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Identificação de falhas de projeto e de execução na


alvenaria estrutural – Estudo de Caso
Suellen Silva de Melo Mesquita – suellen.mesquita@yahoo.com.br
MBA em Projeto, Execução e Desempenho de Estruturas e Fundações
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Rio de Janeiro - RJ, 21 de janeiro de 2020

Resumo
A alvenaria estrutural está sendo um sistema construtivo bastante empregado no
Brasil. Porém, apesar de ser um sistema construtivo bastante antigo, nota-se certa
dificuldade dos profissionais que executam esse tipo de estrutura, que se
evidenciam pela presença de várias falhas de projeto e construtivas. Este artigo tem
o objetivo de fazer o estudo de caso de um projeto de alvenaria estrutural de bloco
cerâmico de uma empresa de pequeno porte afim de identificar as falhas do projeto
e as suas consequências para a execução da obra, assim como apontar os
principais erros encontrados na fase de execução, comparando-os com os critérios
de aceitabilidade descritos pela literatura brasileira e apresentando sua contribuição
para evitar erros em projetos futuros. Os principais processos analisados foram a
compatibilização de projetos, suas interferência na execução, paginação,
alinhamento, desaprumo, grauteamento, espessuras de juntas, paginação, cortes
em paredes e utilização de ferramentas adequada. A análise foi realizada através de
dados obtida po robservação direta do processo construtivo. Através do estudo,
verificou-se que os técnicos não possuem conhecimento suficientes para esse tipo
de projeto e que os problemas enfrentados na execução estão intimamente
relacionados à má qualidade do projeto e à falta de gestão e coordenação do
mesmo.

Palavras-chave: Alvenaria Estrutural, Falhas de Projeto, Falhas de Execução.

1. Introdução
A alvenaria estrutural é um sistema construtivo antigo que passou por várias fases
de desenvolvimento. Tem-se constatado seu uso desde a antiguidade com inúmeros
marcos em diversas localidades, como a Pirâmide de Guinzé, Farol de Alexandria,
Coliseu, entre outros. A alvenaria desta época era executada sem nenhum
conhecimento científico ou algum embasamento matemático, onde somente notaram
que encaixando as pedras ou tijolos formariam paredes que lhes proporcionariam
proteção e conforto. No Brasil, as primeiras construções utilizando essa técnica são
da década de 60, atingindo seu auge duas décadas depois, com a construção dos
conjuntos habitacionais populares. Contudo, apenas em 1977 foi formada uma
comissão para criação de norma brasileira para projeto de alvenaria estrutural.
Devido ao grande potencial de redução de custos desse sistema, muitas
construtoras e fabricantes de blocos decidiram investir nessa tecnologia, porém, a
inexperiência dos profissionais dificultou a aplicação com as vantagens almejadas,
ocasionando várias patologias nas edificações e a desaceleração desse mercado
(SOARES, 2011).
Mesmo diante dessas dificuldades, motivadas pelos benefícios econômicos
proporcionados pela alvenaria estrutural, algumas construtoras continuaram no
sistema e buscaram soluções para as patologias. Com o desenvolvimento de
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pesquisas e a parceria de empresas do ramo, é possível ver nos últimos anos o


crescimento do número de obras em alvenaria estrutural, seja com blocos de
concreto ou com blocos de cerâmica vermelha (DALBONE, 2010).
Atualmente, o sistema construtivo em alvenaria estrutural está presente em
praticamente todo o Brasil, por ser um método racional, versátil e eficiente. Pode-se
observar que esse sistema está sendo escolhido por muitas construtoras para a
execução de prédios residenciais. O principal fator que influencia na tomada de
decisão na escolha do sistema estrutural mais adequado é procura de sistemas que
dê maior produtividade, qualidade, e um menor custo, mostrando um induzimento à
industrialização e conseqüentemente racionalização.
A partir da crescente demanda, há uma maior busca por novos e melhores conceitos
de funcionalidade no desenvolvimento de todas as esferas que envolvem a
construção civil e o processo de projetar. Para acompanhar as exigências do
mercado, a complexidade na produção dos projetos aumenta. Consequentemente
os conflitos entre os projetos surgem e, muitas vezes, as soluções finais adotadas
acabam sendo de responsabilidade indevida dos encarregados no canteiro de obras.
As falhas na execução de alvenaria estrutural e o surgimento de patologias podem
estar atrelados a um projeto deficiente que traz como consequência uma execução
também deficiente. Portanto, para usufruir das vantagens econômicas desse
sistema, é necessário que as diretrizes do processo construtivo, do projeto e da
execução sejam respeitadas (RAMALHO, 2003). Reforçando essa ideia, Roman et.
al. (1999) afirmam que para um empreendimento desse tipo ser vantajoso, ele deve
começar por um projeto adequado.
Nesse contexto, este trabalho tem por objetivo fazer um estudo de caso em uma
obra de alvenaria estrutural em blocos cerâmicos, localizado no interior do estado do
Rio de Janeiro, a fim de identificar as falhas de projeto e as suas consequências
para a execução da obra e também apontar os principais erros encontrados na fase
de execução a partir de um levantamento de campo, comparando com os critérios
de aceitabilidade descritos pelas normas nacionais.

