derivada e integral, o seu relacionamento pelos Teo-
remas Fundamentais do Cálculo, e a noção de série (soma com um número
in…nito de termos), que é essencial, por exemplo na obtenção de resultados
numéricos.
A formação matemática fundamental em cálculo diferencial e integral
unidimensional é o principal objectivo da disciplina Cálculo I, leccionada
no primeiro semestre do primeiro ano para todos os cursos de Ciências e
tecnologias da Universidade de Aveiro. Em paralelo com Cálculo I, funciona
a disciplina Analise Matemática I, destinada aos alunos do DMat e DETI,
com objectivos similares, mas maior carga horária.
Os alunos devem estar bem cientes que as disciplinas leccionadas na UA
supõem em geral que conhecimentos de cálculo diferencial e integral, lec-
cionadas em Cálculo I, e que a reprovação nesta cadeira tem indubitavelmente
consequências muito negativas sobre o seu percurso na UA.
É infelizmente verdade que as taxas de insucesso escolar são demasiado
altas nesta e noutras disciplinas, mesmo entre alunos da UA que trazem boas

1
classi…cações do Ensino Secundário, e por múltiplas razoes cuja responsabil-
idade tanto alunos como professores gostam de atribuir a terceiros.
Pessoalmente, receio que muitos alunos se apercebam tarde de mais dos el-
evados níveis de estudo, esforço e empenhamento pessoal que são necessários
para dominar os temas tecnicamente so…sticados que são o núcleo da apren-
dizagem na UA. Por obvio que possa parecer, recomendo vivamente que
estudem com muita regularidade, identi…quem questões que não entenderam
bem, discutam com os colegas, frequentem sessões de OT e tiram as dúvidas
com o docente, etc.
O planeamento do trabalho, dividindo o tempo disponível pelas várias dis-
ciplinas que cada aluno frequenta, é fundamental. Se o conseguirem, terão
ganho hábitos que vos serão da maior utilidade pela vida fora, independen-
temente dos vossos percursos futuros, e das notas que vierem a ter na UA.
Enquanto responsável desta disciplina, cabe-me garantir o nível de ex-
igência que considero apropriado, o que faço na convicção de que qualquer
aluno(a) que entra na UA pode atingir esse nível, desde que trabalhe o su…-
ciente para isso. Claro que o que constitui trabalho su…ciente não é o mesmo
para todos os alunos, e portanto cada um terá de determinar individualmente
a sua necessidade.
Em primeira aproximação, o tempo de estudo individual é certamente
pelo menos da ordem do tempo de aulas, e é normal que seja bastante superior
a este, sobretudo no caso de alunos menos bem preparados!

Sendo o principal objectivo desta disciplina é obtenção da formação mate-


mática fundamental em cálculo diferencial e integral unidimensional, espera-
se que o aluno ganhe as seguintes competencias: dominar as propriedades
basicas dos números reais (estrutura algebrica, estrutura de ordem e topo-
logica) e …xar as tecnicas basicas de demonstração; desenvolver a capaci-
dade de analise da natureza das sucessões e das séries numéricas quanto à
sua convergência; capacidade de análise qualitativa de funções reais de var-
iável real, quanto a continuidade, derivabilidade, primitivação e integração
segundo Riemann, e suas aplicações na resolução de problemas.

Carga horaria e metodologia: a disciplina Cálculo I tem atribuidas 4


horas teorico-praticas por semana, mais uma hora por semana de orientação
tutorial. Nas aulas teorico praticas, interacivas com os alunos, se apresentam
conceitos teoricos, seguidos de exemplos e de resolução de exercicios.

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2 Resumo do programa
1. Números reais: propriedades algébricas, relacão de ordem e pro-
priedade do supremo. Números naturais. Método de indução. Outros
metodos de demonstração: prova directa, prova de contra-recíproco,
prova por redução ao absurdo. Minorante, majorante, ín…mo, supremo,
mínimo e máximo de um conjunto em R. Módulo. Noções de topologia
em R.

2. Sucessões de números reais.


Noção de sucessão. Limite de uma sucessão. Propriedades dos limites.
Sucessões limitadas. Sucessões monótonas. Sucessões que tendem para
o in…nito. Teoremas fundamentais. Subsucessões. Limites superior e
inferior. Sucessões de Cauchy.

3. Funções reais de variável real


Funções elementares: polinómios, exponencial, logaritmo, funções trigonométri-
cas directas e inversas e funções hiperbólicas directas e inversas. Limite
de uma função num ponto. Propriedades do limite. Limites laterais.
Limites in…nitos. Continuidade. Propriedades das funções contínuas.
Composição de funções contínuas. Teorema do Valor Intermédio de
Cauchy. Inversa de uma função contínua. Teorema de Weierstrass.
Continuidade uniforme. Funções monótonas.

4. Cálculo diferencial em R
Derivada de uma função num ponto. Interpretação geométrica e física
de derivada. Regras de derivação. Funções diferenciáveis. Derivação da
função composta. Derivação da função inversa. Derivação de funções
elementares. Teoremas de Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy. Re-
gra de L’Hospital e Regra de Cauchy. Derivadas de ordem superior.
Fórmula de Taylor. Estudo do comportamento de uma função. Inde-
terminações. Assímptotas. Máximos e mínimos.

5. Cálculo integral em R
Área e integral. Somas de Riemann. Integral de Riemann. Somas
de Darboux. Condições su…cientes de integrabilidade. Propriedades
do integral. Integral inde…nido. Teorema Fundamental do Cálculo.
Primitivação. Primitivas imediatas. Métodos e técnicas de primiti-
vação: primitivação por decomposição, por partes e por substituição.
Primitivação de funções racionais. Primitivação de funções irracionais.
Primitivação de funções transcendentes. Integrais improprios.

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3 Bibliogra…a
1. Virginia Santos: Cálculo I - Cálculo com funções de uma variável, 2009-
2010 (texto publicado no e-learning da UA).

2. Tom Apostol: Cálculo (vol. 1), Editorial Reverté, Barcelona, 1994


(versão inglesa disponivel em e-learning da UA).

3. J. Marsden, A. Weinstein: Calculus unlimited, The Benjamin Cum-


ming Publishing Company, Inc., 1981 (versão inglesa disponivel em
e-learning da UA).

4. S. G. Krantz: Calculus demysti…ed, A self-teaching guide, McGraw-


Hill, 2003. (versão inglesa disponivel em e-learning da UA).

5. M. Ryan: Calculus workbook for dummies, Wiley Publishing, Inc.,


2005.

6. J. Campos Ferreira: Introdução à Analise matemática, Fundação C.


Gulbenkian, 1993.

7. Elon Lages Lima: Curso de Análise, vol 1, IMPA, Rio de Janeiro, 1995.

4 Avaliação de Conhecimentos
A avaliação é do tipo misto para todos os alunos (incluindo os alunos que
não podem frequentar as aulas), e consiste na realização de dois testes es-
critos (ambos cotados para 20 valores e ambos com peso de 50%), o primeiro
durante o período lectivo, no dia 3 de Novembro de 2010 (das 15 as 18 horas)
e o segundo durante a época (normal) de exames.
Os alunos têm de obter uma classi…cação superior ou igual a 6 valores no
primeiro teste para se poderem apresentar no segundo teste. Considera-se
aprovado o aluno que, tendo obtido mínimo de 6 valores no segundo teste,
venha a obter uma classi…cação …nal (média dos dois testes) superior ou igual
a 9,5.
No segundo teste avalia-se a matéria não avaliada no primeiro teste. In-
formações sobre a matéria a avaliar em cada teste mínimos para aprovação
serão colocados no e-learning.
De acordo com o calendário escolar haverá lugar a uma época de recurso,
onde será realizada uma prova de avaliação escrita (em data a …xar pelo
calendário de exames). Nos termos do REUA, poderão comparecer a esta
prova todos os alunos inscritos na disciplina, desde que não tenham reprovado

4
por faltas. A classi…cação …nal na epoca de recurso corresponde a nota obtida
no exame.
A desistência num dos testes implica desistencia na epoca normal.
Em qualquer uma das epocas (normal e recurso) poderá ser exigida uma
prova de avaliação complementar, caso o aluno pretenda candidatar-se a uma
nota …nal superior a 17 valores. A data de realização desta prova será …xada
pelo responsavel da unidade curricular e poderá ser exame oral.

5 Equipa de docentes e distribuição das tur-


mas:
Vasile Staicu (coordenador da disciplina):

– gabinete 27.3.8;
– email: vasile@ua.pt;
– leciona nas turmas: T4G+TPR2

José Alexandre Da Rocha Almeida

– gabinete 11.3.17;
– email: jaralmeida@ua.pt;
– leciona nas turmas: T1C+T3B+T6D.

Cláudia Margarida Pedrosa Neves

– gabinete 27.3.13;
– email: claudia.neves@ua.pt;
– leciona nas turmas: T4B+TPR8

Nélia Maria Marques da Silva

– gabinete 11.2.27;
– email: neliasilva@ua.pt;
– leciona nas turmas: T2B+T3A+TPR4

Vera Mónica Almeida Afreixo

– gabinete 11.2.37;

5
– email: vera@ua.pt;
– leciona nas turmas: T2A+T3C+TPR3.

Tatiana Tchemisova Cordeiro

– gabinete 11.3.51;
– email: tatiana@ua.pt;
– leciona nas turmas: T4C+TPR7+TPR6.

Ricardo Miguel Moreira de Almeida

– gabinete 11.2.32;
– email: ricardo.almeida@ua.pt;
– leciona nas turmas:T4A+T2C+TPR1+T6C

Maria Elisa Carrancho Fernandes

– gabinete 11.2.37;
– email: maria.elisa@ua.pt;
– leciona nas turmas:T1A+T1B

Maria Isabel Cação

– gabinete 11.3.5;
– email: isabel.cacao@ua.pt;
– leciona na turma: TPR5.

6 Calendarização das aulas


De seguida faz-se uma divisão do programa em lições e semanas de lecionação.
Cada lição ocupa em geral uma aula de 110 minutos e o ritmo da leccionação
depende da reacção dos alunos a cada tema, sendo nosso objectivo manter
desperta a atenção e o interesse dos alunos durante a aula.

Lição 1 (Semana 20/9 - 25/9): Apresentação dos objectivos, do re-


sumo do programa proposto, das referencias bibliográ…cas e dos critérios
de avaliação. Preliminares sobre conjuntos e lógica elementar (ter-
mos, símbolos, demonstrações e contra-exemplos). Métodos de demon-
stração: prova directa; prova do contra-recíproco; prova por redução
ao absurdo; contra-exemplos.

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Lição 2 (Semana 27/9 - 1/10): Avaliação da SPM / Teste de
diagnostico

Lição 3 (Semana 27/9 - 1/10): Corpo dos números reais. Pro-


priedades algébricas dos números reais. Os axiomas de ordem. Relações
de ordem.

Lição 4 (Semana 4/10 - 9/10): Majorantes, minorantes, mínimo,


máximo, ín…mo, supremo de um conjunto de números reais: caracter-
ização. Axioma do supremo. Propriedade arquimedeana. Densidade
dos racionais e irracionais nos reais. Introdução do conjunto de números
naturais como o menor subconjunto indutivo (isto é, contem1 e, se con-
tem n então também contem n+1). Principio de indução matemática.
Método de indução matemática.

Lição 5 (Semana 4/10 - 9/10): Módulo ou valor absoluto: de…nição


e propriedades. Noções topológicas em R: vizinhança de um ponto;
pontos interiores, exteriores, fronteiros, ponto aderente, ponto de acu-
mulação, ponto isolado; ponto interior, e ponto exterior. Fronteira,
fecho e conjunto derivado de um conjunto; conjunto aberto e conjunto
fechado. Conjunto limitado e conjunto compacto. Teorema de Bolzano-
Weierstrass.

Lição 6 (Semana 11/10 -16/10): Sucessões de números reais: de…nições


básicas (sucessão, subsucessão, sucessões limitadas, sucessões monó-
tonas). Operações elementares com sucessões. Sucessões convergentes.
Unicidade do limite. Teorema das sucessões enquadradas.

Lição 7 (Semana 11/10 -16/10): Convergência das sucessões monó-


tonas e limitadas. Sucessões de Cauchy: de…nição e propriedades. Con-
vergencia das sucessões de Cauchy. Critérios de convergência, Sucessões
com limite in…nito. A recta acabada. Indeterminações.

Lição 8 (Semana 18/10 -23/10): Domínio e contradomínio de uma


função real de variável real. Exemplos. Funções elementares: funções
polinomiais, funções racionais, funções exponenciais, funções logarítmi-
cas, funções trigonométricas directas e inversas. Exemplos e algumas
propriedades. Funções hiperbólicas directas e inversas.

Lição 9 (Semana 18/10 -23/10): Limites de funções reais de var-


iável real num ponto: de…nição do limite; limite in…nito, limite ao +
in…nito e ao in…nito. Unicidade do limite. Propriedades dos limites
e propriedades dos limites relativamente à relação de ordem. Limites

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laterais. Caracterização da existência de limite de uma função por meio
de sucessões. Limites in…nitos e limites no in…nito.

