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Responsabilidade Civil - Oab.2011.aprovação PDF
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Responsabilidade Civil
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Portanto, são pressupostos: a ação, o nexo de dessa intenção. A ação é sempre voluntária,
imputação, o dano e o nexo de causalidade. direcionada a alguma finalidade; porém, no dolo
A ação é o primeiro pressuposto, visto que o agente quer a ação e o resultado; na culpa em
a responsabilidade civil está ligada à conduta que sentido estrito ele quer apenas a ação, mas não
provoca dano nas outras pessoas. Os animais são quer aquele resultado.
capazes de comportamento, mas só os seres Na conduta culposa, o resultado era
humanos são capazes de conduta, que é a ação previsto, ou ao menos previsível.
direcionada a alguma finalidade. Sempre que A culpa se exterioriza pela negligência,
cuidamos de alguma ação imposta pelo pela imprudência e pela imperícia: na
ordenamento jurídico, cujo inadimplemento imprudência há conduta comissiva; na
implique na obrigação de reparar os danos, negligência a conduta é omissiva; imperícia é a
estamos cuidando de responsabilidade civil. A falta de habilidade no exercício de atividade
ação pode ser comissiva ou omissiva, própria ou técnica.
de terceiros, por culpa ou risco. A culpa grave, a culpa leve e a culpa
O nexo de imputação é o critério pelo qual levíssima levam igualmente ao dever de
se liga o fato danoso ao agente, isto é, a culpa ou indenizar. Todavia, o juiz possa reduzir
o risco. Tradicionalmente, o evento danoso se eqüitativamente o valor da indenização, se
ligava à pessoa pelo fator culpa, mas, com o houver excessiva desproporção entre a gravidade
surgimento da responsabilidade objetiva, o fato da culpa e o dano (CC, art. 944, parágrafo único).
danoso pode se ligar ao agente pelo fator risco. A culpa pode ser contratual ou
Em resumo, a conduta que causa danos e que extracontratual, conforme a natureza do dever
gera responsabilidade civil pode ter por jurídico violado. Mas essa distinção é um tanto
fundamento tanto a culpa quanto o risco. imprópria, pois culpa em sentido amplo é
Culpa em sentido amplo é sinônima de sinônimo de violação a um dever de conduta, não
erro de conduta, isto é, toda conduta contrária ao importando se este dever é imposto pela lei ou
dever de cuidado imposto pelo Direito. pelo contrato.
Subdivide-se em dolo, quando a conduta é Já se falou em culpa in eligendo, culpa in
qualificada pela intenção de lesionar; e culpa em vigilando e culpa in custodiando, nos casos de
sentido estrito, quando a conduta é destituída responsabilidade por atos de terceiros e por fatos
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das coisas e animais. Essa classificação perdeu a Risco excepcional: atividades que
razão de ser, diante do art. 933 do Código Civil, representam um elevado grau de perigo.
que considera essas hipóteses como de Risco integral: grau mais elevado de
responsabilidade objetiva. responsabilidade objetiva, não admite exclusão.
A culpa presumida é um estágio na A definição de dano está estreitamente
evolução da responsabilidade subjetiva para a relacionada à de patrimônio uma vez que o dano
objetiva, no qual a lei criou uma presunção significa uma lesão ou diminuição do patrimônio
relativa de culpa, invertendo o ônus da prova. Na de determinada pessoa.
vigência do Código Civil de 1916, aplicavase à A doutrina tradicional concebia o
responsabilidade por fato de terceiros e de patrimônio como o conjunto dos bens materiais,
responsabilidade por fato das coisas e animais. O de conteúdo econômico, excluídos os bens e
art. 933 do Código Civil de 2002 diz que nessas interesses que nãc tivessem conteúdo
hipóteses não mais se cogita de culpa; há econômico. Os danos morais, por não terem
responsabilidade objetiva. conteúdo econômico, não cabem no conceito
Fala-se também em culpa concorrente, tradicional de patrimônio, razão pela qual os
nas hipóteses em que mais de um evento autores passaram a denominá-los danos
concorrem para a produção do resultado.A extrapatrimoniais.