2. Alvenaria estrutural – Conceituação básica


A alvenaria estrutural é um processo construtivo, no qual as paredes têm função
estrutural, ou seja, são autoportantes. Dessa maneira, fica encarregada da
transmissão das cargas até a fundação. Diferentemente da alvenaria convencional,
na qual essa é utilizada como elemento de vedação. Na alvenaria estrutural, a
resistência depende unicamente das unidades de alvenaria argamassadas. Que
podem ser compostas por: blocos de concreto, blocos cerâmicos ou, ainda, de tijolos
cerâmicos maciços. Todos com grande capacidade resistente à compressão. Essas
unidades devem agir como uma combinação íntegra para resistir aos esforços de
compressão e, de acordo com a conveniência do projeto, podem ser usadas barras
de aço. Estas se ligam à alvenaria por meio de grauteamento, para resistir a
esforços de tração e propiciar maior homogeneidade ao conjunto monolítico. (NETO,
2015)
Entretanto, este método não possui muita resistência à força cortante, nem à
grandes esforços de tração. Tais considerações indicam o uso da alvenaria
estrutural preponderantemente nas regiões geográficas mais estáveis, onde não
haja a possibilidade de ocorrência de abalos sísmicos, como é o caso do Brasil
(NASCIMENTO NETO, 1999).
Os principais componentes da alvenaria estrutural são os blocos, a argamassa, o
graute e as armaduras (construtivas ou de cálculo). É comum também a presença
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de elementos como: vergas, contravergas, coxins, enrijecedores e diafragma. Em


relação aos componentes, as principais funções de cada um deles são descritas a
seguir:
 Blocos – unidade básica que forma a alvenaria;
 Juntas de argamassa – componente utilizado na ligação entre os blocos;
 Graute – componente composto de cimento, cal e areia, podendo ser acrescido
de brita, utilizado para preenchimento de espaços vazios de blocos com a
finalidade de solidarizar a armadura à alvenaria ou aumentar sua capacidade
resistente;
 Viga ou verga – elemento estrutural, usualmente grauteado e armado, colocados
sobre os vãos de abertura com finalidade de resistir carregamentos;
 Contra verga - elemento estrutural, usualmente grauteado e armado, colocados
sob os vãos de abertura com finalidade de resistir tensões concentradas nos
cantos da abertura;
 Cinta de respaldo – elemento estrutural, usualmente grauteado e armado,
apoiado continuamente na parede, ligado ou não às lajes com finalidade de
distribuir cargas continuamente apoiadas sobre a parede, ou aumentar a
resistência da parede;
 Coxim – elemento estrutural, usualmente grauteado e armado, não contínuo
apoiado na parede para distribuir cargas concentradas.
 Enrijecedor – elemento usaualmente de alvenaria, vinclado a uma parede
estrutural com finalidade de enrijecer a direção perpendicular do seu plano.
 Diafragma – elemento estrutural laminar rígido em seu plano, sendo normalmente
a laje de concreto armado que distribui as ações horizontais para as paredes.
A alvenaria estrutural é um sistema construtivo racional, portanto mais econômico
que os sistemas construtivos tradicionais. A alvenaria estrutural é apropriada,
sobretudo, para edifícios em que o pavimento seja subdividido em ambientes cujas
dimensões fiquem em torno de 4 a 5m. Vãos moderados impedem o
desenvolvimento de cargas verticais excessivamente concentradas que, caso
ultrapassem a capacidade de carga da parede, ainda podem ser reforçadas
utilizando o uso de grautes nestes locais. O equilíbrio entre as orientações das
paredes, nas direções principais do edifício, deve compor um arranjo de tal maneira
que se obtenha, de um lado, o melhor desempenho da estrutura e, de outro, o
desenvolvimento adequado da resistência aos esforços horizontais em ambas as
direções.
O conveniente emprego desse sistema construtivo pode trazer as seguintes
vantagens técnicas e econômicas relacionadas por Camacho (2006) como:
 Redução de custos - a redução de custos que se obtém está intimamente
relacionada à adequada aplicação das técnicas de projeto e execução, podendo
chegar, segundo a literatura, até a 30%, sendo proveniente basicamente da:
simplificação das técnicas de execução e economia de formas e escoramentos.
 Menor diversidade de materiais empregados - reduz o número de subempreiteiras
na obra, a complexidade da etapa executiva e o risco de atraso no cronograma de
execução em função de eventuais faltas de materiais, equipamentos ou mão de
obra.
 Redução da diversidade de mão-de-obra especializada - necessita-se de mão-de-
obra especializada somente para a execução da alvenaria, diferentemente do que
ocorre nas estruturas de concreto armado e aço.
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 Maior rapidez de execução - essa vantagem é notória nesse tipo de construção,


decorrente principalmente da simplificação das técnicas construtivas, que permite
maior rapidez no retorno do capital empregado.
 Robustez estrutural - decorrente da própria característica estrutural, resultando
em maior resistência à danos patológicos decorrentes de movimentações, além
de apresentar maior reserva de segurança frente a ruínas parciais.
A principal desvantagem do uso de alvenaria estrutural é a limitação do projeto
arquitetônico pela concepção estrutural, que não permite a construção de obras
arrojadas. Outra desvantagem é a impossibilidade de adaptação da arquitetura para
um novo uso.

