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O CIRCUITO DO DEVIR

Eu corro. Sozinha e nua no vazio. Lembrando


apenas da neblina acinzentada que pairava sobre
a edificação de todas as minhas aspirações.
Agora, apenas agora enquanto corro, entendo
que os meus sonhos eram cidades ilhadas; eram
chegadas sem percursos, cujos destinos sem
estradas erigí à distância com o trabalho de mãos
que não existem.

Eu corro. Agora, desesperadamente preciso


correr neste espaço de feições eternas. Meus pés
tocam há muito um piso frio. Tão pálido quanto o
céu aberto que engole os quatro cantos do
horizonte que me envolve. Desde a fria nulidade
do ar à mórbida atividade do ambiente, apenas o
meu corpo se move neste que é o reino
inanimado da redução.

Eu corro. Rumo a tudo e em meio ao nada. Então


o som agudo dos prévios ecos do devir se
erguem diante de mim, instaurando pouco a
pouco e ao mesmo tempo os cenários
esquecidos e destruídos onde repousa toda a
minha a solidão.

Por isso corro, ainda exausta, no solo em branco


da minha profecia, que guarda, além da linha fina
que a vista alcança, o circuito que agora faço
rumo ao desconhecido momento em que
finalmente chegarei à apoteose de mim mesma.

Diego Rodrigues

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