Lição 10 (Semana 25/10 -30/10): Continuidade de funções reais


de variável real: continuidade num ponto, continuidade lateral, con-
tinuidade num conjunto, Operações com funções contínuas. Funções
uniformemente contínuas. Propriedades globais das funções contínuas.Teorema
do Valor Intermédio de Cauchy.Teorema de Weierstrass. Continuidade
uniforme. Funções monótonas.

Lição 11 (Semana 25/10 -30/10): Derivada de uma função num


ponto: de…nições e exemplos. Interpretação geométrica e física do con-
ceito de derivada. Derivadas laterais. Derivadas in…nitas. Exemplos.
Regras de derivação.

Lição 12 (Semana 1/11 -6/11): Derivação da função composta.


Derivação da função inversa. Exemplos. Derivação de funções ele-
mentares. Continuidade das funções derivaveis. Teoremas fundamen-
tais da derivação. Extremos relativos duma função.

Lição 13 (Semana 1/11 -6/11): Teorema de Fermat. Aplicações.


Teorema de Darboux (propriedade de Darboux da função derivada)
e aplicações. Teorema de Rolle e suas consequências. Teorema de
Lagrange e suas aplicações. Teorema de Cauchy. Teorema de l’Hospital
para funções diferenciáveis. Aplicações.

Lição 14 (Semana 8/11 -13/11): Função derivada. Derivada de


ordem n. Funções de classe Cn. Polinómio de Taylor. Fórmula de
Taylor com resto de Peano. Fórmula de Taylor com resto de Lagrange.
Fórmula de MacLaurin. Exemplos e exercícios.

Lição 15 (Semana 8/11 -13/11): Estudo do comportamento de


uma função: extremos, convexidade, variação e grá…co de funções reais
de variável real.

Lição 16 (Semana 15/11 -20/11): Noções elementares sobre prim-


itivas. Primitivas imediatas. Regras de primitivação.

Lição 17 (Semana 15/11 -20/11): Primitivação por partes. Exem-


plos e exercicios. Primitivação por substituição.

Lição 18 (Semana 22/11 -27/11): Primitivação por decomposição.


O papel das funções trigonometricas. Primitivação das funções racionais
e das funções iracionais.

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Lição 19 (Semana 22/11 -27/11): Cálculo integral: motivação. Os
conceitos de partição e de norma de uma partição. Somas de Riemann.
Funções integraveis à Riemann. Critério de Cauchy de integrabilidade
Riemann.

Lição 20 (Semana 29/11 -4/12): Propriedades do integral. Teo-


rema Fundamental do Cálculo integral. Fórmula de integração por
partes.- Integração por mudança de variável.

Lição 21 (Semana 29/11 -4/12): Integral inde…nido e suas pro-


priedades. Aplicações do integral de Riemann: cálculo de áreas e de
volumes.

Lição 22 (Semana 6/12 -11/12): Integrais impróprios da primeira


espécie. Critérios de convergência. Exemplos e exercicios.

Lição 23 (Semana 6/12 -11/12): Integrais impróprios da segunda


espécie. Critérios de convergência. Exemplos e exercicios.

Lição 24 (Semana 13/12 -17/12): Revisão da materia dada e ori-


entações para a preparação do exame.

7 Preliminares sobre conjuntos e lógica ele-


mentar
A linguagem dos conjuntos baseia-se em três palavras chaves: conjunto, ele-
mento e pertença. O conceito de conjunto é considerado primario, e é sinon-
imo de coleção, familia.
Um conjunto é determinado pelos seus elementos no sentido que um con-
junto é de…nido quando temos um critério com qual se se pode pestabelecer
se um dado objecto é ou não é um elemento desse conjunto. Em vez de dizer
o objecto a é um elemento do conjunto A dizemos que o elemento a pertence
ao conjunto A:
Para indicarmos conjuntos utilizamos em geral letras maiúsculas: A; B;
X; Y; :::; para indicarmos os elementos costumamos utilizar letras minúsculas:
a; b; x; y; :::: e para indicar que elemento a pertence ao conjunto A escrevemos

a 2 A ou A 3 a:

Um conjunto pode ser de…nido por tabulação, ou seja indicando os ele-


mento que a ele pertençam. Por exemplo, A = f1; 3; 4; 8g signi…ca que o
conjunto A contém os números 1; 3; 4; 8; e nenhum outro. Observa-se que

9
este modo de de…nir um conjunto é apropriado para conjuntos …nitos, isto
é, com um número …nito de elementos. Uma outra maneira para de…nir um
conjunto consiste na indicação de uma propriedade que os seus elementos e
só esses têm. Utiliza-se neste caso a notação A = fx : P (x)g que se lé: A é
o conjunto dos elementos x que têm a propriedade P (x) :
Dois conjuntos dizem-se iguais quando têm os mesmos elementos: A = B
signi…ca que cada elemento que pertence a A pertence também a B; e cada
elemento que pertence a B pertence também a A:
Provar a igualdade de dois conjuntos consiste em provar duas proposições
distintês, formalmente:

8x(x 2 A ) x 2 B) e 8x(x 2 B ) x 2 A):

O símbolo 8 chama-se quanti…cador universal e lê-se: para cada.


O símbolo ) chama-se implicação logica e lé-se: implica ou se...então....
Por exemplo: x 2 A ) x 2 B lê-se: se x 2 A então x 2 B.
Se A e B são dois conjuntos tais que cada elemento de A é também
um elemento de B então diz-se que A esta contido em B; ou que A é um
subconjunto de B e indica-se por A B: Temos então que A B signi…ca
que:
8x(x 2 A ) x 2 B):
Observa-se que dizer que A = B é equivalente a dizer que A B e B A:
Quando se diz que A B não se exclui o caso quando A = B: Se queremos
dizer que A é contido em B mas não coincide com B; então dizemos que A
é um subconjunto estrito de B; e indicamos por A B: Explicitamente,
a…rmar que A B signi…ca que cada elemento que pertence a A pertence
também a B e existe um elemento de B que não pertence a A. Formamente
escrevemos:
8x(x 2 A ) x 2 B) e 9x 2 B : x 2= A:
Desta forma introduzimos mais três símbolos lógicos: o símbolo 9 chamado
quanti…cador existêncial, e que se lé existe ou existem; o símbolo : que se lé
tal que e que tipicamente acompanha o símbolo 9: existe.....tal que....; e o
símbolo 2 = que se lé não pertence.
Observa-se que não se devem confundir os símbolos 2 e : o primeiro
utiliza-se para indicar que um elemento pertence a um conjunto e o segundo
utiliza-se para para indicar que um conjunto está contido num outro conjunto.
Por exemplo, 4 2 f1; 2; 3; 4; 8g e f1; 2; 8g f1; 2; 3; 4; 8g :
Observação: As vezes utilizam-se conjuntos que tem como elementos outros
conjuntos. Por exemplo, A = ff1g ; f2g ; f2; 3g ; f2; 3; 4; 8gg : Neste caso esta
certo escrever f2g 2 A porque o conjunto f2g é um elemento de A; e não está

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certo escrever f2g A; porque isto signi…caria que 2 2 A; mas A contém
como elemento f2g e não 2:
Chama–se conjunto vazio e indica-se por ? o conjunto que não contem
nenhum elemento.
Para qualquer conjunto A, tem-se que ? A:
De facto, para provar que ? A teríamos de provar que todos os ele-
mentos de ? estão contidos em A: Mas nenhum elemento pertence a ?; e
logo concluiamos o pretendido..
Operações com conjuntos
(a) união de dois conjuntos A e B de…ne-se por

A [ B = fx : x 2 A ou x 2 Bg :

(b) intersecção de dois conjuntos A e B de…ne-se por

A \ B = fx : x 2 A e x 2 Bg :

(c) diferença de dois conjuntos A e B de…ne-se por

AnB = fx : x 2 A e x 2
= Bg :

Se X é um conjunto e se A X então o conjunto XnA chama-se o


complementar do conjunto A em X e indica.se por CX A ou CA:
(d) produto cartesiano de dois conjuntos A e B de…ne-se por

A B = f(x; y) : x 2 A e y 2 Bg :

Por outras palavras A B é o conjunto de todos os pares ordenados (x; y)


com x 2 A e y 2 B:
Nota-se nas de…nições acima a relação entre as operações com conjun-
tos e as operações lógicas: a intersecção de conjuntos é de…nida através da
conjunção logica "e"; a união de conjuntos é de…nida através da disjunção
logica "ou"; a diferença de conjuntos é de…nida através da negação logica
"não".
Propriedades das operações com conjuntos:
(i) A \ B = B \ A; A [ B = B [ A;
(ii) A [ (B [ C) = (A [ B) [ C; A \ (B \ C) = (A \ B) \ C;
(iii) A [ A = A; A \ A = A;
(iv) A[(B \ C) = (A [ B)\(A [ C) ; A\(B [ C) = (A \ B)[(A \ C) ;
(v) Se A X e B X então CX (A [ B) = CX A \ CX B; CX (A \ B) =
CX A [ CX B; AnB = A \ CX B;
(vi) Se A X então CX (CX A) = A

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(vii) A (B [ C) = (A B) [ (A C) ; A (B \ C) = (A B) \
(A C) ; A (BnC) = (A B) n (A C) :

Depois da sucinta introdução da linguagem dos conjuntos (que envolveu


também alguns símbolos e conceitos da lógica matemática), vamos prosseguir
com a introdução de alguns conceitos de lógica matemática, e a apresentação
dos principais metodos de demostração de teoremas.

Consideramos a seguinte a…rmação "o número n é ímpar"e perguntamos


se é verdadeira.
A resposta sensada é: depende de n: De facto, nessa a…rmação o símbolo
n representa uma variável e pode tomar varios valores que fazem a a…rmação
ser verdadeira (por exemplo se n = 3) ou falsa (por exemplo se n = 4):
Uma frase deste tipo chama-se predicado ou propriedade e essa é ver-
dadeira ou falsa em função dos valores que aí aparecem. Consideramos agora
a seguinte a…rmação:

Para todo o número natural n; se n é ímpar então n2 é ímpar.

que podemos escrever mais formalmente de seguinte modo

8n 2 N (n ímpar ) n2 ímpar). (1)

Neste caso não tem sentido dar valores particulares a n: Diz-se também
que a variável n não é livre mas uma variável ligada do quanti…cador 8:
A a…rmação faz parte da categoria enunciados ou proposições, e ou é
verdadeira ou é falsa.
Os componentes de (1) são: o conjunto N dos números naturais, dois
predicados:
p (n) : n ímpar e q (n) : n2 ímpar
e a implicação
p (n) ) q (n) :
Em geral, um enunciado que apresenta um conjunto A; dois predicados
p (x) e q (x) cujo argumento x varia em A e a estrutura lógica

8x 2 A (p (x) ) q (x) ).

toma o nome de implicação universal.


A generalidade dos resultados matemáticos assumem a seguinte forma:
admitindo a validade de uma ou mais premissas, decore(m) obrigatoriamente
uma ou mais conclusões. Um tal enunciado de resultados tem o nome de
teorema. Num teorema, ao conjunto de premissas dá-se o nome de hipótese,

12
e ao conjunto de conclusões dá-se o nome tese. Esquematicamente, podemos
representar um teorema da seguinte forma:

Hipótese ) Tese.

A maioria dos teoremas é constituida por implicações universais, nos quais


o predicado p faz a parte da hipótese e o predicado q faz a parte da tese. Em
particular, (1) é um teorema.
O enunciado parece verdadeiro, mas como se faz demostrar–lo rigorosa-
mente?
Por exemplo é su…ciente observar que

3 é ímpar e 32 também é ímpar?

para a…rmar que o teorema é verdadeiro?


Claro que não, porque o teorema pretende que a implicação seja ver-
dadeira para cada número natural. Contudo, os números ímpares são uma
in…nidade: como provar uma implicação para uma in…nidade de números?
A demostração da validade de um teorema pode ser feita de varias maneiras,
das quais salientamos as seguintes por serem as mais frequentes.
A …m de simpli…car a notação, admitimos que a hipótese é constituida
por uma único predicado (P ) dependente de uma única variável (x); e que
a tese é igualmente constituida por uma única condição (Q) dependente da
mesma variável, pelo que o teorema assume a forma duma implicação:

P (x) ) Q (x) :

(a) Prova directa: Constroi-se uma cadeia de condições intermédias


fR1 ; R2 ; :::; Rn g que decorrem umas das outras, de tal forma que a transitivi-
dade da implicação lógica nos permita chegar à validade de Q; admitindo a
validade de P :

P (x) ) R1 (x) ) R2 (x) ) R3 (x) ::: ) Rn (x) ) Q (x)

Provaremos por prova directa o seguinte


Teorema 1 : O quadrado de um número natural ímpar é um número natural
ímpar,
ou seja,

se p 2 N e p ímpar então p2 2 N e p2 é ímpar.

