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E BIODIESEL NO FUNCIONAMENTO DE UM
GRUPO GERADOR
ANDRÉ LUÍS PUQUEVICZ
Egresso – Engenharia Mecânica – Universidade Positivo/UP
andre.luis@up.edu.br
BERNARD DYCK
Egresso – Engenharia Mecânica – Universidade Positivo/UP
bernard@up.edu.br
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ANÁLISE COMPARATIVA DA UTILIZAÇÃO DE DIESEL E BIODIESEL NO FUNCIONAMENTO DE UM GRUPO GERADOR
RESUMO
ABSTRACT
This study shows a comparative analysis from the operation of a diesel generator,
when filled with petroleum diesel fuel and soybean oil ethyl biodiesel fuel. For this study
practical tests were done trying to evaluate brake specific energy consumption, specific ener-
gy and generator’s efficiency when filled with different diesel and biodiesel mixtures. The
diesel generator used on this study was a BD 2500 CFE, made by Branco, with maximum
electrical power of 2 kVA. Generator operations where done using two distinct electrical
resistive load for diesel and biodiesel, and mixtures containing biodiesel rates of 2%, 5%,
10%, 20% and 50%. The obtained results where analyzed, and a higher fuel consumption
and a better total system efficiency could be observed as biodiesel percentage on the mixture
raised. A variation on the electrical resistive load proved to be very relevant, and when used
on full load, its operation is more viable.
Keywords: Biodiesel, generator, efficiency, brake specific energy consumption.
1 INTRODUÇÃO
2 DESENVOLVIMENTO
Abaixo segue uma explicação de como estes equipamentos foram utilizados nos
ensaios, com as principais características de cada um deles.
2.3.1 Grupo-gerador
As misturas de diesel e biodiesel foram realizadas todas de uma única vez, visando
evitar possíveis alterações entre as misturas de combustíveis. Foram feitos quatro litros de
cada mistura e esses foram então armazenados em garrafas PET de dois litros, as quais foram
guardadas em local fresco e protegidas da ação dos raios de sol. As misturas foram realizadas
com o auxílio de uma proveta graduada de 500 mL.
Esse equipamento teve a função de medir a tensão elétrica AC gerada pelo alterna-
dor e as medições foram realizadas de forma visual. O aparelho utilizado era da marca Mini-
pa e em todas as medições realizadas, a escala utilizada foi 0 a 200 V. Com esta configuração,
o equipamento possui uma incerteza de ± (1,2% da leitura + 5 dígitos). Para a verificação
do alicate amperímetro, foi utilizada uma faixa de medição de 114 a 120 V. O erro verificado
para esse instrumento neste faixa de medição foi de 0,3 V. Esse equipamento foi conectado
em paralelo à carga do circuito (lâmpadas).
Um multímetro Minipa modelo Et-2042 foi utilizado para medir de forma contínua
a corrente AC gerada pelo alternador do grupo gerador. Para a utilização desse equipamento,
optou-se pela faixa de 0 a 20 A. Com isso, a precisão do equipamento é de ± (3% da leitura
+ 10 dígitos), com uma resolução de 10 mA. A verificação desse instrumento, feita no LAC-
TEC (Curitiba-PR), foi realizada para duas faixas de medição, de 7 a 8 A e de 14 a 15 A. O
erro verificado para ambas as faixas foi de 0,27 A, isto é, o instrumento indica 0,27 unidades
de medida a mais do que a medida do padrão, considerada como real.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Para uma melhor comparação das misturas de combustível, foi calculada a média
e o desvio padrão dos parâmetros obtidos nos ensaios. A partir dos valores medidos, foram
realizadas análises de consumo específico do combustível e do rendimento obtidos nos en-
saios realizados.
Os resultados obtidos também foram analisados estatisticamente. Essa análise foi
realizada por meio de um dos métodos das hipóteses, chamado de teste t para médias, que
consiste na comparação de valores de uma mesma fonte de dados.
