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FOTOGRAFIA SOCIAL

Documental
de família POR LIVIA CAPELI

M
omentos corriqueiros da projeto do profissional visa documen-
Depois de ganhar rotina familiar, como a ho- tar memórias por meio do registro do
notoriedade ra de preparar o almoço, cotidiano da vida em família.
brincar com os filhos ou Criado por ele, o conceito de “Do-
como fotógrafo de assistir juntos a um programa de te- cumental de Família” segue um único
casamento, Vinícius levisão, acabam naturalmente se per- protocolo: as fotos não devem ser po-
Matos cria um dendo na memória. No entanto, para sadas ou muito menos feitas com ro-
o fotógrafo mineiro Vinícius Matos es- teiros prévios. A essência é conviver
novo conceito para ses preciosos instantes se tornaram com a família por um período de tem-
retratar pessoas um rico material de trabalho. O novo po e extrair imagens espontâneas.

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Vinícius Matos

Documentar o cotidiano
sem interferir na situação
é o novo conceito adotado
por Vinícius Matos para
retratar famílias – aqui o
pequeno Arthur Ferreira
ao lado de Zeca,
cão da família
FOTOGRAFIA SOCIAL

Fotos: Vinícius Matos


Registros da família Ferreira (que fez a sessão na casa da avó): acima, a filha
Luiza se entrelaça na cortina; abaixo, a mãe Sabrina brinca com Luiza e Arthur Profissional renomado interna-
cionalmente na área de casamento,
Vinícius quer oferecer um trabalho
fotográfico exclusivo, fugindo dos
tradicionais ensaios com retratos
posados de família e também do es-
tilo lifestyle (que, segundo ele, é feito
na casa do cliente e as pessoas si-
mulam poses espontâneas).

UM DIA INTEIRO
Não importa se a casa está ba-
gunçada, se a família pede para ser
fotografada na casa de campo ou
em algum lugar especial da memó-
ria afetiva dela. A ideia é reunir re-
gistros da simplicidade de cada mo-
mento, sem que haja intervenção
do fotógrafo para dirigir a situação.
Vinícius Matos conta que o pro-
cesso para fotografar famílias no
estilo documental precisa ser hu-
manizado. “Entendo que é muito

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agressivo para a proposta do meu tra- cipal são os clientes entre médio e alto O clima descontraído da
balho chegar na casa das pessoas e sair poder aquisitivo: “em geral, os líderes na- vida cotidiana da família
fotografando tudo e todos logo no pri- tos formam um tipo de público que não é resgatado por Vinícius:
aqui a pequena Júlia faz
meiro momento. Por isso, passo um bom aprecia ser comandado, e isso significa peripécias enquanto a
tempo conversando, me conectando com que ter um fotógrafo dirigindo o tempo mãe, Mônica Reali, e o
os membros da família e observando o todo pode incomodar”, explica. irmão André almoçam
ambiente. Só depois disso tiro a câmera Para se especializar mais na técnica
da bolsa”, explica ele. de documentar famílias, Vinícius tem in-
Normalmente, uma sessão documen- vestido em estudos de programação neu-
tal de família feita por Vinícius dura de 12 rolinguística e psicologia positiva. Ele ex-
a 14 horas. O extenso período está rela- plica que usa esses recursos para entender
cionado diretamente com o processo de melhor o ser humano e poder aumentar
desenvolvimento da relação com a família a capacidade de conexão e, consequente-
fotografada, que vai se desenrolando ao mente, ser aceito pela família para, assim,
longo do dia. Ele conta que, ao mesmo ter acesso à parte da intimidade.
tempo que se aproxima para conseguir
acesso à intimidade, precisa saber se dis- FOCO NO CLIENTE
tanciar para não interferir na história da- Antes de decidir quando e onde o re-
quele dia da vida das pessoas. gistro documental será feito, Vinícius mar-
Relata que atualmente seu foco prin- ca uma reunião com o cliente interessado