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Demonstração:

p ímpar p = 2n + 1
)
p2N para algum n 2 N
p2 = 4n2 + 4n + 1
)
com n 2 N
p2 = 2q + 1
)
com q = 2n2 + 2n 2 N
p2 ímpar
)
p2 2 N

(b) Prova do contra-recíproco


Sabemos que a implicação P ) Q é logicamente equivalente ao seu
contra-recíproco, isto é, à a…rmação

não Q ) não P:

A implicação universal

8x 2 A (p (x) ) q (x) ). (2)


é logicamente equivalente á

8x 2 A (não q (x) ) não p (x) ). (3)

A implicação (3) diz-se a contro-reciproca de (2) : Por exemplo, porque


provamos que vale o teorema

8p 2 N ( p ímpar ) p2 ímpar).

podemos também a…rmar que

8p 2 N ( p2 par ) p par).

Assim, uma forma possivel de demonstrar uma implicação consiste em


demonstrar o seu contra-recíproco.
Vejamos uma aplicação deste método na prova do seguinte
Teorema 2 : Se p2 é par então p é par.
Demonstração: O contra-recíproco do enunciado do teorema consiste em
dizer que para números naturais,

se p ímpar então p2 ímpar.

14
Este contra-recíproco ja foi provado pela via da prova directa (Teorema
1). Logo, o enunciado do Teorema 2 ja está provado.
(c) Prova por redução ao absurdo
Outra forma para provar que P ) Q consiste em provar que admitir a
hipótese P em conjunto com a negação de tese Q gera uma contradição, ou
impossibilidade, designada um absurdo.
Ilustramos este método na demostração do seguinte resultado:
Teorema 3 : Seja dado um número real a: Se a > 0 então a1 > 0; ou seja

1
a>0) > 0:
a
Demonstração. A negação da tese é a proposição a1 0: Queremos provar
que não é possivel veri…car-se esta condição em simultaneo com a premisa
a > 0:
Ora
a>0 1
1 ) a: < 0 ) 1 < 0
a
<0 a
o que é uma a…rmação falsa. Logo,
1
a>0) > 0:
a
(d) Contra-exemplos.
Os contra-exemplos representam um recurso para provar a falsidade de
uma implicação universal. Queremos analisar a veridicidade do seguinte re-
sultado:
Teorema 4 : Para cada número natural n; se n é número primo então n é
ímpar
Observa-se que existe um número natural n = 2 que satisfaz a hipótese
(é número primo) mas não satisfaz a tese (não é ímpar), portanto o teorema
é falso.
Em geral, um exemplo de objecto que satisfaz a hipótese mas não a tese de
uma implicação universal, e portanto monstra a falsidade, chama-se contra-
exemplo. Para o Teorema 4, o número nátural n = 2 é um contra-exemplo.
Negação de propriedades e proposições.
Seja na prova do contra-recíproco, como também na prova por redução
ao absurdo é preciso saber construir a negação certa de uma proposição ou
propriedade dada.
Apresentam-se de seguida algumas regras típicas.
Se "P (x) " é uma propriedade qualquer então indicamos por "~P (x)"a
negação de P (x) : Por exemplo: se P (x) é a propriedade "x é um número

15
natural par"então "~P (x) " é a propriedade "x não é um número natural
par".
Se P (x) e Q (x) são propriedades quiasquer então indicamos

A negação de "P (x) e Q (x)"é: "~P (x) ou ~Q (x)"

A negação de "P (x) ou Q (x)"é: "~P (x) e ~Q (x)"

A negação de "~P (x) "é: "P (x)"

A negação de "8x vale P (x)"é: 9x tal que vale ~P (x)"

A negação de "9x tal que vale P (x)"é: 8x ~P (x)"

A negação de "8x (P (x) ) Q (x))"é: "9x tal que (P (x) e ~Q (x))"

8 Os números reais
Existem múltiplas possibilidades de escolha para basear o estudo dos números
reais. A nossa opção aqui é expedita, antes de mais por evidentes razões
de tempo, e tomamos os próprios números reais como termos inde…nidos,
e selecionamos um pequeno conjunto de propriedades básicas dos números
reais como axiomas. Com a excepção do axioma do supremo, todas estas
propriedades são bem conhecidas, e tomadas como evidentes.
Supomos conhecidos os resultados e ideias base da teoria dos conjuntos
(que relembramos na secção precedente), mas todas as restantes de…nições
aqui incluidas não envolvem outros conceitos, e todas as a…rmações aqui
incluidas são teoremas demostrados a partir dos axiomas iniciais, usando as
leis da lógica e métodos de demostração (que também descrevemos na secção
precedente).
Naturalmente, é indispensavel adquirir, em paralelo com o desenvolvi-
mento rigoroso da teoria, um entendimento intuitivo dos resultados obtidos,
que ajuda em particular a identi…car as condições em que as ideias em causa
podem ser uteis na construção de modelos matemáticos da realidade física.
Sob este aspecto supomos conhecida a correspondência entre os números reais
e os pontos de uma qualquer recta (dita recta real). Esta corespondencia é
…xada, uma vez escolidos dois pontos especi…cos, que representam os reeais
zero e um. Esta escolha determina também um sentido crescente na recta, do
ponto 0 para o ponto 1; que materializa outra das propriedades fundamentais
dos reais, que é o seu ordenamento.

16
8.1 Axiomas algébricos dos números reais
O primeiro axioma é uma simples a…rmação de existência:
Axioma (A1 ): Existe um conjunto R; dito dos números reais. Existem duas
operações algebricas em R, a adição e a multiplicação, designados por + e ;
tais que, se x; y 2 R então a soma x + y e o produto x y são números reais
univocamente determinados.
Axioma (A2 ): As operações adição e a multiplicação satisfazem as seguintes
propriedades:

(1) comutatividade da adição: a + b = b + a; para quaisquer a; b 2 R;

(2) associatividade da adição: (a + b) + c = a + (b + c) ; para quaisquer a;


b; c 2 R;

(3) existência do elemento neutro para a adição: existe um número real


que denotamos por 0 tal que a + 0 = a; para todo a 2 R;

(4) existência de simétrico: para cada a 2 R existe um número real que


denotamos por a e que designamos por simétrico de a tal que a +
( a) = 0:

(5) comutatividade da multiplicação: a b = b a; para quaisquer a; b 2 R;

(6) associatividade da multiplicação: (a b) c = a (b c) ; para quaisquer


a; b; c 2 R;

(7) existência do elemento neutro para a multiplicação: existe um número


real que denotamos por 1 e que é distinto de 0 tal que a 1 = x; para
todo a 2 R;

(8) existência de inverso: para cada número real a 6= 0 existe um número


real que denotamos por a1 e que designamos por inverso de a tal que
a a1 = 1;

(9) distributividade da multiplicação em relação à adição:a (b + c) = a


b + a c; para quaisquer a; b; c 2 R;

Nota : Quaisquer outras propriedades algébricas dos números reais po-


dem ser deduzidos das propriedades (1) (9) usando regras basicas da lógica
matemática.
As propriedades (1) (9) chamamos axiomas algébricos ou axiomas do
corpo dos números reais. As outras propriedades que se deduzem a partir
destas podem ser designadas de teoremas ou proposições.

17
Observação: Resulta dos axiomas (1) e (3) que, para todo a 2 R, 0 + a = a
e resulta dos axiomas (1) e (4) que ( a) + a = a para todo a 2 R.
Dos axiomas (5) e (7) resulta que, para todo a 2 R, 1 a = a e, dos
axiomas (5) e (8) resulta que, para todo o número real a 6= 0 tem-se que
1
a
a = 1:
Proposição 1 O elemento neutro para a adição é único; o elemento neutro
para a multiplicação também é único. O simetrico de um número real é único
e o inverso de um número real distinto de 0 é único também.
Demostração: Se u e u0 são elementos neutros para adição então u =
u + u0 = u0 + u = u. A primeira igualdade resulta do facto que u0 é elementru
neutro, a segunda resulta da comutatividade da adição, e a ultima resulta
do facto que u é elemento neutro. Resulta assim a unicidade do elemento
neutro. Analogamente prova-se as restantes a…rmações da proposição.
Proposição 2 (leis de corte) Sejam a; b; c 2 R.
(i) Se a + b = a + c então b = c:
(ii) Se a 6= 0 e a b = a c então b = c:
Proposição 3 (substração): Para todos a; b 2 R existe um único número
real x tal que a + x = b:
Este número x = a + ( b) e designado por diferença entre b e a e
representa-se por b a
Proposição 4 (divisão): Para todos a; b 2 R com a 6= 0 existe um único
número real x tal que a x = b:
Este número x = b a1 é designado por quociente de b por a e representa-se
por ab :
Proposição 5 (regras de sinais): Para quaisquer a; b 2 R tem-se que:

( a) = a
(a + b) = a b
(a b) = ( a) b = a ( b)
( a) ( b) = a b

e se b 6= 0 então
a a a
= = :
b b b
Proposição 6:
(i) Para qualquer a 2 R tem-se que a 0 = 0 e ( 1) a = a
(ii) Para quaisquer a; b 2 R se a b = 0 então a = 0 ou b = 0:

18
8.2 Axiomas de ordem e consequências
Axiomas de ordem: Suponhamos a existência de um subconjunto R+ de R;
cujos elementos se chamam números reais positivos, que satisfaz os axiomas
seguintes:

(10) Se a; b 2 R+ então a + b 2 R+ e a b 2 R+

(11) Para todo a 2 R veri…ca-se uma e uma só das seguintes três condições:
a 2 R+ ou a = 0 ou a 2 R+ :

Observações: (i) Resulta do axioma (11) que 0 2 = R+ ; o conjunto R =


+ +
f a : a 2 R g é disjunto de R e 0 2 = R : Os elementos de R chamam-se
números reais negativos.
(ii) A propriedade de tricotomia (11) pode ser esrita

R = R+ [ f0g [ R :

Nota : Quaisquer outras propriedades de ordem dos números reais podem


ser deduzidos das propriedades (10) e (11) ; que se chamam axiomas de ordem
dos números naturais.
Utilizaremos o símbolo R+ +
0 para denotar o conjunto R [ f0g :
De…nição (relações de ordem). Sejam a; b 2 R . Diremos que a é menor que
b ou que b é maior que a; escrevendo a < b ou b > a; quando (b a) 2 R+ :
Diremos que a é menor ou igual a b ou que b é maior ou igual a a; escrevendo
a b ou b a; quando (b a) 2 R+ 0 (isto é, (b a) 2 R+ ou b = a ).
Observações: (i) Resulta da de…nição as seguintes equivalencias: a > 0 ,
a 2 R+ e a < 0 , a 2 R ;
(ii) O axioma (11) pode ser escrita na forma

a; b > 0 ) a + b > 0 e a b > 0

ou na forma equivalente

a; b < 0 ) ( a) + ( b) = (a + b) > 0 e ( a) ( b) = a b > 0:

Assim, uma consequencia imediata da de…nição e do axioma (11) é:

a2 := a a > 0 8a 6= 0;

pelo que
1 = 12 > 0:

19
Proposição 7 (propriedade transitiva): Para quaisquer a; b; c 2 R tem-
se que
(a < b e b < c) ) a < c:
Demonstração:

(a < b e b < c) ) (b a) 2 R+ e (c b) 2 R+ (pela de…nição)


) (b a) + (c b) 2 R+ (pela propriedade (11) )
) (c a) 2 R+ (exercicio!)
) a < c (pela de…nição).

