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1 Introdução
A Analise Matemática representa uma componente essencial da cultura ci-
enti…ca de qualquer investigador da natureza, porque para alem do papel
informativo, essa desenvolve habilidades de cálculo, educa e organiza o pen-
samento, canaliza a intuição, oferecendo inúmeros exemplos de modelação
matemática de fenómenos …sicos, químicos, económicos, etc.
Excepto nos casos mais triviais, a formulação e aplicação dos princípios
básicos de muitos domínios do conhecimento são simplesmente incompreen-
síveis para quem hão conhece o Cálculo Diferencial e Integral. Em larga
medida a Ciência Moderna só se tornou possível com as descobertas de New-
ton, Leibnitz e outros pioneiros dos séculos XVII e XVIII sobre os temas que
envolvem as noções de derivada e integral, o seu relacionamento pelos Teo-
remas Fundamentais do Cálculo, e a noção de série (soma com um número
in…nito de termos), que é essencial, por exemplo na obtenção de resultados
numéricos.
A formação matemática fundamental em cálculo diferencial e integral
unidimensional é o principal objectivo da disciplina Cálculo I, leccionada
no primeiro semestre do primeiro ano para todos os cursos de Ciências e
tecnologias da Universidade de Aveiro. Em paralelo com Cálculo I, funciona
a disciplina Analise Matemática I, destinada aos alunos do DMat e DETI,
com objectivos similares, mas maior carga horária.
Os alunos devem estar bem cientes que as disciplinas leccionadas na UA
supõem em geral que conhecimentos de cálculo diferencial e integral, lec-
cionadas em Cálculo I, e que a reprovação nesta cadeira tem indubitavelmente
consequências muito negativas sobre o seu percurso na UA.
É infelizmente verdade que as taxas de insucesso escolar são demasiado
altas nesta e noutras disciplinas, mesmo entre alunos da UA que trazem boas
1
classi…cações do Ensino Secundário, e por múltiplas razoes cuja responsabil-
idade tanto alunos como professores gostam de atribuir a terceiros.
Pessoalmente, receio que muitos alunos se apercebam tarde de mais dos el-
evados níveis de estudo, esforço e empenhamento pessoal que são necessários
para dominar os temas tecnicamente so…sticados que são o núcleo da apren-
dizagem na UA. Por obvio que possa parecer, recomendo vivamente que
estudem com muita regularidade, identi…quem questões que não entenderam
bem, discutam com os colegas, frequentem sessões de OT e tiram as dúvidas
com o docente, etc.
O planeamento do trabalho, dividindo o tempo disponível pelas várias dis-
ciplinas que cada aluno frequenta, é fundamental. Se o conseguirem, terão
ganho hábitos que vos serão da maior utilidade pela vida fora, independen-
temente dos vossos percursos futuros, e das notas que vierem a ter na UA.
Enquanto responsável desta disciplina, cabe-me garantir o nível de ex-
igência que considero apropriado, o que faço na convicção de que qualquer
aluno(a) que entra na UA pode atingir esse nível, desde que trabalhe o su…-
ciente para isso. Claro que o que constitui trabalho su…ciente não é o mesmo
para todos os alunos, e portanto cada um terá de determinar individualmente
a sua necessidade.
Em primeira aproximação, o tempo de estudo individual é certamente
pelo menos da ordem do tempo de aulas, e é normal que seja bastante superior
a este, sobretudo no caso de alunos menos bem preparados!
2
2 Resumo do programa
1. Números reais: propriedades algébricas, relacão de ordem e pro-
priedade do supremo. Números naturais. Método de indução. Outros
metodos de demonstração: prova directa, prova de contra-recíproco,
prova por redução ao absurdo. Minorante, majorante, ín…mo, supremo,
mínimo e máximo de um conjunto em R. Módulo. Noções de topologia
em R.
4. Cálculo diferencial em R
Derivada de uma função num ponto. Interpretação geométrica e física
de derivada. Regras de derivação. Funções diferenciáveis. Derivação da
função composta. Derivação da função inversa. Derivação de funções
elementares. Teoremas de Rolle, Darboux, Lagrange e Cauchy. Re-
gra de L’Hospital e Regra de Cauchy. Derivadas de ordem superior.
Fórmula de Taylor. Estudo do comportamento de uma função. Inde-
terminações. Assímptotas. Máximos e mínimos.
5. Cálculo integral em R
Área e integral. Somas de Riemann. Integral de Riemann. Somas
de Darboux. Condições su…cientes de integrabilidade. Propriedades
do integral. Integral inde…nido. Teorema Fundamental do Cálculo.
Primitivação. Primitivas imediatas. Métodos e técnicas de primiti-
vação: primitivação por decomposição, por partes e por substituição.
Primitivação de funções racionais. Primitivação de funções irracionais.
Primitivação de funções transcendentes. Integrais improprios.
3
3 Bibliogra…a
1. Virginia Santos: Cálculo I - Cálculo com funções de uma variável, 2009-
2010 (texto publicado no e-learning da UA).
7. Elon Lages Lima: Curso de Análise, vol 1, IMPA, Rio de Janeiro, 1995.
4 Avaliação de Conhecimentos
A avaliação é do tipo misto para todos os alunos (incluindo os alunos que
não podem frequentar as aulas), e consiste na realização de dois testes es-
critos (ambos cotados para 20 valores e ambos com peso de 50%), o primeiro
durante o período lectivo, no dia 3 de Novembro de 2010 (das 15 as 18 horas)
e o segundo durante a época (normal) de exames.
Os alunos têm de obter uma classi…cação superior ou igual a 6 valores no
primeiro teste para se poderem apresentar no segundo teste. Considera-se
aprovado o aluno que, tendo obtido mínimo de 6 valores no segundo teste,
venha a obter uma classi…cação …nal (média dos dois testes) superior ou igual
a 9,5.
No segundo teste avalia-se a matéria não avaliada no primeiro teste. In-
formações sobre a matéria a avaliar em cada teste mínimos para aprovação
serão colocados no e-learning.
De acordo com o calendário escolar haverá lugar a uma época de recurso,
onde será realizada uma prova de avaliação escrita (em data a …xar pelo
calendário de exames). Nos termos do REUA, poderão comparecer a esta
prova todos os alunos inscritos na disciplina, desde que não tenham reprovado
4
por faltas. A classi…cação …nal na epoca de recurso corresponde a nota obtida
no exame.
A desistência num dos testes implica desistencia na epoca normal.
Em qualquer uma das epocas (normal e recurso) poderá ser exigida uma
prova de avaliação complementar, caso o aluno pretenda candidatar-se a uma
nota …nal superior a 17 valores. A data de realização desta prova será …xada
pelo responsavel da unidade curricular e poderá ser exame oral.
– gabinete 27.3.8;
– email: vasile@ua.pt;
– leciona nas turmas: T4G+TPR2
– gabinete 11.3.17;
– email: jaralmeida@ua.pt;
– leciona nas turmas: T1C+T3B+T6D.