A média dos valores medidos para o tempo, temperatura, tensão, corrente, potência
e energia elétrica, com seus respectivos desvios padrões para o ensaio com 18 lâmpadas, está
representada nas tabelas 2, 3 e 4.
De maneira geral, o gerador apresentou comportamento normal para quase todas
as misturas. Apenas os ensaios realizados com biodiesel puro (B100) apresentaram falhas de
funcionamento do gerador, além de grande ruído. Durante esses ensaios, o gerador funcio-
nava de maneira inconstante. Em intervalos de tempo não constantes, o motor apresentava
comportamento diferenciado, inconstante e gerando tensões e correntes elétricas menores
do que em seu funcionamento normal para aquela mistura de combustível. Nesse momento,
era injetada uma grande quantidade de combustível, visível pela fumaça preta que saia pelo
escape, o que estabilizava o funcionamento do gerador por mais um período de tempo.
Essa falha ocorria principalmente devido à diferença entre a viscosidade do diesel
e do biodiesel. O gerador utiliza uma bomba de engrenagens para pressurizar o combustível
que será injetado na câmara de combustão e essa bomba está dimensionada para funcionar
com diesel de petróleo. Como o biodiesel possui uma viscosidade aproximadamente 76% maior
que o diesel (BUENO, 2006), a bomba não consegue trabalhar em seu regime correto, e fica
impossibilitada de injetar a quantidade correta de combustível. O motor então falha, e ao
perceber que houve redução na rotação, a bomba injetora aumenta a quantidade de com-
bustível injetado. O motor recupera-se e fica estabilizado por um período, até que o ciclo se
repita.
Outro fato observado durante os ensaios foi o forte odor da queima de biodiesel.
Na medida em que o percentual de biodiesel acrescia na mistura, o odor da queima do biodiesel,
muito similar ao cozimento de frituras, aumentava também. Este fenômeno já podia ser sen-
tido com a adição de pequenas quantidades de biodiesel.
Tabela 2 –Valores para o tempo e temperatura com 18 lâmpadas.
Nas tabelas 5 e 6, mostra-se a média dos valores medidos para o tempo, tempe-
ratura, tensão e corrente, com seus respectivos desvios padrões para os ensaios com nove
lâmpadas.
Assim como havia ocorrido nos ensaios com 18 lâmpadas, nos ensaios com nove
lâmpadas a utilização de B100 causou problemas no funcionamento do gerador. Devido
à alta viscosidade do biodiesel, sua utilização pura causou problemas no funcionamento da
bomba e, por consequência, dificuldade na injeção do combustível, o que fazia o motor “en-
gasgar”. Como a carga resistiva era menor do que nos ensaios realizados com 18 lâmpadas, a
bomba funcionava com menor vazão, o que dificultou mais ainda a injeção do combustível.
Com a utilização do biodiesel puro, o gerador teve seu funcionamento dificultado,
devido à dificuldade de injeção, e as médias de tensão elétrica, corrente elétrica e tempo fo-
ram realizadas com apenas duas medições, pois a terceira medição foi abortada para evitar
danos maiores ao gerador.
As outras medições ocorreram de maneira normal e não apresentaram problemas
de funcionamento.
Uma comparação gráfica dos valores calculados para as misturas e para o biodiesel
puro quando comparadas aos valores de diesel puro (B0) para o ensaio com 18 lâmpadas está
representada no gráfico 1.
qual das misturas apresentou maior aproveitamento da energia química que o combustível
dispunha. A quantidade de energia disponível é calculada levando em consideração o PCI de
cada uma das misturas, pois o PCI apresenta quanta energia certa quantidade de combustível
pode liberar.
Os ensaios de rendimento usualmente indicam o rendimento do motor, conhecido
por rendimento térmico. Porém, como nesse ensaio foram medidos apenas os valores de po-
tência elétrica, e como o rendimento do alternador não é conhecido, o rendimento calculado
será o rendimento total do sistema
O teste t para médias é utilizado para determinar se dois valores distintos perten-
cem ou não a uma mesma população. Dessa maneira, podem-se analisar os valores e afirmar,
estatisticamente, se eles são diferentes ou iguais (CAMPION, 1980).
