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Título: Eventos Extremos no Rio Grande do Sul: inundações e

movimentos de massa.
Organizadores: Laurindo Antonio Guasselli, Guilherme Garcia de Oliveira
e Rita de Cássia Marques Alves. Porto Alegre: Evangraf, 2013. 208
páginas.
ISBN: 978-85-7727-619-6

SISTEMA DE MONITORAMENTO E ALERTA DE DESASTRES


NATURAIS: PRÁTICAS E DESAFIOS

Silvia Midori Saito e Diego Oliveira de Souza


Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais

Introdução

Dentre as medidas não estruturais para a prevenção de desastres


naturais, os sistemas de monitoramento e alerta constituem-se como
ferramentas eficazes para minimizar os danos humanos e materiais. A
importância da redução das perdas não se restringe apenas ao valor
financeiro, mas por não comprometer o desenvolvimento das
comunidades afetadas.

A previsão de desastres naturais com a maior antecipação possível é o


objetivo dos sistemas de monitoramento e alertas. Antecipar significa
executar medidas como a evacuação de áreas de risco que pode ser
decisiva para evitar vítimas e danos socioeconômicos. No Brasil, ações
eram desenvolvidas por iniciativas isoladas, a exemplo de Blumenau –
SC e Rio de Janeiro – RJ, que dada a alta recorrência de inundações e
deslizamentos se depararam com a necessidade de investir em
sistemas de alerta. Recentemente, no ano de 2011, face ao desastre
ocorrido na região Serrana do Rio de Janeiro, foi criado pelo governo
federal, o Centro Nacional de Monitoramento de Alertas de Desastres
Naturais (Cemaden).

1. Status atual do monitoramento

O Cemaden foi criado através do decreto nº 7.513 de 1º de julho de


2011 e está vinculado à Secretaria de Políticas e Programas de
Pesquisas e Desenvolvimento (SEPED) do Ministério de Ciência,
Tecnologia e Inovação (MCTI) e faz parte do Sistema Nacional de
Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais também do MCTI.

O Cemaden tem como objetivo desenvolver, testar e implementar um


sistema de previsão e monitoramento de desastres naturais em áreas
suscetíveis de todo o Brasil. Além de prever a ocorrência de desastres
naturais no país, também realiza pesquisas que contribuem na
melhoria do sistema de alerta e monitoramento do Centro e para a
produção de informações necessárias ao planejamento e à promoção
de ações contra desastres naturais.

Como resposta ao sistema, o Cemaden envia alertas exclusivamente


para o Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres
(CENAD), ligado ao Ministério da Integração, que contata as defesas
civis locais, responsáveis pelas ações de resposta. O foco é monitorar
as áreas de risco previamente mapeadas em municípios monitorados,
para tornar o trabalho dos profissionais envolvidos em defesa civil mais
focado e efetivo possível, para que sejam realizadas ações
antecipadas de redução de danos.

O núcleo inteligente do sistema, uma equipe multidisciplinar formada


por profissionais de diversas áreas do conhecimento como
meteorologia, hidrologia, geologia e especialistas em desastres
naturais é o responsável por gerenciar as informações provenientes de
diversas fontes como, por exemplo, previsões meteorológicas de alta
resolução, rede de pluviômetros, e informações remotas de estimativas
de precipitação por radar e satélite. Além destes dados, o Cemaden
utiliza mapeamentos de áreas de risco elaborados por diversos
parceiros do Centro os quais são parte fundamental para a emissão de
alertas (Figura 1).

Segundo Sorensen (2000), um sistema de alerta, independente do tipo


de desastre, fornece informações sobre o risco para a população
exposta e a torna capaz de tomar decisões e ações. Ainda definindo
um sistema de alerta, segundo o ISDR (2004) este deveria prestar
informações úteis e com tempo hábil, por meio de instituições
identificadas, permitindo aos indivíduos expostos ao risco tomar
medidas para evitar ou reduzir seu risco e preparar uma resposta. Esta
definição é simples, mas um sistema de alerta torna-se complexo
quando é necessário agrupar especialistas e organizações de diversas
áreas tanto científicas como governamentais. Sendo assim, um sistema
eficaz de monitoramento e alerta deverá integrar subsistemas de
detecção de eventos extremos, gerenciando informações sobre o
desastre e as ações de resposta.

