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ANÁLISE COMPARATIVA DA UTILIZAÇÃO DE DIESEL

E BIODIESEL NO FUNCIONAMENTO DE UM
GRUPO GERADOR
ANDRÉ LUÍS PUQUEVICZ
Egresso – Engenharia Mecânica – Universidade Positivo/UP
andre.luis@up.edu.br

BERNARD DYCK
Egresso – Engenharia Mecânica – Universidade Positivo/UP
bernard@up.edu.br

GIOVANA DE FÁTIMA MENEGOTTO


Professora – Engenharia Mecânica – Universidade Positivo/UP
giovana.menegotto@up.edu.br

LEONARDO MENEGHINI PIRES


Egresso – Engenharia Mecânica – Universidade Positivo/UP
tccbiodiesel@gmail.com

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ANÁLISE COMPARATIVA DA UTILIZAÇÃO DE DIESEL E BIODIESEL NO FUNCIONAMENTO DE UM GRUPO GERADOR

RESUMO

Esse trabalho apresenta uma análise comparativa do funcionamento de um grupo-


gerador, utilizando-se diesel fóssil e biodiesel etílico de soja como combustível. Para elaboração
deste estudo, foram realizados ensaios práticos, os quais visavam avaliar o consumo espe-
cífico de combustível, energia específica e rendimento do gerador quando abastecido com
diferentes misturas de diesel e biodiesel. O grupo-gerador utilizado nesse trabalho foi o modelo
BD2500 CFE, da marca Branco, com potência máxima de 2 kVA. As análises de funciona-
mento do gerador foram realizadas com duas faixas de carga resistiva para os combustíveis
diesel mineral puro e biodiesel puro, e para as taxas de misturas de biodiesel de 2%, 5%, 10%,
20% e 50%. Os resultados obtidos foram analisados, observando-se um maior consumo de
combustível e um maior rendimento, com aumento da taxa de biodiesel. A variação da carga
elétrica aplicada ao grupo-gerador mostrou-se relevante, sendo notado que quando utilizado
a plena carga, seu funcionamento é mais viável.
Palavras-chave: Biodiesel, gerador, rendimento, consumo específico.

ABSTRACT

This study shows a comparative analysis from the operation of a diesel generator,
when filled with petroleum diesel fuel and soybean oil ethyl biodiesel fuel. For this study
practical tests were done trying to evaluate brake specific energy consumption, specific ener-
gy and generator’s efficiency when filled with different diesel and biodiesel mixtures. The
diesel generator used on this study was a BD 2500 CFE, made by Branco, with maximum
electrical power of 2 kVA. Generator operations where done using two distinct electrical
resistive load for diesel and biodiesel, and mixtures containing biodiesel rates of 2%, 5%,
10%, 20% and 50%. The obtained results where analyzed, and a higher fuel consumption
and a better total system efficiency could be observed as biodiesel percentage on the mixture
raised. A variation on the electrical resistive load proved to be very relevant, and when used
on full load, its operation is more viable.
Keywords: Biodiesel, generator, efficiency, brake specific energy consumption.

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André Luís Puquevicz, Bernard Dyck, Giovana de Fátima Menegotto e Leonardo Meneghini Pires

ANÁLISE COMPARATIVA DA UTILIZAÇÃO DE DIESEL E BIODIESEL


NO FUNCIONAMENTO DE UM GRUPO GERADOR
ANDRÉ LUÍS PUQUEVICZ / BERNARD DYCK / GIOVANA DE FÁTIMA MENEGOTTO / LEONARDO MENEGHINI PIRES

