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RADIOJORNALISMO NA CIBERCULTURA
Por uma nova experiência de rádio em tempos de
redes sociais e hipermobilidade
São Paulo
2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
RADIOJORNALISMO NA CIBERCULTURA
Por uma nova experiência de rádio em tempos de
redes sociais e hipermobilidade
São Paulo
2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
RADIOJORNALISMO NA CIBERCULTURA
Por uma nova experiência de rádio em tempos de
redes sociais e hipermobilidade
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São Paulo
2012
Dedico este estudo a todos meus alunos e ex-alunos.
Agradecimentos
Abstract
This Thesis focuses on a study of radio journalism produced by users of mobile devices,
within the sphere of hybridization evoked in cyberculture. The first part discusses the
articulation of the technological potential associated with audio technology, starting from an
examination of mobile media based on social networks as determinants of new forms of
communication in conditions of hypermobility. The second part puts forward the main
hypothesis that users who access the web via mobile phone may become the primary audience
for a new radio station. The main research problem consists in determining the operational
relevance of a radio station designed according to the emerging characteristics and
potentialities of cyberculture. To what extent can one expect the creation of a radio station
along these lines, considering that, for this Thesis, the empirical research involved an
investigation of a possible radio station that proposes elements not yet employed socially on a
regular basis? Who could contribute to this type of differentiated programming? Would users
participate with urban notes about their daily routine? Could this information from the
audience produce knowledge? These questions will be answered in the discussion and
description about the experiments that were developed to underpin the argumentation of this
thesis. The epistemological and theoretical framework links communication, culture and speed
with authors who evaluate communication in real time. The theoreticians consulted here range
from Marshall McLuhan and Armand Balsebre to Manuel Castells and Néstor Garcia
Canclini. Some of the authors who analyze mobile media, such as Lucia Santaella and André
Lemos, helped shed light on the themes of this research, together with authors who offer
critiques about communication in cyberspace and expand on the concepts examined here, such
as Paul Virilio and Eugênio Trivinho. The methodology adopted here comprised the
performance, analysis and circumstantiated report of research experiments in web and radio
journalism produced with mobile devices, which consisted of geolocalization and street
mapping of São Paulo, chatting and streaming, and broadcasting through social networks. The
third part of this thesis describes the website used for the experiments. As a result, we hope
that reflection about communication in high-speed times has established the fundamental
precepts for audiocast programming, combining microcontent linked with notes about places
in order to offer passers-by “enhanced” information about the mapped surroundings via
mobile phone. As an experiment, because it considered market routines from a different angle,
the demonstration of an innovative radio was, in itself, a criticism of traditional radio
broadcasting, and is expected to make a scientific contribution to the ongoing history of radio
broadcasting.
Keywords: cyberculture, mobile networks, mobile devices, radio journalism, web journalism.
Tábua das figuras1
1
Caso a visibilidade das imagens não seja suficiente, elas constam do CD anexo a esta Tese,
na segunda capa. As imagens referentes às páginas do site nooradio, que abriga os três
experimentos, estão disponíveis em <http://nooradio.net.> Seguem também, no CD anexo,
todas as imagens reproduzidas na Tese.
Figura 22. Exemplo de postagem de morador na Grande Tijuca (RJ)
Figura 23. Print da homepage do N0tice
Figura 24. Mapa ilustrativo com pontos na Avenida Paulista. Arte produzida
por Vitor Valencio
Figura 25. Parte do arquivo no Google Docs de uma das classes, o 3JOA
Figura 26. Tela do iPhone que ilustra o aplicativo que grava, edita e partilha
Figura 27. Tela da abertura do aplicativo de streaming FlipZu
Figura 28. Twitter Casperwalk
Figura 29. Print de parte da homepage do blog Paulista de Ponta a Ponta
Figura 30. Gráfico sobre o crescimento do Foursquare
Figura 31. Imagem de um dos lugares capturados pelo Foursquare
Figura 32. Os alunos Liz Terra e Narlir Galvão como âncoras
Figura 33. Os alunos em álbum na rede social de fotos Flickr
Figura 34. Exemplo de mapa com os arredores circulados
Figura 35. O mapa com os ícones pingados nos locais
Figura 36. O microfone em uma janela do mapa
Figura 37. Espelho do programa “Os pingos nos is”
Figura 38. Os pins no mapa da plataforma Google Maps
Figura 39. Lista das reportagens que aparece no Google Maps
Figura 40. Janela aberta no mapa mostra uma das possibilidades sonoras, a
crônica de um morador do Crusp
Figura 41. Timeline do hot Twitter criado pelos alunos na ocasião do programa
Figura 42. Homepage do site nooradio com os símbolos dos três experimentos
em alusão ao jogo Tetris
Figura 43. A página apresenta um resumo do projeto
Figura 44. Página da Avenida Paulista
Figura 45. Página da praça Benedito Calixto
Figura 46. Página da USP
Figura 47. Equipe da Cásper Líbero em vídeo e foto.
Figura 48. A equipe de produção da ECA/USP
Figura 49. O áudio que explica a produção da Benedito Calixto
Figura 50. O áudio da produção do programa “Paulista de ponta a ponta”
Figura 51. O áudio da produção do programa “Os pingos nos is”
Figura 52. Página que fala sobre a autora
Figura 53. Do you think being constantly connected by technology is mostly …
Sumário
Introdução
Capítulo 1.
1. Embasamento teórico
2. Era da cibernética
3. Webradiojornalismo móvel
3. 2. Jornalismo hiperlocal
3.2.1. N0ticeboards
Capítulo 2.
1. Proposta
2. Experimento
3. Relatos
Capítulo 3.
Considerações finais
Referências
Anexo
Introdução
1
Exemplos de simulações de rádios como Blip.fm, Last.fm, Musicovery etc.
2
Estudos estatísticos de tempo de atenção e concentração apontam para um período máximo de 20
minutos.
3
Dados do crescimento em março de 2009 segundo o site IDG Now!: “O número de usuários que
acessam a internet pelo celular mais do que dobrou nos EUA em apenas um ano, de acordo com um
relatório da comScore. Mais que isso: os dados nem levam em consideração as visitas às redes sociais,
uma atividade bastante popular entre quem usa o celular para navegar pela web. Segundo o estudo, 22,4
milhões afirmaram navegar na web diariamente para ler notícias e outras informações em janeiro de 2009.
Isso representa um crescimento de 107% em comparação com os 10,8 milhões de usuários registrados em
janeiro de 2008”. (Disponível em: <http://idgnow.uol.com.br/telecom/2009/03/18/eua-ja-tem-mais-de-22-
milhoes-de-usuarios-de-internet-via-celular>. Acesso em 15 maio 2009.)
4
O termo always carried foi retirado do artigo “Communities are mobile future”, de Tomie T. Ahonen
(2006).
5
Alusão ao termo “realidade aumentada”, que significa, resumidamente, uma tecnologia que permite
misturar o mundo virtual com o real com interações por meio de ferramentas amigáveis e responsivas,
tanto da parte dos humanos, acionando comandos, quanto do que é possivel pedir às máquinas.
6
Pesquisa financiada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Governo da Finlândia, Coréia do
Fundo Fiduciário para ICT4D, e UKaid. Divulgada em 17 de julho de 2012. Disponível em
<http://www.worldbank.org/en/news/2012/07/17/mobile-phone-access-reaches-three-quarters-planets-
population>. Acesso em 21 jul. 2012.
7
Mobile Phone Access reaches three quarters of planet’s population. Em 17 jul 2012. Disponível em
<http://www.worldbank.org/en/news/2012/07/17/mobile-phone-access-reaches-three-quarters-planets-
population>.
Acesso em 29 jul. 2012.
mais de 6 bilhões, dos quais cerca de 5 bilhões em países em desenvolvimento. “A
propriedade de várias assinaturas está se tornando cada vez mais comum, sugerindo que
o seu número em breve superará o da população humana”.
Nesse sentido, os diferentes trânsitos dos gêneros mediáticos, que a radiofonia
do século 21 passou a desempenhar com o surgimento e o crescente uso das redes
telemáticas, da telefonia móvel e dos aparatos de localização, suscitaram um novo modo
de se comunicar e de se conectar por meio desses dispositivos multifuncionais,
sugerindo conteúdo gerado pelo usuário, chamado aqui de audinteragente. Isto significa
internautas que não só ouvem, mas participam de uma nova prática radiofônica
cibernetizada por-nós-para-nós. Esta é a proposta desta pesquisa.