Figura 1: fluxo de trabalho do Cemaden. Fonte: Cemaden

Uma das principais ferramentas para o monitoramento e previsão de


deastres naturais é a modelagem numérica físico-matemática, tanto
meteorológica quanto hidrológica. Atualmente a utilização de
supercomputadores para a realização de simulações numéricas e a
evolução nos estudos de tempo, clima e hidrologia permitiram elevar a
confiabilidade de previsões meteorológicas e hidrológicas. Neste
contexto torna-se possível com um tempo hábil, de aproximadamente 3
dias, prever situações favoráveis à ocorrência de desastres de origem
geológica e hidrológica.
Os modelos meteorológicos atualmente utilizados no Brasil para
previsão de tempo são capazes de fornecer as condições
meteorológicas futuras para um período de 72 horas como, por
exemplo, volume de precipitação, intensidade dos ventos e
temperatura, com um índice de acerto de aproximadamente 90%. Os
modelos hidrológicos, por sua vez, geralmente, utilizam as condições
meteorológicas previstas para assim prognosticar a vazão e nível da
bacia de drenagem em questão. Considerando a eficácia da
previsibilidade meteorológica, espera-se que os valores prognosticados
no contexto hidrológico também apresentem um índice de acerto
elevado.

Um grande desafio da modelagem numérica atualmente é o aumento


da confiabilidade da previsão de eventos extremos, principais
causadores de desastres naturais. É sabido que os modelos
meteorológicos possuem um baixo índice de acerto para, por exemplo,
eventos extremos de precipitação.

Ainda de acordo com Sorensen (2000) alguns avanços foram


alcançados para previsão e detecção de inundações e movimentos de
massa, mas ainda não estão integrados completamente aos sistemas
de monitoramento e alertas. Existem esforços locais e regionais de
monitoramento e alerta mas que ainda não compõem uma rede
nacional.

Considerando os fatores citados anteriormente e em uma escala de


tempo mais curta, geralmente para o período inferior a 24 horas, a
modelagem meteorológica e hidrológica ainda é eficaz, mas não é
totalmente precisa, necessitando assim a avaliação das condições
presentes e o monitoramento constante da evolução das condições de
tempo e hidrológicas. Para este fim, a utilização de dados de estações
pluviométricas, fluviométricas e, principalmente de radares
meteorológicos, é essencial para um sistema de monitoramento e
alerta de desastres naturais.

Além das informações dinâmicas provenientes tanto de modelagem


quanto de dados observacionais obtidos em tempo real, outras também
são essenciais para um sistema de monitoramento e alerta, como
informações sobre o tipo de risco e características das áreas de risco
de determinado local. Existem esforços para realização de
mapeamentos de áreas de risco hidrológico e de movimentos de
massa em todo país. A integração destas informações sobre a malha
urbana de um município e associadas com dados socioeconômicos,
por exemplo, poderá indicar áreas de especial atenção ao
monitoramento, indicando também o tipo de processo que poderá
ocorrer sobre determinadas condições meteorológicas e hidrológicas.

No contexto do sistema proposto e das informações necessárias para


monitoramento e alerta, torna-se necessário que especialistas de
diversas áreas do conhecimento relacionadas a desastres naturais
avaliem e produzam informações relevantes ao funcionamento do
sistema.

Com esta finalidade, desde dezembro de 2011 o Cemaden opera 24


horas por dia, 7 dias por semana sempre com uma equipe
multidisciplinar em estado permanente de observação para todo
território brasileiro, acompanhando a atuação de sistemas
meteorológicos e a evolução das principais variáveis socioambientais
relacionadas à desastres naturais. Esta avaliação é conduzida pela
equipe e, de acordo com o tipo de risco presente no município, das
condições meteorológicas atuais e previstas, principalmente
relacionadas com o volume de precipitação e nível atual do rio e
prognosticado, serão decisivas para a confecção do alerta de risco.