1 INTRODUÇÃO

A atual preocupação com uma eminente crise energética, causada principalmente


pela redução da produção de petróleo, que deverá ser cinco vezes menor que a atual até 2050,
gerou aumento na procura por fontes alternativas de combustíveis, com grande destaque
para os combustíveis renováveis (biocombustíveis), como o álcool e o biodiesel, e vem sendo
tratada mundialmente com grande importância.
O Brasil apresenta-se como grande potência produtiva de biocombustíveis devido
principalmente a sua vasta extensão territorial cultivável. Visando um maior aproveitamento
territorial, em 2003 foi criado o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB).
Esse programa objetiva criar empregos e melhorar a renda de famílias pobres, possibilitando
maior integração entre as regiões do país (PORTAL DO BIODIESEL, 2007).
Em vista de algumas dificuldades da utilização de óleo vegetal diretamente em mo-
tores, como alta viscosidade, baixa volatilidade e caráter poliinsaturado, o biodiesel surge com
grande potencial de substituir o diesel fóssil. Segundo Ferrari (2005), o biodiesel pode ser defi-
nido como um mono álquil éster de ácidos graxos, derivado de fontes renováveis, e é gerado
a partir de processos de refino de óleos, tanto de origem vegetal quanto animal (MILLETT,
2003).
Dentre os processos de refino existentes, a transesterificação é a mais utilizada de-
vido a sua simplicidade e ao seu produto final possuir características muito próximas ao diesel
(FERRARI, 2005).
A transesterificação nos óleos consiste em uma reação química na qual os triglice-
rídeos existentes no óleo transformam-se em moléculas menores de ésteres e ácidos graxos
(FERRARI, 2005), sendo que as únicas matérias-primas necessárias para realizar o processo
são o óleo vegetal ou gordura animal, álcool e catalisador.
O biodiesel também apresenta vantagens no quesito ambiental, reduzindo a emissão
de poluentes, como o dióxido de carbono e o enxofre. O biodiesel é um combustível biodegra-
dável e não tóxico, facilitando assim seu manuseio (COSTA; ROSSI, 1999).
Usualmente, a taxa da mistura de biodiesel e diesel é representada pela letra “B” segui-
da de um número, onde “B” é utilizada para identificar que essa é uma mistura de biodiesel e
o número representa a porcentagem de biodiesel contida na mistura. Por exemplo, um com-
bustível identificado por B2 possui 2% de biodiesel e 98% de diesel comum.
Em 2005 foi criada a lei n.º 11 097 que tinha como principais objetivos subsidiar
o PNPB e tornar o biodiesel economicamente viável. Para isso, essa lei tornou obrigatória a

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adição de 2% de biodiesel a todo óleo diesel comercializado em território nacional a partir de


janeiro de 2008, e determinou que essa taxa aumente gradativamente ao longo dos anos,
devendo atingir 5% até 2013 (BRASIL, 2005).
Devido à obrigatoriedade da adição de biodiesel ao diesel comercializado em todo o
país, torna-se necessário o estudo dos efeitos deste biocombustível em motores de ciclo diesel.
Atualmente, vários estudos a esse respeito vêm sendo realizados em motores utilizados por
veículos leves e pesados, porém existem poucas análises sobre os efeitos que esta adição pode
causar em motores estacionários, como geradores compactos.
O objetivo deste estudo foi determinar possíveis variações que a utilização de biodie-
sel pode causar no desempenho de um grupo gerador. Para isso, foram realizadas análises de
consumo de combustível e da energia gerada por um grupo gerador de ciclo diesel abastecido
com diferentes taxas da mistura de diesel e biodiesel (B0, B2, B5, B10, B20, B50 e B100) quando
aplicadas cargas elétricas resistivas de potência máximas de 900 W e 1800 W.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Determinação do Local de Realização dos Ensaios

O local de realização dos ensaios foi determinado com o objetivo de diminuir a


influência de fontes de erro. Dessa forma, foi estabelecido como local para a realização dos
ensaios o Laboratório de Motores, localizado no bloco de Engenharia Mecânica na Univer-
sidade Positivo (Curitiba-PR). A sala escolhida, além de possuir sistema de exaustão para os
gases de escape, é dotada de um sistema de insulflamento de ar.