– gabinete 27.3.13;
– email: claudia.neves@ua.pt;
– leciona nas turmas: T4B+TPR8
– gabinete 11.2.27;
– email: neliasilva@ua.pt;
– leciona nas turmas: T2B+T3A+TPR4
– gabinete 11.2.37;
5
– email: vera@ua.pt;
– leciona nas turmas: T2A+T3C+TPR3.
– gabinete 11.3.51;
– email: tatiana@ua.pt;
– leciona nas turmas: T4C+TPR7+TPR6.
– gabinete 11.2.32;
– email: ricardo.almeida@ua.pt;
– leciona nas turmas:T4A+T2C+TPR1+T6C
– gabinete 11.2.37;
– email: maria.elisa@ua.pt;
– leciona nas turmas:T1A+T1B
– gabinete 11.3.5;
– email: isabel.cacao@ua.pt;
– leciona na turma: TPR5.
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Lição 2 (Semana 27/9 - 1/10): Avaliação da SPM / Teste de
diagnostico
7
laterais. Caracterização da existência de limite de uma função por meio
de sucessões. Limites in…nitos e limites no in…nito.
8
Lição 19 (Semana 22/11 -27/11): Cálculo integral: motivação. Os
conceitos de partição e de norma de uma partição. Somas de Riemann.
Funções integraveis à Riemann. Critério de Cauchy de integrabilidade
Riemann.
a 2 A ou A 3 a:
9
este modo de de…nir um conjunto é apropriado para conjuntos …nitos, isto
é, com um número …nito de elementos. Uma outra maneira para de…nir um
conjunto consiste na indicação de uma propriedade que os seus elementos e
só esses têm. Utiliza-se neste caso a notação A = fx : P (x)g que se lé: A é
o conjunto dos elementos x que têm a propriedade P (x) :
Dois conjuntos dizem-se iguais quando têm os mesmos elementos: A = B
signi…ca que cada elemento que pertence a A pertence também a B; e cada
elemento que pertence a B pertence também a A:
Provar a igualdade de dois conjuntos consiste em provar duas proposições
distintês, formalmente:
10
certo escrever f2g A; porque isto signi…caria que 2 2 A; mas A contém
como elemento f2g e não 2:
Chama–se conjunto vazio e indica-se por ? o conjunto que não contem
nenhum elemento.
Para qualquer conjunto A, tem-se que ? A:
De facto, para provar que ? A teríamos de provar que todos os ele-
mentos de ? estão contidos em A: Mas nenhum elemento pertence a ?; e
logo concluiamos o pretendido..
Operações com conjuntos
(a) união de dois conjuntos A e B de…ne-se por
A [ B = fx : x 2 A ou x 2 Bg :
A \ B = fx : x 2 A e x 2 Bg :
AnB = fx : x 2 A e x 2
= Bg :
A B = f(x; y) : x 2 A e y 2 Bg :
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(vii) A (B [ C) = (A B) [ (A C) ; A (B \ C) = (A B) \
(A C) ; A (BnC) = (A B) n (A C) :
Neste caso não tem sentido dar valores particulares a n: Diz-se também
que a variável n não é livre mas uma variável ligada do quanti…cador 8:
A a…rmação faz parte da categoria enunciados ou proposições, e ou é
verdadeira ou é falsa.
Os componentes de (1) são: o conjunto N dos números naturais, dois
predicados:
p (n) : n ímpar e q (n) : n2 ímpar
e a implicação
p (n) ) q (n) :
Em geral, um enunciado que apresenta um conjunto A; dois predicados
p (x) e q (x) cujo argumento x varia em A e a estrutura lógica
8x 2 A (p (x) ) q (x) ).
12
e ao conjunto de conclusões dá-se o nome tese. Esquematicamente, podemos
representar um teorema da seguinte forma:
Hipótese ) Tese.
P (x) ) Q (x) :
13
Demonstração:
p ímpar p = 2n + 1
)
p2N para algum n 2 N
p2 = 4n2 + 4n + 1
)
com n 2 N
p2 = 2q + 1
)
com q = 2n2 + 2n 2 N
p2 ímpar
)
p2 2 N
não Q ) não P:
A implicação universal
8p 2 N ( p ímpar ) p2 ímpar).
8p 2 N ( p2 par ) p par).
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Este contra-recíproco ja foi provado pela via da prova directa (Teorema
1). Logo, o enunciado do Teorema 2 ja está provado.
(c) Prova por redução ao absurdo
Outra forma para provar que P ) Q consiste em provar que admitir a
hipótese P em conjunto com a negação de tese Q gera uma contradição, ou
impossibilidade, designada um absurdo.
Ilustramos este método na demostração do seguinte resultado:
Teorema 3 : Seja dado um número real a: Se a > 0 então a1 > 0; ou seja
1
a>0) > 0:
a
Demonstração. A negação da tese é a proposição a1 0: Queremos provar
que não é possivel veri…car-se esta condição em simultaneo com a premisa
a > 0:
Ora
a>0 1
1 ) a: < 0 ) 1 < 0
a
<0 a
o que é uma a…rmação falsa. Logo,
1
a>0) > 0:
a
(d) Contra-exemplos.
Os contra-exemplos representam um recurso para provar a falsidade de
uma implicação universal. Queremos analisar a veridicidade do seguinte re-
sultado:
Teorema 4 : Para cada número natural n; se n é número primo então n é
ímpar
Observa-se que existe um número natural n = 2 que satisfaz a hipótese
(é número primo) mas não satisfaz a tese (não é ímpar), portanto o teorema
é falso.
Em geral, um exemplo de objecto que satisfaz a hipótese mas não a tese de
uma implicação universal, e portanto monstra a falsidade, chama-se contra-
exemplo. Para o Teorema 4, o número nátural n = 2 é um contra-exemplo.
Negação de propriedades e proposições.
Seja na prova do contra-recíproco, como também na prova por redução
ao absurdo é preciso saber construir a negação certa de uma proposição ou
propriedade dada.
Apresentam-se de seguida algumas regras típicas.
Se "P (x) " é uma propriedade qualquer então indicamos por "~P (x)"a
negação de P (x) : Por exemplo: se P (x) é a propriedade "x é um número
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natural par"então "~P (x) " é a propriedade "x não é um número natural
par".
Se P (x) e Q (x) são propriedades quiasquer então indicamos
8 Os números reais
Existem múltiplas possibilidades de escolha para basear o estudo dos números
reais. A nossa opção aqui é expedita, antes de mais por evidentes razões
de tempo, e tomamos os próprios números reais como termos inde…nidos,
e selecionamos um pequeno conjunto de propriedades básicas dos números
reais como axiomas. Com a excepção do axioma do supremo, todas estas
propriedades são bem conhecidas, e tomadas como evidentes.
Supomos conhecidos os resultados e ideias base da teoria dos conjuntos
(que relembramos na secção precedente), mas todas as restantes de…nições
aqui incluidas não envolvem outros conceitos, e todas as a…rmações aqui
incluidas são teoremas demostrados a partir dos axiomas iniciais, usando as
leis da lógica e métodos de demostração (que também descrevemos na secção
precedente).