Os valores apresentados e analisados anteriormente não são necessariamente dife-
rentes entre si. A hipótese de estas médias serem iguais ou diferentes foi verificada para um
nível de confiança de 95%.
De acordo com o teste t, a utilização de misturas com até 20% de biodiesel não altera
o desempenho do gerador quando funcionando sob carga plena com relação ao consumo
específico. Com base nisso, os valores do CEC podem ser representados pelo gráfico 5.
A análise do rendimento total do sistema pelo teste t para os ensaios com nove
lâmpadas está representada na tabela 11.
Tabela 11 – Teste t para rendimento do sistema com nove lâmpadas.
4 CONCLUSÕES
Com base nos ensaios realizados, pode-se concluir que a variação da carga resistiva
causou uma variação no comportamento do motor e do sistema motor gerador como um
todo.
Quando a carga resistiva utilizada era de 18 lâmpadas, houve acréscimo no con-
sumo específico e decréscimo na energia específica de acordo com a quantidade de biodie-
sel existente na mistura, exceto na utilização da mistura B2, onde uma redução desprezível
(aproximadamente 0,25%) foi notada. Já o rendimento apresentou melhores resultados com
o aumento da proporção de biodiesel na mistura. Os melhores valores de rendimento foram
encontrados quando o combustível B100 foi utilizado no gerador (18,37%). Acredita-se que
o maior rendimento quando B100 foi utilizado deve-se à maior quantidade de oxigênio exis-
tente durante a combustão.
Já os ensaios com nove lâmpadas apresentaram maiores variações nos resultados
encontrados por possuírem maiores diferenças de temperatura entre os ensaios realizados.
As misturas B5 e B10 apresentaram os melhores valores de consumo específico e energia
específica, mas esses valores sofreram forte influência das temperaturas durante os ensaios,
que eram aproximadamente 15% e 17% maiores, respectivamente, que as temperaturas re-
gistradas durante os ensaios com B0. Novamente a mistura B2 apresentou bons resultados,
causados por maior lubricidade do combustível quando comparado ao diesel puro. O rendi-
mento novamente melhorou com o acréscimo de biodiesel à mistura, atingindo os melhores
resultados com B100.
Apesar de apresentarem os melhores rendimentos, a utilização do B100 nos ensaios
apresentou diversos problemas de funcionamento, causados pela dificuldade de injeção do
biodiesel, que possui viscosidade 76% maior que o diesel derivado do petróleo.
A análise dos ensaios pelo teste t para médias mostrou que, estatisticamente, o
acréscimo de até 20% de biodiesel na mistura não causou grandes variações no funcionamento
do gerador quando uma carga de 18 lâmpadas foi utilizada.
Já a análise dos ensaios com nove lâmpadas pelo teste t para médias apresentou va-
riação quando abastecidos com B10 e B100. As variações apresentadas pela utilização de B10
são resultadas de grande variação de temperatura ocorrida durante os ensaios. Já a utilização
de biodiesel puro (B100) apresentou maior consumo específico e menor energia específica
devido a um menor PCI do biodiesel quando comparado ao diesel puro. O rendimento do
sistema não apresentou grandes variações e pode ser considerado igual para qualquer mistura
utilizada.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n.º 11.097, de 13 de janeiro de 2005. Dispõe sobre a introdução do biodie-
sel na matriz energética brasileira. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil.
Brasília, DF, 14 jan. 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/_Ato2004-
2006/2005/Lei/L11097.htm.>. Acesso em: 24 mar. 2007.
CAMPION, P. J. et al. A code of practice for the detailed statement of accuracy. Lon-
dres: National Physical Laboratory, 1980.
NATIONAL BIODIESEL BOARD. Fuel Fact Sheets. Disponível em: < http://www.
biodiesel.org/resources/fuelfactsheets>. Acesso em: 22 out. 2007.