3. Estudo de Caso
3.1 Caracterização da obra estudada
O estudo de caso desse trabalho consiste na análise das falhas construtivas e de
projeto de alvenaria estrutural de bloco cerâmico de um empreendimento residencial
multifamiliar de médio padrão localizado no interior do estado do Rio de Janeiro. O
empreendimento é constituído por 3 blocos idênticos de 5 pavimentos (pavimento
térreo + 3 pavimentos tipos + cobertura). Cada pavimento possui 4 apartamentos
com tipologias iguais e parcialmente simétricos formados por cozinha e área de
serviço agrupadas, sala, quarto, suíte, banheiro social e varanda. Por bloco, são
edificados 16 apartamentos, totalizando 48 apartamentos e 4.239m² de área de
construção no empreendimento.

Figura 1 - Representação do pavimento Figura 2 - Visão geral da elevação da


tipo do empreendimento alvenaria estrutural
Fonte: Autor (2019) Fonte: Autor (2019)

3.2 Metodologia
Inicialmente, para o levantamento das falhas do projeto teve-se como base a
pesquisa bibliográfica acerca das normas e das melhores práticas dessa técnica. Em
seguida, fez-se a análise do projeto estrutural identificando suas falhas e
repercussões no processo construtivo. Para isso, foi analisado o conjunto de
projetos de alvenaria estrutural e sua interferência com os projetos de fundação,
arquitetura e instalações. É válido salientar que não faz parte deste trabalho a
análise dos cálculos estruturais.
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O levantamento das falhas de execução foi realizado através da observação direta


do autor no canteiro de obras. Esta é uma técnica que permite obter conhecimentos
em tempo real, e de tratar diretamente do contexto do evento (MAFFEZZOLLI e
BOEHS, 2008). A aplicação da técnica de observação direta permitiu verificar na
prática como os procedimentos de execução em alvenaria estrutural estavam sendo
desenvolvidos pelos funcionários.
Pelos métodos de estudo relacionados acima, foram diagnosticadas as falhas, assim
como as suas repercussões na execução da obra. Com posse das informações,
pode ser feita uma análise geral de quais erros executivos são mais incidentes no
sistema construtivo de alvenaria estrutural.

4. Falhas de Projeto
No projeto estrutural são definidas as solicitações da estrutura, o material dos blocos
a serem utilizados, espessuras das paredes, juntas de dilatação e controle,
elementos de reforço, modulação das paredes, especificações dos materiais e
detalhes construtivos que garantam a execução conforme as considerações de
cálculo do projetista. As especificações de projeto devem conter as resistências
características dos prismas e dos grautes, as classes das argamassas, assim como
a categoria, classe e bitola de aços a serem adotados. Os projetos estruturais de
alvenaria estrutural, diferentemente dos projetos usuais de concreto armado, devem
ser desenvolvidos com total interação dos diferentes tipos de projetos. O projeto de
alvenaria estrutural de blocos cerâmicos deve seguir os critérios normativos da NBR
15812-1.
A edificação em estudo foi projetada em alvenaria estrutural de blocos cerâmicos de
parede vazada, com resistência à compressão mínima de 3,0 MPa. A família dos
blocos utilizada é a que possui modulação 15 x 30. Os tamanhos dos blocos inteiros
são 14 x 19 x 29 cm (L x H x C). Também foram especificados em projeto a
argamassa de assentamento e graute com resistência mínima à compressão de 3,0
MPa e 15 MPa, respectivamente. O aço especificado foi CA-50 de bitola de 10mm
para pontos de grauteamento. Ao analisar o projeto de alvenaria estrutural deste
empreendimento, observou-se as falhas relatadas a seguir.

4.1 Falta de compatibilização de projetos


Na alvenaria estrutural existe uma forte interdependência entre os vários projetos
que fazem parte de uma obra (arquitetônico, estrutural, instalações), pois a parede
além da função estrutural é também um elemento de vedação e pode conter os
elementos de instalações quaisquer. A coordenação de projetos deve identificar as
interferências e as inconsistências entre todos os projetos que fazem parte do
projeto executivo geral, resolvendo conflitos de modo que não ocorram
improvisações na fase de execução da obra.
No estudo de caso, a indefinição do sistema construtivo no momento da elaboração
do projeto arquitetônico gerou consequências extremamente prejudiciais ao projeto e
execução da obra. Foi relatado que o projeto arquitetônico legal foi aprovado com
características não desenvolvidas para uma estrutura de alvenaria estrutural e sim
para estrutura de concreto armado. A seguir foram relacionadas as principais
interferências e incompatibilidades devido a falta de coordenação dos projetos.
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4.1.1 Alteração nas dimensões dos ambientes


Pode-se visualizar pela figura abaixo, exemplo de incompatibilização dos projetos
nas medidas internas dos quartos dos apartamentos. O projeto arquitetônico previu
paredes internas com dimensões de 10cm de espessura, enquanto o projeto
estrutural exigiu paredes de 14cm de espessura. Essa incompatibilização ocasionou
uma redução de área privativa das unidades habitacionais, onde por exemplo um
quarto perdeu 7cm de largura, como indica a Figura 3.