Proposição 7 (propriedades algebricas): Para quaisquer a; b; c; d 2 R


tem-se que
(i) Se a < b então a + c < b + c
(ii) Se a < b e c > 0 então a c < b c
(iii) Se a < b e c < 0 então a c > b c
(iv) Se a < b e c < d então a + c < b + d

8.3 Modulo ou valor absoluto


De…nição O modulo ou valor absoluto de um número x 2 R é de…nido por

x, se x 0
jxj =
x, se x < 0:

Exercicio: Mostre que:


(i) jxj = j xj 0; jxj = 0 , x = 0;
(ii) jxj x jxj
(iii) jxj a , a x a;
(iv) jxj > a , (x > a ou x < a);
Teorema (desigualdade triangular): Para quaisquer a; b; c; d 2 R tem-se
que

jx + yj jxj + jyj :
Demonstração: Pelo exercicio anterior (ii) tem-se que

jxj x jxj e jyj y jyj :

Somando e utilizando a propriedade algebrica (iv) obtemos

(jxj + jyj) x+y jxj + jyj :

20
Usando então (ii) do exercício anterior, podemos concluir que jx + yj jxj +
jyj :
Exercicio: Mostre que, para quaisquer a; b 2 R tem-se que:
(i) jx yj jxj + jyj ; (jxj jyj) jx yj :
(ii) jx yj = jxj jyj
(iii) xy = jxj
jyj
se y 6= 0:

8.4 Números naturais e método de indução matemática


De…nição: Um subconjunto A R diz-se conjunto indutivo se satisfaz as
seguinte duas condições:
(i) 1 2 A e
(ii) a 2 A ) a + 1 2 A:
Exemplos: R e R+ s~ ao inductivos. R não é inductivo (exercicio: justi-
…que!)
De…nição (números naturais): Chama-se conjunto dos números naturais
e denota-se por N o menor subconjunto inductivo de R. Mais precisamente,

N = fn 2 R : n pertence a qualquer subconjunto indutico de Rg :

Nota: Temos que 1 2 N , 2 := 1 + 1 2 N , ..., ou seja N = f1; 2; 3; :::g :


O facto de N ser por de…nição o menos subconjunto indutivo de R implica
que: se A R é inductivo então N A:
Teorema (princípio de indução matemática): Se A N é inductivo
então A = N
Demostração: Como A é indutivo tem-se que N A e como (pela
hipótese) A N , resulta que A = N .
Metodo da indução matemática: Designemos por P (n) uma deter-
minada proposição ou propriedade que se pretende mostrar verdadeira para
todo o n 2 N . O metodo de indução consiste em provar separadamente que:
(i) P (1) é verdadeira
(ii) Se P (n) é verdadeira para um determinado n 2 N então P (n + 1)
também é vardadeira.
Conclui-se a partir de (i) e (ii) que: P (n) é verdadeira para todo n 2 N
Observação: Se indicamos por A = fn 2 N : P (n) é verdadeg então (i)
equivale a provar que 1 2 A e (ii) equivale a "se n 2 A então n+1 2 A". Pelo
princípio da indução matemática conclui-se então que A = N como desejado.
Exemplo: Queremos provar que a seguinte proposição é verdadeira para
qualquer n 2 N :
P (n) : é valida a seguinte fórmula:

21
n (n + 1)
1 + 2 + 3 + ::: + n = :
2
Pelo metodo de indução a prova se faz em dois passos:
(i) Mostrar que P (1) é verdadeira, ou seja que a fórmula é valida quando
n = 1; i.e., que
1 (1 + 1)
1=
2
o que é claramente verdade.
(i) Mostrar que P (n) ) P (n + 1), ou seja assumindo como verdadeira a
hipótese P (n), i.e.,

n (n + 1)
1 + 2 + 3 + ::: + n =
2
há que provar a validade da tese P (n + 1) ; i.e.,

(n + 1) ((n + 1) + 1)
1 + 2 + 3 + ::: + n + (n + 1) = :
2
Isto pode ser feito da seguinte forma:

1 + 2 + 3 + ::: + n + (n + 1) = (1 + 2 + 3 + ::: + n) + (n + 1)
n (n + 1)
= + (n + 1) (pela hipótese P (n) )
2
(n + 1) (n + 2)
= :
2

8.5 Números racionais, números iracionais.


Uma vez de…nidos o conjunto N dos números naturais, podemos de…nir o
conjunto dos números inteiro, representado por Z por

Z = fx 2 R : x 2 N ou x = 0 ou x 2 Ng

O conjunto dos números racionais, representado por Q, é o conjunto de


números reais que são quocientes de números inteiros

p
Q= x2R:x= com p; q 2 Z e q 6= 0 :
q

É claro que
N Z Q R:

22
p
Será que Q 6= R ? Provavelmente já vos sabem que 2 é irracional. Como
provar isso utilizando propriedades que ja demonstramos?
Prova-se primeiro seguindo ideias da Secção 7 a seguinte:
Proposição: Se p 2 N e p2 é par então p é par.
Utilizando este facto prova-se
p a seguinte
Teorema (irracionalidade de 2): Se a 2 R e satisfaz a2 = 2 então a 2
= Q.
Demonstração: Vamos supor sem perda de generalidade que a > 0 (Exerci-
cio: prova o resultado para a 0):
Por absurdo, suponhamos que existiam números naturais p e q tais que
a = pq , ou seja
2
p
= 2;
q
e tais que p e q não tem nenhum divisor comum (senão simpli…camos a fração
eliminando estes divisores comuns). Assim temos que

p2 = 2q 2 ;

donde p2 é um número par. Concluimos então pela Proposição precedente


que p é par, ou seja, p = 2k; para algum número natural k: Daqui, segue-se
que
p2 = 2q 2 = 4k 2 ; e aplicando a lei de corte resulta q 2 = 2k 2 :
Logo q 2 é par, e portanto q é par. Assim acabamos por mostrar que p e q
possuem 2 como divisor comum, o que contradiz a nossa hipótese que p e q
não tinham divisores comuns.

8.6 Axioma do supremo


De…nição: Seja A um subconjunto de R e sejam ; 2 R. Dizemos que
é um minorante de A se, para todo x 2 A tem-se que x: Dizemos que
é um majorante de A se, para todo x 2 A tem-se que x :
Um conjunto A R diz-se minorado (ou limitado inferiormente) se ad-
mite minorantes. Diz-se que A é majorado ou limitado superiormente se
admite majorantes. Se A é simultaneamente minorado e majorado dizemos
que A é limitado.
Observação: A R é limitado se e só se existe M > 0 tal que jxj M
para todo o x 2 A:
Exemplo: A = fx 2 R : 1 < 2 5g é limitado, 1 é o maior minorante e
5 é o menor majorante de A:
De…nição: Seja A um subconjunto de R. Dizemos que 2 R é o ín…mo
de A e escrevemos = inf A se é o maior minorante de A: Dizemos que

23
2 R é o supremo de A e escrevemos = sup A se é o menor majorante
da A:
Temos então que
(i) x para todo x 2 A
= inf A ,
(ii) Se u x para todo x 2 A então u:
e
(i) x para todo x 2 A
= sup A ,
(ii) Se v x para todo x 2 A então v :
Exercicio: Mostre que se sup A exitir então é único. O mesmo se passa
para inf A:
Teorema: Seja A um subconjunto de R e sejam ; 2 R . Então:
(i) x para todo x 2 A
= inf A ,
(ii) Para todo " > 0 existe x" 2 A tal que < x" < +"
e
(i) x para todo x 2 A
= sup A ,
(ii) Para todo " > 0 existe x" 2 A tal que " < x" < :
Axioma do supremo. Todo o subconjunto majorado e não vazio de R
admite supremo.
Teorema: Todo o subconjunto minorado e não vazio de R admite ín…mo.
Teorema O conjunto dos naturais não é majorado em R.
Demostração: Suponhamos por redução ao absurdo que o conjunto N dos
números naturais é majorado. Como não é vazio, pelo axioma do supremo
resulta que N tem supremo s 2 R . Então pela caracterização do supremo,
existe algum n 2 N tal que s 1 < n < s. Então n + 1 > s = sup N; o que é
absurdo.
Teorema (propriedade Arquimediana) Se a; b 2 R+ então existe n 2 N
tal que na > b;
Demonstração: Como N não é majorado em R e ab 2 R então existe pelo
menos um número natural tal que n > ab , ou seja na > b:
Teorema (densidade dos racionais e dos irracionais): Se a e b são dois
números reais tais que a < b então existe um número racional p e um número
iracional q tais que a < p < b e a < q < b:

9 Noções topológicas em R
De…nição: Seja a 2 R e " 2 R+ : Chama-se vizinhança " de a ao conjunto
V" (a) = fx 2 R : jx aj < "g :

24
Exemplo: Sendo a = 2 e " = 5 temos que V5 (2) = fx 2 R : jx 2j < 5g :
Uma vez que

jx 2j < 5 , 5<x 2<5, 5+2<x<5+2, 3<x<7

tem-se que V5 (2) = ] 3; 7[ :


Observações:
(i) Como jx aj < " é equivalente a , a " < x < a + "; temos que

V" (a) = ]a "; a + "[ :

(ii) Resulta imediatamente que a 2 V" (a) ; para todo " > 0:
(iii) Também resulta imediatamente que se "0 > " então V" (a) V"0 (a) :
De…nição: Sejam a 2 R e A um subconjunto de R: Diz-se que a e ponto
interior de A se existe uma vizinhança de a contida em A; isto é, se existe
" > 0 tal que V" (a) A:
Diz-se que a é um ponto exterior de A se a é um ponto interior do com-
plementar de A em R; RnA; isto é, se existe " > 0 tal que V" (a) RnA:
Diz-se que a é um ponto fronteiro de A se toda a vizinhança de a intersecta
A e RnA:
Chama-se interior de A e denota-se por int (A) ou A ao conjunto dos
pontos interiores de A: Ao conjunto dos pontos exteriores de A chama-se
exterior de A e indica-se por ext (A) : Ao conjunto dos pontos fronteiros de
A chama-se fronteira de A e indica-se por f r (A) ou @A:
Observação: Qualquer que seja A R tem-se: int (A) \ ext (A) = ?;
int (A) \ f r (A) = ?; ext (A) \ f r (A) = ? e int (A) [ ext (A) [ f r (A) = R:
Exemplo: Se A = ]0; 1] [ f2g então int (A) = ]0; 1[ ; ext (A) = ] 1; 0[ [
]1; 2[ [ ]2; 1[ ; f r (A) = f0; 1; 2g :
Exemplo: Se A = Q então int (A) = ext (A) = ?; f r (A) = R:
Exemplo: Se A = n1 : n 2 N então int (A) = ?; f r (A) = A [ f0g ;
ext (A) = Rn (A [ f0g) :
De…nição: Um subconjunto A de R diz-se conjunto aberto se A = int (A) :
Exemplo: A = ]0; 1[ é conjunto aberto; B = ]0; 1] não é conjunto aberto
porque 1 2 B mas 1 2 = int (B) :
De…nição: Seja A um subconjunto de R. Chama-se fecho ou aderencia de
A ao conjunto A = A [ f r (A) : Diz-se que x é aderente a A se a 2 A.
Observação: Resulta imediatamente da de…nição que a 2 A se e só se
V" (a) \ A 6= ? para todo " > 0:
De…nição: Seja A um subconjunto de R. Diz-se que A é conjunto fechado
se A = A:
Observações:
(i) A = int (A) [ f r (A) :

25
(ii) A é fechado se, e só se, f r (A) A:
(iii) A é fechado se, e só se RnA é aberto.
Exemplos:
(i) A = [3; 5] é fechado; B = ]1; 8[ é aberto; C = [2; 6[ e D = ]3; 9] não
são abertos nem fechados.
(ii) A = n1 : n 2 N não é fechado nem aberto (f r (A) = A [ f0g):
(ii) A = n1 : n 2 N [ f0g é fechado.
De…nição: Sejam a 2 R e A um subconjunto de R: Diz-se que a e ponto de
acumulação de A se toda a vizinhança de a intersecta An fag ; isto é, para
todo " > 0 o conjunto V" (a) contem pontos de A distintos de a:
Ao conjunto de pontos de acumulação de A chama-se derivado de A e
denota-se por A0 :
A todo o ponto de A que não é ponto de acumulação de A chamamos
ponto isolado de A:
Observação: a 2 A é um ponto isolado de A se existe " > 0 tal que
V" (a) \ A = fag :
Exemplos:
(i) Se A = n1 : n 2 N então 0 é ponto de acumulação de A: Todos os
pontos de A são isolados.
(ii) Se A = ]0; 1] [ f2g então o conjunto dos pontos de acumulação de A
é A0 = [0; 1], 2 é um ponto isolado de A:
Observação: Todo o ponto interior de um conjunto A é ponto de acumu-
lação de A: Consequentemente, se um conjunto é aberto então todo o ponto
de A é um ponto de acumulação.
De…nição: Um subconjunto A de R diz-se limitado se existem ; 2 R tais
que
x para todo x 2 A:
Observação: Um subconjunto A de R é limitado se e só se existe M > 0
tal que jxj M para todo x 2 A:
De…nição: Um subconjunto A de R diz-se compacto se é fechado e limitado.
Exemplos:
(i) A = [ 1; 1] é compacto;
(ii) B = [0; 1[ e C = ] 1; 0] são fechados mas não limitados, pelo que
não são compactos.
(iii) D = f0; 1g é conjunto compacto.
Teorema (de Bolzano-Weierstrass) Todo o subconjuntode R in…nito e limi-
tado tem pelo menos um ponto de acumulação.

26
10 Sucessões de números reais
10.1 De…nições básicas
De…nição: Seja A e B dois conjuntos. Uma função de A para B que
denotamos por f : A ! B é uma correspondência que a cada x 2 A associa
um e um so elemento de B que denotamos por f (x) :
Ao conjunto A chamamos domínio de f e a conjunto B conjunto de
chegada de f: Se o conjunto de chegada B é o conjunto R dos números reais,
então a função f : A ! R chama-se função real.
Para cada x 2 A; ao elemento y = f (x) chamamos imagem de x por f:
Ao conjunto das imagens ff (x) : x 2 Ag chamamos contradomínio de f
Seja N o conjunto dos números naturais e seja R o conjunto dos números
reais.
De…nição: Chama-se sucessão de números reais a toda a função real de
dominio N:
Se u : N ! R é uma sucessão e se denotamos a imagem u (n) por un
então a sucessão u : N ! R pode também ser representada por u = (un )n2N .
u1 = u (1) chama-se primeiro termo da sucessão,..., uk = u (k) chama-se
termo de ordem k da sucessão. A expressão designatoria un que de…ne a
sucessão chama-se termo geral da sucessão.
Ao contradominio da sucessão de termo geral un ; isto é, ao conjunto
fun : n 2 Ng chama-se conjunto de termos da sucessão.
Observação: O termo geral duma sucessão pode ser explicito (exemplo:
un = n2 ) ou poder não ser: é o caso da de…nição por recorrência, por exemplo:
sucessão de Fibonacci:

u1 = 1; u2 = 2; un+2 = un+1 + un .