2.2 Metodologia de Ensaio

Para a realização dos


ensaios, foi realizada a medi-
ção do tempo necessário para
o gerador consumir 500 mL
de combustível existente em
um reservatório de combustí-
vel graduado.
Para o consumo da
energia elétrica gerada pelo
grupo gerador, foi utilizada
uma carga resistiva formada
por um conjunto de 18 lâm- Figura 1 – Desenho esquemático da sala de ensaios.
padas de 100 W cada, as quais
podiam consumir uma potência média máxima de 1800 W. Com a finalidade de possibilitar
maior precisão dos resultados, foi definido que os ensaios seriam realizados utilizando cargas
resistivas de 9 e de 18 lâmpadas. Para cada taxa, foram realizados três ensaios com 9 lâmpadas
e três ensaios com 18 lâmpadas de carga elétrica consumida, totalizando assim quarenta e dois
ensaios. Na figura 1 é mostrado um desenho esquemático da sala utilizada para os ensaios.

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A medição do volume de combustível foi realizada por meio de um reservatório em


forma de mangueira graduada que possibilitava um acompanhamento visual do consumo.
Para as medições de corrente elétrica AC, foi utilizado um multímetro digital, ligado
em série junto ao quadro de lâmpadas. Um alicate amperímetro digital realizou a medição da
tensão elétrica AC gerada pelo grupo gerador. O posicionamento do alicate foi feito na entra-
da do quadro de lâmpadas.
A medição das temperaturas dos ensaios foi feita com o auxílio de um termômetro
digital compacto com termopar, alocado próximo ao grupo gerador.
Para as medições de tempo, foi utilizado um cronômetro. A cada ensaio, o cronôme-
tro era iniciado no momento em que o combustível ultrapassava a linha superior da manguei-
ra, linha dos 500 mL, e sua parada se dava na linha inferior demarcada por 0 mL.
A determinação da potência elétrica ativa consumida pela carga foi calculada utili-
zando a relação entre tensão e corrente elétrica. Como o ensaio foi realizado utilizando apenas
cargas resistivas, o fator de potência utilizado era igual a 1.
As taxas de biodiesel ensaiadas foram o B0, B2, B5, B10, B20, B50 e B100.

2.3 Materiais e Equipamentos

Abaixo segue uma explicação de como estes equipamentos foram utilizados nos
ensaios, com as principais características de cada um deles.

2.3.1 Grupo-gerador

Foi utilizado um grupo-gerador da marca Branco, modelo BD-2500CFE que possui


um motor a diesel monocilíndrico de quatro tempos e injeção direta, refrigerado a ar, com 211
cilindradas e potência mecânica nominal de 4,2 HP a 3600 rpm, capaz de gerar uma potência
elétrica nominal de 2 kVA. Por ser um equipamento novo, o gerador foi precondicionado
durante um período de vinte horas para promover a otimização geométrica dos pares cinemá-
ticos com movimento relativo, tempo definido pelo fabricante para a primeira troca de óleo.

2.3.2 Quadro de Lâmpadas

As cargas resistivas foram lâmpadas incandescentes de 100 W cada. Para a alocação


dessas lâmpadas, foi montado um quadro de madeira, com bocais de cerâmica para as lâmpa-
das, fiação de cobre e duas chaves seletoras. Foram utilizadas dezoito lâmpadas para 100% de
carga e nove lâmpadas para 50% de carga. A diferenciação dessas cargas foi feita pelas chaves
seletoras.

2.3.3 Diesel e Biodiesel

O diesel utilizado nos ensaios foi adquirido em um posto de combustível de Curitiba


e estava de acordo com as características para o diesel metropolitano exigidas pela Agência
Nacional do Petróleo (ANP) no regulamento técnico n.º 15/2006 (ANP, 2007). Já o biodiesel
utilizado foi doado pelo Instituto de Tecnologia do Paraná — Tecpar — e é proveniente do
processo de transesterificação de óleo de soja e etanol.

