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net/publication/317014058
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All content following this page was uploaded by Ramon Sade Zapata Rivas on 19 May 2017.
RESUMO
ABSTRACT
The peak flow frequency analysis is critical for the design of hydraulic structures,
especially for dam’s spillways. Overall, the maximum streamflow is evaluated by
stochastic methods using statistical distributions for extrapolation to the recommended
return periods. The aim of this paper is evaluate changes on frequency peak flows to
update hydrologic data by including post construction period. The Case Study has
done at Salto Curucaca Powerplant’s Dam in the Jordão River. The peak streamflow
adjust was made by Gumbel distribution and non - stationarity indications has been
confirmed by the Student's t distribution test. The review indicated an increase of 124%
of design flow in the period that the dam was designed and constructed, justifying the
importance of periodic review of maximum flows to already built dams.
O escoamento superficial como parte do ciclo hidrológico tem conceito geral simples,
que corresponde basicamente ao movimento das águas na superfície terrestre.
Porém, integrar, de modo determinístico, todas as variáveis envolvidas no processo
em um modelo hidrológico, eleva o problema a um nível de complexidade que
impossibilita uma modelagem precisa em macro escala, em função das infinidades de
interações e incertezas envolvidas entre as variáveis. Como alternativa para
determinar os processos hidrológicos faz-se o uso de modelos estocásticos.
Tais modelos são comumente utilizados em projetos de engenharia, onde se estimam
a probabilidade de ocorrência de vazões máximas ou vazões de enchentes,
necessárias para embasar o correto dimensionamento hidráulico de estruturas de
condução, retenção e extravasamento de cheias, em especial para as barragens.
Quando se configura um eixo de barramento em um corpo hídrico,
independentemente do tamanho e finalidade, a integridade e segurança da obra é
diretamente relacionada à capacidade da estrutura civil em suportar os eventos
excepcionais de vazão a que estará sujeita ao longo da sua vida útil.
Para conhecimento e minimização dos riscos, na fase de projeto, são aplicados
métodos de estimativa de vazões máximas com base em históricos diários de registro
de dados hidrometeorológicos mais extensos e relevantes possíveis, de modo a se
obter estatisticamente a regionalização das vazões para o eixo de interesse.
Ocorre que, após a instalação da obra, possíveis mudanças climáticas e uso e
ocupação do solo, podem alterar significativamente o regime do rio caracterizado pelo
monitoramento do período anterior a consolidação do projeto. De tal modo que se
justifica a revisão periódica dos estudos hidrológicos e de todos os demais aspectos
relacionados à segurança de barragens.
A reavaliação no estudo de frequência de vazões máximas para uma barragem
existente fundamenta-se na possibilidade de identificar tendências ou saltos no
comportamento hidrológico que possam levar a uma eventual vulnerabilidade ou ruína
da obra. Mais especificamente, permitiria a quantificação periódica do risco
relacionado à falha hidrológica. Tal conhecimento pode auxiliar o proprietário na
tomada de decisão quanto a intervenções que venham a ser necessárias.
O que se pretende abordar nesta pesquisa é a revisão da frequência de vazões
máximas para uma usina existente a partir da atualização do histórico de vazões
provenientes do monitoramento do rio no período pós-construção. Para tal objetivo,
foi realizado um estudo de caso na barragem da usina UHE Salto Curucaca, no Rio
Jordão, Estado do Paraná, em função do evento extremo de chuva e vazão ocorrido
no ano de 2014, especialmente com maior intensidade na bacia do rio Iguaçu.
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Os processos hidrológicos são aleatórios. Isto significa que suas realizações não
podem ser conhecidas. Por exemplo, não é possível saber qual a evolução dos valores
de temperatura, vento, insolação, precipitação, evaporação, vazão em determinada
seção fluvial, ao longo do tempo ou do espaço. Diante disso, desde o instante em que
o ser humano buscou planejar seus empreendimentos ele se preocupou em
estabelecer instrumentos para o tratamento da aleatoriedade (TUCCI, 2002) [8].
Segundo TUCCI (2002) [4] a quantificação dos processos hidrológicos depende da
observação das variáveis que os descrevem ao longo do tempo. Essas variáveis
possuem comportamento estocástico e necessitam de amostras confiáveis e
representativas para a sua estimativa.
Para que uma série de dados seja considerada adequada TUCCI (2007) [1] admite os
seguintes princípios básicos: (1) as séries de vazões devem ser homogêneas ou
estacionárias, ou seja, as suas estatísticas não variam com o tempo; (2) as amostras
utilizadas devem ser estatisticamente representativas.
A previsão estatística das vazões máximas é realizada pelo ajuste de uma distribuição
aos valores máximos anuais. O ajuste de uma distribuição teórica a uma distribuição
empírica de probabilidades é, na sua essência, a determinação dos valores
adequados dos parâmetros de forma que a primeira se torne a mais idêntica possível
à segunda. (TUCCI, 2002) [8].