Observação: Sendo u = (un )n2N uma sucessão de números reais e v =


(un )n2N uma sucessão de números naturais então a composição u v =
(uvn )n2N ainda é uma sucessão de termo geral uvn :
De…nição: Sendo u = (un )n2N e w = (wn )n2N duas sucessões, dizemos que
w é subsucessão de u se existir v; uma sucessão naturais tal que w = u v:
Exemplo: Se u = (un )n2N é uma sucessão de números reais então w =
(u2n )n2N é uma subsucesão (dos termos da ordem par) de u; porque w = u v
com v = (2n)n2N uma sucessão de números naturais.
De…nição: Uma sucessão (un )n2N diz-se :
(i) limitada superiormente se o conjunto dos seus termos fun : n 2 Ng for
majorado;
(ii) limitada inferiormente se o conjunto dos seus termos fun : n 2 Ng for
minorado;

27
(ii) limitada se o conjunto dos seus termos fun : n 2 Ng for limitado.
Exemplos:
(i) A sucessão com termo geral un = n2 é limitada inferiormente mas não
superiormente;
(ii) A sucessão com termo geral un = n é limitada superiormente mas
não inferiormente
(iii) A sucessão com termo geral un = cos (n) é limitada.
(iv) A sucessão com termo geral un = ( n)n não é limitada superiormente
nem inferiormente.
Observações:
(i) Toda a subsucessão de uma sucessão limitada é limitada;
(ii) Uma sucessão pode não ser limitada e ter subsucessões limitadas:
exemplo:
n se n par
un = 1
n
se n ímpar
De…nição: Uma sucessão u = (un )n2N diz-se :
(i) crescente se un un+1; para todo n 2 N;
(ii) estritamente crescente se un < un+1; para todo n 2 N;
(iii) decrescente se un un+1; para todo n 2 N;
(iv) estritamente decrescente se un > un+1; para todo n 2 N;
(v) monótona se for crescente ou decrescente;
(vi) estritamente monótona se for estritamente crescente ou estritamente
decrescente;
Exemplos:
(i) A sucessão un = n2 é estritamente crescente;
(ii) A sucessão un = n é estritamente decrescente;
(ii) A sucessão un = ( n)n não é monótona.
Observação:
Toda a subsucessão de uma sucessão monótona é monótona.

10.2 Sucessões convergentes. Sucessões de Cauchy


De…nição: Diz-se que a 2 R é limite da sucessão (un )n2N e escreve-se
un ! a ou limn!1 un = a se, para todo " > 0 existe n" 2 N tal que
n n" ) jun aj < ":
Utilizando a simbologia ja introduzida, tem-se que limn!1 un = a se se
só se
8" > 0 9n" 2 N : n n" ) jun aj < ":
1
Exemplo: un = n
!0

28
Seja " > 0 arbitrario. Vamos provar que existe n" 2 N tal que se n n"
então jun 0j = n1 < ":
Observa-se que
1 1 1
<", <",n> :
n n "
Sendo n" = 1" a parte inteira de 1" ; i.e., o mnor número natural maior ou
igual´à 1" , temos que n1" < "; e para n > n" ; temos que

1 1
< < ":
n n"
Fica então provado que para todo " > 0 existe n" 2 N tal que para todo
n 2 N;
1
n n" ) 0 < ";
n
o que permite concluir que limn!1 n1 = 0:
De…nição: Diz-se que a sucessão u = (un )n2N é um in…nitesimo se un ! 0:
De…nição: Uma sucessão (un )n2N diz-se convergente se existe a 2 R tal que
limn!1 un = a: Uma sucessão diz-se divergente se não for convergente.
Exemplos: (a) un = n1 é convergente; (b) vn = n é divergente;
Observação: Em linguagem de vizinhanças, tems-se que un ! a se e só se

8" > 0 9n" 2 N : n n" ) un 2 V" (a) :

Teorema (propriedades das sucessões convergentes):


(a) (unicidade do limite) Se uma sucessão tem limite, então este é único.
(b) Toda a subsucessão de uma sucessão convergente é convergente para
o mesmo limite.
(c) Toda a sucessão convergente é limitada. A recíproca não é verdadeira
(un = ( 1)n é limitado mas não convergente
Teorema (operações com sucessões convergentes) Se (an )n2N e (bn )n2N são
duas sucessões convergentes de números reais tais que limn!1 an = a e
limn!1 bn = b então
(i) limn!1 (an + bn ) = a + b;
(ii) limn!1 ( an ) = a para todo 2 R;
(iii) limn!1 (an bn ) = a b;
(iv) limn!1 a1n = a1 se a 6= 0:
Teorema (critério da majoração) Se (xn )n2N é uma sucessão de números
reais é tal que
jxn xj n para todo n 2 N

29
onde ( n )n2N é uma sucessão de números positivos convergente para 0, então

limn!1 xn = x:

Teorema (das sucessões enquadradas): Se (an )n2N ; (bn )n2N , (cn )n2N são
sucessões de números reais tais que

limn!1 an = limn!1 cn = a

e a partir de certa ordem, an bn cn ; então limn!1 bn = a


Exemplo: Sendo
sen2 (n) 1
0
n+1 n+1
1
e limn!1 n+1
= 0; pelo Teorema das sucessões enquadradas obtem-se que

sen2 (n)
lim =0
n!1 n + 1

Teorema (convergencia das sucessões monótonas):


(i) Toda a sucessão (xn )n2N crescente e limitada superiormente é conver-
gente e
limn!1 xn = sup fxn : n 2 Ng
(ii) Toda a sucessão (xn )n2N decrescente e limitada inferiormente é con-
vergente e
limn!1 xn = inf fxn : n 2 Ng
Teorema (de Cantor): Seja [a1 ; b1 ] [a2 ; b2 ] ::: [an ; bn ] [an+1 ; bn+1 ] ::::
uma sucessão decrescente de intervalos fechados e limitados de R tais que
limn!1 (an bn ) = 0: Então existe um e um só ponto c 2 R tal que

\
1
[an ; bn ] = fcg :
n=1

Teorema (de Cesaro): Toda a sucessão limitada de números reais contem


pelo menos uma subsucessão convergente.
De…nição: Uma sucessão (un )n2N diz-se de Cauchy (ou fundamental) se
existe se, para todo " > 0 existe n" 2 N tal que

m; n n" ) jun um j < ":

Teorema Toda a sucessão de Cauchy é limitada.


Teorema Toda a sucessão limitada tem subsucessões convergentes.

30
Teorema Uma sucessão de números reais é convergente se e só se é uma
sucessão de Cauchy.
Exemplos: (i) a sucessão com termo geral
sin x sin 2x sin nx
xn = + 2
+ ::: +
2 2 2n
é uma sucessão de Cauchy, portanto convergente.
Resulta do focta que, para todo p 2 N :

sin (n + 1) x sin (n + p) x
jxn xn+p j = n+1
+ ::: +
2 2n+p
1 1 1 1 21p 1
n+1
+ ::: + n+p
= n+1 1 < n
2 2 2 1 2 2
(ii) a sucessão com termo geral
1 1 1
xn = 1 + p + p + ::: + p
2 3 n
não é uma sucessão de Cauchy, portanto não é convergente.
Observa-se que

p
1 1 1 1 n
x2n xn = p +p + ::: + p > n p = p > 1 para n 3:
n+1 n+2 2n 2n 2
(4)

10.3 Sucessões com limite in…nito. A recta acabada.


Indeterminações.
De…nição: Diz-se que a sucessão u = (un )n2N é in…nitamente grande (ou
que diverge para +1) e representa-se por un ! 1 se para todo L 2 R+
existe p 2 N tal que
n > p ) un > L:
Diz-se que u = (un )n2N é in…nitamente grande em modulo se jun j ! 1,
isto é, se para todo L 2 R+ existe p 2 N tal que
n > p ) jun j > L:
Diz-se que a sucessão u = (un )n2N diverge para 1 e representa-se por
un ! 1 se para todo L 2 R+ existe p 2 N tal que
n > p ) un < L:

31
Exemplos:
(i) un = n2 ! +1
(ii) un = n ! 1
(iii) Seja un = ( n)n : Então jun j ! 1:
Observações:
(i) Se u = (un )n2N é tal que un ! +1, un ! 1 ou jun j ! +1 então
u é não limitada. A recíproca não é verdadeira: Por exemplo, a sucessão

n se n par
un = 1
n
se n ímpar

é não limitado e nenhuma das seguintes condições se veri…ca: un ! +1,


un ! 1 ou jun j ! +1:
(ii) O facto de un ! +1 não implica que u seja crescente. Exemplo:
un = n + ( 1)n :
Das de…nições conclui-se imediatamente que:
Proposição: Se u = (un )n2N e u = (vn )n2N são sucessões tais que a partir
da certa ordem , un vn então;
(a) un ! +1 ) vn ! +1
(b) vn ! 1 ) un ! 1
Proposição: (i) Se u = (un )n2N e crescente e ilimitada então un ! +1;
(ii) Se u = (un )n2N e decresente e ilimitada então un ! 1;
(iii) Se un ! +1 ou un ! 1 então u1n ! 0;
(iii) Se un ! 0 e un > 0 a partir de uma certa ordem então u1n ! +1;
(iv) Se un ! 0 e un < 0 a partir de uma certa ordem então u1n ! 1;
De…nição: Consideramos o conjunto R = R[ f 1; +1g ; em que 1; +1
são dois objectos matemáticos não reais e distintos um do outro. Neste con-
junto podemos introduzir a relação de ordem:
(i) se x; y 2; x < y em R se, e só se, x < y em R:
(ii) 1 < x < +1; 8x 2 R:
O conjunto R com esta relação de ordem designa-se por recta acabada.
Observação: Podemos extender a noção de vizinhança a R. Seja " 2 R+ :
Se a 2 R então chama-se vizinhança " de a ao conjunto

V" (a) = ]a "; a + "[

(que coincide com a vizinhança de a em R: Chama-se vizinhança " de +1


ao conjunto
1
V" (+1) = ; +1 :
"

32
Chama-se vizinhança " de 1 ao conjunto

1
V" ( 1) = 1; :
"

Com as de…nições dadas atras, podemos uni…car, do ponto de vista formal,


as de…nições do limite (…nito ou in…nito de uma sucessão de múmeros reais):
De…nição: Seja u = (un )n2N uma sucessão de números reais e seja a 2 R.
Diz-se que u tende para a e representa-se por un ! a; se

8" > 0 9n" 2 N : n n" ) un 2 V" (a) :

Observação: Podemos enunciar para as sucessões com limite +1 ou 1;


propriedades analogas a algumas que foram enunciadas para as sucesssões
convergentes, desde que se estabeleçam algumas convenções sobre operações
que envolvem +1 e 1 :

(+1) + (+1) = +1; ( 1) + ( 1) = 1;

(+1) (+1) = +1; ( 1) ( 1) = 1; (+1) ( 1) = 1;

para todo a 2 R tem-se que (+1)+a = (+1) ; ( 1)+a = a+( 1) =


( 1) ;

para todo a > 0 tem-se que (+1) a = a (+1) = +1; ( 1) a =


a ( 1) = ( 1) ;

para todo a < 0 tem-se que (+1) a = a (+1) = 1; ( 1) a =


a ( 1) = +1;

01 = 0 e 0 1
= +1:

Observação: As convenções apresentadas não atribuem signi…cado aos


1
símbolos: 0 1; 1 0; 1 ; 1 1; que são considerados símbolos de inde-
terminação. São também símbolos de indeterminação: 00 ; 00 ; 11 ; e 10 :
Observação: Se (xn )n2N uma sucessão de números reais e se para n 2 N

An = fxk : k ng , yn = sup An e zn = inf An :

então a sucessão (yn )n2N é decrescente e a sucessão (zn )n2N é crescente. Ex-
istem então y 2 R e z 2 R tais que y = limn!1 yn e z = limn!1 zn : Tem-se
então
y = lim yn = inf sup xk e z = lim zn = sup inf xk :
n!1 n2N k n n!1 n2N k n