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As misturas de diesel e biodiesel foram realizadas todas de uma única vez, visando
evitar possíveis alterações entre as misturas de combustíveis. Foram feitos quatro litros de
cada mistura e esses foram então armazenados em garrafas PET de dois litros, as quais foram
guardadas em local fresco e protegidas da ação dos raios de sol. As misturas foram realizadas
com o auxílio de uma proveta graduada de 500 mL.

2.3.4 Alicate Amperímetro Digital

Esse equipamento teve a função de medir a tensão elétrica AC gerada pelo alterna-
dor e as medições foram realizadas de forma visual. O aparelho utilizado era da marca Mini-
pa e em todas as medições realizadas, a escala utilizada foi 0 a 200 V. Com esta configuração,
o equipamento possui uma incerteza de ± (1,2% da leitura + 5 dígitos). Para a verificação
do alicate amperímetro, foi utilizada uma faixa de medição de 114 a 120 V. O erro verificado
para esse instrumento neste faixa de medição foi de 0,3 V. Esse equipamento foi conectado
em paralelo à carga do circuito (lâmpadas).

2.3.5 Multímetro Digital

Um multímetro Minipa modelo Et-2042 foi utilizado para medir de forma contínua
a corrente AC gerada pelo alternador do grupo gerador. Para a utilização desse equipamento,
optou-se pela faixa de 0 a 20 A. Com isso, a precisão do equipamento é de ± (3% da leitura
+ 10 dígitos), com uma resolução de 10 mA. A verificação desse instrumento, feita no LAC-
TEC (Curitiba-PR), foi realizada para duas faixas de medição, de 7 a 8 A e de 14 a 15 A. O
erro verificado para ambas as faixas foi de 0,27 A, isto é, o instrumento indica 0,27 unidades
de medida a mais do que a medida do padrão, considerada como real.

2.3.6 Reservatório de Combustível

Para uma melhor visualização da quantidade de combustível consumida, optou-se


pelo uso de uma mangueira que possuía marcações que indicavam o volume de combustível
consumido. Duas marcações indicavam o início e o término do ensaio. O volume entre estas
duas marcações era de 500 mL. A cada 50 mL existiam marcações na mangueira que possi-
bilitavam a medição dos valores de tensão e corrente em intervalos iguais.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Para uma melhor comparação das misturas de combustível, foi calculada a média
e o desvio padrão dos parâmetros obtidos nos ensaios. A partir dos valores medidos, foram
realizadas análises de consumo específico do combustível e do rendimento obtidos nos en-
saios realizados.
Os resultados obtidos também foram analisados estatisticamente. Essa análise foi
realizada por meio de um dos métodos das hipóteses, chamado de teste t para médias, que
consiste na comparação de valores de uma mesma fonte de dados.

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Devido à variação da carga resistiva dos ensaios, 9 e 18 lâmpadas, o grupo gerador


apresentou um comportamento diferenciado. Por esse motivo, cada ensaio foi analisado se-
paradamente.

3.1 Propriedades Físicas das Misturas

Os ensaios foram realizados utilizando biodiesel etílico de soja e os valores de suas


propriedades físicas estão representados na tabela 1.
Tabela 1 – Propriedades físicas dos combustíveis.

3.2 Valores Obtidos Durante os Ensaios

3.2.1 Ensaios com 18 Lâmpadas

A média dos valores medidos para o tempo, temperatura, tensão, corrente, potência
e energia elétrica, com seus respectivos desvios padrões para o ensaio com 18 lâmpadas, está
representada nas tabelas 2, 3 e 4.
De maneira geral, o gerador apresentou comportamento normal para quase todas
as misturas. Apenas os ensaios realizados com biodiesel puro (B100) apresentaram falhas de
funcionamento do gerador, além de grande ruído. Durante esses ensaios, o gerador funcio-
nava de maneira inconstante. Em intervalos de tempo não constantes, o motor apresentava
comportamento diferenciado, inconstante e gerando tensões e correntes elétricas menores
do que em seu funcionamento normal para aquela mistura de combustível. Nesse momento,
era injetada uma grande quantidade de combustível, visível pela fumaça preta que saia pelo
escape, o que estabilizava o funcionamento do gerador por mais um período de tempo.
Essa falha ocorria principalmente devido à diferença entre a viscosidade do diesel
e do biodiesel. O gerador utiliza uma bomba de engrenagens para pressurizar o combustível
que será injetado na câmara de combustão e essa bomba está dimensionada para funcionar
com diesel de petróleo. Como o biodiesel possui uma viscosidade aproximadamente 76% maior
que o diesel (BUENO, 2006), a bomba não consegue trabalhar em seu regime correto, e fica
impossibilitada de injetar a quantidade correta de combustível. O motor então falha, e ao
perceber que houve redução na rotação, a bomba injetora aumenta a quantidade de com-
bustível injetado. O motor recupera-se e fica estabilizado por um período, até que o ciclo se
repita.

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Outro fato observado durante os ensaios foi o forte odor da queima de biodiesel.
Na medida em que o percentual de biodiesel acrescia na mistura, o odor da queima do biodiesel,
muito similar ao cozimento de frituras, aumentava também. Este fenômeno já podia ser sen-
tido com a adição de pequenas quantidades de biodiesel.
Tabela 2 –Valores para o tempo e temperatura com 18 lâmpadas.

Tabela 3 – Valores para a tensão e corrente elétrica com 18 lâmpadas.

Tabela 4 – Valores para a potência e energia elétrica com 18 lâmpadas.

3.2.2 Ensaios com nove Lâmpadas

Nas tabelas 5 e 6, mostra-se a média dos valores medidos para o tempo, tempe-
ratura, tensão e corrente, com seus respectivos desvios padrões para os ensaios com nove
lâmpadas.

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Tabela 5 – Valores para o tempo e temperatura com nove lâmpadas.

Tabela 6 – Valores para a tensão e corrente elétrica com nove lâmpadas.

Também foram calculados os valores da potência elétrica e energia elétrica para a


carga de nove lâmpadas (tabela 7).
Tabela 7 – Valores para a potência e energia elétricas com nove lâmpadas.

Assim como havia ocorrido nos ensaios com 18 lâmpadas, nos ensaios com nove
lâmpadas a utilização de B100 causou problemas no funcionamento do gerador. Devido
à alta viscosidade do biodiesel, sua utilização pura causou problemas no funcionamento da
bomba e, por consequência, dificuldade na injeção do combustível, o que fazia o motor “en-
gasgar”. Como a carga resistiva era menor do que nos ensaios realizados com 18 lâmpadas, a
bomba funcionava com menor vazão, o que dificultou mais ainda a injeção do combustível.
Com a utilização do biodiesel puro, o gerador teve seu funcionamento dificultado,
devido à dificuldade de injeção, e as médias de tensão elétrica, corrente elétrica e tempo fo-
ram realizadas com apenas duas medições, pois a terceira medição foi abortada para evitar
danos maiores ao gerador.
As outras medições ocorreram de maneira normal e não apresentaram problemas
de funcionamento.

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3.3 Consumo Específico de Combustível

As análises de consumo de combustível foram realizadas utilizando o consumo


específico de cada mistura. O consumo específico de combustível, ao contrário do consumo
horário, é a razão entre a massa de combustível consumida pela potência média dissipada
durante um determinado período de tempo. Em outras palavras, o consumo específico de
combustível indica qual a massa de combustível necessária para dissipar uma unidade de
energia.

3.3.1 Ensaios com 18 Lâmpadas

Uma comparação gráfica dos valores calculados para as misturas e para o biodiesel
puro quando comparadas aos valores de diesel puro (B0) para o ensaio com 18 lâmpadas está
representada no gráfico 1.

Gráfico 1 – Comparação do consumo específico de combustível com o B0 com 18


lâmpadas.