Um modelo de distribuição de probabilidades é uma forma matemática abstrata, a
qual, por suas características intrínsecas de variabilidade e conformação, devem ser
capazes de representar, de modo conciso, as variações possíveis de uma variável
aleatória. Um modelo de distribuição de probabilidades também é uma forma
paramétrica, ou seja, um modelo matemático prescrito por parâmetros, cujos valores
numéricos o definem completamente e o particularizam para uma certa amostra de
observações de uma variável aleatória (NAGUETTINI & PINTO,2007) [9].
Cheias resultam na natureza da interação de fenômenos altamente complexos e ainda
não completamente entendidos, como chuvas intensas e sua variabilidade espacial e
temporal combinadas com a resposta não linear e variável da bacia de drenagem.
Desta forma imagina-se que a verdadeira distribuição de probabilidades de vazões de
enchente seja complexa e com parâmetros demais para ser de uso prático. Daí resulta
que na prática a distribuição adotada para descrever as vazões máximas de um rio
nunca é a verdadeira, mas sim uma distribuição substituta razoavelmente simples.
(SANTOS, 2012) [5].
Segundo NAGUETTINI & PINTO (2007) [9], a distribuição de Gumbel é a distribuição
extremal mais utilizada na análise de frequência de variáveis hidrológicas, com
inúmeras aplicações, entre elas o estudo de vazões de enchentes. Trata-se de uma
distribuição assintótica com exponencial dupla. Esta distribuição foi utilizada neste
trabalho para estimativa das vazões máximas para diversos períodos de retorno. A
função de probabilidades acumuladas da distribuição de Gumbel é dada por:
𝑦−𝛽
𝐹𝑦(𝑦) = 𝑒𝑥𝑝 [−𝑒𝑥𝑝 (− 𝛼
)] (1)
Onde 𝑋̅ e 𝑌̅ são as médias das amostras; 𝑆𝑥2 e 𝑆𝑦2 são as respectivas variâncias
amostrais e 𝑛 e 𝑚 são os tamanhos das amostras.
Este valor pode ser comparado ao t crítico da distribuição de Student e a hipótese nula
é aceita se 𝑡 < 𝑡 crítico.
Guarapuava
𝑄 = 𝑎. (ℎ − ℎ0 )𝑏 (4)
Selecionaram-se as vazões máximas diárias para cada ano em cada estação. A partir
destes dados compôs-se a série de vazões máximas para o eixo da UHE Salto
Curucaca seguindo o seguinte critério de prioridade e disponibilidade de dados.
Para regionalização os dados da estação Santa Clara foram corrigidos pela relação
entre áreas de drenagem conforme equação a seguir.
𝐴𝑑𝐶𝑈𝑅
𝑄𝐶𝑈𝑅 = 𝐴𝑑𝑆𝐶
. 𝑄𝑆𝐶 (5)
Onde 𝑄𝐶𝑈𝑅 é a vazão no eixo da UHE Salto Curucaca; 𝑄𝑆𝐶 é a vazão no eixo da
estação Santa Clara, 𝐴𝑑𝐶𝑈𝑅 é a área de drenagem da estação Salto Curucaca e 𝐴𝑑𝑆𝐶
é a área de drenagem da estação Santa Clara.
Apesar da simplicidade da metodologia de transferência, comparando-se os períodos
comuns de observação pode-se verificar que as vazões obtidas a partir da estação
Santa Clara são muito próximas daquelas observadas na estação Salto Curucaca
Jusante com erro médio de 5% e não sistemático.
Durante a passagem da cheia de 2014 mediu-se o nível do reservatório e pela carga
imposta determinou-se hidraulicamente a vazão vertida, a qual resultou em 2509 m³/s,
que corrigida pelo fator de Fuller para abater o pico resultou em 1896,20m³/s.
A série de vazões máximas para o eixo da UHE Curucaca a partir das estações de
origem é apresentada na Tabela 1.