Havia 6,8 bilhões de pessoas, segundo dados da ONU, e um número de celulares
ativos atingindo a marca de 5 bilhões, no dia 8 de julho de 2010, com o registro da
ativação da quinta bilionésima linha de telefone celular do planeta, conforme
informação do site Phys. Dados apontavam que o mercado havia aumentado sete vezes
nos dez anos anteriores. O estudo dizia ainda que, em 2000, foram ativadas 720 milhões
de linhas de celular, quantidade que significa menos da metade de usuários na China de
2010. A pesquisa mostrava também que, principalmente devido aos mercados móveis
da China e da Índia, mais de 2 milhões de linhas de celular eram ativadas por dia no
mundo. Dados como esses atiçaram o propósito de voltar os estudos ao uso do
jornalismo e, principalmente, do radiojornalismo, melhor dizendo, do
webradiojornalismo nos dispositivos móveis, tendo o celular como foco.
O objetivo particular desse rumo escolhido consagrou-se ao estudo progressivo
do radiojornalismo produzido por usuários de dispositivos móveis (celulares e GPS), no
âmbito da tendência de hibridização na cibercultura. Eugênio Trivinho (2007, p. 116)
define cibercultura da seguinte forma: “Cibercultura designa a configuração material,
simbólica e imaginária da vida humana correspondente à predominância mundial das
tecnologias e redes digitais avançadas, na esfera do trabalho, do tempo livre e do
lazer”. Para isso, importou investigar uma nova maneira de se fazer rádio na era da
mobilidade com anotações urbanas das cidades inseridas no cyberspace e informações
do cyberspace nos espaços físicos das cidades. Experimentos foram realizados para esta
pesquisa, como será visto mais adiante.
Tal ideia evidencia-se relevante pelo fato de a radiofonia existente (no dial e na
internet) ser retrógrada e limitada por manter o medium rádio no formato tradicional.
Consequentemente, perde ouvintes adultos exigentes e, em especial, os jovens.
Levando-se em conta que a web completou 20 anos, em 2009, o jovem de hoje [2012]
cresceu com a rede à disposição, tendo passado a receber música e informação pelas
redes telemáticas. Eduardo Meditsch comprova isso, ao afirmar que, “cada vez mais, as
pessoas vão precisar ser informadas em tempo real a respeito do que está acontecendo,
no lugar em que se encontrem, sem paralisar as suas demais atividades ou monopolizar
a sua atenção para receber esta informação (2001, p. 4-5)”.
Em junho de 2012, o Brasil estava com 256,13 milhões de linhas de telefone
celular. Os terminais 3G (banda larga móvel) totalizaram 48,89 milhões de acessos nos
últimos 12 meses. Os dados são da Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações –,
segundo apuração do site Jornalistas da Web. De acordo com o “Information and
Communications for Development 2012: Maximizing Mobile”8, mais de 30 bilhões de
aplicativos móveis (apps) foram transferidos em 2011. Nos países em desenvolvimento,
os cidadãos estão cada vez mais fazendo uso de telefones móveis para criar novos
hábitos e melhorar seu estilo de vida.
"A revolução móvel está bem no início de sua curva de crescimento: os
dispositivos móveis estão se tornando mais baratos e mais potentes e as redes estão
dobrando na largura de banda a cada cerca de 18 meses, expandindo-se para áreas
rurais", disse Tim Kelly (2012), especialista em Política de Informática, líder no Banco
Mundial e um dos autores do relatório acima citado. O gráfico da Teleco – Inteligência
em telecomunicações mostra (figura 1)9, em 30 de junho de 2012, a evolução dos
últimos 12 anos em bilhões.
8
Este relatório, o terceiro na série do Banco Mundial sobre Informação e Comunicação (TIC) para o
Desenvolvimento, analisa o crescimento e a evolução da telefonia móvel, e a ascensão de dados baseados
em serviços, incluindo aplicativos, entregues para dispositivos portáteis. O relatório explora as
consequências para o desenvolvimento da emergente "economia app".
9
Caso a visibilidade das imagens não seja suficiente, elas estão em um CD anexo na capa interna da
versão impressa desta Tese. As imagens referentes às páginas do site nooradio, que abriga os três
experimentos, estão disponíveis no endereço eletrônico <http://nooradio.net>. Porém, estão também em
CD anexo com as demais imagens que aparecem ao longo da Tese.
Figura 1. Gráfico da Teleco – Inteligência em telecomunicações sobre celulares no mundo
10
A ideia é voltar, sempre que necessário, a ilustrar a reflexão com exemplos de arte móvel, na medida
em que exista necessidade de cotejar o raciocínio e provocar inspirações . Veja-se em Estado da arte do
áudio na rede (2.1.).
longitude e criar um “espaço de ativação” em torno dos pontos geográficos
selecionados. No site Cultura Digital, Cícero Inácio da Silva (2009) explica melhor:
11
Muitos termos emergentes usados na linguagem da internet (como lincar, tuitar etc.) ainda não foram
inseridos nos principais dicionários da língua portuguesa: Aurélio, Houaiss e Caldas Aulete. Porém, o
procedimento de redação desta Tese foi o de não usar itálico para esses termos necessários e recorrentes
na explanação de nosso objeto de estudos.
12
Lucia Santaella (2007, p. 187) foi quem cunhou no Brasil o termo hipermobilidade dentro da esfera da
comunicação: “Uma vez que as sobreposições, cruzamentos, interseções entre eles são inextricáveis,
parece caber com justeza o termo hipermobilidade para caracterizá-los. Hipermobilidade porque à
mobilidade física do cosmopolitismo crescente foi acrescida a mobilidade virtual das redes”.
A hipótese básica foi a de que usuários de redes sociais fundamentadas em
comunicação por celulares podem vir a ser a audiência primordial dessa nova rádio
realizada pelo ouvinte-produtor, o audinteragente. Aqui, não se trata de ressaltar a
dicotomia produtor-audiência porque esta figura já está inserida no contexto, desde o
surgimento das redes telemáticas. Portanto, não é preciso mais repetir esse tipo de
dicotomia. Tratou-se de uma hipótese para uma questão secundária, que se fez notar
quando, ao se considerar a atual radiofonia ultrapassada que não atende mais a um
público adulto exigente e que também afugenta o jovem, foi possível provar a
pertinência de um veículo de mão dupla que envolve radiodifusores e comunidades
interessadas em ouvir material produzido por audinteragentes, que passam a exercer o
papel de radialistas “por um dia”, ou, sistematicamente, ao seu bel dispor.
Na concepção de Ángel Faus Belau, podem ser averiguadas similaridades com o
que é apontado na radiofonia atual
A inovação técnica aporta ferramentas para a criatividade, mas a arte depende da imaginação e da
criatividade do ser humano. As máquinas têm seus modelos de criatividade. Os computadores são
capazes de produzir novos sons e novas harmonias, mas por trás deve estar o desenho do criador.
Emergem novos âmbitos radiofônicos como o do rádio digital e a cimbre rádio que permitem criar outros
conteúdos e serviços próprios e diferentes da rádio tradicional. (López Vidales, N. y Peñafiel Sáiz, 2000
apud Cebrián Herreros, 2008, p.346).
1. Embasamento teórico
13
O projeto Tactical Sound Garden [TSG] Toolkit oferece uma plataforma participativa para a criação de
ambientes sonoros colaborativos em espaços urbanos públicos.
14
Em entrevista concedida à revista online Arte.mov, Shepard fala de media móveis, de urbanismo e dos
sons das cidades contemporâneas.
O som permite formas de trabalhar com experiências espaciais que
evitam as armadilhas das culturas óptico-cêntricas em que a imagem
reina suprema. O som funciona de maneira bem diferente que a visão
ao longo da vida cotidiana do urbanita padrão. Não precisamos
direcionar nossa atenção para uma fonte sonora para ouvi-la. Se a
visão tem uma tendência a focar em objetos, o som é bem menos
tangível. Os sons se movem entre nós de forma muito mais física que
a visão, que tende a operar por meio de um mais prático senso de
distância. (SHEPARD, 2007).
Assim como Shepard, vários outros autores têm enfatizado esta questão da
imagem no ato da audição. Marshall McLuhan (1964) observou que o rádio toca em
profundidades subliminares da mente e que as palavras desacompanhadas de imagem,
como quando a conversa se dá no escuro, ganham uma textura mais rica e mais densa.
Já Mikhail Bakthin (1979) salienta que percebemos o visto como algo externo ao corpo,
enquanto o que ouvimos ressoa dentro de nós (apud MEDITSCH, 2008, p. 5).
Ao pensar no quadro teórico e epistemológico, o estado da questão radiofônica
foi demarcado, por um lado, com base em autores que estudam os diversos áudios
dispersos, existentes nas redes telemáticas, como no campo de ação de lógica granulada.
Segundo Marcelo Kischinhevsky (2008, p. 120-121):
Por outro lado, também foram pontuados autores que falam das rádios
convencionais como meio de transporte de informações dos acontecimentos das
cidades, estabelecendo uma relação entre comunicação e urbanismo. A Eldorado FM
(hoje Eldorado Brasil 3000 FM) é um exemplo de rádio no dial paulistano que
inaugurou, em 1993, a participação do ouvinte por celular para informar sobre o
trânsito, o chamado ouvinte-repórter (PRADO, 2008). Marcelo Parada, o então diretor
da emissora, comenta essa iniciativa:
Tive a honra de presenciar o momento em que o ouvinte passou a ter
participação ativa no rádio... O telefone celular tinha chegado a São
Paulo alguns meses antes [1993]. Eu estava no ar, acionando os
repórteres, quando recebi um aviso da nossa redação em São Paulo de
que um ouvinte estava preso na marginal Tietê, na saída do Aeroporto
Internacional de Guarulhos, e tinha passado essa informação pelo
celular. O jornalista Cláudio Maurício Alfredo sugeriu que eu
conversasse com o ouvinte no ar. A entrevista durou cinco minutos...
Tudo estava parado. A chuva não cessava. Solicitei, então, que outros
motoristas que tivessem celular seguissem o exemplo daquele
ouvinte[...] Foi um êxito absoluto! (PARADA, 2000, p. 115-116).
15
Um exemplo é o Centro de Mídia Independente (CMI).
bairro e seus assuntos específicos, promovendo inclusão social, são um exemplo de
medium independente, sob demanda.
Por media compreende-se o que a área de Comunicação atribui a meios. Porém,
o uso indiscriminado do termo medium16 (usualmente grafado “mídia”), como substituto
de imprensa e jornalismo, em vinculação à comunicação, ampliou e popularizou seu
significado. No Brasil, o termo mass media, traduzido como comunicação de massa,
virou expressão comum na primeira metade do século passado, mas ainda vinculado à
transmissão de notícias. Hoje, o conceito mais comumente usado designa meios de
comunicação, como a imprensa escrita (jornais, revistas), rádio, cinema e televisão –
principalmente esta – sem, porém, restringir-se aos noticiários. Apesar do valor
intrínseco dos media apontar para uma comunicação mediatizada, um canal de
informações, é viável prestar atenção na representação que se dá de determinada
realidade e sua consequente implicação no comportamento das pessoas por ela afetadas.
O universo da produção artística dos media que trabalha com geolocalização é
vasto. Exemplos são ricos para visualização do recorte deste trabalho e aplicação nos
experimentos para esta Tese (veja-se em 2.1). Parece, portanto, neste ponto, bastante
pertinente recuperar os conceitos dos media para melhor embasamento teórico.
imprensa escrita e dos livros apenas um parêntese na história. Ao tentar explicar, diz:
“estamos voltando ao passado ao nos movermos para o futuro”. Pettitt assegura que a
era digital derruba barreiras entre a imprensa tradicional e os novos media.
Vale retroceder na história à época da oralidade para traçar a trajetória da
performance, da composição e da recombinação (tanto de material próprio quanto de
outras pessoas). Meira relata que, antes do livro, ou antes de Gutenberg, estava-se na
época da oralidade,
de onde veio a Odisséia. Sem uma plataforma industrial para registro
das composições, os autores tinham que confiar na repetição oral, na
recriação coletiva da obra, nos métodos tradicionais, contextuais e
instáveis de performance, para garantir a sobrevivência de sua
história.
Este “novo” espaço, no qual vivemos nos últimos 500 longos anos,
preza pelo original [e pelo “direito autoral”], pelo individual, pela
estabilidade da obra. Mesmo interpretado, o texto [dentro do
parêntesis de Gutemberg] reina indisputado, autônomo. A cópia, aqui,
é crime ou quase em quase toda economia minimamente codificada. O
plágio, inaceitável. O autor e sua obra reinam, perenes, sobre a
plataforma de Gutenberg.
A discussão continua, para fora do parêntese, passa pelas escolas e pelas novas
formas de ensino que envolvem vídeo, série, game, além do livro. Porém, essa é outra
discussão, que foge do foco deste estudo. Silvio Meira reforça: “A escola, como a
conhecíamos, também está saindo do ‘parêntesis de Gutenberg’ […] vivendo hoje em
um limite”. Thomas Pettitt (2010) se encarrega de complementar, no Fórum do MIT,
que os usuários das novas mídias são superalfabetizados. “Eles são todos da
escrita. Durante o parêntese, havia poucos escritores e muitos leitores. Na nova era,
você não pode realmente dizer qual é a diferença entre um leitor e um escritor. Estamos
reproduzindo a fluidez da oralidade no texto de hoje.”
A jornalista de O Globo.com, Fernanda Godoy, perguntou a Pettitt: “De que
maneira a cultura da internet está resgatando e continuando a cultura pré-Gutenberg?”
Thomas Pettit finaliza a entrevista com a dúvida de que os “jornais já não podem
mais presumir que serão mais respeitados que outras fontes de informação devido ao
seu formato”.
Estamos de volta à era pré-Gutenberg, quando os medievais recebiam
notícias por meio de rumores, e as notícias de lugares remotos
chegavam por estrangeiros. Como decidir em quem acreditar? A
chave é a reputação, ou a fama. Essa era a coisa mais importante nas
sociedades orais, e o mesmo pode acontecer nas sociedades digitais.
Na hora de decidir sobre a veracidade das notícias, o fator chave é a
reputação do mensageiro.
17
O termo cyberspace foi cunhado em 1984 por William Gibson em seu livro Neuromancer. No artigo
“Epistemologia em ruínas: a implosão da Teoria da Comunicação na experiência do cyberspace” (1996,
p. 74), Trivinho definiu o cyberspace: “Mais avançada rede eletrônica de telecomunicação, de que a
Internet se tornou o exemplo privilegiado, ele redefine, rearticula e reescalona, de maneira original, todos
os elementos pertencentes à dimensão tecnológica, sociocultural e política da Comunicação,
determinando, nesse âmbito, novos rumos para as iniciativas acadêmicas voltadas para a crítica
metateórica e a constituição de um novo modelo reflexivo”. E acrescentou: “O conceito de cyberspace diz
respeito a uma estrutura infoeletrônica transnacional de comunicação de dupla via em tempo real,
multimedia ou não, que permite a realização de trocas (personalizadas) com alteridades virtuais (humanas
ou artificial-inteligentes); ou, numa só expressão conceitual, a uma estrutura virtual transnacional de
comunicação interativa”.
18
Não se deve esquecer que a internet tem origem militar e acadêmica.
19
Creative Commons são diversas licenças de autorias que servem tanto para facilitar usos de obras
(texto, imagem, arte etc.) quanto para bloquear (em parte) a disponibilização para uso comercial.
20
É bom lembrar as diferenças fundamentais entre hacker, grosso modo, aquele que “entende”
profundamente de computadores, e cracker, aquele que “entende” e usa esse conhecimento para invadir e
danificar sites e contas.
sistemas de busca, o início do e-commerce e os sistemas de criptografia. A segunda fase
– web 2.0 – é a da cooperação, com redes de relacionamento, emoticons, blogs,
transferência de arquivos (FTP), marketing viral, social bookmarking (folksonomia),
webjornalismo participativo, escrita coletiva, velocidade e convergência. Na
cibercultura, surge o espaço ilimitado (como é a rede no todo) para produções que,
antes, não tinham visibilidade suficiente para uma divulgação maior. São elas as
produções independentes, eletrônicas, digitais etc., os ativismos artísticos e mesmo a
própria possibilidade de formar redes de cidadãos conectados.
Já os problemas que a cibercultura traz à tona são muitos, como o da dominação
e do controle, da exploração e da vigilância, das informações duvidosas, do isolamento
e da sobrecarga de informações (que nem sempre geram conhecimento), afora atitudes
que imitam a vida real, por exemplo, a pornografia, agora online, e a visibilidade maior
que a pedofilia ganhou. Ainda assim, há outras ações, mais inofensivas, como a
avalanche de spams, que tanto incomodam as pessoas.
O fio que liga ações entre artistas e ativistas que trabalham com mobilidade nas
redes nos auxiliou na coleta de dados e deu-nos inspiração para a possibilidade de uma
forma de rádio mais arejada, como um resgate dos espaços da rua, com tecnologias
capazes de rede que permitam ao audinteragente ir além e ser capaz de exercer
influência. Sobre isso, André Lemos (2007, p. 14) acrescenta: “Andar com dispositivos
móveis permite leituras e escritas do espaço com informação digital muito próximas da
arte do andar dos situacionistas, dadaístas e surrealistas”. De qualquer forma, não se
deve esquecer que o uso do GPS está vinculado a processos de controle e vigilância,
fato que precisa ser reforçado sempre.
Trabalhos artísticos que envolvem os meios e áudio são interessantes para dar a
noção do estado da arte, como os exemplos aos quais Karla Brunet aponta em seu
estudo das práticas de intervenções artísticas no espaço urbano, que se utilizam do meio
móvel de forma colaborativa, como o Sonic City, por meio do qual o usuário sai pela
cidade vestido com sensores e, dependendo de seu movimento, escuta determinados
sons, ou o Tactical Sound Garden (TSG), em que participantes “plantam” e “colhem”
sons pela cidade com seus PDAs, computadores portáteis e celulares.
21
O QR Code (ou Código de Barras em 2D) é uma matriz ou código de barras bi-dimensional, criado pela
empresa Japonesa Denso-Wave, em 1994. O QR vem de Quick Response, pois o código pode ser
interpretado rapidamente, mesmo com imagens de baixa resolução, feitas por câmeras digitais em formato
VGA, como as de celulares. Definição da Wikipedia: <http://pt.wikipedia.org/wiki/QR_Code> Acesso
em 10 jul. 2009.
Figura
6. Suíte para Mobile Tags
22
Projeto “Audio Graffiti: a location based audio-tagging and remixing environment”, de Zack Settel, da
University of Montreal, Mike Wozniewski, da Société des arts technologiques e Nicolas Bouillot e
Jeremy R. Cooperstock, do Centre for Interdisciplinary Research in Music Media and Technology McGill
University, todos de Montréal, Québec, Canadá.
aplicações que relacionam cidades e tecnologias digitais. A seguir, o que se pode
chamar o termo cibercidade em sua origem.
Gilson Schwartz (2001), em artigo na Folha de S. Paulo, diz que “na definição
técnica, uma cidade digital é uma ‘plataforma de fomento à formação de redes
comunitárias’, essa é a definição usada no site de 1999 do grupo de Kyoto,
que pode ser acessada em <digitalcity.gr.jp/meetings/Kyoto-meeting>”.
A artista digital Martha Gabriel, que trabalha com QR Codes de forma artística,
traz alguns exemplos e cita Hendrik Willem Van Loon, quando dizia que “A arte é um
barômetro ainda melhor sobre o que está acontecendo em nosso mundo do que o
mercado de ações e os debates no congresso”, e isso pode ser confirmado, segundo
Martha Gabriel, “pela existência de vários trabalhos de arte que já experimentam com o
nosso contexto tecnológico emergente”. Como exemplos de trabalhos de arte precoces,
lidando com computação ubíqua, a artista cita o jogo “Can You See Me Now?”, do
grupo britânico Blast Theory, de 2001, e “Head” da artista finlandesa Laura Beloff, de
2004, ambos apresentados na Exposição Art.Mov 2008 (artemov.net). (GABRIEL,
2008, p. 67).
23
No lugar em que se encontra, a partir de TRIVINHO, “o fenômeno glocal e seu desdobramento
identitário, a glocalização da existência e da experiência cotidiana, foram analisados criticamente em
fases anteriores (Trivinho 2007a: 239-320; 2007b), no âmbito mais geral da cultura mediática e, em
particular, na cibercultura”. (2008, p. 23).
Entretanto, deve-se levar em conta, na perspectiva de Trivinho, que a expressão
“mídia locativa” – já no plano do significante e pelo adjetivo utilizado – subordina
demais a epistème ao local, ou seja, apenas a uma das dimensões do fenômeno
implicado.
Muitos se antecipam em associar prioritariamente os exemplos de meios
locativos a um conjunto de experiências high-tech que incluiriam os conceitos de
“realidade expandida” (augmented reality – a sobreposição entre realidade e realidade
virtual), os conceitos de “computação ubíqua” (em todo lugar) e o de “computação
intrusiva” (equipamentos integrados e imersos na sociedade). Esses sistemas aparecem
na forma de jogos urbanos, de narrativas baseadas no espaço (space-based narratives),
passando pelos desempenhos e compartilhamento em rede, até aplicações para
equipamentos específicos (specific-device) (BAMBOZZI; MINELLI apud GABRIEL,
2008, p. 92).
Lemos define mídias locativas, em geral, como “tecnologias e serviços baseados
em localização onde o contexto informacional é parte fundamental do processo”.
Figura 15. Página com links de áudios de três pessoas em Toronto (CA)
Vale lembrar, no entanto, que as artes que se utilizam da relação espacial têm
longa e rica história – como os apartamentos transfigurados de Kurt Schwitters e seu
Merzbau1, as esculturas ambientais de Frederick Kiesler, as intervenções geográficas de
Robert Smithson e, mesmo, as desconstruções arquitetônicas de Gordon Matta-Clark. A
suposta novidade dos projetos baseados em localizações específicas (sob a ideia de
locative media) parece estar na maneira como estendem o conceito de mídia, de modo a
incluir, além das próprias pessoas, o espaço e seus elementos constitutivos (as ruas,
edifícios, antenas, telhados, árvores, postes etc.), além de elementos geopolíticos
intrínsecos (BAMBOZZI; MINELLI, apud GABRIEL, 2008, p. 92).
A postagem do site Cartografias Online <cartografiasonline.wordpress.com/>
informa sobre o Projeto Canal*Motoboy do artista catalão Antoni Abad, do grupo Zex:
“São vários os projetos pelo mundo que, em sua versão paulista, abre um campo de
diálogo e trocas com os motoboys e os demais habitantes”.
trabalhos como “Kandinsky by Perdizes”, exibido na exposição Connecting Urban Spaces, na Galeria
Green Papaya (Manilla) e “Coexistências”, indicado ao Prêmio Autonomias del Desacuerdo, no Festival
Transitio_mx 2009 (México).
Mais um exemplo de mapeamento colaborativo de cidades, o Wikirua25, é uma
espécie de rede social composta por quatro serviços: “Cartografia colaborativa com
blogmaps; ciberadio e ciberstreamtv; software para dispositivo móvel, denominado de
realidade urbana aumentada (RUA); Enciclopédia (wiki) e um gamearte para dispositivo
móvel, Cyber Ton Ton, em realidade aumentada”. Segundo o site Cartografia Online,
“Wikinarua é um projeto inovador que utiliza software com GPS e bússola. Mostra-se
uma ferramenta muito eficaz na mobilização de comunidades. É possível baixar
facilmente este software com uso do aplicativo Android, vinculado ao Google”.
Assim, permite-se que as pessoas em qualquer lugar do país possam
participar desta comunidade virtual organizando conteúdos no mapa
como imagens, sons, textos, audiovisual, inclusive rádio. A tecnologia
de Realidade Aumentada traz conteúdos on line para o espaço real. Ou
seja, apontando o celular para determinado ponto na cidade
(demarcado no mapa wikinarua) o software funde numa mesma
imagem, dados reais e informações computacionais, em tempo real.
(CARTOGRAFIA ONLINE).
Na figura 20, a tela para ouvir a rádio com conteúdo enviado pelo usuário.
25
Selecionado pelo programa Laboratórios de Experimentação e Pesquisa em Tecnologias
Audiovisuais – XPTA.LAB –, do Ministério da Cultura, é uma parceria entre a Universidade
de Brasília (UNB), a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Universidade Federal
do Piauí (UFPI).
Figura 20. Rádio do Wikinarua
26
O ArtSatBr de 2008 foi desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisa em Arte e Realidade Virtual do
Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília (UNB). Coordenado por Suzete Venturelli,
Mario Maciel, tem programação de Sidney Medeiros.
3. Webradiojornalismo móvel
Cada vez mais, as pessoas consomem e produzem notícias através do que hoje
ainda é chamado de telefone celular. Os modelos de aparelhos evoluem freneticamente
e cada um traz mais possibilidades do que o outro. Em 2012, nos Estados Unidos, 100%
dos aparelhos celulares possuem rádio embutido, ao passo que, no Brasil, a
porcentagem é de 40%. A maneira progressiva com que a indústria embarca emissoras e
aplicativos nos celulares condiz com um tempo de convergência dos meios e mesmo de
pós-convergência. As cabeças, que pensam navegação, devem trabalhar, dia após dia,
para embutir aplicativos de forma a não ser mais preciso ficar indo atrás deles, pois eles
estarão incorporados. De qualquer forma, é cabível aqui as palavras de Manuel Castells
(2009) sobre a famigerada convergência, no site Nós da Comunicação, a partir de uma
entrevista ao jornal italiano La Stampa:
ter “embalagem” artística. Ao direcionar a reflexão para a linguagem do rádio, o tripé
proposto pelo pensador catalão Armand Balsebre, no capítulo 2 de El Lenguaje
radiofónico (1994), considera que
música
recursos técnico/expresivos
de la reproducción sonora
silencio
29
Rudolf Arnheim publicou em 1936 Radio, an art of sound, traduzida, em 1980, para o espanhol por
Manuel Figueras Blanch como Estética radiofónica e publicada pela Editorial Gustavo Gili de
Barcelona.
3.1. Novas perspectivas do radiojornalismo
30
Este site foi desenvolvido no decorrer da pesquisa para esta Tese no Programa de Estudos Pós-
Graduados em Comunicação e Semiótica, da Pontifícia Universidade Católica (PEPGCOS/PUC-SP) com
bolsa Capes.
percursos. A intenção é proporcionar a customização de informação, que pode ser
alterada em tempo real em uma soma de ações e recombinações de todos os
audinteragentes conectados em territórios comunicacionais.
De fato, o foco é oferecer conteúdo diferenciado para um ouvinte inquieto e
cansado do que ouve no meio mainstream. Esse ouvinte pode preferir o não-locutor
(oficial), uma voz comum, facilmente identificável, mais viva. A voz que erra, engasga,
some de vez em quando, demonstra indignação, medo e o que vier a sentir enquanto
narra sua locução não-profissional. Afinal, por que o apresentador de programas
radiofônicos precisa ter uma voz tão “redonda”? O público deve estar enfastiado de
ouvir sempre a mesma voz monótona, a chamada voz-padrão e, muitas vezes, pior
ainda, aquela voz que imita a voz-padrão. Vozes repletas de entonações parecidas, sem
gradações. A intenção é deixar claro que a errância não é o objetivo, mas ela não deve
ser reprimida, para deixar a emoção aflorar normalmente, ao acaso.
A rádio experimental pretende oferecer sempre um mapeamento de determinado
lugar, etiquetando seu entorno, com sugestões sobre aonde ir com quem realmente
esteve lá e conferiu tudo para poder falar, uma maneira de metamorfosear o padrão de
vivência com base na comunicação ampliada em tempo ubíquo, o tempo da
simultaneidade, com o mesmo sinal captado por todos. Santaella (2008, p. 130) defende
que, com a convergência das novas redes móveis de telecomunicações, estão surgindo
diferentes estruturas espaciais interativas e novas práticas culturais:
No artigo “Você está aqui!” (2009), Lemos reforça essa ideia de usar informação
geolocalizada com a internet móvel: “[…] não se trata de investigar as relações
desmaterializadas do ciberespaço”.
Como tudo se passa em um contexto local, concreto e material, temos
que olhar como uma rede de atores (redes, dispositivos, sujeitos,
contexto) altera o processo comunicacional no espaço urbano; como
eles tencionam comunicação e espacialização.
Para tanto, Lemos escolhe uma abordagem tomando por base as teorias “Ator-
Rede (Actor-Network Theory) e Materialidades da Comunicação (Materialities of
Communication). Ambas permitem pensar nas formas materiais de mediação envolvidas
nos processos comunicativos de espacialização das mídias locativas”. Esses modos são
a forma como se dá a produção social do espaço, diz Lemos, que propõe seis modos:
escrita, escuta, visibilidade, sociabilidade, acesso e lúdico. “Esta escolha leva em conta
a materialidade da comunicação e os diversos híbridos formados por humanos e não-
humanos, permitindo investigar as redes formadas e o uso do espaço urbano.”
Lemos conclui que “o que pretendemos é levantar a hipótese de que as
tecnologias e os serviços baseados em localização implicam modos específicos de
mediação, e que essa caracteriza o relacionamento comunicacional como espaço,
redefinindo os usos dos lugares”.
Um dos modos específicos de mediação, entre outros já mencionados, é o QR
Code. No Brasil, começou a ser usado na publicidade para aumentar informações.
The act of a citizen, or group of citizens, playing an active role in the process of collecting,
reporting, analyzing and disseminating news and information
(BOWMAN; WILLIS, 2003, p.9)
3.2.1. Noticeboards
Carlos Castilho (2011) analisa que essa ajuda proveniente dos colaboradores é
crucial para garantir o jornalismo em variadas regiões. Evidentemente, não é possível
prever jornalistas em todas as esquinas, porque a enorme logística exigida não permite.
Castilho aponta que a cobertura comunitária “tornou-se demasiado cara para ser
executada apenas por jornalistas profissionais, tornando quase compulsória a
participação do público como fornecedor de notícias”. Porém ressalta que não é apenas
o fator econômico que torna relevante a colaboração dos leitores.
1. Proposta
Os media móveis, cada vez mais portáteis, mais enraizados em nossos corpos,
reconfiguram a indústria atual, pois incentivam o uso com propósitos comuns aos
grupos de pessoas que se identificam com os mesmos gostos, com as mesmas
afinidades, modificando o jeito de se expressar na coletividade. Antes, determinada
audiência ouvia uma rádio ou um grupo de rádios específicas e com isso se tornava
parte de uma tribo. Hoje, essa preferência pode mudar à medida que o público tem a
oportunidade de enfatizar o seu gosto e o gosto comum de seus pares nas redes sociais
musicais, na assinatura de audiocasts, ou, talvez, com a possibilidade de preparar o
próprio material de difusão no sentido de melhorar esse gosto, e – por que não?
propondo criar gosto na sua comunidade, na rede particular de interessados em produtos
segmentados. Assim, o audinteragente pode transformar a paisagem sonora estabelecida
com músicas de qualidade, informações precisas e boas histórias, especialmente
geosselecionadas para cada ocasião em que cogitar gravar no ambiente detectado pela
rede sem fio utilizada, dando tratamento inteligente ao conteúdo gerado. Segundo
Chaves (2001, p. 71-72):
[...] temos, agora, uma comunicação “falada pelas pontas dos dedos”,
contextualmente livre, mas sensível ao contexto. No processo de
digitação e de transmissão/recepção, não só devido às inúmeras
estratégias criadas pelos usuários como também ao avanço da
tecnologia, a interação tem se tornado mais veloz e, dependendo da
modalidade adotada, aproxima-se do discurso falado.
2. Os experimentos
Como visto anteriormente, as novas formas de práticas com o som que estão
surgindo no mundo digital pressupõem ações das pessoas em mobilidade, como
aparecem nos exemplos citados, porém nem sempre com cunho jornalístico ou
mapeadas. Coube, então, ter a pretensão de levantar os preceitos necessários para uma
forma de rádio no contexto dos media móveis com o propósito de refletir sobre a
comunicação em tempos velozes na hipermobilidade; e, como experimento, pensar um
projeto de criação de uma programação radiofônica, no formato audiocast, que combina
dispositivos móveis para transmitir microconteúdos vinculados a lugares específicos.
Conforme já dito, o que se pretendeu desenvolver, como aplicação prática, foi uma
programação experimental de rádio com produção baseada em aparelhos móveis, como
celulares, laptops (ou minilaptops) e tablets, gravada e transmitida em fluxo constante
por redes sem fio, bluetooth, ou etiquetas de identificação por radiofrequência (RFDI).
Trata-se de áudio com informações digitais, associado ao espaço geográfico.
Os audiocasts dessa programação experimental foram armazenados na internet,
possibilitando sua captação e audição tanto pelos computadores, tablets ou celulares,
quanto por qualquer tocador de MP3 (com possibilidade de download do conteúdo ou
apenas audição por streaming). São programas que apontam referências a localidades
reais e são alojados no cyberspace – uma forma de aliar a internet às informações das
ruas das cidades.
A interatividade dos experimentos foi propiciada de maneira participativa por
mensagens de texto SMS, tuites, postagens no Facebook, Instagram, Foursquare, em
redes próprias para enviar conteúdo ligado às coordenadas geográficas, além das
maneiras tradicionais nos espaços de comentários, permitindo unir as pessoas em torno
das possibilidades de trilhas sugeridas. Santaella (2008, p. 130) levanta a questão da
volta transformada da interação humana frente a frente:
Com as redes de comunicação móveis baseadas em localizações ressurgem os
pontos de encontro no espaço físico de um ambiente urbano. O parâmetro da
localização geográfica é assim reintroduzido, mas em atividades que
continuam sendo mediadas por computador. O espaço virtual em que a
comunicação ocorre é mapeado para o espaço físico habitado pelos corpos
materiais dos participantes. Assim, o contexto espacial virtual é mapeado no
mundo físico e o contexto espacial híbrido resultante torna-se a arena do
processo interativo.
32
Redes sociais musicais como a Blip.FM – ambiente para audição de músicas, possibilidades de se
tornar DJ e relacionamento com os demais audinteragentes.
33
Veja-se nota 11 da Introdução.
3. Os relatos
Se parte, pues, de uma concepción muy aberta de la ciberradio con objeto de poder integrar
otras innovaciones más o menos próximas y que tengan como núcleo expresivo principal el sonido.
Emerge un mundo sonoro detrás de esta denominación que abarca todo el fenómeno sonoro de Internet o
procedente de otras modalidades internas o externas de la Red. Todo ello es posible gracias al paso a la
web 2.0 que repercute de manera transversal en todos los grandes cambios en Internet hasta dar el salto
a una nueva concepción comunicativa basada en el desarollo de redes sociales. En este caso interesan
las redessociales centradas en el audio como prolongación de la ciberradio. (CEBRIÁN HERREROS,
2008, p.134)
Figura 25. Parte do arquivo no Google Docs de uma das classes, o 3JOA
Figura 26. Tela do iPhone que ilustra o aplicativo que grava, edita e partilha
Na rua, cada repórter entrava no ar no seu ponto de partida com uma matéria ao
vivo e, posteriormente, gravava outra reportagem na sequência, que era enviada aos
editores de plantão no estúdio. Estes tinham de cortar o excesso no intuito de tornar as
sonoras curtas o suficiente para dar mais dinamismo ao programa. Assim, as
reportagens que entravam ao vivo tinham um tempo com um pouco mais de um minuto
ou um minuto e meio, pois contavam com a participação dos âncoras.
Intercalar, como camadas de informação geolocalizadas, matérias ao vivo e as
recém-gravadas em trânsito, dava fôlego para que a equipe de reportagem se
posicionasse novamente para espaçar a próxima entrada. Entre um repórter e outro, os
âncoras liam notas frias (porém pertinentes) para não deixar o programa datado. Aliás, o
jornal inteiro foi pensado com assuntos que conseguissem ficar quentes por um bom
tempo para quem quisesse ouvir fora do streaming.
Todo o walk radio contou com a paisagem sonora da própria avenida nas
reportagens que entravam no ar, e a parte da ancoragem ganhou BG (música de fundo)
previamente escolhido (de forma a combinar com o tema) para compor o programa.
Músicas selecionadas pelos alunos da equipe responsável, que foi instruída a não
utilizar trilha branca (o que comumente rádios comerciais usam e deixam todo e
qualquer programa repetitivo) trouxe mais personalidade musical ao programa. É bom
frisar que a parte técnica (sonoplastia) do programa também foi comandada pelos
alunos.
Como o streaming foi feito pelo aplicativo Flipzu (veja-se abertura da app na
figura 27), que simultaneamente posta (como aviso) o início da transmissão no Twitter
ou no Facebook, ou nas duas redes sociais, se estiverem lincadas, a divulgação entre os
seguidores de quem tem conta nessas redes trouxe, de forma virótica, ouvintes variados,
principalmente de quem “retuita” (o tuite é retuitado quando alguém achou por bem
replicar o que foi escrito por outra pessoa) ou curte a chamada para a audição (o post
automático) como diálogos repercutidos. Quando isso ocorre, basta manter a
conversação com quem se manifesta pelo chat como retorno providencial, garantindo
audiência. Porém, grande parte de quem ouve não costuma escrever no chat, o que se
constata, depois da transmissão, em razão do número infinitamente maior de quem
ouviu.
35
“O Twitter, o serviço de microblog de mensagens curtas instantâneas que mais cresce entre as redes
sociais, foi criado para ser acionado pelos dispositivos móveis com ferramentas 3G, e, a bem dizer, hoje
em dia, é usado tanto nos celulares quanto na Web.” (FERREIRA; PRADO, 2010).
36
Sabemos também que o ato de tuitar, apesar de fixar um limite de, no máximo, 140 caracteres por tuite,
requer do nosso olhar atenção para a telinha do celular. Porém, desenvolvedores de aplicativos pensaram
no que poderia ser um risco entre aqueles que por ventura pudessem tropeçar em algo não visto no chão e
criaram o programa Walk MSG´n para tuitar andando, no qual o visor da tela aciona a câmera fotográfica
do celular, permitindo que se enxergue a imagem do chão enquanto se anda, digita e manda mensagens ao
mesmo tempo. (FERREIRA; PRADO, 2010).
37
Dados apurados por Rafael Barifouse, em 4 de outubro de 2010, para a reportagem “O prefeito das
mídias sociais”, da revista Época Negócios, na qual dizia ainda que o Foursquare “também fica cada vez
mais global. O que era uma novidade entre antenados americanos hoje tem 40% da audiência no
exterior”.
Figura 30. Gráfico sobre o crescimento do Foursquare
38
“Internet of Things has come to describe a number of technologies and research disciplines that enable
the Internet to reach out into the real world of physical objects. Technologies like RFID, short-range
wireless communications, real-time localization and sensor networks are now becoming increasingly
common, bringing the Internet of Things into commercial use.”
expressão em 1999. Santaella discorre sobre as origens das redes móveis marcando os
locais:
39
Lemos lembra a frase de Russel “The internet has already started leaking into the real world”, ao se
referir à internet pingando nas coisas.
alterar seu destino. Às vezes, ocasiona a reação de outras pessoas que frequentam o
lugar, concordando ou não com as opiniões, incluindo novas e mais informações. “O
lugar não é mais um problema para acesso e trocas de informação no ciberespaço ‘lá em
cima’, mas uma oportunidade para acessar informação a partir das coisas ‘aqui em
baixo’”, reforça Lemos (2009, p. 162).
A maneira de se situar em trânsito, oferecendo anotações urbanas, extrapola a
mera informação do paradeiro das pessoas, de sugestões de onde ir próximo ao local em
que se está, ou mesmo de provocar encontros físicos, juntando aqueles que estão por
perto – o que já comprova utilidade do serviço. Mas aplicativos enredados a
dispositivos móveis apoderam-se de outras possibilidades, como miragens.
Em vista disso, Santaella (2010) sintetiza ao lembrar que “as antigas fricções da
distância desaparecem, para fazer surgir a ubiquidade em seu lugar. Borram-se, assim,
quaisquer fronteiras entre vida privada e pública, entre dentro e fora, entre aqui e lá”.
Ao se levar em conta que não basta mais apenas a atitude pessoal, a autora acrescenta de
forma perspicaz.
Da intersecção resultam complementações, trocas e sobreposições
entre a mobilidade física e a virtual, que estão trazendo inesperados
significados para espaço e lugar e que podem ser sintetizados nas
expressões “mobilidade contínua” e “conectividade permanente”.
A próxima edição do walk radio “Paulista de ponta a ponta” deverá contar com
uma webcam posicionada no estúdio para ficar à disposição dos curiosos em relação à
equipe, bem como webcam acompanhando as andanças dos repórteres pela avenida no
ato das reportagens. Nesse caso, o audioblog deverá conter janelas de visualização
interna e externa. Uma das câmeras da parte interna mostrará a mesa com os âncoras e
os produtores transitando, uma segunda câmera mostrará a parte dos sonoplastas e
trilheiros trabalhando depois do vidro que os separa (a experiência foi feita em estúdio
tradicional) e uma terceira, com os editores. Uma quarta janela mostrará a câmera
acompanhando os repórteres na rua. Como as câmeras da reportagem seguem a ordem
da numeração da avenida, ela é passada de mão em mão pelos produtores, conforme as
matérias vão sendo feitas, como a passagem de um bastão. Nesse caso, o internauta
pode escolher ver uma das quatro janelas abertas simultaneamente. Nas figuras 32 e 33,
podem ser vistos os alunos em pleno exercício.
Figura 32. Os alunos Liz Terra e Narlir Galvão como âncoras no aplicativo Instagram
Figura 33. Os alunos em álbum na rede social de fotos Flickr
Dez anos atrás, o pesquisador mais premiado da Universidade de Stanford não tinha tanto
acesso à informação como pode ter hoje qualquer pessoa em um cibercafé em Bangladesh.
Sergey Brin40 (2005).
40
Cofundador do Google no Manual de ferramentas Google para jornalistas. Busca e apuração (2010).
É possível acreditar, em hipótese, que, em futuro breve, quando alguém entrar
(para ouvir, ler ou ver) em uma reportagem, ela terá como praxe sua visualização em
mapas à disposição. O conteúdo a ser reportado pode até ser o mesmo de uma
reportagem convencional, o que muda é a possibilidade de enquadrá-lo em mapas,
contribuindo para refinar a memorização. É fato que o termo enquadrar é
demasiadamente forte para demonstrar a experiência do mapeamento, pois sugere algo
preso em um quadrado. Porém a proposta é oposta, é exatamente a da reportagem
móvel aberta e, ao informar o entorno, ela pode crescer infinitamente, com cada vez
mais referências, se houver ajuda dos colaboradores com a confiabilidade de quem
esteve lá para atestar o que presenciou.
Veja-se o mapa criado para o bairro Vila Mariana, de São Paulo, a propósito de
editoria no Portal dos alunos de jornalismo da Escola de Propaganda e Marketing
(ESPM), de São Paulo, criada para experimento. As formas arredondadas coloridas
representam bem que a região pode ser indexada de forma continuamente alastrada.
Figura 34. Exemplo de mapa com os arredores circulados
Veja-se, na figura 35, onde emerge a marcação das reportagens com ícones que
a própria ferramenta fornece para especificar o tipo de lugar (restaurante, café etc.).
Figura 35. O mapa com os ícones pingados nos locais
Pode-se, neste ponto, passar para outro relato: a experiência com os alunos da
Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) foi bastante
enriquecedora. Por se tratar de um período conturbado pelas manifestações grevistas,
(final de 2011), era para não dar totalmente certo. Porém, o acolhimento à continuidade
do curso foi bem tranquilo e os alunos, motivados por poderem falar do tema da greve
no trabalho, realizaram uma experiência de webradiojornalismo hiperlocal como os
alunos da Faculdade Cásper Líbero e os da FMU/FIAM, relatados anteriormente, com a
diferença de que este foi temático. Como o tema era a greve da USP que acontecia no
momento, ao contrário dos demais estudantes – fora das salas de aulas por conta da
greve –, os alunos de radiojornalismo eram quase os únicos a planejar, pautar, produzir
e, depois, gravar com streaming e webcam ao vivo para quem quisesse saber ou
entender os (reais) motivos do movimento estudantil.
Foi dado o nome “Os pingos nos is” ao programa. E exatamente como diz a
expressão, a ideia era tentar explicar as circunstâncias que provocaram a greve e deixar
claro que não era um movimento sem importância como vários veículos da mídia
estavam apregoando. Munidos do sentimento de revolta com a própria categoria, os
futuros jornalistas (alguns já exercendo a profissão em estágios) prepararam um
programa no qual todos os pontos eram levantados e todos os lados, ouvidos.
O entorno, a princípio esquadrinhado na própria ECA, foi ampliado para a
cidade universitária inteira, já que a proposta foi falar de um tema que envolvia a USP
como um todo. Assim, com o exercício, foi inaugurada uma nova modalidade de
audiocast, a que envolve uma comunidade que frequenta um campus universitário, no
caso, o que é chamado Cidade Universitária Armando de Sales Oliveira (o nome do
fundador da universidade, o então interventor do Estado, político liberal paulista),
localizado no bairro do Butantã, na Zona Oeste da cidade de São Paulo.
Figura 37. Espelho do programa “Os pingos nos is”
Para hospedar o programa “Os pingos nos is”, foi criado um ambiente na
plataforma tumblr, no endereço eletrônico: <ospingosnosis.tumblr.com/>. Na
apresentação, um resumo do projeto:
Na figura 39, pode ser verificado alguns dos pingos (pins) marcadores, onde as
reportagens foram feitas.
41
O mapa da produção do experimento “Os pingos nos is” está disponível em <http://ur1.ca/ae9be>.
Figura 39. Lista das reportagens que aparece no Google Maps
O programa “Os pingos nos is” incluiu quadros de humor, quando satirizavam a
própria situação, potencializando as características do movimento, quando sobrepõe
informações deglutidas do cotidiano, neste caso, tornadas cômicas. Além do
radiojornalismo tradicional, baseado em entrevistas, coleta de depoimentos e sondagens,
o programa deu espaço a crônicas (sempre levando em consideração o tema da greve),
mostrando interfaces dialogáveis, quando o cronista, morador do Crusp (alojamento da
USP), conversava com os âncoras do programa sobre sua reconstrução do real, como é
possível ver na figura 40.
Figura 40. Janela aberta no mapa mostra uma das possibilidades sonoras, a crônica de um morador do Crusp
42
O autor, como os demais espanhóis, preferem usar o termo com o prefixo ciber: cibermedio,
ciberperiodismo, cibermundo etc.
Figura 41. Timeline do hot Twitter criado pelos alunos na ocasião do programa
Figura 42. Homepage do site nooradio com os símbolos dos três experimentos em alusão ao jogo Tetris
43
Vale lembrar que este site foi desenvolvido no decorrer da pesquisa para esta Tese no Programa de
Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica, da Pontifícia Universidade Católica
(PEPGCOS/PUC-SP) combolsa Capes.
Ao clicar no símbolo “mais” ao lado do nome nooradio, pode-se saber mais
sobre o estudo, conforme a figura 43 mostra.
A página da Avenida Paulista, como pode ser visto na figura 44, mostra o nome
“paulista” abaixo do nome do site nooradio. Isso acontece nas demais páginas. O mapa,
mantendo a forma geográfica escolhida, traz ao fundo o próprio mapa da Avenida
Paulista. No canto direito, os símbolos (clicáveis) dos outros experimentos, o mesmo
acontece nas outras duas.
A página da praça Benedito Calixto, conforme é possível ver na figura 45, segue
a mesma linha da Avenida Paulista, o mapa de fundo, os pins fincados no mapa e os
símbolos das demais no canto direito abaixo.
Figura 45. Página da praça Benedito Calixto
A página da USP também segue as premissas das outras duas e mostra o entorno
da área da Universidade de São Paulo por onde a equipe de reportagem passou, como
pode-se ver na figura 46.
É por essas e outras razões que esta pesquisa não foi em vão. É preciso acordar
para a realidade digital, saber usar muito bem os aparatos tecnológicos a favor da
radiofonia renovadora, arejada, inspirada. A ideia de propor uma nova forma de fazer
rádio não está fechada, mas em progresso, sendo testada a cada nova experiência.
Aplicativos são verificados, novas formas de interação e de automatização são
experimentadas. Não se pretende impor uma nova estrutura de se fazer rádio, apenas
colocar à prova diferentes formas de trabalhar o radiojornalismo aliado às tecnologias
digitais de ponta. A ideia é mostrar apenas que existem outras possibilidades de se fazer
rádio. Mas, quando fala-se “rádio”, significa dizer a rádio atual, a rádio multimídia, a
rádio com imagens complementares, a rádio com chat aberto, com a ajuda do
colaborador, do morador, do frequentador; a rádio recebendo opiniões em tempo real, a
rádio conectada nas redes sociais, a rádio que vai atrás de onde o público-ouvinte está
(por mais que esta última frase pareça um slogan, é isso mesmo que é desejável dizer); a
rádio que não se contenta em repetir o que radialistas vêm fazendo há nove décadas;
porque o mundo do jornalismo, o da comunicação, e mesmo o da web (apesar de mais
recente que os demais) vem sofrendo mudanças e é preciso acompanhá-las, adaptá-las e
tirar proveito do que essas mudanças nos trazem de melhor. É nesse contexto que a
referência a García vem em boa hora:
Lo que podemos afirmar, de momento, después de estos años del
tercer milênio, es que el periodismo local há recuperado protagonismo
en la sociedad digital. Y lo ha hecho no solo por el número de
profesionales que diariamente lo practican, sino por la importância
que tiene la información de proximidad para los ciudadanos. Esta se
há convertido em vital para que hombres y mujeres puedan participar
em la vida de la comunidad, es decir, para que dispongan de los datos
útiles que hagan posible uma verdadera integración como miembros
de esa comunidad em las localidades donde desarrollan buena parte de
su actividad. (GARCÍA, 2008, p. 39).
No universo da produção nos exemplos, a partir dos três experimentos para esta
Tese, foram abordados os conteúdos: jornalístico e de entretenimento (disponível no site
<nooradio.net>). Não apresentam nada de extraordinário. São apenas tentativas de sair
do óbvio, de seguir e tomar parte da evolução dos aparatos de comunicação e
transmissão, de fazer algo possível de ser acessado, consumido, que seja útil, mas,
acima de tudo, que tenha um caráter inovador, esbarrando na arte para que possa ser
atraente e gostoso de ouvir (e ver).
O que podemos notar é que, mesmo estando em meados de 2012, para municiar
o conteúdo radiofônico, deparamo-nos com uma produção calcada em outros veículos:
antes, os jornais e, atualmente, a internet. Quando, nas décadas de 1940 e 1950, o
radiojornalismo praticava o conhecido ato chamado “gilette-press”, ou seja, o recorte
das notícias do jornal para serem lidas pelos locutores, tal procedimento foi
extensamente reprovado. Porém, hoje, costuma-se fazer o mesmo. Radialistas
selecionam o que querem dos sites em profusão, e a leitura é feita diretamente da tela da
máquina. Nem é mais preciso cortar e colar, procedimento adotado no início da web.