Pode-se verificar que apenas a mistura B2 apresentou pequena melhora no consu-


mo, reduzindo-o em 0,25%. Essa melhora pode ter sido causada pela melhor lubricidade do
B2 quando comparado ao diesel metropolitano. Segundo a National Biodiesel Board (2007), a
adição de apenas 2% de biodiesel ao diesel com 500 ppm, igual ao diesel metropolitano comer-
cializado no Brasil, melhorou a lubricidade do combustível, reduzindo o desgaste em 47%.
As demais misturas apresentaram aumento do consumo específico. Os dois aumen-
tos mais significativos ocorreram nas misturas B50 (5,04%) e B100 (11,45%).
Esse aumento foi ocasionado porque o biodiesel possui menor poder calorífico infe-
rior (PCI) quando comparado ao diesel puro. O poder calorífico representa a quantidade de
energia térmica que pode ser liberada por determinada quantidade de massa (CAETANO et
al., 2004). Isso significa que, para liberar a mesma quantidade de energia liberada pelo diesel,
o biodiesel necessita de maior quantidade de massa, aumentando o consumo específico do
combustível.

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3.3.2 Ensaios com nove Lâmpadas

Um comparativo entre os valores de consumo específico em relação ao B0 dos


ensaios com nove lâmpadas está representado no gráfico 2.

Gráfico 2 – Comparação do consumo específico em relação ao B0 com nove lâmpadas.

Assim como ocorreu nos ensaios com 18 lâmpadas, ao analisar-se o gráfico de


comparação com o B0, misturas com mais de 35% de biodiesel, aproximadamente, apresenta-
ram aumento no consumo, devido principalmente ao menor PCI do biodiesel. Nos ensaios, o
consumo registrado com diesel puro foi igual a 472,8 g/(kW.h) enquanto o consumo quando
utilizado B100 foi de 526,9 g/(kW.h).
Nas outras misturas com menos de 35% de biodiesel, ao contrário do que ocorreu
anteriormente, houve redução no consumo, obtendo os menores valores com o B5, onde
uma redução de 1,87% foi observada, e com o B10, com valores 1,72% menores. Após uma
análise mais detalhada, percebeu-se que esta redução ocorreu devido a uma maior diferença
de temperatura dos ensaios com as misturas de B5 e B10 e do ensaio com B0.
A partir das análises realizadas, acredita-se que o aumento da temperatura durante
os ensaios tenha causado redução na potência gerada e por consequência tenha reduzido o
consumo específico de combustível. Esse efeito da temperatura sobre o consumo específico
ocorreu até o momento em que a diferença entre os PCIs dos combustíveis era pequena. À
medida que o PCI diminuía, a necessidade de injetar mais combustível para conseguir gerar
a mesma potência aumentava, e consequentemente aumentava o consumo.
Esse efeito da temperatura sobre o consumo específico não foi sentido no ensaio
com 18 lâmpadas porque ele apresentou maiores variações de temperatura, não apenas entre
as misturas, mas também entre cada um dos três ensaios realizados com cada uma das mis-
turas. Também se acredita que a necessidade de gerar maior potência tenha feito o gerador
funcionar sempre próximo de seu limite máximo de funcionamento, o que não possibilitava
a injeção de menores quantidades de combustível, pois exigia sempre que as misturas dispo-
nibilizassem seus maiores valores de energia.

3.4 Rendimento do Sistema

O rendimento do sistema é a razão entre a quantidade de energia que o sistema


gerou pela quantidade de energia disponível. Por meio do rendimento é possível determinar

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qual das misturas apresentou maior aproveitamento da energia química que o combustível
dispunha. A quantidade de energia disponível é calculada levando em consideração o PCI de
cada uma das misturas, pois o PCI apresenta quanta energia certa quantidade de combustível
pode liberar.
Os ensaios de rendimento usualmente indicam o rendimento do motor, conhecido
por rendimento térmico. Porém, como nesse ensaio foram medidos apenas os valores de po-
tência elétrica, e como o rendimento do alternador não é conhecido, o rendimento calculado
será o rendimento total do sistema

3.4.1 Ensaios com 18 Lâmpadas

Os valores do rendimento para os ensaios com 18 lâmpadas estão representados


pelo gráfico 3.