Figura 3 - Comparativo das dimensões dos ambientes entre os projetos de arquitetura e estrutural
Fonte: Autor (2019)

4.1.2 Modulação inadequada


A modulação da alvenaria é o acerto das dimensões em planta e do pé direito da
edificação, em função das dimensões dos blocos, de modo a se evitar cortes ou
ajustes na execução das paredes. No caso das dimensões do projeto arquitetônico
não serem modulares, quanto menor o módulo utilizado mais fácil será o ajuste
necessário. Portanto as dimensões múltiplas de 15cm são as mais adequadas.
Observando em elevação, a mesma parede do exemplo da figura acima, percebe-se
que as modulações dos blocos cerâmicos não se encaixam nas medidas projetadas
pela arquitetura, sendo necessário a inclusão de enchimentos de argamassas e/ou
pastilhas de ajuste na elevação da parede, que chegam a ter mais de 10cm de
comprimento. Para situações em que o enchimento indicado era maior que 5cm,
foram optadas execuções com pastilhas de ajustes de 4 e 9cm. A ausência de
modulação adequada também ocasionou paredes com “junta prumo”, sendo
necessariamente executado com amarração indireta, com telas de amarração.

Figura 4 - Parede projetada com modulação apresentando enchimentos em argamassas


Fonte: Autor (2019)
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Figura 5 - Parede projetada com " junta prumo"


Fonte: Autor (2019)

Figura 6 - Elevação de paredes com "junta prumo" (a esquerda) e


com preenchimento em pastilhas de ajuste (a direita)
Fonte: Autor (2019)

4.1.3 Pé direito
Também foi identificado falha na altura dos pavimentos. O projeto arquitetônico
indicava uma altura do pavimento de 2,80m (de piso a piso), enquanto o projeto
estrutural indicava 14 fiadas de blocos, totalizando 2,80m de piso a teto com laje
maciça apoiada sobre as cintas de respaldo. A consequência foi um aumento da
altura da laje (8cm) em cada pavimento, em relação ao projeto arquitetônico.

4.1.4 Ausência de detalhes de elétrica e hidrossanitária


A NBR 15812-1 (ABNT, 2010) não permite a passagem de fluidos embutidos nas
paredes de alvenaria estrutural, para tanto sugere a utilização de shafts que facilitam
a manutenção e concentram as tubulações ou a previsão de paredes não estruturais
com utilização de “blocos hidráulicos”, criando uma canaleta vertical para
embutimento da tubulação na própria parede.
Em relação às instalações elétricas, essas são distribuídas horizontalmente pela laje
e verticalmente podem ser embutidos nos dutos dos blocos estruturais. A instalação
dos pontos de luz e tomadas devem ser feitas através de blocos especiais elétricos,
que são fabricados com o corte de tamanhos variados das caixas de elétrica,
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conforme a necessidade. Esses blocos devem ser posicionados e indicados no


projeto de alvenaria afim de evitar que cortes no momento da execução.

Figura 7 - Blocos especiais para instalações elétricas e hidrossanitárias


Fonte: Autor (2020)

No projeto, objeto deste estudo, foi constatado que houve falha de comunicação
entre os projetos de instalações e alvenaria estrutural, pois não havia indicação de
nenhum tipo de instalação no projeto de alvenaria estrutural. Abaixo é listada as
principais complicações geradas a execução pela ausência de interação entre os
projetos.

 O shaft previsto no projeto de arquitetura e utilizado no projeto de instalações


hidrossanitárias para a prumada das tubulações de esgoto e águas pluviais foi
parcialmente ocupado por uma parede estrutural, conforme Figura 8, prejudicando
o posicionamento dos tubos e forçando um aumento do shaft na área de serviço.

Figura 8 - Demonstração da ocupação de elemento estrutural no shaft


Fonte: Autor (2019)

 A distribuição e coleta vertical das instalações hidrossanitárias até a rede


horizontal, foi projetada dentro das paredes de alvenaria, como mostra a Figura 9.
No entanto, no projeto de alvenaria estrutural não havia previsão de blocos
hidráulicos para embutimento da tubulação. Para solucionar o problema, foi
realizado um enchimento em alvenaria junto a alvenaria estrutural, sem função
estrutural, abaixo dos lavatórios de banheiro e pias de cozinha.
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Figura 9 - Detalhe construtivo das Figura 10 - Indicação da solução


instalações hidrossanitárias proposta com enchimento
Fonte: Autor (2019) Fonte: Autor (2019)

 No projeto de alvenaria estrutural não havia nenhuma indicação do


posicionamento das caixas de tomadas e interruptores, sendo impossibilitada a
execução com blocos especiais elétricos previamente fabricados com os cortes
das caixas afim de evitar os cortes após assentamento da alvenaria. Foi
necessário utilizar blocos estruturais tradicionais e posteriormente realizar o corte
na posição indicada no projeto de instalações elétricas.

4.2 Ausência de informações e detalhes

4.2.1 Locação dos pontos de graute na fundação


As ferragens dos pontos de graute da alvenaria estrutural armada são ancoradas na
fundação, nesse caso, a fundação foi projetada em radier sobre estacas. Porém, nas
plantas de locação do radier, esses detalhes não apareceram, conforme mostra a
Figura 11, fato que ocasionou problemas na execução dos pontos de graute do
térreo, na qual o radier foi concretado sem ser colocada a espera da ferragem.
Sendo necessário realizar a furação no radier, depois de concretado, com fixação a
base de epóxi. No projeto também não foi indicado o comprimento de ancoragem,
conforme Figura 12. Para contornar esse problema foi necessária a junção dos dois
projetos (fundação e alvenaria estrutural) e realizar a locações desses pontos na
planta de fundação para que a ferragem fosse colocada anteriormente à
concretagem do radier.
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Figura 11 - Ausência do Figura 12 - Ausência de locação da armadura na


comprimento de ancoragem das fundação
armaduras no projeto Fonte: Autor (2019)
Fonte: Autor (2019)

4.2.2 Aplicação da argamassa


Não foi encontrado no projeto informações sobre qual a forma de aplicação da
argamassa. A aplicação pode ser feita de duas maneiras. Uma forma é a aplicação
somente nas paredes longitudinais dos blocos e a outra forma é a aplicação nas
paredes longitudinais e transversais dos blocos. A orientação sobre a aplicação deve
estar contida no projeto, pois a aplicação apenas nas paredes laterais longitudinais
compromete aproximadamente 20% da resistência da parede, que deve ser
considerada pelo projetista.