doutrina recomenda que a indenização seja Pode-se dizer, hoje em dia, que
repartida proporcionalmente aos graus de culpa patrimônio é o complexo de bens, direitos e
do agente e da vítima. interesses que se prende a uma determinada
O nexo de imputação pode se dar pela pessoa. E dano é a lesão injusta que provoque
culpa, como já vimos, ou pelo risco. O risco se abalo ou diminuição nesse patrimônio.
apresenta em suas várias modalidades: Sendo assim, conquanto permaneça na
risco-proveito, risco profissional, risco doutrina e tenha seu valor didático, é imprópria a
excepcional, risco criado, risco integral. distinção entre dano patrimonial e dano extra-
Risco proveito: “quem colhe os bônus, patrimonial.
deve suportar os ônus”. Nexo de causalidade é o elo que liga o
Risco profissional: relacionado às relações dano ao seu fato gerador. É diferente do nexo de
de trabalho. imputação, que liga a conduta ao agente.
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Lucro cessante: atinge o patrimônio disporia se não tivesse sofrido a lesão e o que
futuro da vítima, impedindo seu crescimento. passou a dispor após tê-la sofrido.
Perda de chance: ocorre quando o ato A indenização a ser paga em dinheiro
ilícito praticado por outrem retira da vítima a deve ser monetariamente atualizada segundo
probabilidade de vir, futuramente, a índices oficiais, sobre ela incidindo juros em caso
experimentar situação superior à atual. de mora.
respeito dos atributos internos e externos de De acordo com o art. 939, aquele que
outrem. É ofendida por calúnia e difamação. efetuar a cobrança de dívida não vencida será
obrigado a aguardar o tempo existente para o
2. Reparação vencimento, descontando-se os juros
Danos materiais: danos emergentes e correspondentes, mesmo quando estipulados,
lucros cessantes. bem como a pagar as custas em dobro. Trata-se
Danos morais. de hipótese de abuso de direito. É necessária a
comprovação do comportamento doloso do
3. Ofensa à honra por meio da imprensa credor.
Ofensa à honra, mediante calúnia, Conforme o art. 940, quem demandar
difamação ou injúria, praticada por meio de dívida já paga ou pedir mais do que o devido
veículos de comunicação falada, escrita ou ficará obrigado a pagar, no primeiro caso, o
televisada. dobro do que houver cobrado e, no segundo, o
Segundo o art. 51 da lei de Imprensa, a mesmo que dele exigir, salvo se houver
indenização por dano moral é tarifada, conforme prescrição. É o caso de indenização de dano
a gravidade da ofensa. moral previamente estabelecido em lei. Assim
Segundo entendimento do STJ, assentado como na hipótese precedente, também é
na Súmula 281, a tarifação da lei de Imprensa é necessária a comprovação de má-fé do credor.
inconstitucional, por colidir como disposto no art. As penas previstas nos arts. 939 e 940 do
5°, V e X, da CF. CC não se aplicarão se o autor da ação desistir
desta antes de contestada a lide.
7. RESPONSABILIDADE POR ATO PRÓPRIO
1. Generalidades 3. Responsabilidade civil nas relações de família
A responsabilidade por ato próprio A quebra de promessa de casamento,
decorre exclusivamente do ato pessoal do ainda que esta não seja irrevogável, pode
causador do dano. ensejarindenização dos danos
suportadospelooutro nubente em razão de sua
2. Indenização decorrente de cobrança de dívida conduta. Mister sejam verificadas as
não vencida ou já paga circunstâncias em que o compromisso foi
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quebrado, e se destas emergiu dor e mágoa ainda O dano ecológico refere-se ao impacto
mais penosas que um rompimento normal. Pode nomeio ambiente causado pela atuação do
ser invocada a tese de abuso de direito. homem.
Pode ser concedida indenização por danos O dever de repará-lo consta da CF/88 (art.
morais ao cônjuge ou companheiro ofendido, 225, § 3°) e de legislação específica (Lei
agredido ou tratado indignamente. 6.938/81), sendo que a responsabilidade é
Os filhos têm direito à convivência com os objetiva.
pais. Desrespeitado tal direito, surgirá o dever de O Poder Público pode ser responsabilizado
indenizar fundamentado no abandono afetivo. pela deficiência na fiscaliz.ï ção das atividades
empresariais.
4. Responsabilidade civil por dano atômico e dano A aplicabilidade da tese da
ambiental responsabilidade objetiva pelo risco integral (na
Dano nuclear é o que decorre da qual não se exime da responsabilidade nem se se
contaminação do meio ambiente por materiais tratar de caso fortuito ou força maior) a esta
radioativos resultantes de processo de produção espécie de dano é controversa.
ou utilização de combustíveis nucleares. Por ele Assim como no dano atômico, a atividade
responde-se objetivamente (art. 21, XXIII, d, da pode ser perfeitamente legal e ainda assim
CF e art. 927, parágrafo único, do CC), mesmo ensejar reparação.
tratando-se de atividade lícita.
Também há responsabilidade da União, 8. RESPONSABILIDADE POR ATO DE TERCEIRO
pois a exploração da atividade nuclear constitui 1. Generalidades
monopólio desta. A responsabilidade por ato de terceiro é a
Tal responsabilidade é ilidida em caso de que ocorre quando uma pessoa deve responder
culpa exclusiva da vítima e em hipótese de pelas conseqüências jurídicas da conduta de
“conflito armado, hostilidade, guerra civil, outrem, o que se verifica nas hipóteses previstas
insurreição ou excepcional fato da natureza” no art. 932, do CC.
(arts. 4° e 8º da lei 6.453/1977). É necessário que haja um vínculo jurídico
entre o responsável e o autor do dano.
tiverem meios suficientes para responder pelos 4. Responsabilidade do tutor e curador pelos
prejuízos (art. 928, do CC), o Código Civil de 2002 pupilos e curatelados que se acharem sob sua
transfere a responsabilidade ao próprio incapaz, autoridade e companhia
ressalvando apenas que a indenização deve ser Aplicam-se a esta hipótese as mesmas
eqüitativa, não tendo lugar se privá-lo do observações do item precedente,
necessário ao próprio sustento, ou das pessoas mencionando-se que o grau de vigilância do
que dele dependem, quando, então, não haverá responsável varia de acordo com o discernimento
indenização integral do dano. ou doença do tutelado ou curatelado. Do mesmo
Não há responsabilidade solidária entre os modo, a responsabilidade dos tutores ou
menores e seus pais. A responsabilidade ou curadores pode ser transferida para outras
incumbe exclusivamente aos pais, ou instituições, como sanatórios ou hospitais
exclusivamente ao filho, na modalidade psiquiátricos.
subsidiária e mitigada, se os responsáveis não 5. Responsabilidade do empregador ou comitente
tiverem obrigação de fazê-lo ou não dispuserem por atos de seus empregados, serviçais e
de meios suficientes para tanto. A única hipótese prepostos, no exercício do trabalho que lhes
admissível de solidariedade seria entre os pais e o competir, ou em razão dele
menor emancipado por vontade deles. A responsabilidade dos empregadores
Os pais somente responderão pelos atos variou bastante ao longo tempo. No início de
do filho maior se este foralienado mental. Neste vigência do CC/1916, tal responsabilidade era
caso, porém, a responsabilidade encontra subjetiva por culpa in eligendo. A jurisprudência
fundamento no art. 186, já que decorre de criou uma presunção relativa de culpa do
omissão culposa (in vigilando). responsável mediante a aplicação da teoria da
Em caso de transferência de guarda para substituição, consagrada na Súmula 341 do STF,
terceiros (fins empregatícios ou educacionais), a que é considerada por alguns doutrinadores
responsabilidade também será transferida, como exemplo de presunção absoluta. A partir do
conforme o caso, para o empregador, CC/2002, o fundamento de responsabilidade
estabelecimento de ensino ou hospital deslocou-se para o risco-proveito.
psiquiátrico, entre outros. A norma abrange dois tipos de relação: a
empregatícia e a de preposição. O empregado é o
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ponsabilidade na culpa, ora no risco, de acordo falta de reparos cuja necessidade fosse
com as circunstâncias do caso concreto. manifesta.
A redação do art. 937 dá a entender que o dono
3. Responsabilidade por fato do animal do prédio ou da construção pode se eximir da
O dono, ou o detentor, responde pelos responsabilidade se demonstrar que não teve
danos provocados pelo animal (art. 936). A culpa no evento, mas é de impossível verificação
responsabilidade é atribuída ao dono do animal, no plano fático, pois sua responsabilidade não se
sempre. O detentor é equiparado ao dono, limita a seguiras normas e padrões técnicos de
naquelas hipóteses em que não é possível construção; se o prédio veio abaixo, é porque
determinar o dono. essas normas técnicas não foram
Não se pode falarem responsabilidade do adequadamente seguidas ou foram insuficientes.
detentor, se o dono do animal é conhecido. Por A responsabilidade é objetiva, cabendo à
fim, não há falar em responsabilidade solidária vitima provar somente o dano e o nexo causal.
entre o dono e o detentor, pois a partícula “ou”
indica que um ou outro deve indenizar a vítima. 5. Responsabilidade por coisas caídas do prédio
A responsabilidade é objetiva. ou lançadas fora do lugar
O morador responde pelos danos
4. Responsabilidade pela ruína de edifício ou causados em virtude de coisas que caírem do
construção prédio ou que forem lançadas em lugar impróprio
Em caso de ruína de prédio ou construção, (CC, art. 938). A responsabilidade não é do
não cabe indagar sobre quem é o responsável: o proprietário, mas sim do habitante, que pode ser
dono, o construtor, o empreiteiro etc. A o dono, e também o inquilino, o comodatário etc.
responsabilidade é do dono, o qual, se for o caso, A hipótese é de responsabilidade objetiva.
tem ação de regresso contra essas outras pessoas
(CC, art. 937). 6. Responsabilidade relacionada a veículos
A lei prescreve dois requisitos para A responsabilidade por danos
caracterizara hipótese do art. 937: que ocorra relacionados a veículos mereceria um tratamento
ruína do prédio ou construção; que tal se deva à legal específico. No entanto, é tratada pela regra
geral da responsabilidade por culpa, já que a
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maioria dos eventos se refere à condução dos A responsabilidade civil está relacionada à
veículos. Mas outros eventos danosos, prática de ato ilícito, o abuso de direito é
envolvendo veículos, podem acontecer por falha equiparado a ato ilícito (CC, art.187).
no dever de guarda, em especial por falta de O abuso de direito está relacionado não
manutenção. São hipóteses claras de ao exercício propriamente dito, mas ao modo de
responsabilidade por fato da coisa, relacionadas à exercê-lo.Trata-se de uma mesma ação, que é
falha no dever de guarda e cuidado. lícita em si, mas que se torna ilícita pelo modo.
Nesses casos, fica evidenciado que a A responsabilidade por abuso de direito é
responsabilidade é objetiva. objetiva, mais por força de interpretação
Há ainda a responsabilidade por coisas doutrinária do que por sua própria estrutura.
que caem ou são lançadas dos veículos parados
ou em movimento e a responsabilidade por 2. Abuso de direito na demanda de dívida não
veículo dado em empréstimo, a que se atribui vencida ou já paga
natureza objetiva, por falha no dever de guarda e O Código prevê expressamente a hipótese
cuidado. de o credor demandar dívida ainda não vencida
Diversa é a hipótese dos danos causados ou já paga (arts. 939 e 940). A lei fixa os limites da
por veículo furtado, a qual não pode ser atribuída indenização, independentemente de verificação
ao dono, posto que este é vítima do evento e não efetiva de um dano ao devedor ou que o dano
tem poder de controle sobre a coisa subtraída. seja maior do que o fixado na lei.
A responsabilidade relacionada a veículos, Nesse caso, a responsabilidade é
por danos causados às propriedades fronteiriças claramente objetiva.
das estradas, pode ganhar contornos diversos,
conforme o caso concreto. De regra, trata-se de 3. Outras modalidades de abuso de direito
responsabilidade objetiva. Todos os direitos devem ser exercidos
dentro dos limites da boa-fé, dos bons costumes
10. Responsabilidade Civil por Abuso de Direito e da função social. Porém, todos os direitos são
1. Generalidades suscetíveis de abuso por seus titulares. Podemos
apontar, por exemplo, abuso do direito de
Estado se omitiu quando deveria agir para evitar aos atos de administração, não resta nenhuma
o evento danoso. Nessas hipóteses, pode-se falar dúvida: o Estado responde objetivamente pelos
em responsabilidade subjetivado Estado, eventuais danos causados aos usuários. Dúvida
poromissão, por deixar de agir como deveria para pode existir quanto à responsabilidade do Estado
evitar o evento danoso. por atos de poder: edição de leis e decisões
judiciais.
10. Responsabilidade por danos decorrentes de Entendemos que a responsabilidade civil
atos dos tabeliães do Estado alcança os danos decorrentes dos atos
A questão oferece certa dificuldade, judiciais não somente nas hipóteses de erro
porque os cargos notariais são criados por lei e judicial e excesso de prisão (art.5°, LXXV, CF), mas
providos por concurso público, e os atos notariais em todos os casos em que as conseqüências do
são fiscalizados pelo Estado e têm fé pública, ato judicial ultrapassarem os limites que devam
características essas que são inerentes à condição ser regularmente suportados pelas partes e por
de funcionário público. Isso levou o Supremo terceiros.
Tribunal Federal, em mais de uma oportunidade, O art. 37, § 6°, da Constituição, se não
a decidir pela responsabilidade objetiva do revogou o art. 133, I e II, do Código de Processo
Estado. Civil e o art. 49, I e II, do Estatuto da
Magistratura, os tornou letra morta, ao assegurar
11. Responsabilidade por atos legislativos e que o prejudicado pode acionar diretamente o
jurisdicionais Estado para se ressarcir dos danos decorrentes
A rigor, somente os atos da Administração dos atos judiciais.
deveriam gerar riscos e, eventualmente, causar
danos à coletividade. Mas o Poder Legislativo e o 12. Responsabilidade por atos legislativos
Poder Judiciário também praticam atos de Afirma-se a regra da irresponsabilidade do
administração e, nesse caso, produzem risco e Estado por atos legislativos, uma vez que estes
eventuais danos para a coletividade. não são aptos a produzir danos diretamente às
A atividade estatal envolve pessoas, com exceção das chamadas leis formais,
concomitantemente o exercício do poder e a destinadas à regulamentação de situações
prestação de serviço público. No que se refere concretas individuais.
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Os juros demora são uma estimativa dos A autonomia da vontade, a boa-fé objetiva
danos para ocaso de inadimplemento relativo. e a confiança devem sempre estar presentes nas
Caso as partes não tenham previsto no manifestações de vontade.
contrato a contagem de juros moratórios, estes Os efeitos resultantes da relação
serão contados à mesma taxa que incide sobre a contratual podem ser delineados na fase
mora no pagamento de impostos devidos à pré-contratual, na conclusão do contrato e na
Fazenda Nacional (art. 406, CC). Atualmente, fase pós-contratual.
seria a taxa Selic.
Há uma polêmica acerca da legalidade da 2. Recusa em contratar
taxa Selic, mas prevalece o entendimento de que Ninguém é obrigado a concluir um
a mesma é válida. contrato se assim não o desejar.