Gráfico 3 – Rendimento do sistema com 18 lâmpadas.

Analisando o rendimento do sistema, é possível perceber que a adição de biodiesel ao


diesel, ou mesma a utilização do biodiesel puro causou melhora no rendimento, apresentando
os melhores resultados com B100.
Resultados similares foram encontrados por Rabelo (2001), que ensaiou um motor
similar ao utilizado nesse ensaio em um dinamômetro com o objetivo de testar misturas de
diesel e biodiesel de óleo usado em frituras. Segundo Rabelo, o maior rendimento do sistema,
quando abastecido com misturas de diesel e biodiesel, ou simplesmente com biodiesel puro, pode
ter sido causado pela presença de maior quantidade de átomos de oxigênio, o que teria cau-
sado queima mais completa do combustível e consequentemente melhor rendimento. A
presença de maior quantidade de oxigênio é devido à presença de moléculas de oxigênio na
composição do biodiesel, o que não ocorre com o diesel derivado do petróleo.
Apesar disso, maiores estudos a respeito desse comportamento devem ser realiza-
dos para comprovar o real motivo do aumento da potência, porém acredita-se que variações
como o tipo de biodiesel utilizado, ou variações como o tamanho do motor e tipo de injeção
possam interferir na maneira como a combustão do combustível ocorre e assim interferir no
rendimento final do sistema.

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3.4.2 Ensaios com nove Lâmpadas

No ensaio com nove lâmpadas, o rendimento aumentou na medida em que o per-


centual de biodiesel na mistura aumentava, como pode ser visualizado no gráfico 4.
Acredita-se que isso ocorra devido à presença de maior quantidade de oxigênio,
pois o biodiesel possui esse elemento em sua composição.
Comparando os rendimentos dos ensaios com 18 lâmpadas e 9 lâmpadas, é possível
notar que menor quantidade de lâmpadas gerou menor rendimento, apresentando uma redu-
ção de 5,2% com B0. Isso é causado pelo menor rendimento do alternador quando menores
cargas resistivas são aplicadas. O alternador possui seu maior rendimento próximo da sua
carga máxima, neste caso de 2 kVA. Ao utilizar o gerador com cargas inferiores, o gerador
opera com folga e seu rendimento é prejudicado.

Gráfico 4 – Rendimento do sistema com nove lâmpadas.

3.5 Teste t para Médias

O teste t para médias é utilizado para determinar se dois valores distintos perten-
cem ou não a uma mesma população. Dessa maneira, podem-se analisar os valores e afirmar,
estatisticamente, se eles são diferentes ou iguais (CAMPION, 1980).
Os valores apresentados e analisados anteriormente não são necessariamente dife-
rentes entre si. A hipótese de estas médias serem iguais ou diferentes foi verificada para um
nível de confiança de 95%.

3.5.1 Consumo Específico de Combustível

Os resultados das análises do teste t para médias do consumo específico de com-


bustível (CEC) para os ensaios com 18 lâmpadas são apresentados na tabela 8.
Tabela 8 – Teste t para valores de CEC com 18 lâmpadas.

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De acordo com o teste t, a utilização de misturas com até 20% de biodiesel não altera
o desempenho do gerador quando funcionando sob carga plena com relação ao consumo
específico. Com base nisso, os valores do CEC podem ser representados pelo gráfico 5.

Gráfico 5 – Consumo específico para ensaios com 18 lâmpadas.

As análises do teste t para os ensaios com 9 lâmpadas encontram-se na tabela 9.


Tabela 9 – Teste t para valores de CEC com nove lâmpadas.

Desconsiderando os valores iguais ao B0, as representações gráficas do consumo


específico estão demonstradas no gráfico 6.

Gráfico 6 – Consumo específico para ensaios com 9 lâmpadas.

3.5.2 Rendimento do Sistema

A análise do rendimento total do sistema pelo teste t para os ensaios com 18


lâmpadas está representada na tabela 10.
Pela tabela 10 é possível visualizar que o rendimento das misturas com até
50% de biodiesel podem ser consideradas iguais ao rendimento do diesel puro. Apenas a
utilização de biodiesel puro apresentou variações significativas de desempenho.

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Tabela 10 – Teste t para rendimento do sistema com 18 lâmpadas.

A análise do rendimento total do sistema pelo teste t para os ensaios com nove
lâmpadas está representada na tabela 11.
Tabela 11 – Teste t para rendimento do sistema com nove lâmpadas.

Observando-se a tabela 11, percebe-se que os valores do rendimento permane-


ceram iguais, de acordo com o teste das hipóteses, independente da mistura utilizada nos
ensaios. Dessa maneira, não é possível afirmar, estatisticamente, que houve melhora ou piora
no rendimento quando foi acrescida a quantidade de biodiesel na mistura.

4 CONCLUSÕES

Com base nos ensaios realizados, pode-se concluir que a variação da carga resistiva
causou uma variação no comportamento do motor e do sistema motor gerador como um
todo.
Quando a carga resistiva utilizada era de 18 lâmpadas, houve acréscimo no con-
sumo específico e decréscimo na energia específica de acordo com a quantidade de biodie-
sel existente na mistura, exceto na utilização da mistura B2, onde uma redução desprezível
(aproximadamente 0,25%) foi notada. Já o rendimento apresentou melhores resultados com
o aumento da proporção de biodiesel na mistura. Os melhores valores de rendimento foram
encontrados quando o combustível B100 foi utilizado no gerador (18,37%). Acredita-se que
o maior rendimento quando B100 foi utilizado deve-se à maior quantidade de oxigênio exis-
tente durante a combustão.
Já os ensaios com nove lâmpadas apresentaram maiores variações nos resultados
encontrados por possuírem maiores diferenças de temperatura entre os ensaios realizados.
As misturas B5 e B10 apresentaram os melhores valores de consumo específico e energia
específica, mas esses valores sofreram forte influência das temperaturas durante os ensaios,
que eram aproximadamente 15% e 17% maiores, respectivamente, que as temperaturas re-
gistradas durante os ensaios com B0. Novamente a mistura B2 apresentou bons resultados,

da Vinci, Curitiba, v. 5, n. 1, p. 179-195, 2008 193


ANÁLISE COMPARATIVA DA UTILIZAÇÃO DE DIESEL E BIODIESEL NO FUNCIONAMENTO DE UM GRUPO GERADOR

causados por maior lubricidade do combustível quando comparado ao diesel puro. O rendi-
mento novamente melhorou com o acréscimo de biodiesel à mistura, atingindo os melhores
resultados com B100.
Apesar de apresentarem os melhores rendimentos, a utilização do B100 nos ensaios
apresentou diversos problemas de funcionamento, causados pela dificuldade de injeção do
biodiesel, que possui viscosidade 76% maior que o diesel derivado do petróleo.
A análise dos ensaios pelo teste t para médias mostrou que, estatisticamente, o
acréscimo de até 20% de biodiesel na mistura não causou grandes variações no funcionamento
do gerador quando uma carga de 18 lâmpadas foi utilizada.
Já a análise dos ensaios com nove lâmpadas pelo teste t para médias apresentou va-
riação quando abastecidos com B10 e B100. As variações apresentadas pela utilização de B10
são resultadas de grande variação de temperatura ocorrida durante os ensaios. Já a utilização
de biodiesel puro (B100) apresentou maior consumo específico e menor energia específica
devido a um menor PCI do biodiesel quando comparado ao diesel puro. O rendimento do
sistema não apresentou grandes variações e pode ser considerado igual para qualquer mistura
utilizada.

194 da Vinci, Curitiba, v. 5, n. 1, p. 179-195, 2008


André Luís Puquevicz, Bernard Dyck, Giovana de Fátima Menegotto e Leonardo Meneghini Pires

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