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CLIMÁTICOS
NOTA TÉCNICA
PREVISÃO DE TEMPESTADES
CONVECTIVAS SEVERAS:
TEORIA E APLICAÇÕES
BÁSICAS.
Ernani de Lima Nascimento
Cachoeira Paulista/SP
Janeiro-Fevereiro de 2007
1
PREFÁCIO
Esta Nota Técnica (NT) tem por finalidade fornecer uma revisão de conceitos
básicos úteis para a previsão de tempestades convectivas locais, em particular as
tempestades severas. Por “tempestades convectivas locais” entenda-se células de
convecção úmida profunda (essencialmente, nuvens cumulonimbus) isoladas ou
organizadas em sistemas lineares ou não-lineares, mas excluindo-se os ciclones
tropicais.
ÍNDICE
5. Referências.......................................................................................... 39
3
1. DEFINIÇÃO
DE TEMPESTADES
SEVERAS E IMPLICAÇÕES PARA A
REALIDADE BRASILEIRA.
1.1. DEFINIÇÃO:
Tempestade severa é uma tempestade capaz de gerar pelo menos 1 (um) dos
seguintes fenômenos:
(i) tornado(s);
(ii) ventos intensos em superfície com velocidade igual ou maior que
50 kt (ou 26 m s-1, ou 94 km h-1);
(iii) granizo chegando à superfície com tamanho igual ou maior que ¾
de polegada (ou 1,9 cm).
Tempestade severa é uma tempestade capaz de gerar pelo menos 1 (um) dos
seguintes fenômenos:
(i) tornado(s);
(ii) ventos intensos em superfície com velocidade igual ou maior que
48 kt (ou 25 m s-1, ou 90 km h-1);
(iii) granizo chegando à superfície com tamanho igual ou maior que 2
cm;
(iv) taxas muito altas de precipitação, causando inundações.
Dw ∂p
ρ = − − ρg (2.1)
Dt ∂z
, onde w é a velocidade vertical, Dw/Dt é a aceleração vertical acompanhando
uma parcela de ar, ρ é a densidade do ar, p é a pressão atmosférica e g é a
aceleração da gravidade.
p = p ( z ) + p ' ( x , y, z , t )
ρ = ρ (z) + ρ' ( x , y, z, t ) (2.2)
dp
= −ρg (2.3)
dz
O balanço hidrostático simplesmente impõe, na atmosfera em repouso, um
equilíbrio entre a força vertical do gradiente de pressão, que aponta para cima
(pois a pressão cai com a altura), e a força da gravidade, que aponta para baixo.
Dw ∂ ( p + p' )
( ρ + ρ' ) =− − ( ρ + ρ' )g ∴
Dt ∂z
Dw dp ∂p'
( ρ + ρ' ) =− − − ρ g − ρ' g ∴
Dt dz ∂z
Dw ∂p'
( ρ + ρ' ) =− − ρ' g ∴ (÷ ρ) obtemos:
Dt ∂z
Dw 1 ∂p' ρ'
=− − g
Dt ρ ∂z ρ
Mas como ρ' é muito menor do que ρ , podemos aproximar ρ por ρ acima
sem cometer um erro grande, obtendo-se:
Dw 1 ∂p' ρ'
=− − g (2.4)
Dt ρ ∂z ρ
(I) (II) (III)
acelerações verticais induzidas pelos dois termos do lado direito de (2.4). Por
exemplo, quando o gradiente vertical da perturbação de pressão é negativo ( p'1 <
p'2 ; Fig.2.2b) a aceleração vertical induzida é ascendente. Este será o caso
também quando a densidade da parcela de ar for menor do que a do ambiente ao
seu redor (ρ’ < 0, Fig. 2.2c).
O importante neste ponto é ter em mente que a equação (2.4) é uma “espinha
dorsal” da previsão convectiva, apesar disto ficar pouco explícito no dia-a-dia
da previsão.
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3. O CONCEITO DE FLUTUABILIDADE
APLICADO À CARACTERIZAÇÃO E
PREVISÃO DE TEMPESTADES.
Neste capítulo exploramos o conceito da flutuabilidade (o termo III da
equação (2.4)), o qual dá origem aos parâmetros de instabilidade (termodinâmica)
empregados na previsão de tempestades.