Figura 13 - Formas de aplicação da argamassa


Fonte: Selecta (2020)

4.2.3 Cuidados na laje de cobertura


Não foi apresentado no projeto um detalhe construtivo na previsão de proteção da
laje de cobertura, através da utilização de apoio deslizante entre a parede do último
pavimento e a laje de cobertura, afim de evitar fissuras nas paredes do último
pavimento, provocadas pela movimentação térmica da laje. Neste caso, as paredes
do último andar devem ficar separadas da laje, de maneira a permitir que a mesma
se movimente sobre a parede.
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Figura 14 - Detalhe construtivo para as lajes de cobertura


Fonte: Selecta (2020)

4.3 Falha Estrutural


Identificou-se uma incoerência estrutural e executiva na região das portas das
varandas dos apartamentos, onde havia esquadria de 2,40m de altura por 2,60 de
largura, ocupando todo o vão de abertura entre a sala e a varanda, e logicamente
não havendo elevação de alvenaria nesse local. No entanto, na planta de forma das
lajes, havia uma indicação de apoio nessa região para as lajes adjacentes (salas e
varandas), sendo a laje da varanda, em balanço. Na Figura 15, é possível identificar
a região em questão, identificada como “parede 9”.

Figura 15 - Localização da Parede 9


Fonte: Autor (2019)

No projeto estrutural, na parede 9 (PAR9), na região do vão da esquadria foi prevista


uma cinta de respaldo com bloco canaleta, com a ferragem típica da cinta (1 φ 10.0)
e abaixo da mesma foi incluso uma argamassa de ajuste com 16cm de espessura,
conforme Figura 16.
Em análise crítica do projeto, houve o questionamento ao projetista estrutural sobre
a ineficiência do apoio, que alterou o projeto com a exclusão da cinta e argamassa
de ajuste e a inclusão de viga de concreto armado com dimensões de 14x40cm, no
vão entre a sala e a varanda
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Figura 16 - Projeto Estrutural da parede 9 (elevação e planta)


Fonte: Autor (2019)

Figura 17 - Vigas de concreto armado executadas


em substituição as cintas de respaldo
Fonte: Autor (2019)

5. Falhas de Execução
Nota-se um número considerável de falhas executivas na alvenaria estrutural, sendo
a maioria delas provenientes da falta de orientação, conhecimento ou de
acompanhamento. Essas falhas, além de geralmente colocarem toda a qualidade do
processo em risco, comprometem a economia que se esperava com a utilização da
alvenaria estrutural. São citados abaixo os principais erros encontrados na fase
executiva da alvenaria da obra estudada:
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5.1 Espessura e preenchimento das juntas


Uma falha muito frequente é a variação e o preenchimento incompleto e irregular
das juntas de argamassas na alvenaria estrutural. Segundo Roman et al (1999), o
não preenchimento das juntas verticais tem pequeno efeito na resistência à
compressão, mas afeta a resistência à flexão e ao cisalhamento da parede, afetando
também a deformabilidade das paredes, principalmente em prédios de maior altura
(mais de 5 pavimentos). Com relação ao preenchimento inadequado das juntas
horizontais, esse procedimento leva à diminuição da resistência à compressão da
alvenaria.
A NBR 15812-2 (ABNT, 2010) especifica que as juntas horizontais e verticais devem
ter espessura máxima de 10mm, com tolerância para mais ou menos 3mm. As
juntas da primeira fiada devem estar no limite entre 5mm e 20mm, tolerado 30mm
em situações especiais descritas na norma.
Na obra estudada foram diagnosticadas frequentemente falhas em relação ao
preenchimento total da junta, assim como sua espessura. Também foram
identificadas falta de juntas verticais em algumas paredes. Na primeira fiada, houve
local, onde a junta superou os 20mm permitidos pela norma, chegando a obter
30mm.
Além de falhas de dimensões da junta, observou-se falta de limpeza das sobras de
argamassa gerando grande número de rebarbas. Essas falhas foram mais comuns
nas fiadas 9 para cima.