Naturalmente, é indispensavel adquirir, em paralelo com o desenvolvi-
mento rigoroso da teoria, um entendimento intuitivo dos resultados obtidos,
que ajuda em particular a identi…car as condições em que as ideias em causa
podem ser uteis na construção de modelos matemáticos da realidade física.
Sob este aspecto supomos conhecida a correspondência entre os números reais
e os pontos de uma qualquer recta (dita recta real). Esta corespondencia é
…xada, uma vez escolidos dois pontos especi…cos, que representam os reeais
zero e um. Esta escolha determina também um sentido crescente na recta, do
ponto 0 para o ponto 1; que materializa outra das propriedades fundamentais
dos reais, que é o seu ordenamento.
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8.1 Axiomas algébricos dos números reais
O primeiro axioma é uma simples a…rmação de existência:
Axioma (A1 ): Existe um conjunto R; dito dos números reais. Existem duas
operações algebricas em R, a adição e a multiplicação, designados por + e ;
tais que, se x; y 2 R então a soma x + y e o produto x y são números reais
univocamente determinados.
Axioma (A2 ): As operações adição e a multiplicação satisfazem as seguintes
propriedades:
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Observação: Resulta dos axiomas (1) e (3) que, para todo a 2 R, 0 + a = a
e resulta dos axiomas (1) e (4) que ( a) + a = a para todo a 2 R.
Dos axiomas (5) e (7) resulta que, para todo a 2 R, 1 a = a e, dos
axiomas (5) e (8) resulta que, para todo o número real a 6= 0 tem-se que
1
a
a = 1:
Proposição 1 O elemento neutro para a adição é único; o elemento neutro
para a multiplicação também é único. O simetrico de um número real é único
e o inverso de um número real distinto de 0 é único também.
Demostração: Se u e u0 são elementos neutros para adição então u =
u + u0 = u0 + u = u. A primeira igualdade resulta do facto que u0 é elementru
neutro, a segunda resulta da comutatividade da adição, e a ultima resulta
do facto que u é elemento neutro. Resulta assim a unicidade do elemento
neutro. Analogamente prova-se as restantes a…rmações da proposição.
Proposição 2 (leis de corte) Sejam a; b; c 2 R.
(i) Se a + b = a + c então b = c:
(ii) Se a 6= 0 e a b = a c então b = c:
Proposição 3 (substração): Para todos a; b 2 R existe um único número
real x tal que a + x = b:
Este número x = a + ( b) e designado por diferença entre b e a e
representa-se por b a
Proposição 4 (divisão): Para todos a; b 2 R com a 6= 0 existe um único
número real x tal que a x = b:
Este número x = b a1 é designado por quociente de b por a e representa-se
por ab :
Proposição 5 (regras de sinais): Para quaisquer a; b 2 R tem-se que:
( a) = a
(a + b) = a b
(a b) = ( a) b = a ( b)
( a) ( b) = a b
e se b 6= 0 então
a a a
= = :
b b b
Proposição 6:
(i) Para qualquer a 2 R tem-se que a 0 = 0 e ( 1) a = a
(ii) Para quaisquer a; b 2 R se a b = 0 então a = 0 ou b = 0:
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8.2 Axiomas de ordem e consequências
Axiomas de ordem: Suponhamos a existência de um subconjunto R+ de R;
cujos elementos se chamam números reais positivos, que satisfaz os axiomas
seguintes:
(10) Se a; b 2 R+ então a + b 2 R+ e a b 2 R+
(11) Para todo a 2 R veri…ca-se uma e uma só das seguintes três condições:
a 2 R+ ou a = 0 ou a 2 R+ :
R = R+ [ f0g [ R :
ou na forma equivalente
a2 := a a > 0 8a 6= 0;
pelo que
1 = 12 > 0:
19
Proposição 7 (propriedade transitiva): Para quaisquer a; b; c 2 R tem-
se que
(a < b e b < c) ) a < c:
Demonstração:
x, se x 0
jxj =
x, se x < 0:
jx + yj jxj + jyj :
Demonstração: Pelo exercicio anterior (ii) tem-se que
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Usando então (ii) do exercício anterior, podemos concluir que jx + yj jxj +
jyj :
Exercicio: Mostre que, para quaisquer a; b 2 R tem-se que:
(i) jx yj jxj + jyj ; (jxj jyj) jx yj :
(ii) jx yj = jxj jyj
(iii) xy = jxj
jyj
se y 6= 0:
21
n (n + 1)
1 + 2 + 3 + ::: + n = :
2
Pelo metodo de indução a prova se faz em dois passos:
(i) Mostrar que P (1) é verdadeira, ou seja que a fórmula é valida quando
n = 1; i.e., que
1 (1 + 1)
1=
2
o que é claramente verdade.
(i) Mostrar que P (n) ) P (n + 1), ou seja assumindo como verdadeira a
hipótese P (n), i.e.,
n (n + 1)
1 + 2 + 3 + ::: + n =
2
há que provar a validade da tese P (n + 1) ; i.e.,
(n + 1) ((n + 1) + 1)
1 + 2 + 3 + ::: + n + (n + 1) = :
2
Isto pode ser feito da seguinte forma:
1 + 2 + 3 + ::: + n + (n + 1) = (1 + 2 + 3 + ::: + n) + (n + 1)
n (n + 1)
= + (n + 1) (pela hipótese P (n) )
2
(n + 1) (n + 2)
= :
2
Z = fx 2 R : x 2 N ou x = 0 ou x 2 Ng
p
Q= x2R:x= com p; q 2 Z e q 6= 0 :
q
É claro que
N Z Q R:
22
p
Será que Q 6= R ? Provavelmente já vos sabem que 2 é irracional. Como
provar isso utilizando propriedades que ja demonstramos?
Prova-se primeiro seguindo ideias da Secção 7 a seguinte:
Proposição: Se p 2 N e p2 é par então p é par.
Utilizando este facto prova-se
p a seguinte
Teorema (irracionalidade de 2): Se a 2 R e satisfaz a2 = 2 então a 2
= Q.
Demonstração: Vamos supor sem perda de generalidade que a > 0 (Exerci-
cio: prova o resultado para a 0):
Por absurdo, suponhamos que existiam números naturais p e q tais que
a = pq , ou seja
2
p
= 2;
q
e tais que p e q não tem nenhum divisor comum (senão simpli…camos a fração
eliminando estes divisores comuns). Assim temos que
p2 = 2q 2 ;
23
2 R é o supremo de A e escrevemos = sup A se é o menor majorante
da A:
Temos então que
(i) x para todo x 2 A
= inf A ,
(ii) Se u x para todo x 2 A então u:
e
(i) x para todo x 2 A
= sup A ,
(ii) Se v x para todo x 2 A então v :
Exercicio: Mostre que se sup A exitir então é único. O mesmo se passa
para inf A:
Teorema: Seja A um subconjunto de R e sejam ; 2 R . Então:
(i) x para todo x 2 A
= inf A ,
(ii) Para todo " > 0 existe x" 2 A tal que < x" < +"
e
(i) x para todo x 2 A
= sup A ,
(ii) Para todo " > 0 existe x" 2 A tal que " < x" < :
Axioma do supremo. Todo o subconjunto majorado e não vazio de R
admite supremo.
Teorema: Todo o subconjunto minorado e não vazio de R admite ín…mo.
Teorema O conjunto dos naturais não é majorado em R.
Demostração: Suponhamos por redução ao absurdo que o conjunto N dos
números naturais é majorado. Como não é vazio, pelo axioma do supremo
resulta que N tem supremo s 2 R . Então pela caracterização do supremo,
existe algum n 2 N tal que s 1 < n < s. Então n + 1 > s = sup N; o que é
absurdo.
Teorema (propriedade Arquimediana) Se a; b 2 R+ então existe n 2 N
tal que na > b;
Demonstração: Como N não é majorado em R e ab 2 R então existe pelo
menos um número natural tal que n > ab , ou seja na > b:
Teorema (densidade dos racionais e dos irracionais): Se a e b são dois
números reais tais que a < b então existe um número racional p e um número
iracional q tais que a < p < b e a < q < b:
9 Noções topológicas em R
De…nição: Seja a 2 R e " 2 R+ : Chama-se vizinhança " de a ao conjunto
V" (a) = fx 2 R : jx aj < "g :
24
Exemplo: Sendo a = 2 e " = 5 temos que V5 (2) = fx 2 R : jx 2j < 5g :
Uma vez que
(ii) Resulta imediatamente que a 2 V" (a) ; para todo " > 0:
(iii) Também resulta imediatamente que se "0 > " então V" (a) V"0 (a) :
De…nição: Sejam a 2 R e A um subconjunto de R: Diz-se que a e ponto
interior de A se existe uma vizinhança de a contida em A; isto é, se existe
" > 0 tal que V" (a) A:
Diz-se que a é um ponto exterior de A se a é um ponto interior do com-
plementar de A em R; RnA; isto é, se existe " > 0 tal que V" (a) RnA:
Diz-se que a é um ponto fronteiro de A se toda a vizinhança de a intersecta
A e RnA:
Chama-se interior de A e denota-se por int (A) ou A ao conjunto dos
pontos interiores de A: Ao conjunto dos pontos exteriores de A chama-se
exterior de A e indica-se por ext (A) : Ao conjunto dos pontos fronteiros de
A chama-se fronteira de A e indica-se por f r (A) ou @A:
Observação: Qualquer que seja A R tem-se: int (A) \ ext (A) = ?;
int (A) \ f r (A) = ?; ext (A) \ f r (A) = ? e int (A) [ ext (A) [ f r (A) = R:
Exemplo: Se A = ]0; 1] [ f2g então int (A) = ]0; 1[ ; ext (A) = ] 1; 0[ [
]1; 2[ [ ]2; 1[ ; f r (A) = f0; 1; 2g :
Exemplo: Se A = Q então int (A) = ext (A) = ?; f r (A) = R:
Exemplo: Se A = n1 : n 2 N então int (A) = ?; f r (A) = A [ f0g ;
ext (A) = Rn (A [ f0g) :
De…nição: Um subconjunto A de R diz-se conjunto aberto se A = int (A) :
Exemplo: A = ]0; 1[ é conjunto aberto; B = ]0; 1] não é conjunto aberto
porque 1 2 B mas 1 2 = int (B) :
De…nição: Seja A um subconjunto de R. Chama-se fecho ou aderencia de
A ao conjunto A = A [ f r (A) : Diz-se que x é aderente a A se a 2 A.
Observação: Resulta imediatamente da de…nição que a 2 A se e só se
V" (a) \ A 6= ? para todo " > 0:
De…nição: Seja A um subconjunto de R. Diz-se que A é conjunto fechado
se A = A:
Observações:
(i) A = int (A) [ f r (A) :
25
(ii) A é fechado se, e só se, f r (A) A:
(iii) A é fechado se, e só se RnA é aberto.
Exemplos:
(i) A = [3; 5] é fechado; B = ]1; 8[ é aberto; C = [2; 6[ e D = ]3; 9] não
são abertos nem fechados.
(ii) A = n1 : n 2 N não é fechado nem aberto (f r (A) = A [ f0g):
(ii) A = n1 : n 2 N [ f0g é fechado.
De…nição: Sejam a 2 R e A um subconjunto de R: Diz-se que a e ponto de
acumulação de A se toda a vizinhança de a intersecta An fag ; isto é, para
todo " > 0 o conjunto V" (a) contem pontos de A distintos de a:
Ao conjunto de pontos de acumulação de A chama-se derivado de A e
denota-se por A0 :
A todo o ponto de A que não é ponto de acumulação de A chamamos
ponto isolado de A:
Observação: a 2 A é um ponto isolado de A se existe " > 0 tal que
V" (a) \ A = fag :
Exemplos:
(i) Se A = n1 : n 2 N então 0 é ponto de acumulação de A: Todos os
pontos de A são isolados.
(ii) Se A = ]0; 1] [ f2g então o conjunto dos pontos de acumulação de A
é A0 = [0; 1], 2 é um ponto isolado de A:
Observação: Todo o ponto interior de um conjunto A é ponto de acumu-
lação de A: Consequentemente, se um conjunto é aberto então todo o ponto
de A é um ponto de acumulação.
De…nição: Um subconjunto A de R diz-se limitado se existem ; 2 R tais
que
x para todo x 2 A:
Observação: Um subconjunto A de R é limitado se e só se existe M > 0
tal que jxj M para todo x 2 A:
De…nição: Um subconjunto A de R diz-se compacto se é fechado e limitado.
Exemplos:
(i) A = [ 1; 1] é compacto;
(ii) B = [0; 1[ e C = ] 1; 0] são fechados mas não limitados, pelo que
não são compactos.
(iii) D = f0; 1g é conjunto compacto.
Teorema (de Bolzano-Weierstrass) Todo o subconjuntode R in…nito e limi-
tado tem pelo menos um ponto de acumulação.
26
10 Sucessões de números reais
10.1 De…nições básicas
De…nição: Seja A e B dois conjuntos. Uma função de A para B que
denotamos por f : A ! B é uma correspondência que a cada x 2 A associa
um e um so elemento de B que denotamos por f (x) :
Ao conjunto A chamamos domínio de f e a conjunto B conjunto de
chegada de f: Se o conjunto de chegada B é o conjunto R dos números reais,
então a função f : A ! R chama-se função real.
Para cada x 2 A; ao elemento y = f (x) chamamos imagem de x por f:
Ao conjunto das imagens ff (x) : x 2 Ag chamamos contradomínio de f
Seja N o conjunto dos números naturais e seja R o conjunto dos números
reais.
De…nição: Chama-se sucessão de números reais a toda a função real de
dominio N:
Se u : N ! R é uma sucessão e se denotamos a imagem u (n) por un
então a sucessão u : N ! R pode também ser representada por u = (un )n2N .
u1 = u (1) chama-se primeiro termo da sucessão,..., uk = u (k) chama-se
termo de ordem k da sucessão. A expressão designatoria un que de…ne a
sucessão chama-se termo geral da sucessão.
Ao contradominio da sucessão de termo geral un ; isto é, ao conjunto
fun : n 2 Ng chama-se conjunto de termos da sucessão.
Observação: O termo geral duma sucessão pode ser explicito (exemplo:
un = n2 ) ou poder não ser: é o caso da de…nição por recorrência, por exemplo:
sucessão de Fibonacci:
u1 = 1; u2 = 2; un+2 = un+1 + un .
27
(ii) limitada se o conjunto dos seus termos fun : n 2 Ng for limitado.
Exemplos:
(i) A sucessão com termo geral un = n2 é limitada inferiormente mas não
superiormente;
(ii) A sucessão com termo geral un = n é limitada superiormente mas
não inferiormente
(iii) A sucessão com termo geral un = cos (n) é limitada.
(iv) A sucessão com termo geral un = ( n)n não é limitada superiormente
nem inferiormente.
Observações:
(i) Toda a subsucessão de uma sucessão limitada é limitada;
(ii) Uma sucessão pode não ser limitada e ter subsucessões limitadas:
exemplo:
n se n par
un = 1
n
se n ímpar
De…nição: Uma sucessão u = (un )n2N diz-se :
(i) crescente se un un+1; para todo n 2 N;
(ii) estritamente crescente se un < un+1; para todo n 2 N;
(iii) decrescente se un un+1; para todo n 2 N;
(iv) estritamente decrescente se un > un+1; para todo n 2 N;
(v) monótona se for crescente ou decrescente;
(vi) estritamente monótona se for estritamente crescente ou estritamente
decrescente;
Exemplos:
(i) A sucessão un = n2 é estritamente crescente;
(ii) A sucessão un = n é estritamente decrescente;
(ii) A sucessão un = ( n)n não é monótona.
Observação:
Toda a subsucessão de uma sucessão monótona é monótona.
28
Seja " > 0 arbitrario. Vamos provar que existe n" 2 N tal que se n n"
então jun 0j = n1 < ":
Observa-se que
1 1 1
<", <",n> :
n n "
Sendo n" = 1" a parte inteira de 1" ; i.e., o mnor número natural maior ou
igual´à 1" , temos que n1" < "; e para n > n" ; temos que
1 1
< < ":
n n"
Fica então provado que para todo " > 0 existe n" 2 N tal que para todo
n 2 N;
1
n n" ) 0 < ";
n
o que permite concluir que limn!1 n1 = 0:
De…nição: Diz-se que a sucessão u = (un )n2N é um in…nitesimo se un ! 0:
De…nição: Uma sucessão (un )n2N diz-se convergente se existe a 2 R tal que
limn!1 un = a: Uma sucessão diz-se divergente se não for convergente.
Exemplos: (a) un = n1 é convergente; (b) vn = n é divergente;
Observação: Em linguagem de vizinhanças, tems-se que un ! a se e só se
29
onde ( n )n2N é uma sucessão de números positivos convergente para 0, então
limn!1 xn = x:
Teorema (das sucessões enquadradas): Se (an )n2N ; (bn )n2N , (cn )n2N são
sucessões de números reais tais que
limn!1 an = limn!1 cn = a
sen2 (n)
lim =0
n!1 n + 1
\
1
[an ; bn ] = fcg :
n=1
30
Teorema Uma sucessão de números reais é convergente se e só se é uma
sucessão de Cauchy.
Exemplos: (i) a sucessão com termo geral
sin x sin 2x sin nx
xn = + 2
+ ::: +
2 2 2n
é uma sucessão de Cauchy, portanto convergente.
Resulta do focta que, para todo p 2 N :
sin (n + 1) x sin (n + p) x
jxn xn+p j = n+1
+ ::: +
2 2n+p
1 1 1 1 21p 1
n+1
+ ::: + n+p
= n+1 1 < n
2 2 2 1 2 2
(ii) a sucessão com termo geral
1 1 1
xn = 1 + p + p + ::: + p
2 3 n
não é uma sucessão de Cauchy, portanto não é convergente.
Observa-se que
p
1 1 1 1 n
x2n xn = p +p + ::: + p > n p = p > 1 para n 3:
n+1 n+2 2n 2n 2
(4)
31
Exemplos:
(i) un = n2 ! +1
(ii) un = n ! 1
(iii) Seja un = ( n)n : Então jun j ! 1:
Observações:
(i) Se u = (un )n2N é tal que un ! +1, un ! 1 ou jun j ! +1 então
u é não limitada. A recíproca não é verdadeira: Por exemplo, a sucessão
n se n par
un = 1
n
se n ímpar
32
Chama-se vizinhança " de 1 ao conjunto
1
V" ( 1) = 1; :
"
01 = 0 e 0 1
= +1:
então a sucessão (yn )n2N é decrescente e a sucessão (zn )n2N é crescente. Ex-
istem então y 2 R e z 2 R tais que y = limn!1 yn e z = limn!1 zn : Tem-se
então
y = lim yn = inf sup xk e z = lim zn = sup inf xk :
n!1 n2N k n n!1 n2N k n
33
De…nição: Chama-se limite superior da sucessão (xn )n2N o elemento y =
limn!1 yn 2 R e denota-se por lim sup xn ou limn!1 xn . Chama-se limite
n!1
inferior da sucessão (xn )n2N o elemento z = limn!1 zn 2 R; e denota-se por
lim inf xn ou limn!1 xn .
n!1 n o
Exemplo: Seja xn = ( 1)n : Então yn = sup ( 1)k : k n = 1: zn =
n o
k
inf ( 1) : k n = 1; de onde resulta que lim inf xn = limn!1 zn = 1
n!1
e lim sup xn = limn!1 yn = 1:
n!1
Teorema: Uma sucessão de números reais (xn )n2N tem limite em R se e só
se lim inf xn = lim sup xn :N esse caso
n!1 n!1
34
(c) decrescente se: x < y ) f (x) f (y) ;
(d) estritamente decrescente se: x < y ) f (x) > f (y) :
(e) monótona se é crescente ou decrescente
(e) estritamente monótona se é estritamente crescente ou estritamente
decrescente
De…nição: Uma função f : D R ! R diz-se:
(a) par se f (x) = f ( x) ; para todo x 2 D
(b) ímpar se f (x) = f ( x) ; para todo x 2 D
De…nição: Uma função f : A R ! B R diz-se:
(a) injectiva se x 6= y ) f (x) 6= f (y);
(b) sobrejectiva se para todo y 2 B existe x 2 A tal que y = f (x) ;
(c) bijectiva se é injectiva e sobrejectiva.
De…nição: Uma função f : D R ! R diz-se limitada em D1 D se
existe M > 0 tal que
35
(c) quociente das funções f e g a função fg : fx 2 Df \ Dg : g (x) 6= 0g !
R de…nida por
f f (x)
(x) = ;
g g (x)
(d) compost a de g com f
De…nição (composição de funções) Sejam f : X R ! Y R e g :
Y R ! R duas funções. Chama-se a composta de g com f a função
g f : X R ! R de…nida por
(g f ) (x) = g (f (x)) ;
Exemplos de funções:
então dizemos que f é uma função racional (em D). O domínio D está
contido em fx 2 R : q (x) 6= 0g por razões obvias.