(a) (b)
Observação: Por que a umidade relativa (UR) não é uma boa medida de
quantidade de vapor d’água na atmosfera? Porque a UR é uma medida de
saturação do ar, e não de quantidade absoluta de vapor d’água suspenso. Por
exemplo, o ar com 100% de UR à 5ºC e à 1000 hPa possui uma wv de cerca de
5,4 g/kg, enquanto que o ar com 60% de UR à 30°C na mesma pressão
apresenta uma wv de aproximadamente 15,8 g/kg. Portanto, a disponibilidade
de vapor d’água no ar à temperatura de 5°°C com 100% de UR é menor do
que aquela observada no ar à 30ºC com 60% de UR.
Ainda assim, a UR será útil na previsão convectiva, mas nas situações em que
precisarmos saber se o ar está próximo ou não da saturação.
3 Como mencionado antes, existem algumas limitações importantes para a teoria da parcela
(EMANUEL 1994, ROGERS e YAU 1996, DOSWELL e MARKOWSKI 2004). Contudo, ela é útil em
fornecer um “limite superior” para a energia potencial disponível para convecção, representando
uma ferramenta operacional relevante.
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Note também que quanto mais inclinada para a esquerda estiver a curva de
temperatura na sondagem, mais instável está o ambiente. No caso (muito)
4Rigorosamente falando, uma parcela de ar úmido sub-saturada sendo levantada não se expande
seguindo exatamente uma curva adiabática seca. Só uma parcela de ar seco (i.e., literalmente
desprovida de vapor d’água) expandiria exatamente seguindo uma adiabática seca. Mas o erro
cometido por se desprezar o efeito do vapor d’água na taxa de resfriamento ou aquecimento de
uma parcela úmida sub-saturada sendo deslocada verticalmente na atmosfera é desprezível para
a maioria dos fins práticos, incluindo previsão do tempo (ver, p.ex., a discussão na Seção 4.2 de
EMANUEL (1994)).
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(a) (b)
3.2.3. Resumo:
(a) (b)
(c) (d)
(e) (f)
(a) (b)
Figura 3.10: (a) mesma sondagem da Fig.3.2, mas com a linha tracejada vermelha
ressaltando a curva pseudo-adiabática da parcela ascendente de superfície; (b)
mesma sondagem da Fig.3.2, mas com a curva de temperatura do ar modificada em
500hPa. Ver texto para detalhes. (Adaptado de www.weather.uwyo.edu/upperair).
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Figura 3.13: Diagramas skew-T de sondagens das 00Z de: (a) 09/10/2003 em Foz
do Iguaçu/PR, (b) 11/10/2003 em Manaus/AM. As linhas tracejadas mostram as
curvas pseudo-adiabáticas das parcelas de ar ascendentes de superfície, e os
respectivos NCE e NEQ também são destacados. As elipses vermelhas ressaltam a
inclinação da curva de temperatura da sondagem entre 600hPa e 500hPa.
(Diagramas adaptados de www.weather.uwyo.edu/upperair).
duas escolhas comuns são (CRAVEN et al. 2002): CAPE de uma parcela com
características médias (de temperatura e umidade) dos primeiros 50hPa, 75hPa
ou 100hPa da atmosfera (ou CAPE da camada de mistura; mixed layer CAPE;
CAPE_ME), e CAPE da parcela mais instável nos primeiros 300hPa da atmosfera
(most unstable CAPE; CAPE_MI) em outras palavras, identifica-se qual parcela
nos primeiros 300hPa gera a maior CAPE.
A condição (ii) é a que parece ser mais rigorosa, mas pode ser flexibilizada
de forma criteriosa (NASCIMENTO 2004). Já a condição (iii) não pode deixar de
ser satisfeita nunca, por isto sendo grifada. Na essência, é a condição (iii) que
define uma “sondagem de proximidade” para a previsão convectiva. O conceito de
“sondagem de proximidade” é válido não apenas para a análise termodinâmica do
ambiente pré-convectivo, mas também para a análise dinâmico-cinemática
(campo de vento). Esta é abordada no capítulo a seguir.
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4. A RELEVÂNCIA DO CISALHAMENTO
VERTICAL DO VENTO PARA A
PREVISÃO DE TEMPESTADES.
