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OAB 2ª FASE 2010.

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Responsabilidade Civil
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Às vezes, lei especifica a conduta exigida;


RESPONSABILIDADE CIVIL outras vezes, enuncia um padrão de conduta; ou,
então, autoriza que as pessoas estabeleçam
deveres de conduta. Neste caso, cuida-se de
1. TEORIA GERAL DA RESPONSABILIDADE CIVIL responsabilidade contratual.
1. Conceito Podemos falar em dever jurídico, quando
A responsabilidade civil está ligada à se trata de prestar determinada conduta prevista
conduta que provoca dano às outras pessoas. na lei ou no contrato. Mas falamos em obrigação
Devemos nos conduzir na vida sem causar de indenizar como conseqüência da violação
prejuízos às outras pessoas, pois se isso daquele dever. Há o dever jurídico de não causar
acontecer ficamos sujeitos a reparar os danos. danos às outras pessoas e a violação desse dever
Por outro lado, as pessoas têm o direito de não gera a obrigação de indenizar.
serem injustamente invadidas em suas esferas de A responsabilidade civil está atrelada à
interesses, por força de nossa conduta, pois caso conduta humana que produz danos, de modo que
isso aconteça têm elas o direito de serem somente os fatos jurídicos voluntários, isto é, os
indenizadas na proporção do dano sofrido. atos jurídicos lato sensu, são abrangidos pelo
instituto. Os atos jurídicos lato sensu podem ser
2. Generalidades comissivos ou omissivos, lícitos ou ilícitos. Os atos
Direito e Moral são capítulos da Ética: o ilícitos são os que mais interessam à
estudo dos comportamentos possíveis dos responsabilidade civil, mas os atos lícitos também
sujeitos enquanto uns se põem perante os podem produzir dever de indenizar.
demais. Na Moral, é o próprio sujeito quem
determina a sua obrigatoriedade da sua conduta; 3. Pressupostos
no Direito, o dever de conduta decorre da lei, é A doutrina também diverge quanto aos
coercível. A responsabilidade civil é o dever pressupostos da responsabilidade civil. Parece
jurídico, pois a conduta exigida não fica a critério correto afirmar que os pressupostos da
do agente, mas é imposta pela lei. responsabilidade civil são aqueles apresentados
por Maria Helena Diniz, acrescidos do nexo de
imputação mencionado por Fernando Noronha.
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Portanto, são pressupostos: a ação, o nexo de dessa intenção. A ação é sempre voluntária,
imputação, o dano e o nexo de causalidade. direcionada a alguma finalidade; porém, no dolo
A ação é o primeiro pressuposto, visto que o agente quer a ação e o resultado; na culpa em
a responsabilidade civil está ligada à conduta que sentido estrito ele quer apenas a ação, mas não
provoca dano nas outras pessoas. Os animais são quer aquele resultado.
capazes de comportamento, mas só os seres Na conduta culposa, o resultado era
humanos são capazes de conduta, que é a ação previsto, ou ao menos previsível.
direcionada a alguma finalidade. Sempre que A culpa se exterioriza pela negligência,
cuidamos de alguma ação imposta pelo pela imprudência e pela imperícia: na
ordenamento jurídico, cujo inadimplemento imprudência há conduta comissiva; na
implique na obrigação de reparar os danos, negligência a conduta é omissiva; imperícia é a
estamos cuidando de responsabilidade civil. A falta de habilidade no exercício de atividade
ação pode ser comissiva ou omissiva, própria ou técnica.
de terceiros, por culpa ou risco. A culpa grave, a culpa leve e a culpa
O nexo de imputação é o critério pelo qual levíssima levam igualmente ao dever de
se liga o fato danoso ao agente, isto é, a culpa ou indenizar. Todavia, o juiz possa reduzir
o risco. Tradicionalmente, o evento danoso se eqüitativamente o valor da indenização, se
ligava à pessoa pelo fator culpa, mas, com o houver excessiva desproporção entre a gravidade
surgimento da responsabilidade objetiva, o fato da culpa e o dano (CC, art. 944, parágrafo único).
danoso pode se ligar ao agente pelo fator risco. A culpa pode ser contratual ou
Em resumo, a conduta que causa danos e que extracontratual, conforme a natureza do dever
gera responsabilidade civil pode ter por jurídico violado. Mas essa distinção é um tanto
fundamento tanto a culpa quanto o risco. imprópria, pois culpa em sentido amplo é
Culpa em sentido amplo é sinônima de sinônimo de violação a um dever de conduta, não
erro de conduta, isto é, toda conduta contrária ao importando se este dever é imposto pela lei ou
dever de cuidado imposto pelo Direito. pelo contrato.
Subdivide-se em dolo, quando a conduta é Já se falou em culpa in eligendo, culpa in
qualificada pela intenção de lesionar; e culpa em vigilando e culpa in custodiando, nos casos de
sentido estrito, quando a conduta é destituída responsabilidade por atos de terceiros e por fatos
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das coisas e animais. Essa classificação perdeu a Risco excepcional: atividades que
razão de ser, diante do art. 933 do Código Civil, representam um elevado grau de perigo.
que considera essas hipóteses como de Risco integral: grau mais elevado de
responsabilidade objetiva. responsabilidade objetiva, não admite exclusão.
A culpa presumida é um estágio na A definição de dano está estreitamente
evolução da responsabilidade subjetiva para a relacionada à de patrimônio uma vez que o dano
objetiva, no qual a lei criou uma presunção significa uma lesão ou diminuição do patrimônio
relativa de culpa, invertendo o ônus da prova. Na de determinada pessoa.
vigência do Código Civil de 1916, aplicavase à A doutrina tradicional concebia o
responsabilidade por fato de terceiros e de patrimônio como o conjunto dos bens materiais,
responsabilidade por fato das coisas e animais. O de conteúdo econômico, excluídos os bens e
art. 933 do Código Civil de 2002 diz que nessas interesses que nãc tivessem conteúdo
hipóteses não mais se cogita de culpa; há econômico. Os danos morais, por não terem
responsabilidade objetiva. conteúdo econômico, não cabem no conceito
Fala-se também em culpa concorrente, tradicional de patrimônio, razão pela qual os
nas hipóteses em que mais de um evento autores passaram a denominá-los danos
concorrem para a produção do resultado.A extrapatrimoniais.
doutrina recomenda que a indenização seja Pode-se dizer, hoje em dia, que
repartida proporcionalmente aos graus de culpa patrimônio é o complexo de bens, direitos e
do agente e da vítima. interesses que se prende a uma determinada
O nexo de imputação pode se dar pela pessoa. E dano é a lesão injusta que provoque
culpa, como já vimos, ou pelo risco. O risco se abalo ou diminuição nesse patrimônio.
apresenta em suas várias modalidades: Sendo assim, conquanto permaneça na
risco-proveito, risco profissional, risco doutrina e tenha seu valor didático, é imprópria a
excepcional, risco criado, risco integral. distinção entre dano patrimonial e dano extra-
Risco proveito: “quem colhe os bônus, patrimonial.
deve suportar os ônus”. Nexo de causalidade é o elo que liga o
Risco profissional: relacionado às relações dano ao seu fato gerador. É diferente do nexo de
de trabalho. imputação, que liga a conduta ao agente.
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O Código Civil adotou a teoria da 5. Excludentes de responsabilidade civil


causalidade adequada, segundo a qual causa é Há fatores que excluem o nexo de
tão somente aquele antecedente mais adequado causalidade e, por conseqüência, afastam a
à produção do resultado. responsabilidade civil. Mas, além disso, a
Podemos falar em concorrência de causas ausência de qualquer dos pressupostos - a
ou concausas, quando outras causas concorrem conduta, o nexo de imputação, o dano e o nexo
para a produção do evento danoso, juntamente de causalidade - exclui a responsabilidade civil.
com a conduta daquele que é apontado como Não bastasse, as excludentes podem decorrer de
responsável; e em culpa concorrente, quando a disposição expressa da lei, como é o caso da
conduta da vítima concorre com a do agente para prescrição; ou, ainda, podem resultar do acordo
a produção do evento. Em todo caso, são fatores de vontade entre as partes, mediante cláusula de
relevantes, que resultam na mitigação e até não indenizar.
mesmo na exclusão da responsabilidade civil. São fatores que excluem a
Excludentes do nexo de causalidade são responsabilidade civil: a ausência de conduta, a
fatores que afastam a ligação entre o dano e a ausência de dano, a ausência de nexo de
conduta. São excludentes do nexo causal o fato causalidade, a ausência de nexo de imputação, a
exclusivo da vítima, o fato de terceiro, o caso prescrição e decadência, a disposição legal e a
fortuito e a força maior. cláusula de não indenizar.

4. Espécies de responsabilidade civil 2. DANO MATERIAL


Quanto ao fato gerador, a O dano material consiste na lesão
responsabilidade civil pode ser contratual ou concreta que atinge interesses relativos a um
extracontratual. patrimônio, acarretando sua perda total ou
Quanto ao fundamento, a parcial.
responsabilidade civil se divide em subjetiva e
objetiva. 1. Dano emergente, lucro cessante e perda de
Quanto ao agente, a responsabilidade civil chance
pode ser direta ou indireta. Dano emergente: atinge o patrimônio
presente da vítima.
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Lucro cessante: atinge o patrimônio disporia se não tivesse sofrido a lesão e o que
futuro da vítima, impedindo seu crescimento. passou a dispor após tê-la sofrido.
Perda de chance: ocorre quando o ato A indenização a ser paga em dinheiro
ilícito praticado por outrem retira da vítima a deve ser monetariamente atualizada segundo
probabilidade de vir, futuramente, a índices oficiais, sobre ela incidindo juros em caso
experimentar situação superior à atual. de mora.

2. Dano direto e indireto 3. DANO MORAL


Dano direto é o que resulta 1. Definição
imediatamente de uma ação lesiva a bem jurídico Ocorre dano moral quando há lesão a
alheio. direitos da personalidade, tais como o direito à
Dano indireto: traduz-se nas incolumidade corporal, à imagem e ao bom
conseqüências remotas de determinado evento nome.
lesivo.
2. Disciplina legal
3. Reparação do dano material Interpretação extensiva do art. 159 do
Reparação in natura: quando o bem é CC/1916;
restituído ao estado em que se encontrava antes Previsão constitucional: art. 5.°, V e X;
do evento danoso. Art. 6.°, VI do CDC;
Reparação in specie: traduz-se em Art. 186 do CC/2002.
prestação pecuniária, de caráter compensatório.
Para que haja dever de reparação, faz-se 3. Legitimados para pleitear reparação por danos
mister a existência de nexo de causalidade entre morais
o dano sofrido e a conduta do ofensor. Legitimado direto é o ofendido em seus
direitos da personalidade, ainda que se trate de
4. Quantificação e atualização monetária do dano pessoa privada de discernimento.
A quantificação do dano material faz-se Legitimado indireto é quem sofre dano
pela diferença entre o patrimônio que a vítima moral reflexo ou em ricochete.

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4. Dano moral direto e indireto oriundos do mesmo fato e passíveis de apuração


Dano moral direto é o que implica em em separado.
lesão a direito da personalidade do ofendido.
Dano moral indireto é o que implica em 4. INDENIZAÇÕES EM CASOS DE LESÕES CORPORAIS
prejuízos patrimoniais e, por via reflexa, em dano 1. Espécies de lesões corporais
moral ao ofendido. Leves: são as que não deixam marcas na
vítima. Por exclusão, são as que não são
5. Natureza jurídica da indenização consideradas graves.
Punitiva, constituindo sanção que diminui Graves: são as que diminuam ou retirem
o patrimônio do ofensor pela indenização paga da vítima sua capacidade laborativa.
ao ofendido.
Satisfatória, funcionando como lenitivo 2. Hipóteses de indenização
frente à ofensa sofrida. Danos emergentes: despesas com
tratamentos médico-hospitalares.
6. Sujeitos passivos Lucros cessantes: aquilo que a vítima
Pessoa natural maculada em sua honra razoavelmente deixou de ganhar, desde o
subjetiva ou objetiva. momento em que sofreu as lesões até o fim da
Pessoa jurídica maculada em sua honra convalescença.
objetiva. Dano moral: emerge de ofensa a direito
da personalidade, dispensada a prova de prejuízo
7. Dano estético concreto.
Dano estético é aquele que atinge o
aspecto físico da pessoa humana, 3. Legitimados a pleitear indenização
modificando-lhe a aparência de modo duradouro No caso de danos emergentes, é
ou permanente, prejudicando ou não sua legitimado todo aquele que comprová-los.
capacidade laborativa. No caso de lucros cessantes, é legitimado
Segundo entendimento do STJ, pode ser todo aquele que exercia alguma atividade
cumulado com dano material e moral, quando remunerada, bem como aquele que, algum dia,
poderia vir a exercê-la.
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Coisa móvel: furto (art.155) ou roubo (art.


4. Cessação do pensionamento por lucros 157).
cessantes Coisa imóvel: usurpação (art. 160).
Em caso de lesões transitórias, cessa coma
recuperação da vítima. Em caso de incapacidade 3. Efeitos civis
permanente, cessa coma morte da vítima. A prática de esbulho e turbação faz surgir
para o prejudicado o direito de reclamar
5. Dano estético indenização e a restituição da coisa desapossada.
Deformidade estética, permanente, Em caso de impossibilidade de restituição,
irreparável e perceptível, capaz de causar persiste o direito de receber indenização pelo
impressões vexaminosas à vítima. equivalente e pelo valor de afeição.
Segundo entendimento do STJ, é possível O valor de afeição é acréscimo capaz de
cumulação de dano moral e dano estético, compensar o dissabor da perda que ultrapasse a
quando as causas de um e de outro forem perda material ordinária.
diversas e passíveis de apuração em separado.

5. INDENIZAÇÃO EM CASOS DE USURPAÇÃO E ESBULHO 6. INDENIZAÇÃO EM CASO DE INJÚRIA, DIFAMAÇÃO OU

1. Esbulho e turbação CALÚNIA


Ocorre esbulho possessório quando 1. Honra
alguém vê-se desapossado de seus bens móveis A honra consubstancia-se no conjunto de
ou imóveis violenta ou clandestinamente. atributos morais, físicos, intelectuais e demais
Ocorre turbação quando houver apenas dotes da pessoa que a faz merecedora de apreço
embaraços ao exercício da posse. na vida em sociedade.
O remédio processual adequado é a ação Honra subjetiva: é o sentimento de cada
de reintegração de posse, podendo ser um a respeito de seus próprios atributos internos
acompanhado de pedido de indenização de e externos. É ofendida por injúria.
perdas e danos. Honra objetiva: consiste na reputação, no
pensamento e opinião que as pessoas têm a
2. Tipos penais
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respeito dos atributos internos e externos de De acordo com o art. 939, aquele que
outrem. É ofendida por calúnia e difamação. efetuar a cobrança de dívida não vencida será
obrigado a aguardar o tempo existente para o
2. Reparação vencimento, descontando-se os juros
Danos materiais: danos emergentes e correspondentes, mesmo quando estipulados,
lucros cessantes. bem como a pagar as custas em dobro. Trata-se
Danos morais. de hipótese de abuso de direito. É necessária a
comprovação do comportamento doloso do
3. Ofensa à honra por meio da imprensa credor.
Ofensa à honra, mediante calúnia, Conforme o art. 940, quem demandar
difamação ou injúria, praticada por meio de dívida já paga ou pedir mais do que o devido
veículos de comunicação falada, escrita ou ficará obrigado a pagar, no primeiro caso, o
televisada. dobro do que houver cobrado e, no segundo, o
Segundo o art. 51 da lei de Imprensa, a mesmo que dele exigir, salvo se houver
indenização por dano moral é tarifada, conforme prescrição. É o caso de indenização de dano
a gravidade da ofensa. moral previamente estabelecido em lei. Assim
Segundo entendimento do STJ, assentado como na hipótese precedente, também é
na Súmula 281, a tarifação da lei de Imprensa é necessária a comprovação de má-fé do credor.
inconstitucional, por colidir como disposto no art. As penas previstas nos arts. 939 e 940 do
5°, V e X, da CF. CC não se aplicarão se o autor da ação desistir
desta antes de contestada a lide.
7. RESPONSABILIDADE POR ATO PRÓPRIO
1. Generalidades 3. Responsabilidade civil nas relações de família
A responsabilidade por ato próprio A quebra de promessa de casamento,
decorre exclusivamente do ato pessoal do ainda que esta não seja irrevogável, pode
causador do dano. ensejarindenização dos danos
suportadospelooutro nubente em razão de sua
2. Indenização decorrente de cobrança de dívida conduta. Mister sejam verificadas as
não vencida ou já paga circunstâncias em que o compromisso foi
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quebrado, e se destas emergiu dor e mágoa ainda O dano ecológico refere-se ao impacto
mais penosas que um rompimento normal. Pode nomeio ambiente causado pela atuação do
ser invocada a tese de abuso de direito. homem.
Pode ser concedida indenização por danos O dever de repará-lo consta da CF/88 (art.
morais ao cônjuge ou companheiro ofendido, 225, § 3°) e de legislação específica (Lei
agredido ou tratado indignamente. 6.938/81), sendo que a responsabilidade é
Os filhos têm direito à convivência com os objetiva.
pais. Desrespeitado tal direito, surgirá o dever de O Poder Público pode ser responsabilizado
indenizar fundamentado no abandono afetivo. pela deficiência na fiscaliz.ï ção das atividades
empresariais.
4. Responsabilidade civil por dano atômico e dano A aplicabilidade da tese da
ambiental responsabilidade objetiva pelo risco integral (na
Dano nuclear é o que decorre da qual não se exime da responsabilidade nem se se
contaminação do meio ambiente por materiais tratar de caso fortuito ou força maior) a esta
radioativos resultantes de processo de produção espécie de dano é controversa.
ou utilização de combustíveis nucleares. Por ele Assim como no dano atômico, a atividade
responde-se objetivamente (art. 21, XXIII, d, da pode ser perfeitamente legal e ainda assim
CF e art. 927, parágrafo único, do CC), mesmo ensejar reparação.
tratando-se de atividade lícita.
Também há responsabilidade da União, 8. RESPONSABILIDADE POR ATO DE TERCEIRO
pois a exploração da atividade nuclear constitui 1. Generalidades
monopólio desta. A responsabilidade por ato de terceiro é a
Tal responsabilidade é ilidida em caso de que ocorre quando uma pessoa deve responder
culpa exclusiva da vítima e em hipótese de pelas conseqüências jurídicas da conduta de
“conflito armado, hostilidade, guerra civil, outrem, o que se verifica nas hipóteses previstas
insurreição ou excepcional fato da natureza” no art. 932, do CC.
(arts. 4° e 8º da lei 6.453/1977). É necessário que haja um vínculo jurídico
entre o responsável e o autor do dano.

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Esta espécie de responsabilidade enseja entre o verdadeiro causador do dano e a vítima,


solidariedade entre as pessoas mencionadas no regida pela responsabilidade subjetiva, e a
dispositivo legal supracitado, não afastando o segunda, estabelecida entre o agente causador e
direito de regresso do responsável em face do o responsável, regida pela responsabilidade
causador do dano, com algumas exceções objetiva. Nada obsta, contudo, que a primeira
oportunamente nomeadas. relação seja também ocupada pela
responsabilidade objetiva, caso se trate, por
2. Deslocamento do fundamento da exemplo, de relação de consumo.
responsabilidade por ato de terceiro da culpa
presumida para a responsabilidade objetiva e a 3. Responsabilidade dos pais pelos filhos menores
responsabilidade em duplo estágio que estiverem sob sua autoridade e em sua
No sistema do Código Civil de 1916, a companhia
responsabilidade por fato de terceiro era Os pais respondem pelos atos dos filhos
subjetiva, tendo em vista que o art.1.523 que estiverem sob sua guarda e companhia. A
funcionava como um entrave para a aparente “guarda e companhia” é condição necessária para
objetivação que poderia se inferir do art.1.521. o reconhecimento da responsabilidade, tendo em
Este posicionamento, contudo, foi vista que somente assim pode o pai propiciar a
flexibilizado pela jurisprudência, consolidada na efetiva vigilância da prole. É em razão disso que
Súmula 341, do Supremo Tribunal Federal, bem tradicionalmente se afasta a responsabilidade dos
como por legislação esparsa, notadamente o pais divorciados que não possuem a guarda dos
Código de Menores de 1927, os quais previam filhos.
presunção de culpa. O afastamento voluntário em relação ao
O Código Civil de 2002 abandonou menor, assim como a emancipação concedida
definitivamente as presunções, adotando a pelos pais, não os exime da responsabilidade.
responsabilidade objetiva pelos atos praticados Estes devem comprovar que o filho não se
por terceiros, conforme se observa do art. 933. encontrava sob sua autoridade por motivos
Não se perca de vista, porém, que a absolutamente alheios à sua vontade.
responsabilidade por fato de terceiro constitui-se Se os incapazes não tiverem pessoas que
de duas relações, sendo a primeira delas formada por eles respondam, ou estas pessoas não
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tiverem meios suficientes para responder pelos 4. Responsabilidade do tutor e curador pelos
prejuízos (art. 928, do CC), o Código Civil de 2002 pupilos e curatelados que se acharem sob sua
transfere a responsabilidade ao próprio incapaz, autoridade e companhia
ressalvando apenas que a indenização deve ser Aplicam-se a esta hipótese as mesmas
eqüitativa, não tendo lugar se privá-lo do observações do item precedente,
necessário ao próprio sustento, ou das pessoas mencionando-se que o grau de vigilância do
que dele dependem, quando, então, não haverá responsável varia de acordo com o discernimento
indenização integral do dano. ou doença do tutelado ou curatelado. Do mesmo
Não há responsabilidade solidária entre os modo, a responsabilidade dos tutores ou
menores e seus pais. A responsabilidade ou curadores pode ser transferida para outras
incumbe exclusivamente aos pais, ou instituições, como sanatórios ou hospitais
exclusivamente ao filho, na modalidade psiquiátricos.
subsidiária e mitigada, se os responsáveis não 5. Responsabilidade do empregador ou comitente
tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem por atos de seus empregados, serviçais e
de meios suficientes para tanto. A única hipótese prepostos, no exercício do trabalho que lhes
admissível de solidariedade seria entre os pais e o competir, ou em razão dele
menor emancipado por vontade deles. A responsabilidade dos empregadores
Os pais somente responderão pelos atos variou bastante ao longo tempo. No início de
do filho maior se este foralienado mental. Neste vigência do CC/1916, tal responsabilidade era
caso, porém, a responsabilidade encontra subjetiva por culpa in eligendo. A jurisprudência
fundamento no art. 186, já que decorre de criou uma presunção relativa de culpa do
omissão culposa (in vigilando). responsável mediante a aplicação da teoria da
Em caso de transferência de guarda para substituição, consagrada na Súmula 341 do STF,
terceiros (fins empregatícios ou educacionais), a que é considerada por alguns doutrinadores
responsabilidade também será transferida, como exemplo de presunção absoluta. A partir do
conforme o caso, para o empregador, CC/2002, o fundamento de responsabilidade
estabelecimento de ensino ou hospital deslocou-se para o risco-proveito.
psiquiátrico, entre outros. A norma abrange dois tipos de relação: a
empregatícia e a de preposição. O empregado é o
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trabalhador que presta serviço nos moldes desennvolvimento da atividade, restringindo-se


previstos pela legislação trabalhista. O conceito ao período de estadia e aos lirrmites físicos do
de preposto é mais amplo e abrange qualquer estabelecimento.
prestação de serviço segundo as ordens de A responsabilidade dos hotéis é objetiva
outrem. não somente em relação ao disposto pelo Código
A redação do artigo sofreu alteração na Civil, mas também pela aplicação ddo art. 14 do
mudança dos códigos, promovendo-se a CDC, fundamentando-se no fato do serviço.
substituição do termo “por ocasião dele” para Com relação à vigilância das bagagens dos
“ou em razão dele”; com intuito de ampliar a hóspedes, este dever decorre da configuração do
abrangência do instituto, para que este contrato de depósito necessário, conforme
alcançasse também situações indiretamente disposto no art. 649, do Código Civil.
relacionadas ao trabalho. A obrigação da empresa hoteleira é de
A responsabilidade do empregador é resultado, isto é, para a que se considere
ilidida se a vítima sabia que o empregado ou adimplida, a prestação de serviço deve ter sido
preposto agiu com abuso ou desvio de função, ou completamente alcançada, motivo pelo qual sua
no caso de força maior, caso fortuito e na responsabilidade somentnte pode ser ilidida em
hipótese do ato ter ocorrrrido fora do exercício caso de culpa exclusiva do hóspede, força maior
das atribuições do empregado ou preposto. orou se o dano decorreu de vício da própria coisa.
A responsabilidade de hospitais, clínicas
6. Responsabilidade dos donos de hotéis, psiquiátricas e outros estabelecimentos
hospedarias, casas ou e estabelecimentos onde se semelhantes é bastante similar à dos hotéis,
albergue por dinheiro, mesmo para fins de e respondendo a instituição de saúde pelos danos
educação, pelos seus hóspedes, moradores e causados por seus pacientes a a terceiros.
educandos O art. 932 não menciona especificamente
A empresa hoteleira responde pelo as instituições de e ensino, mas confere abertura
prejuízo gerado por hóspede, seja a terceiro, seja para sua inclusão ao utilizar os termos “mesmo
a outro hóspede ou empregado do para fins de educação”. Aplica-se às escolas tudo
estabelecicimento. Sua responsabilidade quanto dito com relação aos hospitais, com a
fundamenta-se no risco peculiar ao ressalva de que sua responsabilidade restringe-se
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ao período de atividade escolar ou ao tempo em 9. RESPONSABILIDADE POR FATO DA COISA OU DO ANIMAL


que os a alunos são autorizados a permanecer na 1. Generalidades
escola. Em regra, cada pessoa responde pelos
Causando o aluno prejuízo a terceiro, a seus próprios atos, mas a lei prevê,
escola poderá ingressar com ação regressiva em excepcionalmente, que alguém seja chamado a
face do próprio aluno, mas não de seus pais, já responder por atos de terceiros e pelos danos
que estes confiaram seu filho à instituição, a ela causados pelas coisas inanimadas e animais que
transferindo sua guarda e responsabilidade. tivermos sob nossa guarda.
A escola responde pelos danos sofridos A responsabilidade por fato das coisas e
pelos alunos, a menos que se trate de instituição animais está ligada a uma conduta específica,
de ensisino superior, aplicando-se, de qualquer qual seja o dever de guarda. Trata-se de conduta
modo, as previsões do CDC. omissiva.
Guardião é aquele que tem um certo
7. Responsabilidade dos que gratuitamente poder sobre a coisa ou o animal, um poder de
houverem participado nos produtos do crime, até direção. O dono da coisa é seu guardião
a quantia concorrente presuntivo e, portanto, o responsável pelos
Aquele que participou, mesmo que eventuais danos, a não ser que demonstre haver
gratuitamente, do produto de um crime, transferido a guarda para outra pessoa.
responderá solidarariamente pela quantia da qual
tirou proveito. 2. Responsabilidade objetiva nu culpa presumida
Não há consenso na doutrina e na
8. Ação regressiva movida pelo responsável em jurisprudência sobre a natureza da
face do causador do dano responsabilidade civil por fato da coisa e do
O responsável tem direitoto regressivo animal, visto que no nosso direito convivem a
contra o causador do dano, salvo se este for seu responsabilidade objetiva e a subjetiva e a nossa
descendente, absoluta ou relativamente incapaz, lei não é muito clara a esse respeito. A tendência
ou se, sendo empregado, atuou com dolo ou na doutrina é a da responsabilidade objetiva. Na
culpa grave (art. 462, § 1°, da CLT). jurisprudência, ora se fundamenta a res-

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ponsabilidade na culpa, ora no risco, de acordo falta de reparos cuja necessidade fosse
com as circunstâncias do caso concreto. manifesta.
A redação do art. 937 dá a entender que o dono
3. Responsabilidade por fato do animal do prédio ou da construção pode se eximir da
O dono, ou o detentor, responde pelos responsabilidade se demonstrar que não teve
danos provocados pelo animal (art. 936). A culpa no evento, mas é de impossível verificação
responsabilidade é atribuída ao dono do animal, no plano fático, pois sua responsabilidade não se
sempre. O detentor é equiparado ao dono, limita a seguiras normas e padrões técnicos de
naquelas hipóteses em que não é possível construção; se o prédio veio abaixo, é porque
determinar o dono. essas normas técnicas não foram
Não se pode falarem responsabilidade do adequadamente seguidas ou foram insuficientes.
detentor, se o dono do animal é conhecido. Por A responsabilidade é objetiva, cabendo à
fim, não há falar em responsabilidade solidária vitima provar somente o dano e o nexo causal.
entre o dono e o detentor, pois a partícula “ou”
indica que um ou outro deve indenizar a vítima. 5. Responsabilidade por coisas caídas do prédio
A responsabilidade é objetiva. ou lançadas fora do lugar
O morador responde pelos danos
4. Responsabilidade pela ruína de edifício ou causados em virtude de coisas que caírem do
construção prédio ou que forem lançadas em lugar impróprio
Em caso de ruína de prédio ou construção, (CC, art. 938). A responsabilidade não é do
não cabe indagar sobre quem é o responsável: o proprietário, mas sim do habitante, que pode ser
dono, o construtor, o empreiteiro etc. A o dono, e também o inquilino, o comodatário etc.
responsabilidade é do dono, o qual, se for o caso, A hipótese é de responsabilidade objetiva.
tem ação de regresso contra essas outras pessoas
(CC, art. 937). 6. Responsabilidade relacionada a veículos
A lei prescreve dois requisitos para A responsabilidade por danos
caracterizara hipótese do art. 937: que ocorra relacionados a veículos mereceria um tratamento
ruína do prédio ou construção; que tal se deva à legal específico. No entanto, é tratada pela regra
geral da responsabilidade por culpa, já que a
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maioria dos eventos se refere à condução dos A responsabilidade civil está relacionada à
veículos. Mas outros eventos danosos, prática de ato ilícito, o abuso de direito é
envolvendo veículos, podem acontecer por falha equiparado a ato ilícito (CC, art.187).
no dever de guarda, em especial por falta de O abuso de direito está relacionado não
manutenção. São hipóteses claras de ao exercício propriamente dito, mas ao modo de
responsabilidade por fato da coisa, relacionadas à exercê-lo.Trata-se de uma mesma ação, que é
falha no dever de guarda e cuidado. lícita em si, mas que se torna ilícita pelo modo.
Nesses casos, fica evidenciado que a A responsabilidade por abuso de direito é
responsabilidade é objetiva. objetiva, mais por força de interpretação
Há ainda a responsabilidade por coisas doutrinária do que por sua própria estrutura.
que caem ou são lançadas dos veículos parados
ou em movimento e a responsabilidade por 2. Abuso de direito na demanda de dívida não
veículo dado em empréstimo, a que se atribui vencida ou já paga
natureza objetiva, por falha no dever de guarda e O Código prevê expressamente a hipótese
cuidado. de o credor demandar dívida ainda não vencida
Diversa é a hipótese dos danos causados ou já paga (arts. 939 e 940). A lei fixa os limites da
por veículo furtado, a qual não pode ser atribuída indenização, independentemente de verificação
ao dono, posto que este é vítima do evento e não efetiva de um dano ao devedor ou que o dano
tem poder de controle sobre a coisa subtraída. seja maior do que o fixado na lei.
A responsabilidade relacionada a veículos, Nesse caso, a responsabilidade é
por danos causados às propriedades fronteiriças claramente objetiva.
das estradas, pode ganhar contornos diversos,
conforme o caso concreto. De regra, trata-se de 3. Outras modalidades de abuso de direito
responsabilidade objetiva. Todos os direitos devem ser exercidos
dentro dos limites da boa-fé, dos bons costumes
10. Responsabilidade Civil por Abuso de Direito e da função social. Porém, todos os direitos são
1. Generalidades suscetíveis de abuso por seus titulares. Podemos
apontar, por exemplo, abuso do direito de

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propriedade, abuso do direito de crédito e abuso Constituição do Império e na primeira


de direito nas relações familiares. Constituição da República, os funcionários
públicos eram responsáveis pelos atos praticados
11. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO no exercício das suas funções. A partir da
1. Generalidades Constituição de 1946, instalou-se a
O Estado-Administração pratica atos por responsabilidade objetiva do Estado.
meio dos seus órgãos e agentes, cujos efeitos
repercutem nas esferas de interesses das pessoas 4. Aspectos relevantes da responsabilidade
físicas e jurídicas de um modo geral. A questão é objetiva do Estado, no Brasil
saberem que medida o Estado responde pelos O art. 15 do Código Civil de 1916
danos causados às pessoas, em virtude dos atos estabelecia a responsabilidade do Estado por atos
por ele praticados. dos seus representantes, mediante prova da
culpa. Mas a doutrina e a jurisprudência já
2. Teorias sobre a responsabilidade civil do Estado admitiam a responsabilidade objetiva, com base
A teoria da responsabilidade civil do na teoria organicista e na faute du service.
Estado passou por vários estágios de evolução, Uma vez instalada na Constituição de
que vão desde a ausência total de 1946, a responsabilidade objetiva do Estado foi
responsabilidade até a responsabilidade objetiva. mantida nos textos constitucionais que se
Essa evolução acompanhou aproximadamente a seguiram.
evolução da própria concepção de Estado, que A responsabilidade objetiva do Estado não
vem desde o absolutismo, passa pelo Estado implica a adoção da teoria do risco integral.
Social e alcança o atual Estado Social
Democrático. 5. Situação atual da responsabilidade objetiva do
Estado, no Brasil
Atualmente, a responsabilidade civil do
Estado é prevista no art. 37, § 6°, da Constituição
3. A responsabilidade civil do Estado no Brasil Federal.
O direito brasileiro jamais acolheu a tese
da irresponsabilidade total do Estado. Na
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A substituição do termo funcionário Se o Estado, ao invés de executar


público por agente implica em aumentar o diretamente uma obra, prefere confiar a
alcance dessa expressão. execução a uma empresa privada, é sua a
A responsabilidade do Estado só se responsabilidade pelo fato da obra e pela
caracteriza se o ato danoso for praticado pelo execução, podendo, contudo, acionara empresa
funcionário durante o serviço ou em razão do contratada, em caso de culpa desta e de acordo
cargo ou função. com o contrato firmado.
A responsabilidade do Estado afasta a Há uma falha no sistema de
responsabilidade pessoal do agente público. responsabilidade estatal, visto que, por um lapso,
Se o Estado, no exercício de uma o art. 37, § 6°, da Constituição, trata de maneiras
determinada atividade, causa danos a terceiros, distintas as empresas prestadoras de serviço
responde pelos prejuízos, não importa se a ação público e as construtoras contratadas para
foi omissiva ou comissiva. Por outro lado, se a executar obras públicas.
omissão do Estado se referir ao não exercício da
atividade, os danos decorrentes da falta dessa 8. Responsabilidade pela guarda de coisas e
atividade só podem ser atribuídos ao Estado pessoas perigosas
mediante demonstração de sua culpa. O Estado é objetivamente responsável
pelos eventuais danos que causar aos
6. Responsabilidade por danos causados pelas particulares, por falha no dever de guarda de
empresas prestadoras de serviço público coisas e pessoas consideradas perigosas.
As empresas prestadoras de serviço
público são objetivamente responsáveis pelos 9. Responsabilidade por fato de terceiro e fato da
atos dos seus empregados, em razão da natureza
prestação do serviço público. De regra, o Estado não responde por fato
de terceiros ou da natureza, para
cujaocorrêncianãocontribuiu nem poderia ter
contribuído. No entanto, em alguns casos, as
7. Responsabilidade por danos decorrentes de conseqüências dos fatos naturais são agravadas
obras públicas pela ação ou omissão do Estado. Ou, então, o
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Estado se omitiu quando deveria agir para evitar aos atos de administração, não resta nenhuma
o evento danoso. Nessas hipóteses, pode-se falar dúvida: o Estado responde objetivamente pelos
em responsabilidade subjetivado Estado, eventuais danos causados aos usuários. Dúvida
poromissão, por deixar de agir como deveria para pode existir quanto à responsabilidade do Estado
evitar o evento danoso. por atos de poder: edição de leis e decisões
judiciais.
10. Responsabilidade por danos decorrentes de Entendemos que a responsabilidade civil
atos dos tabeliães do Estado alcança os danos decorrentes dos atos
A questão oferece certa dificuldade, judiciais não somente nas hipóteses de erro
porque os cargos notariais são criados por lei e judicial e excesso de prisão (art.5°, LXXV, CF), mas
providos por concurso público, e os atos notariais em todos os casos em que as conseqüências do
são fiscalizados pelo Estado e têm fé pública, ato judicial ultrapassarem os limites que devam
características essas que são inerentes à condição ser regularmente suportados pelas partes e por
de funcionário público. Isso levou o Supremo terceiros.
Tribunal Federal, em mais de uma oportunidade, O art. 37, § 6°, da Constituição, se não
a decidir pela responsabilidade objetiva do revogou o art. 133, I e II, do Código de Processo
Estado. Civil e o art. 49, I e II, do Estatuto da
Magistratura, os tornou letra morta, ao assegurar
11. Responsabilidade por atos legislativos e que o prejudicado pode acionar diretamente o
jurisdicionais Estado para se ressarcir dos danos decorrentes
A rigor, somente os atos da Administração dos atos judiciais.
deveriam gerar riscos e, eventualmente, causar
danos à coletividade. Mas o Poder Legislativo e o 12. Responsabilidade por atos legislativos
Poder Judiciário também praticam atos de Afirma-se a regra da irresponsabilidade do
administração e, nesse caso, produzem risco e Estado por atos legislativos, uma vez que estes
eventuais danos para a coletividade. não são aptos a produzir danos diretamente às
A atividade estatal envolve pessoas, com exceção das chamadas leis formais,
concomitantemente o exercício do poder e a destinadas à regulamentação de situações
prestação de serviço público. No que se refere concretas individuais.
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não lesar ditada pela lei - responsabilidade


13. RESPONSABILIDADE CONTRATUAL extracontratual.
1. Generalidades Na responsabilidade extracontratual, a
No plano jurídico, o dever de conduta relação jurídica se constitui a partir da conduta
decorre da lei, visto que ninguém é obrigado lesiva, enquanto na responsabilidade civil
afazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em contratual a relação jurídica é pré-existente.
virtude dela (art. 5°, II, CF). A lei especifica as Na responsabilidade extracontratual, há
condutas exigidas, enuncia um padrão de um dever negativo de conduta, qual seja o de não
conduta ou então autoriza que as pessoas prejudicar nem causar dano a ninguém; na
estabeleçam deveres de conduta, por livre responsabilidade contratual, há em regra um
manifestação de vontade. dever positivo de prestar determinada conduta e,
Na responsabilidade civil contratual, o com isso, adimplir a obrigação.
deverde conduta decorre diretamente da lei, é Na responsabilidade civil extracontratual,
genérico e indeterminado; na responsabilidade a obrigação de indenizar, em regra, está
contratual, o dever decorre indiretamente da lei, relacionada à extensão do dano (art. 944, caput e
mas é específico e determinado por força do parágrafo único, CC), enquanto na
contrato. responsabilidade civil contratual existe o dever de
Na responsabilidade contratual, há uma prestar a conduta pactuada, cujo
delimitação da conduta a ser praticada pelas inadimplemento produz as conseqüências
partes e, na maioria dos casos, uma igualmente pactuadas.
determinação dos efeitos decorrentes da sua não A responsabilidade contratual e a
observância. responsabilidade extracontratual apresentam
Há uma relação de subsidiariedade entre mais diferenças do que semelhanças, razão pela
responsabilidade contratual e extracontratual, no qual se poderia dizer que se tratam de institutos
tocante à conduta e aos efeitos decorrentes do completamente diversos, tendo em comum
descumprimento. Não havendo especificação da apenas a finalidade de promover a reparação de
conduta a ser prestada ou dos efeitos do danos decorrentes do descumprimento de um
descumprimento, aplica-se a cláusula geral de dever jurídico.

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2. Pressupostos da responsabilidade civil Ocorre inadimplemento absoluto nos


contratual casos em que, devido à natureza da obrigação,
Para que exista responsabilidade civil uma vez descumprida, torna-se impossível o seu
contratual, é necessária a existência de um cumprimento pelo devedor, ainda que essa seja a
contrato válido, a inexecução do contrato e o sua vontade. O inadimplemento relativo se dá
dano conseqüente. Para que surja a quando o descumprimento total ou parcial da
responsabilidade civil contratual, é necessário obrigação deixa em aberto a possibilidade de seu
que haja um vínculo contratual entre as partes. adimplemento.
Além disso, impõe-se que o contrato seja válido e 4. Mora
eficaz. Mora é o inadimplemento relativo da
Uma vez firmado o contrato válido e obrigação, pois quem se acha em mora sempre
eficaz, é preciso que ocorra o seu tem a possibilidade de cumprira obrigação. Mas o
descumprimento total ou parcial para que surja o inadimplemento relativo pode se tornar absoluto,
dever de reparar os danos. por causa superveniente, como, por exemplo, a
Para que haja dever de indenizar, é morte do credor.
necessário que do descumprimento do contrato A mora pode ser do credor (accipiendi ou
resulte dano para a outra parte. creditoris) ou do devedor (solvendi ou debitoris).
A mora pode ser ex re, quando a
3. Inadimplemento obrigação tiver que ser cumprida em termo certo,
O inadimplemento da prestação ajustada hipótese em que se consuma
pode ser total ou parcial, absoluto ou relativo. independentemente de notificação do devedor
Dá-se o inadimplemento total nos casos (art. 397, CC); ou ex persona, em que não há data
em que o devedor deixa de cumprir fixada para o cumprimento da obrigação,
integralmente a obrigação; parcial, naqueles em fazendo-se necessária a notificação do devedor
que o devedor cumpre apenas uma parte da para constituí-lo em mora (art. 397, parágrafo
obrigação, deixando outra parte em aberto, ou único).
então cumpre a obrigação em tempo, modo e
lugar diversos do que foi ajustado. 5. Juros demora e cláusula penal

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Os juros demora são uma estimativa dos A autonomia da vontade, a boa-fé objetiva
danos para ocaso de inadimplemento relativo. e a confiança devem sempre estar presentes nas
Caso as partes não tenham previsto no manifestações de vontade.
contrato a contagem de juros moratórios, estes Os efeitos resultantes da relação
serão contados à mesma taxa que incide sobre a contratual podem ser delineados na fase
mora no pagamento de impostos devidos à pré-contratual, na conclusão do contrato e na
Fazenda Nacional (art. 406, CC). Atualmente, fase pós-contratual.
seria a taxa Selic.
Há uma polêmica acerca da legalidade da 2. Recusa em contratar
taxa Selic, mas prevalece o entendimento de que Ninguém é obrigado a concluir um
a mesma é válida. contrato se assim não o desejar.
A cláusula penal é uma estimativa das Quando a não-contratação tem fins
perdas e danos decorrentes do inadimplemento nocivos, transmuda-se em abuso de direito e
do contrato. Conforme o art. 409 do Código Civil, como tal deve ser punida.
a cláusula penal aplica-se tanto ao
inadimplemento absoluto quanto à mora ou 3. Vinculação das tratativas preparatórias
inadimplemento relativo. A proposta dirigida ao seu destinatário, de
A cláusula penal é um contrato acessório. algum modo, vincula o proponente, servindo
Cláusula penal compensatória é aquela como meio hábil a se provar a intenção pré-con-
que incide sobre o inadimplemento integral da tratual.
obrigação. Os interessados recorrem às tratativas
Cláusula penal moratória é aquela preliminares para decidir se lhes convinha ou não
estipulada para o caso de atraso no cumprimento contratar, sendo justo que do contrato desertem,
da obrigação, ou em segurança especial de outra se verificada sua inconveniência.
cláusula contratual. O pré-contrato não exige consentimento
deliberado e nem obriga quem dele participa.
14. Responsabilidade Pré e Pós-Contratual O abandono injustificado, fruto de mero
1. Formação do contrato capricho de um dos interessados, conflita com os
princípios de boa-fé, probidade, função
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econômica e social do contrato, além de poder daoferta,apresentaçãoou publicidade em seus


configurar abuso de direito. exatostermos, o consumidor poderá exigir o
cumprimento forçado da obrigação, nos termos
4. Quantum indenizatório da oferta, apresentação ou publicidade.
Para uma corrente, o quantum
indenizatório não deve ser fixado no mesmo
montante do equivalente à vantagem pretendida
pelo interessado com a conclusão do contrato, 6. Responsabilidade pós-contratual
mas deve ser capaz de possibilitar o retorno de Apesar de concluído o contrato, uma ou
seu patrimônio àquele estado em que se ambas as partes poderá continuar responsável
encontrava antes de ter realizado as necessárias por eventuais danos dele decorrentes, porque
despesas que levariam à sua conclusão. persistem os chamados deveres anexos das
Para outra corrente, o quantum partes, inerentes à boa-fé que norteiam toda a
indenizatório deve ser equivalente ao proveito contratação.
que o interessado teria obtido, caso as sérias Caracterizam-se como responsabilidade
tratativas desembocassem na conclusão pós-contratual o dever do franqueado de não
contratual. utilizar ou revelar as técnicas de mercado que
lhes foram passadas pelo franqueador; e o dever
5. Responsabilidade pré-contratual no CC e no de não colocação de produtos no mercado, que
CDC acarretem alto grau de periculosidade ou
No CC, a responsabilidade pré-contratual nocividade à saúde dos consumidores.
resolve-se a partir da teoria do abuso de direito,
cabendo ao prejudicado pleitear indenização 15. RESPONSABILIDADE DO TRANSPORTADOR
pelos danos decorrentes da não conclusão do 1. O contrato de transporte
contrato. Jamais poderá ajuizar ação de É característica do contrato de transporte
obrigação de fazer com a finalidade de compelir o a cláusula de incolumidade que encerra uma
outro interessado a concretizar o contrato. obrigação de resultado, isto é, a garantia do êxito
Nas relações disciplinadas pelo CDC, se o da diligência.
fornecedor furtar-se ao cumprimento
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O transportador responde por prejuízos e São excludentes da responsabilidade do


lesões, além de atrasos e suspensões das viagens. transportador o fortuito externo e o fato
A responsabilidade do transportador nem exclusivo da vítima ou do terceiro, com ressalvas.
sempre é contratual, podendo este se relacionar, O fortuito interno, assim como o externo,
além dos passageiros, com empregados ou refere-se a evento imprevisível e inevitável,
terceiros. Com relação aos empregados, trata-se porém relacionado à organização daquele que
da órbita do acidente de trabalho. No que tange a desenvolve uma determinada atividade. Já o
terceiros, a responsabilidade é aquiliana e fortuito externo desvincula-se da atividade
objetiva, por força do art. 37, § 6°, da CF, bem desenvolvida.
como pela aplicação do art. 17 do CDC. O fato exclusivo da vítima deve ser
preponderante no evento danoso, permitindo-se,
2. Evolução da responsabilidade do transportador contudo, a minoração da responsabilidade em
A origem desta responsabilidade remonta caso de culpa concorrente.
ao Decreto 2.681, de 1912, que se destinava Fato culposo de terceiro não ilide a
exclusivamente ao transporte ferroviário, mas responsabilidade do transportador, mas
acabou sendo utilizado analogicamente a outros tão-somente a conduta dolosa que possa se
tipos de transporte. Seu art. 17 é clássico desvincular da atividade normal do
exemplo de responsabilidade objetiva, que transportador.
somente pode ser ilidida por culpa do viajante,
força maior e caso fortuito. 4. Limite temporal da responsabilidade do
O Código de Defesa do Consumidor transportador
mantém a responsabilidade objetiva, deslocando, A responsabilidade do transportador não
contudo, seu fundamento para o vício ou defeito necessariamente inicia-se com o pagamento da
do produto. passagem. No caso do transporte ferroviário, por
O CC/2002 consolidou as mudanças exemplo, tem início com o ingresso do
promovidas pela doutrina e pela jurisprudência. passageiro.

3. As excludentes de responsabilidade do 5. Transporte gratuito


transportador
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Na vigência do Código Civil de 1916, ao


transporte gratuito se aplicava a tese 16. RESPONSABILIDADE NO CONTRATO DE SEGURO
contratualista com responsabilidade atenuada 1. Contrato de seguro
(Súmula 145, do STJ). Atualmente se utiliza a tese Seguro é o contrato pelo qual uma pessoa
da responsabilidade extracontratual (art. 736, jurídica empresária assume a obrigação de
CC). ressarcir os prejuízos advindos de riscos lícitos
sofridos por outrem, em virtude de ocorrência de
6. Responsabilidade do transportador aéreo evento futuro e incerto, mediante
A responsabilidade no transporte aéreo contraprestação, geralmente consistente no
internacional é igualmente objetiva, conforme já pagamento de determinada quantia em dinheiro.
consolidado pela jurisprudência e depois pelo Seguro de dano é aquele que visa
CDC. Há controvérsias no que tange à indenização assegurar coisas ou pessoas de riscos advindos de
tarifada prevista na Convenção de Varsóvia, a eventos futuros e incertos. Pode ser dividido em
qual, segundo nosso entender, não tem aplicação seguro de coisas e em seguro de responsabilidade
em razão do disposto no art. 732, do CC/2002. civil.
O mesmo se observa no Código Brasileiro Seguro de pessoas, com base na duração
de Aeronáutica, que contém disposições da vida humana, é aquele que visa garantir ao
pertinentes ao transporte aéreo nacional, segurado ou a terceiro beneficiário, o pagamento
prevendo responsabilidade objetiva também no de uma indenização, quando da ocorrência do
caso de responsabilidade extracontratual. sinistro. Pode ser subdividido em seguro de vida e
em seguro contra acidentes pessoais.
7. Transporte de mercadorias
Também no transporte de mercadoria 2. Obrigações do segurador
tem-se obrigação de resultado (art. 749, CC), Emitir a apólice, após concluído o
sendo que, neste caso, a indenização pode ser contrato, nos termos da proposta aceita pelo
tarifada (art. 734, parágrafo único). segurado.
Cumprir os pactos celebrados por seus
agentes corretores.

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Pagar a indenização referente ao prejuízo indenizatória a um terceiro ou ao próprio


resultante da verificação do sinistro. segurado. Enquanto as demais modalidades de
Pagar juros e atualização monetária, se seguro garantem direitos, o seguro de
incorrerem mora no cumprimento de sua responsabilidade garante obrigações.
contraprestação.
Responder pelo dobro do prêmio pago 5. Aspectos positivos e negativos do seguro de
pelo segurado de boa-fé, se expediu apólice responsabilidade civil
sabendo que o risco já havia cessado. No seguro de responsabilidade, o
beneficiário é terceiro indeterminado que, ao ser
3. Obrigações do segurado identificado, adquire direitos por força de um
Pagar o prêmio conforme o avençado. contrato firmado entre segurador e segurado,
Prestar fielmente as informações que sendo-lhe exigido somente a prova do dano
constarão da proposta, que servirá de base para a sofrido e a identificação de seu causador.
emissão da apólice. Em que pese ser o segurado o causador
Comunicar ao segurador primevo a do dano a terceiro, corre contra o segurador o
contratação de novo seguro sobre o mesmo bem dever de indenizar.
e contra os mesmos riscos. O seguro de responsabilidade surge para
Comunicar ao segurador, logo que tome evitar a diminuição patrimonial do ofensor,
conhecimento, a ocorrência de todo e qualquer causada pelo impacto da indenização, com isso
incidente capaz de agravar consideravelmente o evitando-se ruínas capazes de influenciar
risco coberto, sob pena de perda da garantia, em negativamente no cenário social, artístico,
caso de má-fé. científico e de produção e serviço.
O fato de o terceiro ter direito de ação
diretamente contra o segurador traz-lhe
4. Seguro de responsabilidade civil inúmeras vantagens, dentre as quais se pode citar
Seguro de responsabilidade civil é a maior solvabilidade do segurador, sem que a
contrato pelo qual o segurador garante ao verba indenizatória tenha que passar antes pelas
segurado, mediante prestação de prêmio por mãos do segurado para que este efetue o
parte deste àquele, o pagamento de verba pagamento, de modo a impedir eventuais
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desvios, bem como evita-se o risco de retenção A obrigação do advogado, quando sua
da mesma por conta de concurso de credores, em atuação é contenciosa, é tão-somente de meio,
casos de insolvência civil e falência. devendo este adotar medidas diligentes em prol
A difusão do seguro de responsabilidade dos objetivos de sua incumbência, sem, contudo,
pode importar em efeitos indesejáveis para a responsabilizar-se pelo sucesso da demanda. Sua
sociedade, pois tem o condão de esconder o eventual atuação culposa deve ser provada pelo
responsável atrás do segurador, porque, na cliente.
prática, quem conduz o processo é o segurador Já no caso de atuação extrajudicial e
que, a final, desembolsará a quantia consultiva sua obrigação é de resultado, isto é,
indenizatória, desvirtuando-se, com isso, o deve ser ultimada sob pena de inadimplemento
principal fundamento da responsabilidade civil, contratual.
que é a prevenção de danos, já que não é o
ofensor quem suportará o dever ressarcitório. 3. Omissão de providências
O advogado responde pela omissão de
17. RESPONSABILIDADE DO ADVOGADO providências, especialmente a ausência de
1. Responsabilidade contratual subjetiva propositura de ação, quando se caracterizará a
O advogado firma com seu cliente, a perda da chance.
menos que se trate d e defensor público ou A perda da chance identifica-se com a
procurador de entidades públicas, contrato de perda de uma oportunidade que poderia ter sido
mandato mediante o qual se obriga a empregar usufruída pela vítima.
seu conhecimento de maneira diligente, devendo Se houver chances razoáveis de sucesso
prestar contas ao mandante. na ação, o cliente fará jus à indenização.
A responsabilidade do advogado é A omissão de providências também pode
subjetiva (art.14, § 4º, CDC e art. 32, lei estar relacionada com as hipóteses que constam
8.906/1994), a menos que se trate de empresa de do art. 267, do CPC.
advogados.
4. A omissão de informações
2. Obrigação de meio O advogado também é responsabilizado
pela omissão de informações sobre vantagens e
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desvantagens da medida judicial já proposta e de 18. RESPONSABILIDADE NO CONTRATOS DE CONSTRUÇÃO


outras que poderiam ser tomadas, eis que o 1. Aspectos gerais
deverde informação integra o contrato de O contrato de construção é firmado entre
mandado. o empreiteiro (que realiza uma obra ou executa
um serviço) e o dono da obra ou empreitante
5. A perda de prazo processual (que determina o trabalho que será realizado e
A perda de prazo para cumprimento de paga o preço da construção).
determinação judicial também enseja Trata-se de obrigação de resultado.
responsabilidade com fundamento na perda de O contrato de construção pode ser de
uma chance. empreitada ou de administração. No contrato de
Há, contudo, que ser respeitado o arbítrio empreitada, o empreiteiro assume a obrigação de
do advogado, a quem cabe considerar a efetuar uma construção em interesse do dono da
conveniência ou a admissibilidade de um recurso, obra, podendo utilizar materiais próprios (na
especialmente se se tratar de recurso especial e empreitada de lavor e de materiais) ou somente
extraordinário. sua mão-de-obra (empreitada de lavor).
Quando fornece material, o construtor
6. Indevido encaminhamento ou patrocínio de responde pelos riscos por caso fortuito até a
ação temerária, com má-fé ou dolo entrega da obra, a menos que o dono da obra
A má-fé ou dolo do advogado, quando esteja em mora. Se quem fornece os materiais é
cabalmente comprovados, geram o empreitante, ele responde pelos riscos.
responsabilidade solidária com o cliente pelos No contrato de construção por
danos causados (art. 32 da lei 8.906/1994). administração, o proprietário ou dono da obra
assume os riscos e os custos do
empreendimento.
7. Segredo profissional A par destes dois contratos, há que se
O advogado deve respeitar o sigilo mencionar ainda o contrato de incorporação
inerente ao seu ofício (art. 34, VII, lei imobiliária, no qual o incorporadorassume a
8.906/1994). obrigação de construir imóveis que serão

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repassados ao adquirente, assim que pagar o O empreiteiro de materiais e execução


preço convencionado. responde pela solidez e segurança de seu
trabalho pelo prazo de cinco anos, que é um
2. Obrigações e responsabilidades do empreiteiro prazo de garantia. O prazo decadencial de 180
e do dono da obra dias, previsto no parágrafo único do mencionado
A principal obrigação do empreiteiro é art. 618, se refere somente ao exercício do direito
entregar a obra de acordo com os termos do de ação em relação aos defeitos que podem
ajuste. Se houver defeito, o contratante pode surgir dentro do prazo de cinco anos.
optar pelo recebimento com abatimento de responsabilidade extracontratual do construtor A
preço, ou então pela resolução do contrato. responsabilidade é solidária do proprietário do
A obrigação mais importante do dono da imóvel e do construtor, e também objetiva, na
obra é seu pagamento, vinculado à aprovação da modalidade de risco-proveito, somente sendo
construção. Também deve receber a obra. ilidida pelo fortuito externo. O proprietário do
imóvel pode ingressar com ação regressiva em
3. Aplicação da teoria dos vícios redibitórios aos face do construtor.
contratos de construção
Se o vício for aparente, a obra deve ser 6. A incidência do CDC nos contratos de
rejeitada de imediato. Pode ocorrer, porém, que construção
esse seja oculto, quando então o dono da obra Aplica-se o CDC sempre que a construção
poderá ingressar com ação quanti minoris para for realizada para o destinatário final.
abatimento do preço ou então rejeitar a obra, A responsabilidade também será objetiva,
pleiteando indenização. mas agora com fundamento no defeito do
Prazo para a redibição ou abatimento do produto (material) ou serviço (construção
preço é de um ano, contado da entrega da propriamente considerada).
construção ou, então, do momento em que se
manifesta o defeito. 7. A responsabilidade do incorporador
O incorporador deve proceder ao registro
4. A responsabilidade dos construtores prevista imobiliário do título da constituição da
no art. 618 do CC/2002 incorporação. Se não o fizer, fica responsabilizado
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pelo reembolso dos valores pagos pelos Pode haver o dever de guarda de veículos
adquirentes, além de eventuais danos que em outras modalidades contratuais em que não
possam ter sofrido. Esta responsabilidade é se configura o depósito por inocorrer a tradição,
solidária com a do proprietário do terreno. permanecendo as chaves do veículo com seu
A inadimplência enseja o pagamento de possuidor, assumindo o guarda a obrigação de
multa de 50% por parte do incorporador. vigiá-lo e zelar para que não seja subtraído ou
É responsável pela inexecução ou danificado.
execução imperfeita do contrato, solidariamente Para a teoria da guarda, o guardião
com o construtor. somente se exonera do dever de reparar o
O incorporador também é responsável prejuízo causado se provar caso fortuito ou de
pelas unidades que não foram vendidas. força maior ou culpa exclusiva da vítima.

19. RESPONSABILIDADE DOS ENCARREGADOS DA GUARDA 2. Responsabilidade dos estacionamentos


DE VEÍCULOS Se oneroso, o contrato de estacionamento
1. Depósito e guarda assemelha-se ao de locação, pois aquele que o
Depósito é o contrato em que o explora somente responderia por fato provado,
depositário recebe um objeto móvel alheio ao passo que, no depósito, há presunção de culpa
obrigando-se a guardá-lo e conservá-lo, em desfavor do depositário.
restituindo-o quando reclamado pelo Para a tese negativista, a pessoa
depositante. empresária não responde pelos prejuízos
O depositário tem, como obrigação de experimentados pelos possuidores, dada a
resultado, a de manter em segurança a coisa gratuidade do estacionamento.
depositada, havendo presunção de culpa em seu Para outra corrente, a gratuidade do
desfavor. estacionamento, via de regra, é apenas aparente.
O contrato de depósito ou de guarda tem Pela Súmula 130 do STJ, a empresa responde pela
como uma de suas principais características a reparação de dano ou furto de veículo ocorridos
transferência temporária da guarda de veículos, em seu estacionamento.
pedra de toque para a imputação de
responsabilidade por dano ou subtração da coisa.
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O explorador de estacionamentos Os postos e oficinas respondem por danos


enquadra-se no conceito de fornecedor do CDC, que seus empregados causarem a terceiros,
tendo, portanto, responsabilidade objetiva. quando na guarda do veículo.
A jurisprudência do STJ não distingue Apenas haverá responsabilidade do posto
entre o consumidor que efetua compras e o que quanto aos veículos que lá pernoitam, quando
não as efetua, pois, havendo vigilância no local, é houver assunção da guarda.
cabível a responsabilidade. Quanto à exclusão de responsabilidade
Haverá responsabilidade dos hotéis e em caso de assaltos à mão armada em postos, o
restaurantes em que há transferência da guarda STJ enuncia ser a inevitabilidade e não a
do veículo ao manobrista do estabelecimento. imprevisibilidade o que mais tem relevância para
Raramente haverá responsabilidade de caracterizar o caso fortuito.
escolas e universidades, porque geralmente não
há depósito, por não haver a entrega do veículo 20. RESPONSABILIDADE DECORRENTE DE ACIDENTES DE

ou de suas chaves, nem há obrigação de guarda, TRABALHO


configurando-se apenas uma permissão de uso 1. Acidente de trabalho
de determinado espaço. Acidente de trabalho é o fato causador de
danos ao trabalhador, vinculado ao serviço
3. Responsabilidade de oficinas e postos prestado a um tomador, oriundo de
Ao confiar-se um veículo a uma oficina ou acontecimento repentino, geralmente fortuito e
a um posto, há transferência da guarda, o que violento, atingindo-lhe a integridade física ou
determina a responsabilidade do psíquica.
estabelecimento por subtração ou danos.
Para o STJ, a oficina que recebe um 2. Indenização a cargo do INSS
veículo responsabiliza-se por sua guarda, ainda É concedida pela Previdência Social, em
que diante da ocorrência de roubo à mão regime de monopólio, ao trabalhador vítima de
armada. Não cabe excludente de infortunística de trabalho.
responsabilidade neste particular, por se cuidar A responsabilidade do INSS é objetiva,
de acontecimento previsível em negócios dessa cabendo a inversão do ônus da prova do nexo
espécie.
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causal em favor do acidentado, nos casos


especificados em lei.
O prazo prescricional da pretensão
indenizatória do acidentado em face do INSS, de
competência da justiça estadual, é de 5 anos,
segundo a Lei 8.213/1991.

3. Indenização a cargo do tomador de serviços


Cumulativamente à indenização do INSS,
incide a responsabilidade do tomador, quando
houver agido com culpa, em razão dos danos
sofridos pelo trabalhador.
A responsabilidade do tomador é, em
regra, subjetiva, exceto quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo empregador ou
comitente, por sua natureza, implicarem risco
para os direitos dos trabalhadores em geral, caso
em que será objetiva.
Não se compensam a indenização devida
pelo explorador da atividade com os benefícios
previdenciários eventualmente percebidos, por
diversos serem seus fundamentos.
O prazo prescricional para se demandar
reparação é de 3 anos, com termo inicial na data
em que o segurado teve ciência inequívoca da
incapacidade laboral.

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