Figura 18 - Exemplos de falhas de juntas identificadas na obra:


(a) junta de controle com espessura maior que 10mm; (b) falta de preenchimento de junta de controle;
(c) falha na espessura das juntas de assentamento e controle
Fonte: Autor (2019)

5.2 Desaprumo e desalinhamento


Nos casos em que o prumo de uma parede não é mantido, além de aparecem
excentricidades nesta parede, o que acarretará uma redução da resistência à
compressão da alvenaria, ainda tem-se um gasto maior nas etapas sucessoras,
onde será feita a “correção” pelo incremento na espessura do revestimento.
Os limites máximos de desaprumo e desalinhamento de parede na NBR 15812-2
(ABNT, 2010) são demonstrados na Figura 19 e os limites de descontinuidade
máxima das paredes entre os pavimentos, na Figura 20.
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Figura 19 - Limites máximos para desaprumo Figura 20 - Limites de descontinuidade


e desalinhamento de parede máxima das paredes entre os pavimentos
Fonte: ABNT (2010) Fonte: ABNT (2010)

Falhas de desaprumo na parede foram constatados com pouca frequência e não


ultrapassaram o limite estabelecido pela norma de 13mm. Os desalinhamentos de
parede também ocorrerem com pouca frequência, mas apresentaram-se acima dos
limites estabelecidos pela norma, com desalinhamentos que chegaram a 15mm em
3m. Algumas paredes que apresentaram falhas de desalinhamento ou esquadro
foram demolidas para reconstrução em condições perfeitas de alinhamento.

Figura 21 - Parede com falha no desalinhamento


Fonte: Autor (2019)

5.3 Cortes em paredes


Os cuidados com as instalações elétricas e hidrossanitárias em alvenaria estrutural
são fundamentais para o desempenho adequado da mesma. Deve-se evitar que
sejam efetuados cortes posteriores, que causam desperdício e redução na
resistência da alvenaria, podendo comprometer seriamente o desempenho desta.
Sobre cortes na alvenaria estrutural, a NBR 15812-1 (ABNT, 2010) descreve as
seguintes orientações:
“Não é permitido corte individual horizontal de comprimento superior a 40
cm em paredes estruturais; Não são permitidos cortes horizontais em uma
mesma parede cujos comprimentos somados ultrapassem 1/6 do
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comprimento total da parede em planta; Cortes verticais, de comprimento


superior a 60 cm, realizados em paredes definem elementos distintos.”
(ABNT, 2010)

As ocorrências de cortes verticais nas paredes estruturais foram relatadas na


execução das instalações hidrossanitárias, cujo projeto não havia compatibilização
com o de alvenaria estrutural. Foram realizados cortes verticais com altura de até
60cm em pontos de instalação de lavatórios da pias de alguns banheiros, pontos
de água do vaso sanitário e ducha higiênica (Figura 22a). Na cozinha, foi relatado
corte superior a 60cm de altura para instalação de filtro de água (Figura 22c). Após
as ocorrências, foram implementadas soluções com enchimentos junto a parede
estrutural para evitar os cortes nas paredes estruturais.
Também foram relatados rasgos para as instalações de ar condicionado (Figura
22b).O corte horizontal foi de 30cm e o corte vertical de 40cm. Ainda que as
dimensões dos cortes estejam dentro dos limites aceitáveis pela norma, o corte é
altamente não recomendado.
Outro detalhe observado foi a característica do o corte, onde não foi utilizada
ferramenta adequada para sua realização.

Figura 22 - Cortes na alvenaria estrutural: (a) em banheiros para instalações hidrossanitárias; (b) na
suíte para instalação de ar condicionado; (c) na cozinha para tubulação do filtro de água
Fonte: Autor (2019)

5.4 Graute
Em relação ao graute, foram identificados as seguintes falhas:

5.4.1 Resistência do graute abaixo do projetado (15MPa)


Através do controle tecnológico do graute obteve-se os resultados de resistência dos
corpos de prova de graute. Os resultados dos Cp´s de um determinado traço
aplicados no 2º pavimento Bloco A foram inferiores ao previsto, atingindo resistência
à compressão, aos 28dias, de 11MPa. A produção do graute era realizada na obra
e sua dosagem especificada por profissional capacitado. Comparado resultados dos
testes dos demais pavimentos, observou-se que o traço que não atingiu a
resistência foi um caso isolado e supõe-se que a causa desse fato foi um erro do
operador no momento da dosagem daquele determinado traço.

5.4.2 Lançamento do graute


A NBR15812-2 (ABNT, 2010) permite uma altura máxima de lançamento de graute
de 2,80m, desde que ele seja devidamente aditivado e garanta a coesão sem o
efeito de segregação. No entanto, recomenda que o lançamento seja realizado em
duas etapas e com alturas que não superem a 1,60m, sendo o primeiro lançamento
16

na altura da contra-verga. Na obra em questão os lançamentos foram realizados em


2 etapas com altura de 1,80 no primeiro lançamento, com a elevação de 9 fiadas
para a introdução do graute nos dutos dos blocos, não seguindo os critérios
recomendados.
A indicação da NBR 15812-2 (ABNT, 2010) é que sejam executados furos de
dimensões mínimas de 7,5 cm de largura por 10 cm de altura ao pé de cada vazio a
grautear. O objetivo é utilizar estes furos para retirar todo material estranho presente
no fundo dos vazios verticais a serem grauteados. Observou-se que foram
realizadas as visitas e a limpeza nos pontos a serem grauteados, contudo ainda
foram localizadas rebarbas de argamassa nas paredes interiores dos blocos
excedentes a 13mm, que é a quantidade aceitável pela norma.

Figura 23 - Excedente de Argamassa nas paredes internas dos blocos


Fonte: Autor (2019)

5.4.3 Falhas de grauteamento


Quando o grauteamento não é realizado corretamente, podem surgir pontos falhos
na alvenaria, que não só são difíceis de detectar, como enfraquecerá um ponto que
foi considerado reforçado pelo projetista. Como forma de inspeção, nesta obra foi
realizada uma investigação com furos em todos os blocos que deveriam conter
graute, afim de identificar algum vazio não preenchido pelo material. Em cada
pavimento tipo deste projeto, existiam 105 pontos de grauteamento. No primeiro
pavimento executado, foram identificadas falhas de grauteamento em 22 pontos, ou
seja, 20,9% dos pontos não estavam totalmente preenchidos, sendo necessário
refazer o preenchimento. No decorrer da execução dos pavimentos, as falhas
reduziram-se consideravelmente, como mostra a Tabela 1, representado pelas
falhas de grauteamento do Bloco A;

Pavimento Pontos com falhas % de erro


de grauteamento
TÉRREO 22 20,9%
1º PAVTO 7 6,7%
2º PAVTO 3 2,9%
3º PAVTO 4 3,8%
Tabela 1 - Falhas de grauteamento identificadas no Bloco A
Fonte: Autor
17

Figura 24 - Falhas de grauteamento identificadas após inspeção


Fonte: Autor (2019)

5.4.4 Posição da armadura


Em relação a posição da armadura, pôde-se detectar falhas no seu posionamento
no momento do grauteamento, onde a mesma deve-se manter na posição
especificada em projeto (no centro do duto do bloco). Para garantir a posição, é
indicada a utilização de espaçadores, arames, estribos ou tarugos. Na Figura 25,
percebe-se a posição descentralizada da armadura e a ausência de espaçadores.

Figura 25 - Posição irregular da


armadura pontos de grauteamento
Fonte: Autor (2019)

5.5 Marcação, Modulação e locação das armaduras


A marcação da alvenaria define a precisão geométrica do conjunto. É na marcação
que a atenção deve ter maior prioridade. A elevação só deve ser executada após a
liberação e conferências da marcação da primeira fiada. Parsekian (2010) sugere
que a marcação deva ser iniciada por blocos estratégicos, que são blocos de canto,
de encontros de parede e blocos determinantes das aberturas de portas que servem
de referência para o assentamento dos demais blocos, conforme representação
genérica da Figura 26. Após o assentamento, nivelamento e aprumo dos blocos
estratégicos, inicia-se a marcação da primeira fiada conforme o projeto. Nesse
momento é imprescindível que a armadura esteja fixada no local correto do ponto de
graute, coincidindo com a modulação dos blocos.
18

Figura 26 - Modelo de marcação com blocos estratégicos


Fonte: Selecta (2020)

Na análise da obra em estudo, observou-se a não utilização da marcação por meio


dos blocos estratégicos. Foram relatadas marcações em desobediência à paginação
especificada no projeto de primeira fiada, exemplificado na Figura 28, onde há um
erro no posicionamento da paginação dos blocos, que acarretou no posicionamento
incorreto da armadura. Toda marcação precisou ser reposicionada conforme as
indicações do projeto. Em outras situações, houve de fato, um mau posicionamento
da armadura em relação ao duto do bloco (Figura 29). Nesses casos, a tendência
dos operários era entortar a armadura afim de reposicionar no local correto, prática
fortemente vetada pela NBR 15812-2.

Figura 27 - Realização da marcação da alvenaria estrutural


Fonte: Autor (2019)

Figura 28 - Marcação incorreta da paginação dos Figura 29 - Armadura entortada


blocos ocasionando posição de armadura em Fonte: Autor (2019)
duto impróprio para graute.
Fonte: Autor (2019)
19

5.6 Ausência de ferramentas adequadas


A utilização de ferramentas adequadas à produção da alvenaria serve tanto para dar
mais agilidade na execução do serviço, evitar desperdícios de materiais, como
também para que o serviço seja executado com qualidade, onde terão função de
garantir as tolerâncias esperadas para os prumos, nível, alinhamento, planicidade e
também para manuseio correto dos materiais.
Parsekian (2010) afirma que a qualidade da alvenaria, depende, em grande parte,
das condições que são dadas para sua execução. O autor ainda sugere a utilização
das seguintes ferramentas tradicionais: colher de pedreiro, prumo de face, linha de
“nylon”, fio traçante, trena de aço, brocha, marreta, talhadeira, esquadro metálico e
pá de bico. E ferramentas específicas: andaime regulável, bisnaga ou colher meia
cana ou paleta, escantilhão, nível alemão, régua de prumo, carrinho porta-masseira
com regulador de altura, balde para graute, gabarito de portas e janelas.
Foram relatados a falta de uso das seguintes ferramentas: nível alemão (utilizado o
nível de mangueira), escantilhão, carrinho porta-masseira com regulador de altura
(utilizada masseira tradicional), balde para graute, (utilizado balde comum) e
gabarito de portas e janelas. A ausência de tais ferramentas comprometeu a
qualidade e produtividade da execução da alvenaria como relatado nos itens já
relacionados no desenvolvimento desse trabalho.

Figura 31 - Ausência de gabarito nos vãos de


janelas
Figura 30 - Ausência de ferramentas apropriadas Fonte: Autor (2019)
Fonte: Autor (2019)

6. Conclusão
Diante do estudo realizado é possível afirmar que a obra objeto deste estudo de
caso reflete um cenário comum quanto às dificuldades na execução de projetos de
alvenaria estrutural, visto que os problemas identificados se assemelham aos
encontrados em outros trabalhos acadêmicos.
Durante a análise dos projetos, observou-se que já nesta etapa do trabalho as falhas
construtivas poderiam ser prevenidas com a existência de detalhes construtivos nos
projetos. Na análise das técnicas construtivas verificou-se, também uma série de
erros cujos mais ocorrentes foram os desalinhamentos, desaprumos, erros de
paginação, o não preenchimento de juntas com a argamassa, falta de padronização
quanto às espessuras dessas juntas, falhas de grauteamento e cortes em paredes.
Uma causa importante que ocasionou a maioria desses erros foi a falta de utilização
de ferramentas adequadas e padronizadas, acrescida do o emprego de mão-de-obra
20

pouco qualificada e preparada para esse tipo específico de sistema construtivo.


Além disso, pode-se dizer que a falta de experiência e de conhecimento acerca da
alvenaria estrutural provavelmente colaborou para a ocorrência das falhas.
Quanto às dificuldades em relação à incompatibilização de projetos, fica perceptível
que para atingir a verdadeira eficácia do projeto de alvenaria estrutural é
imprescindível investir na elaboração de um bom projeto e na sua gestão e
coordenação adequadas, assim como a interação com os demais projetos do
empreendimento, aliando a isso a capacitação do corpo técnico envolvido no
processo construtivo. Dessa forma, essa técnica construtiva deixará de ser um
entrave, tornando-se de fato uma solução. Na obra em questão o projeto
arquitetônico foi concebido sem característica de um sistema construtivo de
alvenaria estrutural, e posteriormente projetado estruturalmente em alvenaria, sem a
compatibilização com os projetos de arquitetura e instalações gerais antes da
liberação dos mesmos para execução. Esse foi um fator determinante para acarretar
inúmeras inconsistências, retrabalhos e improvisos na execução da obra, onde
certamente não houve atribuição ao construtor das vantagens oferecidas por esse
sistema.
A fase de projeto representa uma grande parcela no sucesso de um
empreendimento, pois, além de definir sua qualidade, está relacionada diretamente
com a redução de falhas resolvidas em fase de execução e com isso pode-se
concluir que a metodologia da alvenaria estrutural, quando usada de forma correta
com integração total entre as partes envolvidas e, respeitando suas restrições é um
método bastante ágil, limpo e lucrativo de se construir.
Fica também patente a necessidade de serem introduzidos mecanismos que
permitam que a correção e prevenção dos problemas de construtibilidade sejam
efetivamente incorporados às rotinas de gestão da empresa, por meio de
mecanismos de revisão de padrões técnicos, escolha de empreeiteiros melhores
qualificados, inclusão de ferramentas apropriadas e apropriação das experiências
adquiridas em cada novo empreendimento.

Referências

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15812-1:


Alvenaria Estrutural – Blocos Cerâmicos Parte 1 - Projetos. Rio de Janeiro, 2010.

ABNT, ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15812-2:


Alvenaria Estrutural – Blocos Cerâmicos Parte 1 – Execução e Controle de obras.
Rio de Janeiro, 2010.

CAMACHO, Jefferson Sidney. Projeto de Edifícios de Alvenaria Estrutural.


NEPAE - Núcleo de Ensino e Pesquisa de Alvenaria Estrutural. São Paulo: UNESP,
2006.

DALBONE, A. R. Patologias em prédio de alvenaria estrutural - inspeção de


curta duração. Engenharia Estudo e Pesquisa. Centro de Tecnologia. Universidade
Federal de Santa Maria, 2010.

MAFFEZZOLLI, E. C. F.; BOEHS. Uma reflexão sobre o estudo de caso como


método de pesquisa. Rev. FAE, Curitiba, 2008.
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NASCIMENTO NETO, J. A.; CORRÊA, M. R. S.; RAMALHO, M. A. Investigação


das solicitações de cisalhamento em edifícios de alvenaria estrutural
submetidos a ações horizontais. 127f. Dissertação (Mestrado) - Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1999

NETO, Álvaro Pereira do Prado; PELUSO, Edgard de Oliveira; CARVALHO, Valdinei


Tadeu Alves de. Alvenaria Estrutural. 59f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Graduação) – Universidade Federal de Goiás, 2015.

PARSEKIAN, Guilherme Aris; SOARES, Márcia Melo. Alvenaria Estrutural em


blocos cerâmicos: projeto, execução e controle. São Paulo: O Nome da Rosa,
2010.

RAMALHO M. A. & CORRÊA, M. R. S. Projeto de edifícios de alvenaria


estrutural. São Paulo: Editora PINI, 2003.

ROMAN, H. R.; MUTTI, C.N.; ARAÚJO, H.N. Construindo em alvenaria estrutural.


Florianópolis: Ed. UFSC, 1999.

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Disponível em < http://www.grupoestrutural.com.br/selecta/guia-tecnico/>. Acesso
em 20 jan. 2020.

SOARES, S. M. B. Apostila Alvenaria Estrutural. Pontifícia Universidade Católica


do Rio Grande do Sul – PUCRS, 2011. Disponível em:
<http://www.feng.pucrs.br/professores/soares/Topicos_Especiais_-_Alvenaria_
Estrutural/Alvenaria_1_NOVA_VERSAO.pdf>. Acesso em: 02 jan. 2020.

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