Dentro do procedimento de elaboração e emissão de alertas pelo


Cemaden existem quatro diferentes níveis de operação e alerta, sendo
eles (i) Observação; (ii) Moderado; (iii) Alto; (iv) Muito Alto.

Os níveis de risco e alerta serão totalmente dependentes de condições


previamente presentes, tais como, exposição da população ao risco,
nível atual e previsto para determinado rio e de condições
meteorológicas favoráveis à ocorrência de eventos de caráter
hidrológico ou geológico-geotécnico. Destaca-se que a decisão de
envio de um alerta de risco de desastres naturais é realizada em
conjunto com a equipe multidisciplinar após a avaliação do ambiente
favorável ao evento, como descrito anteriormente.
A emissão de um alerta de risco Moderado, tanto para movimentos de
massa quanto para inundações, parte da premissa de que a
combinação dos fatores meteorológicos, hidrológicos e geológicos não
permite descartar a ocorrência de desastres naturais de natureza geo-
hidrológica, recomendando-se à Defesa Civil do município em alerta
permanecer em estado de atenção.

A decisão de elevação de nível para risco Alto ou Muito Alto dependerá


da evolução das condições favoráveis à ocorrência de determinado
desastre. O nível de risco Alto e Muito Alto será totalmente dependente
do tipo de risco pré-existente, característica do processo relacionado,
volume pluviométrico observado e previsto, além da vulnerabilidade da
população exposta à ameaça. Quando se menciona risco pré-existente
e processo relacionado, estes se referem aos dados disponibilizados
pelos mapeamentos das áreas de risco descritos anteriormente.

Por exemplo, em determinado município há mapeamento de risco de


movimentos de massa em que para diferentes áreas os processos
poderão ser diferenciados em escorregamentos esparsos em corte e
aterro até processos do tipo corrida e rolamento de blocos rochosos.
Quando agrupadas todas estas informações é então criado um cenário
de risco, que por definição consiste de um ambiente em que não
apenas um fator ou certa probabilidade é capaz de gerar o risco mas
sim a conjuntura de diversas variáveis e fatores.

Na próxima seção são descritos e exemplificados alguns cenários de


risco para o estado do Rio Grande do Sul com o objetivo de apresentar
o sistema operacional de monitoramento e alerta de risco de desastres
naturais atualmente em execução pelo Cemaden.

2. Cenários de Risco no Rio Grande do Sul

No Rio Grande do Sul o Cemaden irá monitorar até dezembro de 2014


31 municípios considerando, os diferentes riscos de inundações e
movimentos de massa (Figura 2). Esse número foi definido a partir de
um levantamento feito pelo governo federal baseado em critérios como
histórico de desastres naturais, número de mortos e afetados.
A elaboração de um cenário de risco para determinado município está
diretamente relacionada aos aspectos ambientais da região, ao sistema
meteorológico deflagrador atuante, além da exposição e
vulnerabilidade da população local à ameaça, fatores citados
anteriormente.

Figura 2: Municípios no Rio Grande do Sul a serem monitorados até


2014. Fonte: Cemaden.

Considerando que o fator meteorológico observado e previsto é


fundamental para deflagrar determinado tipo de evento hidrológico e/ou
geológico, o conhecimento prévio da climatologia, onde se considera a
sazonalidade da precipitação, e dos principais sistemas de tempo
deflagradores de desastres atuantes sobre o Rio Grande do Sul é de
extrema importância para a composição do cenário de risco.

Em uma breve discussão sobre a climatologia do estado, destacam-se


durante o inverno a atuação de sistemas frontais como principal
gerador de precipitação, que em determinadas situações apresentam
grande volume pluviométrico. Durante as estações de transição
(primavera e outono) e verão já são observados sistemas
meteorológicos mais intensos, como sistemas convectivos de
mesoescala e processos convectivos locais, além da atuação de
sistemas frontais, os quais podem provocar elevados valores de
precipitação que, em algumas situações, poderá ocorrer em um curto
espaço de tempo.

Segundo o Atlas de Desastres Naturais do Rio Grande do Sul (CEPED,


2012), inundações bruscas e graduais estão diretamente associadas à
elevação do volume de precipitação sobre a bacia de drenagem, onde
a primeira é geralmente provocada por chuva mais intensa e
concentrada em locais de relevo acentuado, sendo caracterizadas pela
rápida elevação do nível e vazão do rio. Segundo Goerl e Kobiyama
(2005), por este tipo de fenômeno ocorrer em um curto espaço de
tempo geralmente costuma supreender pela intensidade e pela baixa
previsibilidade do evento.

A inundação gradual, por sua vez, está diretamente associada à


precipitação bem distribuída sobre a bacia de drenagem,
caracterizando um processo mais lento que atinge a planície de
inundação quando o nível do rio ultrapassa a cota máxima. Segundo
Castro (2003), este tipo de inundação é um fenômeno mais previsível e
geralmente mantém-se por um período de tempo maior que a
inundação brusca até a queda gradual do nível do rio, sempre
ocorrendo de montante à jusante.

No Rio Grande do Sul a porção centro-norte do estado é a que mais


apresenta ocorrências de inundações bruscas, mais concentradas no
período de primavera e verão. Considerando o contexto meteorológico
destas estações no qual este tipo de evento está inserido, o estado
sofre influência de diversos sistemas meteorológicos com diferentes
características de precipitação associada. Segundo Machado et al.
(1998), primavera e verão são as estações do ano que mais
apresentam a ocorrência de Sistemas Convectivos de Mesoescala.
Estes sistemas são caracterizados por precipitação intensa e de forma
localizada, condições essenciais para a rápida elevação da vazão e
nível dos rios.
A construção de um cenário de risco e posterior emissão de um alerta
para eventos de inundação brusca parte inicialmente da previsão
meteorológica e das características físicas do município a ser alertado.
Considerando que, como citado anteriormente, torna-se necessário que
se tenha certa energia potencial para ocorrência deste fenômeno, os
municípios que possivelmente sofrerão e serão alertados para este tipo
de desastre necessariamente deverão apresentar uma bacia de
drenagem de resposta mais rápida, esta diretamente associada à
diferenças acentuadas de elevação no percurso do rio.

Posterior a análise destas características torna-se necessário o


conhecimento e o acompanhamento do tipo de sistema meteorológico
atuante sobre o município, sendo avaliado se este é capaz de gerar um
volume significativo e em curto espaço de tempo sobre a bacia de
drenagem. Considerando os aspectos citados, analisa-se a exposição
e os níveis de risco presentes nos mapeamentos disponíveis para o
município, procurando indicar os possíveis locais, nível de alerta e
possível número de pessoas que serão afetadas por este desastre.

Salienta-se que o nível do alerta para inundação brusca dependerá


essencialmente do acompanhamento da evolução dos volumes de
precipitação e do sistema meteorológico responsável. Quando observa-
se que existe a possibilidade de intensificação ou nova atuação de um
sistema meteorológico e, principalmente com volume de precipitação
significativo associado, decide-se a manutenção ou elevação do nível
de alerta. Dependendo das informações disponíveis e das
características da região, o envio do alerta poderá ocorrer com uma
antecipação de até 30 minutos antes de ocorrer o evento, havendo
assim tempo hábil para a tomada de decisão das autoridades locais.

Quando consideram-se municípios mais afetados por inundações


graduais no Rio Grande do Sul, estes estão localizados na porção
centro-sul do estado, principalmente por estarem em uma região de
planalto e planícies, e por possuir uma extensa rede hidrográfica. Por
este tipo de evento necessitar condições de precipitação contínua e
bem distribuída sobre a bacia de drenagem, os sistemas frontais são
incluídos como um dos principais sistemas meteorológicos associados
com inundações graduais.
Segundo o Atlas de Desastres Naturais do Rio Grande do Sul (CEPED,
2012) a ocorrência de inundações graduais no estado do Rio Grande
do Sul é bem distribuída durante o ano, apresentando máximos durante
o inverno e primavera. Destacam-se, como citado anteriormente, os
sistemas frontais por apresentarem volume significativo de precipitação
associada e maior tempo de atuação sobre a bacia de drenagem,
principalmente durante o inverno e primavera.