33
De…nição: Chama-se limite superior da sucessão (xn )n2N o elemento y =
limn!1 yn 2 R e denota-se por lim sup xn ou limn!1 xn . Chama-se limite
n!1
inferior da sucessão (xn )n2N o elemento z = limn!1 zn 2 R; e denota-se por
lim inf xn ou limn!1 xn .
n!1 n o
Exemplo: Seja xn = ( 1)n : Então yn = sup ( 1)k : k n = 1: zn =
n o
k
inf ( 1) : k n = 1; de onde resulta que lim inf xn = limn!1 zn = 1
n!1
e lim sup xn = limn!1 yn = 1:
n!1
Teorema: Uma sucessão de números reais (xn )n2N tem limite em R se e só
se lim inf xn = lim sup xn :N esse caso
n!1 n!1

lim xn = lim inf xn = lim supxn :


n!1 n!1 n!1

11 Funções reais de variável real


11.1 De…nições basicas
De…nição: Seja A e B dois conjuntos. Chama-se função de…nida em A com
valores em B ou função de A para B), a toda a correspondencia f entre A
e B que a cada elemento x de A associa um e um so elemento de B que
denotamos por f (x) :
Uma função de A para B denota-se por f : A ! B: Ao conjunto A
chama-se dominio de f e a conjunto B conjunto de chegada de f: Para cada
x 2 A; ao elemento y = f (x) chamamos imagem de x por f: Ao conjunto
das imagens ff (x) : x 2 Ag chamamos contradomínio de f:
Se A R e B R então uma função f : A ! B chama-se função real de
variável real.
A expressão ou fórmula y = f (x) que traduz o modo como a variável de-
pendente y depende da variável independente x chama-se expressão analitica
ou representação analitica da função f: Ao conjunto dos números reais para
os quais a expressão analitica de f esta bem de…nida chama-se dominio de
de…nição ou de existência de f .
De…nição: Dada uma função f : D R ! R chama-se grá…co de f ao
conjunto
Gf := f(x; y) : x 2 D; y = f (x)g :
De…nição: Uma função f : D R ! R diz-se:
(a) crescente se: x < y ) f (x) f (y) ;
(b) estritamente crescente se: : x < y ) f (x) < f (y) ;

34
(c) decrescente se: x < y ) f (x) f (y) ;
(d) estritamente decrescente se: x < y ) f (x) > f (y) :
(e) monótona se é crescente ou decrescente
(e) estritamente monótona se é estritamente crescente ou estritamente
decrescente
De…nição: Uma função f : D R ! R diz-se:
(a) par se f (x) = f ( x) ; para todo x 2 D
(b) ímpar se f (x) = f ( x) ; para todo x 2 D
De…nição: Uma função f : A R ! B R diz-se:
(a) injectiva se x 6= y ) f (x) 6= f (y);
(b) sobrejectiva se para todo y 2 B existe x 2 A tal que y = f (x) ;
(c) bijectiva se é injectiva e sobrejectiva.
De…nição: Uma função f : D R ! R diz-se limitada em D1 D se
existe M > 0 tal que

jf (x)j M para todo x 2 D1 :

Diz-se que f é limitada se for limitada em D: No caso em que f não é


limitada diz-se que f é ilimitada.
De…nição: Seja f : D R ! R uma função e c 2 D:
Diz-se que c é um ponto de máximo de f; e que f (c) é um máximo de f
e denotamos por
f (c) = max f (x)
x2D

se f (x) f (c) para todo x 2 D:


Diz-se que c é um ponto de mínimo de f; e que f (c) é um mínimo de f
e denotamos por
f (c) = min f (x)
x2D

se f (x) f (c) para todo x 2 D:


Os pontos de mínimo e de máximo de uma função chamam-se extremos
dessa função.
De…nição: Chamam-se zeros da função f : D R ! R os elementos x 2 D
tais que f (x) = 0:
De…nição (operações com funções) Sejam f : Df R ! R e g : Dg R !
R duas funções. Chama-se:
(a) soma das funções f e g a função f + g : Df \ Dg ! R de…nida por

(f + g) (x) = f (x) + g (x) ;

(b) produto das funções f e g a função f g : Df \ Dg ! R de…nida por

(f g) (x) = f (x) g (x) ;

35
(c) quociente das funções f e g a função fg : fx 2 Df \ Dg : g (x) 6= 0g !
R de…nida por
f f (x)
(x) = ;
g g (x)
(d) compost a de g com f
De…nição (composição de funções) Sejam f : X R ! Y R e g :
Y R ! R duas funções. Chama-se a composta de g com f a função
g f : X R ! R de…nida por

(g f ) (x) = g (f (x)) ;

De…nição (inversa de uma função) Sejam f : Df R ! R uma função


1
injectiva. Chama-se função inversa de f a função f : f (Df ) ! Df tal que
1 1
f f (x) = f (f (x)) (x) = x para todo x 2 Df :

Exemplos de funções:

1. Funções polinomiais. Se f : D R ! R é dada por um polinómio, i.e,


é da forma

f (x) = a0 + a1 x + ::: + an xn ; com a0 ; a1 ; :::; an 2 R

então dizemos que f é uma função olinomial (em D). Se an 6= 0


dizemos que n é o grau da função polinómial f: É claro que o domínio
D da função polinomial pode todo R .

2. Funções racionais, Se f : D R ! R é dada por uma expressão da


forma polinómio, i.e, é da forma
P (x)
f (x) = com P (x) e Q (x) polinómios,
Q (x)

então dizemos que f é uma função racional (em D). O domínio D está
contido em fx 2 R : q (x) 6= 0g por razões obvias.
Um exemplosimples é a função f (x) = x1 , cujo gra…co é uma hipérbole;
tanto o domínio como o contradomínio são Rn f0g : Esta função é ímpar,
decrescente em ] 1; 0[ e em ]0; +1[ mas não em dodo o seu domínio
Rn f0g :.

3. Funções trigonométricas. As funções trigonométricas tém um papel


fundamental na matemática e nas suas aplicações. Começamos por
recordar descrições geometricas do seno que denotamos por sen ou sin,

36
a função coseno que denotamos por cos; a função tangente que denota-
mos por tg ou tan e a cotangente que denotamos por ctg ou cot usando
a circunferencia unitária com equação x2 +y 2 = 1 (Ver pag. 37 em 1. da
Bibliogra…a e também http://mat.absolutamente.net/ra_f_t.html). Recor-
damos algumas suas propriedades:

(a) sen2 (x) + cos2 (x) = 1;


(b) sen (0) = cos 2
= sen ( ) = 0;
(c) cos (0) = sen 2
= 1; cos ( ) = 1;
(d) cos (x )= cos (x) ; a função cos é par e tem periodo 2 ;
(e) cos x 2
= sen (x) ; a função sen é impar e tem periodo 2 ;
(f) em 0; 2 o seno é estritamente crescente e o coseno é estritamente
decrescente;
(g) cos x + 2
= sen (x) ; sen x 2
= sen x + 2
= cos (x)
sen( )
(h) se 0 < < 2
então 0 < cos ( ) < < 1;
(i) sen (x y) = sen (x) cos (y) cos (x) sen (y) ;
(j) cos (x y) = cos (x) cos (y) sen (x) sen (y) ;

As funções trigonometricas tangente, cotangente, secante e cosecante


popodem ser de…nidas a partir das funções seno e coseno:
sin (x)
tg (x) = tan (x) := (x 6= + k ; k 2 Z);
cos (x) 2
cos (x)
ctg (x) = cot (x) := (x 6= k ; k 2 Z);
sin (x)
1
sec (x) := (x 6= + k ; k 2 Z);
cos (x) 2
1
cosec (x) := (x 6= k ; k 2 Z)
sin (x)

O dominio da função tangente é


n o
Dtan = fx 2 R : cos (x) 6= 0g = x 2 R : x 6= + k ;k 2 Z
2
O dominio da função cotangente é
Dcot = fx 2 R : sen (x) 6= 0g = fx 2 R : x 6= k ; k 2 Zg :

A função tangente e a função cotangente são funções ímpare e period-


icas de periodo

37
4. Função exponencial e logaritmo. Assumimos a existencia de uma função
bijectiva e crescente log : R+ ! R tal que
1
log (xy) = log (x)+log (y) e 1 log (x) x 1; para todos x; y 2 R+ :
x
Obtem-se como corolarios:

log (1) = 0;
1
log = log (x) ; log (xn ) = n log (x) ;
x
x
log = log (x) log (y) para todos x; y 2 R+ :
y

A inversa da função logaritmica log é o exponencial exp :: R ! R+ , e


é usual escrever-se ex em lugar de exp (x) : Temos portanto que

elog(x) = x para qualquer x 2 R+ e log (ex ) = x para qualquer x 2 R:

A função exponencial é estritamente crescente em R e

e0 = 1; ex 1 + x; ex+y = ex ey para todos x; y 2 R


1
ex para todo x < 1:
1 x

Se a > 0 e x 2 R então a função exponencial de base a de…ne-se por

ax = ex log(a)

5. Função hiperbolicas: As funções seno hiperbólico e coseno hiperbólico


são de…nidas a partir da função exponencial:

ex e x
ex + e x
senh (x) = ; cosh (x) = :
2 2
Por formulas análogas às referidas a proposito de funções trigonomet-
ricas de…nem-se tangente hiperbolica, cotangente hiperbolica, e outras.
Por exemplo,
senh (x)
tanh (x) = :
cosh (x)

38
11.2 Limites de funções reais de variável real
O conceito de limite de uma função f : Df R ! R num ponto pode ser
de…nido de duas maneiras não equivalentes: uma que "ignora"o que se passa
no ponto em que se pretende de…nir limite e outra que considera o que se
passa em tal ponto. Basicamente, isto coresponde as situações em que se
considera o limite num ponto de acumulação de Df ou num ponto aderente
a Df : Cada uma das de…nições tem as suas vantagens e desvantagens.
Tendo em conta que um ponto aderente de Df só não é ponto de acumu-
lação de Df se for um seu ponto elemento isolado, vamos optar por de…nir
o limite nos pontos de acumulação e aceitar que num ponto isolado o limite
coincide com o valor da função naquele ponto.
De…nição Sejam f : Df R ! R e a um ponto de acumulação do dominio
Df . Diz-se que l 2 R é limite de f no ponto a (ou quando x tende para a) e
escreve-se limx!a f (x) = l se:

8" > 0 9 > 0 : (x 2 Df ^ 0 < jx aj < ) ) jf (x) lj < ":

Se a 2 Df é um ponto isolado então de…ne-se o limite de f no ponto a por

lim f (x) = f (a) :


x!a

Observação: Em termos de vizinhanças:

lim f (x) = l , 8" > 0 9 > 0 : x 2 Df \ (V (a) n fag) ) jf (x) lj < ":
x!a

Teorema: Se f : Df R ! R e a um ponto de acumulação de Df então o


limite de f em a; quando existe, é único.
Exemplo: Consideramos a função f : R ! R de…nida por

x2 ; se x 6= 0
f (x) =
1; se x = 0:

Então limx!0 f (x) = 0: De facto teriámos então de provar que


p
8" > 0 9 = " > 0 : 0 < jxj < ) jf (x)j < ":

De…nição Seja f : Df R ! R e suponhamos que Df não é majorado.


Diz-se que o limite de f quando x ! 1 é l e escreve-se l = limx!1 se

1
8" > 0 9 > 0 : x 2 Df ^ x > ) jf (x) lj < ":

39
De…nição Seja f : Df R ! R e suponhamos que Df não é minorado.
Diz-se que o limite de f quando x ! 1 é l e escreve-se l = limx! 1 se

1
8" > 0 9 > 0 : x 2 Df ^ x < ) jf (x) lj < ":

De…nição Sejam f : Df R ! R e a um ponto de acumulação ao domínio


Df Diz-se que o limite de f no ponto a (ou quando x tende para a) é +1 e
escreve-se limx!a f (x) = +1 se:
1
8" > 0 9 > 0 : (x 2 Df ^ 0 < jx aj < ) ) f (x) > :
"
De…nição Sejam f : Df R ! R e a um ponto de acumulação ao dominio
Df Diz-se que o limite de f no ponto a (ou quando x tende para a) é 1 e
escreve-se limx!a f (x) = 1 se:
1
8" > 0 9 > 0 : (x 2 Df ^ 0 < jx aj < ) ) f (x) < :
"
Observações. As de…nições de

lim f (x) = +1; lim f (x) = 1; lim f (x) = +1; lim f (x) = 1
x!+1 x!+1 x! 1 x! 1

podem dar-se de forma analoga (exercicio!).


Se tivermos em conta a de…nição de vizinhança em R podemos uni…car
todas as de…nições do seguinte modo: se a; l 2 R diz-se que limx!a f (x) = l
se
8" > 0 9 > 0 : x 2 Df \ (V (a) n fag) ) f (x) 2 V" (l) :
Teorema: Se f : Df R ! R e a um ponto de acumulação ao Df então
limx!a f (x) = l se, e só se, para cada sucessão (xn )n2N de limite a; com
xn 2 Dn fag 8n 2 N a sucessão (f (xn ))n2N tem limite l:
Exemplo: A função f (x) = x1 ; de…nida para x 6= 0; não tem limite em a = 0.
As sucessões xn = n1 e yn = ( 1)n n1 convergem para 0 mas f (xn ) = n ! +1
e f (yn ) = ( 1)n n não tem limite, logo f não tem limite em 0:
Observação. Se a é um ponto isolado de Df então as únicas sucessões
de pontos de Df que tentem para a são as sucessões que, a partir de certa
ordem são constantemente iguais a a; e nesse caso (f (xn ))n2N tem limite
f (a) = l: Resulta então que a caracterização do limite de uma função através
de sucessões do teorema precedente se pode estender a pontos aderentes.
Teorema: Se limx!a f (x) = b e limx!a g (x) = c então:
(i) limx!a [f (x) + g (x)] = b + c;
(ii) limx!a [f (x) g (x)] = b c;

40
(iii) limx!a [f (x) g (x)] = b c;
(iv) se c 6= 0, limx!a fg(x)
(x)
= cb ;
Teorema: Se limx!a f (x) = 0 e g é uma função limitada então limx!a f (x) g (x) =
0.
Teorema: Sejam f : Df R ! R, g : Dg R ! R tais que f (Df ) Dg :
Se limx!a f (x) = b e limy!b g (y) = c então limx!a (g f ) (x) = c:
De…nição Sejam f : Df R ! R e B Df um subconjunto propio de Df :
Suponhamos que a é um ponto de acumulação de B: Diz-se que f tem limite
l quando x tende para a; segundo B; ou que l é o limite relativo a B de f
quando x tende para a se o limite da restrição f jB de f a B quando x tende
para a é l: Designa-se este limite por

lim f (x) = l:
x!a
x2B

Observação: São importantes os limites relativos que se seguem:


(i) B = fx : x 2 D ^ x < ag : Neste caso escreve-se

lim f (x) = l ou lim f (x) = l ou f (a ) = l;


x!a x!a
x<a

e diz-se limite a esquerda de f no ponto a:


(ii) B = fx : x 2 D ^ x > ag : Neste caso escreve-se

lim f (x) = l ou lim+ f (x) = l ou f (a+) = l;


x!a x!a
x>a

e diz-se limite a direita de f no ponto a:


Os limites à esquerda e a direita recebem a designação comum de limites
laterais.
Observação: Tem-se que

lim f (x) = lim+ f (x) = l , lim f (x) = l:


x!a x!a x!a

mas podem existir só um dos limites laterias (ou os dois com valores distintos)
sem que exista limx!a f (x) :
Exemplo: Consideramos a função f : R ! R de…nida por

0; se x < 2
f (x) =
1; se x 0:

Veri…ca-se que
lim f (x) = 0 = lim+ f (x) = 0;
x!2 x!2

41
portanto existe e limx!2 f (x) = 0: Observa-se também que limx!2 f (x) 6=
f (2). Isto signi…ca que f não é continua em x = 2: A continuidade das
funções reais de variavel real va-se tratar na secção seguinte.
Exemplos de limites importantes:
(i) Se P (x) = a0 + a1 x + ::: + an xn é uma função poilinomial então

lim P (x) = P (x0 ) se x0 2 R e lim P (x) = an ( 1)n :


x!x0 x! 1

P (x)
(ii) Se f (x) = Q(x)
com P (x) = a0 + a1 x + ::: + an xn e Q (x) = b0 + b1 x +
::: + bm xm então
8
< 0 se n < m
P (x) P (x0 ) P (x) an
lim = se x0 2 R e lim = bn
se n = m
x!x0 Q (x) Q (x0 ) x! 1 Q (x) : an
bn
( 1)n m
se n > m:
p
n
(iii) Se f (x) = xm então
p p p
lim n xm = n xm0 se x0 2 R e lim
n
xm = 1:
x!x0 x! 1

(iv) Função exponencial ex :

lim ex = ex0 se x0 2 R, e lim ex = 1 e lim ex = 0:


x!x0 x!1 x! 1

(iv) Funções trigonometricas:

lim sen (x) = sen (x0 ) ; lim cos (x) = cos (x0 ) se x0 2 R,
x!x0 x!x0

lim tan (x) = tan (x0 ) ; se x0 2 Rn f(2k + 1) : k 2 Zg ,


x!x0

lim ctg (x) = ctg (x0 ) ; se x0 2 Rn fk : k 2 Zg ,


x!x0

(v) Outros limites:


sen (x)
lim = 1;
x!0 x
x
1 1
lim 1 + = e; lim (1 + x) x = e
x! 1 x x!0
x
e log (x)
lim n = 1; lim = 1:
x!1 x x!1 xn
Exemplos de limites no caso de indeterminações:
Nota-se que nos exemplos anteriores, para determinar o limite duma
função num ponto x0 se substitui x por x0 : Se se obter um resultado bem

42
de…nido (número …nito ou in…nito) tal resultado é o limite da função no
ponto x0 : Se se obtem uma indeterminação, as vezes se transforma a função
cujo limite estamos calcular para obter uma função igual com a de partida
(para x 6= 0) tal que, substituindo na nova função x por x0 ; se obtenha um
número bem de…nido, que sera o limite da função no ponto x0 ; outras vezes
se utilizam as limites fundamentais
sen (x) 1
lim = 1; lim (1 + x) x = e:
x!0 x x!0

P (x)
(i) Se f (x) = Q(x)
e x0 é tal que Q (x0 ) = 0 então:

(a) se P (x0 ) 6= 0 a função f tem limites laterais in…nitas, eventual-


mente diferentes; se x0 é uma raiz de ordem par do denominador
Q; os limites laterais são iguais. Exemplos:
x+7 x+7 x+7
lim = 1; lim = 1; portanto lim =1
x!0 x2 x!0 x2 x!0 x2
x<0 x>0
3x2 + 2x 3x2 + 2x
lim = 1; lim = 1:
x! 3 x+3 x! 3 x + 3
x< 3 x> 3

(b) se P (x0 ) = 0 e Q (x0 ) = 0 então P (x) = (x x0 ) P1 (x) ; Q (x) =


(x x0 ) Q1 (x) e, para x 6= x0 tem-se que
P (x) P1 (x)
= ::
Q (x) Q1 (x)
P1 (x)
Se a função Q1 (x)
tem limite no ponto x0 então

P (x) P1 (x)
lim = lim :
x!x0 Q (x) x!x0 Q1 (x)

Exemplos:
x25x + 6 (x 3) (x 2) (x 2) 1
lim = lim = lim = ;
x!3 x2
9 x!3 (x 3) (x + 3) x!3 (x + 3) 6
2
x + 5x 2 (x 1) (x + 2) (x 1)
lim 3 = lim 3 = lim = 1:
x!3 (x + 2) x!3 (x + 2) x!3 (x + 2)2

(ii) limites no caso 11 :


Sendo 1
lim (1 + y) y = e;
y!0

43
se limx!x0 z (x) = 0 então
1
lim (1 + z (x)) z(x) = e:
x!x0

Exemplos:
1 p p1
lim (1 x) x = e; lim 1 + x 1 x 1
= e:
x!1 x!1

Se limx!x0 u (x) = 1 e limx!x0 v (x) = 1 então estamos no caso 11 :


Neste caso tenta-se utilizar o limite dos comentarios precedentes.
Exemplos:
x2 x2
x 1 x 1
lim = lim 1 1+
x!1 x+1 x!1 x+1
x2
2
= lim 1
x!1 x+1
2x2
" x+1 # x+1
2 2
= lim 1
x!1 x+1
1
=e = 0:

11.3 Continuidade de funções reais de variável real


De…nição Sejam f : Df R ! R e a 2 Df0 \ Df : Diz-se que f é contínua
no ponto a se:

8" > 0 9 > 0 : (x 2 Df ^ 0 < jx aj < ) ) jf (x) f (a)j < ";

ou seja se limx!a f (x) existe e é igual a f (a)


Em termos de vizinhanças tem-se que f é contínua em a 2 D se e so se,

8" > 0 9 > 0 : x 2 Df \ (V (a) n fag) ) f (x) 2 V" (f (a)) :

De…nição Os pontos em que uma função não é contínua chamam-se pontos


de descontinuidade.
De…nição Sejam f : Df R ! R e a 2 Df0 \ Df : Diz-se que:
(i) f é contínua a esquerda no ponto a se f (a ) = limx!a f (x) = f (a)
(i) f é contínua a direita no ponto a se f (a+) = limx!a+ f (x) = f (a)
Observações:

44
(i) Se f : Df R ! R é contínua a esquerda e a direita no ponto a 2 Df
então f é contínua em a:
(ii) Se a for um ponto isolado de Df resulta que f é contínua em a:
(iii) Toda a função constante é contínua em todos os pontos do seu do-
minio.
Teorema: Se f : Df R ! R e a 2 Df0 \ Df então f é continua em a se,
e só se, para cada sucessão (xn )n2N de limite a; com xn 2 Df n fag 8n 2 N a
sucessão (f (xn ))n2N tem limite f (a) :
Teorema: Se f; g : D R ! R são funções contínuas no ponto a 2 D0 \ D
então f + g; f g; f g são contuas no onto a e se g (a) 6= 0 então fg é contínua
em a. p
Exemplo: A função f (x) = px+1 x 1
é continua em [0; +1[ n f1g porque quo-
ciente de duas funções continua e o denominador se anula em x = 1:
Exemplo: Estude a continuidade das funções
8 2 (
< 2x + 1 se 2 x<2 1
1 se x 6= 1
f (x) = 1 se x = 2 ; g (x) = 1+e x 1 ;
: se x = 1
5x 1 se 2 < x < +1:

Teorema: Sejam f : Df R ! R , g : Dg R ! R tais que f (Df ) Dg :


Se f é contínua em a 2 Df0 \ Df e se g é contínua em b = f (a) 2 Dg0 \ Dg
então g f é contínua em a:
De…nição Uma função f : Df R ! R diz-se contínua num conjunto
B Df se é contínua em todos os pontos de B:
Teorema (de valor intermedio de Bolzano): Seja f uma função contínua
num intervalo I, a; b dois pontos de I tais que f (a) 6= f (b) : Então, qualquer
que seja o número k estritamente compreendido entre f (a) e f (b) existe pelo
menos um ponto c, estritamente compreendido entre a e b tal que f (c) = k:
Corolario Se f é contínua em [a; b] e se f (a) f (b) < 0 então existe c 2 ]a; b[
tal que f (c) = 0:
Exemplo: A função f (x) = x5 + 3x2 2 tem pelo menos um zero entre o e
1: Observa-se que f é continua, f (0) = 2 e f (1) = 2.
Teorema (de Weierstrass): Se f é contínua num intervalo fechado e lim-
itado I então f (I) é também um intervalo fechado e limitado.
Corolario Se f é contínua num intervalo fechado e limitado então f tem
nesse intervalo mínimo e máximo
De…nição Sejam f : Df R ! R e A Df : Diz-se que f é uniformemente
contínua em A se:

8" > 0 9 > 0 : 8x; y 2 A; jx yj < ) jf (x) f (y)j < ":

Exemplos: (i) A função f (x) = sin (x) é uniformemente contínua em R

45
(ii) A função g (x) = x1 não é uniformemente contínua em ]0; 2[ :
Teorema: Sejam f : Df R ! R e A Df : f é uniformemente contínua
em A se e só se, para quaisquer sucessões (xn )n2N e (yn )n2N com xn 2 D e
yn 2 D 8n 2 N; tais que limn!1 (xn yn ) = 0 se tem também

lim (f (xn ) f (yn )) = 0:


n!1

Exemplos: Consideramos a função f (x) = x1 em [0; 1] : Se xn = n1 e yn =


1
2n
temos que limn!1 (xn yn ) = 0 no entanto limn!1 (f (xn ) f (yn )) =
limn!1 ( n) = 1; o que implica que f não é uniformemente contínua no
intervalo considerado.
Teorema (de Cantor): Toda a função contínua num conjunto fechado e
limitado é uniformemente contínua.