Ad (km²) 2220 2220 3930 2220 Ad (km²) 2220 2220 3930 2220
Ano Vazões Máximas Anuais (m³/s) Ano Vazões Máximas Anuais (m³/s)
1950 504,20 284,82 1984 662,40 374,18
1951 476,90 269,39 1985 414,50 234,15
1952 578,60 326,84 1986 449,60 253,97
1953 512,00 289,22 1987 1449,00 818,52
1954 1081,00 610,64 1988 666,60 376,55
1955 1009,00 569,97 1989 464,40 854,80 464,40
1956 535,40 302,44 1990 334,90 662,40 334,90
1957 908,60 513,25 1991 317,30 604,20 317,30
1958 457,40 258,38 1992 1446,80 2536,10 1446,80
1959 437,90 247,36 1993 647,50 941,20 647,50
1960 319,57 615,00 319,57 1994 232,60 625,80 232,60
1961 186,73 488,60 186,73 1995 736,25 1178,10 736,25
1962 173,85 473,00 173,85 1996 360,80 641,40 360,80
1963 244,61 461,30 244,61 1997 523,20 865,60 523,20
1964 277,55 449,60 277,55 1998 1086,40 1396,50 1086,40
1965 332,31 782,80 332,31 1999 356,20 805,60 356,20
1966 319,57 434,00 319,57 2000 588,00 995,80 588,00
1967 165,60 322,60 165,60 2001 325,00 629,40 325,00
1968 108,77 163,80 108,77 2002 296,40 263,88 607,80 296,40
1969 219,23 395,00 219,23 2003 229,30 208,76 500,30 229,30
1970 512,40 574,00 512,40 2004 293,10 261,08 533,45 293,10
1971 401,08 738,00 401,08 2005 399,90 354,42 675,00 399,90
1972 642,57 724,80 642,57 2006 165,45 165,45
1973 603,37 683,20 603,37 2007 529,20 529,20
1974 191,17 476,90 191,17 2008 404,50 404,50
1975 454,47 746,80 454,47 2009 418,30 418,30
1976 313,32 469,10 313,32 2010 543,60 543,60
1977 124,84 251,80 124,84 2011
1978 173,85 523,70 173,85 2012 703,76 703,76
1979 603,37 662,40 603,37 2013
1980 446,57 649,80 446,57 2014 1896,20
1981 267,64 418,40 267,64
1982 667,06 1126,50 667,06
1983 1418,79 3157,80 1418,79
Uma vez composta a série de vazões máximas anuais, inicialmente fez-se uma
avaliação se tais dados atendem aos critérios de independência, estacionariedade e
representatividade.
Segundo TUCCI (2002) [4], os eventos são considerados independentes quando não
existe correlação entre os valores da série. No caso de vazões extremas, a
independência significa que não existe correlação entre um pico de vazão e os
eventos que o sucederam. No caso deste estudo, o próprio intervalo anual justifica a
independência.
A representatividade está associada, entre outros, ao tamanho da amostra. Pequenas
amostras podem estar sujeitas a tendências sazonais e, portanto, não seriam
representativas da população. Não é o caso, pois os registros acessados para a
realização deste trabalho permitiram a composição de uma série de 63 anos de dados.
Segundo TUCCI (2002) [4], uma série de vazões é estacionária quanto não ocorrem
modificações nas características estatísticas de sua série ao longo do tempo. Cita
ainda que uma série também pode possuir características não-estacionárias quando
a amostra não é suficientemente representativa.
Conforme proposto no trabalho de TOZZI (2014) [10], fez-se inicialmente uma análise
exploratória da série para detectar indícios de não-estacionariedade, localizar pontos
1800
1400
1200
1000
800
600
400
200
0
1950
1955
1960
1965
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
2010
Figura 3 – Fluviograma de vazões máximas anuais.
25%
20%
15%
10%
5%
0%
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0
Log Qmáx
Amostra Y Amostra X
Período 1950 a 1982 Período 1983 a 2014
Número de Registros 33 30
Média do LN Qmáx. 2,49 2,67
Desvio Padrão LN Qmáx 0,21 0,26
a 5%
TESTE T-STUDENT
n 61
t 2,92
t crítico 2,04
Resultado Rejeita H0
Quadro 3 – Aplicação do teste paramétrico para verificação da estacionariedade
entre duas amostras.
TR
Período 1950 a 1982 Período 1983 a 2014 Período 1950 a 2014
(anos)
10000 1438,61 3303,95 2606,55
5000 1350,89 3083,56 2433,20
1000 1147,17 2571,73 2030,60
500 1059,39 2351,19 1857,13
200 943,24 2059,39 1627,61
100 855,21 1838,22 1453,64
50 766,85 1616,23 1279,03
25 677,84 1392,59 1103,12
10 557,85 1091,13 866,00
5 462,89 852,54 678,33
2 319,45 492,19 394,88
Tabela 2 –Vazões Máximas Calculadas
Vazão (m³/s)
2000 2031
1500
1147
1000
500
0
1 10 100 1000 10000
Tempo de Retorno (anos)
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir dos dados das estações fluviométricas disponíveis no Rio Jordão foi possível
compor uma série de vazões máximas com 63 anos de registros, dos quais 33 anos
foram observados após a implantação da barragem objeto do estudo de caso.
A análise exploratória preliminar indicou que a série hidrológica de vazões máximas
para o eixo da UHE Salto Curucaca no Rio Jordão apresenta possível característica
de não-estacionariedade entre os períodos pré e pós implantação da barragem. Tal
hipótese foi comprovada pelo teste estatístico paramétrico t-Student.
Não se entrou no mérito de estudar o motivo da não-estacionariedade encontrada,
limitando-se apenas em identificá-la. Mas, como observado por TUCCI (2007) [1], o
fenômeno da não-estacionariedade ou a representatividade pode estar relacionado a
um ou mais fatores, tais como a variabilidade climática no período de amostra,
modificação climática, modificação do uso do solo e até mesmo alterações nas
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS