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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica

RADIOJORNALISMO NA CIBERCULTURA
Por uma nova experiência de rádio em tempos de
redes sociais e hipermobilidade

Magaly Parreira do Prado

Doutorado em Comunicação e Semiótica

São Paulo

2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica

RADIOJORNALISMO NA CIBERCULTURA
Por uma nova experiência de rádio em tempos de
redes sociais e hipermobilidade

Magaly Parreira do Prado

Doutorado em Comunicação e Semiótica

Tese apresentada à Banca Examinadora


da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, em Comunicacao e Semiótica,
sob orientação do Professor Doutor
Eugênio Trivinho.
Área de Concentração: Signo e significação nas mídias
Linha de Pesquisa: Cultura e ambientes midiáticos

São Paulo

2012
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica

RADIOJORNALISMO NA CIBERCULTURA
Por uma nova experiência de rádio em tempos de
redes sociais e hipermobilidade

Magaly Parreira do Prado

Doutorado em Comunicação e Semiótica

Tese apresentada à Banca Examinadora


da Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo, em Comunicacao e Semiótica,
sob orientação do Professor Doutor
Eugênio Trivinho.
Área de Concentração: Signo e significação nas mídias
Linha de Pesquisa: Cultura e ambientes midiáticos
Banca examinadora

__________________________________

__________________________________

__________________________________

__________________________________

__________________________________

São Paulo

2012
Dedico este estudo a todos meus alunos e ex-alunos.
Agradecimentos

Sinto-me motivada a mostrar meu reconhecimento por aqueles que, de


alguma forma, participaram dessa etapa da minha carreira acadêmica. Assim,
agradeço aos nomes que seguem:

Ao professor e orientador Eugênio Trivinho – que norteou meu


trabalho no sentido de que o objeto de estudo sempre pudesse desencadear e
somar outras percepções –, por sempre elogiar o tema e a originalidade da
minha Tese, por ressaltar a inovação de minha proposta de estudo e,
principalmente, por incentivar o aperfeiçoamento contínuo de meu trabalho de
Doutorado.

Às professoras Jerusa Pires Ferreira e Lucia Santaella, pelas aulas


ministradas em suas disciplinas, que foram férteis e clarearam ideias em
emergência, e pelas contribuições certeiras para o desenvolvimento desta
pesquisa, na ocasião de meu Exame de Qualificação. Mergulhar no
pensamento atual de Lucia Santaella foi (e prossegue com os encontros do
Sociotramas - Grupo de pesquisa multitemático sobre redes digitais) um
privilégio e proporciona contínuo êxtase intelectual. Jerusa Pires Ferreira que,
do alto de sua sabedoria, generosamente compartilhada de modo serenado,
inspirou (e inspira) minha maneira de pensar e de escrever, como que nos
influenciando a não temer a exposição de nossos desejos, pensamentos e
convicções; o que nos dá grande alívio e reduz a aflição das diversas etapas do
Doutorado.

Aos demais professores do Programa de Estudos Pós-Graduados em


Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
pelos ensinamentos compartilhados ao longo dos primeiros três semestres do
curso.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(Capes), pela bolsa de estudos.

À Cida Bueno, da secretaria do COS, pelo atendimento de nossas


necessidades.

Aos meus alunos da Cásper Líbero, da FMU-FIAM e da ECA-USP,


participantes com afinco dos exercícios práticos tornados experimentos desta
Tese.

Aos amigos Ceiça Campos, Cleide Floresta, Fernanda de Araújo


Patrocínio, Guto Lobato, Luís Mauro Sá Martino, Maria Ivonete Ramadan,
Marcos Vinicius Vicari e Sonia Basca.

Agradecimentos especiais aos queridos que tiraram minhas dúvidas,


inclusive nas madrugadas e finais de semana: Francisco de Assis e Maria
Cristina Palhares Valencia.

À minha mãe amada, Thereza Parreira do Prado, que, mesmo distante,


não deixou de me dar suas palavras de estímulo, nas horas mais certas.

Na verdade, a todos meus familiares que ficaram sem minha presença


mais amiúde, principalmente a Jackie Prado Caverzan Hunter, que no meio do
caminho me deu um netinho lindo – Gabriel –, a quem não pude dar toda a
atenção do mundo.

Ao Marcos Augusto Campos Resende, pelo companheirismo


incondicional e a infinita paciência sem chiar (muito).
RADIOJORNALISMO NA CIBERCULTURA: por uma nova experiência de
rádio em tempos de redes sociais e hipermobilidade
Resumo

Esta Tese está dedicada ao estudo do radiojornalismo produzido por usuários de


dispositivos móveis, no âmbito da hibridização suscitada na cibercultura. A primeira
parte trata da articulação dos potenciais tecnológicos aliados à audiofonia, a partir de
uma investigação a respeito dos media móveis baseados em redes sociais como
determinantes de novas formas de comunicação em condições de hipermobilidade. A
segunda parte demonstra a hipótese principal: a de que usuários de internet por celular
podem vir a ser a audiência primordial de uma nova rádio. O principal problema de
pesquisa recai sobre a pertinência operacional de uma rádio concebida segundo as
características e potenciais emergentes da cibercultura. Até que ponto pode-se
antecipar o nascimento de uma rádio nesses moldes, sabendo-se que, para esta Tese, a
pesquisa empírica foi um estudo de verificação de uma possível rádio que articula
elementos ainda não utilizados socialmente com regularidade? Quem poderia
contribuir para esse tipo de programação diferenciada? O usuário participaria com
anotações urbanas de seus caminhos? Essas informações do público poderiam gerar
conhecimento? Tais indagações são respondidas nas discussões e nos relatos sobre os
experimentos desenvolvidos para fundamentação da argumentação. O quadro teórico-
epistemológico relacionou a comunicação, a cultura e a velocidade com autores que
avaliam a comunicação em tempo real. Entre os teóricos conjeturados, estão de
Marshall McLuhan e Armand Balsebre a Manuel Castells e Néstor García Canclini.
Alguns dos autores que analisam os media móveis, como Lucia Santaella e André
Lemos, subsidiaram a compreensão dos temas da pesquisa, em conjunto com autores
que realizam a crítica da comunicação no cyberspace e tensionam os conceitos
trabalhados, como Paul Virilio e Eugênio Trivinho. A metodologia adotada
compreendeu a condução, a análise e a relatoria circunstanciada de experiências de
pesquisa em webradiojornalismo produzido com dispositivos móveis, as quais uniram
geolocalização e mapeamento de ruas de São Paulo, chat e streaming, além de
irradiação pelas redes sociais. Na terceira parte, apresentamos o site que abrigou os
experimentos. Como resultado, esperamos que a reflexão sobre a comunicação em
tempos velozes tenha fincado os preceitos fundamentais para uma programação de
audiocast, combinando microconteúdos vinculados a anotações de lugares para
fornecer a transeuntes, por celular, informações “aumentadas” dos entornos
esquadrinhados. A demonstração de uma rádio inovadora foi por si só, como
experimento, uma crítica ao radialismo tradicional, pensada diferentemente das
rotinas do mercado, o que se espera constitua uma contribuição científica ao curso
histórico da radiodifusão.

Palavras-chave: cibercultura, redes móveis, dispositivos móveis, radiojornalismo,


webjornalismo.
Radio journalism in cyberculture: toward a new experience of radio in the era of social
networks and hypermobility

Abstract

This Thesis focuses on a study of radio journalism produced by users of mobile devices,
within the sphere of hybridization evoked in cyberculture. The first part discusses the
articulation of the technological potential associated with audio technology, starting from an
examination of mobile media based on social networks as determinants of new forms of
communication in conditions of hypermobility. The second part puts forward the main
hypothesis that users who access the web via mobile phone may become the primary audience
for a new radio station. The main research problem consists in determining the operational
relevance of a radio station designed according to the emerging characteristics and
potentialities of cyberculture. To what extent can one expect the creation of a radio station
along these lines, considering that, for this Thesis, the empirical research involved an
investigation of a possible radio station that proposes elements not yet employed socially on a
regular basis? Who could contribute to this type of differentiated programming? Would users
participate with urban notes about their daily routine? Could this information from the
audience produce knowledge? These questions will be answered in the discussion and
description about the experiments that were developed to underpin the argumentation of this
thesis. The epistemological and theoretical framework links communication, culture and speed
with authors who evaluate communication in real time. The theoreticians consulted here range
from Marshall McLuhan and Armand Balsebre to Manuel Castells and Néstor Garcia
Canclini. Some of the authors who analyze mobile media, such as Lucia Santaella and André
Lemos, helped shed light on the themes of this research, together with authors who offer
critiques about communication in cyberspace and expand on the concepts examined here, such
as Paul Virilio and Eugênio Trivinho. The methodology adopted here comprised the
performance, analysis and circumstantiated report of research experiments in web and radio
journalism produced with mobile devices, which consisted of geolocalization and street
mapping of São Paulo, chatting and streaming, and broadcasting through social networks. The
third part of this thesis describes the website used for the experiments. As a result, we hope
that reflection about communication in high-speed times has established the fundamental
precepts for audiocast programming, combining microcontent linked with notes about places
in order to offer passers-by “enhanced” information about the mapped surroundings via
mobile phone. As an experiment, because it considered market routines from a different angle,
the demonstration of an innovative radio was, in itself, a criticism of traditional radio
broadcasting, and is expected to make a scientific contribution to the ongoing history of radio
broadcasting.

Keywords: cyberculture, mobile networks, mobile devices, radio journalism, web journalism.
Tábua das figuras1

Figura 1. Gráfico da Teleco – Inteligência em telecomunicações sobre


celulares no mundo
Figura 2. Interface do gerenciador HiperGps
Figura 3. Era da performance
Figura 4. Era da composição
Figura 5. Era do digital
Figura 6. Suíte para Mobile Tags
Figura 7. Suíte para Mobile Tags
Figura 8. Overview of the Audio Graffiti system
Figura 9. This experimental Java Applet Map. GeoLink Kyoto
Figura 10. Projeto São Paulo Polifônica
Figura 11. Sons de Barcelona
Figura 12. Sampandando
Figura 13. Página do site MurMur mostrando um dos mapas
Figura 14. Cartaz com o símbolo da orelha e rapaz em audição pelo celular
Figura 15. Página mostra áudios de três pessoas em Toronto (CA)
Figura 16. Homepage do Yellow Arrow
Figura 17. Homepage da Mobotag
Figura 18. Motoboys transmitem de celulares
Figura 19. Mapa de ficções baseadas em fatos sobre as várias augustas
Figura 20. Rádio do Wikinarua
Figura 21. Print da página Bairros.com do Globo.com

1
Caso a visibilidade das imagens não seja suficiente, elas constam do CD anexo a esta Tese,
na segunda capa. As imagens referentes às páginas do site nooradio, que abriga os três
experimentos, estão disponíveis em <http://nooradio.net.> Seguem também, no CD anexo,
todas as imagens reproduzidas na Tese.
Figura 22. Exemplo de postagem de morador na Grande Tijuca (RJ)
Figura 23. Print da homepage do N0tice
Figura 24. Mapa ilustrativo com pontos na Avenida Paulista. Arte produzida
por Vitor Valencio
Figura 25. Parte do arquivo no Google Docs de uma das classes, o 3JOA
Figura 26. Tela do iPhone que ilustra o aplicativo que grava, edita e partilha
Figura 27. Tela da abertura do aplicativo de streaming FlipZu
Figura 28. Twitter Casperwalk
Figura 29. Print de parte da homepage do blog Paulista de Ponta a Ponta
Figura 30. Gráfico sobre o crescimento do Foursquare
Figura 31. Imagem de um dos lugares capturados pelo Foursquare
Figura 32. Os alunos Liz Terra e Narlir Galvão como âncoras
Figura 33. Os alunos em álbum na rede social de fotos Flickr
Figura 34. Exemplo de mapa com os arredores circulados
Figura 35. O mapa com os ícones pingados nos locais
Figura 36. O microfone em uma janela do mapa
Figura 37. Espelho do programa “Os pingos nos is”
Figura 38. Os pins no mapa da plataforma Google Maps
Figura 39. Lista das reportagens que aparece no Google Maps
Figura 40. Janela aberta no mapa mostra uma das possibilidades sonoras, a
crônica de um morador do Crusp
Figura 41. Timeline do hot Twitter criado pelos alunos na ocasião do programa
Figura 42. Homepage do site nooradio com os símbolos dos três experimentos
em alusão ao jogo Tetris
Figura 43. A página apresenta um resumo do projeto
Figura 44. Página da Avenida Paulista
Figura 45. Página da praça Benedito Calixto
Figura 46. Página da USP
Figura 47. Equipe da Cásper Líbero em vídeo e foto.
Figura 48. A equipe de produção da ECA/USP
Figura 49. O áudio que explica a produção da Benedito Calixto
Figura 50. O áudio da produção do programa “Paulista de ponta a ponta”
Figura 51. O áudio da produção do programa “Os pingos nos is”
Figura 52. Página que fala sobre a autora
Figura 53. Do you think being constantly connected by technology is mostly …
Sumário

Introdução

Capítulo 1.

Substrato teórico-reflexivo e estado da arte do áudio na rede

1. Embasamento teórico

1.1. Conceitos de media


1.2. A volta da cultura oral

2. Era da cibernética

2.1. Estado da arte do áudio na rede


2.2. Cyber city, digital city, digital village, cyborg city,
village virtual, telicity

3. Webradiojornalismo móvel

3.1. Novas perspectivas do radiojornalismo

3.1.1. O conteúdo e não o display


3.1.2. Comunicação e espacialização
3.1.3. QR Code no jornalismo

3. 2. Jornalismo hiperlocal

3.2.1. N0ticeboards

Capítulo 2.

Aplicabilidade do arcabouço teórico ao âmbito dos media móveis

1. Proposta
2. Experimento

3. Relatos

3.1. Walk radio hiperlocal com anotações urbanas


3.1.1. Transmissão conforme a caminhada pelos
números da avenida
3.1.2. Cobertura feita com dispositivos móveis
3.1.3. Broadcast now
3.1.4. Foursquare como ferramenta jornalística
de apuração
Internet pingando nos lugares
3.1.5. Webcam registra a performance
3.1.6. Pós-produção e espaço colaborativo no
mapa animado
3.1.7. Grafite sonoro com QR Code

3.2. Exercício hiperlocal multimídia pingando no mapa

3.3. Radiojornalismo hiperlocal temático

Capítulo 3.

Relatos circunstanciados de experimentos de pesquisa: site nooradio

Considerações finais

Referências

Anexo
 

Introdução

Ciberespaço. Uma alucinação consensual vivida diariamente por bilhões.


[…] Uma representação gráfica dos dados abstraídos dos bancos de dados
de cada computador no sistema humano. Complexidade inimaginável.
Linhas de luz enfileiradas no não-espaço da mente, agregados e constelações de dados.
Como luzes da cidade, retrocedendo…
(Gibson, 1984, p. 51)

Uma breve avaliação sobre a literatura disponível revela a existência de estudos


sobre o jornalismo móvel, mas o mesmo não se pode dizer sobre o radiojornalismo
móvel. Não obstante, o tema abre possibilidades de se estudar o radiojornalismo móvel
emergente, realizado por profissionais e ouvintes comuns. Uma rádio produzida pelo
celular para ser ouvida nesse aparelho é encarada como um desdobramento das rádios
na internet. Esta Tese opera a transferência do foco da transmissão para os dispositivos
móveis, antes realizada somente por meio da internet e, doravante, ainda por meio dela,
com a diferença, porém, de que há um deslocamento de contexto. A rádio aqui pensada
usa linguagem veloz em lugares de falas, para ser ouvida em mobilidade, tendo em vista
a tendência de hibridismo nos media, envolvendo rádio, internet, GPS (Sistema de
Posicionamento Global) e celular.
No início deste estudo, em meados de 2009, os dados da mobilidade nos
dispositivos portáteis mostravam que os celulares com banda larga móvel eram 360
milhões, segundo apuração do jornalista João Brunelli Moreno do Site Tecnoblog. No
ano seguinte, um estudo de uma das empresas de telecomunicações, a Ericsson
(Telefonaktiebolaget L. M. Ericsson), mostrou crescimento espantoso, apontando mais
de 500 milhões dos aparelhos 3G sendo usados, e estimou um número perto de 3,5
bilhões, em 2015. A pesquisa da Ericsson previa, para breve, que 80% das pessoas
acessariam a internet pelos celulares. Em 2012, a estimativa somente no Brasil aponta
para dois bilhões, conforme reporta Miriam Aquino. Em reportagem publicada no site
Proeletronic, Sergio Quiroga, presidente da Ericsson para a América Latina aposta: “Os
celulares estarão ligando máquinas a máquinas e, em oito anos, o Brasil deverá contar
com dois bilhões de conexões móveis ligando pessoas a pessoas e máquinas a
máquinas”.
A ideia adveio da crença de que a radiofonia precisa estar atenta às diferentes
expressões que se criam diante de redes sociais musicais de ouvintes de programas que
simulam rádios (LEÃO; PRADO, 2007).1 Por outro lado, a juventude, cada vez mais
rodeada com suas multitarefas, prefere um jornalismo resumido.2 Portanto, a pretensão
é a de juntar experiências de informação por meio de microtextos, como ocorre
atualmente no Twitter – rede social na forma de microblog, que consente escrever (na
página de cada participante) textos curtos, de até 140 caracteres, como forma de
aproximar um público acostumado a seguir pessoas com os mesmos interesses,
agrupadas nessas redes.3 Porém, considerando-se que os dispositivos móveis, colados
aos corpos (always carried4), acompanham os trajetos dos seus usuários, o propósito é
apresentar um novo tipo de conteúdo radiofônico que aproveite esses percursos e, com o
auxílio de ferramentas como o GPS, forneça a esses transeuntes informações
“aumentadas5”.
No dia 17 de julho de 2012, o relatório6 do Banco Mundial, no site Worldbank7,
apresentava cerca de três quartos dos habitantes do mundo com acesso a um telefone
celular e, com isso, vem a constatação de que a história da comunicação móvel está se
movendo para um novo nível, “o que não é tanto sobre o telefone, mas como ele é
usado”. Segundo o relatório, o número de assinantes móveis em todo o mundo, que
usam tanto pré-pago quanto pós-pagos, cresceu de menos de 1 bilhão em 2000 para

                                                                                                                       
1
Exemplos de simulações de rádios como Blip.fm, Last.fm, Musicovery etc.
2
  Estudos estatísticos de tempo de atenção e concentração apontam para um período máximo de 20
minutos.
3
Dados do crescimento em março de 2009 segundo o site IDG Now!: “O número de usuários que
acessam a internet pelo celular mais do que dobrou nos EUA em apenas um ano, de acordo com um
relatório da comScore. Mais que isso: os dados nem levam em consideração as visitas às redes sociais,
uma atividade bastante popular entre quem usa o celular para navegar pela web. Segundo o estudo, 22,4
milhões afirmaram navegar na web diariamente para ler notícias e outras informações em janeiro de 2009.
Isso representa um crescimento de 107% em comparação com os 10,8 milhões de usuários registrados em
janeiro de 2008”. (Disponível em: <http://idgnow.uol.com.br/telecom/2009/03/18/eua-ja-tem-mais-de-22-
milhoes-de-usuarios-de-internet-via-celular>. Acesso em 15 maio 2009.)
4
O termo always carried foi retirado do artigo “Communities are mobile future”, de Tomie T. Ahonen
(2006).
5
  Alusão ao termo “realidade aumentada”, que significa, resumidamente, uma tecnologia que permite
misturar o mundo virtual com o real com interações por meio de ferramentas amigáveis e responsivas,
tanto da parte dos humanos, acionando comandos, quanto do que é possivel pedir às máquinas.  
6
Pesquisa financiada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do Governo da Finlândia, Coréia do
Fundo Fiduciário para ICT4D, e UKaid. Divulgada em 17 de julho de 2012. Disponível em
<http://www.worldbank.org/en/news/2012/07/17/mobile-phone-access-reaches-three-quarters-planets-
population>. Acesso em 21 jul. 2012.
7
 Mobile Phone Access reaches three quarters of planet’s population. Em 17 jul 2012. Disponível em
<http://www.worldbank.org/en/news/2012/07/17/mobile-phone-access-reaches-three-quarters-planets-
population>.  Acesso em 29 jul. 2012.
mais de 6 bilhões, dos quais cerca de 5 bilhões em países em desenvolvimento. “A
propriedade de várias assinaturas está se tornando cada vez mais comum, sugerindo que
o seu número em breve superará o da população humana”.
Nesse sentido, os diferentes trânsitos dos gêneros mediáticos, que a radiofonia
do século 21 passou a desempenhar com o surgimento e o crescente uso das redes
telemáticas, da telefonia móvel e dos aparatos de localização, suscitaram um novo modo
de se comunicar e de se conectar por meio desses dispositivos multifuncionais,
sugerindo conteúdo gerado pelo usuário, chamado aqui de audinteragente. Isto significa
internautas que não só ouvem, mas participam de uma nova prática radiofônica
cibernetizada por-nós-para-nós. Esta é a proposta desta pesquisa.
Havia 6,8 bilhões de pessoas, segundo dados da ONU, e um número de celulares
ativos atingindo a marca de 5 bilhões, no dia 8 de julho de 2010, com o registro da
ativação da quinta bilionésima linha de telefone celular do planeta, conforme
informação do site Phys. Dados apontavam que o mercado havia aumentado sete vezes
nos dez anos anteriores. O estudo dizia ainda que, em 2000, foram ativadas 720 milhões
de linhas de celular, quantidade que significa menos da metade de usuários na China de
2010. A pesquisa mostrava também que, principalmente devido aos mercados móveis
da China e da Índia, mais de 2 milhões de linhas de celular eram ativadas por dia no
mundo. Dados como esses atiçaram o propósito de voltar os estudos ao uso do
jornalismo e, principalmente, do radiojornalismo, melhor dizendo, do
webradiojornalismo nos dispositivos móveis, tendo o celular como foco.
O objetivo particular desse rumo escolhido consagrou-se ao estudo progressivo
do radiojornalismo produzido por usuários de dispositivos móveis (celulares e GPS), no
âmbito da tendência de hibridização na cibercultura. Eugênio Trivinho (2007, p. 116)
define cibercultura da seguinte forma: “Cibercultura designa a configuração material,
simbólica e imaginária da vida humana correspondente à predominância mundial das
tecnologias e redes digitais avançadas, na esfera do trabalho, do tempo livre e do
lazer”. Para isso, importou investigar uma nova maneira de se fazer rádio na era da
mobilidade com anotações urbanas das cidades inseridas no cyberspace e informações
do cyberspace nos espaços físicos das cidades. Experimentos foram realizados para esta
pesquisa, como será visto mais adiante.
Tal ideia evidencia-se relevante pelo fato de a radiofonia existente (no dial e na
internet) ser retrógrada e limitada por manter o medium rádio no formato tradicional.
Consequentemente, perde ouvintes adultos exigentes e, em especial, os jovens.
Levando-se em conta que a web completou 20 anos, em 2009, o jovem de hoje [2012]
cresceu com a rede à disposição, tendo passado a receber música e informação pelas
redes telemáticas. Eduardo Meditsch comprova isso, ao afirmar que, “cada vez mais, as
pessoas vão precisar ser informadas em tempo real a respeito do que está acontecendo,
no lugar em que se encontrem, sem paralisar as suas demais atividades ou monopolizar
a sua atenção para receber esta informação (2001, p. 4-5)”.
Em junho de 2012, o Brasil estava com 256,13 milhões de linhas de telefone
celular. Os terminais 3G (banda larga móvel) totalizaram 48,89 milhões de acessos nos
últimos 12 meses. Os dados são da Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações –,
segundo apuração do site Jornalistas da Web. De acordo com o “Information and
Communications for Development 2012: Maximizing Mobile”8, mais de 30 bilhões de
aplicativos móveis (apps) foram transferidos em 2011. Nos países em desenvolvimento,
os cidadãos estão cada vez mais fazendo uso de telefones móveis para criar novos
hábitos e melhorar seu estilo de vida.
"A revolução móvel está bem no início de sua curva de crescimento: os
dispositivos móveis estão se tornando mais baratos e mais potentes e as redes estão
dobrando na largura de banda a cada cerca de 18 meses, expandindo-se para áreas
rurais", disse Tim Kelly (2012), especialista em Política de Informática, líder no Banco
Mundial e um dos autores do relatório acima citado. O gráfico da Teleco – Inteligência
em telecomunicações mostra (figura 1)9, em 30 de junho de 2012, a evolução dos
últimos 12 anos em bilhões.

                                                                                                                       
8
Este relatório, o terceiro na série do Banco Mundial sobre Informação e Comunicação (TIC) para o
Desenvolvimento, analisa o crescimento e a evolução da telefonia móvel, e a ascensão de dados baseados
em serviços, incluindo aplicativos, entregues para dispositivos portáteis. O relatório explora as
consequências para o desenvolvimento da emergente "economia app".
9
  Caso a visibilidade das imagens não seja suficiente, elas estão em um CD anexo na capa interna da
versão impressa desta Tese. As imagens referentes às páginas do site nooradio, que abriga os três
experimentos, estão disponíveis no endereço eletrônico <http://nooradio.net>. Porém, estão também em
CD anexo com as demais imagens que aparecem ao longo da Tese.

 
Figura 1. Gráfico da Teleco – Inteligência em telecomunicações sobre celulares no mundo

Em entrevista a Rafael Sbarai, da revista Veja, Pete Cashmore, fundador do


Mashable – um dos sites (iniciado como blog) de tecnologia mais conhecidos e
acessados (cerca de 50 milhões de vezes ao mês), uma referência no tema –, ao ser
perguntado sobre qual seria o futuro da web, respondeu que é difícil profetizar sobre os
próximos passos virtuais, mas é certo que um futuro móvel e social nos aguarda. “Nos
libertaremos [sic] do uso assíduo de dispositivos físicos e de difícil mobilidade, como os
desktops e notebooks, para dedicar cada vez mais atenção a smartphones, tablets e
novos dispositivos conectados, de óculos digitais a relógios.”
Sobre quais seriam os próximos passos no segmento de redes sociais, Cashmore
reafirma o que já vem sendo fortemente dito por quem estuda o tema: que o futuro da
web social está nos filtros de compartilhamento de conteúdos e na forma de
apresentação das informações mais relevantes aos consumidores. Ele conjectura, com
base no estado da arte, que, em um mundo com “milhões de fotos do Instagram,
centenas de milhares de horas de vídeos no YouTube e milhões de tweets publicados
diariamente, há uma necessidade profunda de criar guias ou espaços de curadoria para
selecionar os melhores conteúdos”. Acredita também que o Brasil tem potencial para
ser um país importante no setor de tecnologia. Ao ser questionado por Sbarai, afirma:
“O país já está na vice-liderança entre as nações com o maior número de usuários do
Facebook. É uma clara mostra de como os brasileiros conectados à rede têm o desejo de
compartilhar ideias, conhecimentos”.
David Armano, da Harvard Business Review, posta no HBR Blog Rede, que o
Facebook deve anunciar o seu modelo de publicidade exclusivo para a plataforma
móvel antes do final do mês de julho de 2012. Diz ele que a Amazon, por seu lado, está
tratando com a fabricante chinesa Fox Conn, “ambicionando construir o próprio
dispositivo móvel para servir como complemento para o considerável ecossistema de
produtos e serviços da Amazon digital”. A própria China, segundo apurou Armano,
“ultrapassou os EUA como dominante no mercado de smartphones no mundo com mais
de um bilhão de assinantes e cerca de 400 milhões de usuários de web
móvel”. Acrescenta ainda que a empresa de consultoria IDC prevê que “até 2014 terá
havido mais de 76 milhões de aplicativos móveis baixados, resultando em uma
‘economia app’ de valor estimado em 35 milhões no mesmo ano”. Arremata que o
mercado de telefonia móvel vai se tornar “um grande negócio em um futuro não tão
distante”.
Diante disso, esta pesquisa buscou pensar um modelo diferenciado de uma rádio
para os experimentos de audiofonia. Nesse sentido, é possível conceber uma nova rádio
– mediante a união de elementos, tanto do radiojornalismo convencional – efetuado com
ajuda do celular e que se utiliza até mesmo de ouvintes, que colaboram com
informações (como as de trânsito, acidentes, tumulto etc.) de cidades como São Paulo –,
quanto o de audiocasts espalhados nas redes sociais do cyberspace. Esses elementos
estão nas metrópoles e é mais comum verificar experiências de audiocasts, similares ao
que se quer aqui registrar, em países como EUA, Canadá e França. A união desses
fatores pode culminar numa rádio mais próxima de ouvintes acostumados com a
cibercultura.
A seguir um exemplo10, que foi testado nos EUA em 2009 e que possibilita aos
usuários criarem seus programas, utilizando o GPS do celular, sem que seja preciso
perder horas com programação, testes e implementação e sem a necessidade de saber
programar. Ao tornar algum ponto geográfico da cidade escolhida localizável por
sistemas de GPS e mostrar vídeos, imagens e sons, quando algum usuário cruzar por
esses pontos, o projeto WalkingToolsGpx 0.0.4 implementou a interface gráfica
HiperGps, a qual permite associar imagens e arquivos de áudio com a latitude, a

                                                                                                                       
10
A ideia é voltar, sempre que necessário, a ilustrar a reflexão com exemplos de arte móvel, na medida
em que exista necessidade de cotejar o raciocínio e provocar inspirações . Veja-se em Estado da arte do
áudio na rede (2.1.).
 
longitude e criar um “espaço de ativação” em torno dos pontos geográficos
selecionados. No site Cultura Digital, Cícero Inácio da Silva (2009) explica melhor:

O Gerenciador HiperGps cria um arquivo JavaME em formato .jad e


.jar. O programa é essencialmente uma mini-IDE ou uma ferramenta
de gerenciamento para a produção de conteúdos geolocalizáveis, tudo
sem você precisar saber programar em Java ou em qualquer outra
linguagem. As imagens e os áudios são ativados e executados em um
J2ME MIDP 2.0 (programa em Java instalado no seu celular), com
ativação CLDC 1.1. Quando a aplicação em JavaME criada pelo
sistema HiperGps percebe que está próxima de uma coordenada
especificada no sistema, ela ativa as ações pré-ordenadas através do
Gerenciador. O projeto HiperGps permite que instituições e
indivíduos criativos possam desenvolver seus próprios tours
interpretativos, conceituais ou poéticos através do GPS.

Figura 2. Interface do gerenciador HiperGps

Com base nesses princípios, é possível traçar as mudanças de linguagem na


comunicação e levar em consideração desde a portabilidade do “radinho de pilha”
surgido na década de 1960, que antecipava a audibilidade móvel, até hoje, com os textos
curtos para serem ouvidos ou lidos na telinha da internet sem fio dos celulares.
Essencial ressaltar a evolução dessa linguagem da rádio, que se adaptou aos lugares por
onde caminhou, do recinto residencial ao carro sonorizado, nos estádios de futebol
grudados aos ouvidos dos torcedores, nas atividades de corrida ou caminhadas etc.,
mostrando a mobilidade que o aparelho de rádio de pilha permitiu quando foi possível
vê-lo em todas as partes. Já em uma rádio que acople um GPS, o mapeamento proposto
é proporcional à intenção de fornecer aos ouvintes informações “aumentadas” dos
entornos esquadrinhados.
Nessa perspectiva, os principais problemas recaem sobre a pertinência de uma
rádio inovadora lincada11 na cibercultura. Até que ponto pode-se antecipar uma rádio
nascente nos moldes deste experimento, sabendo que, para esta Tese, a pesquisa
empírica foi um estudo de verificação de uma possível rádio que articula elementos
ainda não usados regularmente? Teria essa rádio uma audiência qualitativa? Ou essa
audiência seria de nicho? Quem iria contribuir com esse tipo de programação
diferenciada? O usuário participaria com anotações urbanas de seus caminhos? Essas
informações do público poderiam gerar conhecimento? Para que serviria o conteúdo
proposto dessa nova rádio? Qual seria exatamente esse público? Quando e como ele
ouviria? Mudaria a linguagem radiofônica? Ela ficaria mais rápida e fragmentária em
excesso? Em suma, qual seria a qualidade desse material gerado pelo usuário? Como
seria a produção e a recepção? Teria a estrutura de uma emissora de rádio? Essas
interrogações poderão ser verificadas no texto e no site, que está incorporado neste
trabalho, no momento dos relatos, das discussões e nas experiências abrigadas no site.
Nesse contexto, a ênfase à indagação principal recaiu sobre o desenvolvimento
de um novo formato de se fazer rádio com a ajuda de aparatos de localização, mapeados
nos espaços físicos e inseridos no cyberspace. A questão foi especular até que ponto o
estudo dos media móveis aliados à radiofonia com base em redes sociais – com
internautas que utilizam esquemas de microblogs, ou simplesmente de microtextos,
marcando o seu dia-a-dia rastreado por geolocalização –, desenharia um novo momento
da comunicação na era da hipermobilidade12.

                                                                                                                       
11
  Muitos termos emergentes usados na linguagem da internet (como lincar, tuitar etc.) ainda não foram
inseridos nos principais dicionários da língua portuguesa: Aurélio, Houaiss e Caldas Aulete. Porém, o
procedimento de redação desta Tese foi o de não usar itálico para esses termos necessários e recorrentes
na explanação de nosso objeto de estudos.  
12
Lucia Santaella (2007, p. 187) foi quem cunhou no Brasil o termo hipermobilidade dentro da esfera da
comunicação: “Uma vez que as sobreposições, cruzamentos, interseções entre eles são inextricáveis,
parece caber com justeza o termo hipermobilidade para caracterizá-los. Hipermobilidade porque à
mobilidade física do cosmopolitismo crescente foi acrescida a mobilidade virtual das redes”.  
A hipótese básica foi a de que usuários de redes sociais fundamentadas em
comunicação por celulares podem vir a ser a audiência primordial dessa nova rádio
realizada pelo ouvinte-produtor, o audinteragente. Aqui, não se trata de ressaltar a
dicotomia produtor-audiência porque esta figura já está inserida no contexto, desde o
surgimento das redes telemáticas. Portanto, não é preciso mais repetir esse tipo de
dicotomia. Tratou-se de uma hipótese para uma questão secundária, que se fez notar
quando, ao se considerar a atual radiofonia ultrapassada que não atende mais a um
público adulto exigente e que também afugenta o jovem, foi possível provar a
pertinência de um veículo de mão dupla que envolve radiodifusores e comunidades
interessadas em ouvir material produzido por audinteragentes, que passam a exercer o
papel de radialistas “por um dia”, ou, sistematicamente, ao seu bel dispor.
Na concepção de Ángel Faus Belau, podem ser averiguadas similaridades com o
que é apontado na radiofonia atual

Posiblemente estamos ante el conflicto más complejo de los vividos


hasta hoy por la Radio y por todos los medios de comunicación, sin
excepciones. El actual es un cambio radical. Esta es la opinión del ex -
presidente del INA francés Francis Beck, que "ve a la Radio hoy con
la necesidad de ser imaginativa, innovadora y flexible para conducir
los cambios del momento actual", o Hughes que califica el momento
de "revolucionario". En el mismo sentido se manifiesta un informe
reciente de gobernaduría de la BBC al calificarlos momentos actuales
como de "cambios dramáticos".
La Radio enfrenta cambios sociales, tecnológicos y económicos, la
conjunción de los cuales producirá mutaciones sustanciales en ella.
Son estos factores externos al Medio los que causan mayor inquietud
en la empresa radiofónica porque escapan a su control y comprensión:
los analizan desde sus perspectivas económicas o técnicas y no desde
parámetros propios del Medio o de la Comunicación.
Sin embargo los factores internos son más importantes. En líneas
generales, la Radio, los radiofonistas, su empresa y sus gentes sufren
de aburrimiento letal, desinterés total por el producto, la
programación, el contenido y la audiencia. La Radio está ayuna de
investigación y ciencia propias, desheredada de ideadores,
abandonada de creadores, magra en inventores y encadenada por la
cuenta de resultados. Estamos ante la caducidad de un sistema y de
unas fórmulas históricas de narración, contenido, programación y
concepto radiofónico. Resueltas estas causas, las tecnológicas o
económicas se despejarán inmediatamente. (BELAU, 2001, online).

De qualquer forma, em paralelo à estagnação da radiofonia, serão mostrados


alguns exemplos de respiro, aguçando o modo de se fazer rádio de maneira mais
inventiva. Tanto que o objetivo geral de uma nova averiguação voltou-se para a reflexão
de como ficaria a articulação dos principais potenciais tecnológicos aliados à audiofonia
na cibercultura. Um objetivo específico foi o de mostrar as novas formas possíveis de se
fazer rádio com base nos media móveis, com uso de ferramentas amigáveis em esquema
coletivo com a participação de usuários. Essa demonstração de uma nova rádio servirá,
em última instância, como uma crítica à rádio tradicional.
O teorema nasceu de uma ruptura com as condições existentes. Essas condições
tiveram de ser superadas nos experimentos, rumo a uma outra rádio possível, que pode
ser pensada diferentemente das rotinas do mercado, culminando em uma colaboração
científica no curso histórico da radiodifusão.
Capítulo 1.

Substrato teórico-reflexivo e estado da arte do áudio na rede

A inovação técnica aporta ferramentas para a criatividade, mas a arte depende da imaginação e da
criatividade do ser humano. As máquinas têm seus modelos de criatividade. Os computadores são
capazes de produzir novos sons e novas harmonias, mas por trás deve estar o desenho do criador.
Emergem novos âmbitos radiofônicos como o do rádio digital e a cimbre rádio que permitem criar outros
conteúdos e serviços próprios e diferentes da rádio tradicional. (López Vidales, N. y Peñafiel Sáiz, 2000
apud Cebrián Herreros, 2008, p.346).

1. Embasamento teórico

O principal objetivo teórico desta pesquisa consistiu em organizar as ideias


desenvolvidas pelos autores que pensam a audiofonia na cibercultura, com o propósito
de propor novos conceitos para uma radiofonia atualizada, não somente pelos aparatos
tecnológicos como suporte, mas, principalmente, no uso que se pode fazer deles,
proporcionando a qualquer usuário a possibilidade de produzir ou simplesmente ouvir
conteúdo realmente diferenciado, personalizado virtualmente.
Como complemento, foi anunciado, ao longo da pesquisa, outro objetivo: o de
ressaltar o ruído do cotidiano, ao fazer com que a mera atividade de observar os sons à
volta de cada um pudesse ser percebida de forma íntegra e individual, tanto no caso de
um habitante como de um visitante ou um nômade. Mark Shepard (2007) desenvolveu
um projeto13 inspirador, que pode ser dissecado para ilustrar parte das intenções que
nortearam a meta desta investigação: uma rádio que articula usuários de redes sociais
por meio de dispositivos móveis. “O som é tanto sentido pelo corpo como entendido
pela mente”,14 diz Shepard, que distingue sua preferência pelo áudio em relação à
imagem:

                                                                                                                       
13
O projeto Tactical Sound Garden [TSG] Toolkit oferece uma plataforma participativa para a criação de
ambientes sonoros colaborativos em espaços urbanos públicos.
14
Em entrevista concedida à revista online Arte.mov, Shepard fala de media móveis, de urbanismo e dos
sons das cidades contemporâneas.
O som permite formas de trabalhar com experiências espaciais que
evitam as armadilhas das culturas óptico-cêntricas em que a imagem
reina suprema. O som funciona de maneira bem diferente que a visão
ao longo da vida cotidiana do urbanita padrão. Não precisamos
direcionar nossa atenção para uma fonte sonora para ouvi-la. Se a
visão tem uma tendência a focar em objetos, o som é bem menos
tangível. Os sons se movem entre nós de forma muito mais física que
a visão, que tende a operar por meio de um mais prático senso de
distância. (SHEPARD, 2007).

Assim como Shepard, vários outros autores têm enfatizado esta questão da
imagem no ato da audição. Marshall McLuhan (1964) observou que o rádio toca em
profundidades subliminares da mente e que as palavras desacompanhadas de imagem,
como quando a conversa se dá no escuro, ganham uma textura mais rica e mais densa.
Já Mikhail Bakthin (1979) salienta que percebemos o visto como algo externo ao corpo,
enquanto o que ouvimos ressoa dentro de nós (apud MEDITSCH, 2008, p. 5).
Ao pensar no quadro teórico e epistemológico, o estado da questão radiofônica
foi demarcado, por um lado, com base em autores que estudam os diversos áudios
dispersos, existentes nas redes telemáticas, como no campo de ação de lógica granulada.
Segundo Marcelo Kischinhevsky (2008, p. 120-121):

Embora de características substancialmente distintas, podcasting e


web rádios têm se mostrado altamente complementares. Estudos
futuros deverão complementar as novas formas de sociabilidade e
recepção proporcionadas por estes meios digitais. Em ambos os casos,
a possibilidade de criar emissoras virtuais personalizadas tornou-se
realidade e está alternando a relação de forças da radiodifusão. Atores
sociais que antes não tinham voz estão agora, a custo baixíssimo,
difundindo suas ideias e reinvindicações para públicos mais ou menos
amplos, dependendo da sua capacidade de articular-se no âmbito da
nova lógica da sociedade em rede.

Por outro lado, também foram pontuados autores que falam das rádios
convencionais como meio de transporte de informações dos acontecimentos das
cidades, estabelecendo uma relação entre comunicação e urbanismo. A Eldorado FM
(hoje Eldorado Brasil 3000 FM) é um exemplo de rádio no dial paulistano que
inaugurou, em 1993, a participação do ouvinte por celular para informar sobre o
trânsito, o chamado ouvinte-repórter (PRADO, 2008). Marcelo Parada, o então diretor
da emissora, comenta essa iniciativa:
Tive a honra de presenciar o momento em que o ouvinte passou a ter
participação ativa no rádio... O telefone celular tinha chegado a São
Paulo alguns meses antes [1993]. Eu estava no ar, acionando os
repórteres, quando recebi um aviso da nossa redação em São Paulo de
que um ouvinte estava preso na marginal Tietê, na saída do Aeroporto
Internacional de Guarulhos, e tinha passado essa informação pelo
celular. O jornalista Cláudio Maurício Alfredo sugeriu que eu
conversasse com o ouvinte no ar. A entrevista durou cinco minutos...
Tudo estava parado. A chuva não cessava. Solicitei, então, que outros
motoristas que tivessem celular seguissem o exemplo daquele
ouvinte[...] Foi um êxito absoluto! (PARADA, 2000, p. 115-116).

Os autores que subsidiaram a compreensão das dimensões temáticas envolvidas


estão entre aqueles que analisam os novos meios móveis, como André Lemos, Eduardo
Campos Pellanda e Lucia Santaella; aqueles que analisam o cyberspace, como Manuel
Castells e Lev Manovich, e aqueles que criticam a organização social vigente do
cyberspace e tensionam conceitos, como Eugênio Trivinho, Paul Virilio e Jean
Baudrillard.

Em toda parte se procura fazer as massas falarem, se as pressiona a


existir de forma social, eleitoralmente, sindicalmente, sexualmente, na
participação, nas festas, na livre-expressão etc. É preciso conjurar o
espectro, é preciso que ele diga seu nome. Nada demonstra com mais
clareza que hoje o único problema verdadeiro é o silêncio da massa, o
silêncio da maioria silenciosa. (BAUDRILLARD, 2004, p. 24).

1.1. Conceitos de media

Vale acrescentar que as definições dos media embasaram a investigação do


medium impresso, eletrônico e digital e, principalmente, dos conceitos de media
diretamente ligados ao tema deste estudo, como o medium híbrido (quando um ou mais
de um se cruza com outro medium), o multimedium (com diferentes meios simultâneos)
e ainda o hipermedium, que envolve a internet. Não se pode deixar de lado o medium
sob demanda, ou o chamado medium alternativo ou independente, isto é, media
corporativas que não servem a interesses de pequenos grupos15, provocando, assim,
ambientes mediáticos próprios. As rádios comunitárias que atendem comunidades de

                                                                                                                       
15
Um exemplo é o Centro de Mídia Independente (CMI).
bairro e seus assuntos específicos, promovendo inclusão social, são um exemplo de
medium independente, sob demanda.
Por media compreende-se o que a área de Comunicação atribui a meios. Porém,
o uso indiscriminado do termo medium16 (usualmente grafado “mídia”), como substituto
de imprensa e jornalismo, em vinculação à comunicação, ampliou e popularizou seu
significado. No Brasil, o termo mass media, traduzido como comunicação de massa,
virou expressão comum na primeira metade do século passado, mas ainda vinculado à
transmissão de notícias. Hoje, o conceito mais comumente usado designa meios de
comunicação, como a imprensa escrita (jornais, revistas), rádio, cinema e televisão –
principalmente esta – sem, porém, restringir-se aos noticiários. Apesar do valor
intrínseco dos media apontar para uma comunicação mediatizada, um canal de
informações, é viável prestar atenção na representação que se dá de determinada
realidade e sua consequente implicação no comportamento das pessoas por ela afetadas.
O universo da produção artística dos media que trabalha com geolocalização é
vasto. Exemplos são ricos para visualização do recorte deste trabalho e aplicação nos
experimentos para esta Tese (veja-se em 2.1). Parece, portanto, neste ponto, bastante
pertinente recuperar os conceitos dos media para melhor embasamento teórico.

1.2. A volta da cultura oral

Silvio Meira (2012), professor de engenharia de software, em seu blog “dia a


dia, bit a bit”, analisa a hipótese de Thomas Pettitt, quando o professor de história da
cultura na Universidade do Sul da Dinamarca discorre sobre a teoria (2010) do
Parêntese de Gutemberg (inventor da imprensa). Segundo entrevista para Fernanda
Godoy, em O Globo.com, Pettitt (2010) afirma que a humanidade faz um retorno à
cultura de transmissão oral de informação e conhecimento, tornando a época da
                                                                                                                       
16
Trivinho, no livro “A dromocracia cultural” (2007, p.19) explica sobre a opção em usar media no lugar
de mídia, adotada no texto desta Tese. “A utilização, na presente obra, do termo media (médium no
singular) e de seus derivados, mediático (a) e mediatizado (a), atende ao imperativo – incondicional e a
priori – de consideração à herança latina de nossa língua. O procedimento, que não cumpre senão
princípios básicos de politica teórica e epistemológica, tem a vantagem lógica e estratégica de evitar dois
enganos: um, histórico-cultural – já socialmente consagrado no Brasil –, o de fixar em português, o termo
media por influencia direta da prosódia da língua inglesa (“mídia”); outro, etimológico-gramatical, o de
converter para o singular o que em latim já era plural.”

 
imprensa escrita e dos livros apenas um parêntese na história. Ao tentar explicar, diz:
“estamos voltando ao passado ao nos movermos para o futuro”. Pettitt assegura que a
era digital derruba barreiras entre a imprensa tradicional e os novos media.
Vale retroceder na história à época da oralidade para traçar a trajetória da
performance, da composição e da recombinação (tanto de material próprio quanto de
outras pessoas). Meira relata que, antes do livro, ou antes de Gutenberg, estava-se na
época da oralidade,
de onde veio a Odisséia. Sem uma plataforma industrial para registro
das composições, os autores tinham que confiar na repetição oral, na
recriação coletiva da obra, nos métodos tradicionais, contextuais e
instáveis de performance, para garantir a sobrevivência de sua
história.

Meira traz as imagens ilustrativas da reflexão de Thomas Pettitt. Segundo Pettitt,


este é o espaço anterior ao parêntesis de Gutenberg, chamado de performance na
imagem que segue.

Figura 3. Era da performance

Antes de tratar da era da recombinação no ambiente digital, é necessário passar s


pela da composição, como explica Meira (2012), a partir da opinião de Pettitt. “Assim
como o texto escrito ‘cria’ a história, a plataforma de Gutenberg ‘cria’ o autor e tira a
centralidade da obra da performance para a composição.”

Este “novo” espaço, no qual vivemos nos últimos 500 longos anos,
preza pelo original [e pelo “direito autoral”], pelo individual, pela
estabilidade da obra. Mesmo interpretado, o texto [dentro do
parêntesis de Gutemberg] reina indisputado, autônomo. A cópia, aqui,
é crime ou quase em quase toda economia minimamente codificada. O
plágio, inaceitável. O autor e sua obra reinam, perenes, sobre a
plataforma de Gutenberg.

Figura 4. Era da composição

A era digital, a da cultura do “copia, mistura e cola”, ou como mostra a imagem


de Pettitt, da sampleagem, do remix, do pedir emprestado, da (re)formulação, da
apropriação, da qual a era Gutemberg, nas considerações de Meira (2012), é apenas um
hiato.
Depois dos parêntesis [sic] de Gutenberg, tempo que estamos vivendo
agora, os novos modos de tratar, receber, perceber e promover
informação desarranjam o espaço canônico da composição e nos
levam a processos de cópia + mistura + cola [ou rip + mix + burn]
oferecendo novas e gigantescas possibilidades e, ao mesmo tempo,
pondo em risco todo um arranjo [cultural, de negócio e poder] outrora
[ou ainda] centrado no autor e sua obra. A tese de Pettitt, quase de
uma volta à oralidade ou à performance, diz que estamos saindo do
parêntesis para um espaço onde tomar material emprestado,
recombiná-lo [às vezes com material próprio], talvez numa nova
forma, é a nova norma.

Figura 5. Era do digital

A discussão continua, para fora do parêntese, passa pelas escolas e pelas novas
formas de ensino que envolvem vídeo, série, game, além do livro. Porém, essa é outra
discussão, que foge do foco deste estudo. Silvio Meira reforça: “A escola, como a
conhecíamos, também está saindo do ‘parêntesis de Gutenberg’ […] vivendo hoje em
um limite”. Thomas Pettitt (2010) se encarrega de complementar, no Fórum do MIT,
que os usuários das novas mídias são superalfabetizados. “Eles são todos da
escrita. Durante o parêntese, havia poucos escritores e muitos leitores. Na nova era,
você não pode realmente dizer qual é a diferença entre um leitor e um escritor. Estamos
reproduzindo a fluidez da oralidade no texto de hoje.”
A jornalista de O Globo.com, Fernanda Godoy, perguntou a Pettitt: “De que
maneira a cultura da internet está resgatando e continuando a cultura pré-Gutenberg?”

As semelhanças estão na maneira pela qual nos comunicamos por


palavras: a maneira como lidamos com informações e narrativas que
estão em palavras. Já temos há algum tempo meios eletrônicos como a
TV, o rádio e o cinema, que voltam ao mundo da oralidade porque as
palavras são faladas, e não vistas em uma página. Foi a isso que
Marshall McLuhan se referiu quando disse que estávamos saindo da
"Galáxia de Gutenberg". Nossas novas mídias (smartphones, laptops,
tablets e suas conexões de internet) estão tomando conta dessa
comunicação pelo som, e até ampliando-a. Claro que elas também são
usadas, talvez até mais, para a comunicação pela palavra escrita, mas
isso é feito de maneira diferente da usada pela imprensa. Em alguns
dos meios mais difundidos (e-mails, SMS, Twitter), alguém pode
receber uma mensagem escrita quase tão rapidamente como se
estivesse falando com a pessoa. É como se estivéssemos falando pelos
dedos, então a maneira de escrever é muito mais próxima da fala.

Thomas Pettit finaliza a entrevista com a dúvida de que os “jornais já não podem
mais presumir que serão mais respeitados que outras fontes de informação devido ao
seu formato”.
Estamos de volta à era pré-Gutenberg, quando os medievais recebiam
notícias por meio de rumores, e as notícias de lugares remotos
chegavam por estrangeiros. Como decidir em quem acreditar? A
chave é a reputação, ou a fama. Essa era a coisa mais importante nas
sociedades orais, e o mesmo pode acontecer nas sociedades digitais.
Na hora de decidir sobre a veracidade das notícias, o fator chave é a
reputação do mensageiro.

Reputação, meritocracia e credibilidade são as premissas imprescindíveis na era


digital, que começou tão atabalhoadamente e, por isso, ganhou fama de superficial e até
mesmo de antiética. Passada a fase eufórica, pós-bolha, as equipes se assentaram e
passaram a produzir com precaução e, consequentemente, conquistando boa reputação e
o que vem na rasteira dela.
2. Era da cibernética

A partir da cibernética vislumbrada por Wiener, houve o desdobramento para os


fenômenos do cyberspace17 e da cibercultura. Cabe aqui traçar, em linhas gerais, o
sentido desses termos. O cyberspace, formado por pessoas conectadas a computadores
em rede, melhor dizendo, na rede das redes ou rede mundial de computadores, implica
uma comunicação mediada pelo computador e pela internet18 e tudo que emerge dela:
interface, hipertexto, realidade virtual, telepresença, disputa do real e do virtual, games
etc. e, ainda, a possibilidade da comunicação ubíqua e do desenvolvimento da
inteligência artificial. Porém, a interação, que nasce nas redes de computadores, traz
cooperação e conflitos. Discussões de propriedade intelectual de um lado, e liberação de
conteúdo por autores em licenças específicas, de outro. Cresce a disputa entre o copyleft
versus o copyright e surgem as licenças de autorias Creative Commons19. Outra questão
levantada, que vem do movimento cyberpunk, é a da ética hacker20, com os lemas de
que “toda informação deve ser livre” e “faça você mesmo”, aflorando o ativismo e a
resistência na rede. No cyberspace, também aparecem o ciborgue – homem-máquina – e
a ciberarte, que propõe, entre outras bandeiras, a obra aberta e a autoria coletiva.
O cyberspace gerou a cibercultura, pois se trata de um espaço de informação, de
práticas, de interações e de processos gerados e articulados em rede. As comunidades
virtuais ganham força nas redes sociais com inteligência coletiva. A cibercultura teve
desenvolvimento como hipermídia, que é a linguagem das redes, do cyberspace. A
primeira fase – web 1.0 – é a da publicação, com browser, portais, sites, homepages,
linguagem HTML, e-mail, livros de visita, fóruns, chats, álbuns de fotos, os primeiros

                                                                                                                       
17
O termo cyberspace foi cunhado em 1984 por William Gibson em seu livro Neuromancer. No artigo
“Epistemologia em ruínas: a implosão da Teoria da Comunicação na experiência do cyberspace” (1996,
p. 74), Trivinho definiu o cyberspace: “Mais avançada rede eletrônica de telecomunicação, de que a
Internet se tornou o exemplo privilegiado, ele redefine, rearticula e reescalona, de maneira original, todos
os elementos pertencentes à dimensão tecnológica, sociocultural e política da Comunicação,
determinando, nesse âmbito, novos rumos para as iniciativas acadêmicas voltadas para a crítica
metateórica e a constituição de um novo modelo reflexivo”. E acrescentou: “O conceito de cyberspace diz
respeito a uma estrutura infoeletrônica transnacional de comunicação de dupla via em tempo real,
multimedia ou não, que permite a realização de trocas (personalizadas) com alteridades virtuais (humanas
ou artificial-inteligentes); ou, numa só expressão conceitual, a uma estrutura virtual transnacional de
comunicação interativa”.
18
Não se deve esquecer que a internet tem origem militar e acadêmica.
19
Creative Commons são diversas licenças de autorias que servem tanto para facilitar usos de obras
(texto, imagem, arte etc.) quanto para bloquear (em parte) a disponibilização para uso comercial.
20
É bom lembrar as diferenças fundamentais entre hacker, grosso modo, aquele que “entende”
profundamente de computadores, e cracker, aquele que “entende” e usa esse conhecimento para invadir e
danificar sites e contas.
sistemas de busca, o início do e-commerce e os sistemas de criptografia. A segunda fase
– web 2.0 – é a da cooperação, com redes de relacionamento, emoticons, blogs,
transferência de arquivos (FTP), marketing viral, social bookmarking (folksonomia),
webjornalismo participativo, escrita coletiva, velocidade e convergência. Na
cibercultura, surge o espaço ilimitado (como é a rede no todo) para produções que,
antes, não tinham visibilidade suficiente para uma divulgação maior. São elas as
produções independentes, eletrônicas, digitais etc., os ativismos artísticos e mesmo a
própria possibilidade de formar redes de cidadãos conectados.
Já os problemas que a cibercultura traz à tona são muitos, como o da dominação
e do controle, da exploração e da vigilância, das informações duvidosas, do isolamento
e da sobrecarga de informações (que nem sempre geram conhecimento), afora atitudes
que imitam a vida real, por exemplo, a pornografia, agora online, e a visibilidade maior
que a pedofilia ganhou. Ainda assim, há outras ações, mais inofensivas, como a
avalanche de spams, que tanto incomodam as pessoas.

2.1. Estado da arte do áudio na rede

O fio que liga ações entre artistas e ativistas que trabalham com mobilidade nas
redes nos auxiliou na coleta de dados e deu-nos inspiração para a possibilidade de uma
forma de rádio mais arejada, como um resgate dos espaços da rua, com tecnologias
capazes de rede que permitam ao audinteragente ir além e ser capaz de exercer
influência. Sobre isso, André Lemos (2007, p. 14) acrescenta: “Andar com dispositivos
móveis permite leituras e escritas do espaço com informação digital muito próximas da
arte do andar dos situacionistas, dadaístas e surrealistas”. De qualquer forma, não se
deve esquecer que o uso do GPS está vinculado a processos de controle e vigilância,
fato que precisa ser reforçado sempre.
Trabalhos artísticos que envolvem os meios e áudio são interessantes para dar a
noção do estado da arte, como os exemplos aos quais Karla Brunet aponta em seu
estudo das práticas de intervenções artísticas no espaço urbano, que se utilizam do meio
móvel de forma colaborativa, como o Sonic City, por meio do qual o usuário sai pela
cidade vestido com sensores e, dependendo de seu movimento, escuta determinados
sons, ou o Tactical Sound Garden (TSG), em que participantes “plantam” e “colhem”
sons pela cidade com seus PDAs, computadores portáteis e celulares.

Exemplos de mapeamentos criados com fotos, áudios, vídeo e


anotações são as colaborações em práticas como “Mapeando Lençois”
<www.lencois.art.br>, “Peripato Telematikos” <www.peripato.net>,
“Urban Sensoria” <www.urbansensoria.com>. Nestes projetos os dados,
tanto de GPS quanto dados contextuais, são coletados para descrever
um local. São mapas de lugares que, através da colaboração aberta,
contam a história deste lugar. A colaboração é feita pela ação do
público em se movimentar pela cidade descobrindo novos percursos,
lugares, pessoas e objetos muitas vezes antes não conhecidos. Além da
mobilidade, como caminhar pela cidade, a colaboração também é feita
pelo fato deles coletarem material, desde juntar algo do chão a gravar
vídeos com pequenas entrevistas. Esta coleta envolve uma
disponibilidade a trabalhar, fazer algo talvez inusitado, não seu
percurso do dia a dia. (BRUNET, 2008, p. 9).

Ao se falar de cartografias no cyberspace, os estudos da pesquisadora e net-


artista Lucia Leão são úteis:

A atividade de produção de mapas relaciona-se intrinsecamente com


pulsões subjetivas e repertórios culturais. Na nossa viagem, cada um
de nós chegou a Paris com mapas únicos e pessoais, e cada um de nós
mapeou a cidade a partir de interações com o espaço urbano e
repertórios anteriores. Assim, as pessoas que se prepararam para a
viagem e estudaram aspectos da história e da arquitetura chegaram
com mapas mais complexos do que aqueles que nada conheciam.
Esses conhecimentos são específicos e compõem as cartografias
individuais. No entanto, com a nossa viagem, novos mapas gerados
pela experiência vivida foram incorporados. Podemos concluir que
toda experiência de geração de mapas, a que denominamos
cartografia, é contínua e envolve mutações, sobreposições e
reatualizações. (LEÃO, 2003, p. 84).

Giselle Beiguelman e seu trabalho de net-art com uso de dispositivos móveis


demonstram que é possível unir criação artística com informação em trânsito. A autora
constata que
A popularização dos dispositivos portáteis de comunicação sem fio
com possibilidade de conexão à internet e a implantação de hotspots
que permitem acesso à rede via ondas de rádio (wi-fi, wireless fidelity)
apontam para a incorporação do padrão de vida nômade e indicam que
o corpo humano se transforma, rapidamente, em um conjunto de
extensões ligadas a um mundo cíbrido, pautado pela interconexão de
redes e sistemas on e off-line. (BEIGUELMAN, 2005, p. 160).
Entre outros exemplos que serão comentados a seguir, o trabalho artístico
“Suite4MobileTags – QaRtCode – Escrituras nômades para escutas expandidas”, de
Gisele Beiguelman, baseado em QR- Code21 (Quick Response Code) provoca
estranhamento quando os participantes apontam seus celulares para o display e,
repentinamente, surgem a audição de um sample e a possibilidade de realizar
composição coletiva e anônima. Isso mostra bem uma mestiçagem entre o high e o low
tech, a música e o noise, o público e o privado etc., tudo um pouco misturado, mas com
efeito alargado de sensações instáveis e inusitadas. A partir do site da artista, é possível
entender e ouvir alguns desses ready-made mobile dissonantes e acessar o resumo do
trabalho:

Suíte para Mobile Tags propõe um exercício de composição musical


coletivo. Para a realização de seu primeiro movimento, parte-se de um
conjunto de oito mobile tags que trazem embutidas um número de
telefone. Cada um desses números de telefone é alimentado por um
ringtone. O público mira seu celular, ou um dos celulares
disponibilizados no recinto expositivo, para um dos displays que
contêm um número de celular codificado em QR-Code.

Em Suíte para Mobile Tags, mais de 16 milhões de combinações são possíveis.


Seu funcionamento pode ser observado na figura 6.

                                                                                                                       
21
O QR Code (ou Código de Barras em 2D) é uma matriz ou código de barras bi-dimensional, criado pela
empresa Japonesa Denso-Wave, em 1994. O QR vem de Quick Response, pois o código pode ser
interpretado rapidamente, mesmo com imagens de baixa resolução, feitas por câmeras digitais em formato
VGA, como as de celulares. Definição da Wikipedia: <http://pt.wikipedia.org/wiki/QR_Code> Acesso
em 10 jul. 2009.
Figura
6. Suíte para Mobile Tags

Figura 7. Suíte para Mobile Tags


Um exemplo de áudio aumentado que nos interessa como ilustração ocorre no
projeto Áudio Graffiti22, que apresenta novas formas de interação do som e do espaço,
alterando os áudios disponíveis ou mesmo empastelando-os. Uma instalação ocorreu em
21 de agosto de 2009 na International Computer Music Conference (ICMC), que
montou um ambiente com uma base de codificação de áudio e remixing, em Montreal
(CA). Usuários de dispositivos móveis puderam criar e explorar uma evolução gradual
da “parede” de áudio grafitada. Equipado com handsets e pequenos computadores
móveis, cada participante pode taguear ou usar o spray na parede com o seu áudio,
misturando-se com material musical pré-existente.

Figura 8. Overview of the Audio Graffiti system

2.2. Cyber city, digital city, digital village,


cyborg city, village virtual, telicity

No decorrer da pesquisa para traçar o estado da arte da audifonia


contemporânea, surgiram inúmeros projetos com o intuito de mostrar a cidade, ou as
chamadas cibercidades. Lemos (2007) conceitua o termo cibercidade em suas várias

                                                                                                                       
22
Projeto “Audio Graffiti: a location based audio-tagging and remixing environment”, de Zack Settel, da
University of Montreal, Mike Wozniewski, da Société des arts technologiques e Nicolas Bouillot e
Jeremy R. Cooperstock, do Centre for Interdisciplinary Research in Music Media and Technology McGill
University, todos de Montréal, Québec, Canadá.
 
aplicações que relacionam cidades e tecnologias digitais. A seguir, o que se pode
chamar o termo cibercidade em sua origem.

Entende-se por cibercidade projetos governamentais, privados e/ou da


sociedade civil que visam criar uma representação na Web de uma
determinada cidade. Cibercidade é aqui um portal com instituições,
informações e serviços, comunidades virtuais e representação política
sobre uma determinada área urbana. Um dos pioneiros foi o projeto
.Digital Stad., da cidade de Amsterdã, criado por uma organização
civil e hoje transformada em entidade de utilidade pública. Nessa
categoria, há inúmeros projetos, como, por exemplo, Aveiro Digital,
em Portugal, Digital City Kyoto, Japão, Blacksburg, Virgínia, EUA,
ou Birmingham, Inglaterra. (LEMOS, 2007, p. 9).

Gilson Schwartz (2001), em artigo na Folha de S. Paulo, diz que “na definição
técnica, uma cidade digital é uma ‘plataforma de fomento à formação de redes
comunitárias’, essa é a definição usada no site de 1999 do grupo de Kyoto,
que pode ser acessada em <digitalcity.gr.jp/meetings/Kyoto-meeting>”.

Figura 9. This experimental Java Applet Map. GeoLink Kyoto

Porém, para ilustrar, apresenta-se apenas a explicação da origem do termo, e não


a abordagem de suas implicações políticas, como inclusão digital ou projetos de banda
larga ou mesmo de implantação de redes wi-fi pelas cidades etc. Este estudo detém-se,
portanto, nas cibercidades entendidas como troca de informações digitais. A ideia de
ocupar o espaço urbano para gerar informações sobre a cidade nos interessa mais neste
momento.

A cibercidade transforma-se então em um ambiente generalizado de


conexão, envolvendo o usuário em plena mobilidade, interligando
máquinas, pessoas e objetos urbanos. Nas cidades contemporâneas, os
tradicionais espaços de lugar (rua, praças, avenidas, monumentos)
estão, pouco a pouco, se transformando em ambiente generalizado de
acesso e controle da informação. A cibercidade contemporânea
caminha para se transformar em um lugar de conexão permanente,
ubíqüo, permitindo mobilidade e troca de informação em qualquer
lugar e em qualquer tempo (LEMOS, 2007, p.11).

Projetos de alunos e/ou pesquisadores que unem mapeamento e colaboração


começam a surgir na rede. A seguir, são apresentados alguns exemplos. O projeto São
Paulo Polifônica é um deles (ver homepage na figura 10)

São Paulo Polifônica é o trabalho de conclusão de curso das alunas


Cecília Cussioli e Letícia Arcoverde, do curso de Jornalismo da
Universidade Federal de Santa Catarina, sob orientação da Professora
Aglair Bernardo. Mas como a São Paulo Polifônica é um projeto de
natureza colaborativa, desde o início somos muitos. De Fevereiro a
Abril de 2011, usamos a plataforma de crowfunding Catarse para
financiar nossa idéia e tirá-la do papel. Agradecemos aos nossos 66
colaboradores. É uma reportagem multimídia colaborativa sobre os
sons, ruídos e vozes da cidade de São Paulo. Queremos construir um
mapa sonoro da maior metrópole da América Latina, junto com quem
vive e circula nela.

Figura 10. Projeto São Paulo Polifônica


O que pode ter inspirado o TCC SPolifônica foi a experiência do Sons de
Barcelona (Espanha), que participou de um concurso para melhores inovações
relacionadas a iniciativas tecnológicas com impacto educacional e social. O projeto
Sons de Barcelona (ver figura 11) foi criado como uma iniciativa educacional em torno
da comunidade Freesound (banco de dados de sons sob licença da Creative Commons,
para navegar, ouvir e baixar conteúdo gerado pelos usuários). Uma das ações a partir do
concurso é a realização de oficinas nas escolas para promover o interesse em
tecnologias da música entre a comunidade de alunos.

Figura 11. Sons de Barcelona

“A natureza do desafio é ambígua, embora exista um prazer no perder-se, existe


outro muito grande ao reencontrar-se. Em um primeiro momento, a ordem é anulada; no
segundo, ela é reconstruída.” (LEÃO, 1999, p. 134). A citação de Lucia Leão
comparece em função de suas reflexões sobre o labirinto para ilustrar o exemplo a
seguir, do aluno Guilherme (Gui) Santana Rocha Pereira, do terceiro semestre do curso
de jornalismo da ESPM-SP, com o “Sampandando”, tanto no Tumblr quanto no
Facebook, que mostra a cidade de São Paulo em textos, fotos e vídeos compilados de
outros autores – prática bastante comum entre aqueles que começam a escolher um tema
para postar: mesclam opiniões próprias com textos de outras pessoas. O slogan remete à
possibilidade de se perder para conhecer a cidade (ver figura 12).
"O mapa é aberto, conectável em todas as suas dimensões, desmontável,
reversível, suscetível de receber modificações constantemente." Fazer um mapa é
construção que evidencia as interconexões, construção em pleno movimento, em
metamorfose constante (DELEUZE; GUATARRI, 1995, apud LEÃO, 1999, p. 133).

Figura 12. Sampandando

A artista digital Martha Gabriel, que trabalha com QR Codes de forma artística,
traz alguns exemplos e cita Hendrik Willem Van Loon, quando dizia que “A arte é um
barômetro ainda melhor sobre o que está acontecendo em nosso mundo do que o
mercado de ações e os debates no congresso”, e isso pode ser confirmado, segundo
Martha Gabriel, “pela existência de vários trabalhos de arte que já experimentam com o
nosso contexto tecnológico emergente”. Como exemplos de trabalhos de arte precoces,
lidando com computação ubíqua, a artista cita o jogo “Can You See Me Now?”, do
grupo britânico Blast Theory, de 2001, e “Head” da artista finlandesa Laura Beloff, de
2004, ambos apresentados na Exposição Art.Mov 2008 (artemov.net). (GABRIEL,
2008, p. 67).

Esses dois trabalhos interessantes e inovadores permitem


experimentar o poder da conexão, mobilidade e compartilhamento,
desde muito cedo, quando essas possibilidades se tornaram
disponíveis. Entre outros trabalhos de arte que lidam com localização,
o “Locative Painting” (Gabriel, 2007) – também apresentado no
Art.Mov 2008 – usa recursos low-tech, como números de CEP e zip-
codes, para permitir experimentações sobre posicionamento e
localização, sem usar, no entanto, capacidades hightech de GPS, que
muitas vezes podem ser invasivas sem que o usuário o perceba.
(GABRIEL, 2008, p. 68)

Ao procurar mais trabalhos artísticos, encontra-se à disposição na web, um


levantamento de Lemos (2009) de arte com mídias locativas – termo usado pelo
pesquisador –, de uma arte que pode ser definida como processos artísticos que usam
tecnologias e serviços baseados em localização. “O objetivo é criar autoria no espaço
público, questionando e tensionando questões como mobilidade, lugar, espaço, público,
vigilância, controle e monitoramento.”

Trata-se de processos artísticos que buscam soluções estéticas


para a nova fase da “internet das coisas”, do “ciberespaço
pingando no mundo real” (Russel, 1999), tendo como fundo o
novo espaço híbrido e intersticial (Santaella, 2008), o território
informacional (Lemos, 2007) formado pela nova fusão do
espaço físico com o eletrônico. Não se trata de arte eletrônica
feita para o ciberespaço (como a Net Art ou a Web Art), mas de
obras e processos que utilizam o espaço urbano e as novas
tecnologias móveis, redes e sensores aí presentes.

Neste trabalho de pesquisa, deixa-se de fora o estudo dos sensores e atende-se às


outras características da arte móvel, o espaço urbano e as tecnologias digitais móveis, na
mídia. No dizer de Lemos: “Essa nova expressão artística é ao mesmo tempo urbana,
tecnológica e midiática”. O uso do banco de dados digitais, tema tão em alta no
webjornalismo, por conta da imensidão de possibilidades de pautas de reportagens ou de
especiais, acaba por afetar a arte chamada internacionalmente locative media arts. “A
arte com mídias locativas usa as mídias locativas como forma de apropriação criativa do
espaço urbano onde o lugar ganha a dimensão de bancos de dados informacionais
(ibidem).”
Porém, os estudos desenvolvidos para esta Tese apontam para uma experiência
da sonoridade local, já que esta existe efetivamente – o aluno, que fez parte do
experimento, foi até a Avenida Paulista e gravou o som urbano. Aquele som não existe
em outra cidade; aquele som é dali. Existe uma sonoridade que é local. A “experiência
glocativa” da sonoridade local transforma-se em uma epistemologia que capta o híbrido
a partir de dentro, mas sem deixar de reconhecer a experiência típica. A partir das
reflexões feitas por Trivinho (2007, ver páginas da Parte III, caps. 1 e 2), é possível
identificar que existe uma mídia glocativa por natureza, pois une o local e o global.
Entende-se por glocal, a partir de Trivinho:
Glocal é um neologismo recentemente inserido no campo de estudos
em ciências humanas e sociais para sinalizar e tensionar a instauração
de uma tendência social, cultural, política e econômica de fusão
(pretensamente não conflituosa) entre a dimensão global dos fluxos
sígnico-mediáticos e a dimensão cultural da miríade de contextos locais
de processamento da experiência humana. Esse entrelaçamento
inextricável, que a rigor caracteriza a condição planetária dessa
experiência desde ao menos a expansão comercial da televisão nas
décadas de 1950 e 1960, corresponde a uma realidade de terceira
potência, com efeito já amplamente realizada de modo unitário.
(TRIVINHO23, 2008, p. 24).

Neste contexto, Trivinho pressupõe que todos os meios eletrônicos são


glocativos, glocais, glocalizadores. Eles reescalonaram a nossa experiência para a rede e
misturam o global e o local. Todas as redes em tempo real são glocais. São media
glocais, com função de reconhecimento local, com função de localização.
De todo modo, o lugar, na fase da “internet das coisas”, deve ser pensado,
segundo Lemos (2009), como uma somatória de suas dimensões física, social, cultural,
simbólica e dos novos bancos de dados eletrônicos aí acoplados.
O funcionamento em rede dos chamados sistemas “locativos” tem
sido apontado como um dos aspectos mais interessantes das
tecnologias móveis e o trabalho em rede como solução para o
compartilhamento de atividades e encontros em substituição aos
espaços tipicamente urbanos, consumidores de tempo e energia vital.
São um modelo de ambiente supostamente protegido (para não dizer
“controlado”), onde se expandem ideais quase utópicos de
compartilhamento, produtividade e acessibilidade à informação. São
as relações mediadas, uma das camadas visíveis das redes, que podem
ser tão férteis quanto exploratórias, dependendo das mãos e mentes
que as operam.

É nesse contexto que estudiosos apontam para conceitos como os location-based


systems, os Locative Media, termo utilizado para designar projetos de artistas, grupos ou
ativistas que se utilizam de dispositivos de comunicação móvel (telefones, laptops,
palms etc.) e de localização (GPS) em obras que buscam explorar a relação entre as
pessoas e o espaço em que vivem. (GABRIEL, 2008).

                                                                                                                       
23
No lugar em que se encontra, a partir de TRIVINHO, “o fenômeno glocal e seu desdobramento
identitário, a glocalização da existência e da experiência cotidiana, foram analisados criticamente em
fases anteriores (Trivinho 2007a: 239-320; 2007b), no âmbito mais geral da cultura mediática e, em
particular, na cibercultura”. (2008, p. 23).

 
Entretanto, deve-se levar em conta, na perspectiva de Trivinho, que a expressão
“mídia locativa” – já no plano do significante e pelo adjetivo utilizado – subordina
demais a epistème ao local, ou seja, apenas a uma das dimensões do fenômeno
implicado.
Muitos se antecipam em associar prioritariamente os exemplos de meios
locativos a um conjunto de experiências high-tech que incluiriam os conceitos de
“realidade expandida” (augmented reality – a sobreposição entre realidade e realidade
virtual), os conceitos de “computação ubíqua” (em todo lugar) e o de “computação
intrusiva” (equipamentos integrados e imersos na sociedade). Esses sistemas aparecem
na forma de jogos urbanos, de narrativas baseadas no espaço (space-based narratives),
passando pelos desempenhos e compartilhamento em rede, até aplicações para
equipamentos específicos (specific-device) (BAMBOZZI; MINELLI apud GABRIEL,
2008, p. 92).
Lemos define mídias locativas, em geral, como “tecnologias e serviços baseados
em localização onde o contexto informacional é parte fundamental do processo”.

Locativo é uma categoria gramatical que exprime lugar, como “em”


ou “ao lado de”, indicando a localização final ou o momento de uma
ação. As tecnologias baseadas em localização podem ser divididas em
dispositivos (celulares, palms, netbooks, GPS, QR Codes), sensores
(entre eles as etiquetas RFID) e redes (celular, Wi-Fi, Wi-Max,
bluetooth, GPS). Os serviços podem ser classificados em
mapeamento, localização, redes sociais móveis, informação
jornalística, games, turismo, realidade aumentada, publicidade etc. O
termo mídia locativa foi criado em 2003 por Karlis Kalnins como uma
categoria crítica a partir do primeiro evento homônimo realizado no
Centro de Cultura e Informação, em Latvia. Temos assim um conjunto
de tecnologias e processos infocomunicacionais atento ao contexto
local. (LEMOS, 2009).

A seguir, alguns exemplos de produções com anotações urbanas eletrônicas –


escrita eletrônica no espaço indexando dados digitais a um determinado lugar, com
conteúdos diversos, como os projetos “MurMur”, específico de áudio, “Yellow Arrow”,
de mensagens curtas, e “Sonic City”, de criação musical.
Murmur é um documento de história oral de localizações geográficas
específicas. A primeira localidade foi Toronto, em Kensington Market (Canadá), em
2003. No mesmo ano, foram lançados em Chinatown, de Vancouver, e ao longo do St.
Laurent Boulevard, em Montreal, todas cidades canadenses. Nos últimos anos, cresceu e
se expandiu em outros bairros de Toronto, Calgary, e San Jose, na Califórnia. Em
janeiro de 2007, foi lançado em Edimburgo e, em maio de 2007, em Dublin Docklands.
Em fevereiro de 2009, foi lançado em Geelong, na Austrália. O projeto foi inicialmente
desenvolvido com o apoio do CFC Mídia Lab, Toronto. Veja-se um dos mapas, na
figura 13; uma pessoa ouvindo pelo celular e a orelha que mostra que ali, naquele lugar,
tem som para ouvir, na figura 14; e página do site onde é possível ouvir, na figura 15.

Figura 13. Página do site MurMur mostrando um dos mapas


Figura 14. Cartaz com o símbolo da orelha e rapaz em audição pelo celular

Figura 15. Página com links de áudios de três pessoas em Toronto (CA)

“Yellow Arrow é fundamentalmente uma nova maneira de explorar cidades”,


diz a apresentação no site (veja-se figura 16). Começou em 2004 como projeto de arte
de rua no Lower East Side de Manhattan (Nova York). Desde então, Yellow Arrow
cresceu para mais de 35 países e 467 cidades do mundo para tornar-se uma maneira de
experimentar e publicar ideias e histórias por meio de mensagens em seu telefone móvel
em mapas interativos online. O projeto é construído em torno da filosofia geral de que
todo lugar é distinto e envolvente, se visto de uma perspectiva única. Com este
fundamento, Yellow Arrow permite que cada lugar possa se tornar uma atração. As
histórias são sempre ligadas a detalhes exclusivos, bem como a locais clássicos, como o
Empire State Building, em Nova York, ou o Reichstag, em Berlim. No geral, o objetivo
é fornecer um quadro e uma plataforma para ver o mundo de uma maneira nova.

Figura 16. Homepage do Yellow Arrow

“É nessa nova dimensão espacial que as artes com as mídias locativas se


desenvolvem”, afirma Lemos, valorizando o local e as mobilidades física e
informacional, criando novas possibilidades de produção de sentido sobre os lugares. O
autor ainda diz que este tipo de arte “propõe novas práticas, novos olhares, novas
experiências de espacialização, visando produzir discursos, revelar incoerências e
invisibilidades, ressaltar histórias sobre o espaço social vivido”.
O exemplo de outro site, o mobotag, mostra que qualquer pessoa pode enviar
por e-mail uma mensagem de texto, vídeo ou áudio para marcar pontos em Nova York.
É possível verificar, na imagem 17, a mensagem na abertura do site
<turbulence.org/Works/mobotag/>, com o aviso para taguear: “Tag any street address in
NYC with your mobile phone. Send a text message to <nyc@mobotag.com> with your
address. Add tag with picture, text, video, or sound”.

Figura 17. Homepage da Mobotag

Vale lembrar, no entanto, que as artes que se utilizam da relação espacial têm
longa e rica história – como os apartamentos transfigurados de Kurt Schwitters e seu
Merzbau1, as esculturas ambientais de Frederick Kiesler, as intervenções geográficas de
Robert Smithson e, mesmo, as desconstruções arquitetônicas de Gordon Matta-Clark. A
suposta novidade dos projetos baseados em localizações específicas (sob a ideia de
locative media) parece estar na maneira como estendem o conceito de mídia, de modo a
incluir, além das próprias pessoas, o espaço e seus elementos constitutivos (as ruas,
edifícios, antenas, telhados, árvores, postes etc.), além de elementos geopolíticos
intrínsecos (BAMBOZZI; MINELLI, apud GABRIEL, 2008, p. 92).
A postagem do site Cartografias Online <cartografiasonline.wordpress.com/>
informa sobre o Projeto Canal*Motoboy do artista catalão Antoni Abad, do grupo Zex:
“São vários os projetos pelo mundo que, em sua versão paulista, abre um campo de
diálogo e trocas com os motoboys e os demais habitantes”.

Profissão que nesta cidade tem uma profunda contradição: a


necessidade da rapidez de fluxos dos objetos e a viscosidade dos seus
trajetos. Os motoboys sofrem de grande incompreensão, quando não
desprezo, por parte da população, assim como outros atores que Abad
trabalha, como os taxistas na Cidade do México. No site, partindo de
uma base cartográfica do Google, foi criada uma plataforma para o
projeto. Assim, os motoboys emissores (como são chamados os
participantes) adicionam imagens capturadas por celular dos seus
trajetos cotidianos. Estas informações são organizadas nas categorias
ambiental, dia-a-dia e palavras, como também por tags. É uma forte
visualidade do cotidiano e dos riscos da profissão. Como também
demonstra que eles têm relação e fruição diferenciada com a cidade,
em velocidade constante. O projeto durou alguns meses no ano de
2007 (iniciou em 2003 com as visitas de Antoni Abad a São Paulo),
mas mobilizou um grupo de motoboys que, em reuniões regulares, se
organizaram para gerar ações de valorização e de visibilidade da
profissão.

No site dos Motoboys, eles se apresentam como:

Motoboys transmitem de celulares


12 Motoboys percorrem espaços públicos e privados da cidade de São
Paulo. Munidos de celulares com câmera integrada, fotografam,
filmam e publicam em tempo real na Internet suas experiências,
transformando-se em cronistas de sua própria realidade. Descrevem
mediante palavras chave as imagens que publicam e colaboram assim
para a criação de uma base de dados multimídia que seja capaz de
gerar conhecimento coletivo. Em reuniões periódicas analisam os
conteúdos publicados e coordenam a formação de grupos de emissores
dedicados a cada tema aprovado pelo coletivo.

Figura 18. Motoboys transmitem de celulares

O exemplo a seguir, 2346, no título do post do site Intervenções: “Mapa de


ficções baseadas em fatos sobre as várias augustas” do coletivo LAT 2324, mistura
ficção às histórias reais (veja-se na figura 19). Os autores escrevem a respeito:
                                                                                                                       
24
LAT-23 é formado pelos artistas Cláudio Bueno, Denise Agassi, Marcus Bastos e Nacho Durán. O
grupo trabalha com procedimentos de remapeamento, por meio de pesquisa sobre as relações entre
formatos gráficos, online ou de mídias portáteis, e os vários contextos em que circulam. Desenvolveu
Cartografias são sempre imprecisas. Um aspecto importante de 2346,
criado pelo LAT-23, é discutir a impossibilidade de mostrar num
mapa tudo sobre um lugar. Cartografar é propor pontos de vista sobre
espaços (na paisagem otimista de usuários de mapas abertos e
coletivos) ou delinear marcas em territórios (no cenário pessimista da
cartografia clássica de viés militar). Mesmo sobrepondo formas de
ver a rua, 2346 só mostra a Augusta em fragmentos de um mosaico
incompleto. Histórias que se entrelaçam contando dias e noites
particulares ou genéricos, fatos e dados inúteis ou inusitados, casos e
coisas viscerais ou desnecessárias. Ao ficcionalizar relatos e
selecionar estatísticas de forma arbitrária, 2346 conta tanto narrativas
saborosas e histórias ardidas quanto a impossibilidade de mostrar um
lugar a partir do que ele tem de específico.

Figura 19. Mapa de ficções baseadas em fatos sobre as várias augustas

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           
trabalhos como “Kandinsky by Perdizes”, exibido na exposição Connecting Urban Spaces, na Galeria
Green Papaya (Manilla) e “Coexistências”, indicado ao Prêmio Autonomias del Desacuerdo, no Festival
Transitio_mx 2009 (México).  
Mais um exemplo de mapeamento colaborativo de cidades, o Wikirua25, é uma
espécie de rede social composta por quatro serviços: “Cartografia colaborativa com
blogmaps; ciberadio e ciberstreamtv; software para dispositivo móvel, denominado de
realidade urbana aumentada (RUA); Enciclopédia (wiki) e um gamearte para dispositivo
móvel, Cyber Ton Ton, em realidade aumentada”. Segundo o site Cartografia Online,
“Wikinarua é um projeto inovador que utiliza software com GPS e bússola. Mostra-se
uma ferramenta muito eficaz na mobilização de comunidades. É possível baixar
facilmente este software com uso do aplicativo Android, vinculado ao Google”.
Assim, permite-se que as pessoas em qualquer lugar do país possam
participar desta comunidade virtual organizando conteúdos no mapa
como imagens, sons, textos, audiovisual, inclusive rádio. A tecnologia
de Realidade Aumentada traz conteúdos on line para o espaço real. Ou
seja, apontando o celular para determinado ponto na cidade
(demarcado no mapa wikinarua) o software funde numa mesma
imagem, dados reais e informações computacionais, em tempo real.
(CARTOGRAFIA ONLINE).

A apresentação no site oferece detalhes:

wikinarua.com é uma rede social que compreende conexão entre redes


a partir da utilização de dispositivos móveis, como celulares, com
tecnologia de Realidade Urbana Aumentada (RUA), software criado
na Universidade de Brasília, especialmente para que cada indivíduo,
localizado em qualquer parte do Brasil, incluindo os de comunidades
isoladas como quilombolas, indígenas ou outras, possa modificar e
intervir no seu contexto urbano e/ou meio ambiente, por meio da arte
com imagens, sons, animações, textos, contendo também uma rádio,
onde você pode fazer a sua programação e participar com outras
informações, no intuito de diminuir inclusive as diferenças sociais, em
tempo real. A rede social apresenta como forma de interativismo a
construção de uma cartografia colaborativa, na qual são apresentadas
as imagens, vídeos e outras informações inseridas por seus membros.

Na figura 20, a tela para ouvir a rádio com conteúdo enviado pelo usuário.

                                                                                                                       
25
Selecionado pelo programa Laboratórios de Experimentação e Pesquisa em Tecnologias
Audiovisuais – XPTA.LAB –, do Ministério da Cultura, é uma parceria entre a Universidade
de Brasília (UNB), a Universidade Federal de Goiás (UFG) e a Universidade Federal
do Piauí (UFPI).
Figura 20. Rádio do Wikinarua

O ArtSatBr26 traz informações sobre temas sociais críticos em cinco categorias:


queimadas, poluição, pastos irregulares, desmatamento e miséria. Segundo o site
Cartografia Online o projeto possui “uma filiação em trabalhos de ativismo social no
sentido de proporcionar um espaço de crítica e denúncia social”.

Nesta cartografia colaborativa, os participantes podem adicionar dados


(fotos, vídeos, sons, textos) sobre temáticas sociais e ambientais. Elas
são identificadas com ícones característicos para auxiliar a navegação
no mapa e a visualização das informações. Os participantes (os
interatores) identificam no mapa aproximadamente a localização do
evento, a situação, a comunidade etc., e adicionam a informação.
Compartilha-se, desta forma, não apenas no Brasil, mas no mundo
questões urgentes em tempo real. O projeto é referencial para as
possibilidades do uso das mídias móveis e digitais para a construção
coletiva e democrática de informação. Uma alternativa para saber (em
tempo real) de acontecimentos na sociedade (em todo mundo) que
podem ser ignorados ou pouco divulgados na mídia convencional.

                                                                                                                       
26
O ArtSatBr de 2008 foi desenvolvido pelo Laboratório de Pesquisa em Arte e Realidade Virtual do
Departamento de Artes Visuais da Universidade de Brasília (UNB). Coordenado por Suzete Venturelli,
Mario Maciel, tem programação de Sidney Medeiros.
3. Webradiojornalismo móvel

Cada vez mais, as pessoas consomem e produzem notícias através do que hoje
ainda é chamado de telefone celular. Os modelos de aparelhos evoluem freneticamente
e cada um traz mais possibilidades do que o outro. Em 2012, nos Estados Unidos, 100%
dos aparelhos celulares possuem rádio embutido, ao passo que, no Brasil, a
porcentagem é de 40%. A maneira progressiva com que a indústria embarca emissoras e
aplicativos nos celulares condiz com um tempo de convergência dos meios e mesmo de
pós-convergência. As cabeças, que pensam navegação, devem trabalhar, dia após dia,
para embutir aplicativos de forma a não ser mais preciso ficar indo atrás deles, pois eles
estarão incorporados. De qualquer forma, é cabível aqui as palavras de Manuel Castells
(2009) sobre a famigerada convergência, no site Nós da Comunicação, a partir de uma
entrevista ao jornal italiano La Stampa:

Já houve tempo em que se falava de excesso de comunicação ou de


informação por culpa da internet. Hoje [2009], as pessoas sentem a
necessidade e se inquietam se não conseguem acessar constantemente
os e-mails. Enquanto isso, renunciam voluntariamente à televisão e
isso pode ser o verdadeiro início do fim do poder do veículo. O celular
se tornou o mais potente e versátil instrumento de conectividade. Nele,
se convergem várias mídias. Do acesso à internet aos vídeos, passando
pela música e pela troca de mensagens.

Conforme Prado (2010), o questionamento é sobre o que muda em relação ao


jornalismo e ao webjornalismo. No caso deste estudo, questiona-se: o que muda então
do webjornalismo para o webjornalismo móvel? Estudos sobre isso estão em curso e,
dentre eles, esta Tese de Doutorado. Apesar de ser uma investigação que se atém ao
áudio, ou melhor, ao radiojornalismo, pretende-se colaborar também para uma
discussão aprofundada dessas questões. O que se pode levantar agora são as primeiras
características dessa mudança. Uma delas é a concisão, que já vem dos meios
eletrônicos, do rádio e da TV. Porém, o rádio inaugura a participação instantânea pelo
celular.
Sobre a teoria do novo radiojornalismo, é pertinente recorrer às problemáticas
levantadas por Eduardo Meditsch (1995). Uma delas anuncia que é preciso ser natural
ao falar no rádio. Imagina-se que todos podem falar em um celular que embute um
microfone onipresente, é preciso considerar que nem sempre a fala será própria para a
audição. Há que se pensar em um aperfeiçoamento das falas das pessoas comuns (não-
locutores) que se arriscam nesse campo. Com a repetição, adquirindo experiência,
muitos deles acabarão por melhorar essa locução e aproximá-la daquela de um
profissional.

O jornalista de rádio também tem um papel a desempenhar na frente


do público, que não vai representar bem se portar-se da mesma
maneira como se porta em sua vida privada. De forma consciente ou
não, vai sempre assumir esse personagem em frente ao microfone.
Quanto mais conscientemente o fizer, mais será eficiente na sua
função. Assim, o jornalista de rádio não tem que agir com
naturalidade, mas sim com eficiência no domínio de sua linguagem
falada. O ideal é que desenvolva a tal ponto esta eficiência que ela se
torne "como que natural". Para isso não deve representar uma
expontaneidade, precisa tornar expontânea a sua representação. O
caminho passa por um aprendizado do uso da linguagem falada -
como vimos, mais complexa do que a escrita - e por um treinamento
intensivo do uso da voz. (MEDITSCH, 1995).

O conceito de radiojornalismo – cumpre assinalar – precisa ser buscado (e


repensado) na história do rádio, que, no Brasil, teve início totalmente sem produção,
pois, naquela época, recortavam-se com gillette27 as principais notícias dos jornais
impressos. Veio daí a expressão “Gillette press”. Somente no começo da década de 40,
com a estreia do “Repórter Esso”, é que o programa de notícias passou a ter produção
própria. Não cabe aqui28, obviamente, contar a história do radiojornalismo, mas convém
lembrar que suas transformações, nos últimos tempos, levaram ao advento das rádios
segmentadas em jornalismo 24 horas, as chamadas all news, o que é possível comparar,
a grosso modo, com o conteúdo nas redes de fluxo no tempo da cotidianeidade.
O presente estudo sobre uma nova rádio apoiou-se no tripé fala (com conteúdo
jornalístico), música (de fundo) e paisagem sonora, já que uma produção noticiosa pode
                                                                                                                       
27
Nos anos 30, a marca Gillette virou sinônimo de lâmina de barbear e era usada como ferramenta
cortante para diversos fins, como cortar papel-jornal.
28
Para contextualizar a história do rádio no Brasil, é possível encontrar diversas obras que tratam do
assunto – mesmo que em fragmentos –, como histórias de rádios de uma região, de um Estado, de uma
emissora específica, ou mesmo de temas radiofônicos como humor no rádio, radionovelas, programas
como o jornalístico Repórter Esso etc., ou ainda sobre a evolução do ponto de vista tecnológico. Para
obter a linha do tempo do rádio em um mesmo volume, podemos recorrer à obra “História do Rádio no
Brasil”, escrita pela autora durante parte do período da pesquisa desta Tese (2011-2012) e lançada em 20
de junho de 2012. O livro contém 480 páginas e serve, assim, como anexo (a este estudo) sobre a
evolução do veículo. Podemos considerar a obra inédita no Brasil, já que reúne a história do rádio inteira,
com suas datas, fatos, temas, emissoras e também alguns de seus principais comunicadores.

 
ter “embalagem” artística. Ao direcionar a reflexão para a linguagem do rádio, o tripé
proposto pelo pensador catalão Armand Balsebre, no capítulo 2 de El Lenguaje
radiofónico (1994), considera que

la fundamentación de la existencia del lenguaje está en su


decodificación, en su percepción e interpretación. Por consiguiente, no
existe lenguaje si el sistema semiótico que lo comprende no incluye
también su uso comunicativo.
En los lenguajes modernos (cine, radio ... ), tal conocimiento reviste una
cierta complejidad: a través de la reiteración del hábito rutinario de
consumir películas o programas, las audiencias aprenden a leer el
mensaje, se familiarizan con las claves del repertorio de signos que
construye el mensaje y hacen posible su decodificación, pero ignoran
las claves de su producción: aprender a hablar los lenguajes modernos
supone un proceso mucho más complejo, especialmente por la
incorporación al repertorio de elementos de la noción tecnología.

Balsebre propõe a seguinte estrutura constitutiva do sistema semiótico ra-


diofônico, que pode ser visto na figura 7:

sistema semiótico radiofónico

lenguaje tecnología oyente


radiofónico

palabra efectos sonoros percepción radiofónica

música

recursos técnico/expresivos

de la reproducción sonora

silencio

Figura 7. Sistema semiótico radiofónico


Ana Baumworcel (2005) estudou o autor e acrescenta que “Balsebre conceitua,
em sua obra, o sistema semiótico radiofônico com o intuito de estabelecer uma teoria
expressiva para o veículo”. Balsebre parte do principio, defendido por Rudolf
Arnheim29, de que o rádio é um meio de comunicação e expressão e não só um veículo
de difusão de informação.

A questão não é apenas de terminologia, mas de delimitação


conceitual. E não é por acaso que Balsebre usa “expressivo” para
qualificar e nomear cada um dos “sistemas” que integram a linguagem
radiofônica. Considerar o meio como um canal de expressão faz parte
da fundamentação metodológica que ele utiliza em seu estudo.
Balsebre alerta que definir a linguagem radiofônica só como
linguagem verbal é excluir o caráter do rádio como meio de expressão
e acusa os jornalistas de defenderem esta reduzida capacidade
expressiva da linguagem radiofônica como simples sistema semiótico
da palavra com uma preocupação apenas com a redação da
informação. Assim, o estudo da linguagem radiofônica se tornou o
estudo da adaptação e do tratamento específico do universo
significativo da palavra com o objetivo de estruturar melhor algumas
das rotinas de produção do jornalista no processo de construção da
notícia. (BAUMWORCEL, 2005, p.2).

De modo geral, a união de radialistas e de jornalistas tende


a aproximar elementos artísticos (da plástica, da música de fundo, de toda a vinhetaria)
com elementos próprios do jornalismo (a preocupação com o conteúdo). “En la
información radiofónica se produce una exagerada relevancia del monólogo
expositivo, una de las formas expresivas de la palabra, y se ignoran otras, que impiden
ver la amplitud expresiva del lenguaje radiofónico.” (BALSEBRE, 1994, p. 6).
É bastante comum depararmo-nos, no exercício de nossa atividade docente, com
alunos que acreditam ser suficiente apenas saber escrever adequadamente para o rádio,
descartando-se a força e a importância da expressividade da fala da locução, da
apresentação, da ancoragem e de todas as vozes oficiais de uma emissora.

                                                                                                                       
29
Rudolf Arnheim publicou em 1936 Radio, an art of sound, traduzida, em 1980, para o espanhol por
Manuel Figueras Blanch como Estética radiofónica e publicada pela Editorial Gustavo Gili de
Barcelona.
3.1. Novas perspectivas do radiojornalismo

Interessou a esta pesquisa também a tentativa de projetar uma programação que


captasse a natureza das comunidades dentro das redes sociais. É possível agrupar
internautas que frequentam determinados locais cartografáveis e, assim, provocar a
troca de informações dos lugares escolhidos para difusão aos demais da rede. Após a
divulgação do site que abriga os experimentos <nooradio.net>30, o intuito ainda é fazer
com que os participantes tomem o posto de locutores e gravem suas impressões,
sugestões e conselhos como apontamentos urbanos sobre o local em questão,
diretamente para a comunidade.
O serviço digital surte efeito tanto para um registro de memória como marca
quanto para apenas um indício de flaneurismo; e a busca de lugares que interessam à
audiência poderá ser feita pelo sistema de geotag – conforme se assinalam as sugestões
apontadas no mapa, qualquer um encontra seu objetivo (um lugar, pessoa em dado local
etc.), facilmente, procurando pela categoria que lhe caberá dispor.
Foi cabível aproximar informações turísticas ao projeto da rádio experimental
<nooradio.net>, à medida que a programação fala de locais específicos, cidades ou
regiões como espaços sociais. Nesse caso, o texto tem características jornalísticas, com
isenção, apuração precisa, preocupação ética, entre outras regras. Para tanto, a futura
participação interativa dos audiointeragentes a se locomoverem nesse polo deverá ser
moderada por uma equipe convocada para a tarefa, sem tirar o direito do público de
protagonizar; apenas para garantir os princípios jornalísticos.
Outrossim, o experimento tem um núcleo de dedicação à cultura, ao prestar
informações sobre exposições, mostras, eventos artísticos e demais atrações que
ocorrem na cidade que está sendo mapeada no momento, com o futuro auxílio dos
audinteragentes, a trazer flashes de conteúdo online em esquema de construção coletiva
personalizada.
No site dedicado ao projeto experimental, o convite à participação para narrar o
que acontece em uma localidade, seja descrevendo de forma turística, seja
demonstrando seu lado artístico, não é impositivo, mas deliberadamente livre para quem
estiver predisposto a colaborar, quiser exercitar-se e partilhar impressões de seus

                                                                                                                       
30
  Este site foi desenvolvido no decorrer da pesquisa para esta Tese no Programa de Estudos Pós-
Graduados em Comunicação e Semiótica, da Pontifícia Universidade Católica (PEPGCOS/PUC-SP) com
bolsa Capes.  
percursos. A intenção é proporcionar a customização de informação, que pode ser
alterada em tempo real em uma soma de ações e recombinações de todos os
audinteragentes conectados em territórios comunicacionais.
De fato, o foco é oferecer conteúdo diferenciado para um ouvinte inquieto e
cansado do que ouve no meio mainstream. Esse ouvinte pode preferir o não-locutor
(oficial), uma voz comum, facilmente identificável, mais viva. A voz que erra, engasga,
some de vez em quando, demonstra indignação, medo e o que vier a sentir enquanto
narra sua locução não-profissional. Afinal, por que o apresentador de programas
radiofônicos precisa ter uma voz tão “redonda”? O público deve estar enfastiado de
ouvir sempre a mesma voz monótona, a chamada voz-padrão e, muitas vezes, pior
ainda, aquela voz que imita a voz-padrão. Vozes repletas de entonações parecidas, sem
gradações. A intenção é deixar claro que a errância não é o objetivo, mas ela não deve
ser reprimida, para deixar a emoção aflorar normalmente, ao acaso.
A rádio experimental pretende oferecer sempre um mapeamento de determinado
lugar, etiquetando seu entorno, com sugestões sobre aonde ir com quem realmente
esteve lá e conferiu tudo para poder falar, uma maneira de metamorfosear o padrão de
vivência com base na comunicação ampliada em tempo ubíquo, o tempo da
simultaneidade, com o mesmo sinal captado por todos. Santaella (2008, p. 130) defende
que, com a convergência das novas redes móveis de telecomunicações, estão surgindo
diferentes estruturas espaciais interativas e novas práticas culturais:

Trata-se de serviços baseados em locais que, por meio da rede


geoespacial, estão ligando os bits imateriais da mídia e informação
com lugares físicos do espaço público urbano. São práticas tecno-
sociais com o potencial de gerar formas de participação pública que
reconectam as dimensões materiais do espaço físico com os recursos
participativos da esfera pública virtual.

Os dispositivos utilizados para localização e posicionamento geográfico


permitem cobertura radiofônica em trânsito por meio de qualquer meio de transporte,
seja de bicicleta, seja de automóvel, avião ou trem, cobrindo rotas distintas e criando
uma cartografia anotativa dos lugares explorados no caminho.
Não fica de fora a proposta de proporcionar a entrada de radialistas-participantes
com prática colaborativa sem direcionamentos definidos e fechados. Ou seja, o
audinteragente também pode partilhar suas andanças à deriva. Nesse caso, o
mapeamento de sua trilha será uma surpresa. Porém, o mais importante será a
constatação de que ele estará presente, tomando parte.
Longe de destacar positivamente ou mesmo de aceitar o modo lacônico de
escrever e de falar, principalmente dos jovens, nos dias de hoje, há uma perplexidade na
sociedade, que provoca discussões recorrentes sobre a velocidade com que a
expressividade se dá na cibercultura. O fato é que a linguagem concisa também se
estabelece na web, não obstante tenha a capacidade de um conteúdo sem limites de
espaço e de tempo; é notório que internautas não vão muito além de três minutos
(áudio) e não passam muito de um segundo page down, tanto que usa-se o lide como
possível garantia de uma mínima absorção dos fatos noticiados. Com a máxima de que
ninguém mais tem tempo porque faz muitas coisas concomitantemente, as multitarefas e
a velocidade da informação resumida ganham força absoluta. É preciso, então, não
somente preparar reportagens com todos os meandros necessários (pauta, planejamento,
produção, pesquisa, apuração, checagem, identificação, redação, revisão, publicação
etc.), bem como encaixá-las amigavelmente na telinha e, ainda por cima, com sistemas
de alerta, avisando o usuário, em tempo real, de que há notícia nova do interesse dele.
Trata-se de mais uma nova alteração de linguagem, desta vez ainda mais breve.

3.1.1. O conteúdo e não o display

Ainda em meados de 2004, durante a defesa da Dissertação “Notícias no celular:


uma introdução ao tema”, na ECA-USP, Paulo Henrique Ferreira argumentou sobre as
diversas possibilidades de criação de noticiário para ser consumido pelo celular. Em
revista da ECA (2005), ele trouxe o pesquisador brasileiro Cezar Taurion (2002)
ressaltando, por exemplo, a instantaneidade.

Aliado com a mobilidade e o conteúdo altamente especializado, a


instantaneidade – se bem explorada pelas empresas jornalísticas –
pode ser uma ferramenta diferencial para a difusão de conteúdo em
celulares e computadores de mão. Taurion questiona: “qual será o
valor de uma informação disponível no momento exato a um
executivo que esteja para tomar uma decisão importante em uma
reunião de negócios, quando esta reunião está ocorrendo fora do seu
escritório e, portanto, sem acesso ao desktop? No ambiente móvel, o
que importa é o conteúdo e não o display”. (TAURION, 2002, p. 75,
apud FERREIRA, 2005).
É notório que gravar uma entrevista pelo celular é mais fácil, pois intimida
menos aquele que concede a entrevista. Um gravador sempre tem um ar mais austero. E
o jornalista móvel está preparado para tudo o que possa aparecer na sua frente. Se
precisar, ele grava o áudio, um vídeo ou fotografa, edita na hora e coloca imediatamente
na rede. O jornalista móvel é multimídia.

3.1.2. Comunicação ao e espacialização

No artigo “Você está aqui!” (2009), Lemos reforça essa ideia de usar informação
geolocalizada com a internet móvel: “[…] não se trata de investigar as relações
desmaterializadas do ciberespaço”.
Como tudo se passa em um contexto local, concreto e material, temos
que olhar como uma rede de atores (redes, dispositivos, sujeitos,
contexto) altera o processo comunicacional no espaço urbano; como
eles tencionam comunicação e espacialização.

Para tanto, Lemos escolhe uma abordagem tomando por base as teorias “Ator-
Rede (Actor-Network Theory) e Materialidades da Comunicação (Materialities of
Communication). Ambas permitem pensar nas formas materiais de mediação envolvidas
nos processos comunicativos de espacialização das mídias locativas”. Esses modos são
a forma como se dá a produção social do espaço, diz Lemos, que propõe seis modos:
escrita, escuta, visibilidade, sociabilidade, acesso e lúdico. “Esta escolha leva em conta
a materialidade da comunicação e os diversos híbridos formados por humanos e não-
humanos, permitindo investigar as redes formadas e o uso do espaço urbano.”
Lemos conclui que “o que pretendemos é levantar a hipótese de que as
tecnologias e os serviços baseados em localização implicam modos específicos de
mediação, e que essa caracteriza o relacionamento comunicacional como espaço,
redefinindo os usos dos lugares”.
Um dos modos específicos de mediação, entre outros já mencionados, é o QR
Code. No Brasil, começou a ser usado na publicidade para aumentar informações.

3.1.3. Qr Code no jornalismo

Com o celular, veio junto o QR Code. Trata-se de um conhecido código de


barras encontrado nas embalagens, dando informações sobre o produto. O QR Code
também é um código, só que binário. No Japão, como tudo que diz respeito a novos
gagdets, aparatos de toda sorte, o QR Code – abreviação de Quick Response Code, ou
seja, código de resposta rápida – é comum, desde que foi criado, em 1994. É uma matriz
ou código de barras 2D (bi-dimensional) que permite criar números de identificação e
permite armazenar quaisquer textos e URLs (endereços eletrônicos) para nos levar até a
rede e, desde lá, obter acesso a vídeos, áudios, galerias de fotos etc., que podem ser
lidos pelos dispositivos móveis (PRADO, 2010).
Ao acionar o QR Code, é possível encontrar informações e links. Ao apontar o
celular, com o programa instalado (amanhã todos virão com ele embutido), o código é
lido em segundos e traz mais conteúdo sobre o que se está querendo saber. Podem ser
informações turísticas, históricas, variadas coisas, uma obra de arte, um endereço na
internet, um dado de trânsito, e até mesmo produtos de consumo, ou seja, qualquer
informação pode ter complementos obtidos por acesso ao QR Code. Ora, o jornalismo
móvel, afoito por novidades, passou a acionar a ferramenta para uso no noticiário,
relevante para quem quer se aprofundar em determinado assunto.
Em um depoimento exclusivo de Fernando Firmino da Silva, professor de
Jornalismo da Universidade Estadual da Paraíba para o livro Webjornalismo, desta
pesquisadora (2010, p. 224-225), discorreu sobre o jornal A Tarde, de Salvador, um dos
primeiros a fazer uso do QR Code mais amiúde. Silva ressaltou que a empresa usava o
dispositivo principalmente nas páginas de Esporte e Cultura e fez um relato de como era
na prática o trabalho dos repórteres com os dispositivos móveis, já que ele os
acompanhava para sua pesquisa de Doutorado na Universidade Federal da Bahia. Silva
também explanou sobre a lentidão que existia no 3G e, por último, como funcionam os
flashs que a equipe do jornal Extra fazia com celulares.

Penso que o jornalismo móvel, dentro de um contexto de


convergência jornalística, se estabelecerá cada vez mais porque as
empresas jornalísticas utilizam dispositivos como celular como um
artefato catalizador para realizar o fluxo para multiplataformas (rádio,
televisão, impressos, celular, internet). Há, na minha concepção, uma
potencialização do jornalismo móvel. Entretanto, nem tudo é uma
maravilha. Tecnologias como o 3G, adequado para essa mobilidade e
ubiquidade, também apresentam problemas como de velocidade. Eu
sempre afirmo que as bandas são mais furiosas que velozes porque
muitas vezes nos deixa na mão com a instabilidade das redes, os
pontos cegos e as tarifas altas cobradas pelas operadoras para o uso de
dados. E velocidade é fundamental para a transmissão de dados
pesados como vídeos ou entradas ao vivo por um celular. A
expectativa é a chegada de tecnologia 4G (já presente nos EUA) que
pode atingir até 100 megas de velocidade e resolveria esse problema
principalmente quando se grava em HD, a próxima etapa.
Devido a essa instabilidade, outro problema decorrente é a questão do
delay para transmissões ao vivo de celular. Esses são pontos
fundamentais para a emissão diretamente dos locais de apuração.
Entendo também que os repórteres ainda se apropriam dessas
tecnologias móveis para a produção jornalística de uma forma
experimental e potencializando muito mais os vídeos e fotos, mas
ignorando, na maioria das vezes, algumas capacidades dos
dispositivos para a construção de notícias inclusive locativas como
GPS, editores (de textos, áudios e vídeos) embutidos em aparelhos
como celulares entre outras funções quase desconhecidas dos
usuários.
Na minha percepção ainda falta também uma estratégia mais bem
acabada de como lidar com as tecnologias móveis, pensar na pauta o
trabalho dos repórteres de campo e a definição de um
sistema/estrutura para atender ao fluxo de produção, à demanda dessa
produção externa. As novas plataformas de publicação como o
NewsGate (ccieurope.com/Solutions/CCI-NewsGate.aspx) favorecem
o trabalho cross-media nas redações integradas ou iniciativas
transmidiáticas como apregoadas por Jenkins e pouco exploradas no
jornalismo.
Outra questão que me parece importante é a experimentação de novas
aplicações que surgem para dispositivos móveis e o uso mais intensivo
de redes sociais móveis. Tudo isso pode expandir a prática do
jornalismo móvel. É o caso do Extra Online do Rio de Janeiro que
utiliza o 12Seconds para flashs diretamente da rua para situar o
internauta sobre matérias em andamento ou sobre condições de
trânsito em determinadas áreas. São apropriações que demarcam
novas formas de mobilidade para o jornalismo.
Outras interfaces utilizadas são os usos do QR Code que conecta a
mídia impressa/celular/internet e que é utilizado pelo Jornal A Tarde
de Salvador (primeiro a usar) e posteriormente foi adotado pelo
Correio Braziliense, o Pioneiro (RBS) do Rio Grande do Sul e outras
publicações, entre as quais revistas. Em resumo: acredito que estamos
diante de novas implicações com a emergência das tecnologias móveis
que precisam ser melhor estudadas, compreendidas e praticadas
porque complexificam o fazer jornalístico, redefinem o perfil de
atuação dos profissionais e estabelecem uma nova relação com a
audiência que além de consumir em mobilidade também pode
colaborar com a produção jornalística produzindo conteúdos a partir
de seus aparelhos. Estamos diante do que Bauman denomina de
mobilidade líquida com mudanças significativas de conjuntura no
campo da comunicação e da prática jornalística. (FIRMINO, 2010).

O jornalismo móvel, ubíquo, o jornalismo colaborativo, feito pelo usuário, o


jornalismo cidadão, participativo e o jornalismo hiperlocal, glocal, geolocalizado estão
todos imbricados.
3.2. Jornalismo hiperlocal

The act of a citizen, or group of citizens, playing an active role in the process of collecting,
reporting, analyzing and disseminating news and information
(BOWMAN; WILLIS, 2003, p.9)

O conceito de jornalismo hiperlocal se refere à prática jornalística que, num só


tempo, é vinculada a determinado espaço geográfico -- daí a tônica do termo recair
sobre a ideia de "local" -- e se utiliza de tecnologia de localização por meio de
dispositivos móveis e portáteis, como os ainda chamados celulares.
Mas é, acima de tudo, caracterizado por noticiar com a participação efetiva dos
moradores ou frequentadores do lugar em questão – uma microrregião, um bairro, uma
rua, um quarteirão. As notícias hiperlocais são relacionadas às localidades específicas e
às suas comunidades. O que diferencia este tipo de jornalismo do jornal de bairro ou do
jornal comunitário é exatamente a interatividade, que é exacerbada pela Web 2.0.
Em 16 de novembro de 2009, professores da Faculdade de Comunicação Social
(Famecos) da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS), representantes do
Massachusetts Institute of Tecnology (MIT) e jornalistas do Grupo RBS reuniram-se
para dar início ao projeto Locast. O objetivo da pesquisa era realizar uma forma de
cobertura jornalística que trabalhasse com o ultralocalismo, segundo a assessoria da
PUC-RS.

Os pesquisadores do MIT, David Boardman e Steve Pomeroy,


ministraram o workshop que detalhou o projeto e explicou o
funcionamento do aplicativo utilizado. Notícias produzidas em vídeos
não para as massas, mas focadas em públicos menores com interesses
em comum. (Universia, 2009).

“Esta é uma pesquisa histórica para a Famecos”, vibra o professor da PUC-RS e


coordenador do projeto, Eduardo Pellanda (2009), pelo pioneirismo da Faculdade no
estudo sobre mudanças na forma de encarar a dinâmica do jornalismo. Essa nova
utilização proposta pelas parcerias fará com que as pessoas construam uma nova
perspectiva não somente da capital gaúcha, mas também da disseminação da
informação. “Este projeto é visto por nós como mais uma forma de fazer jornalismo.
Enxergamos isso como algo suficientemente maduro para ir além de um experimento”,
esclarece o coordenador de projeto online do Grupo RBS, Thiago Medeiros.
Estudantes de graduação, pós-graduação, professores, repórteres e
editores do Grupo RBS já estão envolvidos na construção e
manutenção do portal com a tecnologia Android. As matérias, feitas
pelos repórteres, estarão ligadas a um mapa via GPS, marcando assim
a localização exata do acontecimento. Todo o conteúdo é feito com
celular e a edição acontece na hora. A postagem é automática, mas
pode passar pelo crivo de editores, se assim for necessário. A pesquisa
é inédita no Brasil e a única oficial entre o MIT e uma Faculdade de
Comunicação.

Exemplo de jornalismo colaborativo é o do O Globo, do Rio, com o Globo


Online, a abrigar, desde 2008, o site (bairros.com) (veja-se a homepage na figura 21),
elencando categorias relacionadas aos principais bairros do Rio. A nota oficial d’O
Globo, quando foi lançado em 2008, reforçava que os jornalistas estariam por trás e
receberiam “auxílio”: “A página será um portal onde cada região do Grande Rio terá um
blog próprio, abastecido pelos repórteres dos Jornais de Bairros com o auxílio – cada
vez mais imprescindível – dos próprios leitores”.

Figura 21. Print da página Bairros.com do Globo.com

O fundamental para se configurar como jornalismo hiperlocal é ter a presença de


jornalistas nas comunidades para a captação de pautas junto aos moradores, o que é
próprio de uma prática que vem de baixo para cima e não ao contrário. De modo geral,
os ambientes digitais hiperlocais possuem ferramentas que estimulam essa participação
dos frequentadores das localidades envolvidas. Portanto, não e suficiente veicular
apenas o noticiário da região focalizada, é preciso incitar a coletividade a partilhar
informações, conversar e discutir sobre assuntos de interesse da mesma vizinhança,
muitas vezes deixados de lado pelas editorias denominadas “cidades” ou “cotidiano” da
grande imprensa. Veja-se exemplo de conteúdo enviado por leitora no Eu-Repórter, do
bairros.com.

Figura 22. Exemplo de postagem de morador na Grande Tijuca (RJ)

As webpages desses ambientes hiperlocais com notícias de proximidade abrem


espaço para a geração de conteúdo, comentários e possíveis respostas às questões
pertinentes às regiões nas quais os usuários moram. Algumas interfaces proporcionam
aos residentes a possibilidade de montar seus perfis para se relacionar com os
frequentadores e vizinhos.
Os temas das notícias são os mesmos, como um espelho do que acontece no país
ou no mundo, desde que tenha referência à localidade focada. Além disso, as
informações específicas dos lugares, como eventos de todo tipo, negócios, colunismo
social, noticiam sobre casamentos, aniversários, batizados etc. Porém, o mais
interessante se dá quando os moradores opinam, resenhando as atividades e o dia-a-dia
de locais públicos. Não se trata somente de fazer comentários, por exemplo: de
restaurantes, festas e feiras. É possível criticar o funcionamento de um órgão público, de
estabelecimentos, no que tange a diversas situações, como atendimento, limpeza,
conforto que o lugar oferece, entre outras reclamações, sugestões, recomendações e
elogios.
Por ser jornalismo digital, é praticada a multimídia quando pertinente. Assim, as
reportagens dos jornalistas e dos moradores podem ter, além do texto, áudio, vídeo,
fotos, gráficos etc.

3.2.1. Noticeboards

Como exemplo de site estrangeiro, é plausível recorrer, como exemplo, ao The


Guardian, veículo que inspira boa parte da classe jornalística que lida com o meio
digital devido à sua criatividade. A empresa lançou, em novembro de 2011, uma
ferramenta hiperlocal, o n0tice (assim mesmo, com “o” grafado como zero),
<n0tice.com/>, uma espécie de mural pessoal (veja-se alguns murais criados por
moradores na figura 23). Foi pensado para dar a possibilidade à comunidade de atualizar
digitalmente suas informações locais como em um quadro de avisos. Os quadros são
customizáveis. Assim, cada usuário pode criar, para seu mural virtual, um diferente
background, um logotipo etc.

Os painéis de notas dão aos usuários a capacidade de operar e gerir


suas notícias usando a tecnologia n0tice. [...] Os proprietários dos
quadros de avisos, poderão dispor de ferramentas para medir o
desempenho e atividade de seus avisos, bem como moderar as
atividades da comunidade a fim de incentivar o tipo de
comportamento que eles querem ver aflorar em seus avisos. Ou seja,
um ambiente online para que possam interagir. (Do site N0tice, 2011).

Figura 23. Print da homepage do N0tice


Trata-se de um portal da grande mídia criando um site para oferecer conteúdo de
tráfego e de blogagem ao vivo de áreas específicas. O portal Jornalistas da Web comenta
a iniciativa
O serviço está sendo descrito como um misto de plataforma de blogs e
streaming do Twitter, parte fórum, parte lista de acontecimentos. A
ideia é que os usuários interessados ingressem no serviço e iniciem os
próprios murais para compartilharem conteúdos locais como eventos e
notícias. Ainda segundo o The Guardian, o n0tice foi estruturado por
localização. Com isso, usuários que estão em uma área geográfica
similar poderão ver o conteúdo do mural do outro.

Carlos Castilho (2011) analisa que essa ajuda proveniente dos colaboradores é
crucial para garantir o jornalismo em variadas regiões. Evidentemente, não é possível
prever jornalistas em todas as esquinas, porque a enorme logística exigida não permite.
Castilho aponta que a cobertura comunitária “tornou-se demasiado cara para ser
executada apenas por jornalistas profissionais, tornando quase compulsória a
participação do público como fornecedor de notícias”. Porém ressalta que não é apenas
o fator econômico que torna relevante a colaboração dos leitores.

As comunidades sociais são um manancial de


conhecimentos essenciais na formulação de programas públicos para
saúde, educação, moradia, segurança e transporte, capazes de
contrabalançar a tendência dos burocratas de produzir projetos de
escritório. É o chamado conhecimento tácito que necessita ser
transformado em conhecimento explicito por meio da comunicação,
num processo onde o jornalismo pode ter um lugar predominante.
(CASTILHO, 2011).

A equipe de jornalistas trabalhando unida aos colaboradores – moradores ou


frequentadores – torna a produção hiperlocal de maior interesse público, pois atende aos
anseios da comunidade.
Capítulo 2.

Aplicabilidade do arcabouço teórico ao âmbito dos media


móveis

1. Proposta

Ao se constatar que as formas atuais de se fazer rádio são insuficientes,


limitadas e retrógradas, surgiu a intenção de propor um formato radiofônico inovador,
tomando por base as reflexões sobre os media31 digitais móveis.
Esta proposta possui relevância na medida em que a academia poderá se colocar
à frente do mercado, ao vislumbrar uma rádio produzida por dispositivos móveis (celular
e GPS), articulando apontamentos urbanos geograficamente mapeados e lançados
ciberculturalmente.
Esse procedimento se caracteriza pelo ineditismo, já que não há estudos
específicos dos media móveis no radiojornalismo, tão carente de mudanças
significativas em seus formatos vetustos. Aplicativos de realidade aumentada que
permitem amplificar essa dinâmica ocorrem com os usuários do Android, como descrito
por Marcus Bastos no site da Vivo Arte.mov:

Programas como Layar e Wikitude permitem usar o GPS do aparelho,


ou endereços informados manualmente, como ponto de partida para
exibir camadas de informação sobre lugares próximos. Os
mecanismos de realidade aumentada, que permitem conectar espaços
físicos à internet, tornam-se assim acessíveis a um público amplo. [...]
Ao apontar a tela do celular para lugares sensíveis, o usuário consegue
informações como a idade de uma construção, a distância de um posto
de gasolina e outras. No estágio atual de desenvolvimento, a
experiência do usuário não é completamente satisfatória, e existem
problemas como a disponibilidade em poucos lugares. São
deficiências comuns quando se trata de recursos tecnológicos em
                                                                                                                       
31
Veja-se a nota 16 do Capitulo 1.
desenvolvimento, que não chegam a comprometer o possível
entusiasmo com as possibilidades oferecidas.

Os media móveis, cada vez mais portáteis, mais enraizados em nossos corpos,
reconfiguram a indústria atual, pois incentivam o uso com propósitos comuns aos
grupos de pessoas que se identificam com os mesmos gostos, com as mesmas
afinidades, modificando o jeito de se expressar na coletividade. Antes, determinada
audiência ouvia uma rádio ou um grupo de rádios específicas e com isso se tornava
parte de uma tribo. Hoje, essa preferência pode mudar à medida que o público tem a
oportunidade de enfatizar o seu gosto e o gosto comum de seus pares nas redes sociais
musicais, na assinatura de audiocasts, ou, talvez, com a possibilidade de preparar o
próprio material de difusão no sentido de melhorar esse gosto, e – por que não?
propondo criar gosto na sua comunidade, na rede particular de interessados em produtos
segmentados. Assim, o audinteragente pode transformar a paisagem sonora estabelecida
com músicas de qualidade, informações precisas e boas histórias, especialmente
geosselecionadas para cada ocasião em que cogitar gravar no ambiente detectado pela
rede sem fio utilizada, dando tratamento inteligente ao conteúdo gerado. Segundo
Chaves (2001, p. 71-72):

[...] temos, agora, uma comunicação “falada pelas pontas dos dedos”,
contextualmente livre, mas sensível ao contexto. No processo de
digitação e de transmissão/recepção, não só devido às inúmeras
estratégias criadas pelos usuários como também ao avanço da
tecnologia, a interação tem se tornado mais veloz e, dependendo da
modalidade adotada, aproxima-se do discurso falado.

É incontestável que a utilização de um sistema de navegação como o GPS é


atraente, principalmente em cidades grandes, ou mesmo em cidades menores, porém
desconhecidas. É atraente, sem dúvida, por conta da dificuldade de se achar os
caminhos que levam aos pontos de um roteiro (preestabelecido, planejado, ou mesmo
não-definido anteriormente, apenas imaginado em um roteiro mental) direcionado a
metrópoles ou a lugares que são visitados pela primeira vez. Evidentemente que o GPS
acoplado a um programa de rádio vai muito além de um guia impresso que mostra as
ruas, ou um programa de rádio que fornece a agenda cultural da cidade, ou mesmo a
imprensa, com todas as habituais informações convencionais. Nesse ponto, a
interatividade será investigada desde seu início, como lembra Eduardo Campos Pellanda
(2005, p. 201):
Na fase embrionária da rede, as páginas disponibilizavam informações
e serviços que potencializavam a vida “além da Internet”. Buscavam-
se informações sobre o trânsito, programação cultural ou notícias da
cidade e depois o internauta iria para as ruas em um ambiente off-line
interagir com outras pessoas. Essa situação é amplificada no contexto
da mobilidade. A interação social é paralela com a interação no
ciberespaço. O indivíduo passa a contextualizar o ambiente físico em
que está com as buscas e emissões de informação.

Nesse sentido, serão apresentadas novas versões de como se trabalhar com as


possibilidades apontadas para uma radiofonia aberta em ensaios científicos, com a
finalidade de por à prova nossas hipóteses.

2. Os experimentos

Como visto anteriormente, as novas formas de práticas com o som que estão
surgindo no mundo digital pressupõem ações das pessoas em mobilidade, como
aparecem nos exemplos citados, porém nem sempre com cunho jornalístico ou
mapeadas. Coube, então, ter a pretensão de levantar os preceitos necessários para uma
forma de rádio no contexto dos media móveis com o propósito de refletir sobre a
comunicação em tempos velozes na hipermobilidade; e, como experimento, pensar um
projeto de criação de uma programação radiofônica, no formato audiocast, que combina
dispositivos móveis para transmitir microconteúdos vinculados a lugares específicos.
Conforme já dito, o que se pretendeu desenvolver, como aplicação prática, foi uma
programação experimental de rádio com produção baseada em aparelhos móveis, como
celulares, laptops (ou minilaptops) e tablets, gravada e transmitida em fluxo constante
por redes sem fio, bluetooth, ou etiquetas de identificação por radiofrequência (RFDI).
Trata-se de áudio com informações digitais, associado ao espaço geográfico.
Os audiocasts dessa programação experimental foram armazenados na internet,
possibilitando sua captação e audição tanto pelos computadores, tablets ou celulares,
quanto por qualquer tocador de MP3 (com possibilidade de download do conteúdo ou
apenas audição por streaming). São programas que apontam referências a localidades
reais e são alojados no cyberspace – uma forma de aliar a internet às informações das
ruas das cidades.
A interatividade dos experimentos foi propiciada de maneira participativa por
mensagens de texto SMS, tuites, postagens no Facebook, Instagram, Foursquare, em
redes próprias para enviar conteúdo ligado às coordenadas geográficas, além das
maneiras tradicionais nos espaços de comentários, permitindo unir as pessoas em torno
das possibilidades de trilhas sugeridas. Santaella (2008, p. 130) levanta a questão da
volta transformada da interação humana frente a frente:
Com as redes de comunicação móveis baseadas em localizações ressurgem os
pontos de encontro no espaço físico de um ambiente urbano. O parâmetro da
localização geográfica é assim reintroduzido, mas em atividades que
continuam sendo mediadas por computador. O espaço virtual em que a
comunicação ocorre é mapeado para o espaço físico habitado pelos corpos
materiais dos participantes. Assim, o contexto espacial virtual é mapeado no
mundo físico e o contexto espacial híbrido resultante torna-se a arena do
processo interativo.

A proposta previu ainda colocar em circuito ouvintes de redes como a Blip.FM


e/ou outras máquinas inteligentes para se fazer rádios investigadas no processo da
criação. O estudo visou seguir os vestígios de diferentes tipos de usos de interatividade
para distintas necessidades tecnológicas em permanente adaptação dessas comunidades
envolvidas nas redes sociais musicais32, que também estão fundidas ao Twitter. Os
temas são os sinais do cotidiano, e os textos (de até 140 caracteres por postagem)
podem ser enviados, compartilhando-se, assim, o que se faz ao longo do dia, de
qualquer lugar em que se esteja. O ato de tuitar33 provoca um movimento de
identificação de amigos quando um segue o rastro do outro. E a Blip.FM faz com que
todos se conheçam mais e mais, ao tomarem conhecimento das músicas escolhidas dos
audinteragentes. Isso porque elas entram automaticamente (com comentários ou não), à
medida que determinada música está sendo ouvida, na página do Twitter de cada qual e
de cada um que o segue.

                                                                                                                       
32
Redes sociais musicais como a Blip.FM – ambiente para audição de músicas, possibilidades de se
tornar DJ e relacionamento com os demais audinteragentes.
33
 Veja-se nota 11 da Introdução.  
3. Os relatos

3.1. Walk radio hiperlocal com anotações urbanas

Se parte, pues, de uma concepción muy aberta de la ciberradio con objeto de poder integrar
otras innovaciones más o menos próximas y que tengan como núcleo expresivo principal el sonido.
Emerge un mundo sonoro detrás de esta denominación que abarca todo el fenómeno sonoro de Internet o
procedente de otras modalidades internas o externas de la Red. Todo ello es posible gracias al paso a la
web 2.0 que repercute de manera transversal en todos los grandes cambios en Internet hasta dar el salto
a una nueva concepción comunicativa basada en el desarollo de redes sociales. En este caso interesan
las redessociales centradas en el audio como prolongación de la ciberradio. (CEBRIÁN HERREROS,
2008, p.134)

Em uma experiência que uniu geolocalização, redes sociais, gravação e edição


em celular, foi possível colocar em prática um experimento de walk radio – audiocast34
móvel. No programa radiofônico, com duração de cerca de uma hora, foram ouvidas
dezenas de pessoas por uma equipe de repórteres e produtores que percorreu os 2.800
metros da Avenida Paulista, onde circulam cerca de 1.500.000 pessoas diariamente,
conforme dados da Associação “Paulista Viva” referentes a março e abril de 2010.
Todo conteúdo produzido foi automaticamente para a web, o que levou à mobilização
de variados ouvintes na rede, apesar de não ter havido divulgação maciça, pois se
tratava de um ensaio.
Apesar de experiências desse tipo, o estado da arte do rádio no século XXI
mostra que o veículo permanece refém de uma mentalidade tecnológica defasada. Quem
produz áudio ainda não encontrou uma fórmula para se atualizar, apesar de já ser
possível basear-se em patamar tecnológico mais avançado na cibercultura. Enquanto o
Brasil está décadas atrasado, o relato da produção realizada de rádio vem para provar
que é viável, mesmo constatando que a realidade não abraçou ainda nenhuma tentativa
de sair do marasmo que assola a radiofonia. Tratou-se de vincular a urgência de fazer
rádio como uma prática viva de realidade cronotópica à reverberação no espaço público
de uma cidade sonorizada: São Paulo.
                                                                                                                       
34
A preferência pela utilização do termo audiocast, em vez de podcast, justifica-se pelo desatrelamento
necessário da experiência em relação a qualquer marca de aparelho (PRADO, 2007).
Em 21 de setembro de 2011, alunos da disciplina de Radiojornalismo II,
ministrada por esta pesquisadora no 3º ano de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero,
realizaram um feito inédito, que só o futuro poderá dizer se foi um marco importante na
história do radiojornalismo. Como exercício de aula, os alunos demonstraram ser
possível deslocar o rumo do rádio para um sentido mais apropriado com os tempos
cibernéticos, híbridos, nos quais ouvintes não se contentam mais com a velha fórmula
de audição que insiste em imperar, ignorando a avalanche de ferramentas na forma de
aplicativos que podem e devem permear a comunicação, tornando-a elástica e líquida.
O projeto foi dividido em duas partes: a estruturação da ideia (no começo de
agosto) e, depois, o planejamento e a pré-produção. As instruções finais foram dadas
apenas no dia em que o programa estava marcado para ir ao ar; enquanto parte dos
alunos saiu a campo para o desafio, os demais aguardaram o retorno das coordenadas
geográficas que viriam da avenida. Após uma hora no ar, a experiência ultrapassou as
expectativas, pois ocorreu sem muitos atropelos e ainda deixou alguns alunos perplexos.
Afinal, para alguns, sair da zona de conforto do rádio tradicional, é difícil. O programa,
uma experiência de webradiojornalismo geolocalizado, foi transmitido em streaming –
conexão de áudio (ou vídeo) que se dá online. Pode-se ouvir (ou ver) sem a necessidade
de fazer download – com chat aberto, proporcionando transparência e interatividade de
pessoas de qualquer lugar, que podiam acompanhar o itinerário dos repórteres em suas
andanças e que eram chamados pelos âncoras em esquema de revezamento no estúdio
da Faculdade.
O walk radio, como está sendo chamada a experiência, recebeu o título de
“Paulista de ponta a ponta”. O slogan escolhido pelos alunos, “Do Paraíso
à Consolação”, faz alusão aos dois extremos da Avenida Paulista mapeada desde a
Avenida Consolação, em uma ponta, até o começo do bairro Paraíso, na outra ponta.
Essa foi uma experiencia do hiperlocal ao tratar da cobertura de uma região
geográfica específica, tendo os jornalistas a colaboração dos moradores e/ou
frequentadores. No caso da Avenida Paulista, o número de moradores gira em torno de
5.000, segundo o site da Associação Paulista Viva. O webradiojornalismo proposto teve
como tema a Paulista, uma das principais avenidas de São Paulo, para o experimento de
topofonia na mobilidade. Os dois lados da avenida (o ímpar e o par) foram totalmente
esquadrinhados, tendo um produtor trabalhando com cada grupo de três repórteres para
cada divisão em suas 18 quadras. Na figura 24, podem ser vistos os pontos das
reportagens. Vale destacar que algumas figuras foram produzidas pelos alunos.
Figura 24. Mapa ilustrativo com pontos na Avenida Paulista. Arte produzida por Vitor Valencio

3.1.1. Transmissão conforme a caminhada pelos números da


avenida

O walk radio jornalístico foi previamente produzido com a demarcação dos


pontos de acesso. Assim, os especialistas, que seriam entrevistados, estavam a postos
em seus estabelecimentos ou locais escolhidos para entrar no ar, e responder às
perguntas dos repórteres. O programa seguiu a ordem dos números da avenida. Já as
personagens – pessoas comuns que frequentam a avenida e passavam ou estavam nas
localidades reportadas – foram chamadas na hora da transmissão. O mesmo aconteceu
com o “fala-povo”, ou seja, enquetes feitas ao longo da programação, sempre de acordo
com a numeração da avenida.
A pré-produção fez o mapeamento e agendou as entrevistas. Nas semanas
anteriores, por meio de um arquivo no Google Docs (como pode ser visto na figura 25),
foram levantadas as pautas possíveis de conteúdos geolocalizáveis e o que poderia ser
reportado, no intuito de se ter um bom balanço dos assuntos. As editorias de Cultura,
Cotidiano, Entretenimento e, evidentemente, Cidades, foram determinadas para pautar
os temas. Assim, elas variaram entre pontos culturais, como a Casa das Rosas, o Museu
de Arte de São Paulo, o Instituto Itaú Cultural, com suas agendas de eventos, ou mesmo
acontecimentos culturais ao ar livre, como a exposição Rinomania, mostrando diversos
rinocerontes espalhados pela avenida, e ainda diversas opções de lazer, como o parque
Trianon, ou sugestões de restaurantes e filmes em cartaz na orla dos cinemas. Situações
rotineiras, como, por exemplo, apurar como está o policiamento da esquina mais
violenta, a da Avenida Brigadeiro, foram checadas, e os números de incidentes apurados
com as autoridades, assim como avisar sobre um sebo bem escondido com livros raros.
Ir saciando curiosidades, quarteirão por quarteirão, sobre os prédios mais altos ou
descobrir o que mais se vende nas bancas e lojas de uma das avenidas mais
movimentadas da cidade também foram questões incorporadas.

Figura 25. Parte do arquivo no Google Docs de uma das classes, o 3JOA

3.1.2. Cobertura feita com dispositivos móveis

O mais importante, no entanto, não foram os temas abordados no walk radio,


mas como se deu essa cobertura móvel com ferramentas geolocais. O fato de ter sido
esmiuçada pelos repórteres com depoimentos, que ocorreram ao vivo pelo celular,
ilustrou muito bem nosso propósito de navegação entre os pontos. Enquanto os
repórteres estavam em campo, coube aos âncoras contextualizarem a avenida, com
notas históricas, alternando cada reportagem que entrava no ar ao vivo com as que
chegavam gravadas – colhidas no horário do jornal e enviadas pelo próprio celular por
e-mail, logo após o momento exato em que foram gravadas na rua. Esse tipo de
cobertura foi o ponto alto dessa experiência.
Ninguém precisou de equipamentos muito sofisticados. Na maioria dos
smartphones, é possível gravar. O iPhone, por exemplo, possui microfone acoplado que
grava voz, proporciona edição (básica) e possibilita o compartilhamento, como mostra a
figura 26. Nessa experiência, o compartilhamento se deu com a equipe de edição que
cortava os áudios para que entrassem no ar no instante em que ocorria o radiojornal.

Figura 26. Tela do iPhone que ilustra o aplicativo que grava, edita e partilha

Na rua, cada repórter entrava no ar no seu ponto de partida com uma matéria ao
vivo e, posteriormente, gravava outra reportagem na sequência, que era enviada aos
editores de plantão no estúdio. Estes tinham de cortar o excesso no intuito de tornar as
sonoras curtas o suficiente para dar mais dinamismo ao programa. Assim, as
reportagens que entravam ao vivo tinham um tempo com um pouco mais de um minuto
ou um minuto e meio, pois contavam com a participação dos âncoras.
Intercalar, como camadas de informação geolocalizadas, matérias ao vivo e as
recém-gravadas em trânsito, dava fôlego para que a equipe de reportagem se
posicionasse novamente para espaçar a próxima entrada. Entre um repórter e outro, os
âncoras liam notas frias (porém pertinentes) para não deixar o programa datado. Aliás, o
jornal inteiro foi pensado com assuntos que conseguissem ficar quentes por um bom
tempo para quem quisesse ouvir fora do streaming.
Todo o walk radio contou com a paisagem sonora da própria avenida nas
reportagens que entravam no ar, e a parte da ancoragem ganhou BG (música de fundo)
previamente escolhido (de forma a combinar com o tema) para compor o programa.
Músicas selecionadas pelos alunos da equipe responsável, que foi instruída a não
utilizar trilha branca (o que comumente rádios comerciais usam e deixam todo e
qualquer programa repetitivo) trouxe mais personalidade musical ao programa. É bom
frisar que a parte técnica (sonoplastia) do programa também foi comandada pelos
alunos.

3.1.3. Broadcast now

Como o streaming foi feito pelo aplicativo Flipzu (veja-se abertura da app na
figura 27), que simultaneamente posta (como aviso) o início da transmissão no Twitter
ou no Facebook, ou nas duas redes sociais, se estiverem lincadas, a divulgação entre os
seguidores de quem tem conta nessas redes trouxe, de forma virótica, ouvintes variados,
principalmente de quem “retuita” (o tuite é retuitado quando alguém achou por bem
replicar o que foi escrito por outra pessoa) ou curte a chamada para a audição (o post
automático) como diálogos repercutidos. Quando isso ocorre, basta manter a
conversação com quem se manifesta pelo chat como retorno providencial, garantindo
audiência. Porém, grande parte de quem ouve não costuma escrever no chat, o que se
constata, depois da transmissão, em razão do número infinitamente maior de quem
ouviu.

Figura 27. Tela da abertura do aplicativo de streaming FlipZu


Redes sociais também servem para reverberar o que está acontecendo ao vivo.
Os alunos criaram um hot Twitter (espécie de conta no Twitter que somente fica aberta
para divulgar ações antes, durante e apenas alguns dias depois do programa ter ido ao ar
em 21 de setembro de 2011). Na figura 28, pode-se ver um print de parte da conta do
programa, criado pelos alunos, que ganhou o nome de Casperwalk.

Figura 28. Twitter Casperwalk

A ideia de colocar o programa em um ambiente como o Tumblr, ou outra


plataforma de blogs, serviu não somente para fazer upload do áudio de cada lado da
avenida, bem como para incluir os áudios de cada reportagem, separadamente,
direcionado a quem quisesse ouvir apenas uma reportagem ou outra (veja-se figura 29
com parte da homepage do audioblog criado pelos alunos). Nesse caso, um mapa
mostra os marcadores (o ícone é parecido com um pingo, ou pode ser usado o desenho
de um pin) clicáveis no exato local onde estão as matérias. Ao clicar, ouve-se o áudio
específico do lugar escolhido. O audioblog também abriga o chat que esteve aberto
enquanto o streaming se deu com o áudio, bem como pode, com o áudio gravado,
proporcionar a continuação da conversa, discussão ou mesmo novas ideias de pautas, de
forma infinita e permanente.
Figura 29. Print de parte da homepage do blog “Paulista de ponta a ponta”
3.1.4. Foursquare como ferramenta jornalística de apuração

A geolocalização é a “coqueluche” do momento na internet móvel, com as redes


sociais afloradas como ponto alto dos últimos cinco anos no espaço onipresente da
sociedade conectada. É interessante lembrar que redes como o Twitter35, por exemplo,
nasceram com o propósito de oferecer a possibilidade de postagem ambulante36 através
dos smartphones. Porém, como a cada dia surgem novidades, gerando alvoroço no
panorama da tecnologia móvel, o boom atual já não é somente o relacionamento entre
pares, nem apenas a possibilidade de contar fatos corriqueiros, mas consiste em
localizar onde se está, a partir de coordenadas geográficas de seu entorno, e, com isso,
temporalmente compartilhar informações “aumentadas”, vinculadas aos lugares
frequentados, com a ajuda de ferramentas como o GPS.
Dentre os aplicativos, que unem rede social a serviços de localização, o
Foursquare é o mais conhecido e o que mais cresce desde que surgiu, em abril de 2009.
Dados37 de outubro de 2010, apurados por David Barifouse, apontavam que a app levou
um ano para atingir o primeiro milhão de usuários. Três meses após, eram 2 milhões e,
passado mais um mês e meio, 3 milhões, como pode-se observar na figura 30.

                                                                                                                       
35
“O Twitter, o serviço de microblog de mensagens curtas instantâneas que mais cresce entre as redes
sociais, foi criado para ser acionado pelos dispositivos móveis com ferramentas 3G, e, a bem dizer, hoje
em dia, é usado tanto nos celulares quanto na Web.” (FERREIRA; PRADO, 2010).
36
Sabemos também que o ato de tuitar, apesar de fixar um limite de, no máximo, 140 caracteres por tuite,
requer do nosso olhar atenção para a telinha do celular. Porém, desenvolvedores de aplicativos pensaram
no que poderia ser um risco entre aqueles que por ventura pudessem tropeçar em algo não visto no chão e
criaram o programa Walk MSG´n para tuitar andando, no qual o visor da tela aciona a câmera fotográfica
do celular, permitindo que se enxergue a imagem do chão enquanto se anda, digita e manda mensagens ao
mesmo tempo. (FERREIRA; PRADO, 2010).
37
Dados apurados por Rafael Barifouse, em 4 de outubro de 2010, para a reportagem “O prefeito das
mídias sociais”, da revista Época Negócios, na qual dizia ainda que o Foursquare “também fica cada vez
mais global. O que era uma novidade entre antenados americanos hoje tem 40% da audiência no
exterior”.
Figura 30. Gráfico sobre o crescimento do Foursquare

Check-in: tensão entre localização e mobilidade

Em um próximo passo, a intenção é que os repórteres e/ou a produção, que


acompanha as matérias na avenida, façam check-in em cada local. Nesse caso, pode ser
usado o aplicativo Foursquare, ou outro similar que geolocalize o exato local de forma
automática, restando, assim, apenas oferecer informações complementares, como o
nome da pessoa que está sendo entrevistada ou impressões geradas na cobertura. O
ideal seria se todos os entrevistados (as fontes) também fizessem o check-in. Assim, a
equipe de reportagem poderia afinar a logística do encontro para a realização do
trabalho de reportagem.
O uso de aplicativos como este pela produção é providencial para saber, de
antemão, se o local, que será reportado, está com frequência de pessoas que poderão
fornecer depoimentos como personagens. Em alguns casos, é possível descobrir quem
são essas pessoas antes mesmo de abordá-las, caso elas informem dados em seus perfis.
Como o Foursquare aponta por meio dos badges quem é a pessoa que mais frequenta
determinado local e mesmo quem comenta mais, é possível entrar em contato e
repercutir exatamente com quem sabe mais sobre o lugar. Não é preciso chegar ao
extremo e ir à procura do “prefeito” do local, embora a prerrogativa nao deva ser
descartada. Conforme o usuário vai checando os lugares por onde passa, ganha pontos
e, consequentemente, badges (medalhas ou distintivos), caso a frequência em
determinado local é alta (maior quantidade de check-ins em 60 dias), pode-se ganhar
bônus e virar o mayor (prefeito) do lugar. Sem contar que as pessoas que mais visitam
determinadas localidades, por vezes, podem nos fornecer informações precisas de quem
é habitué. O que, por tabela, pode nos render sugestões de pauta (de assuntos) e de
perguntas. Veja-se figura 31 da Casa de Lanches Puppy, um dos lugares reportados.

Figura 31. Imagem de um dos lugares capturados pelo Foursquare

Internet pingando nos lugares

Coincidência ou não, o Foursquare chega exatamente na tendência de voltar ao


mundo físico, porém sem deixar de lincá-lo ao virtual, como a apropriação da “internet
das coisas”38 – expressão recorrente para chamar quem está dentro e fora da internet –,
ou mesmo da “internet pingando ou vazando nas coisas ou nos lugares”, movimento
deflagrado no final da década passada, tendo Kevin Ashton como aquele que cunhou a

                                                                                                                       
38
“Internet of Things has come to describe a number of technologies and research disciplines that enable
the Internet to reach out into the real world of physical objects. Technologies like RFID, short-range
wireless communications, real-time localization and sensor networks are now becoming increasingly
common, bringing the Internet of Things into commercial use.”
expressão em 1999. Santaella discorre sobre as origens das redes móveis marcando os
locais:

O ur-texto das propostas locativas, antes mesmo da existência desse


nome, encontra-se no Manifesto Headmap, no qual, já em 1999, Ben
Russell lançava ideias utópicas e inspiradoras que o tempo só
confirmaria. Com o mote de que a internet já estava começando a
“pingar no mundo real”, o manifesto alertava para o enriquecimento
de nossa experiência espacial pela sobreposição de camadas de
informação – imagens, textos, sons – disponibilizados por dispositivos
móveis e computação sem fio habilitados com GPS e alimentados por
intenso espírito comunitário. (SANTAELLA, 2010a, p. 122).

Lemos (2009)39 afirma não se tratar mais de conexão em “pontos de presença”,


mas de expansão da computação ubíqua em “ambientes de conexão” em todos os
lugares, que deve-se definir, de agora em diante, “como uma complexidade de
dimensões físicas, simbólicas, econômicas, políticas, aliadas aos bancos de dados
eletrônicos, dispositivos e sensores sem fio, portáteis e eletrônicos, ativados a partir da
localização e da movimentação do usuário”.
É prudente notar que, enquanto Lemos chama esta nova territorialidade nos
lugares de “território informacional”, Santaella (2008) prefere o termo “intersticial”.
“Uma vez que a tendência desses espaços híbridos é a de dissolver as fronteiras entre o
físico, de um lado, e o virtual, de outro, criando um espaço próprio que não pertence
nem propriamente a um, nem ao outro, tenho chamado esses espaços de intersticiais.”
Chega o Foursquare com a iniciativa exatamente para se incumbir de dar vazão a
esse anseio de mostrar a todos (entrecruzados nas redes sociais, que possuem
mecanismos de postagens automáticas em variadas plataformas simultaneamente, sejam
elas Twitter, Facebook, Linkedin etc.) as informações de localização com horário, mapa
e comentários (críticos ou não) do lugar apontado, no caso, o check-in, atualizando o
perfil virtual. Assim, proporcionar, aos que seguem e são seguidos, reciprocidade de
sugestões ou microrresenhas críticas.
O intuito é o de mostrar as novas formas possíveis de se relacionar com base nos
meios móveis, utilizando ferramentas amigáveis em esquema coletivo com a
participação de usuários (PRADO, 2009). Quando alguém acessa o mesmo ponto,
recebe as checagens de quem já esteve lá e postou comentários, o que pode ou não

                                                                                                                       
39
Lemos lembra a frase de Russel “The internet has already started leaking into the real world”, ao se
referir à internet pingando nas coisas.
alterar seu destino. Às vezes, ocasiona a reação de outras pessoas que frequentam o
lugar, concordando ou não com as opiniões, incluindo novas e mais informações. “O
lugar não é mais um problema para acesso e trocas de informação no ciberespaço ‘lá em
cima’, mas uma oportunidade para acessar informação a partir das coisas ‘aqui em
baixo’”, reforça Lemos (2009, p. 162).
A maneira de se situar em trânsito, oferecendo anotações urbanas, extrapola a
mera informação do paradeiro das pessoas, de sugestões de onde ir próximo ao local em
que se está, ou mesmo de provocar encontros físicos, juntando aqueles que estão por
perto – o que já comprova utilidade do serviço. Mas aplicativos enredados a
dispositivos móveis apoderam-se de outras possibilidades, como miragens.
Em vista disso, Santaella (2010) sintetiza ao lembrar que “as antigas fricções da
distância desaparecem, para fazer surgir a ubiquidade em seu lugar. Borram-se, assim,
quaisquer fronteiras entre vida privada e pública, entre dentro e fora, entre aqui e lá”.
Ao se levar em conta que não basta mais apenas a atitude pessoal, a autora acrescenta de
forma perspicaz.
Da intersecção resultam complementações, trocas e sobreposições
entre a mobilidade física e a virtual, que estão trazendo inesperados
significados para espaço e lugar e que podem ser sintetizados nas
expressões “mobilidade contínua” e “conectividade permanente”.

Outros aplicativos específicos de geolocalização foram lançados na


esteira do Foursquare, como o Gowalla, Birdfeed, Seesmic Web e, ainda, segundo os
dados da revista Época Negócios, de outubro de 2010, outras redes existentes. O Twitter
lançou, em março de 2010, um recurso que identifica onde o autor está quando publica a
mensagem; o Facebook colocou uma ferramenta em que seus 500 milhões de usuários
compartilham sua localização na rede social; o Google possui o Latitude, cujo
compartilhamento se dá em um mapa digital, no ar desde fevereiro de 2009, e tem 3
milhões de usuários.

3.1.5. Webcam registra a performance

A próxima edição do walk radio “Paulista de ponta a ponta” deverá contar com
uma webcam posicionada no estúdio para ficar à disposição dos curiosos em relação à
equipe, bem como webcam acompanhando as andanças dos repórteres pela avenida no
ato das reportagens. Nesse caso, o audioblog deverá conter janelas de visualização
interna e externa. Uma das câmeras da parte interna mostrará a mesa com os âncoras e
os produtores transitando, uma segunda câmera mostrará a parte dos sonoplastas e
trilheiros trabalhando depois do vidro que os separa (a experiência foi feita em estúdio
tradicional) e uma terceira, com os editores. Uma quarta janela mostrará a câmera
acompanhando os repórteres na rua. Como as câmeras da reportagem seguem a ordem
da numeração da avenida, ela é passada de mão em mão pelos produtores, conforme as
matérias vão sendo feitas, como a passagem de um bastão. Nesse caso, o internauta
pode escolher ver uma das quatro janelas abertas simultaneamente. Nas figuras 32 e 33,
podem ser vistos os alunos em pleno exercício.

Figura 32. Os alunos Liz Terra e Narlir Galvão como âncoras no aplicativo Instagram
Figura 33. Os alunos em álbum na rede social de fotos Flickr

3.1.6. Pós-produção e espaço colaborativo no mapa animado


O mapa online e dinâmico funciona também como medium. Traz os marcadores
dos locais reportados com seus áudios correspondentes, colocados logo após cada
jornal, apontando suas posições no espaço delimitado da cibercidade; nessa experiência,
a Avenida Paulista. Os áudios podem ser ouvidos de forma separada ou no rastro do
programa, como se traçasse uma memória cotidiana do que acontecia naquele lugar,
naquele dia específico.
Ícones que distinguem restaurantes de lojas, prédios, serviços, hospitais etc.
serão incluídos no mapa animado para melhor visualizar de que trata cada reportagem.
Ao clicar e ativar o ponto selecionado para ouvir os arquivos de áudios separadamente,
ou ainda se a escolha for ouvir o programa completo, que mapeia a avenida inteira, os
internautas podem comentar sobre os lugares com impressões de quando estiveram lá
ou, caso contrário, demonstrando vontade de frequentá-los. Podem também postar
críticas, dicas, recomendações dos lugares apontados, e, assim, proporcionar, aos que
seguem e são seguidos, reciprocidade de sugestões ou microrresenhas. E por que não até
provocar encontros físicos, marcando com demais internautas rastreados por GPS?
Lemos (2008) comenta sobre possibilidades mapeadas em seu blog Carnet de Notes:
Novos mapas, abertos e colaborativos, como o projeto
<openstreetmap.org>, permitem uma "liberação da emissão", típica
das mídias de função pós-massiva contemporâneas. Emerge uma
possibilidade de construção de novos discursos e de sentidos outros
que aqueles que emanam dos centros de poder instituídos. Os mapas,
como sabemos, sempre foram produzidos por técnicos a serviços de
governos e de projetos militares de conquista e expansão de
territórios. Hoje, cruzamentos de dados, mashups, web 2.0, mídias
locativas estão criando formas bottom-up e colaborativa de discursos e
usos (processos de espacialização, de construção social) do espaço,
em meio a uma commoditização crescente da "mobilidade" e de
"serviços baseados em localização". Ou seja, o uso dos processos
tecnológicos na constituição do espaço, do lugar, da vida social.

3.1.7. Grafite sonoro com QR Code

No Brasil, o uso de QR Code ainda é incipiente, de 2007 [quando surgiu em


primeiro lugar na publicidade] para cá, apesar do número alto, em geral, apenas cerca de
30% possuem câmeras. Números atualizados de celulares no Brasil dão conta de que o
Brasil fechou outubro de 2011 com mais de 231,6 milhões de linhas de telefone celular.
Em dez meses, foram habilitadas mais de 28,7 milhões de linhas móveis. Os dados são
da Anatel – Agência Nacional de Telecomunicações.
Outro passo ainda na produção do experimento é colocar em prática o grafite
sonoro no início da avenida para dar o início a um audiopasseio até o final dela e em
cada marcador com sua reportagem. Basta que o áudio completo, ou cada reportagem,
separadamente, ganhe uma URL. Com o endereço eletrônico, pode-se obter um QR
Code, nos softwares que proporcionam isso. Depois, é possível fazer máscaras do
código binário e, com um spray, pichar o marco zero (que, na verdade, não é zero
porque a avenida começa no número 7) e os locais que possuem audiorreportagem.
Pessoas que não ouviram o radiojornal “Paulista de ponta a ponta”, no dia da
transmissão por streaming, podem acessar o QR Code pelo celular e obter o que estou
chamando de “informação aumentada” (em alusão ao termo realidade aumentada) e,
assim, ouvir as reportagens e até mesmo ver as fotos dos repórteres, vídeos dos
bastidores do estúdio com a equipe trabalhando etc. Como QR Code só faz sentido
colocado fora da web para ser acionado por dispositivos móveis (smartphones, tablets)
e, assim, acessar-se a web, o audioblog não estampará os códigos. Eles ficarão apenas
grafitados nas paredes do entorno do local reportado. Em desdobramento, mais
informações podem ser incluídas para ativação pelos aparelhos móveis, como dados
sobre os lugares, monumentos, estabelecimentos. Ou seja, será possível ouvir a história
com datas, fatos marcantes, curiosidades, dimensões etc. fornecidas pelo próprio local,
que poderá ter interesse em fazer parte desse trajeto jornalístico ou especializado em
turismo.
É viável transmitir o “Paulista de ponta a ponta”, simultaneamente, em uma
rádio no dial (AM ou FM) com o streaming na web alojado em um audioblog,
mostrando, assim, reportagens, em um espaço físico, levadas ao ciberespaço com
pessoas participando ao vivo pelo telefone, pelo chat durante a transmissão, na
possibilidade de coprodução online, ou somente pelo chat, após o programa ficar
disponível na web.
3.2. Exercício hiperlocal multimídia pingando no mapa

Dez anos atrás, o pesquisador mais premiado da Universidade de Stanford não tinha tanto
acesso à informação como pode ter hoje qualquer pessoa em um cibercafé em Bangladesh.
Sergey Brin40 (2005).

Em uma experiência multimídia no curso de jornalismo da FIAM/FAAM


(antiga FMU), de São Paulo, alunos do último ano da graduação realizaram exercícios
de jornalismo hiperlocal. Cada grupo de alunos escolheu uma região e as reportagens
geolocalizadas foram incluídas com pins demarcados em mapas da ferramenta Google
Maps. A ideia foi entender a emergência dos novos formatos de webjornalismo dos
últimos anos e repensar a estrutura da reportagem comum na web, transformando-a,
neste caso, em uma matéria com visualização de um entorno esquadrinhado para
possibilitar informação aumentada, reconhecendo a necessidade de oferecer mais
conteúdo para quem transita pelo local escolhido, e, de quebra, deixá-lo armazenado
no banco de dados digital (a rede).
Evidentemente que não se trata de substituir os formatos tradicionais de
reportar os quatro cantos da cidade; nem de substituir ou relegar. Volta-se, à velha
máxima de que um meio não substitui outro, apenas convive lado a lado com o
anterior, ou sobreposto a ele. Se anteriormente as reportagens ficavam estáticas no
papel, inclusive apresentando muitas vezes mapas (recortes de mapas, obviamente),
agora a visualização deixa de ser apenas visualização e passa a ser visualização aliada
à navegação, ao dar a possibilidade do internauta “passear” pelo mapa indo para
frente, para trás, para os lados e ampliando a região o quanto quiser. Portanto, a
experiência de mapear uma região para mostrá-la não é exatamente mostrá-la melhor,
mas, de outro ângulo, ou de seus vários ângulos, ou seja, proporcionar (e entender, já
que são experiências) novas formas de consumo de informação, distribuição e
estocagem dessas informações.

A localização geográfica de conteúdos por meio de plataformas como o


Google Maps é uma das tendências mais fortes do jornalismo. Entender seu
potencial e saber interpretar e construir os mapas também são habilidades
muito valorizadas em um jornalista (embora já é aproveitada também por
blogueiros e jornalistas cidadãos). (Manual de ferramentas Google para
jornalistas. Busca e apuração). (2010).

                                                                                                                       
40
Cofundador do Google no Manual de ferramentas Google para jornalistas. Busca e apuração (2010).
É possível acreditar, em hipótese, que, em futuro breve, quando alguém entrar
(para ouvir, ler ou ver) em uma reportagem, ela terá como praxe sua visualização em
mapas à disposição. O conteúdo a ser reportado pode até ser o mesmo de uma
reportagem convencional, o que muda é a possibilidade de enquadrá-lo em mapas,
contribuindo para refinar a memorização. É fato que o termo enquadrar é
demasiadamente forte para demonstrar a experiência do mapeamento, pois sugere algo
preso em um quadrado. Porém a proposta é oposta, é exatamente a da reportagem
móvel aberta e, ao informar o entorno, ela pode crescer infinitamente, com cada vez
mais referências, se houver ajuda dos colaboradores com a confiabilidade de quem
esteve lá para atestar o que presenciou.

Uma das características que multiplicam o potencial desta ferramenta


de criação de mapas é a colaboração. Qualquer pessoa pode gerar um
mapa que será aprimorado por vários colegas ou por centenas de
cidadãos. (ibidem).

Veja-se o mapa criado para o bairro Vila Mariana, de São Paulo, a propósito de
editoria no Portal dos alunos de jornalismo da Escola de Propaganda e Marketing
(ESPM), de São Paulo, criada para experimento. As formas arredondadas coloridas
representam bem que a região pode ser indexada de forma continuamente alastrada.
Figura 34. Exemplo de mapa com os arredores circulados

Aos alunos da FIAM/FAAM foi sugerido trabalhar com demarcação no mapa


dos lugares reportados, um deles o <maps.google.com.br.>. E para exemplificar este
estudo, foi escolhido o grupo que esquadrinhou a praça Benedito Calixto, no bairro
Pinheiros, zona oeste de São Paulo. A ferramenta possui tutorial que explica como criar
o mapa e postar as reportagens em diferentes mídias no mapa:

Clicar em Criar novo mapa, inserir um título e uma descrição e


convidar os colaboradores do mapa (ou defini-lo como público). O
endereço poderá ser divulgado no Twitter, no Facebook etc. Os
colaboradores poderão inserir informações sobre os lugares desejados,
além de avaliar o mapa e escrever comentários. (ibid.).

Veja-se, na figura 35, onde emerge a marcação das reportagens com ícones que
a própria ferramenta fornece para especificar o tipo de lugar (restaurante, café etc.).
Figura 35. O mapa com os ícones pingados nos locais

Os áudios possuem o símbolo de corneta (identificador usual de áudios) dentro


de um círculo. No exemplo (figura 36), ao clicar na corneta, aparece a imagem de um
microfone e, ao clicar nele, ouve-se a reportagem em áudio. O ideal, a princípio, é clicar
e ouvir direto, porém o exercício foi verificar as várias possibilidades. A hospedagem
usada foi realizada com o agregador de áudios PodcastOne <podcast1.com.br>. O print
do primeiro exercício ainda não está liberto dos autores, os alunos. A ideia é deixá-lo
livre para receber a opinião e demais informações dos cidadãos moradores ou que
frequentam a localidade. Sabe-se que ocorre, em muitos casos, duas frentes com que é
importante lidar a cada nova empreitada que reúne colaboradores: de um lado, quando a
experiência é a primeira realizada, caso do pioneirismo dos alunos da FIAM/FAAM,
consequentemente surgem arestas a aparar. De outro lado, há a resistência de deixar que
toquem no original.

Figura 36. O microfone em uma janela do mapa


3.3. Radiojornalismo hiperlocal temático

El espacio local es um espacio de experiências compartidas y la proximidad espacial confiere a


los acontecimientos um interes particular porque há sucedido en el mismo espacio em que se mueven lós
potenciales receptores de lós mensajens construídos por lós periodistas para un médio de comunicación,
que lós difunde. Los datos sobre consumos informativos apuntan que lós ciudadanos están interesados
em conocer ló que ocurre em la proximidad. Las acciones próximas (la cercania puede ser geográfica,
social, cultural, psicológica...) a lós usuários de la información les interesan más.
(López García, 2008, p.7)

É certo que o jornalismo local sempre existiu e, com o ciberespaço, o


surgimento do jornalismo hiperlocal se tornou um dos rebentos mais ricos do
webjornalismo, ou do jornalismo 2.0, como foi mencionado anteriormente ao conceituar
a hiperlocalidade. Na outra ponta, o jornalismo internacional realmente ganhou espaço
por conta da facilidade de ser reportado com o advento da web (aberta), suas
ferramentas (amigáveis) e seus dados à disposição. Jornalistas não dependem
exclusivamente de agências noticiosas do exterior, apesar de elas existirem ainda, como,
por exemplo, as conhecidas France Press, Reuters, Efe etc. Correspondentes
internacionais também continuam existindo, mas não são os únicos a contar as histórias
que acontecem pelo mundo. Muito pelo contrário, hoje existe a parceria dos cidadãos
em qualquer cidade, no papel de informantes.
Com o boom do jornalismo sem fronteiras, no qual todos conseguiam, muito
rapidamente, quase em tempo real, obter as informações dos fatos e dos acontecimentos
de todos os cantos do planeta, leitores-internautas passaram a pedir um retorno de
noticiário sobre sua cidade, seu bairro, sua rua (com ênfase no possessivo). A saturação
e a consciência de que tudo está ao alcance das mãos, melhor dizendo, na ponta dos
dedos, que deslizam pelos tablets, permitindo acesso às notícias internacionais dos
melhores jornais do mundo (ou, pelo menos, daqueles que se escolhe para ler, ao
personalizar páginas, que os agregam), leva ao questionamento se estão entregando
informações sobre o entorno, a quadra. Este tipo de consumidor quer saber o que
acontece na porta da casa dele. Alguém noticia? Como já foi mencionado, essa vontade
de saber sobre a comunidade de cada um ganhou forte presença nos últimos anos, com o
nome de hiperlocal, pois incorpora a participação dos moradores, frequentadores dos
locais, entre outras características. Portanto, é pertiente trazer as palavras de García para
assegurar pressupostos do jornalismo local e constatarmos a similaridade com os
experimentos para esta Tese.

Ao longo da história do jornalismo, o fator de proximidade geográfica


tem configurado como um eixo como uma espinha dorsal dos
conteúdos. Não há dúvida que a proximidade é um fator chave para
que muitos meios de comunicação exerçam um papel de conexão
entre as pessoas e a sociedade em que vivem. (GARCÍA, 2008, p. 9,
tradução nossa).

Pode-se, neste ponto, passar para outro relato: a experiência com os alunos da
Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP) foi bastante
enriquecedora. Por se tratar de um período conturbado pelas manifestações grevistas,
(final de 2011), era para não dar totalmente certo. Porém, o acolhimento à continuidade
do curso foi bem tranquilo e os alunos, motivados por poderem falar do tema da greve
no trabalho, realizaram uma experiência de webradiojornalismo hiperlocal como os
alunos da Faculdade Cásper Líbero e os da FMU/FIAM, relatados anteriormente, com a
diferença de que este foi temático. Como o tema era a greve da USP que acontecia no
momento, ao contrário dos demais estudantes – fora das salas de aulas por conta da
greve –, os alunos de radiojornalismo eram quase os únicos a planejar, pautar, produzir
e, depois, gravar com streaming e webcam ao vivo para quem quisesse saber ou
entender os (reais) motivos do movimento estudantil.
Foi dado o nome “Os pingos nos is” ao programa. E exatamente como diz a
expressão, a ideia era tentar explicar as circunstâncias que provocaram a greve e deixar
claro que não era um movimento sem importância como vários veículos da mídia
estavam apregoando. Munidos do sentimento de revolta com a própria categoria, os
futuros jornalistas (alguns já exercendo a profissão em estágios) prepararam um
programa no qual todos os pontos eram levantados e todos os lados, ouvidos.
O entorno, a princípio esquadrinhado na própria ECA, foi ampliado para a
cidade universitária inteira, já que a proposta foi falar de um tema que envolvia a USP
como um todo. Assim, com o exercício, foi inaugurada uma nova modalidade de
audiocast, a que envolve uma comunidade que frequenta um campus universitário, no
caso, o que é chamado Cidade Universitária Armando de Sales Oliveira (o nome do
fundador da universidade, o então interventor do Estado, político liberal paulista),
localizado no bairro do Butantã, na Zona Oeste da cidade de São Paulo.
Figura 37. Espelho do programa “Os pingos nos is”

Para hospedar o programa “Os pingos nos is”, foi criado um ambiente na
plataforma tumblr, no endereço eletrônico: <ospingosnosis.tumblr.com/>. Na
apresentação, um resumo do projeto:

Em uma experiência unindo geolocalização, redes sociais, gravação


em celular, estamos colocando em prática uma experiência de walk
radio hiperlocal. Para um programa radiofônico, no formato
audiocast, com duração de cerca de meia hora, estão sendo ouvidas
dezenas de pessoas com uma equipe de repórteres, âncoras, produtores
e trilheiros. Trata-se de vincular a emergência em fazer rádio como
uma prática viva de realidade cronotópica ressoando no espaço
público de uma cidade universitária sonorizada: a USP, de São Paulo.
O programa, uma experiência de webradiojornalismo, será transmitido
em streaming com chat aberto, proporcionando transparência e
interatividade de pessoas de qualquer lugar – uma vez que estará na
rede.
O mapa online e dinâmico postado no Tumbrl funciona como mídia
própria e terá espaço para opiniões dos ouvintes. A cartografia traz os
marcadores dos locais reportados com seus áudios correspondentes
colocados logo após cada reportagem apontando suas posições no
espaço delimitado da cibercidade universitária. Os áudios podem ser
ouvidos de forma separada ou no rastro do programa como se se
traçasse uma memória cotidiana do que acontece naquele lugar num
momento específico. Trata-se da internet pingando ou vazando nas
coisas, movimento deflagrado no final da década passada. (Do site do
projeto)
Na figura 38, um print da tela do Google Maps41 que abrigou (e abriga) o mapa
com os pins fincados nos lugares onde foram feitas as entrevistas, indexando dados
digitais a cada lugar determinado.

Figura 38. Os pins no mapa da plataforma Google Maps

Na figura 39, pode ser verificado alguns dos pingos (pins) marcadores, onde as
reportagens foram feitas.

                                                                                                                       
41
O mapa da produção do experimento “Os pingos nos is” está disponível em <http://ur1.ca/ae9be>.
Figura 39. Lista das reportagens que aparece no Google Maps

O programa “Os pingos nos is” incluiu quadros de humor, quando satirizavam a
própria situação, potencializando as características do movimento, quando sobrepõe
informações deglutidas do cotidiano, neste caso, tornadas cômicas. Além do
radiojornalismo tradicional, baseado em entrevistas, coleta de depoimentos e sondagens,
o programa deu espaço a crônicas (sempre levando em consideração o tema da greve),
mostrando interfaces dialogáveis, quando o cronista, morador do Crusp (alojamento da
USP), conversava com os âncoras do programa sobre sua reconstrução do real, como é
possível ver na figura 40.
Figura 40. Janela aberta no mapa mostra uma das possibilidades sonoras, a crônica de um morador do Crusp

A transmissão, no dia do programa, aconteceu via streaming pelo aplicativo


Flip.zu, via webcam e pelo Twitter. Internautas participaram do chat aberto, sinalizando
que estavam ouvindo e fazendo pedidos de mais quadros de humor. A ferramenta
funcionou a contento: a interação se deu na medida em que a “conversa” aconteceu.
Lopez García sintetiza o que se entende desta prática:

Cibermedio42 local: aquel emisor de contenidos sobre el ente local que


tiene voluntad de mediactión entre hechos y público, utiliza
fundamentalmente técnicas y criterios periodísticos, usa el lenguaje
multimedia, es interactivo e hipertextual, se actualiza y se publica em
internet. Em este planteamiento, el ‘ente local’ es el ente que existe o
puede existir em um lugar – en um espacio y em um tiempo
determinados – y para uma comunidad, definida em términos de
identidad compartida y a partir de la relación “securidad-libertad”.
(GARCÍA, 2008, p. 64).

No perfil do Twitter, as chamadas alimentavam o que estava acontecendo em


tempo real, no estúdio, com as entradas das reportagens ao vivo, com as pessoas
envolvidas na comunidade USP (ver na figura 41). Navegação, curva a curva,
mapeando o entorno da cidade universitária no dia 26 de novembro de 2011.

                                                                                                                       
42
O autor, como os demais espanhóis, preferem usar o termo com o prefixo ciber: cibermedio,
ciberperiodismo, cibermundo etc.

 
Figura 41. Timeline do hot Twitter criado pelos alunos na ocasião do programa

Conforme observa-se na figura 41, a participação do internauta-consumidor,


como aquele que consome informações na rede, torna-se elemento fundante. Nesse
sentido, é proveitoso trazer a referência de Canclini ao consumidor:

quando se reconhece que ao consumir também se pensa, se escolhe e


reelabora o sentido social, é preciso se analisar como esta área de
apropriação de bens e signos intervém em formas mais ativas de
participação do que aquelas que habitualmente recebem o rótulo de
consumo. Em outros tempos, devemos nos perguntar se ao consumir
não estamos fazendo algo que sustenta, nutre e, até certo ponto,
constitui uma nova maneira de ser cidadãos. (CANCLINI, 2005, p.
42).

Em suma, “o rádio e o cinema contribuíram na primeira metade deste século


para organizar os relatos da identidade e o sentido de cidadania nas sociedades
nacionais”, conforme Canclini certifica:

Agregaram às epopeias dos heróis e dos grandes acontecimentos


coletivos, a crônica das peripécias cotidianas: os hábitos e os gostos
comuns, os modos de falar e se vestir que diferenciavam uns povos dos
outros. Como analisa Jesús Martín-Barbero, o rádio permitiu que grupos
de diversas regiões de um mesmo país, antes afastados e desconectados,
se reconhecessem como parte de uma totalidade (CANCLINI, 2005, p.
129).
Capítulo 3.

O site nooradio com os relatos circunstanciados de


experimentos de pesquisa

O site nooradio43 foi desenvolvido no decorrer desta pesquisa, como uma


espécie de capítulo, mas em forma digital. Ele hospeda os três experimentos realizados
para este estudo. O site está no ar com domínio próprio no endereço <http://nooradio.net>
e pode ser acessado para audição de todos os áudios dos experimentos.
Eis a homepage (figura 42) com os três experimentos denominados: Paulista –
de Avenida Paulista, dos alunos da Faculdade Cásper Líbero–, USP – dos alunos da
Escola de Comunicações e Artes (ECA), da Universidade de São Paulo – e Calixto – de
praça Benedito Calixto (zona oeste de São Paulo), dos alunos da FIAM/FAAM

Figura 42. Homepage do site nooradio com os símbolos dos três experimentos em alusão ao jogo Tetris

                                                                                                                       
43
Vale lembrar que este site foi desenvolvido no decorrer da pesquisa para esta Tese no Programa de
Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica, da Pontifícia Universidade Católica
(PEPGCOS/PUC-SP) combolsa Capes.

 
Ao clicar no símbolo “mais” ao lado do nome nooradio, pode-se saber mais
sobre o estudo, conforme a figura 43 mostra.

Figura 43. A página apresenta um resumo do projeto

A página da Avenida Paulista, como pode ser visto na figura 44, mostra o nome
“paulista” abaixo do nome do site nooradio. Isso acontece nas demais páginas. O mapa,
mantendo a forma geográfica escolhida, traz ao fundo o próprio mapa da Avenida
Paulista. No canto direito, os símbolos (clicáveis) dos outros experimentos, o mesmo
acontece nas outras duas.

Figura 44. Página referente à Avenida Paulista

A página da praça Benedito Calixto, conforme é possível ver na figura 45, segue
a mesma linha da Avenida Paulista, o mapa de fundo, os pins fincados no mapa e os
símbolos das demais no canto direito abaixo.
Figura 45. Página da praça Benedito Calixto

A página da USP também segue as premissas das outras duas e mostra o entorno
da área da Universidade de São Paulo por onde a equipe de reportagem passou, como
pode-se ver na figura 46.

Figura 46. Página da USP

As equipes de produção tanto da Cásper Líbero quanto da ECA/USP aparecem


em vídeo e foto, respectivamente (como pode ser visto nas figuras 47 e 48). Já a equipe
da FIAM/FAAM não está registrada com imagens.
Figura 47. Equipe da Cásper Líbero em vídeo e foto.

Figura 48. A equipe de produção da ECA/USP

As páginas, contendo os áudios da Avenida Paulista, da Cidade Universitária e


da Benedito Calixto, foram hospedadas na plataforma Soundcloud. Podem ser vistos nas
figuras 49, 50 e 51, os áudios nas respectivas páginas de cada experimento.
Figura 49. O áudio explicativo sobre a produção da Benedito Calixto

Figura 50. O áudio da produção do programa “Paulista de ponta a ponta”

Figura 51. O áudio da produção do programa Os pingos nos is


O site nooradio ainda abriga a página que fala sobre a autora como mostra a
figura 52.

Figura 52. Página que fala sobre a autora


Considerações finais

Esta Tese – concentrada em radiojornalismo na cibercultura a partir de uma


investigação sobre as formas de inserção de conteúdos urbanos em redes móveis –
buscou apoio no tripé jornalismo, rádio e arte, com as variantes webjornalismo, rádio
feito pelo celular e audioarte. Jornalismo, por ser a profissão da autora44, rádio, a
paixão, e arte, o que move a vida, seja profissional ou pessoal (hoje mais misturada do
que nunca). É interessante notar que o radiojornalismo proposto no início deste estudo é
produto da cibercultura, inspira-se na arte e se utiliza das tecnologias digitais móveis
para existir e chegar (muito) perto das pessoas, ouvintes e/ou colaboradores em suas
localidades cotidianas. Para corroborar minhas palavras, Xosé Lopez García afirma:

La dimensión local, que es un factor básico y permanente del


periodismo, cobra ahora nuevos impulsos em todos lós médios que
actúan em los escenarios locales. Em la complejidad de esse espacio
de comunicación existen iniciativas que buscam prácticas
profesionales muy implicadas em la vida local, así como la
participación de lós usuários en lós procesos de producción de la
información. (GARCÍA, 2008, p. 24).

Após esta pesquisa com o reconhecimento do estado da arte da rádio, do celular


e do webjornalismo, aproximando-se e distanciando-se o tempo todo da arte da deriva,
da mobile art e do real time web (nowism), entre outras vertentes imbricadas aos temas
caros a esta Tese, não seria possível o trabalho apenas com o radiojornalismo tradicional
(mesmo aquele que usa dispositivos móveis e os que estão dentro da internet, o que
demonstrava ser pouco para o frenesi infotecnológico instalado no jornalismo), que vem
sendo feito, ainda em 2012, de um jeito “duro” (modelo antigo), fechado (fixado e preso
em grades de programação), comportado até demais (robótico, sem personalidade).
Certamente, não se trata de oposição ao jornalismo regrado, pois, no que diz
respeito ao seu conteúdo informativo, é preciso seguir regras. Trata-se de jornalismo e
não de ficção, no entanto, esse jornalismo não precisa ser vetusto, lento, atrasado. É
sabido, por todos do meio, que, há décadas, o radiojornalismo é produzido nos moldes
das grandes redes do país. Até aí, é normal, as principais empresas ditam os modelos e
todos seguem, mas é necessário ressaltar: nos mesmos moldes desde a década de 60.
                                                                                                                       
44
Em determinados momentos, vou falar na primeira pessoa, pois trata-se de considerações muito
pessoais.
Salvo uma ou outra variação nos últimos anos do século XX, nada de novo pode ser
elencado, infelizmente, apesar de saber que são muitos os favoráveis ao rádio, amantes
até. No entanto, muitos dos que se dizem amantes do rádio estão acomodados ao
cotidiano de sua produção, sem contar muitos dos diretores de rádio que preferem não
se arriscar. Néstor García Canclini exemplifica bem quando leva a questão para a esfera
política, mesmo em se tratando de outro país:

Os efeitos da tendência estadunidense de considerar as estações de


rádio, os canais de televisão e outros circuitos de comunicação de
massa como simples negócios, estendida agora aos países europeus e
latino-americanos, não levam apenas a reexaminar o dilema entre a
propriedade – estatal ou privada – destes meios. Faz-se necessário que
nós, pesquisadores, realizemos análises cuidadosas da remodelação
dos espaços públicos e dos dispositivos que se perdem ou se recriam
para o reconhecimento ou a proscrição das múltiplas vozes presentes
em cada sociedade. (CANCLINI, 2005, p. 18-19).

É por essas e outras razões que esta pesquisa não foi em vão. É preciso acordar
para a realidade digital, saber usar muito bem os aparatos tecnológicos a favor da
radiofonia renovadora, arejada, inspirada. A ideia de propor uma nova forma de fazer
rádio não está fechada, mas em progresso, sendo testada a cada nova experiência.
Aplicativos são verificados, novas formas de interação e de automatização são
experimentadas. Não se pretende impor uma nova estrutura de se fazer rádio, apenas
colocar à prova diferentes formas de trabalhar o radiojornalismo aliado às tecnologias
digitais de ponta. A ideia é mostrar apenas que existem outras possibilidades de se fazer
rádio. Mas, quando fala-se “rádio”, significa dizer a rádio atual, a rádio multimídia, a
rádio com imagens complementares, a rádio com chat aberto, com a ajuda do
colaborador, do morador, do frequentador; a rádio recebendo opiniões em tempo real, a
rádio conectada nas redes sociais, a rádio que vai atrás de onde o público-ouvinte está
(por mais que esta última frase pareça um slogan, é isso mesmo que é desejável dizer); a
rádio que não se contenta em repetir o que radialistas vêm fazendo há nove décadas;
porque o mundo do jornalismo, o da comunicação, e mesmo o da web (apesar de mais
recente que os demais) vem sofrendo mudanças e é preciso acompanhá-las, adaptá-las e
tirar proveito do que essas mudanças nos trazem de melhor. É nesse contexto que a
referência a García vem em boa hora:
Lo que podemos afirmar, de momento, después de estos años del
tercer milênio, es que el periodismo local há recuperado protagonismo
en la sociedad digital. Y lo ha hecho no solo por el número de
profesionales que diariamente lo practican, sino por la importância
que tiene la información de proximidad para los ciudadanos. Esta se
há convertido em vital para que hombres y mujeres puedan participar
em la vida de la comunidad, es decir, para que dispongan de los datos
útiles que hagan posible uma verdadera integración como miembros
de esa comunidad em las localidades donde desarrollan buena parte de
su actividad. (GARCÍA, 2008, p. 39).

Os experimentos que unem jornalistas e comunidade demonstram o que é


levantado no horizonte da radiofonia atual. Relatos de trabalhos realizados com
pouquíssimo tempo (cerca de dois meses entre pré-produção e pós-produção) e, diga-se
de passagem, sem modelos de comparação – por se tratar de algo novo, não usual. Sem
mencionar o fato de nos depararmos com alguns (ainda bem que apenas alguns) alunos
tentando minar a produção, alunos nervosos (com medo de errar), reclamando porque
não têm paciência de criar e, acima de tudo, porque não gostam de sair de sua zona de
conforto. Nem sempre foi constante que todos “entrassem de cabeça” em um projeto
experimental e renovador. A resistência foi grande.
Novamente Canclini ilustra o que queremos dizer, quando na introdução de
Consumidores do século XXI, cidadãos do XVIII, de seu livro Consumidores e
Cidadãos: conflitos multiculturais da globalização (2005, p. 29), afirma que “tenta
entender como as mudanças na maneira de consumir alteraram as possibilidades e as
formas de exercer a cidadania”.

Estas sempre estiveram associadas à capacidade de apropriação de


bens de consumo e à maneira de usá-los, mas supunha-se que essas
diferenças eram compensadas pela igualdade em direitos abstratos que
se concretizava ao votar, ao sentir-se representado por um partido
político ou um sindicato. Junto com a degradação política e a
descrença em suas instituições, outros modos de participação se
fortalecem. Homens e mulheres percebem que muitas das perguntas
próprias dos cidadãos – a que lugar pertenço e que direitos isso me dá,
como posso me informar, através do consumo privado de bens e dos
meios de comunicação de massa do que pelas regras abstratas da
democracia ou pela participação coletiva em espaços públicos.
(Ibidem).
A rádio que acompanha os novos tempos e a evolução da tecnologia não é,
definitivamente, aquela que facilmente é produzida. É uma rádio que necessita de uma
dose de pertencimento na produção e trabalha os diversos aparatos para oferecer
diferentes possibilidades de conteúdo. Nesta Tese foram experimentados principalmente
os celulares e os tablets para pré-produção, produção, captação, edição, transmissão e
audição.
Paul Levinson (2004), citado no artigo de Ribeiro, Brunet e Falcão (2008),
fazendo uma retrospectiva da utilização das ferramentas móveis, exemplifica como elas
são usadas “para escrever como a caneta esferográfica, para ler como o livro, para
produzir imagens como as câmeras portáteis da Kodak, para escutar música como os
rádios de pilha e o walkman”, e, ao final, “chega a uma conclusão de que o celular é a
mídia modelo desta mobilidade”. Segundo Levinson,

O celular é hoje em dia o epítome da mobilidade em mídia porque ele


permite tanto a recepção (como o livro e o rádio transistor) quanto a
produção (como a câmera Kodak), proporciona isto imediatamente e a
longa distância (como o rádio transistor), e proporciona esta
interatividade (como nenhum meio móvel anterior). (LEVINSON,
2004, p. 52, apud RIBEIRO, BRUNET; FALCÃO, 2008, p. 7).

No universo da produção nos exemplos, a partir dos três experimentos para esta
Tese, foram abordados os conteúdos: jornalístico e de entretenimento (disponível no site
<nooradio.net>). Não apresentam nada de extraordinário. São apenas tentativas de sair
do óbvio, de seguir e tomar parte da evolução dos aparatos de comunicação e
transmissão, de fazer algo possível de ser acessado, consumido, que seja útil, mas,
acima de tudo, que tenha um caráter inovador, esbarrando na arte para que possa ser
atraente e gostoso de ouvir (e ver).
O que podemos notar é que, mesmo estando em meados de 2012, para municiar
o conteúdo radiofônico, deparamo-nos com uma produção calcada em outros veículos:
antes, os jornais e, atualmente, a internet. Quando, nas décadas de 1940 e 1950, o
radiojornalismo praticava o conhecido ato chamado “gilette-press”, ou seja, o recorte
das notícias do jornal para serem lidas pelos locutores, tal procedimento foi
extensamente reprovado. Porém, hoje, costuma-se fazer o mesmo. Radialistas
selecionam o que querem dos sites em profusão, e a leitura é feita diretamente da tela da
máquina. Nem é mais preciso cortar e colar, procedimento adotado no início da web.
Como grande parte dos estúdios possui monitores de computador, tornou-se fácil dar
informações apuradas por outros jornalistas. Vemos, cada vez mais, o radialista
acessando notícias de outros que, muitas vezes, também copiam outros, direto de seu
celular, para colocar no ar algo que não foi obtido e muito menos checado por ele.
Eduardo Meditsch (2009) também enxerga o que está acontecendo quando reflete sobre
o fazer rádio diferenciado da escrita, da era da cópia do impresso: “A dificuldade que
acompanha o discurso do rádio informativo desde a sua origem é encontrar uma
maneira de expressar de forma sonora um conteúdo que tomou forma originalmente na
tecnologia da imprensa”.
O jornalismo impresso, lembra Meditsch, “operava com a palavra, porém com a
palavra estática, ‘congelada’ em forma de escrita. Ao se aventurar pela primeira vez no
terreno da palavra elástica, ‘em estado líquido’, o gênero se defrontou com uma série de
situações inteiramente novas”. Ainda sobre a forma oral e a escrita, acrescenta:

A questão das tecnologias intelectuais tem sido ressaltada por uma


corrente de estudos que investiga a mediação das técnicas na
estruturação e comunicação do pensamento e, em consequência, da
construção social da realidade na práxis humana. Esta corrente teve
um marco fundamental na obra de Jack GOODY (1977), que
demonstrou como a alteração da forma de enunciação verbal, com o
advento da escrita, possibilitou a domesticação do "pensamento
selvagem", descrito por LÉVI-STRAUSS, na origem da civilização.
(MEDITSCH, 2009).

Vemos, aqui e ali, com raridade, uma ou outra emissora testando novas
possibilidades sonoras. Em geral, conseguem bons resultados. De todo modo, se
considerarmos a imensa maioria, muitas vezes coloca no ar (para ficarmos em um dos
exemplos, o da função da oralidade) inexperientes radialistas que pensam saber fazer
rádio pelo simples fato de saberem falar. Como temos enfatizado em diversas ocasiões
(cf. PRADO, 2006, 2007, 2009, 2010), ignora-se que é preciso saber se expressar, com
linguagem própria radiofônica, ritmo, respiração adequada, respeitando a respiração,
mas com cadência, com as pausas e ênfases nos lugares certos etc. É neste contexto que
Meditsch (2009) continua seu raciocínio:

Na mesma linha, Walter ONG (1982) investigou as diferenças – na


produção e distribuição de conhecimento - entre sociedades com base
tecnológica oral e escrita, e a partir disso definiu características
específicas da nova forma de oralidade criada pela tecnologia
eletrônica. O impacto da eletrônica enquanto tecnologia da
inteligência, expressa no complexo informático-mediático, é a questão
central na investigação de Pierre LÉVY (1990). O trabalho destes
autores estabelece a base teórica a partir da qual definimos o discurso
do rádio como produto intelectual eletrônico, que se distingue tanto da
oralidade quanto da escrita.

Como já observado anteriormente, Armand Balsebre (1994) destaca outros


pontos da natureza do rádio que nos são úteis para a compreensão, quando destaca que a
linguagem radiofônica é

el conjunto de formas sonoras y no sonoras representadas por los


sistemas expresivos de la palabra, la música, los efectos sonoros y el
silencio, cuya significación viene determinada por el conjunto de los
recursos técnico-expresivos de la reproducción sonora y el conjunto
de factores que caracterizan el proceso de percepción sonora e
imaginativo-visual de los radioyentes.

Balsebre ainda acredita que um dos enfoques que determinam a compreensão


da estrutura do universo significativo da linguagem radiofônica desenvolvida até agora
é “su definición como fenómeno acústico, donde los sonidos y los mensajes se
clasifican en función de su perceptibilidad”.
Comprendemos, com a ajuda das reflexões dos autores mencionados, a gama de
necessidades para que uma rádio consiga se comunicar dentro de suas especificidades
de áudio e, com este estudo, adicionam-se os parâmetros da era digital e de tudo que ela
traz consigo: a pós-convergência e, com esta, de um lado, a mobilidade, o mapeamento,
a geolocalização pingando informações no espaço físico (no caso estudado, informação
aumentada com QR-Codes). De outro lado, revelando o hiperlocalismo, a volta do
interesse em relação ao que acontece no entorno de cada um – tudo baseado no
multimidialismo trabalhado totalmente com dispositivos móveis, como acredita-se
serem os aparatos de uso cada vez mais frequentes, e, no futuro, os que vão dominar a
produção desse jornalismo externo, colhido nas ruas, detectando os fatos das cidades, o
jornalismo urbano.
O estudo apontou também o crescente abandono, principalmente dos jovens, dos
meios tradicionais para a web, quando detecta-se o que as pessoas estão buscando hoje.
Quando se estuda a convergência, depara-se com situações desse tipo. Neste ponto, cabe
trazer Jenkins, a esclarecer o conceito:
Por convergência, refiro-me ao fluxo de conteúdos através de
múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos
mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos
meios de comunicação, que vão a quase qualquer parte em busca das
experiências de entretenimento que desejam. Convergência é uma
palavra que consegue definir transformações tecnológicas,
mercadológicas, culturais e sociais, dependendo de quem está falando
e do que imaginam estar falando. (JENKINS, 2009, p. 29).

O autor chama essa era de cultura da convergência:

Graças à proliferação de canais e à portabilidade das novas


tecnologias de informática e telecomunicações, estamos entrando
numa era em que haverá mídias em todos os lugares. A convergência
não é algo que vai acontecer um dia, quando tivermos banda larga
suficiente ou quando descobrirmos a configuração correta dos
aparelhos. Prontos ou não, já estamos vivendo numa cultura da
convergência. (JENKINS, 2009, p. 43).

Ao trazermos a convergência específica para o campo do jornalismo, a


pesquisadora de mídia sonora Debora Cristina Lopez apresenta, em sua Dissertação
(2010), o pensamento de Salaverría e Negredo:

A convergência jornalística é um processo multidimensional que,


facilitado pela implantação generalizada das tecnologias digitais de
telecomunicação, afeta os âmbitos tecnológico, empresarial,
profissional e editorial dos meios de comunicação, propiciando uma
integração de ferramentas, espaços, métodos de trabalho e linguagens
anteriormente desconectados, de forma que os jornalistas elaboram
conteúdos que se distribuem através de múltiplas plataformas, de
acordo a linguagem própria de cada uma. (SALAVERRÍA;
NEGREDO, 2008, p. 45, apud LOPEZ, 2010, p. 19).

Alguns exemplos do que se faz no exterior no intuito de renovar a rádio com a


convergência foram listados por Lopez (2010, p. 7) “A necessidade de estudos que
busquem sistematizar o papel e a configuração do rádio contemporâneo, em ambiente
de convergência, é uma demanda de estudos brasileira e internacional”. A autora elenca
os grupos europeus Digital Radio Culture in Europe45 (DRACE); Radio Research
Section da European Communication Research and Education Association46 (ECREA) e

                                                                                                                       
45
O DRACE é um grupo internacional que reúne pesquisadores da Dinamarca, Finlândia, Noruega,
Irlanda e do Reino Unido. O site oficial do grupo é o <http://www.drace.org>.
46
ECREA é um grupo europeu de pesquisa em comunicação. A seção de estudos de rádio é um dos
grupos de estudos mais organizados da Europa, promovendo eventos próprios, para além do evento
o grupo francês Groupe de Recherches et d´Etudes sur la Radio47 (GRER), que têm, nas
palavras da pesquisadora, empregado esforços na busca pela compreensão e definição
do conceito de rádio nesse cenário que se configura.

O rádio, como as pesquisas em rádio, precisam lançar um olhar atento


para o ambiente que se constrói na sociedade atual, para as novas
variáveis que agem sobre o fenômeno comunicacional e para as novas
demandas – geradas não só pelas tecnologias, mas por um novo perfil
de público que, a cada dia mais, integra-o. (LOPEZ, 2010, p. 8).

Assim, é preciso, com urgência, não somente entregar produtos radiofônicos


para este internauta tratado aqui, bem como formar as velhas e boas comunidades, neste
caso, de ouvintes. Ao colocar no ar um programa, um audiocast, um streaming,
automaticamente nossos pares, quem nos segue e aqueles que seguem quem nos segue,
ficam alertados e podem nos acompanhar. Percebemos que não se pode mais para fazer
rádio apenas para os ouvintes convencionais. Os ouvintes de hoje são internautas, estão
conectados nas redes sociais e ouvem enquanto navegam, portanto, não devemos
dissociá-los. Podemos acompanhar o encadeamento de argumentos trazidos por
Santaella ao dizer que, em 2010, “as discussões intensificaram-se pari passu à
intensificação do caráter fluido e fugaz das comunidades virtuais geradas e mantidas a
partir das comunicações via dispositivos móveis”. Conforme já apontado por Santaella
(2007),
as conclusões mais saudáveis são aquelas que enfatizam que a
importância das comunidades virtuais está no espaço criado pela
comunicação, um espaço em que relações interpessoais de confiança,
afinidade e reciprocidade são mantidas voluntariamente e não
simplesmente porque se está situado em um mesmo local físico.
(SANTAELLA, 2010b, p. 3).

A pensadora reflete ainda sobre o hibridismo como qualidade inerente das mídias
móveis:

Como se não bastasse, o espectro multiplicador dos dispositivos sem fio


agora permite a conexão entre usuários e a troca de textos, músicas, fotos
e vídeos de qualquer lugar para qualquer outro lugar, permitindo também
a conexão desses dispositivos com as redes e bases de dados remotos.
                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                           
oficial da ECREA, como o “Radio Content in the Global Age”, que aconteceu no Chipre em outubro de
2009. O site oficial do grupo é o <http://sections.ecrea.eu/RR/index.html>.
47
Sediado em Paris, o GRER é um grupo que tem se dedicado aos estudos de tendências do rádio e que é
aberto a pesquisadores de outros países que atuem neste campo. O grupo promoveu em Paris, em
novembro de 2009, um evento sobre o que denominam Post Radio, que discute a configuração atual e
futura do rádio como meio de comunicação. O site oficial do grupo é o <www.grer.fr/index.php>.
Além de evoluirem internamente, nos territórios da virtualidade, as redes
estão hoje também evoluindo nos hibridismos que estabelecem entre os
espaços virtuais e os espaços físicos, indiciando que a comunicação
humana caminha cada vez mais para a abertura de caminhos plurais que
dão a cada indivíduo a possibilidade de trocar, nos seus grupos de
eleição, opiniões, questionamentos, pontos de vista, visões de mundo.
(SANTAELLA, 2010b, p. 4).

A partir desse tipo de ponderação é que foi possível levar adiante a ideia de
colocar no ar (via streaming) experimentos que reforçam as hipóteses de que é possível,
a existência de uma rádio cibernetizada, que atenda à vizinhança, sem bairrização, por-
nós-para-nós, mas, de formato transmídia, com ressonância nas redes sociais e,
principalmente, produzida, acionada e ouvida na plataforma mobile, principal tendência
que vem alavancando as demais.

Teoria Ator-Rede
Coincidência ou não, enquanto Lemos proferia uma apresentação48 no Intercom
(Congresso de Comunicação) em 2011, sobre a Teoria Ator-Rede (Actor-Network
Theory), de Michel Callon e Bruno Latour, exatamente a parte dos experimentos desta
Tese acontecia, no mesmo mês: setembro. Ou seja, enquanto Lemos mostrava a
importância da teoria Ator-Rede para a pesquisa empírica em comunicação, era aplicado
o que havia sido proposto, que, neste estudo, não é chamado exatamente de associações,
mas associa-se humanos – estudantes de jornalismo (atores ou actantes) – e não-
humanos (dispositivos móveis), deixando não somente rastros49, mas também,
reportagens disponibilizadas.
“Mediações, traduções, caixas-pretas ou pontualizações (todos conceitos da
teoria ator-rede) que surgem desses hibridismos” são listados por Lemos (2011). O
pesquisador cita também que a TAR “encontra eco em trabalhos de pensadores como H.
Innis, McLuhan, G. Simondon, Gabriel de Tarde, W. Lipmann, entre outros,
importantes para a nossa área”. Disse Lemos, na ocasião:

O objetivo maior do pesquisador deve ser o de identificar e rastrear as


associações entre diversos atores ou actantes (humanos e não

                                                                                                                       
48
Apresentação na mesa intitulada “Pesquisa Empírica em Comunicação”, realizada na Intercom 2011,
com a coordenação de Eduardo Meditsch e a participação de Maria Helena Weber e Júlio Pinto.
49
Neste ponto, é bom lembrar que não nos ativemos à questão do rastreamento no sentido da vigilância,
de extrema importância para estudo aprofundado, mas que deixaremos para uma próxima pesquisa.    
humanos) a fim de poder “reagrupar” o social. Acredito que a ANT50,
pouco conhecida e menos ainda utilizada na nossa área, possa ser de
grande valia como uma das teorias da comunicação. Esforços
precisam ser feitos nesse sentido já que temos algo muito rico ainda
pouco explorado: uma teoria que mescla humanos e não humanos
(mídias), que começa nos rastros e nas associações, levando em
consideração as materialidades da comunicação. Parece-me ser esse o
momento para introduzirmos, na pesquisa em comunicação no Brasil,
a teoria ator-rede.

A partir de sua fala, surge um ensaio no qual Lemos destacou a abordagem


teórico-metodológica da Teoria-Ator Rede (TAR), criada nos anos 1990. O autor
explica que
a perspectiva da ANT privilegia o trabalho de “formiguinhas”
(“ants”), já que o conhecimento do social só é possível depois de um
esforço de identificação dos diversos atores (chamados de actantes -
sem ser exclusividade de sujeitos humanos) e de suas associações.
Toda associação deixa rastros e o trabalho do cientista social deve ser
o de achar esses rastros, reconstrui-los, reagrupá-los para entender o
social. O social se dá a posteriori por conexões, mobilidade,
mediações, traduções e fluxos. A sociologia e a comunicação devem
ser pensadas como aquilo que resulta das ações em movimento e não
apenas como o que enquadra (frame) ou estrutura esses agrupamentos.

Antes mesmo dessas observações de Lemos, Santaella e Renata Lemos


recorriam à TAR para as suas reflexões. As autoras lançaram, em 2010, um livro (Redes
sociais digitais: a cognição conectiva do Twitter) que não mencionava a TAR ou Bruno
Latour no título e, talvez por isso, muitos não imaginavam que a obra tratava do tema.
As autoras (2010, p. 31) acreditam que a explicação de Latour sobre as redes de atores é
aparentemente simples: “basta levantar algumas das propriedades das redes e adicionar
a elas os atores cujos trabalhos modificam grandemente a rede. Comecemos pelas
propriedades para, então, passarmos o conceito de ator”.
É frisado pelas autoras que “antes de tudo, as redes nos livram da tirania do
próximo vs. o distante. Elementos próximos, quando desconectados, podem ficar
remotos assim que suas conexões são levantadas e analisadas, e vice-versa”. (ibid. p.
32).

Outra tirania de que as redes nos livram: a das escalas micro e macro –
família, grupo, instituições, nação. Substituindo escalas por
                                                                                                                       
50
 Lemos usa a abreviação a partir do inglês: ANT.  
conectividade, uma rede não é maior ou menor do que outras redes.
Ela pode apenas ser mais longa ou mais intensamente conectada. [...]
Além do perto/longe, grande/pequeno, a terceira oposição espacial de
que as redes nos livram é a do dentro/fora. Enquanto uma superfície
tem um dentro e um fora separados por uma borda, redes são só
bordas, sem dentro nem fora. Com isso, não temos mais de preencher
espaços entre conexões. Redes não têm sombras nem vazios. Tudo é
substituído por associações e conexões que a TAR não qualifica como
sendo sociais ou naturais ou técnicas, condição que se esclarece
quando o conceito de ator-rede entra em cena. É o ator-rede que
permite a passagem das propriedades topológicas e estáticas para as
ontológicas. (SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 32).

As autoras sintetizam a teoria de Latour e Callon:

A TAR, como o próprio nome diz, é feita simultaneamente de atores e


redes. As atividades dos atores consistem em fazer conexões e
alianças com novos elementos de uma rede e, com isso, ser capazes de
redefinir e transformar os componentes dessa rede (Callon, 1986,
p.93). [...] Os atores-actantes na TAR correspondem a quaisquer
espécies de figuras dotadas da habilidade de agir, incluindo pessoas e
objetos materiais: inscrições (quaisquer coisas escritas), artefatos
técnicos, entidades sob estudo, conceitos, organizações, profissões,
dinheiro etc. (ibid. p. 38).

Já Lemos, acredita que “em meio a uma profusão de dados e de rastros deixados
pelas mais diversas ações comunicacionais, a TAR51 pode nos ajudar a compreender o
social como movimento de associações” e complementa:

[...] mais do que J. Urry ou Z. Bauman, que têm trabalhado sobre a


dimensão “líquida” ou “móvel” da experiência social, tenho a
impressão que a TAR pode ser definita como uma "sociologia da
mobilidade" e não apenas como uma "sociologia das associações",
como pretende Latour. Aqui a mobilidade não é a de pessoas, do
transporte ou das mudanças de classe.

“Na TAR a mobilidade é a associação em realização, a da sociedade se


constituindo”, constata Lemos. Para a TAR, não é possível compreender o campo social
sem descrições das associações entre actantes humanos e não-humanos.

E o reconhecimento da agência dos actantes não-humanos pode ser uma


das peças chaves para ampliarmos a relação entre TAR e
Comunicação” (ibidem). “Para a comunicação, já que nosso campo é
dependente (talvez ainda mais do que outros) das ações dos dispositivos
                                                                                                                       
51
Lemos abrevia como ANT, alterei para TAR apenas para padronizar na língua portuguesa.
e artefatos de comunicação (actantes não-humanos), seria enriquecedor
partirmos para o empirismo proposto pela TAR.(LEMOS, 2011).

Diante de tal quadro, pode-se concordar que as experiências foram certeiras. Foi
possível provar a hipótese levantada nesta pesquisa. Por exemplo, quando da utilização
do aplicativo Foursquare, as marcas de rastros são deixadas nos mapas abertos. Lemos
arremata: “Esse rastreamento digital está em marcha com os usos das mídias digitais,
principalmente as tecnologias móveis com serviços de geolocalização”.

Vemos hoje práticas já bastante corriqueiras como dizer onde estar e


ver o que se diz sobre os lugares pelo Foursquare, o que se está
fazendo e onde com o Places no Facebook, informações e dicas
importantes no Twitter, os caminhos marcados com rastros de um
GPS, a construção de mapeamentos colaborativos diversos, os rastros
(transporte público, estradas, compras etc.) deixados pelos usuários de
sistemas que utilizam etiquetas de radiofrequência, entre outros. Os
exemplos são inúmeros e em expansão. Essas tecnologias fornecem
dados finos das associações, das variações, das adaptações e das redes
sociais que nenhuma estatística jamais pode oferecer (rastros e traços
de navegações em tempo real, mapas e articulações com escrita nos
lugares, marcas das leituras feitas nesse deslocamento… rastros de
uma mobilidade que se inscreve e se lê, revelando associações).
(LEMOS, 2009).

Ao pensarmos em mapas abertos para reações e mudanças de frequentadores,


moradores dos locais demarcados nos experimentos, vale trazer à tona a ideia do
rizoma. Santaella e Lemos destrincham o conceito de rizoma (2010, p. 29-30).
Particularmente, o quinto princípio constitutivo do rizoma, a cartografia, nos interessa
mais, pois vai ao encontro do mapa produzido nos experimentos desta Tese. Trata-se do
primeiro princípio metodológico da filosofia de Deleuze e Guattari (1995). “Fazendo
parte do rizoma, o mapa é aberto, conectável em todas as suas dimensões, desmontável,
reversível e modificável.” (ibidem). As autoras fazem um paralelo com a TAR:
“herdeiras do rizoma, as redes em Latour significam, antes de tudo, uma mudança de
topologia. Em vez de superfícies 2-D ou de esferas 3-D, valem os nós que têm tantas
dimensões quanto conexões”. (ibid, p. 31).
Apesar de não termos entrado no campo da sociologia, este seria foco para outra
pesquisa, para melhor entender o ponto de intersecção e até mesmo de oposição das
teorias de Émile Durkheim e de Gabriel de Tarde lembradas por Lemos (2011),
trazemos a ponderação do pesquisador quando menciona o que poderia ter o rumo dos
estudos de sociologia se de Tarde tivesse sido lembrado mais amiúde.

Alguns autores, inclusive Latour, vão questionar quais rumos teriam


tomado o pensamento sociológico se de Tarde, e não Durkheim,
tivesse sido o protagonista na história dessa ciência. Para alguns, um
pensamento sociológico menos sujeito a regras gerais, a estruturas,
mais próximo de variações não-hierárquicas seria hoje hegemônico. A
máxima “o social é uma coisa” (Durkheim) teria sido substituída por
outra: “toda coisa é social”. (TARDE).

Lemos (ibid.) acredita que o embate dos dois pode trazer um frescor às ciências
sociais (incluindo a comunicação) e acrescenta: “Tarde tinha imaginado um momento
em que as estatísticas e dados quantitativos resultantes de comportamento social seriam
transparentes e visíveis. Isso está se tornando uma realidade hoje”.
A visão de uma estatística geral (Durkheim), uma métrica útil, mas insuficiente,
segundo Lemos, estaria sendo posta à prova (revelando a importância da análise das
associações em detrimento daquelas genéricas sobre “o social”) com o surgimento de
novas formas de rastreamento digital. “Podemos olhar para os dados sociais em uma
ampla gama de níveis de agregação, indo e voltando do micro para o macro com
facilidade. Associações passam a ser assim visíveis para o analista social.” Como afirma
Bruno Latour, na tradução livre de Lemos (2011):

É realmente impressionante que neste exato momento os campos de


rápido desenvolvimento da "visualização de dados", da "ciência social
computacional" ou das "redes biológicas" estão produzindo, diante de
nossos olhos, exatamente o tipo de dados que Tarde teria aclamado. A
navegação digital através de paisagens de dados ponto-a-ponto pode,
um século mais tarde, reivindicar as idéias de G. de Tarde.

A revista Time, uma das mais prestigiadas publicações do mundo, estampa no


meio da capa de 16 de agosto de 2012: The Wireless Issue. O título da reportagem de
capa na editoria Time Techland é Your Life is Fully Mobile e mostra estatísticas em
diversos países, inclusive o Brasil. O mote é contar o quão rápido tudo isso aconteceu,
ou seja, o poder com que o celular incide nas pessoas que fazem do aparelho um objeto
essencial e tão presente em suas vidas. Compara os celulares onipresentes ao dinheiro,
ressaltando que não se costuma sair de casa sem nenhum dos dois. Mas nota, ainda, uma
diferença: não se dorme com dinheiro nos bolsos ou à mão; por outro lado,
muitos cultivam o hábito de deixar o celular perto da cama. Eis um trecho e o
infográfico (figura 53) a seguir:

To better understand attitudes about mass mobility, Time, in cooperation


with Qualcomm, launched the Time Mobility Poll, a survey of close to 5,000
people of all age groups and income levels in eight countries: the U.S., the
U.K., China, India, South Korea, South Africa, Indonesia and Brazil. Even
the best survey can be only a snapshot in time, but this is a crisp and textured
one—revealing a lot about both where we are now and where the mobile
wave is taking us next.

Figura 53. Do you think being constantly connected by technology is mostly …

Se uma em cada quatro pessoas checa o celular a cada meia hora, ou se mesmo
uma a cada cinco pessoas verifica o aparelho a cada 10 minutos, podemos concluir que
o celular virou mania. Um terço dos entrevistados confessou que ficar sem seus
celulares os deixa ansiosos. Nem sempre checam atrás de notícias, como diz a
reportagem de Nancy Gibbs: “It is a form of sustenance, that constant feed of news and
notes and nonsense, to the point that twice as many people would pick their phone over
their lunch if forced to choose”.
Com dados desse porte que, de certa forma, corroboram o trabalho aqui
realizado, nossas reflexões podem ser encerradas com as palavras de Trivinho (2006),
no artigo intitulado “Cibercultura e Humanidades: acerca da articulação nacional de um
novo campo científico interdisciplinar no Brasil”:

Em geral, sabe-se que o fôlego histórico de uma epistème e do


espaço intelectual que ela refrata se fabrica mais pelas questões
que deixa em aberto (sobretudo quando postas na perspectiva de
alguma categoria consistente de crítica) (cf. TRIVINHO, 2001)
do que pelas soluções que propõe ou, menos ainda, por seu
suposto efeito de moda, refém de uma década específica. Não é
difícil constatar, com efeito, que, do ponto de vista histórico, o
debate sobre a cibercultura está apenas começando e se mostra
longe de sua marcescência ou ocaso. Sua longevidade
dependerá, obviamente, do que os (as) pesquisadores (as) farão
dele e de quais horizontes teóricos, epistemológicos e
metodológicos a ele serão entregues. (TRIVINHO, 2006).

Nesse sentido, ao se constatar que a pesquisa terá continuidade, na medida em


que a lida no dia-a-dia com o exercício da profissão de escrever sobre o veículo e, acima
de tudo, a missão de ensinar a alunos maneiras oxigenadas de se fazer rádio, que se
utilizam da tecnologia como motor transformador, em paralelo à análise crítica
permanente de quem está de forma constante a examinar, questionar e nunca se satisfaz
com o que é produzido sem esmero e almeja sempre melhorar, testando possibilidades a
cada novo experimento, espera-se que surjam outros relatos que agucem pensamentos
inquietos e curiosos.
Na convicção de que há muito que se fazer para melhorar o estado da radiofonia,
tanto em estudos como este, quanto na prática da profissão, colocamo-nos à disposição
de quem chegou até esse ponto da leitura para receber sugestões e poder, assim,
aprimorar esta Tese.
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Disponível em <http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/o-futuro-da-web-segundo-o-
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population. 17 jul. 2012. Disponível em
<http://www.worldbank.org/en/news/2012/07/17/mobile-phone-access-reaches-three-
quarters-planets-population>. Acesso em 29 jul. 2012.
ANEXO

Informação e mídias locativas: reflexões sobre a plataforma Iphone e o

porquê da escolha do iPhone e de certos aplicativos

No intuito de estudar o Iphone como mídia agregadora e produtora de conteúdo


audiovisual, discutiu-se52 os diferentes softwares disponíveis para essa plataforma,
avaliando suas características técnicas, além de suas possibilidades de interação com o
usuário (DOSVALD; LOPES; PRADO, 2011). O áudio possui aplicativos dedicados à
produção de conteúdo, à mixagem e à sampleagem, gerando uma revolução
profissional. Nesse caso, temos não apenas programas de edição e de criação no celular,
mas controladores de hardware que permitem expandir a própria mídia geolocalizada
para desktops.
A sociedade tem sofrido profundas transformações, advindas de metamorfoses
dentro do sistema capitalista em que as pessoas estão inseridas (GEE e HULL, 1996a;
b), sendo que elas trazem diferentes consequências para o mundo do trabalho, gerando
um indivíduo que se forma e se identifica em uma cultura digital de rede
(SANTAELLA, 2004; 2005). Como um resultado dessa realidade, todas as atividades
são expandidas para o nível da onipresença: criam-se extensões corpóreas que garantem
a entrega à realidade digital mutante; o nível de comprometimento e capacidade como
indivíduos passa a ser medido pela presença na arena virtual, pela forma como as
informações são gerenciadas.
Um exemplo disso são os celulares, que estão cada vez mais presentes no
cotidiano. Dados da ANATEL mostram que a densidade do parque de celulares no
Brasil chegou a 111,62 aparelhos para cada 100 habitantes – pouco mais de um aparelho
por pessoa – , com um total de 3,06% (3,42% em termos de densidade) desses telefones
acessando redes de dados. Ao considerar os dados de pesquisa do Pew Internet Project
de 2011, observa-se que, nos EUA, um terço dos usuários de celulares possuem
smartphones (33%) — estes incluem iPhones e dispositivos Blackberry, bem como
aparelhos com o Android, Windows ou sistemas operacionais Palm —, desses usuários
                                                                                                                       
52
As pesquisas específicas sobre a plataforma do iPhone foram incluídas em um mesmo artigo
Informação e mídias locativas: reflexões sobre a plataforma Iphone escrito a seis mãos: esta
pesquisadora e os pesquisadores Daniela Osvald e Rodrigo Esteves de Lima Lopes e apresentado ao
Intercom 2011.
25% acessam a internet pelo celular. Apesar desses números não serem tão altos — o
alto preço do acesso a pacotes de dados ainda faz a generalização do acesso pouco
provável —, o crescimento desse segmento dentro do mercado de telefonia tem se
mostrado algo expressivo, o que propiciou o surgimento de uma série de aplicativos que
trazem, para tais telinhas, conteúdo noticioso e audiovisual.
A escolha pelo Iphone, neste estudo, deu-se não apenas por ele ser parte da atual
realidade midiática, como também por uma questão mercadológica. Entre os diversos
smartphones, o gadget da Apple desponta como uma das plataformas com maior
número de programas disponíveis. Boa parte do sucesso se dá também graças à
usabilidade do aparelho, que se conecta com qualquer computador pessoal,
apresentando uma sólida estrutura de hardware e estabilidade de OS.
A perspectiva aqui adotada é de discussão das possibilidades que essa
plataforma pode trazer para a produção de conteúdo audiovisual. Efetivamente, uma
rápida pesquisa pela AppleStore (aplicação do iTunes que permite a compra ou
download de aplicativos) traz números impressionantes: em julho de 2011, encontram-
se, 119 aplicativos em português relacionados a notícias, quase 80 relacionadas a
audiovisual (o que inclui desde rádios e TVs online até a gravação de áudio e vídeo).
Pouco se discute criticamente sobre a forma como os conteúdos e aplicativos nesta
plataforma se configuram em termos de suas características técnicas, de suas
possibilidades de interação com o usuário e do conteúdo neles presentes. Por conta
disso, esta breve análise tenta trilhar tal caminho, trazendo à baila algumas reflexões
iniciais sobre tais aplicativos.
De forma a realizar tal objetivo, são levantadas as possibilidades de criação,
divulgação e experimentação que o Iphone possibilita para a criação de conteúdo em
áudio.
De todas as possibilidades de proveito dos dispositivos móveis, a tendência de
geolocalizar, taguear e informar com anotações urbanas é o ponto de pós-convergência
do propósito, na qual articula alguns dos potenciais tecnológicos da audiofonia. Após
dez anos da cibercultura, com a explosão da www e o potencial da Web 2.0, segundo
Santaella (2008), “a cultura da mobilidade, uma variação avançada da cibercultura,
baseada nos dispositivos móveis, aliados ao sistema de posicionamento global (GPS), já
começa a render frutos que têm chamado atenção de artistas e de teóricos e críticos”.
Como qualquer outro aparelho que comporta áudio trabalhado como mídia de
geolocalização, o iPhone proporciona informação aumentada de entornos
esquadrinhados. Com o auxílio de aplicativos de geolocalização – como, por exemplo, o
Foursquare, uma rede social na qual usuários checam onde estão e dão detalhes dos
lugares – ou apenas do GPS, têm-se um uso extrapolado do hiperlocalismo a partir de
voz e mapeamento para ajudar o cidadão a se achar pelas metrópoles, ou cidades
desconhecidas, da comunicação em área próxima a bairros afastados ou lugares
longínquos. Aqui, deixaremos de lado outras possibilidades de marcações de áudio em
localidades descobertas por puro flaneurismo, o que, no entanto, pode ser bem lúdico se
a mera andança se torna algo sem destino, no melhor estilo do “se perder”. Muito
porque nem tudo é preciso ser tão delimitado, planejado e destinado. Há quem faça
monitoramento de movimento (tracing), o que nos parece bem interessante, mas o
detalhamento ficará para outra pesquisa. Também, não entraremos na utilização, cada
vez mais corriqueira, ao menos nos mercados mais desenvolvidos, do bluetooth,
tecnologia de transmissão de dados a distâncias curtas. Ficaremos apenas em algumas
das inúmeras possibilidades que o aparelho iPhone oferece para ampliarmos e
indexarmos conteúdo (tanto para produzir e editar, quanto só para consumir). É possível
dar exemplos comunitários ou políticos, como flash mobs (manifestações-relâmpago),
espécie de ativismo em rede, porém como não são ações específicas de áudio, e, sim,
podem ser deflagradas não somente por áudio, bem como por todas os outros meios,
principalmente pela mídia torpedista, demonstra-se aqui apenas aplicativos da área
estrita da arte sonora.
A partir da tecnologia do MP3, que traz leveza e permite a compressão dos
arquivos sonoros, surgiu o audiocast, um fenômeno que começou em 2004, com
portabilidade e mobilidade. Os audiocasts representam uma transformação nas formas
de se ouvir música, arte sonora e informação. Com o advento dos players portáteis, as
gravações em trânsito com coberturas de acontecimentos ou programetes musicais
foram disseminadas (PRADO, 2009). Ficaram também mais fáceis de produzir. O
iPhone, por exemplo, tem microfone acoplado que grava áudios de voz, proporciona
edição (básica) e possibilita o compartilhamento.
Tudo fica armazenado também no iTunes, em pasta denominada Voice Memos,
ao transpor o que foi gravado no aparelho móvel para o computador, se quiser. Assim,
fica mais ágil e rápido cobrir algum evento com flashes ao vivo e em tempo real, ou
oferecer dicas de lugares, como nas reportagens turísticas, e até mesmo contemplar e
agregar as opiniões dos internautas (profissionais ou não). Em plena era de
recombinações, um radialista pode fazer upload de alguns trechos de áudio, um
audinternauta pode baixá-los, reeditá-los e montar outro áudio do jeito que quiser, à
semelhança de um jogo de montar, um “Lego” sonoro (PRADO, 2009).
Opções para áudio no iPhone são várias. Uma delas é baixar o iTalk ou iTalk
Premium (e ainda o iTalk Sync para sincronizar com rede wi-fi), aplicativos da Griffin
Technology, para “gravar conversas, entrevistas, discursos, performances e os sons da
natureza”, como apresenta o site Griffin Technology.

Figura 1. iTalk da Griffin

O VR+ é um gravador de voz que também funciona como Voice Messenger e a


explicação vem do Gear Diary (2009). Esse software realiza a conversão do material
para MP3 e permite publicação em diversas redes sociais, como Twitter, Facebook,
MySpace e Blogger. Além disso, seu algoritmo admite a interrupção automática da
gravação, quando em silêncio.
Das 10 melhores aplicações de áudio para iPhone levantadas por Paulo Costa
(2011), foram separadas seis para que se tenha uma vaga ideia da imensidão do mundo
do áudio na palma da mão. De fato, o “iPhone e iPod touch vieram revolucionar as
regras da produção áudio de alta tecnologia. As melhores aplicações permitem-lhe criar
músicas, tocar instrumentos, remisturar faixas ou possuir um amplificador de guitarra
que cabe no bolso” (COSTA, 2011). Entre os aplicativos que escolhidos para registro,
temos:
1) O Xewton Music Studio é um sequenciador com interface
amigável, combina um teclado e mais 90 instrumentos sampleados, gravando até
128 faixas.

Figura 2. Xewton Music Studio

2) O TouchOSC permite usar o hardware para controlar programas de edição,


desde que estes tenham protocolos compatíveis.

Figura 3. TouchOSC

3) O Chris Wolfe Jasuto, com interface simples, é um dos primeiros


sintetizadores modelares para iPhone.
Figura 4. Chris Wolfe Jasuto

4) Reactable Systems/Mobile possibilita a criação de instrumentos e


sons com blocos.

Figura 5. Reactable

3) O Moog Filtatron pode ser utilizado para o processamento de


áudio, a partir de três fontes: entrada de microfone, sampler ou de um oscilador
do estilo analógico.
Figura 6. Moog Filatron

4) O Blip Interactive NanoStudio possui diversos recursos, como


sampler, sintetizador e seqüenciador, e ainda possibilita a masterização do
resultado final.

Figura 7. Blip Interactive NanoStudio

Este estudo não tem a intenção de conjeturar sobre os usos indevidos de


gravações, alterações, “sampleagens” – por “sampleagem” entendemos a utilização de
equipamentos eletrônicos capazes de viabilizar a criação musical e artística a partir de
sons gravados, sejam eles cotidianos ou retirados de outras obras musicais – e
customizações que são possíveis e que nem sempre são permitidas. Seria escopo para
outro estudo, mas vale ressaltar que temos consciência do cuidado e rigor ético que é
preciso impor ao lidar com microfones escondidos, esquemas de vigilância por áudio,
edições manipuladas, parcerias não autorizadas etc. No que tange às parcerias,
saudáveis por sinal, existem conjuntos de licenças com variáveis para cada caso, como a
conhecida Creative Commons (doravante CC), fundada pelo escritor norte-americano
Lawrence Lessig. Todavia, a adoção desse conjunto de licenças é algo que depende
exclusivamente da vontade do produtor, que disponibiliza seu produto para produção
colaborativa, permitindo determinadas intervenções. Há, assim, um conjunto de ações
permitidas no processo de alteração e de republicação da obra, ações que independem
de plataforma, uma vez que o conjunto de licenças apenas recai sobre aquilo que pode
ser feito com a obra.
Desde 2007, observa-se a introdução mais intensa de tecnologias móveis como
os smartphones, netbooks e de aparatos de conexões sem fio na produção jornalística
como experiência ou como uso sistemático. De fato, também conhecemos o uso dos
celulares comuns na produção de reportagens radiofônicas desde que os aparelhos
surgiram. É notório que, de lá para cá, o jornalismo móvel ganhou agilidade com os
smartphones.
A discussão de aplicativos na plataforma Iphone é difícil, pois as mudanças
ocorrem de forma bastante rápida nesse campo. Ainda não há modelos definidos para
os aplicativos, nem em relação ao conteúdo e à interatividade e nem de negócios. Essa
indústria parece estar em uma fase inicial e ainda tímida. Isso se deve pelo menos a dois
fatores: primeiramente, apesar do grande crescimento dessa plataforma, o alto custo
para o usuário final faz seu alcance reduzido, o que naturalmente leva ao surgimento de
menos demandas de uso específico. Isso seria especialmente verdade se pensássemos
nos programas de áudio disponíveis para smartphones Apple. Em ambos os casos, à
exceção dos programas já nativos no iPhone, a grande maioria é dedicada ao uso
profissional, ou seja, a indivíduos que, além de usar a plataforma, podem pagar ainda
mais por uma série de ferramentas de função artístico/profissional.
Se pensarmos ainda no fator interatividade, observaremos que, no caso da
imprensa escrita e do vídeo, a interação e a criação por parte do usuário do smartphone
não é, certamente o elemento mais levado em conta: nesses dois casos, a extensão
daquilo que já é divulgado em outras plataformas parece ser o mais relevante. Poucos
são os programas que permitem o envio de produções dos usuários. No caso do vídeo,
apenas um programa, já nativo da plataforma, permite a divulgação de tais produções,
mesmo assim em apenas um canal possível, o Youtube; já na imprensa escrita, apenas
um software, não nativo e relacionado a um jornal tradicional, permite essa
possibilidade. Diferentemente, o áudio possui mais aplicativos dedicados à produção de
conteúdo, mixagem e “sampleagem”, gerando uma revolução profissional. Nesse caso,
temos não apenas programas de edição e de criação no telefone, mas controladores de
hardware, que permitem expandir a própria mídia de geolocalização para desktops, o
que é algo, dentro do cenário atual, inexistente para a escrita e para o vídeo.
O segundo elemento importante a ser pensado nesse contexto são as restrições
estruturais e comunicacionais exercidas pela própria plataforma. Iphones não
reconhecem outros telefones celulares em sua rede bluetooth, não podem enviar
arquivos via rede wi fi a não ser para computadores cadastrados. Além disso, a
instalação de qualquer programa está vinculada à permissão da Apple Inc. e de uma loja
online, especialmente criada por ela para esse fim, que centraliza até mesmo as opções
gratuitas. Isso, até certo ponto, tolhe a construção de programas que não estejam de
acordo com o que a Apple Inc. julgue adequado para a utilização em sua plataforma,
restringindo não apenas as possibilidades de criação e produção, tanto de software como
de conteúdo, mas também de troca de informações e de dados entre os usuários do
sistema. Isso também ampliaria a sua possibilidade de reprodução de conteúdos da rede,
uma vez que uma série de plataformas tais, como Flash, criado pela Adobe, ou o
Silverlight, criado pela Microsoft, não são aceitas por esses aparelhos. De uma certa
forma, é correto afirmar que essa política leva a um pré-seleção das possibilidades que
esses programas podem oferecer ao usuário. Somemos a isso a própria postura política
dos desenvolvedores e das empresas de comunicação, que parecem criar
preferencialmente programas que não possibilitam o processo interativo, seja em rede,
seja entre aparelhos.

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