Considerando a melhor previsibilidade de sistemas frontais e/ou de


sistemas meteorológicos associados com precipitação bem distribuída
sobre determinada bacia de drenagem e com grande volume
pluviométrico, a construção do cenário de risco para eventos de
inundação gradual e subsequente emissão de um alerta inicialmente
considera a previsão meteorológica e as condições da bacia de
drenagem do rio principal e seus afluentes que apresentam áreas de
risco, considerando principalmente as características de umidade do
solo, por exemplo.

O nível do risco está diretamente associado com a elevação do nível


do rio, seu transbordamento e a probabilidade de atingir a população,
onde geralmente o número de pessoas expostas a este tipo de
desastre é muito grande. Um cenário de risco moderado para
inundação gradual considerará principalmente a previsão
meteorológica e condições pré-existentes sobre a bacia de drenagem.
Após o envio de um alerta para um cenário de risco Moderado, a
evolução do nível para Alto ou Muito Alto será diretamente dependende
da modificação significativa da cota do rio, do transbordamento do
mesmo, persistência da precipitação sobre a bacia e volume previsto, e
a exposição da população ao risco. Considerando a alta previsibilidade
de sistemas meteorológicos associados a eventos de inundação
gradual, o envio de um alerta poderá ocorrer com um excelente tempo
hábil, mas novamente dependente das informações disponíveis.

Os movimentos de massa estão relacionados a aspectos como a


geologia, geomorfologia, declividade, e podem ser classificados em
escorregamentos ou deslizamentos, corridas de massa, rastejos,
quedas, tombamentos e rolamentos de rochas. Ainda como definição,
segundo Vieira (2012) os movimento de massa são processos
geomorfológicos responsáveis pela esculturação do terreno e que
promovem a evolução morfológica das vertentes, o que por si só não
oferece risco ao homem desde que estas áreas suscetíveis à
movimentação não estejam ocupadas ou não tenham sofrido influência
antrópica.

Para a deflagração de um evento de movimento de massa,


principalmente os escorregamentos em talude de corte e aterro,
geralmente torna-se necessária uma condição de infiltração de água no
solo, tornando-o saturado e reduzindo assim o atrito entre as
partículas. O processo de infiltração de água no solo, no contexto de
desastres naturais do tipo movimentos de massa, está diretamente
relacionado com precipitação incidente sobre determinada área
suscetível ao processo.

A construção de um cenário de risco para movimentos de massa


considera uma correlação entre o volume de precipitação acumulada e
eventos previamente registrados, chamados de limiares críticos, sendo
estes dinâmicos e totalmente dependentes dos processos e da região
em que ocorrem, visto que são relacionados principalmente com
fatores geológicos, geotécnicos, uso e ocupação do solo.

No Rio Grande do Sul, os cenários de risco de deslizamentos estão


relacionados as áreas mais antropizadas, em que as alterações em
corte e aterro potencializam a ocorrência dos movimentos de massa.
Embora esse tipo de fenômeno não seja aquele que mais afeta o
estado, sabe-se que os registros de movimentos de massa são
subnotificados tendo em vista que suas ocorrências, em geral, estão
associadas apenas a inundações.