Um exemplosimples é a função f (x) = x1 , cujo gra…co é uma hipérbole;
tanto o domínio como o contradomínio são Rn f0g : Esta função é ímpar,
decrescente em ] 1; 0[ e em ]0; +1[ mas não em dodo o seu domínio
Rn f0g :.
36
a função coseno que denotamos por cos; a função tangente que denota-
mos por tg ou tan e a cotangente que denotamos por ctg ou cot usando
a circunferencia unitária com equação x2 +y 2 = 1 (Ver pag. 37 em 1. da
Bibliogra…a e também http://mat.absolutamente.net/ra_f_t.html). Recor-
damos algumas suas propriedades:
37
4. Função exponencial e logaritmo. Assumimos a existencia de uma função
bijectiva e crescente log : R+ ! R tal que
1
log (xy) = log (x)+log (y) e 1 log (x) x 1; para todos x; y 2 R+ :
x
Obtem-se como corolarios:
log (1) = 0;
1
log = log (x) ; log (xn ) = n log (x) ;
x
x
log = log (x) log (y) para todos x; y 2 R+ :
y
ax = ex log(a)
ex e x
ex + e x
senh (x) = ; cosh (x) = :
2 2
Por formulas análogas às referidas a proposito de funções trigonomet-
ricas de…nem-se tangente hiperbolica, cotangente hiperbolica, e outras.
Por exemplo,
senh (x)
tanh (x) = :
cosh (x)
38
11.2 Limites de funções reais de variável real
O conceito de limite de uma função f : Df R ! R num ponto pode ser
de…nido de duas maneiras não equivalentes: uma que "ignora"o que se passa
no ponto em que se pretende de…nir limite e outra que considera o que se
passa em tal ponto. Basicamente, isto coresponde as situações em que se
considera o limite num ponto de acumulação de Df ou num ponto aderente
a Df : Cada uma das de…nições tem as suas vantagens e desvantagens.
Tendo em conta que um ponto aderente de Df só não é ponto de acumu-
lação de Df se for um seu ponto elemento isolado, vamos optar por de…nir
o limite nos pontos de acumulação e aceitar que num ponto isolado o limite
coincide com o valor da função naquele ponto.
De…nição Sejam f : Df R ! R e a um ponto de acumulação do dominio
Df . Diz-se que l 2 R é limite de f no ponto a (ou quando x tende para a) e
escreve-se limx!a f (x) = l se:
lim f (x) = l , 8" > 0 9 > 0 : x 2 Df \ (V (a) n fag) ) jf (x) lj < ":
x!a
x2 ; se x 6= 0
f (x) =
1; se x = 0:
1
8" > 0 9 > 0 : x 2 Df ^ x > ) jf (x) lj < ":
39
De…nição Seja f : Df R ! R e suponhamos que Df não é minorado.
Diz-se que o limite de f quando x ! 1 é l e escreve-se l = limx! 1 se
1
8" > 0 9 > 0 : x 2 Df ^ x < ) jf (x) lj < ":
lim f (x) = +1; lim f (x) = 1; lim f (x) = +1; lim f (x) = 1
x!+1 x!+1 x! 1 x! 1
40
(iii) limx!a [f (x) g (x)] = b c;
(iv) se c 6= 0, limx!a fg(x)
(x)
= cb ;
Teorema: Se limx!a f (x) = 0 e g é uma função limitada então limx!a f (x) g (x) =
0.
Teorema: Sejam f : Df R ! R, g : Dg R ! R tais que f (Df ) Dg :
Se limx!a f (x) = b e limy!b g (y) = c então limx!a (g f ) (x) = c:
De…nição Sejam f : Df R ! R e B Df um subconjunto propio de Df :
Suponhamos que a é um ponto de acumulação de B: Diz-se que f tem limite
l quando x tende para a; segundo B; ou que l é o limite relativo a B de f
quando x tende para a se o limite da restrição f jB de f a B quando x tende
para a é l: Designa-se este limite por
lim f (x) = l:
x!a
x2B
mas podem existir só um dos limites laterias (ou os dois com valores distintos)
sem que exista limx!a f (x) :
Exemplo: Consideramos a função f : R ! R de…nida por
0; se x < 2
f (x) =
1; se x 0:
Veri…ca-se que
lim f (x) = 0 = lim+ f (x) = 0;
x!2 x!2
41
portanto existe e limx!2 f (x) = 0: Observa-se também que limx!2 f (x) 6=
f (2). Isto signi…ca que f não é continua em x = 2: A continuidade das
funções reais de variavel real va-se tratar na secção seguinte.
Exemplos de limites importantes:
(i) Se P (x) = a0 + a1 x + ::: + an xn é uma função poilinomial então
P (x)
(ii) Se f (x) = Q(x)
com P (x) = a0 + a1 x + ::: + an xn e Q (x) = b0 + b1 x +
::: + bm xm então
8
< 0 se n < m
P (x) P (x0 ) P (x) an
lim = se x0 2 R e lim = bn
se n = m
x!x0 Q (x) Q (x0 ) x! 1 Q (x) : an
bn
( 1)n m
se n > m:
p
n
(iii) Se f (x) = xm então
p p p
lim n xm = n xm0 se x0 2 R e lim
n
xm = 1:
x!x0 x! 1
lim sen (x) = sen (x0 ) ; lim cos (x) = cos (x0 ) se x0 2 R,
x!x0 x!x0
42
de…nido (número …nito ou in…nito) tal resultado é o limite da função no
ponto x0 : Se se obtem uma indeterminação, as vezes se transforma a função
cujo limite estamos calcular para obter uma função igual com a de partida
(para x 6= 0) tal que, substituindo na nova função x por x0 ; se obtenha um
número bem de…nido, que sera o limite da função no ponto x0 ; outras vezes
se utilizam as limites fundamentais
sen (x) 1
lim = 1; lim (1 + x) x = e:
x!0 x x!0
P (x)
(i) Se f (x) = Q(x)
e x0 é tal que Q (x0 ) = 0 então:
P (x) P1 (x)
lim = lim :
x!x0 Q (x) x!x0 Q1 (x)
Exemplos:
x25x + 6 (x 3) (x 2) (x 2) 1
lim = lim = lim = ;
x!3 x2
9 x!3 (x 3) (x + 3) x!3 (x + 3) 6
2
x + 5x 2 (x 1) (x + 2) (x 1)
lim 3 = lim 3 = lim = 1:
x!3 (x + 2) x!3 (x + 2) x!3 (x + 2)2
43
se limx!x0 z (x) = 0 então
1
lim (1 + z (x)) z(x) = e:
x!x0
Exemplos:
1 p p1
lim (1 x) x = e; lim 1 + x 1 x 1
= e:
x!1 x!1
44
(i) Se f : Df R ! R é contínua a esquerda e a direita no ponto a 2 Df
então f é contínua em a:
(ii) Se a for um ponto isolado de Df resulta que f é contínua em a:
(iii) Toda a função constante é contínua em todos os pontos do seu do-
minio.