12 Cálculo diferencial em R
12.1 Derivadas. Regras de derivação
De…nição Sejam f : D R ! R e a um ponto interior de D: Chama-se
derivada de f no ponto a ao limite, se existir (em R)

f (x) f (a)
lim
x!a x a
ou, fazendo x a = h;
f (a + h) f (a)
lim :
h!0 h
df
A derivada de f no ponto a designa-se por f 0 (a) ou dx (a) : Se f tem derivada
…nita no ponto a, diz-se que f é diferenciável no ponto a:
Interpretação geometrica da derivada: Sejam P = (a; f (a)) ; Qi =
(xi ; f (xi )) os pontos do grá…co da função f que têm abscisas a a e xi : A
razão
f (xi ) f (a)
xi a
é o declive da recta P Qi ; secante ao grá…co de f: Se f é diferenciável no
ponto a; chama-se tangente ao grá…co de f no ponto (a; f (a)) a recta que
passa por este ponto e tem declive igual a f 0 (a) :
A recta tangente terá então a equação

y = f (a) + f 0 (a) (x a) : (5)

46
De…nição Sejam f : D R ! R e a um ponto interior de D: Chama-se
derivada a esquerda de f no ponto a ao limite, se existir (em R)

f (x) f (a)
lim
x!a x a
ou, fazendo x a = h;
f (a + h) f (a)
lim ;
h!0 h
e designa-se por f 0 (a ) :
Chama-se derivada a direita de f no ponto a ao limite, se existir (em R)

f (x) f (a)
lim+
x!a x a
ou, fazendo x a = h;
f (a + h) f (a)
lim+ ;
h!0 h
e designa-se por f 0 (a+ ) :
Observação: f 0 (a) existe se e só se existem e são iguais f 0 (a ) e f 0 (a+ ) :
Exemplos: (i) Consideramos a função f : R ! R de…nida por f (x) = jxj :
Como f 0 (0 ) = 1 e f 0 (0+ ) = 1, resulta que f não tem derivada no ponto
0: p
(ii) A função f : R ! R de…nida por f (x) = 3 x tem derivada +1 em
x = 0 pois f 0 (0+ ) = f 0 (0 ) = +1: F não é pois diferenciável
p em 0:
3 2
(iii) A função f : R ! R de…nida por f (x) = x não tem derivada em
0 pois f 0 (0+ ) = +1 e f 0 (0 ) = 1:
Teorema: Sejam f : D R ! R e a um ponto interior de D: Se f é
diferenciável no ponto a então f é contínua no ponto a:
Observações: (i) Uma função pode ser contínua p num ponto e não ter
3 2
derivada nesse ponto. Por exemplo, f (x) = x é continua mas não tem
derivada em 0:
(ii) Se a derivada for in…nita a função pode não ser contínua
Teorema: Se f e g são duas funções diferenciáveis em a então f + g e f g
são diferenciáveis em a e

(f + g)0 (a) = f 0 (a) + g 0 (a) ;

(f g)0 (a) = f 0 (a) g (a) + f (a) g 0 (a)

47
f
Se além disso g (a) 6= 0 então g
é diferenciável em a e
0
f f 0 (a) g (a) f (a) g 0 (a)
(a) = :
g (g (a))2
Teorema: Sejam f : Df R ! R, g : Dg R ! R tais que f (Df ) Dg :
Se f é diferenciável em a 2 Df e se g é diferenciável em b = f (a) então g f
é diferenciável em a e
(g f )0 (a) = g 0 (b) f 0 (a) = g 0 (f (a)) f 0 (a) :
Teorema: Seja I R um intervalo, f : I ! R uma função estritamente
monótona e contínua, g : J = f (I) ! R a sua inversa. Se f é diferenciável
no ponto a e f 0 (a) 6= 0 então g é diferenciável em b = f (a) e
1 1
g 0 (b) = = 0 g 0 (b) f 0 (a) = g 0 (f (a)) f 0 (a) :
f0 (a) f (g (b))
Exemplos: (i) g (x) = arcsin (x) ; (ii) g (x) = arccos (x) ; (iii) g (x) = arctg
(x) ; (iv) g (x) = arcctg(x)
Observação: Se f : D R ! R é uma função diferenciável em todos os
pontos de A D; podemos de…nir a função que a cada x 2 A faz correspon-
der f 0 (x) : Obtemos assim uma nova função, de dominio A, que representa-
mos por f 0 e a que chamamos função derivada (ou apenas derivada) de f em
A:
De modo analogo, se f 0 for diferenciável em A; de…nimos f 00 = (f 0 )0
(segunda derivada) e se f 00 for diferenciável em A; de…nimos f 000 = (f 00 )0 ...,
se f (n 1) (derivada de ordem n 1) for diferenciável em A; de…nimos f (n) =
0
f (n 1) ; derivada de ordem n em A:
De…nição Se f 0 for contínua em A, dizemos que f é de classe C 1 em A e
representamos por f 2 C 1 (A) : Se n 2 N e f (n) é contínua em A, dizemos
que f é de classe C n em A e representamos por f 2 C n (A) :
Se f 2 C n (A) ; 8n 2 N; dizemos que f é de classe C 1 em A e represen-
tamos por f 2 C 1 (A) :

12.2 Teoremas fundamentais da derivação. Extremos


relatívos duma função.
De…nição Seja f : D R ! R uma função.
(i) Diz-se que f tem um mínimo local (ou relativo) em a 2 D (ou que
f (a) é um mínimo local, ou relativo de f ) se existir uma vizinhança V de a
tal que
f (x) f (a) , 8x 2 V \ D:

48
(ii) Diz-se que f tem um máximo local (ou relativo) em a 2 D (ou que
f (a) é um máximo local, ou relativo de f ) se existir uma vizinhança V de a
tal que
f (x) f (a) , 8x 2 V \ D:
Aos máximos e mínimos relativos da-se a designação comum de extremos
relativos.
Teorema: Seja f : D R ! R: Se f (a) for um mínimo relativo e se
existirem derivadas laterais em a; então f 0 (a ) 0 e f 0 (a+ ) 0: Se f for
diferenciável em a, então f 0 (a) = 0:
Teorema: Seja f : D R ! R: Se f (a) for um máximo relativo e se
existirem derivadas laterais em a; então f 0 (a ) 0 e f 0 (a+ ) 0: Se f for
diferenciável em a, então f 0 (a) = 0:
Teorema (de Rolle) : Seja f uma função contínua no intervalo [a; b] (a;
b 2 R; a < b) e diferenciável em ]a; b[ : Se f (a) = f (b) então existe c 2 ]a; b[
tal que f 0 (c) = 0:
Corolario Entre dois zeros de uma função diferenciável num intervalo há,
pelo menos um zero da sua derivada.
Corolario Entre dois zeros consecutivos da derivada de uma função diferen-
ciável num intervalo existe, no máximo um zero da função. de uma função
diferenciável num intervalo há, pelo menos um zero da sua derivada.
Teorema (de Darboux) : Seja I R um intervalo aberto, f : I ! R uma
função diferenciável em I: Se existirem a; b 2 I; a < b; tais que f 0 (a) 6= f 0 (b)
então para todo o k entre f 0 (a) e f 0 (b) existe c 2 ]a; b[ tal que f 0 (c) = k:
Teorema (de Lagrange) : Seja f uma função contínua no intervalo [a; b]
(a; b 2 R; a < b) e diferenciável em ]a; b[ : Então existe c 22 ]a; b[ tal que

f (b) f (a)
f 0 (c) = :
b a
Corolarios:
(i) Se f tem derivada nula em todos os pontos do intervalo, então é
constante nesse intervalo.
(ii) Se f e g são duas funções diferenciáveis num intervalo I e se f 0 (x) =
0
g (x) ; 8x 2; então a diferença f g é constante em I:
(iii) Se I R um intervalo e f 0 (x) 0 (respectivamente, f 0 (x) 0)
8x 2 I, então f é cresecnte (respectivamente, decrescente) em I: Se f 0 (x) >
0 (respectivamente, f 0 (x) < 0) 8x 2 I, então f é estrtamente cresecnte
(respectivamente, decrescente) em I:
Teorema (do valor medio de Cauchy) : Se f e g são funções contínuas
no intervalo [a; b], diferenciáveis em ]a; b[ e g 0 (x) não se anula em ]a; b[ então

49
existe c 2 ]a; b[ tal que
f 0 (c) f (b) f (a)
0
= :
g (c) g (b) g (a)
A partir do teorema de Cauchy pode-se demostrar a seguinte regra que é
muito usada no cálculo de limite de um quociente fg quando assume a forma
0
0
e 1
1
:
Teorema (regra de Cauchy) : Se f e g são funções diferenciáveis em ]a; b[
(a < b) tais que
(a) g 0 (x) 6= 0; 8x 2 ]a; b[ ;
(b) limx!a f (x) = limx!a g (x) = 0 ou limx!a f (x) = limx!a g (x) = 1;
0 (x)
então se existir limx!a fg0 (x) ; também existe limx!a fg(x)
(x)
e estes limites são
iguais.
Corolario : Seja I um intervalo aberto, c 2 I; f e g são funções diferenciáveis
em In fcg. Se g 0 (x) 6= 0; 8x 2 In fcg e se

limx!c f (x) = limx!c g (x) = 0 ou limx!c f (x) = limx!c g (x) = 1;

então
f (x) f 0 (x)
lim = x!c
lim 0
x!c
x6=c
g (x) x6=c
g (x)

sempre que o segundo limite exista (em R):


Observação: Pode-se demonstrar a partir da regra de Cauchy o seguinte
resultado util quando se pretende estudar a diferenciabilidade de uma função:
Se f é contínua num intervalo I, a 2 I; f é diferenciável num intervalo
]a; b[ I e existe limx!a+ f 0 (x) então f tem derivada a direita no ponto a e

f 0 a+ = lim+ f 0 (x)
x!a

Para tal basta notar que

f (x) f (a)
f 0 a+ = lim+
x!a x a
e aplicar a regra de Cauchy.
Observação: Os símbolos 0 1; 1 1 que podem surgir no cálculo de
limite de um produto f g ou da soma f + g reduzem-se a 00 ou 1
1
pelas
transformações:
1 1
f g f
+ g g
f g= 1 = 1 e f +g = 1 = 1
g f f g f

50
Outra regra importante no estudo de limites, mas que é aplicavel somente
ao símbolo 00 , é a seguinte
Teorema (regra de l’Hospital) : Sejam f e g são funções de…nidas num
intervalo I; diferenciáveis em a 2 I e g (x) 6= 0; 8x 2 In fag : Se f (a) =
g (a) = 0 e g 0 (a) 6= 0; então fg(x)
(x)
tem limite no ponto a e

f (x) f 0 (a)
lim = 0 :
x!a g (x) g (a)

Observação: As indeterminações 11 ; 00 e 10 surgem do cálculo de limites


de funções f g e reduzem-se às indeterminações do tipo 0 1 fazendo
g
f g = eln(f ) = eg ln(f ) :

Da continuidade da função exponencial conclui-se que


h i
lim (f (x))g(x) = elimx!a g(x) ln f (x) :
x!a

12.3 Fórmula de Taylor. Fórmula de MacLaurin.


Teorema (de Taylor): Seja f uma função de…nida num intervalo [a; b]
(a < b), com derivadas contínuas até a ordem n 1 em [a; b] ; e com derivada
de ordem n de…nida em ]a; b[ : Então existe um ponto c 2 ]a; b[ tal que

(b a)2 00 (b a)n 1 (n 1) (b a)n (n)


f (b) = f (a)+(b a) f 0 (a)+ f (a)+:::+ f (a)+ f (c)
2! (n 1)! n!

Observação: A expressão obtida no teorema chama-se fórmula de Taylor de


ordem n de f: Rescrevendo o enunciado para b = a + h; tem-se

h2 00 hn 1 (n 1) hn (n)
f (a + h) = f (a)+hf 0 (a)+ f (a)+:::+ f (a)+ f (a + h) ;
2! (n 1)! n!
n (n) n (n)
sendo 0 < < 1: Ao termo hn! f (a + h) ou (b n!a) f (c) chama-se resto
de Lagrange da fórmula de Taylor.
No caso em que a = 0; a fórmula de Taylor é conhecida por fórmula de
MacLaurin:
00 x2 (n 1) xn 1 (n) xn
f (x) = f (0) + f 0 (0) x + f (0) + ::: + f (0) + f (c) :
2! (n 1)! n!

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12.4 Aplicação da fórmula de Taylor ao estudo de ex-
tremos, concavidade e pontos de in‡exão.
Teorema Seja f : D R ! R uma função contínua num ponto a; interior
a D:
(i) Se f (a) > 0; então existe uma vizinhança V de a tal que f (x) > 0;
8x 2 V:
(ii) Se f (a) < 0; então existe uma vizinhança V de a tal que f (x) < 0;
8x 2 V:
De…nição Diz-se que a é ponto de estacionaridade de f se f 0 (a) = 0:
Teorema Seja f uma função de classe C n num intervalo I e a um ponto
interior a I: Se

f 0 (a) = f 00 (a) = ::: = f (n 1)


(a) = 0 e f (n) (a) 6= 0

então:
(a) se n é ímpar , f não tem extremo relativo em a :
(b) se n é par, f tem máximo relativo em a se f (n) (a) < 0 e tem um
mínimo relativo se f (n) (a) > 0:
De…nição Seja f uma função de…nida num intervalo I; diferenciável em
a 2 I e seja
r (x) = f (x) (f (a) + f 0 (a) (x a)) :
Se existir uma vizinhança V de a , V I; tal que r (x) > 0; 8x 2 V n fag,
diz-se que f tem a concavidade voltada para cima en a:
Se existir uma vizinhança V de a , V I; tal que r (x) < 0; 8x 2 V n fag,
diz-se que f tem a concavidade voltada para baixo en a:
Se existir uma vizinhança V = ]a "; a + "[ I de a tal que

r (x) > 0; 8x 2 ]a "; a[ e r (x) < 0; 8x 2 ]a; a + "[

ou
r (x) < 0; 8x 2 ]a "; a[ e r (x) > 0; 8x 2 ]a; a + "[
diz-se que o grá…co de f tem um ponto de in‡exão em (a; f (a)) :
Teorema Seja I um intervalo e f 2 C 2 (I:) O grá…co de f tem a concavidade
voltada para cima /(repectivamente para baixo) em todos os pontos x 2
int (I) tais que f 00 (x) > 0 (respectivamente, f 00 (x) < 0:
Teorema Seja I um intervalo e f 2 C n (I) ; n > 2: Se a é um ponto interior
de I tal que
f 00 (a) = ::: = f (n 1) (a) = 0 e f (n) (a) 6= 0
então:

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(a) se n é par , f tem a concavidade voltada para cima se f (n) (a) > 0 e
tem a concavidade voltada para baixo se f (n) (a) < 0;
(b) se n é ímpar, a é um ponto de in‡exão.

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