(a)
Tempo (min)
(b)
(c)
z
(a) (b)
Figura 4.3: Inclinação das correntes ascendentes na presença de cisalhamento
vertical do vento: (a) inclinação como função da intensidade do movimento
vertical; (b) diagrama mostrando a coexistência das correntes ascendente e
descendente sem implicação destrutiva para a convecção. (Adaptado do MetEd
Program, www.meted.ucar.edu).
u = u (z) + u ' ( x , y, z, t )
v = v' ( x , y, z, t ) (4.5)
w = w ' ( x , y, z, t )
Deste modo o estado básico (a escala sinótica) contém vento apenas na
direção zonal esta escolha é apenas uma conveniência para simplificar a
interpretação física! Note também que estamos impondo um cisalhamento
vertical do vento zonal na escala sinótica ( u ( z ) ,como ilustrado na Fig. 4.4), de
modo que du / dz ≠ 0 . Assim, podemos inferir que alguma vorticidade horizontal
será gerada nesta escala, por causa do termo ∂u/∂z em (4.4). Isto fica melhor
representado na Fig. 4.5, que mostra como a presença de CIS pode gerar
vorticidade horizontal.
Com a expansão indicada em (4.5) o termo de inclinação de vórtices (termo
I em (4.2)) pode ser escrito como:
r du ∂w '
ωH ⋅ ∇ H w ≈ (4.6)
dz ∂y
O termo ∂w'/∂y acima representa, fisicamente, uma corrente vertical
inserida no ambiente sinótico, e (4.6) torna-se uma forma mais simples de se
entender o processo de inclinação de vórtices.
1 2
Vetor CIS
3 4
SUPERCÉLULA
Figura 4.8: Uma
Mesociclone supercélula de baixa
precipitação nas planícies
centrais dos EUA. (Foto
de Howard H. Bluestein,
1990).
Mas pela equação da continuidade para o fluido incompressível (p.ex., eq. (2.55)
de HOUZE (1993)), o termo do lado esquerdo de (4.8) é zero. Portanto (4.8) reduz-
se a:
∂ r r
∇ 2 p' = ( ρ B) − ∇ ⋅ ( ρ V ⋅ ∇V) (4.9)
∂z
A equação (4.9) descreve a distribuição do campo de perturbação de
pressão ou seja, do campo de pressão dentro da célula convectiva em
função da distribuição vertical do campo de flutuabilidade (primeiro termo no
lado direito de (4.9)) e do divergente do campo de advecção (segundo termo no
lado direito de (4.9)). Podemos então separar estas duas contribuições para o
campo de p’ da seguinte forma:
∂u 2 ∂v 2 ∂w 2 ∂v ∂u ∂w ∂u ∂w ∂v
(∇ p')Din
2
= − ρ + + − 2 ρ
∂x ∂y ∂z ∂x ∂y
+
∂x ∂z
+
∂y ∂z
(4.11)
(∇2p')Din ∝ ζ2 (4.14)
Figura 4.9:
Esquema de uma
tempestade
hipotética
desenvolvendo-
se em um
meso ambiente
anticiclone sinótico onde o
vetor
cisalhamento
vertical do vento
gira com a
meso altura. (Original
ciclone por KLEMP
1987, adaptado
para o hemisfério
sul pelo presente
autor).
HEMISFÉRIO SUL
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5. REFERÊNCIAS.
BLANCHARD, D. O.: Assessing the vertical distribution of convective available
potential energy. Wea. Forecasting, v. 13, p. 870-877, 1998.
BLYTH, A. M.; COOPER, W. A.; JENSEN, J. B.: A study of the source of entrained
air in Montana cumuli. J. Atmos. Sci., v. 45, p. 3944–3964, 1988.
BROOKS, H. E.; LEE, J. W.; CRAVEN, J. P.: The spatial distribution of severe
thunderstorm and tornado environments from global reanalysis data. Atmos.
Research, v. 67-68, p. 73-94, 2003.
EMANUEL, K.: Atmospheric Convection. Oxford University Press, 580 pp., 1994.
HENRY, W.: The Skew-T, Log P Diagram. National Weather Service Training
Center, EUA, 68 pp.,1987.
MOLLER, A. R.: Severe local storms forecasting. In: Severe Convective Storms,
C. A. Doswell III (Ed.), Amer. Meteor. Soc. Monograph v. 28, n. 50, p. 433-480,
2001.