A cláusula penal é uma estimativa das Quando a não-contratação tem fins
perdas e danos decorrentes do inadimplemento nocivos, transmuda-se em abuso de direito e
do contrato. Conforme o art. 409 do Código Civil, como tal deve ser punida.
a cláusula penal aplica-se tanto ao
inadimplemento absoluto quanto à mora ou 3. Vinculação das tratativas preparatórias
inadimplemento relativo. A proposta dirigida ao seu destinatário, de
A cláusula penal é um contrato acessório. algum modo, vincula o proponente, servindo
Cláusula penal compensatória é aquela como meio hábil a se provar a intenção pré-con-
que incide sobre o inadimplemento integral da tratual.
obrigação. Os interessados recorrem às tratativas
Cláusula penal moratória é aquela preliminares para decidir se lhes convinha ou não
estipulada para o caso de atraso no cumprimento contratar, sendo justo que do contrato desertem,
da obrigação, ou em segurança especial de outra se verificada sua inconveniência.
cláusula contratual. O pré-contrato não exige consentimento
deliberado e nem obriga quem dele participa.
14. Responsabilidade Pré e Pós-Contratual O abandono injustificado, fruto de mero
1. Formação do contrato capricho de um dos interessados, conflita com os
princípios de boa-fé, probidade, função
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desvios, bem como evita-se o risco de retenção A obrigação do advogado, quando sua
da mesma por conta de concurso de credores, em atuação é contenciosa, é tão-somente de meio,
casos de insolvência civil e falência. devendo este adotar medidas diligentes em prol
A difusão do seguro de responsabilidade dos objetivos de sua incumbência, sem, contudo,
pode importar em efeitos indesejáveis para a responsabilizar-se pelo sucesso da demanda. Sua
sociedade, pois tem o condão de esconder o eventual atuação culposa deve ser provada pelo
responsável atrás do segurador, porque, na cliente.
prática, quem conduz o processo é o segurador Já no caso de atuação extrajudicial e
que, a final, desembolsará a quantia consultiva sua obrigação é de resultado, isto é,
indenizatória, desvirtuando-se, com isso, o deve ser ultimada sob pena de inadimplemento
principal fundamento da responsabilidade civil, contratual.
que é a prevenção de danos, já que não é o
ofensor quem suportará o dever ressarcitório. 3. Omissão de providências
O advogado responde pela omissão de
17. RESPONSABILIDADE DO ADVOGADO providências, especialmente a ausência de
1. Responsabilidade contratual subjetiva propositura de ação, quando se caracterizará a
O advogado firma com seu cliente, a perda da chance.
menos que se trate d e defensor público ou A perda da chance identifica-se com a
procurador de entidades públicas, contrato de perda de uma oportunidade que poderia ter sido
mandato mediante o qual se obriga a empregar usufruída pela vítima.
seu conhecimento de maneira diligente, devendo Se houver chances razoáveis de sucesso
prestar contas ao mandante. na ação, o cliente fará jus à indenização.
A responsabilidade do advogado é A omissão de providências também pode
subjetiva (art.14, § 4º, CDC e art. 32, lei estar relacionada com as hipóteses que constam
8.906/1994), a menos que se trate de empresa de do art. 267, do CPC.
advogados.
4. A omissão de informações
2. Obrigação de meio O advogado também é responsabilizado
pela omissão de informações sobre vantagens e
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pelo reembolso dos valores pagos pelos Pode haver o dever de guarda de veículos
adquirentes, além de eventuais danos que em outras modalidades contratuais em que não
possam ter sofrido. Esta responsabilidade é se configura o depósito por inocorrer a tradição,
solidária com a do proprietário do terreno. permanecendo as chaves do veículo com seu
A inadimplência enseja o pagamento de possuidor, assumindo o guarda a obrigação de
multa de 50% por parte do incorporador. vigiá-lo e zelar para que não seja subtraído ou
É responsável pela inexecução ou danificado.
execução imperfeita do contrato, solidariamente Para a teoria da guarda, o guardião
com o construtor. somente se exonera do dever de reparar o
O incorporador também é responsável prejuízo causado se provar caso fortuito ou de
pelas unidades que não foram vendidas. força maior ou culpa exclusiva da vítima.