Teorema: Se f : Df R ! R e a 2 Df0 \ Df então f é continua em a se,
e só se, para cada sucessão (xn )n2N de limite a; com xn 2 Df n fag 8n 2 N a
sucessão (f (xn ))n2N tem limite f (a) :
Teorema: Se f; g : D R ! R são funções contínuas no ponto a 2 D0 \ D
então f + g; f g; f g são contuas no onto a e se g (a) 6= 0 então fg é contínua
em a. p
Exemplo: A função f (x) = px+1 x 1
é continua em [0; +1[ n f1g porque quo-
ciente de duas funções continua e o denominador se anula em x = 1:
Exemplo: Estude a continuidade das funções
8 2 (
< 2x + 1 se 2 x<2 1
1 se x 6= 1
f (x) = 1 se x = 2 ; g (x) = 1+e x 1 ;
: se x = 1
5x 1 se 2 < x < +1:
45
(ii) A função g (x) = x1 não é uniformemente contínua em ]0; 2[ :
Teorema: Sejam f : Df R ! R e A Df : f é uniformemente contínua
em A se e só se, para quaisquer sucessões (xn )n2N e (yn )n2N com xn 2 D e
yn 2 D 8n 2 N; tais que limn!1 (xn yn ) = 0 se tem também
12 Cálculo diferencial em R
12.1 Derivadas. Regras de derivação
De…nição Sejam f : D R ! R e a um ponto interior de D: Chama-se
derivada de f no ponto a ao limite, se existir (em R)
f (x) f (a)
lim
x!a x a
ou, fazendo x a = h;
f (a + h) f (a)
lim :
h!0 h
df
A derivada de f no ponto a designa-se por f 0 (a) ou dx (a) : Se f tem derivada
…nita no ponto a, diz-se que f é diferenciável no ponto a:
Interpretação geometrica da derivada: Sejam P = (a; f (a)) ; Qi =
(xi ; f (xi )) os pontos do grá…co da função f que têm abscisas a a e xi : A
razão
f (xi ) f (a)
xi a
é o declive da recta P Qi ; secante ao grá…co de f: Se f é diferenciável no
ponto a; chama-se tangente ao grá…co de f no ponto (a; f (a)) a recta que
passa por este ponto e tem declive igual a f 0 (a) :
A recta tangente terá então a equação
46
De…nição Sejam f : D R ! R e a um ponto interior de D: Chama-se
derivada a esquerda de f no ponto a ao limite, se existir (em R)
f (x) f (a)
lim
x!a x a
ou, fazendo x a = h;
f (a + h) f (a)
lim ;
h!0 h
e designa-se por f 0 (a ) :
Chama-se derivada a direita de f no ponto a ao limite, se existir (em R)
f (x) f (a)
lim+
x!a x a
ou, fazendo x a = h;
f (a + h) f (a)
lim+ ;
h!0 h
e designa-se por f 0 (a+ ) :
Observação: f 0 (a) existe se e só se existem e são iguais f 0 (a ) e f 0 (a+ ) :
Exemplos: (i) Consideramos a função f : R ! R de…nida por f (x) = jxj :
Como f 0 (0 ) = 1 e f 0 (0+ ) = 1, resulta que f não tem derivada no ponto
0: p
(ii) A função f : R ! R de…nida por f (x) = 3 x tem derivada +1 em
x = 0 pois f 0 (0+ ) = f 0 (0 ) = +1: F não é pois diferenciável
p em 0:
3 2
(iii) A função f : R ! R de…nida por f (x) = x não tem derivada em
0 pois f 0 (0+ ) = +1 e f 0 (0 ) = 1:
Teorema: Sejam f : D R ! R e a um ponto interior de D: Se f é
diferenciável no ponto a então f é contínua no ponto a:
Observações: (i) Uma função pode ser contínua p num ponto e não ter
3 2
derivada nesse ponto. Por exemplo, f (x) = x é continua mas não tem
derivada em 0:
(ii) Se a derivada for in…nita a função pode não ser contínua
Teorema: Se f e g são duas funções diferenciáveis em a então f + g e f g
são diferenciáveis em a e
47
f
Se além disso g (a) 6= 0 então g
é diferenciável em a e
0
f f 0 (a) g (a) f (a) g 0 (a)
(a) = :
g (g (a))2
Teorema: Sejam f : Df R ! R, g : Dg R ! R tais que f (Df ) Dg :
Se f é diferenciável em a 2 Df e se g é diferenciável em b = f (a) então g f
é diferenciável em a e
(g f )0 (a) = g 0 (b) f 0 (a) = g 0 (f (a)) f 0 (a) :
Teorema: Seja I R um intervalo, f : I ! R uma função estritamente
monótona e contínua, g : J = f (I) ! R a sua inversa. Se f é diferenciável
no ponto a e f 0 (a) 6= 0 então g é diferenciável em b = f (a) e
1 1
g 0 (b) = = 0 g 0 (b) f 0 (a) = g 0 (f (a)) f 0 (a) :
f0 (a) f (g (b))
Exemplos: (i) g (x) = arcsin (x) ; (ii) g (x) = arccos (x) ; (iii) g (x) = arctg
(x) ; (iv) g (x) = arcctg(x)
Observação: Se f : D R ! R é uma função diferenciável em todos os
pontos de A D; podemos de…nir a função que a cada x 2 A faz correspon-
der f 0 (x) : Obtemos assim uma nova função, de dominio A, que representa-
mos por f 0 e a que chamamos função derivada (ou apenas derivada) de f em
A:
De modo analogo, se f 0 for diferenciável em A; de…nimos f 00 = (f 0 )0
(segunda derivada) e se f 00 for diferenciável em A; de…nimos f 000 = (f 00 )0 ...,
se f (n 1) (derivada de ordem n 1) for diferenciável em A; de…nimos f (n) =
0
f (n 1) ; derivada de ordem n em A:
De…nição Se f 0 for contínua em A, dizemos que f é de classe C 1 em A e
representamos por f 2 C 1 (A) : Se n 2 N e f (n) é contínua em A, dizemos
que f é de classe C n em A e representamos por f 2 C n (A) :
Se f 2 C n (A) ; 8n 2 N; dizemos que f é de classe C 1 em A e represen-
tamos por f 2 C 1 (A) :
48
(ii) Diz-se que f tem um máximo local (ou relativo) em a 2 D (ou que
f (a) é um máximo local, ou relativo de f ) se existir uma vizinhança V de a
tal que
f (x) f (a) , 8x 2 V \ D:
Aos máximos e mínimos relativos da-se a designação comum de extremos
relativos.
Teorema: Seja f : D R ! R: Se f (a) for um mínimo relativo e se
existirem derivadas laterais em a; então f 0 (a ) 0 e f 0 (a+ ) 0: Se f for
diferenciável em a, então f 0 (a) = 0:
Teorema: Seja f : D R ! R: Se f (a) for um máximo relativo e se
existirem derivadas laterais em a; então f 0 (a ) 0 e f 0 (a+ ) 0: Se f for
diferenciável em a, então f 0 (a) = 0:
Teorema (de Rolle) : Seja f uma função contínua no intervalo [a; b] (a;
b 2 R; a < b) e diferenciável em ]a; b[ : Se f (a) = f (b) então existe c 2 ]a; b[
tal que f 0 (c) = 0:
Corolario Entre dois zeros de uma função diferenciável num intervalo há,
pelo menos um zero da sua derivada.
Corolario Entre dois zeros consecutivos da derivada de uma função diferen-
ciável num intervalo existe, no máximo um zero da função. de uma função
diferenciável num intervalo há, pelo menos um zero da sua derivada.
Teorema (de Darboux) : Seja I R um intervalo aberto, f : I ! R uma
função diferenciável em I: Se existirem a; b 2 I; a < b; tais que f 0 (a) 6= f 0 (b)
então para todo o k entre f 0 (a) e f 0 (b) existe c 2 ]a; b[ tal que f 0 (c) = k:
Teorema (de Lagrange) : Seja f uma função contínua no intervalo [a; b]
(a; b 2 R; a < b) e diferenciável em ]a; b[ : Então existe c 22 ]a; b[ tal que
f (b) f (a)
f 0 (c) = :
b a
Corolarios:
(i) Se f tem derivada nula em todos os pontos do intervalo, então é
constante nesse intervalo.
(ii) Se f e g são duas funções diferenciáveis num intervalo I e se f 0 (x) =
0
g (x) ; 8x 2; então a diferença f g é constante em I:
(iii) Se I R um intervalo e f 0 (x) 0 (respectivamente, f 0 (x) 0)
8x 2 I, então f é cresecnte (respectivamente, decrescente) em I: Se f 0 (x) >
0 (respectivamente, f 0 (x) < 0) 8x 2 I, então f é estrtamente cresecnte
(respectivamente, decrescente) em I:
Teorema (do valor medio de Cauchy) : Se f e g são funções contínuas
no intervalo [a; b], diferenciáveis em ]a; b[ e g 0 (x) não se anula em ]a; b[ então
49
existe c 2 ]a; b[ tal que
f 0 (c) f (b) f (a)
0
= :
g (c) g (b) g (a)
A partir do teorema de Cauchy pode-se demostrar a seguinte regra que é
muito usada no cálculo de limite de um quociente fg quando assume a forma
0
0
e 1
1
:
Teorema (regra de Cauchy) : Se f e g são funções diferenciáveis em ]a; b[
(a < b) tais que
(a) g 0 (x) 6= 0; 8x 2 ]a; b[ ;
(b) limx!a f (x) = limx!a g (x) = 0 ou limx!a f (x) = limx!a g (x) = 1;
0 (x)
então se existir limx!a fg0 (x) ; também existe limx!a fg(x)
(x)
e estes limites são
iguais.
Corolario : Seja I um intervalo aberto, c 2 I; f e g são funções diferenciáveis
em In fcg. Se g 0 (x) 6= 0; 8x 2 In fcg e se
então
f (x) f 0 (x)
lim = x!c
lim 0
x!c
x6=c
g (x) x6=c
g (x)
f 0 a+ = lim+ f 0 (x)
x!a
f (x) f (a)
f 0 a+ = lim+
x!a x a
e aplicar a regra de Cauchy.
Observação: Os símbolos 0 1; 1 1 que podem surgir no cálculo de
limite de um produto f g ou da soma f + g reduzem-se a 00 ou 1
1
pelas
transformações:
1 1
f g f
+ g g
f g= 1 = 1 e f +g = 1 = 1
g f f g f
50
Outra regra importante no estudo de limites, mas que é aplicavel somente
ao símbolo 00 , é a seguinte
Teorema (regra de l’Hospital) : Sejam f e g são funções de…nidas num
intervalo I; diferenciáveis em a 2 I e g (x) 6= 0; 8x 2 In fag : Se f (a) =
g (a) = 0 e g 0 (a) 6= 0; então fg(x)
(x)
tem limite no ponto a e
f (x) f 0 (a)
lim = 0 :
x!a g (x) g (a)
h2 00 hn 1 (n 1) hn (n)
f (a + h) = f (a)+hf 0 (a)+ f (a)+:::+ f (a)+ f (a + h) ;
2! (n 1)! n!
n (n) n (n)
sendo 0 < < 1: Ao termo hn! f (a + h) ou (b n!a) f (c) chama-se resto
de Lagrange da fórmula de Taylor.
No caso em que a = 0; a fórmula de Taylor é conhecida por fórmula de
MacLaurin:
00 x2 (n 1) xn 1 (n) xn
f (x) = f (0) + f 0 (0) x + f (0) + ::: + f (0) + f (c) :
2! (n 1)! n!
51
12.4 Aplicação da fórmula de Taylor ao estudo de ex-
tremos, concavidade e pontos de in‡exão.
Teorema Seja f : D R ! R uma função contínua num ponto a; interior
a D:
(i) Se f (a) > 0; então existe uma vizinhança V de a tal que f (x) > 0;
8x 2 V:
(ii) Se f (a) < 0; então existe uma vizinhança V de a tal que f (x) < 0;
8x 2 V:
De…nição Diz-se que a é ponto de estacionaridade de f se f 0 (a) = 0:
Teorema Seja f uma função de classe C n num intervalo I e a um ponto
interior a I: Se
então:
(a) se n é ímpar , f não tem extremo relativo em a :
(b) se n é par, f tem máximo relativo em a se f (n) (a) < 0 e tem um
mínimo relativo se f (n) (a) > 0:
De…nição Seja f uma função de…nida num intervalo I; diferenciável em
a 2 I e seja
r (x) = f (x) (f (a) + f 0 (a) (x a)) :
Se existir uma vizinhança V de a , V I; tal que r (x) > 0; 8x 2 V n fag,
diz-se que f tem a concavidade voltada para cima en a:
Se existir uma vizinhança V de a , V I; tal que r (x) < 0; 8x 2 V n fag,
diz-se que f tem a concavidade voltada para baixo en a:
Se existir uma vizinhança V = ]a "; a + "[ I de a tal que
ou
r (x) < 0; 8x 2 ]a "; a[ e r (x) > 0; 8x 2 ]a; a + "[
diz-se que o grá…co de f tem um ponto de in‡exão em (a; f (a)) :
Teorema Seja I um intervalo e f 2 C 2 (I:) O grá…co de f tem a concavidade
voltada para cima /(repectivamente para baixo) em todos os pontos x 2
int (I) tais que f 00 (x) > 0 (respectivamente, f 00 (x) < 0:
Teorema Seja I um intervalo e f 2 C n (I) ; n > 2: Se a é um ponto interior
de I tal que
f 00 (a) = ::: = f (n 1) (a) = 0 e f (n) (a) 6= 0
então:
52
(a) se n é par , f tem a concavidade voltada para cima se f (n) (a) > 0 e
tem a concavidade voltada para baixo se f (n) (a) < 0;
(b) se n é ímpar, a é um ponto de in‡exão.
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