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Uma prova de que no trabalho. Na conversa, elabora uma Mônica – que encara a doença com na-
Vinícius penetra na pauta para melhor execução das imagens. turalidade e não se importou em deixar
intimidade das famílias: Isso ajuda a resumir a história da família, o fotógrafo registrar esses momentos.
pela fresta de uma porta
entreaberta o flagrante
a conhecer um pouco mais sobre o tem- Vinícius foi tão fundo na intimidade do ca-
da reconciliação de peramento de cada membro e ter infor- sal que até registrou a reconciliação após
Mônica e Francesco mações sobre a rotina da casa. uma briga e momentos durante o almoço,
Reali após uma “A maior parte das pessoas gosta de no qual a filha Júlia, de 5 anos, brincava
discussão falar daquilo que tem orgulho, e é impor- debaixo da mesa.
tante captar isso, usar a favor do trabalho.
Acredito que quanto mais conhecer o clien- EQUIPAMENTO
te e a história de cada família, mais en- Para garantir discrição durante o en-
volvido e preparado estarei para o dia da saio, o fotógrafo procura usar o mínimo
sessão de fotos”, afirma. de equipamentos. Ele costuma fotografar
Foi o que ocorreu com a família Reali, na maioria das vezes com uma Fuji XT-
de Francesco, Mônica, André e Júlia, 1, uma câmera pequena em relação à
umas das primeiras registradas por ele. Canon EOS 5D Mark III que leva como
O casal Francesco e Mônica contratou o backup. Mesmo nas horas em que é con-
fotógrafo para uma sessão durante a re- vidado para fazer uma refeição junto com
cuperação de um tratamento de imuni- a família retratada, ele comenta que
zação, após um câncer de mama diag- mantém a câmera no pescoço e fica
nosticado em 2013 em Mônica. Durante atento a todas as cenas.
o acompanhamento da rotina da família, Outro recurso usado por ele são as
Vinícius teve a oportunidade de registrar objetivas fixas e luminosas como a 23 mm
uma consulta médica, assim como as f/1.4 e 35 mm f/1.4 na Fuji XT-1 e as lentes
aplicações de vacina quimioterápica em 35 mm f/1.4, 50 mm f/1.2 e 85 mm f/1.8

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Fotos: Vinícius Matos

na EOS 5D Mark III. Como costuma to um álbum, um livro de memó- Um livro de memórias é feito após o
captar de duas a quatro mil ima- rias, que tanto pode ser impresso registro do cotidiano familiar, como
gens por sessão, ele também leva como fotolivro quanto em papel ocorreu com a sessão feita na casa
da família Botelho, de Fernanda, Luiz
para os registros quatro cartões fine art – depende muito da escolha e as filhas Luiza e a pequena Laura
de memória SD de 64 GB para a feita pelo cliente. (prima Beatriz aparece ao fundo)
Fuji e seis cartões CompactFlash
de 32 GB para a Canon.
Vinícius prefere usar a luz natu-
ral, no entanto, carrega na bolsa um
flash Canon 600 EX-RT para o caso
de precisar em ambientes de pouca
luminosidade. Ele também adotou
como regra fotografar o ensaio so-
zinho, sem assistentes, pois acredita
que mais uma pessoa clicando po-
deria dificultar a interação com os
retratados, intimidando-os.

LIVRO DE MEMÓRIAS
Após realizar a sessão de fotos,
o especialista relata que precisa
dar um intervalo de dez dias para
conseguir perder a conexão emo-
cional com a família fotografada.
Depois de “decantar os sentimen-
tos” (como ele chama esse proces-
so), faz uma seleção de 300 imagens
da sessão e envia ao cliente, que
deve escolher 100 fotos.
As imagens são tratadas e é fei-

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Fotos: Vinícius Matos
Vinícius Matos fotografou com
uma Fuji XT-1 o psicólogo
José Janoni ao lado dos seus
19 cães – para o fotógrafo,
a pequena câmera intimida
menos o retratado

Segundo o fotógrafo, esse é um


tipo de serviço que pode ser ofere-
cido para todos os tipos de família,
grandes ou pequenas, caso, por
exemplo, do psicólogo José Janoni,
que vive em Belo Horizonte (MG)
com seus 19 cães resgatados das
ruas e convidou o fotógrafo para do-
cumentar um dia inteiro da vida dele
ao lado dos pets.
“O ensaio não é um produto mui-
to barato, pois fico à disposição da
família durante 12 horas. Entretanto,
nada impede que os profissionais
Dedê Abreu

possam oferecer esse serviço para


famílias de todas as classes sociais”,
sugere Vinícius Matos.
O principal ponto é convencer o
cliente da importância de ter do-
cumentado parte de um dia da vida
dele no cotidiano familiar. É isso
que propõe o documental de família
idealizado pelo fotógrafo mineiro.
Além disso, o serviço pode ser uma
saída para fotógrafos que sentem
dificuldade em dirigir pessoas e pa-
ra clientes que ficam constrangidos
em posar para fotos.

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