Como grande parte dos estúdios possui monitores de computador, tornou-se fácil dar
informações apuradas por outros jornalistas. Vemos, cada vez mais, o radialista
acessando notícias de outros que, muitas vezes, também copiam outros, direto de seu
celular, para colocar no ar algo que não foi obtido e muito menos checado por ele.
Eduardo Meditsch (2009) também enxerga o que está acontecendo quando reflete sobre
o fazer rádio diferenciado da escrita, da era da cópia do impresso: “A dificuldade que
acompanha o discurso do rádio informativo desde a sua origem é encontrar uma
maneira de expressar de forma sonora um conteúdo que tomou forma originalmente na
tecnologia da imprensa”.
O jornalismo impresso, lembra Meditsch, “operava com a palavra, porém com a
palavra estática, ‘congelada’ em forma de escrita. Ao se aventurar pela primeira vez no
terreno da palavra elástica, ‘em estado líquido’, o gênero se defrontou com uma série de
situações inteiramente novas”. Ainda sobre a forma oral e a escrita, acrescenta:
Vemos, aqui e ali, com raridade, uma ou outra emissora testando novas
possibilidades sonoras. Em geral, conseguem bons resultados. De todo modo, se
considerarmos a imensa maioria, muitas vezes coloca no ar (para ficarmos em um dos
exemplos, o da função da oralidade) inexperientes radialistas que pensam saber fazer
rádio pelo simples fato de saberem falar. Como temos enfatizado em diversas ocasiões
(cf. PRADO, 2006, 2007, 2009, 2010), ignora-se que é preciso saber se expressar, com
linguagem própria radiofônica, ritmo, respiração adequada, respeitando a respiração,
mas com cadência, com as pausas e ênfases nos lugares certos etc. É neste contexto que
Meditsch (2009) continua seu raciocínio:
45
O DRACE é um grupo internacional que reúne pesquisadores da Dinamarca, Finlândia, Noruega,
Irlanda e do Reino Unido. O site oficial do grupo é o <http://www.drace.org>.
46
ECREA é um grupo europeu de pesquisa em comunicação. A seção de estudos de rádio é um dos
grupos de estudos mais organizados da Europa, promovendo eventos próprios, para além do evento
o grupo francês Groupe de Recherches et d´Etudes sur la Radio47 (GRER), que têm, nas
palavras da pesquisadora, empregado esforços na busca pela compreensão e definição
do conceito de rádio nesse cenário que se configura.
A pensadora reflete ainda sobre o hibridismo como qualidade inerente das mídias
móveis:
A partir desse tipo de ponderação é que foi possível levar adiante a ideia de
colocar no ar (via streaming) experimentos que reforçam as hipóteses de que é possível,
a existência de uma rádio cibernetizada, que atenda à vizinhança, sem bairrização, por-
nós-para-nós, mas, de formato transmídia, com ressonância nas redes sociais e,
principalmente, produzida, acionada e ouvida na plataforma mobile, principal tendência
que vem alavancando as demais.
Teoria Ator-Rede
Coincidência ou não, enquanto Lemos proferia uma apresentação48 no Intercom
(Congresso de Comunicação) em 2011, sobre a Teoria Ator-Rede (Actor-Network
Theory), de Michel Callon e Bruno Latour, exatamente a parte dos experimentos desta
Tese acontecia, no mesmo mês: setembro. Ou seja, enquanto Lemos mostrava a
importância da teoria Ator-Rede para a pesquisa empírica em comunicação, era aplicado
o que havia sido proposto, que, neste estudo, não é chamado exatamente de associações,
mas associa-se humanos – estudantes de jornalismo (atores ou actantes) – e não-
humanos (dispositivos móveis), deixando não somente rastros49, mas também,
reportagens disponibilizadas.
“Mediações, traduções, caixas-pretas ou pontualizações (todos conceitos da
teoria ator-rede) que surgem desses hibridismos” são listados por Lemos (2011). O
pesquisador cita também que a TAR “encontra eco em trabalhos de pensadores como H.
Innis, McLuhan, G. Simondon, Gabriel de Tarde, W. Lipmann, entre outros,
importantes para a nossa área”. Disse Lemos, na ocasião:
48
Apresentação na mesa intitulada “Pesquisa Empírica em Comunicação”, realizada na Intercom 2011,
com a coordenação de Eduardo Meditsch e a participação de Maria Helena Weber e Júlio Pinto.
49
Neste ponto, é bom lembrar que não nos ativemos à questão do rastreamento no sentido da vigilância,
de extrema importância para estudo aprofundado, mas que deixaremos para uma próxima pesquisa.
humanos) a fim de poder “reagrupar” o social. Acredito que a ANT50,
pouco conhecida e menos ainda utilizada na nossa área, possa ser de
grande valia como uma das teorias da comunicação. Esforços
precisam ser feitos nesse sentido já que temos algo muito rico ainda
pouco explorado: uma teoria que mescla humanos e não humanos
(mídias), que começa nos rastros e nas associações, levando em
consideração as materialidades da comunicação. Parece-me ser esse o
momento para introduzirmos, na pesquisa em comunicação no Brasil,
a teoria ator-rede.
Outra tirania de que as redes nos livram: a das escalas micro e macro –
família, grupo, instituições, nação. Substituindo escalas por
50
Lemos usa a abreviação a partir do inglês: ANT.
conectividade, uma rede não é maior ou menor do que outras redes.
Ela pode apenas ser mais longa ou mais intensamente conectada. [...]
Além do perto/longe, grande/pequeno, a terceira oposição espacial de
que as redes nos livram é a do dentro/fora. Enquanto uma superfície
tem um dentro e um fora separados por uma borda, redes são só
bordas, sem dentro nem fora. Com isso, não temos mais de preencher
espaços entre conexões. Redes não têm sombras nem vazios. Tudo é
substituído por associações e conexões que a TAR não qualifica como
sendo sociais ou naturais ou técnicas, condição que se esclarece
quando o conceito de ator-rede entra em cena. É o ator-rede que
permite a passagem das propriedades topológicas e estáticas para as
ontológicas. (SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 32).
Já Lemos, acredita que “em meio a uma profusão de dados e de rastros deixados
pelas mais diversas ações comunicacionais, a TAR51 pode nos ajudar a compreender o
social como movimento de associações” e complementa:
Diante de tal quadro, pode-se concordar que as experiências foram certeiras. Foi
possível provar a hipótese levantada nesta pesquisa. Por exemplo, quando da utilização
do aplicativo Foursquare, as marcas de rastros são deixadas nos mapas abertos. Lemos
arremata: “Esse rastreamento digital está em marcha com os usos das mídias digitais,
principalmente as tecnologias móveis com serviços de geolocalização”.
Lemos (ibid.) acredita que o embate dos dois pode trazer um frescor às ciências
sociais (incluindo a comunicação) e acrescenta: “Tarde tinha imaginado um momento
em que as estatísticas e dados quantitativos resultantes de comportamento social seriam
transparentes e visíveis. Isso está se tornando uma realidade hoje”.
A visão de uma estatística geral (Durkheim), uma métrica útil, mas insuficiente,
segundo Lemos, estaria sendo posta à prova (revelando a importância da análise das
associações em detrimento daquelas genéricas sobre “o social”) com o surgimento de
novas formas de rastreamento digital. “Podemos olhar para os dados sociais em uma
ampla gama de níveis de agregação, indo e voltando do micro para o macro com
facilidade. Associações passam a ser assim visíveis para o analista social.” Como afirma
Bruno Latour, na tradução livre de Lemos (2011):
Se uma em cada quatro pessoas checa o celular a cada meia hora, ou se mesmo
uma a cada cinco pessoas verifica o aparelho a cada 10 minutos, podemos concluir que
o celular virou mania. Um terço dos entrevistados confessou que ficar sem seus
celulares os deixa ansiosos. Nem sempre checam atrás de notícias, como diz a
reportagem de Nancy Gibbs: “It is a form of sustenance, that constant feed of news and
notes and nonsense, to the point that twice as many people would pick their phone over
their lunch if forced to choose”.
Com dados desse porte que, de certa forma, corroboram o trabalho aqui
realizado, nossas reflexões podem ser encerradas com as palavras de Trivinho (2006),
no artigo intitulado “Cibercultura e Humanidades: acerca da articulação nacional de um
novo campo científico interdisciplinar no Brasil”:
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Figura 3. TouchOSC
Figura 5. Reactable