3. Desafios para o monitoramento no país

No Brasil, a atividade de monitoramento e alerta de desastres naturais


é relativamente recente e encontra-se em pleno desenvolvimento para
sua consolidação. No entanto, ainda existem diversos desafios a serem
vencidos. O pleno conhecimento dos processos que afetam duramente
a população constitui-se em uma das premências para que se possa
realizar o melhor monitoramento no país. Aspectos como períodos
preferenciais de recorrência, áreas afetadas, quando devidamente
conhecidos podem auxiliar na melhor previsão dos fenômenos.
Todavia, depara-se no Brasil com uma realidade em que os registros
históricos foram pouco valorizados pelos gestores públicos. O banco de
dados organizado pela defesa civil nacional, baseado nos decretos de
situação de emergência ou estado de calamidade pública constitui-se
como um dos poucos recursos de pesquisa. Esse banco permite
entender uma pequena parte da real dimensão dos desastres que
afetaram os diversos municípios brasileiros, pois seu registro está
condicionado a uma situação de anormalidade em que existe o
reconhecimento de ajuda externa. Assim, pequenas ocorrências que
não geram decretos eram subnotificadas. Em um contexto de sistema
de monitoramento e alerta todas as notificações são importantes para
caracterizar os fenômenos, tendo em vista que se configuram de
diferentes intensidades, compondo os cenários de risco.

A expansão da rede meteorológica observacional no país nos últimos


anos contribuiu para a melhor previsão dos eventos que podem
provocar efeitos danosos, mas ainda não é suficiente para permitir o
pleno monitoramento de inundações e deslizamentos. Os últimos
desastres ocorridos no Brasil serviram para alertar aos gestores
públicos das diversas esferas sobre a importância da melhor
instrumentalização de observação no país. A aquisição de radares
meteorológicos e plataformas de coleta de dados distribuídos em todo
o território nacional viabilizam a coleta sistemática de dados permitindo
acompanhar em tempo real as condições geo-hidro-meteorológicas.
Para o estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, dentre as metas do
Cemaden existe uma estimativa de instalação de 70 estações
pluviométricas e 6 fluviométricas. Aliada a essa melhoria, observa-se
ainda o avanço de tecnologias para armazenamento e transmissão dos
dados. Destaca-se também que o avanço nos sistemas de modelagem
meteorológica e hidrológica vem a contribuir significativamente no
sistema de monitoramento e alerta.

Por fim, de nada será útil esses esforços se não houver uma melhora
da resposta local, ou seja, da população que recebe o alerta. Salienta-
se que dentro do conceito de um sistema de monitoramento e alerta é
necessário que a população tenha capacidade de ação frente ao risco,
sendo assim a emissão do alerta diante de cada cenário de risco
deverá ser ferramenta fundamental para a mobilização e atuação dos
órgãos responsáveis, procurando indicar as possíveis áreas sujeitas ao
desastre. Preparar os moradores de áreas de risco a saberem como
proceder diante de risco iminente é decisivo para a redução de danos e
vitimas. Assim, os esforços devem se concentrar não apenas em
inovação tecnológica e científica, mas ainda melhoria das capacidades
locais.

Referências

CASTRO, A. L. C. 2003. Manual de desastres: desastres naturais.


Brasília (DF): Ministério da Integração Nacional. 182 p.

CEPED (Centro Universitário sobre Estudos e Pesquisas sobre


Desastres/Universidade Federal de Santa Catarina). 2012. Atlas
brasileiro de desastres naturais: 1991 a 2010. Volume Rio Grande do
Sul.

GOERL, R. F., KOBIYAMA, M. 2005. Considerações sobre as


inundações no Brasil. In: Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos,
João Pessoa. Anais.

ISDR. 2004. Terminology: basic terms of disaster risk reduction. http://


www.unisdr.org/eng/library/lib-terminology-eng%20home.htm,
International Strategy for Disaster Reduction secretariat, Geneva.

MACHADO, L. A. T., ROSSOW, W. B., GUEDES, R. L., WALKER, A. W.


1998: Life Cycle Variations of Mesoscale Convective Systems over the
Americas. Mon. Wea. Rev., 126, 1630–1654.

SORENSEN, J. H. 2000. HAZARD WARNING SYSTEMS: REVIEW OF


20 YEARS OF PROGRESS. Natural Hazards Review, pp. 119-125.

VIEIRA, S. F. 2012. Análise e mapeamento das áreas suscetíveis a


movimentos de massa no setor central da Serra da Esperança, na
divisa entre os municípios de Guarapuava e Prudentópolis – PR.
Dissertação (mestrado). Universidade Federal de Santa Catarina,
Centro de Filosofia e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação
em Geografia.

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